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Formação continuada no cotidiano escolar: uma ação fundamental para o profissional da educação
Márcia Augusta Flóride1
Marlizete Cristina Bonafini Steinle2
RESUMO
O presente artigo relata a experiência que tivemos na implementação do projeto de intervenção desenvolvido durante nossa participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposta de formação continuada ofertada aos professores da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, por se acreditar que a formação continuada, realizadas nas escolas, seja um dos caminhos necessários para a efetivação de uma escola pública com qualidade. Deste modo, o objetivo dessa pesquisa foi oferecer aos professores de uma escola no município de Jacarezinho, uma proposta de formação continuada em serviço caracterizada pela ação coletiva de levantar os problemas educacionais existentes, bem como, pela busca de caminhos possíveis para minimizar os mesmos. A fim de objetivar o proposto, utilizou-se como metodologia a pesquisa qualitativa na modalidade de estudo de caso com intervenção. Para a coleta de dados, aplicou-se questionários semi-estruturados para trinta e três professores, sujeitos desta pesquisa. Assim, mediante os resultados obtidos na presente pesquisa é possível inferir que dar voz e vez aos professores, levantando suas necessidades e ainda reconhecendo seus medos, seja um dos caminhos fundamentais para a consolidação dos benefícios da formação continuada, expressos na prática docente com qualidade.
Palavras Chave: formação continuada. cotidiano escolar. profissional da educação. grupo de estudo
1 Professora Pedagoga da Rede Estadual de Educação do Paraná, mestranda em Educação na Universidade
Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 2 Docente do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus FAFICOP, mestre em
Educação pela Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: [email protected].
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ABSTRACT
This essay reports the experience we had in implementing the intervention project, developed during our participation in the Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), for a continuing education offered to the public school teachers of Paraná State, so that, it had been believed that continuing education, held at schools, are one of the necessary pathways that leads to a high quality public school. Moreover, the aim of this research was to offer teachers from a school in the municipality of Jacarezinho, a continuing education purpose in workplace characterized by the collective action, which raises the existing educational matters, as well as the attempt in finding the possible ways to minimize this matters. In order to aim what was proposed, it was used as methodology the qualitative research, in study with intervention case modality. For collecting the information, semi-structured questionnaires were applied to thirty-three teachers, who participated in the research. Thus, according to the results achieved in this research it is possible to remark that giving opportunities to teachers, taking into account their needs and realizing their fears, is one of the fundamental paths to the continuing education benefits consolidation, expressed in high standard teaching praxis.
Keywords: continuing education. everyday school. educational professional. study group
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INTRODUÇÃO
Quando iniciamos nossa participação no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) tínhamos, desde o princípio, a intenção de
investigar os motivos que levavam muitos dos profissionais da educação do
município de Jacarezinho a terem restrições à maioria das propostas de formação
continuada oferecidas pela Secretaria de Estado da Educação (SEED) e/ou pelo
Núcleo Regional de Educação (NRE).
Estas restrições foram observadas ao longo de nossa caminhada
docente e/ou como pedagoga. Ficávamos intrigados, pois sabemos que atualmente
são muitos os problemas enfrentados pela educação contemporânea e se seus
profissionais não tiverem a todo o momento buscando novos caminhos, visando
melhorar sua prática para assim, poder enfrentar com maior sucesso esses
problemas, correm o risco de não darem conta das demandas exigidas pela
sociedade atual.
Corroborando com este pensamento, Ghedin (2000) afirma que, “O
profissional que trabalha com ensino não pode jamais abrir mão da reflexão,
enquanto processo que pensa o próprio pensamento, portanto uma tomada de
consciência de si mesmo”.
Desse modo, após várias leituras e reflexões optamos por oferecer
aos profissionais da Escola Estadual Imaculada Conceição, uma proposta de
formação continuada que aconteceria no cotidiano escolar, através de grupo de
estudo, onde trabalharíamos a partir dos problemas levantados por eles e de acordo
com as necessidades desses profissionais e das demandas da escola. Pensamos
nessa proposta por entendermos que o interesse e o comprometimento poderiam
ser melhores, visto que os conteúdos abordados no grupo e a metodologia utilizada
partiriam da realidade da comunidade escolar.
Acreditamos que os profissionais da escola quando reunidos e
organizados no seu espaço de trabalho, tem maiores condições de decidirem pelos
melhores meios, pelos melhores métodos e pelas melhores formas de assegurar
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esta formação continuada. Com isto, não queremos dizer que não seja muito
importante o trabalho de especialistas, o trabalho das universidades, da SEED e do
NRE. Mas a lógica da formação continuada deve ser centrada nas escolas e deve
estar centrada numa organização dos próprios professores e profissionais que nela
trabalham.
Portanto, a presente pesquisa tem a intenção de provocar uma
reflexão sobre a importância da formação continuada em serviço, bem como relatar
a experiência que tivemos durante a implementação do projeto de intervenção que
desenvolvemos durante a nossa participação no PDE. O objetivo maior desse
trabalho foi oferecer aos profissionais da Escola Estadual Imaculada Conceição, do
município de Jacarezinho, mais especificamente aos professores, uma proposta de
formação continuada em serviço, onde discutimos os problemas por eles
enfrentados na escola, na tentativa de trabalhar o mais próximo possível da
realidade dessa comunidade escolar, buscando coletivamente, caminhos possíveis
para minimizar esses problemas, através da interação nos grupos de estudo.
Para melhor compreender o assunto em questão será apresentado
inicialmente o conceito de formação continuada em serviço, como aconteceu o
processo de implantação do projeto na escola, bem como a maneira como os
professores e a escola avaliaram essa proposta de capacitação. Apresentaremos
também, através da análise dos dados obtidos a partir dos relatos dos professores,
sujeitos dessa pesquisa, os pontos positivos da formação continuada em serviço e
suas contribuições para a prática pedagógica dos participantes.
1 FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO
Ao analisar a história da formação docente, é possível inferir que as
inúmeras modificações sociais demonstram serem os fatores que mais contribuíram
para o aumento da exigência na formação educacional do professor, bem como, o
seu exercício de reflexão na ação acerca de sua prática pedagógica. Esta exigência
emergiu a partir do momento que a escola pública percebeu-se interagindo com uma
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clientela heterogênea, pertencente na maioria das vezes, às classes populares, além
das mudanças sociais, econômicas e culturais ocorridas nas últimas décadas.
Sabemos que muitos são os desafios postos pela educação
contemporânea, e que grande é a insatisfação e insegurança do professor frente a
eles. Por este motivo, parafraseando Nóvoa (1991), Freire (1991) e Mello (1994) é
que acreditamos ser a formação contínua do professor, a saída possível para a
melhoria da qualidade do ensino. Diante deste contexto, a formação continuada
constitui-se em uma tentativa de resgatar a figura do professor, que está carente de
respeito, devido a sua profissão, tão desgastada atualmente.
Desta forma, “Ninguém nasce educador ou marcado para ser
educador. A gente se faz educador, a gente se forma como educador,
permanentemente, na prática e na reflexão da prática” (FREIRE, 1991, p. 589). Para
o autor, a formação permanente é uma conquista da maturidade, diz respeito à
consciência do ser. Assim, quando a reflexão permear a prática docente e a prática
da vida, a formação continuada será exigência “sine qua non” para que o homem se
mantenha vivo, energizado, atuante no seu espaço histórico, crescendo no saber e
na responsabilidade profissional e pessoal de cidadão.
É sabido a todos que o homem, ao longo da vida, apropria-se da
cultura acumulada pelas gerações anteriores, ao mesmo tempo em que cria novas
objetivações correspondentes às suas ideias e aos desafios de seu tempo. Sendo
assim, a educação é um processo fundamental, pois é por meio dela que tal
apropriação ocorre e que o indivíduo adquire instrumentos para criar essas novas
objetivações.
A apropriação do conhecimento, socialmente construído pela
humanidade, efetiva-se na interação entre membros representantes da cultura e no
interior de práticas sociais. Em nossa sociedade, essa apropriação se dá nas
esferas do cotidiano e em instituições criadas para este fim, como a escola.
A escola, como instituição social, que tem como função a
democratização dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, é
um espaço de mediação entre sujeito e sociedade. Compreender a escola como
mediação significa entender o conhecimento como fonte para efetivação de um
processo de emancipação humana e, logo, de transformação social.
Neste contexto, é necessário desvendar qual é o papel político da
escola, bem como o seu papel pedagógico, além de dimensionar a prática
6
pedagógica em todas as suas características e determinantes, com intencionalidade
e coerência, o que transparece um compromisso político ao garantir que o processo
de ensino - aprendizagem esteja a serviço da mudança necessária.
Assim, a atividade pedagógica do professor é um conjunto de ações
intencionais, conscientes, dirigidas para um fim específico. Desse modo,
compreender a natureza da escola e da atividade docente, nesta perspectiva,
implica articular a aprendizagem do aluno à formação continuada do professor e,
ainda, conforme Lima (2001), compreender que a formação contínua deve estar “a
serviço da reflexão e da produção de um conhecimento sistematizado, que possa
oferecer a fundamentação teórica necessária para articulação com a prática criativa
do professor em relação ao aluno, à escola e à sociedade” (LIMA, 2001:32).
Ao conceituar a formação continuada, é necessário compreender
que é um processo de formação profissional para quem já concluiu sua formação
inicial e exerce sua profissão. Assim, a formação continuada é voltada para o
profissional que está inserido em um contexto profissional sócio-histórico, e tem
como finalidade mediar o conhecimento socialmente acumulado em uma perspectiva
transformadora da realidade.
Para realizar seu trabalho docente, é preciso que o professor se
aproprie constantemente dos avanços das ciências e das teorias pedagógicas. Há,
ainda, uma razão muito mais premente, mais profunda, como apontam Barbieri,
Carvalho e Ulhe (1995) que é a própria natureza do fazer pedagógico, que, sendo
domínio da práxis é, portanto, histórico e inacabado.
Lima (2001) traz uma contribuição importante nesse sentido, ao
elaborar um conceito de formação continuada que parte de dois princípios de
perspectiva marxista: o trabalho como categoria fundante da vida humana e a práxis
da atividade docente.
Diante destes princípios marxistas, pode-se inferir que a formação
contínua é a articulação entre o trabalho docente, o conhecimento e o
desenvolvimento profissional do professor, com a possibilidade de postura reflexiva
dinamizada pela práxis (LIMA, 2001). Segundo a mesma autora, a formação
continuada não pode se efetivar se não estiver conectada com os sonhos, a vida e o
trabalho do professor.
Por outro lado, ao refletir sobre a atividade humana, é possível
verificar que a prática pedagógica constitui-se em uma atividade prática, a partir de
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uma visão utilitarista, ativista e espontaneísta de prática pedagógica ou, ainda,
constitui-se em uma atividade práxis guiada por intenções conscientes. Dessa
forma, de um lado, podemos dizer que temos uma prática pedagógica repetitiva e,
de outro, uma prática reflexiva.
No primeiro caso, o da prática pedagógica repetitiva, a prática do
professor vai se efetivando num marasmo respaldado pela rígida burocracia e
controle escolares. Já, no segundo caso, o da prática pedagógica reflexiva, a prática
esta marcada por uma opção consciente, pelo desejo de mudanças e pela busca e
implementação de novos valores que venham a dar uma nova direção à prática
social.
Assim, é possível inferir que a prática pedagógica só é reflexiva
quando pressupõe uma relação teórico-prático, pois a teoria e a prática encontram-
se em indissolúvel unidade e só por um processo de abstração é que podemos
separá-las.
Para reafirmar esta posição, Ribeiro (1991, p. 30), diz:
Em toda forma específica de práxis e na prática tomada em seu conjunto, enquanto práxis total humana, está contida a teoria por se tratar de uma prática de um ser consciente - o que equivale a dizer que se trata de uma prática dirigida por finalidades que são produtos da consciência; finalidades estas que para se efetivarem exigem um mínimo de conhecimento.
Ao refletir sobre teoria e prática, faz-se necessário que o
professor compreenda as afirmações de Christov (apud. GUIMARÃES et. al. 2007,
p. 32), quando diz que:
[...] é importante sabermos que elas andam sempre juntas, mesmo que não tenhamos muita clareza sobre as teorias que estão influenciando nossa prática, pois, toda ação humana é marcada por uma intenção, consciente ou inconsciente. Desta forma, ressalta a autora, sempre podemos encontrar aspectos teóricos em nossas ações, ou seja, aspectos de vontade, de desejo, de imaginação e finalidades.
No entanto, segundo Christov (apud. GUIMARÃES et. al. 2007, p.
32), sempre podemos analisar nossas ações perguntando-nos pelas intenções que
as cercam. Para que haja, porém, uma relação refletida, consciente, entre teoria e
prática é preciso de um esforço intelectual, um esforço do pensamento e da reflexão,
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para planejarmos as etapas previstas nas teorias ou na teoria que desejamos
assumir e para avaliarmos se as práticas por nós implementadas estão adequadas
às nossas intenções teóricas.
Mediante este fato, deixa de ter sentido a expressão “quero mais
prática e menos teoria” já que toda prática possui aspectos teóricos e toda teoria é
referenciada em alguma prática. Talvez o que esteja por trás dessa queixa seja a
dificuldade de identificar as intenções e os problemas de determinada ação ou as
possíveis relações entre as reflexões de certos autores e a nossa experiência
profissional. Trata-se, portanto, de adotarmos um caminho, um método adequado
para superarmos essas dificuldades e não de negarmos a teoria.
Assim, com o esforço intelectual e os métodos necessários à
explicitação das teorias presentes em certas práticas, estaremos tentando construir
uma teoria nossa, capaz de favorecer o diálogo entre nossa experiência prática e
discurso dos autores.
Segundo Christov (apud. GUIMARÃES et. al. 2007. p. 33):
[...] construímos nossa teoria ao aprendermos a ler nossa experiência propriamente dita e as experiências em geral. Construímos nossa teoria quando fizermos perguntas às experiências e aos autores; quando não nos satisfazemos com as primeiras respostas e com as aparências e começamos a nos perguntar sobre as relações, os motivos, as conseqüências, as dúvidas, os problemas de cada ação ou de cada contribuição teórica.
A mesma autora afirma que, a construção de nossa teoria exige que
coloquemos perguntas à nossa prática. Quanto maior for nossa habilidade para ler
nossa experiência, maior será nossa habilidade para compreender os autores.
Assim, conhecimento e experiência auxiliam nossa compreensão sobre nossa
prática.
Essas afirmações parecem muito simples e muito fáceis de ser
colocadas em prática. Na verdade não as são, pois, do contrário não teríamos tantas
queixas e tão freqüentes sobre o tema em discussão. O fato é que não vivemos num
ambiente educacional que nos prepare para construirmos boas relações com as
teorias nossa e/ou as alheias. Assim, o desenvolvimento da habilidade de lermos a
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própria experiência, e as experiências alheias, ler o mundo e os autores não são
privilegiados pelas escolas de formação no Brasil.
Deste modo, leitores do mundo como bem caracteriza Paulo Freire,
não aprendemos a ser. Quando lemos o mundo é por acaso, por sorte, por situações
casuísticas. Nunca por uma ação da escola que esteja aliada a uma teoria criadora
de leitores e autores. (CHRISTOV apud. GUIMARÃES et. al. 2007)
Nesse sentido, é necessário que nos processos de formação de
professores, sejam apresentadas as condições mínimas para que se relacione teoria
e prática, e estamos sugerindo a construção e a formação do leitor/autor da própria
experiência. Experiência que se percebe em si mesmo como teórica porque
refletida, avaliada e recriada.
Parafraseando Candau (2007) podemos dizer que se o
conhecimento é um processo contínuo de construção, é construção, desconstrução
e reconstrução. Deste modo, vale questionarmos: estes processos também não se
dão na prática cotidiana reflexiva e crítica? Por trás da visão “clássica” de formação
que conhecemos até então, como seminários, simpósios, cursos específicos, entre
outros, não está ainda muito presente uma concepção dicotômica entre teoria e
prática, entre os que produzem conhecimento e o estão continuamente atualizando
e os agentes sociais responsáveis pela socialização destes conhecimentos?
Reagindo a essa concepção “clássica”, segundo a mesma autora, foi
se desenvolvendo, principalmente nos últimos tempos, uma série de buscas,
reflexões e pesquisas orientadas a construir uma nova concepção de formação
continuada.
Em relação aos caminhos de construção de uma nova perspectiva
de formação continuada de professores, Candau focaliza três teses que, segundo
ela, cada vez vão conquistando maior consenso entre os profissionais da educação.
Trata-se de repensar a formação continuada, tendo por base as seguintes
afirmações: a escola como lócus da formação continuada; a valorização do saber
docente e o ciclo de vida dos professores (Candau, 1997, p.57).
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Sobre a questão de a escola ser “lócus de formação continuada”,
Candau (1997, p.57) afirma:
Neste sentido, considerar a escola como lócus de formação continuada passa a ser uma afirmação fundamental na busca de superar o modelo clássico de formação continuada e construir uma nova perspectiva na área de formação continuada de professores. Mas este objetivo não se alcança de uma maneira espontânea, não é o simples fato de estar na escola e de desenvolver uma prática escolar concreta que garante a presença das condições mobilizadoras de um processo formativo. Uma prática repetitiva, uma prática mecânica não favorece esse processo. Para que ele se dê, é importante que essa prática seja uma prática reflexiva, uma prática capaz de identificar os problemas, de resolvê-los, e cada vez as pesquisas são mais confluentes, que seja uma prática coletiva, uma prática construída conjuntamente por grupos de professores ou por todo o corpo docente de uma determinada instituição escolar.
Para que consigamos esses espaços de efetivação da formação
continuada no cotidiano da escola, é preciso que colaboremos, conscientemente,
para que a gestão democrática seja uma prática diária em nossa escola. Mas temos
que ter ciência de que só conseguiremos a efetivação da autonomia, se nos
comprometermos coletivamente com a mudança de paradigmas, com o nosso novo
papel de professor exigido pela contemporaneidade e, ainda, deixarmos de apontar
culpados para o fracasso da educação para buscarmos coletivamente soluções aos
problemas de nossa escola.
É importante ressaltarmos a responsabilidade de cada educador
nesse processo, em que cada um deverá ter o compromisso de lutar para a
efetivação de uma gestão democrática na escola, tão necessária para a aquisição
da autonomia, pois, acreditamos que somente através da gestão democrática que
conquistaremos espaços e tempos para a formação continuada na escola. E se não
conseguirmos efetivar este desejo, com certeza, iremos nos frustrar diante de
nossos fracassos e, certamente, continuaremos sofrendo as consequências, até nos
conscientizarmos do direito e do dever de lutarmos pela qualidade de nosso trabalho
e pela qualidade da educação.
Além disso, é preciso focar a excelência do nosso dever de
professor, que é, entre outros, de formar o aluno para ser um cidadão transformador
da realidade que o cerca, que sabemos, o acolhe, na maioria das vezes, pela
marginalidade.
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Sobre esta questão Alonso (1994, p.6) afirma:
Tornar um profissional efetivo, em contraposição ao tarefeiro burocrático; Esse profissional terá que ser visto como alguém que não está pronto, acabado, mas em constante formação; Um profissional com autonomia para decidir sobre o seu trabalho e suas necessidades; Alguém que está sempre em busca de novas respostas, novos encaminhamentos para seu trabalho e não simplesmente um cumpridor de tarefas e executor mecânico de ordens superiores e, finalmente, alguém que tem os olhos para o futuro e não para o passado.
Acerca da valorização do saber docente, Candau (1997) considera
fundamental ressaltar a importância do reconhecimento e valorização do saber
docente no âmbito das práticas de formação continuada, de modo especial dos
saberes da experiência, núcleo vital do saber docente, e a partir do qual o professor
dialoga com as disciplinas e os saberes curriculares.
Para a autora, os saberes da experiência se fundam no trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. São saberes que brotam e são por ela
validados. É através desses saberes que os professores julgam a formação que
adquirem, a pertinência ou o realismo dos planos e das reformas que lhe são
propostas e concebem os modelos de excelência profissional.
Mas, não devem pensar que eles, por si só, darão conta de sua
formação, nem tampouco dos enfrentamentos do dia a dia de sala de aula, pois “A
formação continuada deve alicerçar-se numa [...] reflexão na prática e sobre a
prática, através de dinâmicas de investigação-ação e de investigação-formação,
valorizando os saberes de que os professores são portadores” (NÓVOA, 1991, p.
30).
A respeito do ciclo de vida dos professores, Candau (1997) diz que o
importante para o nosso tema é reconhecer que se trata de um processo
heterogêneo. Tomar consciência de que as necessidades, os problemas, as buscas
dos professores não são as mesmas nos diferentes momentos de seu exercício
profissional e que muitos dos esquemas de formação continuada ignoram esse fato.
Ainda segundo a mesma autora, as necessidades e os problemas
dos professores são os mesmos, seja para o professor iniciante, seja para o
professor que já tem certa estabilidade profissional, seja para o professor numa
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etapa de enorme questionamento de sua opção profissional, seja para o professor
que já está próximo da aposentadoria.
Estas preocupações com o ciclo de vida profissional dos professores
apresentam, para a formação continuada, o desafio de romper com modelos
padronizados e a criação de sistemas diferenciados que permitam aos professores
explorar e trabalhar os diferentes momentos de seu desenvolvimento profissional de
acordo com suas necessidades específicas.
Mas, isto não quer dizer que ele deva se negar a todo tipo de
formação ofertada pela mantenedora com a justificativa de que não lhe é
interessante ou ainda por não concordar com a política educacional proposta por
ela.
O homem ‘culto’ é, em primeiro lugar, o homem do espírito aberto e livre que sabe compreender as idéias e as crenças do próximo ainda quando não pode aceita-las ou reconhece-las válidas. Em segundo lugar, e por conseqüência, uma cultura viva e formativa deve ser aberta ao futuro, mas ancorada no passado. Neste sentido, o homem culto é aquele que não desarvora diante do novo nem lhe foge, mas sabe considerar no seu justo valor, vinculando-o ao passado e iluminando-lhe as semelhanças e disparate. Em terceiro lugar, a cultura é fundada (...) na capacidade de efetuar escolhas ou abstrações que permitam confrontos, avaliações de conjunto e, portanto, orientações de natureza relativamente estável. (ABBAGNANO, 1982, p. 212)
A formação continuada não pode ser concebida como um meio de
acumulação (de cursos, palestras, seminários, etc., de conhecimentos ou de
técnicas), mas sim, através de um trabalho de refletividade crítica sobre a prática e
de (re) construção permanente de uma identidade pessoal e profissional, em
interação mútua. E é nessa perspectiva que a renovação da formação continuada
vem procurando caminhos novos de desenvolvimento.
Por estes motivos, e por muitos outros, é que nos propusemos,
dentro das possibilidades e necessidades dos professores, alunos e de toda
comunidade escolar, eleger a formação continuada realizada no cotidiano da escola
ou “em serviço” como uma das mais eficientes, por ser esta concebida e
desenvolvida de acordo com a realidade da escola e necessidades levantadas por
todos que dela fazem parte.
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Acreditamos que através de leitura, de reflexão e avaliação de suas
práticas pedagógicas, o professor individualmente e principalmente através do
trabalho coletivo como, grupo de estudos, realizado na hora atividade e/ou em
outros momentos definidos por toda a comunidade escolar, possa ter a oportunidade
de (re) organizar sua prática docente a partir do exercício da ação-reflexão-ação,
valorizando a sua prática docente como uma possibilidade de êxito para aplicar
criativamente a racionalidade técnica obtida no processo de aquisição de
competências escolares.
Deste modo, esta formação pode ser o início de uma formação
continuada com comprometimento, onde os profissionais da educação possam
juntos construir uma gestão democrática, a fim de que sejam reconhecidos e
respeitados pelo saber adquirido coletivamente e, através deste saber, venham a
conquistar a “autoridade” tão almejada por todos os professores, sem utilizarem de
autoritarismo e, tampouco se frustrarem.
Vale destacar que entendemos que existe uma relação indissociável
entre a gestão democrática e a formação continuada. Isso não quer dizer que
desconsideramos a co-responsabilidade do professor com sua formação continuada,
mas que entendemos que existe uma relação de parceria entre o educador, o gestor
e as instituições públicas. Assim, o gestor pode ser um incentivador da formação
continuada quando estimula e valoriza esta atitude por parte do educador, como por
outro lado, pode ser um empecilho ao negar ao professor o espaço de estudo e
reflexão, tanto dentro como fora da instituição educacional.
Durante os estudos realizados para desenvolver este trabalho, foi
possível percebermos muitas contribuições oferecidas pela formação em serviço,
entre elas podemos relacionar as seguintes para reflexão:
• nas estratégias de formação em serviço, os professores constituem-se em
sujeitos do próprio processo de conhecimento onde ora são professores
“ensinantes” ora professores “aprendentes”;
• esta modalidade de formação, por estar mais centrada no espaço escolar
acaba oferecendo ao professor plena autonomia, decorrência natural da
condição de sujeito do próprio conhecimento;
• por estar centrada nos reais problemas da escola, a probabilidade de
adesão e de comprometimento coletivo, com certeza, será maior;
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• favorecendo o envolvimento coletivo alunos e professores só terão a
ganhar, pois professores conscientes de sua ação, através da prática
pedagógica refletida, consequëntemente, alunos aprendendo mais e
melhor e professores mais satisfeitos.
Consideramos neste momento oportuno, transcrever a adaptação
que Nóvoa (1991. apud. MARY-LOUISE HOLLY E CAVEN MCLOUGHLIN, 1989, p.
31), resumindo o desenvolvimento da reflexão sobre a formação continuada de
professores vividos nos últimos anos, apresenta:
• Já começamos, mas estamos longe do fim. Começamos por realizar ações pontuais de formação continuada, mas evoluímos no sentido de enquadrá-las num contexto mais vasto do desenvolvimento profissional e organizacional.
• Começamos por encarar os professores isolados e a título individual, mas evoluímos no sentido de os considerar integrados em redes de cooperação e de colaboração profissional.
• Passamos de uma formação por catálogo para uma reflexão na prática e sobre a prática.
• Modificamos a nossa perspectiva de um modelo de formação de nossos professores para programas diversificados e alternativos de formação contínua.
• Mudamos as nossas práticas de investigação sobre os professores para uma investigação com os professores e até para uma investigação pelos professores.
• Estamos evoluindo no sentido de uma profissão que desenvolve os seus próprios sistemas e saberes, através de percursos de renovação permanente que a definem como uma profissão reflexiva e científica.
O epílogo acima tem a intenção de mostrar como a concepção de
formação continuada evoluiu nos últimos anos, deixando-nos explícito que não
podemos esperar que a solução de muitos dos problemas da escola, sejam
resolvidos por leis ou decretos, muito menos aceitar tudo o que nos é imposto, sem
questionamentos, mas apresenta-nos, de forma implícita, que não devemos nos
acomodar diante da situação posta.
É possível, ainda, visualizarmos o autor, reafirmando o que foi
desvendado durante este trabalho, “o refletir” sobre o que, como e com que objetivos
realizamos nossa função ou o nosso papel de educador. Ressalta ainda que tenham
sempre que ser investigadores dos assuntos que nos incomodam e, que todas estas
ações serão conquistadas se for efetivadas no âmbito do trabalho coletivo, do querer
de cada um, do comprometimento e do “acreditar” que é possível, sempre levando
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em consideração os limites e possibilidades de cada sujeito que faz parte deste
processo.
2 IMPLEMENTAÇÃO: DO SONHO A REALIDADE
Com o objetivo de re-significar concepções docentes e práticas
utilizadas nos cursos de formação continuada, a presente pesquisa teve como
caminho metodológico a pesquisa qualitativa, na modalidade de estudo de caso com
intervenção.
Participaram como sujeitos desta pesquisa, trinta e três professores
que atuam nos anos finais do ensino fundamental, pertencentes a uma escola
pública no município de Jacarezinho, Estado do Paraná. A fim de levantar os dados
necessários, utilizou-se um questionário semi-estruturado que após a leitura e
compreensão, foi possível fazer uma análise dos dados coletados.
Após o levantamento de dados, propusemos aos profissionais
consultados a criação de um Grupo de Estudos, que, apesar do interesse ser
grande, nem todos puderam participar devido aos encontros acontecerem em
período/horário que muitos tinham aula em outra escola ou já terem assumido grupo
de estudos, ofertados pela SEED, aos sábados.
Nesses encontros fizemos leituras e reflexões sobre vários textos,
assistimos documentários sobre os problemas enfrentados pela escola
contemporânea e filmes sobre relacionamento professor/aluno. Discutimos também,
temas do projeto tais como: Gestão Democrática, Formação Continuada e Trabalho
Coletivo, e os relacionados ao dia-a-dia da escola como o Plano de Trabalho
Docente, Projeto Político Pedagógico e processo ensino-aprendizagem.
Outros temas sugeridos pelo grupo versavam também sobre os
problemas levantados por vários professores da escola como: indisciplina, falta de
interesse dos alunos, participação da família, bem como a falta de experiência dos
professores novos. Trabalhamos, com os demais professores, que não participavam
do Grupo de Estudos nas Reuniões Pedagógicas, Conselho de Classe e em todos
os momentos que foram necessários e/ou possíveis.
Concomitantemente ao Grupo de Estudos constituímos, também,
com profissionais da escola, um grupo de apoio à implementação do projeto de
intervenção. Ele tinha por objetivo discutir o nosso trabalho com o Grupo de Estudos
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e sugerir encaminhamentos. Esse grupo foi constituído por dez profissionais da
educação, todos da escola já mencionada, sendo dois funcionários dos serviços
gerais, três do setor administrativo e cinco professores.
O Grupo de Apoio à implementação foi organizado em oito encontros
de quatro horas, sempre nas segundas-feiras, no período noturno. Nesses encontros
discutíamos e definíamos os encaminhamentos dos trabalhos com o Grupo de
Estudos, bem como sobre temas referentes à Gestão Democrática, Formação
Continuada, Trabalho Coletivo, entre outros. Acompanhávamos como estava
acontecendo o processo de implementação, o que era viável, bem como em que
precisávamos modificar em relação a conteúdos e metodologia. Foram dadas
sugestões dos temas que precisavam ser priorizados e fizemos o levantamento dos
problemas que estavam, no momento, dificultando o processo de ensino e
aprendizagem e os que estavam impedindo o trabalho dos professores. Também
contribuíram com sugestões de “como trabalhar com os professores” para minimizar
estes problemas. No Grupo de apoio pensávamos sempre na escola como um todo
e, também, nos professores que não participavam dos Grupos, para que
pudéssemos atingir a maioria dos professores.
Nesse grupo pudemos verificar que é possível a efetivação de grupo
de estudos, como proposta de formação continuada da escola. Sendo necessário,
apenas, o querer coletivo, o comprometimento com a educação e, acima de tudo, a
valorização das necessidades reais dos professores, dos funcionários e da escola
como um todo.
3 ANÁLISE DOS DADOS
Refletir sobre a formação continuada tem sido um grande desafio
para os teóricos e pesquisadores da educação, uma vez que inúmeras são as
justificativas que convalidam a sua efetivação e em igual proporção as justificativas
que inviabilizam o seu processo.
Vencer este dualismo de concepções levou-nos a compreender
quais são aquelas que fundamentam a ação do professor perante aos cursos de
formação continuada. Para desbravar este universo de reações, inicialmente
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indagamos os professores perguntando como eles avaliam a Formação Continuada,
proposta pela SEED e obtivemos as seguintes respostas:
“Na maioria das vezes não atinge as expectativas e a realidade do ensino”
P1.
“Nunca vem ao encontro de nossas necessidades” P2.
“Nem todos satisfazem os nossos anseios” P3.
Pudemos observar na fala dos professores P1, P2 e P3 que os
modelos dos cursos ofertados pela SEED, como proposta de formação continuada,
em sua maioria, não vem ao encontro das expectativas dos professores, o que faz
com que eles, permaneçam com as mesmas dúvidas e angústias. Esta atitude
governamental retira do professor o papel de agente do processo de formação e
delega-o papel de integrante passivo ou mero ouvinte.
Candau (1997) corroborando com a posição de que o envolvimento
do educador nas propostas de formação continuada é imprescindível na medida em
que se valoriza o saber docente, destaca que, considera fundamental ressaltar a
importância do reconhecimento e valorização do saber docente no âmbito das
práticas de formação continuada, de modo especial dos saberes da experiência,
núcleo vital do saber docente, e a partir do qual o professor dialoga com as
disciplinas e os saberes curriculares.
Para a autora, os saberes da experiência se fundam no trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. Para ela, esses saberes são os que
brotam e são por ela validados. Através desses saberes, os professores julgam a
formação que adquirem, a pertinência ou o realismo dos planos e das reformas que
lhe são propostas e concebem os modelos de excelência profissional.
18
No entanto, não é nossa intenção defender que por si só, os saberes
cotidianos dos professores darão conta de sua formação e nem afirmar que eles
sozinhos superarão os enfrentamentos do dia-a-dia de sala de aula pois, se acredita
conforme destaca Nóvoa (1991),
A formação continuada deve alicerçar-se numa [...] reflexão na prática e sobre a prática, através de dinâmicas de investigação-ação e de investigação-formação, valorizando os saberes de que os professores são portadores (NÓVOA, 1991, p. 30).
Ainda, segundo a avaliação que os professores fazem dos cursos de
formação continuada ofertados pela SEED, seis dos sujeitos deste estudo, afirmam
que gostariam que os cursos fossem mais práticos e menos teóricos, conforme as
respostas a baixo.
“Sentimos necessidade de oficinas de capacitação e não de textos
extensos para leitura”P1
“Pode ser melhor, com aulas práticas sobre as disciplinas e algumas
técnicas para despertar a atenção e o interesse dos alunos” P2
“ Gostaria que fosse com aulas práticas, onde pudesse usar no nosso dia
a dia, ou seja, aulas concretas com materiais concretos e não só falar dos
documentos que já foram feitos” P3
“ Necessitamos de assuntos práticos para o dia a dia do aluno e do
professor” P4
“A formação continuada deveria proporcionar aos professores mais
sugestões práticas para trabalhar com os alunos no dia a dia” P5
“Gostaria que fosse aulas práticas, nas quais usaríamos em nossa sala de
aula, abrangendo os conteúdos de cada série” P6
A partir dessas respostas pudemos perceber que muitos professores
não compreenderam ainda a importância da indissociabilidade entre teoria e prática
19
e tampouco percebem necessidade da teoria para subsidiar a prática e a prática
para validar a teoria.
Sobre teoria e prática, concordamos com Christov quando diz que:
[...] é importante sabermos que elas andam sempre juntas, mesmo que não tenhamos muita clareza sobre as teorias que estão influenciando nossa prática, pois, toda ação humana é marcada por uma intenção, consciente ou inconsciente. Desta forma, ressalta a autora, sempre podemos encontrar aspectos teóricos em nossas ações, ou seja, aspectos de vontade, de desejo, de imaginação e finalidades.
Ainda segundo Christov (apud. GUIMARÃES et. al. 2007, p. 32),
sempre podemos analisar nossas ações perguntando-nos pelas intenções que as
cercam. Para que haja, porém, uma relação refletida, consciente, entre teoria e
prática é preciso um esforço intelectual, um esforço do pensamento e da reflexão,
para planejarmos as etapas previstas nas teorias ou na teoria que desejamos
assumir e para avaliarmos se as práticas por nós implementadas estão adequadas
às nossas intenções teóricas.
Mediante este fato, deixa de ter sentido a expressão “quero mais
prática e menos teoria” já que toda prática possui aspectos teóricos e toda teoria é
referenciada em alguma prática. Talvez o que esteja por trás dessa queixa seja a
dificuldade de identificar as intenções e os problemas de determinada ação ou as
possíveis relações entre as reflexões de certos autores e a nossa experiência
profissional. Trata-se, portanto, de adotarmos um caminho, um método adequado
para superarmos essas dificuldades e não de negarmos a teoria.
Assim, com o esforço intelectual e os métodos necessários à
explicitação das teorias presentes em certas práticas, estaremos tentando construir
uma teoria nossa, capaz de favorecer o diálogo entre nossa experiência prática e o
discurso dos autores.
Dando continuidade ao levantamento de dados, sentimos a
necessidade de perguntar para os professores sujeitos desta pesquisa, quais são os
motivos que os levam a frequentar os cursos de formação continuada ofertados pela
SEED, e obtivemos as seguintes respostas.
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“Frequento para ampliar os meus conhecimentos” P7
“Participo para acrescentar algo em meu conhecimento” P8
“Participo com a finalidade de adquirir mais conhecimento dentro da
disciplina que atuo” P9
“O motivo que me leva a freqüentar os cursos de formação continuada é
procurar estar sempre atualizado” P10
“Para estar sempre informada e, consequentemente, estar
preparada e preparando os alunos para a vida futura”, P11
“Necessidade de novos conhecimentos” P12
“Para melhorar a prática pedagógica” P13
Ao analisar essas respostas, percebe-se que para os professores
sujeitos desta pesquisa, os cursos de formação continuada têm um significado
relevante, além de cumprirem com o objetivo almejado pela proposta de formação
continuada proposto pelos órgãos governamentais. No entanto, este significado de
aperfeiçoamento profissional, não corresponde a uma grande parcela dos seus
frequentadores, o que muitas vezes, faz com que os cursos seja um fracasso.
A esse respeito, Candau (1997), diz que em relação aos caminhos
de construção de uma nova perspectiva de formação continuada de professores, é
importante repensar a formação continuada, tendo por base os seguintes enfoques:
“a escola como lócus da formação continuada; a valorização do saber docente e o
ciclo de vida dos professores” (p.57).
Ao enfocar o “ciclo de vida dos professores”, Candau (1997), diz que
é importante reconhecer que o ciclo de vida profissional docente, caracteriza-se por
um processo heterogêneo. Neste contexto, torna-se extremamente necessário que
os organizadores dos cursos compreendam que as necessidades, os problemas e
21
as buscas dos professores não são as mesmas nos diferentes momentos de seu
exercício profissional, pois, normalmente acabam ignorando esse fato e
homogeneízam os interesses dos professores oferecendo a mesma formação para
todos, sem levar em consideração este aspecto fundamental.
Vale destacar que as preocupações com o ciclo de vida profissional
dos professores representam para os cursos de formação continuada, o desafio de
romper com modelos padronizados e adentrar a criação de sistemas diferenciados
que permitam aos professores explorar e trabalhar os diferentes momentos de seu
desenvolvimento profissional de acordo com suas necessidades específicas.
Por outro lado, desconsiderar o ciclo de vida dos professores, não
justifica a falta de interesse e a negação por parte dos professores a todo tipo de
formação continuada ofertada pela sua mantenedora, como justificativa de que não
lhe é interessante ou de que ele não concorda com a política educacional proposta
por ela.
É sabido a todos que a proposta de formação continuada docente
tem seus objetivos, deste modo, a presente pesquisa procurou desvendar qual era o
grau de importância dada pelo professor a esta prática governamental. Entre as
respostas obtidas destacaremos as seguintes.
“Necessidade de novos conhecimentos”,
“Crescimento e atualização”
“Melhorar a atuação”,
“Subsidiar a prática pedagógica”,
“Proporcionar aos professores o contado com as novas produções
acadêmicas”
“Para a reflexão sobre nosso trabalho”.
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Observar-se que em sua maioria, os professores percebem a
importância e a necessidade da formação continuada, porém apontam que seria
mais produtiva se fosse ofertada de outra maneira, de modo a satisfazer as
necessidades imediatas do cotidiano escolar.
Neste contexto os professores destacaram como falha dos cursos
de formação continuada a carga horária extensa, os textos longos, cansativo, sem
motivação e fora da realidade da escola. E como vantagens observaram a
atualização, a troca de experiências, a certificação, o encontro com os colegas, o
momento de reflexão, de leitura, de debate e a aquisição de novos conhecimentos.
Essas respostas levaram-nos conhecer qual o juízo de valores atribuídos pelos
professores consultados para podermos inferir que apesar de compreenderem a
importância da formação continuada, a maioria não está satisfeita com a forma que
ela está organizada, pois, infelizmente ainda conservam a supervalorização na
prática e não dão a devida importância para a teoria, a isso chamamos de síndrome
das oficinas – fazer, fazer sem saber para que.
Entendendo a importância da formação continuada como uma ação
necessária para o professor enfrentar com maior competência e segurança as
exigências da escola contemporânea, bem como, para assegurar o direito da
mantenedora em continuar ofertando para seus profissionais está formação,
pedimos para eles descreverem como a escola se organiza para os momentos de
estudo e qual é a forma que a escola deveria se organizar para oportunizar a eles a
formação continuada em serviço.
Dos trinta e três professores consultados, quinze afirmaram que a
escola não tem um espaço para a formação continuada, que esporadicamente se
reúnem na hora atividade. E apenas nas reuniões pedagógicas e no Conselho de
Classe que se reúnem para discutirem coletivamente os problemas da escola e,
somente dez deram sugestão de como deveria a escola se organizar para estudar,
refletir e discutir sobre os problemas enfrentados por ela.
A respeito das sugestões quanto à forma de organização da escola
para ofertar a formação continuada, todos os que responderam sugerem que a
escola deve favorecer um tempo para que eles possam ter a oportunidade de se
capacitar no horário de trabalho e que esses encontros aconteçam a partir da
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realidade e da necessidade que os professores percebem em sala de aula, pois só
assim poderá atender à suas expectativas e realmente contribuir para a melhoria da
prática pedagógica de cada um e, consequentemente, contribuir para a melhoria do
processo de ensino-aprendizagem nessa escola.
TECENDO CONSIDERAÇÕES
Ao término desta pesquisa foi possível verificar as contribuições
efetivas que a proposta de formação continuada em contexto traz para o processo
de reflexão do professor em relação a sua prática diária, bem como a sua
atualização teórica. Tais contribuições se somaram ainda a valorização dos saberes
docente, a efetivação do trabalho coletivo e a democratização da escola, enquanto
espaço de formação contínua.
Evidenciamos com este trabalho que o professor e o coletivo da
escola podem produzir conhecimento a partir da prática de sua realidade escolar,
desde que tenha intencionalidade, ou seja, que saiba aonde querem chegar e ainda
consigam identificar o que precisam para alcançar seus objetivos. Só assim,
acreditamos que poderão reivindicar espaços e tempo para a formação continuada
em serviço, fazendo dessa conquista, momentos ricos e produtivos para a sua práxis
educativa.
No decorrer da pesquisa, foi possível constatar que a grande
resistência evidenciada na atitude do professor com relação à formação continuada,
ocorre por preconceitos historicamente construídos pelos próprios profissionais da
educação, quando afirmam que os cursos promovidos pela SEED não contribuem
em nada com a sua formação, pois, estão longe da realidade das escolas
paranaenses, uma vez que não possuem prática.
Desconstruir paradigmas, não é algo tão fácil, no entanto não é
impossível, mas demanda convencimento teórico. Deste modo, pretende-se neste
24
momento sugerir algumas ações que consideramos favoráveis na busca deste
horizonte:
1. Incluir o professor como personagem ativo dos cursos de
formação continuada, atribuindo-o funções, assim, ele
também se sentirá responsável pelo processo;
2. Dar voz e vez aos professores, levantando quais são suas
dúvidas, suas dificuldades, suas necessidades emergentes no
processo ensino aprendizagem;
3. Criar vários grupos de formação continuada, onde os
professores se agruparão segundo seus interesses e
necessidades;
4. Fazer um planejamento coletivo de formação continuada,
incluindo nele grupos de estudos, palestras, aquisição de
material de estudo; troca de experiências entre outras
escolas, além de parcerias com as Instituições de Ensino
Superior.
Analisando os resultados obtidos no plano de implementação da
escola campo deste projeto, observa-se que frutos já estão sendo colhidos,
conforme as ações abaixo acordadas pelos professores:
• Os professores solicitaram a continuidade dos grupos de
estudo para o próximo ano;
• Já levantaram os temas que gostariam de discutir;
• Elencaram as suas necessidades teóricas;
• Ficou acordado que quinzenalmente utilizarão a hora-
atividade para fazerem grupo de estudos.
Assim, através das ações desenvolvidas durante o processo de
implementação foi evidenciado o que pensávamos a respeito da formação
continuada em serviço e percebermos que através desse trabalho, de
implementação do projeto na escola e da nossa produção didático-pedagógica,
pudemos contribuir, mesmo que de forma singela, para a reflexão sobre a
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importância da Formação Continuada para a vida profissional dos professores e dos
demais profissionais da escola a qual fizemos a intervenção.
Por meio da nossa experiência com essa proposta de formação
continuada, aonde observamos a participação efetiva dos professores, pelo
interesse demonstrado por eles em continuar com esse grupo no próximo ano e
pelos relatos que estes fizeram ao final dos encontros, pudemos perceber o quanto
esta formação realizada na escola, com os profissionais que dela fazem parte, pode
ser um caminho eficiente e seguro para que assim consiga o seu objetivo, pois como
já dissemos anteriormente, quando ela é realizada a partir da realidade da escola e
da demanda dos professores e funcionários que dela fazem parte, o interesse é
maior e, consequentemente, o seu sucesso.
Desse modo, a escola estará cumprindo a sua função de ofertar a
Formação Continuada para seus professores e funcionários. E acreditamos que a
partir das discussões, das leituras e reflexões efetuadas, o professor venha a
compreender o objetivo de muitos cursos ofertados pela mantenedora, pois criará o
hábito de estudar, percebendo a relevância destes para a sua atuação, bem como
sairá do senso comum quando tiver que argumentar de forma negativa ou positiva
quando da sua insatisfação ou apreciação de um determinado modelo de formação
continuada proposto.
REFERÊNCIA
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ALONSO, Myrtes. Uma tentativa de redefinição do trabalho docente. São Paulo, 1994.
BARBIERI, Marisa Ramos; Carvalho, Célia Pezzolo; ULHE, Águeda Bernadete. Formação Continuada dos Profissionais de Ensino: Algumas considerações. Caderno Cedes, n. 36. Campinas: Papirus, 1995. pp. 29 -35
CANDAU, Vera Maria (org). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. pp. 51-68.
26
CHRISTOV, Luiza Helena da Silva. Apud. GUIMARÃES, Cecília Hanna Mate, et. al.. O Coordenador pedagógico e a educação continuada. São Paulo: Loyola, 2007, pp. 32-34.
FREIRE, Madalena. A Formação Permanente. In: Freire, Paulo: Trabalho, Comentário, Reflexão. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.
LIMA, Maria Socorro Lucena. A formação contínua do professor nos caminhos e descaminhos do desenvolvimento. (Tese de doutorado). Faculdade de Educação - USP, 2000.
MELLO, Guiomar Namo de. Cidadania e competividade – desafios educacionais do terceiro milênio. São Paulo: Cortez, 1994.
NÓVOA, António. Concepções e práticas de formação contínua de professores, in Formação Contínua de Professores: realidades e perspectivas. Portugal: Universidade de Aveiro, 1991.
_________. (org.). Profissão Professor. Porto: Porto Editora, 1991.
RIBEIRO, Maria L. S. Educação escolar e práxis. São Paulo: Iglu, 1991.