FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÕES

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FORMAO E DESENVOLVIMENTO DE COLEES: PROPOSTA PARA BIBLIOTECA ESCOLAR DE ACORDO COM A PEDAGOGIA WALDORF Lcia da Silveira Rosane Fioravante Elizete Vieira Vitorino

Resumo: Apresenta o relato de experincia realizado no ano de 2008 com propsito de conhecer o acervo da Biblioteca da Escola Waldorf Anab de Florianpolis-SC. Trata do tema desenvolvimento de colees sob o prisma da Biblioteca Escolar e insere a pedagogia Waldorf neste contexto. Descreve as polticas e culturas desta instituio, principalmente com relao ao ensino-aprendizagem. Caracteriza a situao do acervo por meio de visita in loco bem como entrevista semi-estruturada. Apresenta sugestes de incorporao de novos ttulos ao acervo. Identifica o bibliotecrio como um diferencial na gesto da Biblioteca Escolar. Palavras-chave: Desenvolvimento de colees. Biblioteca escolar. Pedagogia Waldorf. 1 INTRODUO Estabelecer procedimentos para o desenvolvimento de colees de uma Biblioteca Escolar consiste em um trabalho um tanto delicado, principalmente em bibliotecas que no possuem profissional bibliotecrio. E com foco nesta realidade que muitas vezes a contribuio de acadmicos ao desenvolverem projetos ou propostas que possam contribuir com estas bibliotecas, sempre bem recebida pelas instituies.Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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Deste modo, a Escola Waldorf Anab, localizada em Florianpolis, abre esta oportunidade viabilizando uma anlise do acervo da Biblioteca Joo Guimares Rosa, bem como aspectos que envolvem a filosofia e metodologia Waldorf. Delimitou-se, nesta perspectiva, os objetivos de: descrever as polticas e culturas da instituio em relao ao ensinoaprendizagem, caracterizar as necessidades dos usurios em relao ao acervo, descrever a situao do acervo e apresentar sugestes de aquisio para incorporao ao acervo. Para atingir tais objetivos buscou-se na literatura aspectos conceituais com relao ao desenvolvimento de colees, o papel da Biblioteca Escolar e sua relao com o processo de ensino aprendizagem e a importncia do suporte pesquisa escolar. Apresenta, tambm, um breve histrico da origem da pedagogia Waldorf baseado na abordagem antroposfica. Utilizou-se como mtodo visitas biblioteca para um efetivo contato com o acervo e profissionais (da biblioteca), bem como visitas em editoras e livrarias, com a finalidade de solicitar os catlogos de suas obras objetivando possveis indicaes. Esta pesquisa tambm foi realizada em catlogos de editoras on-line. 2 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS O desenvolvimento de colees caracterizado como um processo cclico que, conforme Evans (apud VERGUEIRO, 1989) coloca como eixo central o bibliotecrio e envolto dele o estudo da comunidade, a poltica de seleo, seguida dos processos de seleo, aquisio, desbastamento, avaliao e novamente o estudo da comunidade. Salientando estes aspectos como um processo rotineiro da biblioteca. A seleo dos materiais consiste em uma tarefa bastante criteriosa, principalmente em uma Biblioteca Escolar, cujo pblico formado principalmente de crianas e adolescentes, pessoas que esto em plena fase de formao e vidos pela descoberta. Entretanto, limitarRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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ou liberar as fontes para essas descobertas um fator determinante na seleo do acervo, e, neste caso, deve sempre ir ao encontro do bom senso. Segundo o Manifesto IFLA/UNESCO (1999) para Biblioteca EscolarO acesso s colees e aos servios deve orientar-se nos preceitos da Declarao Universal de Direitos e Liberdade do Homem, das Naes Unidas, e no deve estar sujeito a qualquer forma de censura ideolgica, poltica, religiosa, ou a presses comerciais. (grifo nosso).

Todavia, o mesmo Manifesto ao tratar dos objetivos da Biblioteca Escolar (BE) declara que esta deveapoiar e intensificar a consecuo dos objetivos educacionais definidos na misso e no currculo da escola;[...] trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance final da misso e objetivos da escola.

Portanto, entende-se que os objetivos da BE devem estar voltados aos objetivos da escola a qual pertence. Dentro deste prisma, concorda-se, tambm com Romani e Borszcz (2006, p. 30) ao tratarem de seleo de novas aquisies, ao entenderem quedeve ser selecionado material cujos contedos sejam claros, exatos, e dentro das caractersticas da UI [Unidade de Informao], e principalmente dentro do contedo dos programas das disciplinas oferecidas pela instituio a qual a UI est vinculada.

Desta forma, antes de iniciar o processo de seleo faz-se necessrio conhecer as caractersticas dos usurios para disponibilizar um acervo totalmente adequado; que atrai, instiga, questiona e esclarece, de modo que o estudante perceba que no existe lacuna entre a escola e a biblioteca.Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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Entende-se, porm como base para desenvolvimento da coleo, a elaborao do estudo da comunidade a fim de identificar sua percepo em relao aos servios disponibilizados. A partir disto, ser possvel fazer uma poltica de seleo considerando tambm a metodologia de ensino da escola, o Projeto Poltico Pedaggico (PPP), os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e tambm os instrumentos auxiliares com a finalidade de concatenar essas diretrizes e identificar pontos que so considerados imprescindveis para a boa formao do acervo de uma BE. Os instrumentos auxiliares de seleo segundo Vergueiro (1989) so caracterizados como: catlogos de editoras, sugestes dos alunos, professores, funcionrios da escola e comunidade em geral. Deste modo, se faz necessria a criao de uma comisso para deliberar sobre tais polticas. Definidas as diretrizes para a seleo, segue o procedimento de aquisio, que segundo Prado (2003) a constituio do fundo documental e envolve os processos de avaliao e atualizao do acervo. Com relao deciso de compra, Guinchat e Menou (1994. p. 86) entendem quedeve ser tomada pelo responsvel ou por uma comisso de aquisio, formada por usurios da Unidade de Informao. [...] A deciso deve levar em conta um equilbrio entre propostas e interesses individuais e os objetivos gerais da instituio, bem como o equilbrio entre os assuntos cobertos. Em todas as etapas, indispensvel a colaborao de usurios e especialistas da informao.

Neste contexto, a comisso de aquisio deve conhecer as formas de aquisio: doao, compra ou permuta e as especificidades de cada uma delas para assim, poder adequ-las sua coleo. A avaliao da coleo um processo constante e envolve o desbastamento e o descarte, e tem por finalidade retirar de circulao obras por motivos de desatualizao, desuso, duplicidade, desgaste eRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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ttulos de peridicos descontnuos ou sem interesse para a UI (ROMANI; BORSZCZ, 2006). 2.1 O acervo como suporte pesquisa escolar A biblioteca, dentre outras funes, responsvel em oferecer suporte adequado ao desenvolvimento de atividades de pesquisa a seus usurios mais que isto: deve estar integrada no processo educacional (VERGUEIRO, 1989). A pesquisa escolar possui uma importncia maior do que imaginam as prprias crianas e jovens: ela os acompanhar at a idade adulta, durante a vida acadmica. Portanto, desde a mais tenra idade, os estudantes j se deparam com os trabalhos escolares. Martucci (2000, p. 4), entende como um momento em que o aluno realiza interpretaes prprias, iniciando a elaborao da pesquisa. E acrescenta:[...] ler compreender e interpretar com alguma autonomia. Interpretar significa uma pretenso de interpor no processo transmissivo um sujeito que se recusa a ser mero instrumento de passagem, o que passa por ele tem tom prprio, tem marca pessoal (MARTUCCI 2000, p. 4).

Na percepo desta autora a pesquisa um processo que se inicia por uma questo instigadora, que fomenta a iniciativa do estudante na busca de informaes e materiais nas mais diferenciadas fontes para um posterior momento de trabalho conjunto na sala de aula, no qual todos so atores, colaborando para um objetivo compartilhado (MARTUCCI, 2000, p. 4). Uma melhor qualidade da aprendizagem certamente est associada a uma mudana de postura em relao pesquisa escolar, tanto por parte dos alunos quanto por parte dos educadores. Essa expectativa d-se em razo de uma esmagadora maioria de estudantes que carregam por toda a vida escolar, os vcios decorrentes de falta de orientao para a realizao de seus trabalhos escolares.Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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Para Garcez (2005), os alunos devem ser orientados a desenvolverem habilidades bsicas para a pesquisa, como procurar, selecionar, comparar, escolher e criticar. Quando h ausncia desses elementos os alunos deixam de fazer pesquisa, realizam apenas trabalhoscpia (GARCEZ, 2005, p. 2). A literatura mostra que as bibliotecas so espaos comunitrios no qual se compartilham saberes. Suas caractersticas so determinadas em funo da comunidade para a qual foram planejadas, assim como as Bibliotecas Escolares (BE). Blattmann e Fragoso (2003), apontam que uma das principais funes da biblioteca, est em oferecer oportunidades para experincias na criao e no uso da informao para conhecimento, compreenso, imaginao e prazer. Conforme Campello (2000, p. 3)[...] se a biblioteca pretende funcionar como espao de ao pedaggica, o agrupamento de documentos, representado pela sua coleo, precisa estar em consonncia com o projeto educacional da escola. Alm disso, necessria uma poltica explcita, que trace diretrizes que orientaro o trabalho de seleo de maneira criteriosa e eficaz, direcionando o acervo de maneira a atender a misso e os objetivos da biblioteca e a proposta pedaggica da escola.

No entendimento de Garcez (2007, p. 32), a formao do acervo uma preocupao constante pelo bibliotecrio escolar, pois a partir desta que se desenvolvem os produtos e servios da Biblioteca Escolar. E acrescenta:[...] o acervo serve para cativar e estimular, nos usurios, o interesse pela sua utilizao. Por essa razo, necessria a sua diversificao, respeitando a faixa etria e o interesse do usurio, tanto em relao ao suporte fsico quanto aos diferentes temas e abordagens.

Neste sentido, Campello et al. (2001 p. 73) sugere a utilizao de: jornais, revistas, enciclopdias, dicionrios, almanaques, palavrasRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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cruzadas, livros de receitas culinrias, [...] alm de uma variedade de artefatos grficos como textos de embalagens, rtulos, anncios, slogans, cartazes, folhetos, cartas, bilhetes, cartes, convites etc.. Mesmo com a evoluo tecnolgica, a biblioteca continua sendo o ambiente mais adequado para a pesquisa escolar em virtude de vrios aspectos: a) por estar inserida no prprio ambiente escolar, possibilitando o acesso dos alunos para trabalharem, tanto individualmente como em grupo; b) a possibilidade da informao desejada pelo usurio estar disposta em diversos suportes; c) a biblioteca no anula a consulta virtual, ou seja, o uso de computadores na biblioteca cada vez menos raro; d) a possibilidade de um bibliotecrio para orient-lo na busca da informao. 2.2 A Pedagogia Waldorf Para uma melhor compreenso do universo que envolve a Biblioteca da Escola Waldorf Anab, entendeu-se como necessrio buscar amparo na literatura sobre o contexto da metodologia Waldorf. A pedagogia Waldorf teve origem em Stuttgart, na Alemanha, em 1919. Foi introduzida pelo austraco Rudolf Stainer e baseada na abordagem antroposfica. Segundo a Sociedade Antroposfica no Brasil, a origem da palavra Antroposofia vem do grego e significa "conhecimento do ser humano". Para Abbagnano (2003, p. 68), a antroposofia foi criada (aproximadamente em 1828) por J.P.V. Troxler para indicar a doutrina natural do conhecimento humano. Foi retomada por Stainer, por volta de 1913, com a finalidade de separar o movimento teosfico e ressaltar a importncia da doutrina a respeito da natureza e do destino do homem. A pedagogia Waldorf consideraas diferentes caractersticas das crianas e jovens segundo sua idade aproximada. O ensino dado de acordo com essas caractersticas: um mesmo assunto nunca dado da mesma maneira em idades diferentes (ESCOLA WALDORF ANAB, 2006).Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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As escolas Waldorf sempre foram integradas de 1 ao 8 (ou 9.) ano, e at o 12 ano, quando possuem o Ensino Mdio. Assim esto estruturadas as mais de 926 escolas Waldorf no mundo inteiro. No Brasil h 25 escolas Waldorf ou inspiradas nesta pedagogia, sendo 4 em So Paulo, 3 delas com Ensino Mdio. A mais antiga, existe desde 1956 na cidade de Higienpolis, em So Paulo e agregado a ela h o curso mais antigo de formao de professores Waldorf no Brasil, reconhecido oficialmente. Santa Catarina foi contemplada com uma escola Waldorf. 3 ASPECTOS METODOLGICOS A experincia de pesquisa aqui relatada classificada como exploratria, com procedimentos tcnicos de levantamento. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista no estruturada. Esta, segundo Silva e Menezes (2005, p. 33) permite explorar mais amplamente algumas questes. As etapas deste trabalho iniciaram com trs visitas instituio, sendo que a primeira foi antecedida por contatos por telefone e via e-mail. Em outra etapa, visitou-se livrarias e editoras a fim de solicitar os catlogos de suas obras com o objetivo de conhecer suas publicaes com o propsito de identificar possveis indicaes. As livrarias visitadas foram: Catarinense; Livros &Livros e Paulus; e as editoras on-line: Paulus, Cuca Fresca, Lagoa Editora, Brinque Book, Callis, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Positivo, Oxford, Riddel e Abril. Com base nos catlogos (no formato impresso e on-line) dessas editoras foi feito o levantamento das obras. Alm disso, foram selecionados alguns sites indicados para a pesquisa escolar. Com o alicerce da literatura sobre desenvolvimento de colees, o contato com o acervo (os tipos de obras, ano e quantidade) o Projeto Poltico Pedaggico (PPP) da Escola e o contato com a Pedagoga responsvel pela biblioteca, foi constatada a necessidade deRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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desenvolver as seguintes reas: obras de referncia; cultura catarinense e literatura infanto-juvenil. Para realizar esse levantamento desenvolveu-se a seguinte estratgia de seleo para as obras: sugestes de atualizao de enciclopdias; dicionrios e cultura catarinense. Para as sugestes de literatura levou-se em conta: desenhos realistas; ilustraes em concordncia com a estria/histria, dentro do mesmo contexto. Para classificar o nvel de desenvolvimento dos leitores utilizou-se da estratgia sugerida no catlogo infanto-juvenil 2008 da Editora Paulus, que utiliza siglas para melhor adequar as caractersticas dos livros. Adotou-se, ento, as seguintes denominaes: pr-leitor (PL); leitor iniciante (LI); leitor em processo (LP); leitor fluente (LF) e leitor crtico (LC). Este estudo resultou em subsdios que auxiliaram no desenvolvimento da coleo da Biblioteca em questo e com base nele apresentaram-se algumas sugestes Escola Waldorf Anab1. 3.1 A Escola Waldorf Anab A Escola Waldorf Anab mantida pelos pais, professores e colaboradores, por meio da Associao Pedaggica Micael, uma entidade sem fins lucrativos, reconhecida de utilidade pblica pelos governos municipal e estadual. A Escola foi fundada em 17 de maro de 1980 para atender, inicialmente, turmas de Jardim de Infncia. Com o passar do tempo e a ascenso dessas turmas Escola passou a ter em 1994, o Ensino Fundamental completo. Localizada na Rua Pastor William Richard Schisler Filho, numa antiga chcara no bairro Itacorubi, em Florianpolis, a Anab a primeira escola Waldorf de Santa Catarina. O terreno em que se localiza foi adquirido em 1987 e o Jardim tem suas instalaes em imvel alugado. Em dezembro de 2000, a Escola adquiriu um terreno1

O documento original desta proposta foi cedido Escola Waldorf Anab, juntamente com os principais catlogos disponibilizados pelas editoras, bem como um CD com as imagens da Biblioteca Joo Guimares Rosa.Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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de 60.000m na mesma regio, o qual abrigar, em mdio prazo, a Educao Infantil e o Ensino Fundamental e, futuramente o Ensino Mdio. Mesmo seguindo os princpios da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, a escola autnoma, ou seja, tem uma orientao bem definida e conduzida de acordo com as peculiaridades regionais, deste modo consegue-se compreender melhor a escolha do nome da Escola que em tupi-guarani significa alma do homem. Conta atualmente com 33 professores e funcionrios para atender ao quantitativo de aproximadamente 260 alunos. A escola possui um currculo estruturado para atender as vrias fases do desenvolvimento da criana. Neste caso, o aluno constri seu prprio conhecimento, ou seja, o ensino no se restringe mera transmisso de conhecimento. O segredo consiste em ensinar a aprender (LANZ,1979, p.110) e dentro das possibilidades do currculo as matrias tericas, artsticas e prticas so agrupadas de forma que o trabalho em sala de aula permita altern-las adequadamente, com intervalos que propiciem a assimilao duradoura do aprendizado. A escolha das matrias, o horrio das aulas e a seleo dos temas para cada uma das disciplinas levam em conta as sugestes feitas por Steiner e as experincias acumuladas desde ento, alm de considerar as exigncias curriculares feitas pela legislao dos respectivos pases, no caso do Brasil, a Lei de Diretrizes de Bases da Educao LDB. As disciplinas que compem o currculo da escola so Matemtica, Artes Aplicadas e Desenho, Biologia, Trabalhos Manuais, Portugus, Ingls, Alemo, Histria, Histria da Arte, Geografia, Msica, Educao Fsica e Euritmia2. E para atender a demanda escolar, a Escola conta com a Biblioteca Joo Guimares Rosa.

Euritmia - justa proporo entre as partes de um todo; escolha harmoniosa dos sons e de ritmo; regularidade da pulsao; simetria; beleza. (PRIBERAM, 2008)Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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3.2 A Biblioteca Joo Guimares Rosa A Biblioteca Joo Guimares Rosa est situada em local privilegiado, fica no segundo pavimento do prdio do refeitrio. Seu acesso se d por meio de uma rampa, facilitando assim a locomoo. Alm de bem visualizado, o local bem arejado e iluminado e, em ambiente nico de aproximadamente 60m2 (ver ilustrao 1 e 2). O espao fsico comporta 12 estantes de face simples em toda a extremidade da parede do fundo, 4 prateleiras na parte frontal, abaixo das janelas; 4 mesas retangulares com 2,20m X 0,59cm, uma mesa quadrada com 1,5m X 1,50m; todas as mesas, acompanhadas de bancos e cadeiras para estudo; uma mesa e computador para o trabalho de processamento tcnico, uma mesa para atendimento ao usurio, computador para uso dos professores, uma estante com material a ser processado; uma pequena mapoteca e redoma com material geolgico. A biblioteca administrada por uma Pedagoga que atende aos usurios, organiza, identifica e realiza o emprstimo. Juntamente com esta profissional, mais dois professores compem uma comisso responsvel por todas as decises pertinentes Biblioteca, como a adoo do software Biblioteca Fcil, cujo acervo est em fase de incluso, bem como as decises relativas aquisio do acervo. Neste caso, a referida comisso recebe sugestes dos demais professores, dos alunos e dos pais.

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Aps anlise, realizada uma pesquisa de preos, geralmente dentro das duas editoras que atendem pedagogia Waldorf: Editora Antroprofosfica e Editora Joo de Barro, ambas em So Paulo-SP, como tambm as Livrarias Catarinense, Scililiano, etc. Em seguida, o oramento apresentado Administrao para providenciar a compra. A aquisio tambm ocorre por meio de doao, geralmente pelos

Ilustrao 1: Layout vista para os fundos da Biblioteca

Ilustrao 2: Layout Vista para a entrada da Biblioteca

pais dos alunos ou mesmo por membros da comunidade. Neste caso o material devidamente selecionado de acordo com os interesses da BE e o material excedente doado para a Escola Estadual Bsica Leonor de Barros, situada no mesmo bairro. 3.3 Desenvolvendo a coleo: algumas sugestes Biblioteca Com base nesta experincia de pesquisa estabeleceu-se algumas sugestes Biblioteca Joo Guimares Rosa. Em relao disposio do acervo em comparao com a Classificao Decimal de Dewey (CDD), considerou-se que h equilbrio e coerncia, necessitando, contudo de algumas adequaes. Neste caso sugere-seRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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apenas um remanejamento quanto a alguns temas como mostra o quadro 1, abaixo.CDD rea 000 100 200 300 400 600 700 Gnero Generalidades Filosofia e disciplinas afins Religio. teologia Cincias sociais Filologia. lingstica Tecnologia (cincias aplicadas) Artes ACERVO ANAB Gnero Enciclopdias; Dicionrios; Atlas Filosofia Bblia, Religio Contos/ Lendas/ Folclore; Antroposofia; Psicologia; Pedagogia Geral Gramtica; Lngua Portuguesa; Medicina; Agricultura;

Artes; Msica; Trabalhos Manuais; Desenho e formas; Educao fsica. Teatro; poesia; literatura brasileira; Literatura literatura 7, 8 e 9 Ano; literatura 4, 800 5 e 6 Ano; Literatura infantil Geografia, histria; Biografia Geografia; Biografia; Histria: Santa 900 e cincias afins Catarina, Brasil, Geral e Antiga Quadro 1: Sugesto para distribuio do acervo da Biblioteca conforme a CDD

Assim como o prprio nome da Escola sugere, bem como sua proposta com as questes regionais, culturais e folclricas, entendeuse que o acervo poder ser mais enriquecido com materiais pertinentes a estas reas. Desta maneira, sugere-se que as trs prateleiras que contemplam a Histria do Brasil poderiam receber algum desbaste. Com a finalidade de retirar as obras que esto em desuso e dar a oportunidade ao acervo de Histria Local. Considerou-se, tambm, que a Ilha de Santa Catarina possui uma riqueza considervel relatada e retratada por vrios historiadores, pesquisadores e escritores, portanto possvel inserir obras que tratem do mstico, do folclrico e das lendas do povo ilhu para compor o acervo de Contos e Lendas. Como o espao fsico no favorece a colocao das estantes em paralelo, verificou-se que a acessibilidade fica um poucoRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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comprometida com o material que fica nas estantes altas, neste caso h sempre a necessidade do auxlio de uma escada e de um adulto para a escolha do item. Outro ponto considerado de grande importncia consiste na pesquisa escolar. Neste caso, considerando que a pedagogia Waldorf no recomenda a utilizao de computadores at a nona srie, mas existe uma demanda solicitando orientao em relao s quais sites usar (relato da Pedagoga), sugere-se que a biblioteca disponibilize uma relao de sites direcionados pesquisa escolar, para que esta seja direcionada aos estudantes do nono ano. H tambm, conforme documento entregue Escola por ocasio da concluso desta experincia de pesquisa, a sugesto de 21 sites de pesquisa escolar (organizado por ordem alfabtica), sete obras de referncia (organizadas por autor, ttulo, justificativa, resumo, editora, ano, livraria e valor) e 28 obras de literatura, (organizadas por autor, ttulo, resumo, assunto, preferncia de leitura, editora, ano, nmero da edio e valor) que poder ser avaliada pela comisso da Biblioteca para uma possvel aquisio. 5 CONSIDERAES FINAIS Esta experincia de pesquisa oportunizou momentos de reflexo quanto questo da diversidade na educao de crianas e jovens; da singularidade de cada BE; das caractersticas, dos objetivos e da pedagogia de cada instituio cuja BE est vinculada. Por este prisma percebe-se que as caractersticas das Escolas Waldorf reforam a pertinncia de um acervo bem estruturado que proporcione o suporte que atenda aos desejos e s necessidades de seus usurios favorecendo, tambm, todo o processo da pesquisa escolar. Conforme o objetivo deste trabalho manteve-se o foco de contribuir para o desenvolvimento de acervo da biblioteca da Escola Waldorf Anab respeitando suas polticas e culturas e, principalmente a pedagogia da Instituio. Neste sentido, ao visitar a instituio, conhecer a literatura sobre formao e desenvolvimento de acervo e aRevista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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pesquisa escolar, permitiu detectar lacunas no acervo. A adequao do acervo ao pblico deve ser uma premissa nas Bibliotecas Escolares, pois os usurios esto a todo o momento construindo seus conceitos, seus valores e seu conhecimento. O acervo da Biblioteca deve, no somente aguar a curiosidade do estudante, mas principalmente sanar os questionamentos do estudante pesquisador, provocando mais questionamentos: este o processo do crescimento. Com relao seleo das obras foi de muita importncia ter um efetivo contato com o acervo, ter a percepo da Pedagoga responsvel pela biblioteca, efetuar a anlise do PPP, bem como visitar as editoras. Procurou-se valorizar o acervo j existente e a partir das lacunas observadas propor o enriquecimento da coleo. As Editoras Joo de Barro e Antroposfica no foram arroladas na proposta pelo fato da escola j conhecer suas publicaes. Foram selecionadas obras de editoras que mais se assemelhavam ao perfil daquela comunidade. Neste caso, aponta-se as editoras Paulus, Cuca Fresca, Lagoa Editora, Brinque Book, Callis, IBGE, Positivo, Oxford, Riddel e Abril. Alm dessas, uma outra Editora chamada Companhia das Letrinhas (infanto-juvenil) merece um estudo para verificar se atende pedagogia da Escola. As obras sugeridas compem um total de 56 obras, destas sete (13%) so obras de referncia, 28 (50%) so de literatura, histria e reas afins e 21 (38%) sites gratuitos para pesquisa escolar. Houve uma necessidade de conhecer tambm o ambiente escolar com mais detalhes. Fica como sugesto para prximos trabalhos: fazer um estudo de uso do acervo; estudo de usurios; entrevistas com os professores pra acompanhar os assuntos desenvolvidos em aula, etc. Desta forma, entende-se que o constante contato entre biblioteca e comunidade escolar fundamental, no somente para o processo de ensino-aprendizagem, mas tambm para dar vida Biblioteca Escolar.

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TRAINING AND DEVELOPMENT OF COLLECTIONS: PROPOSAL FOR SCHOOL LIBRARY IN ACCORDANCE WITH THE WALDORF PEDAGOGYAbstract: It presents the experience report achieved in the year 2008 with the aim of discovering the collection of the library's Waldorf School Anab of Florianpolis-SC. This theme of collections in the light of the school library and inserts the Waldorf pedagogy in this context. It describes the policies and culture of this institution, particularly with regard to education learning. Characterized the situation of the archive through on-site visit and semi-structured. It presents suggestions for incorporation of new titles to the collection. It identifies the librarian as a gap in the management of the school library. Keywords: Development of collections. Library school. Waldorf pedagogy.

____ Lcia da Silveira Bolsista da Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis UFSC Acadmica do Curso de Biblioteconomia - Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Contato: [email protected] Rosane Fioravante Funcionria da Biblioteca da Penitenciria de Florianpolis - SC Acadmica do Curso de Biblioteconomia - Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Contato: [email protected] Elizete Vieira Vitorino Membro do Grupo de Pesquisa Informao, Tecnologia e Sociedade (GRITES) Pesquisadora do CNPq Professora Doutora do Departamento de Cincia da Informao (CIN) UFSC Artigo: Recebido em: 15/09/2008 Contato: [email protected] em: 10/02/2009Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianpolis, v.14, n.1, p.86-103, jan./jun., 2009.

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