FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: DIAGNÓSTICO … · Continuada das Professoras da rede...
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ISSN 2176-1396
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: DIAGNÓSTICO
INICIAL E ANÁLISE DA VISÃO DE PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO
INFANTIL DE 0 A 3 ANOS
Viviane Aparecida Ferreira Pinto1 - UNESPAR
Nájela Tavares Ujiie 2 - UNESPAR
Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: PIC - Fundação Araucária
Resumo
A finalidade desse trabalho é apresentar um diagnóstico inicial acerca da visão de professoras
da rede pública municipal de Educação Infantil, atuantes na faixa etária de 0 a 3 anos
(berçário e maternal)do município de Porto União, localizado no extremo norte catarinense.
Este estudo se fez possível devido à pesquisa de iniciação científica que focaliza o
acompanhamento do Curso de Formação Continuada das Professoras da rede municipal, que
teve início no mês de maio de 2015. Os dados foram coletados por meio de pesquisa
colaborativa; o instrumento utilizado foi um questionário, o qual as professoras responderam
sem nem um tipo de aporte teórico prévio (seja de caráter explicativo ou consulta a material
bibliográfico). Além de traçar um panorama dos perfis das professoras que atuam na
Educação Infantil, o diagnóstico inicial busca constatar se esse perfil está ou não relacionado
com o tempo de atuação profissional das mesmas, deixando em aberto um questionamento:
qual é a relação estabelecida entre essas profissionais, tendo em vista o ensino-aprendizagem
das crianças da primeira infância?A formação continuada em curso esta sendo ministrada,
com intuito de instrumentalizar a construção colaborativa da Proposta Pedagógica Curricular
municipal, inicialmente enfrentou algumas resistências, mas a partir do terceiro encontro de
trabalho registrou-se um clima ameno, harmônico e colaborativo. As concepções analisadas a
partir do questionário foram: educação; educação infantil; infância; criança; processo
ensino/aprendizagem e professor da educação infantil/educador da infância; de modo a fazer
uma exposição comparativa focando dois critérios: o tempo de atuação docente dos
profissionais e a tendência pedagógica de sustentação evidenciada em suas respostas.Os
resultados comprovam a presença de tendências pedagógicas imbuídas nas respostas das
1 Graduanda do 3º ano do Curso de Pedagogia, pela Universidade Estadual do Paraná, Campus União da Vitória
(UNESPAR/UV). Bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIC), financiado pela Fundação Araucária.E-
mail:[email protected].
2Doutoranda em Ensino de Ciência e Tecnologia (UTFPR). Mestre em Educação (UEPG). Graduada em
Pedagogia (UNESP). Diretora do Centro de Ciências Humanas e Educação e Docente lotada no Colegiado de
Pedagogia, da Universidade Estadual do Paraná, Campus de União da Vitória (UNESPAR/UV). Líder do Grupo
de Estudo Práxis Educativa Infantil (GEPPEI) e Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação: teoria e
prática (GEPE), ambos vinculados ao CNPq.E-mail:[email protected].
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professoras; e elucida não haver relação entre esse fenômeno e o tempo de atuação das
profissionais da Educação Infantil.
Palavras-chave:Formação de Professores. Educação Infantil. Perfil Docente.
Introdução
O presente trabalho tem como finalidade apresentar um diagnóstico inicial da visão de
professoras da rede pública municipal de Educação Infantil, atuantes na faixa etária de 0 a 3
anos (berçário e maternal) do município de Porto União, extremo sul do Estado de Santa
Catarina.
Além de traçar um panorama dos perfis das professoras que atuam na Educação
Infantil, o diagnóstico inicial busca constatar se esse perfil está ou não relacionado com o
tempo de atuação profissional das mesmas, deixando em aberto um questionamento: qual é a
relação estabelecida entre essas profissionais, tendo em vista o ensino-aprendizagem das
crianças da primeira infância?
Este estudo se fez possível devidoà ação do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Educação: teoria e prática (GEPE), especificamente com o Núcleo de Educação Infantil,
Práxis e Interlocuções com a Cotidianidade (NEIPIC), considerando a parceria e ação
formativa conjunta entre Educação Básica e Ensino Superior, espaço-tempo que à pesquisa de
iniciação científica se filia, tendo por objetivo o acompanhamento do Curso de Formação
Continuada das Professoras da rede municipal, que teve início no mês de maio de 2015.
No que diz respeito à formação continuada em curso é válido destacar que esta tem
como intuito instrumentalizar a construção colaborativa da Proposta Pedagógica Curricular
municipal, processo que em seu início enfrentou algumas resistências, mas a partir de seu
terceiro encontro de trabalho registrou-se alteração para um clima ameno, harmônico e
colaborativo.
O diagnóstico inicial é um processo de avaliação e foi utilizado para averiguar qual é o
nível de conhecimento dos envolvidos na pesquisa em relação ao cenário da Educação Infantil
e suas especificidades. O instrumento utilizado foi um questionário, o qual as professoras
responderam sem nem um tipo de aporte teórico prévio (seja de caráter explicativo ou
consulta a material bibliográfico). Do contexto formativo participa a totalidade da rede
pública municipal de Educação Infantil aproximadamente 75 profissionais, mas para as
análises que serão engendradas neste artigo realizou se o recorte dando atenção a primeira
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faixa educacional 0 a 3 anos, o que totalizaa participação de 36 professoras, sendo 17
professoras do berçário e 19 professoras do maternal.
Nesteartigo apresentam-seas conclusões obtidas da primeira fase do acompanhamento,
análise e avaliçãodo Curso de Formação Continuada das Professoras da Educação Infantil do
município: a fase do diagnóstico inicial. As concepções analisadas a partir da coleta de dados
foram: Educação; Educação Infantil; Infância; Criança; Processo ensino/aprendizagem
eProfessor da educação infantil/Educador da Infância.
A organicidade do trabalho contará com três seções, uma seção voltada a debater os
aportes teóricos da pesquisa, a segunda seção dedicada à explanação dos resultados, que
focalizarão gráficose réplicas das respostas dadas; ambos representativos das nuances em
análise,onde é possível visualizar o perfil de profissionais que atuam na faixa etária de 0 a3
anos da Educação Infantil, classificados por agrupamento de tempo de atuação docente e/ou
tendência pedagógica apresentadas de maneira velada nas respostas, e por fim a terceira seção
destinada as ponderações conclusivas.
Formação Continuada de Professores e os elementos fundamentais à Educação Infantil
Todo profissional da educação possui uma formação inicial que o habilita para a
função. A formação inicial proporciona as competências básicas, e normalmente faz uma
reflexão sobre o trabalho assumido e o que deve desempenhar;para Imbernón (2010) ela é
insuficiente:
[...] o tipo de formação inicial que os professores costumam receber não oferece preparo suficiente para aplicar uma nova metodologia, nem para aplicar métodos
desenvolvidos teoricamente na prática de sala de aula. Além disso, não se tem a
menor informação sobre como desenvolver, implantar e avaliar processos de
mudança. E essa formação inicial é muito importante já que é o inicio da
profissionalização, um período em que as virtudes, os vícios, as rotinas etc. são
assumidos como processos usuais da profissão (IMBERNÓN, 2010, p. 43).
É devida a baixa aquisição de experiências/noções da prática educativa durante sua
formação inicial, que se faz necessário que o profissional da educação tenha acesso àformação
continuada que permite o desenvolvimento do professor, promove nele a conquista de
conhecimentos; dessa forma o capacitando para a função de ensinar, lecionar e educar. “A
formação permanente do professor deve ajudar a desenvolver um conhecimento profissional.”
(IMBERNÓN, 2010, p.72); o autor afirma que nesta etapa da formação continuada “[...] a
consolidação do conhecimento profissional educativo mediante a prática apoia-se na análise,
23312
na reflexão e na intervenção sobre situações de ensino e aprendizagem concretas.”
(IMBERNÓN, 2010, p.70).
Em suma o que a legislação voltada a formação de professoresindica é que o professor
da Educação Infantil deve realizar cursos específicos à sua ação docente. Isto significa que as
diferentes redes municipais de ensino deverão colocar em foco a tarefa de investir de maneira
sistemática na formação, capacitação e atualização permanente de seus professores, sejam das
creches ou pré-escolas.O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil em seu
primeiro volume evidencia que coletivo docente não pode estar a margem da formação
continuada, e que esta deve fazer parte da rotina institucional e não pode ocorrer de forma
esporádica. Nesse ensejo,
[...] hora e lugar especialmente destinado à formação devem possibilitar o encontro entre os professores para a troca de ideias sobre a prática, para supervisão, estudos
sobre os mais diversos temas pertinentes ao trabalho, organização e planejamento da
rotina, do tempo e atividades e outras questões relativas ao projeto educativo
(BRASIL, 1998, p. 67).
A concepção imanente acerca da formação continuada contempla uma articulação
entre atuação profissional, vivência e aperfeiçoamento. Ujiie (2014) pondera queé salutar que
os profissionais, nas instituições de Educação Infantil, tenham uma formação inicial sólida e
consistente, acompanhada de adequada e permanente atualização (formação continuada e em
serviço), defende ainda a construção de comunidades aprendentes enquanto espaço de
fundamental importância à constituição da profissionalidade educacional implicada de
cotidianidade.
Neste viés, a formação continuada atua em cinco eixos:
1. A reflexão prático-teórica sobre a própria prática mediante a análise, a
compreensão, a interpretação e a intervenção sobre a realidade. A capacidade do
professor de gerar conhecimento pedagógico por meio da prática educativa.
2. A troca de experiências entre iguais para tornar possível a atualização em todos os
campos de intervenção educativa e aumentar a comunicação entre os professores. 3.
A união da formação a um projeto de trabalho.
4. A formação como estímulo crítico ante práticas profissionais como a hierarquia, o
sexismo, a proletarização, o individualismo, o pouco prestígio etc., e práticas sociais
como a exclusão, a intolerância etc.
5. O desenvolvimento profissional da instituição educativa mediante o trabalho conjunto para transformar essa prática. Possibilitar a passagem da experiência de
inovação (isolada e individual) à inovação institucional (IMBERNÓN, 2010, p.50).
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Para além da compreensão acurada acerca da formação de professores é oportuno
clarificar o conceito de educação que instrumentaliza o nosso conhecimento. De origem
latinaeducare significa ação de formar, instruir guiar ou ainda em língua portuguesa segundo
o dicionário Aurélio, é o “processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e
moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e
social”.
[...] na perspectiva de Freire (1996), a educação é uma prática social e globalizante, na qual se incluem o conhecimento sistematizado, a arte e a vida cotidiana. Um
processo emancipatório e transformador, em que o educador (adulto) e educando
(criança) têm sua atuação numa relação mútua de criatividade e crítica consciente,
sendo sujeitos políticos, sociais e históricos, numa ação de aprender a aprender.
(UJIIE, 2009, p. 19).
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 em seu
artigo 1º:
A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
(BRASIL, 1996, p. 1).
A educação na contemporaneidade tem conotação amplificada pela legislação e por
alguns teóricos estudiosos da área que a subdividem em formal, não formal e informal.Vieira
(et al, 2005) definem educação formal:
Como aquela que ocorre nos espaços formais de educação, a não formal como a que ocorre em ambientes não formais, mas em situações onde há intenção de ensinar e
desenvolver aprendizagens e a informal como a que ocorre em situações informais
como conversa entre amigos, entre outros (OLIVEIRA;GASTAL,2009, p.3)
A Educação Infantil por um período de tempo, de acordo com Abramowicz e Wajskop
(1995), esteve imbuída de assistencialismo, tutela, proteção e cuidado, pertencendo à
educação não formal e sócio-comunitária, mas com os avanços da redemocratização
expressos na Constituição Federal (BRASIL, 1988) e na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9394 (BRASIL, 1996) adquiriu novo status e configuração de educação
formal. Sendo compreendida, pois, como:
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Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem
estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de
crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial,
regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e
submetidos a controle social (DCNEI, BRASIL, 2010, p.12).
A função da escola na atualidade esta envolta de compromisso social e pedagógico
com os seus educandos e a Educação Infantil possui como objetivo fundante e ampliado aos
demais níveis de ensino pela reconfiguração das políticas educacionais o cuidar e o educar,
amparado pelo tripé: brincar, criar e aprender.
Contudo para essa prática educativa ser satisfatória visando às necessidades da
criança,se faz necessário conhecer/ saber quem é a criança nos dias atuais. Pode-se afirmar, no
entanto que “[...] as definições e conceituações que existem relativas à criança e a infância se
constituíram num processo histórico e social árduo.” (UJIIE, 2009, 19). Ao consultar as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil é possível encontrar a concepção
de criança do contexto histórico atual:
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja
aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza
e a sociedade, produzindo cultura (DCNEI, BRASIL, 2010, p. 12).
Percebe-se que o trabalho na Educação Infantil vem exigindo cada dia mais formação
dos profissionais para atender as novas demandas, nesse contexto o perfil do professor de
crianças pequenas:
[...] exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente
significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos
provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda,
por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele
também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com
seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações
necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a
reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o
planejamento e a avaliação (RCNEI, BRASIL, 1998, p. 41).
O professor da educação infantil e/ou educador da infância é a ponte e o mediador por
excelência entre a criança e o conhecimento, esta mediação é a gênese do processo de ensino
e aprendizagem, uma via dupla e dialógica de troca de saberes, conhecimentos, ensinagens e
aprendizagens. O processo de ensino e aprendizagem:
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[...] é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc, a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras
pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores inatos (a capacidade de
digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e dos processos de maturação
do organismo, independentes da informação do ambiente(DANTAS, 2003, p. 27).
O processo ensino e aprendizagem é uma construção envolvente e fecunda que na
Educação Infantil se nutre da parceria relacional professor e aluno. Após delinear debate
discursivo acerca da fundamentação teórica que é base da pesquisa, na seção que segue os
esforços se fiam na análise pormenorizada dos dados coletados.
Diagnóstico inicial: as concepções de professoras de 0 a 3 anos no que tange a Educação
Infantil e sua prática
A partir do acompanhamento do Curso de Formação Continuada das Professoras da
rede municipal da Educação Infantil, das leituras de estudiosos e de documentos legais
iniciou-se o processo de análise do diagnóstico inicial (questionário) em busca de dados e
resultados.Foram coletadas respostas de 17 professoras do berçário, e 19 professoras do
Maternal, perfazendo um total de 36 docentes. Na sequência apresentam-se alguns gráficos
elucidadores categoriais e analíticos.
Gráfico 1 - Tempo de Atuação Docente
Fonte: Dados coletados via Diagnóstico Inicial maio de 2015, organizados e sistematizados pelas autoras.
O tempo de atuação docente dos professores da Educação Infantil da rede
municipalem análise tem concentração relativamente jovem com um contingente de 58% (21
11%
47% 19%
17%
3% 3%
0-2 anos=4 professoras
3-5 anos= 17 professoras
6-10 anos= 7 professoras
11-15 anos= 6 professoras
21-30 anos= 1 professora
Resp. branco= 1 professora
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professores) com atuação até cinco anos na rede educacional, o que em tese poderia refletir
concepções atualizadas e interligadas com as políticas educacionais, referencias e teorias mais
atuais da área da Educação Infantil. Apenas uma professora atua a mais de duas décadas na
Educação Infantil estando relativamente próxima da aposentadoria. No quesito tempo de
atuação docente uma das professoras não fez registro de resposta, mesmo assim foi
representada no gráfico compondo uma porcentagem no total de participantes da pesquisa.
No que diz respeito à concepção de Educação durante a análise, foi possível identificar
diferentes tendências pedagógicas imbuídas nas visões apresentadas pelas professoras. As
respostas foram categorizadas, a partir da metodologia de análise de conteúdo de acordo com
Bardin (2011), em grupos representados por palavras-chaves, a saber: desenvolvimento;
instrução, abrangente; comportamento, respostas vagas.
Gráfico 2 - Concepção de Educação
Fonte: Dados coletados via Diagnóstico Inicial maio de 2015, organizados e sistematizados pelas autoras.
A categoria “desenvolvimento” congrega professoras preocupadas apenas com o
desenvolvimento nato das crianças; “instrução” faz menção ao ensino pronto e acabado que
deve ser repassado ao aluno numa perspectiva tradicional transmissiva; “abrangente” refere-se
ao comprometimento para com a amplitude educacional entendendo educação voltada a
aspectos éticos, políticos e estéticos; “comportamento” abordava a educação reduzida apenas
a ações comportamentais, a qual vem ou deveria vir de casa; e a “resposta vaga” focaliza um
agrupamento de respostas sem consistência e clareza para categorizar.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
6
4 5
0
2 2 2
4 3
8 8
6
9
3
10
Berçario
Maternal
Todos
23317
Ao analisar os dados que comparecem no gráfico 2,a maior concentração de respostas
relacionada a concepção de educação dos docentes é vaga 27,8% (10 professores), o dado é
representativoe a priori pode parecer controverso,mas é alentador, ao almejar-se uma
formação colaborativa em que as concepções podem ser reconfiguradas no percurso.
Dai em diante, deste universo de análise referente a concepção de educação nos
ampara os aportes de Becker (1994), e verifica-se a compreensão da educação em perspectiva
abrangente e ampla registrada em 25% (9 professores), os quais podem se interligar a
tendência educacional crítica, progressista e relacional da educação.
No tocante, as concepções de educação dos docentes temos ainda 25% (9 professores)
que se alinham a instrução e comportamento o que converge para a tendência tradicional e
22,2% (8 professores) fiados pela tendência da escola nova ou renovada, pautadas pelo
desenvolvimento e maturação inata da criança/aluno, no que diz respeito a educação.
Por meio das categorias a sustentação das tendências pedagógicas ficam amenizadas,
mas representadas em porcentagem elas apontam que 28% dos professores possuem uma
visão pedagógica tradicionalista da educação, 22% são de professores com percepções
construtivistas, 28% apresentaram respostas vagas não conseguiram conceitualizar o que é
educação e 22% possuem visão inatista.
A visãoe/ou concepção de “Educação Infantil” das profissionais registra-se no gráfico
a seguir:
Gráfico 3 - Concepção de Educação Infantil
Fonte: Dados coletados via Diagnóstico Inicial maio de 2015, organizados e sistematizados pelas autoras.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
7 6
4
0 0 0
2
4
6
2 2 3
9 10 10
2 2 3
Berçario
Maternal
Todos
23318
Ao analisar as concepções de Educação Infantil das docentes temos maior clareza e
um índice reduzido de respostas vagas para 8,3% (3 professores). Evidencia-se que25% (9
professores) identifica-se com uma visão desenvolvimentista, inatista, não-diretiva, que vê a
contempla a Educação Infantil com passividade(com a ideia de que o aluno é centro do
processo ensino aprendizagem) mas não demonstram uma preocupação/conscientização com
o direito social da criança, possuem somente oolhar da psicologia focadonos estágios do
desenvolvimento infantil, fato que não apresenta discrepância mas paralelismo com a análise
da concepção de educação.
No bojo, das concepções relacionadas a Educação Infantil 27,8% (10 professores)
possui uma compreensão desta como primeira etapa da Educação Básica a qual deve garantir
a aquisição de conhecimentos, mas que pelo teor discursivo configura a tendência tradicional.
Tem-se ainda o registro de outras três categorias relacionadas à concepção de Educação
Infantil, âmbito de cuidado e educação (10 professores), espaço de ludicidade (2 professores)
e espaço de descoberta e formação (2 professores), estas categorias possuem um alinhamento
conceitual e conotação de 38,9% (14 professores), alinhados a compreensão da Educação
Infantil crítica, progressista, comprometida com o contexto histórico-cultural da humanidade,
vivificada em ação docente de cuidado e educação, comprometida com missão educativa
voltada a primeira infância (brincar, criar e aprender).
Ao analisar em paralelo tempo de atuação docente e concepção de educação/educação
infantil, podemos afirmar que o fator tempo não é condição inerente para o alinhamento com
a tendência tradicional, nova ou crítica; pois a professora com maior tempo de serviço na rede
tem visão inatista o que configura tendência nova, de outra forma temos professora com um
ano de serviço com concepção tradicional da educação e outras com concepção construtivista.
Duas concepções que figuraram muito próximas foram “Infância” e “Criança”,
embora as diretrizes apresentem a concepção de infância como categoria geracional
interligada ao espaço-tempo de pertencimento social e a criança como sujeito histórico de
direitos que produz cultura; algumas professoras apresentaram uma visão romantizada ou
vagaque não compactua com o que vem a ser a infância e a criança nos dias atuais; foram
selecionadas algumas das respostas3 que confirmam a análise, as quais registra-se na tabela 1.
3 Visando zelar a identidade das professoras que participaram da pesquisa, foi atribuído a cada uma delas uma
sigla que corresponde à letra da turma que atua seguida de um número que se trata da ordem dos questionários
organizados por sua vez em ordem alfabética. Por exemplo: B1: a letra B corresponde ao berçário e o número 1
corresponde a ordem dos questionários, e assim sucessivamente.
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Tabela 1 - Incertos de respostas referentes às concepções de Infância e Criança
Concepção de
Infância
- É a fase mais gostosa da vida, na qual a inocência os torna especiais (B1).
- Sucesso ou fracasso futuro (B14).
- É a fase mais bela do ser humano, onde está em constante aprendizado, onde tudo que
é repassado é assimilado (M12).
- É o tempo em que vivemos e aprendemos com nossos pais, da infância levamos
lembranças para a adolescência e até mesmo para fase adulta (M17).
Concepção de
Criança
- Algo maravilhoso, descobertas, carinho, proteção (B4).
- É a mais especial e encantadora que existe. Precisa de muito amor e carinho (B3).
- A criança é um objeto (como se fosse de argila), que a família a sociedade, e no nosso
caso como professores vão moldar são frágeis, dóceis e devem receber muito carinho.
(M10).
Fonte: Dados coletados via Diagnóstico Inicial maio de 2015, organizados e sistematizados pelas autoras.
É importante salientar, que a categoria Infância não adquire clareza entre as
professoras do berçário e do maternal e que a categoria Criança possui correspondência com
os aportes teóricos e legais ressaltados em apenas 25% (4 professores de berçário e 6
professores do maternal).
Quando analisada a concepção “Processo Ensino/Aprendizagem” detectou-
sealgunsnexos da visão que as professoras apresentaram na concepção de “educação”.
Gráfico 4 - Processo Ensino Aprendizagem X Tendências Pedagógicas
Fonte: Dados coletados via Diagnóstico Inicial maio de 2015, organizados e sistematizados pelas autoras.
O curioso é que analisando o número de incidências das respostas relacionadas a
concepção ensino e aprendizagem registrou equilíbrio 32% (12 professores) com concepção
tradicional de que o ensino é ação docente e a aprendizagem é ação voltada as crianças-
alunos, 32% (12 professores) com a concepção crítica e progressista de que o processo ensino
e aprendizagem é uma construção dialógica e sem hierarquização entre os pares
educativos,bem como 18% (6 professores) com o dimensionamento de que o processo ensino-
18%
32% 32%
18%
Nova
Tradicional
Crítica
vaga
23320
aprendizagem é centrado no desabrochar inato das crianças-alunos deflagrando a tendência
nova e 18% (6 professores) com registros de repostas vagas de impossível categorização.
Analisou-se também a concepção do “Professor da Educação Infantil/ Educador da
Infância”;pode-se afirmar que nesta categoria existe discrepância com as categorias anteriores
ao realizar o paralelo com as tendências pedagógicas evidenciadas, pois reafirmam o perfil
tradicional apenas 8,3% (3 professores), os quais seguem as transcrições:
O professor tem a função de ensinar e a criança aprender.(B1)
Cabe ao professor transmitir conhecimento desde os primeiros anos de vida (B6).
Primeiro professor da criança, faz de tudo um pouco e ao mesmo tempo é
transmissor de conhecimento (M9).
Dentre o contingente que resta dos docentes 13,5% (5 professores) definiu-se como
facilitador do processo ensino e aprendizagem efetivando acompanhamento das crianças-
alunos, 16,6% (6 professores) registraram respostas vagas de impossível categorização e os
demais registraram concepções de mediador junto ao processo ensino e aprendizagem,
profissional qualificado e conhecedor da criança, profissional humano e elo de
estabelecimento de vínculo e construção do conhecimento, perfazendo 61,6% (22
professores), fato que evidencia um alinhamento maior com a tendência crítica, relacional e
construtivista com percentual maior do que deflagrado nas categorias anteriores, talvez por
relacionar-se com a subjetividade e profissionalidade docente, particular e pessoalizada nos
professores da Educação Infantil que responderam a este diagnóstico.
Considerações Finais
Conclui-se com esse trabalho que a visão das professoras em relação à Educação
Infantil é sustentada, mesmo que de forma velada, por tendências pedagógicas variadas, com
um índice muito curioso, que se trata de casos onde amesma professora apresenta mais de
uma tendência pedagógica em suas respostas; o critério para esse fenômeno se dava a partir
do momento em que elas possuíam maior ou menor proximidade com a concepção solicitada,
como exemplo pode-se citar a análise feita entre “Educação” e “Educação Infantil”, algumas
das participantes da pesquisa não possuíam clareza para conceituar o primeiro quesito, mas no
segundo quesito de maior proximidade da sua ação docente a mesma professora apresentou
uma resposta consciente e com tendência em alguns casos inversa a primeira resposta.
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Houve casos por sua vez onde algumas professoras não conseguiram formular
conceitos contribuindo para o índice da categoria “Resposta Vaga”, esses foram casos
indiferentes à proximidade ou distância da concepção e questão. Com base nos dados
apresentados até o momento, é imprescindível compartir de Mizukami (1986, p.109) ao
pontuar objetivos para cursos de professores; dentre eles a possibilidade da análise do próprio
fazer pedagógico consciente:
Um curso de professores deveria possibilitar confronto entre abordagens, quaisquer que fossem elas, entre seus pressupostos e implicações, limites, pontos de contraste
e convergência. Ao mesmo tempo, deveria possibilitar ao futuro professor a análise
do próprio fazer pedagógico, de suas implicações, pressupostos e determinantes, no
sentido de que ele se conscientizasse de sua ação, para que pudesse, além de
interpretá-la e contextualizá-la, superá-la constantemente (MIZUKAMI, 1986, p.
109).
Dando continuidade a análise, também foi possível constatar que na Educação Infantil
ao questionar acerca da prática pedagógica e ao processo ensino-aprendizagem inerente para
crianças de 0-3 anos, a ação pedagógica se divide principalmenteentre a tendência tradicional
e crítica. Essa constatação leva-nos a algumas reflexões, uma delas proposta no início da
pesquisa, que era verificar se o tempo de atuação docente interferia na concepção das
professoras; a conclusão depois de uma análise criteriosa e individual de cada professora, é
que o tempo não é o fator motivador para tal fenômeno; as professoras foram classificadas por
tempo de atuação docente, mas isso não garantiu uma linearidade nas respostas do grupo, ao
contrário, dentro do mesmo grupo foi possível encontrar visões pedagógicas tradicional, nova
e crítica e até mesmo respostas vagas. Esse fenômeno de contradição presente no discurso das
professoras participantes desta pesquisa pode ser comparada apontuação feita anteriormente
por Saviani (1983, p. 65) quando afirmou que:
Os professores têm na cabeça o movimento e os princípios da escola nova. [...],
porém, [...] a realidade em que atuam é tradicional. [...] A essa contradição se acrescenta uma outra: além de constatar que as condições concretas não
correspondem à sua crença, o professor se vê pressionado pela pedagogia oficial que
prega a racionalidade e a produtividade do sistema e do seu trabalho, isto é, ênfase
nos meios (tecnicismo). [...] Aí está o quadro contraditório em que se encontra o
professor: sua cabeça é escola novista, a realidade é tradicional [...].
É importante salientar que na análise apresentada não foram levadas em consideração
as informações a respeito da formação profissional, o que dá vazão para uma segunda análise
de outro ponto de vista, afim de verificar se existe uma possível explicação para tanta
diversidade entre profissionais com tantas características em comum: profissão; tempo de
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atuação docente; exercendo docência na mesma categoria da Educação Infantil de 0-3 anos,
análise que pode ser realizada em um artigo posterior.
Outra reflexão a se fazer a respeito desse fenômeno é recordar que a prática educativa
em geral não é neutra, e que existe uma possibilidade dessas profissionais sustentarem a visão
pedagógica a que foram expostas, no transcurso de sua trajetória de vida e docente:
Toda teoria pedagógica tem seus fundamentos baseados num sistema filosófico. É a filosofia que, expressando uma concepção de homem e de mundo, dá sentido à
Pedagogia, definindo seus objetivos e determinando os métodos da ação educativa.
Nesse sentido, não existe educação neutra. Ao trabalhar na área de educação, é
sempre necessário tomar partido, assumir posições. E toda escolha de uma
concepção de educação é, fundamentalmente, o reflexo da escolha de uma filosofia
de vida (Haydt, 1997, p. 23).
Outro dado se consolidou durante a análise do diagnóstico inicial, se trata do perfil
profissional das professoras divididas por tempo de atuação docente. Constatou-se que o
maior número de professoras em atividade corresponde ao grupo entre 3-5 anos e que essa
classe representa praticamente a metade da soma total de 36 professoras. Em contraposição
são pouquíssimas professoras iniciando sua vida letiva, e menos ainda (apenas uma) que se
mantém na profissão por mais de 20 anos.
Por fim sabendo que a maioria das professoras iniciaram sua carreira a bem menos de
uma década, e analisando suas visões e até mesmo a ausência delas em relação a Educação
Infantil, coaduna-se com Imbernón (2010) quando defende de modo tão acirrado a prática
constante da formação continuada no âmbito coletivo da educação, com intuito de promover
debates, reflexões, construções, desconstruções em prol de uma prática educativa consciente e
de melhor qualidade. Pondera-se que a ação em curso junto a rede pública municipal de
Educação Infantil porto união-vitoriense registra marcas significativas, ao cenário educacional
da infância e a área em construção da formação permanente de professores.
REFERÊNCIAS
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