Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

28
É o bicho! Cada vez mais pessoas descobrem os benefícios de ter a companhia de um animal de estimação Saúde Fundo de olho e sua relação com a saúde 19 13 Alexandre Brandão Redes sociais 10 Educação Adaptação de crianças pequenas à escola Abril 2011 Ano 10 N o 87

description

Edição abril 2011

Transcript of Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Page 1: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

É o bicho!Cada vez mais pessoas descobrem os benefícios de ter

a companhia de um animal de estimação

Saúde

Fundo de olhoe sua relação com a saúde

1913 Alexandre Brandão

Redes sociais10 Educação

Adaptação de crianças pequenas à escola

Abril 2011 Ano 10 No 87

Page 2: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87
Page 3: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

editorial

Cada vez mais pessoas descobrem como é bom ter a companhia de um animal de estimação. Os animais domésticos estão presentes em quase a metade dos lares cariocas, dividindo os momentos ale-gres e tristes e são excelentes companhia, não apenas para idosos e crianças. A Folha Carioca foi às ruas e ouviu algumas histórias de pessoas apaixonadas por seus bichos e descobriu que não só gato e cachorro fazem a alegria de muitas famílias. Encontramos peixes, canarinho, patos, tartaruga, arara, furão e diversos outros bichos que encantam seus donos e participam da biografia familiar. Os motivos para se ter um animal são muitos como, por exemplo, depois dos filhos crescidos, morando em outra cidade, casados; as pessoas sen-tem solidão, sentem falta de dar e receber afeto. Comprovamos que a companhia de animais pode melhorar a qualidade de vida, além de suprir a carência afetiva. As pessoas sentem-se úteis, necessárias e se mantêm ativas, preservando a saúde física e mental. Não importa o tipo de animal, raça ou espécie, o que vale é o contato, o amor e o vínculo que se estabelece entre a pessoa e o bicho. Acompanhem as muitas histórias e curiosidades a partir da página 14.

Um problema crescente é o abandono de animais. O Ipab - Ins-tituto de Proteção aos Animais do Brasil - estima que aproximada-mente 50% dos animais adquiridos são abandonados de diferentes formas em até 30 meses. Os motivos alegados são diversos: “vou casar e meu noivo é alérgico”, “irei morar em um apartamento menor”, “estou me mudando para outro país”, “estou grávida”, “es-tragou o estofado do sofá novo”, “roeu o sapato”, “cresceu demais”, “faz sujeira”, “enjoei dele e quero um filhote novo” etc. Saibam que abandonar e praticar ato de abuso, maus-tratos com os animais é crime. A principal lei que protege os animais é a Lei Federal 9.605/98, que trata dos crimes ambientais. É preciso consciência e prática da posse responsável. Animais não podem ser tratados como objetos, sendo descartados por donos irresponsáveis! Veja na página 18 a resposta que uma protetora de animais deu para uma pessoa que mudou de cidade e não cogitou levar seus gatos com ela.

Boa leitura!

Os benefícios de ter um animal doméstico

FundadoraRegina Luz

EditoresPaulo Wagner / Lilibeth Cardozo

DistribuiçãoGratuita

JornalistaFred Alves (MTbE-26424/RJ)

ColaboradoresAlexandre Brandão, Ana Cristina de Car-

valho, Arlanza Crespo, Gisela Gold, Haron

Gamal, Lilibeth Cardozo, Oswaldo Miranda,

Maria Luiza de Andrade, Patrícia Lins e Silva,

Sandra Jabur Wegner, Suzan Lee Hanson

e Tamas

Captação de AnúnciosAngela: 2259-8110 / 9884-9389 Marlei: 2579-1266

O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.

Capa Arte: Renan Pinto

Projeto gráfico e arteVladimir Calado ([email protected]

Revisão Petippa Mojarta

Ilustração João Ferro

índice

colunas

10

12 14

18

19

22

23

25

4

9

06 Gisela Gold06 Suzan Lee Hanson08 Arlanza Crespo09 Sandra Jabur Wegner10 Patricia Lins e Silva11 Lilibeth Cardozo

12 Ana Cristina de Carvalho13 Alexandre Brandão20 Oswaldo Miranda22 Maria Luiza de Andrade24 Tamas24 Haron Gamal

2295-56752259-81109409-2696

ENTRE EM CONTATO CONOSCOLeitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

[email protected]

Quem é quemMaria CândidaSaúde e bem-estarHidro PilatesEducaçãoAdaptação de crianças à escolaSaúde e bem-estarOsteoporose, é melhor prevenirCapaÉ o bicho!Posse responsávelAbandono de animaisSaúdeFundo de olho e sua relação com a saúdePerfilRicardo RochaMemóriaMúsicos da OSB – heróis da minha infânciaNovos talentosRebeca Tomasquim

Page 4: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

4

Abri

l 201

1

quem é quem

Arlanza Crespo

Ficar parada não dá tudo, mas ele mereceu, foi um casamento de amor”. O marido de Maria Cândida era médico e morreu há 10 anos, faltando 4 anos para eles completarem bodas de ouro. “Depois que fiquei viúva nunca mais quis namorar, tenho medo de tentar de novo e não dar certo, principalmente quando se deu bem com o marido”.

Hoje, com 86 anos de idade e mo-rando com o filho único no Leblon, Maria Cândida não para. Voltou a tocar piano e fazer tudo que sempre gostou. Se considera uma mulher moderna e nada a incomoda, apesar de achar o mundo atual uma loucura. Entende um pouco de computador, gosta muito de sair, conversar, adora praia. Acorda cedo todos os dias, anda na praia das 6h às 7:30h, almoça em casa e de tarde sai para

os teatros e os shoppings. Tem um grupo de amigas que saem com ela. “Ficar parada não dá”. Essa frase ela repetiu sem parar durante a entrevista. Caiu três vezes na rua, levou alguns pontos, mas já está inteira de novo e badalando. Adora carnaval, sai em todos os blocos do Leblon, adora dançar. No momento está aprendendo tango na Estácio de Sá, e quando perguntei o que gostaria de fazer que ainda não tivesse feito disse: “Viajar! Quero viajar muito, mas enquanto isso não acontece me convida para qualquer coisa, me chama que eu vou”.

Quando vocês virem uma velhinha super esperta e rápida andando pelas ruas do Leblon, não se preocupem, ela anda sozinha, não precisa de ajuda, e se bobear está muito melhor que nós!

A pianista Maria Cândida se dispôs a me dar uma entrevista depois de muita resistência. Não achava que sua história tivesse importância, disse que era muito simples. Como se as histórias simples também não fossem interessantes!

Soube de Maria Cândida através da minha amiga Catarina da “Garapa Doida” no princípio do ano passado. Na época ela estava tocando piano no Rio Design Center. Não consegui falar, o evento acabou, perdi o contato. Agora estou aqui, esperando por ela no Garcia e Rodrigues, onde marcamos um encontro. Só que eu não a conheço, e esqueci de perguntar como estava vestida, o que quase ocasionou uma situação engra-cada. Quando cheguei disse ao recepcionita que estava esperando uma pessoa e ele me disse que a mesa já estava reservada para mim e minha convidada Desirée. Ainda bem que ele disse o nome, poderia acontecer de começar a entrevistar alguém por engano, e só perceber depois de algum tempo.

Mas enfim, ela chegou minutos depois e começamos a nossa conversa. Maria Cândida Rodrigues Campos nasceu no dia 5 de agosto de 1924, é carioca do Meier e foi professora de piano e canto orfeônico, mas largou tudo por causa do casamento. “No princípio meu marido não me proibia de trabalhar, dizia: ‘Vai Candida’. Queria me fazer feliz, ele era apaixonado por mim. Eu me dediquei a vida inteira a ele, me privei de

Foto: Paulo Wagner

Page 5: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

5

Como eliminar as manchas da peleUma pele macia, uniforme e sem

manchas. Este é o desejo da maioria das mulheres que convivem com as inconve-nientes marcas. As causas podem ser as mais variadas, desde exposição excessiva ao sol, acnes e até distúrbios hormonais. De acordo com a dermatologista e direto-ra médica da Clínica La Liq, Cristina Gra-neiro, é fundamental cuidado cotidiano com a pele. “O filtro solar deve ser usado todos os dias, mesmo em tempo nubla-do, com Fator de Proteção Solar (FPS) de, no mínimo, 30. Já aquelas que estão fazendo algum tratamento para clarear e eliminar as manchas, o recomendado é um FPS 60”, explicou.

Mas quem pensa que apenas a maquia-gem pode esconder as manchas está en-ganado, pois são diversos os tratamentos dermatológicos para esse tipo de lesão. Depois de uma avaliação médica, podem ser indicados peelings, luz pulsada ou tratamento domiciliar. A dermatologista

Skin, Body and Health: venha conhecer o universo La Liq

Av. Ataulfo de Paiva, 226, sala 302, Leblon, Rio de Janeiro

Acesse o nosso site www.laliq.com.br ou ligue para (21) 2512-2460

da Clínica La Liq, Melissa Falcão alerta que é preciso tomar cuidado com receitas caseiras ou automedicação. “A consulta dermatológica é fundamental para avaliar e diagnosticar cor-retamente o tipo de mancha e o tratamento adequado”, ela observou.

Os tratamentos irão variar de acordo com o perfil de cada paciente. Já o domi-ciliar é feito com clareadores à base de hidroquinona, ácido fitico, ácido kojico, arbutin. Já as sessões de luz pulsada de-penderão do tipo de patologia e do grau de acometimento da mancha, podem ser feitas de 3 a 5 sessões e são indolores. “Os peelings podem ser realizados a cada 21 dias e, inicialmente, durante dois ou três dias, a pele pode descamar, pois irá remo-ver a camada superficial da pele”, informou a doutora Melissa.

“Independentemente do grau e do tipo de mancha, é preciso atentar ao uso do filtro solar. Agora que o verão acabou, essa é a época indicada para a realização

dos procedimentos, devido à baixa exposição ao sol”, sugeriu a doutora Cristina Graneiro. Portanto, se você não aguenta mais olhar no espelho e esconder as incômodas manchas, procure um dermatologista para que o especialista possa diagnosticar e recomendar o melhor tratamento para a sua pele.

Page 6: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

6

Abri

l 201

1

Gisela [email protected]

Chocolate Grito calado

Domingo pé de cachimbo

Chocolates me faltam no sumiço do

diálogo com o marido de minha mãe. Quis

tantas vezes oferecer-lhe chocolate ao leite,

mas na hora agá, só tinha sabor amargo:

“Vou ficar assim, exagerada como você?”

Daí coração cansava da dieta e exigia açúcar.

“Exagerada sim, mas adorável, como um

bom chocolate...”

Que falta me faz aquele homem que

me mandava pegar papel, lápis e borracha

para anotar suas observações a respeito das

matérias que eu não entendia.

“Não decora, menina; aprende. Tem

que saber interpretar. Tudo é uma questão

de saber ler.”

Saudade de não entender matéria...

Ai ai domingo pé de cachimbo do vô. Meio-dia em ponto inaugurava

na ponta da mesa o tão desejado macarrão preto da família a sua volta.

Macarrão apretalhado no molho da carne assada pela vó.

Bons tempos em que corpo da gente entendia de calor e não de caloria.

Há uns sete anos Vânia veio trabalhar lá em casa. Meus filhos tinham 7 e 14 anos de idade. Eu vinha de uma temporada sem ninguém em casa me ajudando, então, quando ela chegou, prati-camente entreguei minha casa para ela, exausta da rotina de quem tem lar, filhos e trabalha fora.

Até hoje é meu braço direito, às vezes esquerdo também. Cheia de personalidade, gerencia suas próprias atividades, tem voz de ordem na turma lá de casa, senta na sala comi-go todo dia de manhã para um dedo de prosa, além de deixar a casa limpíssima, cheirosa e arrumada, o que confesso não ser tarefa sim-ples. Diz ela que não gosta de cozinhar, talvez pela rotina diária de preparar almoço e jantar, mas, sempre me encho de felicidade quando, ao chegar no hall dos elevadores do meu andar, sinto um cheiro delicioso de comida, e confirmo que ele vem da minha casa! Que acolhida pode ser melhor, depois de um dia de trabalho no centro da cidade e da solução

Dona Vânia

Suzan Lee [email protected]

de um sem número de obrigações diárias?Então, chegamos à comida de dona Vâ-

nia – o melhor feijão mulatinho do mundo, o arroz integral com alho espremido no final (o refogado tradicional perde o gosto devido ao longo período de cozimento), os legumes “al dente” e levados ao forno com azeite e um pouquinho de parmesão, a farofa de cebola sempre crocante, porque a cebola é dourada em fogo bem baixo na manteiga misturada com óleo, a berinjela recheada com carne moída molhadinha e bem temperada, o yakissoba de legumes também crocantes com rodelas de cebola e alho bem dourados, sem falar no sensacional nhoque de batata caseiro.

Ainda melhor é seu jogo de cintura para preparar pratos a partir das minhas adaptações de alguma receita já utilizada anteriormente, que são relatadas nas nossas conversas de manhã cedo na sala: “Vânia, faz um suflê para hoje à noite, usa aquela receita do caderninho velho, mas troca o

bacalhau pelo siri, a cebolinha por coentro e não precisa botar tomate. Não esquece de bater a clara em neve e misturar devagarinho, só no fi-nal”. Simples assim. Quando chego, encontro um suflê dourado, junto com suas recomendações: “Come com a salada que eu fiz, dona Suzy” ou “Não vai comer mais um pouquinho?”.

Mas autonomia e personalidade têm seu preço: teve que deixar o emprego duas vezes. Agora, pela terceira vez de volta, parecemos um casal de idade, que releva os defeitos um do outro, e valoriza o que há de bom: malcria-ção, mau-humor, bagunça, dentro dos limites da razão, é claro, são tolerados com humor, enquanto que conversa franca, amizade, ge-nerosidade, afeto e honestidade, de ambas as partes, são sempre festejadas.

Ah, esqueci de contar que ainda ganho frutas picadas para levar lanche saudável para o trabalho, sem pedir. Por favor, não apareçam lá em casa fazendo propostas...

Page 7: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

7

Novidades Serviços e Entregas

Page 8: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

8

Abri

l 201

1

Arlanza [email protected]

Dei, sim...A praia não é mais a minha maior fonte

inspiradora. Enganei-me, a minha maior fonte inspiradora agora é a fila do banco. Só vou ao banco uma vez por mês para fazer um depósito para o caseiro de Petrópolis, o que não dá pra botar em débito automático, e por conta disso nunca tive muita familia-ridade com filas. Mas a princípio, sempre achei interessante; muitas pessoas significam muitas histórias, e história é tudo que me interessa. Descobri também que os idosos têm fila preferencial, mas podem usar a outra, enquanto que os outros não podem usar a dos idosos. Observando mais atentamente vi que o tempo na fila dos idosos demora muito mais. Geralmente a quantidade de pessoas na fila é de 3 para 1. É que o idoso às vezes esquece a senha, conversa muito com o caixa, demora mais para entender os procedimentos… Assim, eu, idosa, mas esperta, depois de muitos estudos desenvolvi um método que não prejudica ninguém e também pode dar frutos (digamos… de namoro). Prestem atenção: hoje fui no Bradesco, peguei a senha n° 96 do idoso. O

guichê marcava n° 84. Pensei: faltam 12. Aí contei quantas pessoas tinha na fila única e vi que eram 36. Cabeça funcionando, 36 de um lado contra 12 do outro, exatamente três vezes mais. Do lado dos idosos só um caixa atendendo, do outro lado quatro caixas. O que fiz? Fui para a fila comum, mas mantive a minha senha. Moral da história: quando fui atendida na fila única ainda faltavam três nú-meros para a minha senha da fila dos idosos. Terminei o meu pagamento e em vez de rasgar a senha que eu não precisei, aí sim, é que foi a grande sacada… Olhei para os idosos sentados esperando e resolvi dar o meu número para o mais simpático, que era justamente o último que tinha entrado e que estava com a senha n° 105. Ele - lindo - ficou super agradecido e até puxou conversa. Foi quando uma velhinha, nervosa, gritou comi-go, dizendo: ”Você deu pra ele?” E eu disse: “Dei, sim”, e fui embora correndo com medo que ela me batesse com o guarda-chuva. Mas deixa estar, que mês que vem eu volto. Quem sabe o velhinho está lá para eu dar para ele de novo…

Page 9: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

9

Sandra Jabur Wegner

Hidro PilatesA piscina é um ambiente instável que o tempo todo

exige equilíbrio da pessoa nela imersa. Caminhar dentro d’água demanda um esforço muito grande para vencer a resistência que o líquido impõe. Em comparação, vencer a resistência do ar no solo requer um esforço mínimo.

Quando caminhamos na água em um ritmo rápido e nos detemos subitamente, necessitamos de concentra-ção e um esforço muscular. Realizamos uma contração abdominal, glútea e da musculatura paravertebral (que situa-se ao lado da coluna vertebral) para nos equi-librarmos e ficarmos parados. Podemos criar ondas andando na piscina em diferentes direções e velocidades e parando de repente.

Existem várias propriedades da água que são úteis aos exercícios aquáticos. Destacamos o empuxo, ou seja, a força que atua sobre qualquer corpo imerso de baixo para cima, anulando a gravidade e produzindo o efeito de flutuação, desequilibrando-nos. Por sua vez, a pressão hidrostática, que é a pressão exercida pelo peso de uma coluna fluida em equilíbrio, é crescente com o aumento da profundidade e atua como que nos abraçando e

sustentando, contribuindo para aumentar o equilíbrio.No Pilates de solo, trabalha-se o centro de força

– “power house” e a ginástica funcional – também co-nhecido pela denominação em Inglês “core” (músculos do abdomen, do assoalho pélvico e estabilizadores da coluna). O Hidro Pilates, também chamado de Water Pilates ou Acqua Pilates, também o faz, ajudado pelo empuxo e pela pressão hidrostática. Este tipo de Pilates compreende exercícios de concentração e centralização.

Os principais responsáveis pelo equilíbrio são a musculatura abdominal, especificamente os músculos transversos, a musculatura paravertebral, particularmente os multíferos, e o cinturão de força. A respiração dia-fragmática está presente o tempo todo, assim como a concentração corporal.

O Pilates de solo desenvolve músculos volumosos, visando a hipertrofia. Já o Hidro Pilates cria uma forma corporal, definida, forte e equilibrada.

O Pilates no solo trabalha com superfície firme, com molas, aparelhos e também materiais instáveis, como bolas e pranchas de equilíbrio, mas intrinsecamente em

um meio estável – o solo, sob ação da força da gravi-dade. Na água, utilizam-se implementos resistentes e as propriedades físicas da água que geram instabilidade, como o empuxo e a turbulência, bem como a resistência ao deslocamento.

No Hidro Pilates realizam-se inicialmente exercícios simples utilizando a força da própria água, visando a cen-tralização – suporte e controle do tronco em conjunto com movimentos dinâmicos das extremidades (braços e pernas). Enfoca-se a concentração no movimento coordenado com a respiração.

Os objetivos do Pilates tanto no solo como na água são: melhorar a postura e a saúde, buscar o bem-estar, melhorar a qualidade de vida, unir corpo e mente, en-tender seu corpo e como ele funciona, liberar tensão, relaxar, combater o estresse da vida moderna, ajudar a melhorar o equilíbrio e a coordenação pelo realinhamen-to da coluna e pelo fortalecimento do core.

Dúvidas sobre o assunto podem ser esclarecidas através do e-mail [email protected]

[email protected]

Page 10: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

10

Abri

l 201

1

educação

Como adaptar crianças pequenas à escola? Podemos começar por perguntar por que estamos levando nossos filhos tão pequenos para a escola. Afinal, os pais também são educadores e o mundo é lugar rico em aprendizagem.

Mas o espaço escolar oferece alguma coisa relativa à educação que é diferente da educação proposta pela família. Leva-mos nossos filhos para a escola não para o cumprimento de uma obrigação buro-crática de obtenção de um diploma, para um dia, talvez, cursarem a Universidade. As crianças e jovens vão à escola porque vale a pena, porque é lugar onde certa-mente vão desenvolver sua capacidade de pensar, de refletir, de conviver.

É com essa certeza que entregamos nossos filhos pequenos aos professores que vão cuidar deles. A ansiedade que pode ocorrer no período de adaptação pode ser substituída pelo desejo de que, rapidamente, nossos filhos possam usufruir de tudo o que o novo espaço tem a oferecer.

Além da separação importante da casa e da família, que exige transferência de confiança para outras pessoas, a criança encontra na escola uma rotina diferente daquela a que está acostumada. Encontra outras crianças, as atenções

Adaptação de crianças pequenas à escola

Quinta sem lei na Gávea, até quando?

Congresso de Fisioterapia

Patrícia Lins e Silva

notas

A fisioterapeuta especializada em hidroterapia, Sandra Jabur

Wegner, participará em junho do Congresso quadrienal da Confe-

deração Mundial de Fisioterapia (WCPT), em Amsterdam, Holanda.

Nesta ocasião, participará também de uma reunião da Rede Mundial

de Hidroterapia (Aquatic Therapy Network), integrante da WCPT,

onde terá oportunidade de encontrar fisioterapeutas especializados

de diversos países, permitindo um profícuo intercâmbio de ideias e

conhecimentos. Antecedendo o Congresso, tomará parte no tra-

dicional e mundialmente conhecido curso anual de aprimoramento

em hidroterapia ministrado na Clínica Valens, em Bad Ragaz, Suíça.

Todos os novos conhecimentos, técnicas e procedimentos serão

aplicados em sua clínica de hidroterapia Hidrovida.

Mais uma quinta-feira sem lei na frente do Bar do Pires na rua

Marquês de São Vicente, na Gávea. Autoridades ausentes. PM au-

sente. Prefeitura ausente.

Os moradores têm que ir para a rua para passar em frente ao

estabelecimento. Os estudantes da PUC correm sérios riscos de atro-

pelamento. A prefeitura já foi avisada inúmeras vezes e o prefeito já deu

ordem para resolverem o problema. Mas até agora, nada...

são divididas, os brinquedos divididos, as propostas são limitadoras, não no sentido de estagnar o desenvolvimento, pelo contrário, estimulam a busca de uma organização necessária para o apren-dizado da vida em grupo e da própria organização de pensamento.

Procurando no “Aurélio” definições para a palavra adaptação, encontramos 10 significações. Algumas não interes-sam ao nosso contexto, mas várias outras nos fazem refletir: “acomodar-se, harmonizar-se, adequar-se, ajustar-se, conformar-se, amoldar, apropriar etc”.

Algumas delas podem ser interpretadas como tendo carga positiva - harmonizar-se, apropriar-se - e outras como tendo signi-ficação de carga negativa - conformar-se, amoldar... Mas todas as significações estão presentes na adaptação das crianças pe-quenas à escola, no sentido de que vão se ajustar, se amoldar, para apropriarem-se da cultura instituída e, portanto, vão ganhar o pertencimento à sua sociedade.

A ida para a escola deve ser vista como altamente positiva para a vida da criança. É a entrada no mundo social, a oportunidade de grandes descobertas, de trocar pensamentos, de exercitar a capacidade de pensar, de se relacionar, de crescer.

Alunos da PUC ocupam inteiramente a calçada e

parte da pista de rolamento

Page 11: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

11

[email protected]

Lilibeth Cardozo

O ano começou bem para o Rio de Janeiro. Um calor daqueles de cansar até o sol. Turistas buscando os melhores ângulos para guardarem em fotos as deslumbrantes belezas da cidade. O mar engolindo o sol ao fim do dia na praia do Arpoador sugerindo barulhinho de fritura. Por trás do Cristo e do Pão de Açúcar, os tons avermelhados, as pinceladas de branco das poucas nuvens e o azul acinzentando formaram as aquarelas mais bonitas da cidade. À noite tivemos a maior lua cheia dos últimos muitos anos. Terra e lua andaram namorando numa proximidade rara. Moços e moças bonitas desfilando juventude pelas ruas da cidade; senhoras bem vestidas comemorando suas famílias, com ou sem seus companheiros, ou buscando um novo. Idosos procurando a fresca dos fins de tarde passeavam pelas calçadas, abraçados as suas senhorinhas, companheiras de tantos anos. Crianças chiando suas primeiras palavras no nosso sotaque carioquês ou outras, maiores, gritando as alegrias de brincarem em espaços livres. Promessas de um Rio cada vez melhor e os cariocas acreditando nas promessas. Nas ruas os uniformes alaranjados dos garis varrem, varrem e varrem. Não podem varrer

Em abril junto os pedacinhos

Cirurgiã-Dentista

OrtodontistaCRO-RJ 25.887

de tudo e muito menos varrer as mãos que sujam o Rio de lixo, de maldades, de desamor, de crimes, de destruição, de pichações, dos furtos, dos roubos, de toda a sujeira que faz doer o coração de quem ama essa cidade.

Viver no Rio é um nascer, uma escolha, uma sorte, um privilégio, um sonho realizado ou uma casualidade. No mês de abril, depois das festas costumeiras de 3 meses, entre famílias e amigos, o carnaval tendo sido espe-tacular, nas cinzas da quarta-feira começou o ano. Cariocas retomam suas rotinas e eu, que comecei 2011 dizendo que depois consertava o rumo, estou juntando os pedacinhos desde janeiro. Uma surpresa ali, outra acolá, fiz pro-messas para 2011. Não essas promessas de acender velas, não comer chocolate, deixar de fumar. Sou muito fraquinha para cumprir essas coisas. Prometi foi parar de entender certas coisas e ganhar liberdade. Clarisse Lispector dizia que não entender é libertador. Quero esquecer um grande amor e amar a mim sempre na primeira vez: quando alguém me irritar, quando eu ficar carente, quando o homem que chamei de “meu amor” me des-prezar, quando meus filhos me aborrecerem, quando o saldo no banco ficar zerado.

Prometi fazer de 2011 meu ano de louvor ao Rio e sair por aí vivendo minha cidade. Olhar pro céu e me distrair com os pássaros que voam formando um “v” e de minuto a minuto trocam o que vai à frente. Sair de casa fotografando as flores dos jardins baixinhos ou das grandes árvores, pisando nas areias das praias, me distraindo com as falas que ouço pelas ruas que, se escritas, dariam um ótimo texto. Quero ir às livrarias e encontrar meu romancista que não sabe dizer adeus. Quero ir ao cinema e ver três filmes num dia só como fiz ontem. Quero visitar amigos queridos e não ficar ouvindo conselhos de psicanalistas de botequim que acham que entendem de tudo. Quero morar na Urca e dormir com barulho dos sapos e acordar com os passa-rinhos. Quero estar com meus sete irmãos, meus filhos, minha norinha e meu genro ado-ráveis, meus mais de trinta sobrinhos, meus muitos amigos queridos. Quero continuar a publicar minha Folha Carioca com meu amigo Paulo e resistir, resistir, resistir. Eu disse que depois consertava o rumo. Fiz um, juntando mil pedacinhos. Não sei se dará certo, mas o meu rumo de 2011 é ser carioca apaixonada e gostar muito mais de mim!

Foto: Dom

ingues FIlho

Page 12: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

12

Abri

l 201

1

A origem do treinamentoO treinamento com plataforma vibratória foi desenvolvido na década de 80, na antiga União Soviética, com o propósito de combater a perda de densidade óssea e massa muscular em astronautas que se submetiam a viagens espaciais com permanência em atmosfera sem ação de força gravitacional. Em seguida, ainda na União Soviética, começou a ser utilizada para melhorar o desempenho de atletas e na recuperação após atividades físicas chamando assim a atenção de cientistas ocidentais que iniciaram pesquisas permi-tindo a ampliação de seu uso para áreas der reabilitação, fitness e estética.

A doença osteoporoseA osteoporose é uma das doenças mundiais mais comuns e debilitantes. A osteoporose tem como consequência ossos porosos, fraturas, dores, perda de movimento, incapacidade de realizar tarefas diárias e, em alguns casos, morte. Em todo o mundo, uma em cada três mulheres com mais de 50 anos irá sofrer fraturas osteoporóticas e o mesmo acontecerá a um em cada cinco homens. A osteoporose pode em muitos casos ser prevenida, caso seja inicialmente diagnosticada e devidamente tratada, evi-tando assim que as pessoas se exponham a limitações e fraturas desnecessárias.

é melhor prevenir do que tratarTreinamento em plataforma vibratória

saúde e bem-estar

Método de prevençãoNão é novidade que os estímu-los físicos são extremamente importantes para os ossos e que qualquer tipo de exercício pode ser considerado estimu-lador da formação de massa óssea. Entre os treinamentos físicos de tratamento de doen-ças ósseas temos a musculação e, seguindo o avanço das pesquisas científi-cas, incluímos as atividades proprioceptivas como o Pilates, o treinamento funcional e o treinamento em plataforma vibratória. O processo de estimulação fisiológica é o mesmo em todas as abordagens de treina-mento, a diferença no treino em plataforma vibratória é que o corpo responde a uma força de gravidade e de aceleração muito maior, com isso obtém resultados mais efetivos e em prazo muito mais curto.

O aparelhoÉ uma plataforma vibratória que de acordo com o modelo ou fabricante tem um motor com maior ou menor potência e capacidade de criar estímulos vibratórios. A pessoa para conseguir se equilibrar em sua superfície, contrai instintivamente todos os músculos do corpo e, essa contração inicia o processo fisiológico que causa micro-lesões nos ossos fazendo com que o organismo aumente a

Osteoporose...

produção de células de reconstrução óssea forçando o sistema ósteo-articular a forta-lecer-se contra possíveis novas agressões, entre elas a osteoporose. O segredo da nova tecnologia está na precisão das vibrações. Não importa o peso da pessoa, a máquina está programada para fazer com que os músculos se contraiam de 25 a 60 vezes por segundo para estimular a reconstrução da densidade óssea. Á medida que o aluno progride, o professor vai aumentando a intensidade, a sobrecarga do treino e da ace-leração das vibrações promovendo maiores desafios e aumentando progressivamente a resistência física do praticante.

Prevenir a osteoporose é mais fácil que tratar.Continua na próxima edição...

Ana Cristina de Carvalho www.pilatesvilla90.blogspot.com [email protected]

Page 13: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

13

Alexandre Brandão

Com que eu eu vou?

[email protected]

Até recentemente, éramos alegres e tris-tes, amados e odiados, risonhos e trombudos no espaço que estivesse ao alcance de nossos braços e de nossas mãos. Uma invenção como o avião criou a possibilidade de num sopro irmos de um lado ao outro, mas nossa atuação continuou presa ao espaço físico que ocupávamos. O telefone, antes do avião, criou a conecção a distância, mas tímida (e, por mui-to tempo, cara), limitada a dois atores, um em cada ponta. Na verdade, o telefone não passa de um instrumento para marcar encontro.

A internet — evoluindo do correio eletrô-nico aos bate-papos e além — muda isso. De certa forma, nossa presença virtual é um ensaio de um desejo humano antigo: a onipresença.

Nesse mundo, as redes sociais — como têm sido conhecidos o twitter, o orkut e o facebook, as mais populares — são um capítulo à parte. Recentemente, nestes terremotos de insatisfação que pegaram de cuequinha arriada e penico na mão os ditadores da Líbia (osso duro de roer), do Egito e de outros países, elas viraram peça de resistência política. Bastam-nos os dedos, esses subservientes criados de nossa mente, e de uma boa legião de amigos ou seguidores para mexer com o mundo. O resto, como sempre, é o poder de persuasão, a habilidade de convencer primeiro uns e depois outros e mais outros e outros, numa progressão infinita, que promove a reunião de uma multidão na Praça Tahrir.

Essas redes, se podem ser úteis para der-rubar ditadores ou badalar artistas, são também espaços festivos. Sim, festivos. Somos, muitas vezes, um monte de crianças estreando seus brinquedos novos. Há os que vivem adminis-trando fazendas virtuais e outros que passam o tempo todo respondendo a perguntas a respeito de seus amigos. Aliás, o termo amigo é forte para ser empregado nas redes, talvez o utilizado no twitter, seguidor, seja melhor.

Para se ter exemplo da festa, dia desses, um publicitário de BH (Aroeira) postou algo assim:

No Osso

se o facebook fosse no Irã, seria faceburka. Uma brincadeira de menino. Em menos de 30 minu-tos, gente de vários lugares, eu inclusive, dava contribuição com outras ideias: se fosse de um amante de Bergman, facetofacebook; se fosse de cerveja escura, facebock. Se fosse de um dentista, seria facebroca; de Wilson Sideral, fácilbook; de um cara falso, fakebook; e, para terminar os pou-cos exemplos: se fosse de religiosos, faithbook.

Para muita gente, as redes sociais ferem de morte a individualidade. Sempre há o risco de nossos dados correrem de um cadastro para outro, virarem-se contra nós e, como seduções comerciais, encherem nossa paciência e a memória de nossos computadores. No fundo, o que as em-presas querem é conhecer o consumidor na sua intimidade. E o risco é exatamente este: você ali achando que brinca ou planeja revoluções, e os grandes conglomerados vasculhando seu jeitinho de ser.

Não sei se o medo dos que reclamam so-bre da agressão à individualidade tem a ver com essa enormidade dos interesses econômicos. O problema, rasteiro, é o vizinho descobrir o se-gredo do requentado que inebria todos na hora da janta. Dentro de uma rede social, é possível usar algumas configurações de segurança mais ou menos confiáveis, nem todos sabem disso. Enfim, o medo não é de todo descabido, mas muitos são mesmos descuidados.

As redes sociais não substituem os locais de convívio, onde o velho olho no olho continua comandando a praça, inclusive a Tahrir. Ou, deixando a metáfora de lado, twitter, orkut e facebook são espaços para o eu-coletivo (o que brinca, o que promove revoluções, o que informa), o eu-eu mesmo precisa de amigos para tomar chope, para compartilhar alegrias e tristezas, precisa de amores para acalmar a fúria do corpo, para reproduzir-se ou mesmo para se deixar ficar em sua companhia sereno, pleno, esquecendo-se de tudo o mais.

Page 14: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

14

Abri

l 201

1

capa Indicadores demográficos recentes apon-tam para grandes transformações em nosso país e nossa cidade. Enquanto as taxas de fecundidade (número de filhos por mulher) caíram vertiginosamente nas últimas décadas, a longevidade tem apontado para o aumento crescente de população idosa. Tais indicado-res configuram mudanças na organização e hábitos das famílias, bem como mudanças de comportamento e estado de saúde dos cariocas. Menos filhos, mais longevidade, mais solidão! Neste cenário demográfico do Rio de Janeiro aparece um crescimento expressivo de pessoas que vivem sozinhas e veem um animal de estimação como companhia. Ter um bicho de estimação em casa pode ser uma grande alegria para toda a família ou um grande problema quando esta estima não é partilhada entre os moradores. Segundo a médica veterinária Mariana Cardozo, “ter um animal requer também dos seus donos um empenho com o bem-estar e saúde deles, fazendo com que os custos familiares aumentem, ficando esse comprometimento cada vez mais importante devido à maior proximidade entre o dono e o animal. A es-colha de ter um companheiro de estimação deve ser feita com cuidado e deve sempre ser uma decisão familiar, e nunca um presente de “grego”. O animal deve ser uma alegria e não um fardo, e para isso acontecer ele deve ser bem educado, alimentado e ter suas ativida-des, lembrando sempre que elas variam de acordo com cada espécie e raça”.

Ainda segundo Mariana e terapeutas, a relação do homem com um animal pode trazer inúmeros benefícios a pessoas de qual-quer idade. Crianças brincam e aprendem, convivendo com os bichos ao acompanharem o crescimento, a procriação e a educação dos seus bichinhos. Adultos sentem-se estimulados a passear com seus cachorros, fazem amizades com vizinhos e não raro sentem-se acompanhados e gratificados pelos carinhos que recebem por estarem tratando bem aquele ser vivo e dependente. Para os idosos ter um animal de estimação é um trabalho estimulante e um prazer diário, além de companhia importante quando se sentem sozinhos. Muitos idosos ganham saúde física ao fazerem suas caminhadas com os cães e saúde emocional trocando carinhos e companheirismo, tanto com os próprios animais quanto com os de outras pessoas ao partilharem experiências no convívio e trato de seus bichinhos.

Mas toda essa convivência tem acarretado certos distúrbios no comportamento dos animais. Com essa proximidade pode acon-tecer a descaracterização do comportamento

natural e instintivo dos animais, o que faz com que eles adotem o comportamento dos humanos que vivem a sua volta. Quando o relacionamento se excede ocorre uma huma-nização do animal, que passa até a estranhar indivíduos de sua própria espécie. Algumas pessoas também passam a ter comportamen-tos estranhos e se isolam do mundo, prefe-rindo a companhia do animal à de familiares e amigos. Toda essa mudança comportamental pode gerar um transtorno para as pessoas que não conseguem compreender e resolver os problemas de seus animais.

A Folha Carioca foi em busca de pessoas que vibram com seus animais e descobriu que não só gato e cachorro são alegrias de muitas familias. Encontramos uma arara, um furão, um canarinho e diversos bichos que encantam seus donos e participam da biografia familiar.

Os cães, patos e tartarugasÂngela e Patricio, cariocas da gema, saíram

da cidade e foram morar num sítio há poucos quilômetros do Rio. Depois de onze anos vivendo num pequeno sítio em Guapimirim, dizem com alegria: “Tivemos oportunidade de viver - uma vida ao ar livre, cercados de natureza: árvores frutíferas, plantas exóticas, flores belíssimas e animais, muitos animais”. Ângela era moradora da Urca desde 1954 (ano que nasceu) e seu marido desde 1962, quando entrou para o IME. Ângela fez um relato emocionado de sua convivência e amor dedicado a seus bichos. “Quando resolvemos mudar foi um espanto geral, inclusive nosso. Mas hoje, 11 anos depois, não nos arrepen-demos nem um minuto e a razão deste não arrependimento está na vida que passamos a ter e na relação que criamos com nossos queridos bichos”. O casal batiza todos os cachorros com nomes compostos. Ela nos diz: “Inicialmente dois cães vieram conosco: o Tobi Luis (segundo ela, o mais belo exemplar de golden retriever que existe) e o Petrus José (um pastor alemão que não sabe ser cachorro, acha que é gente). Aqui encontramos um vira-lata que não pôde ir com o dono da casa que compramos, pois ele foi morar em um

É o bicho!

Cada vez mais pessoas descobrem os benefícios de ter a companhia de um animal de estimação

Lilibeth Cardozo

Arquivos pessoais

Mariana, Sofia e sua sobrinha Carolina

Foto

: Ri

card

o Sh

uck

Page 15: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

15

apartamento, o Xuxo. Logo estabeleceram uma convivência harmoniosa e divertida. O Xuxo, já mais velho, tomava conta e ao mesmo tempo ensinava aos pirralhos as artes passíveis de serem praticadas num espaço tão grande e novo. Sabendo de nossa mudança, uma amiga resolve nos visitar e, ao fazê-lo deixou conosco uma jabota que era criada numa bacia de plástico, na varanda de seu apartamento. Foi bem-vinda a Miquelina! Ah! Esqueci de falar dos patos: eram sete - esses não tinham nome -; como havia patos e patas... nasceram patinhos, esses sim todos devidamente batizados: Jairinha, Gabriela, Mariana, Inês, Manquinho (ele mancava por causa de uma patinha mal formada que eu consertei usando um clipe com tala). Estamos em nosso ambiente cercados de vida. Já pas-sou por aqui uma família de cabras (Catarro, Meleca, Pum, Trac e Bufa – chamávamos de Família Porcaria), um cavalo (Estrelinha), muito coelhos (Joaquim e Maria, Bochecha, Papinha, Bolim, Bolacha, Teimoso e muitos outros que não foram batizados, pois foram dados a amigos”.

Ângela fala com emoção: “Aprendemos que dar amor aos animais é uma maneira su-blime de amar. Você ama e pronto! O retorno é impressionante! Aqueles que dizem que os animais não pensam e não sentem, não sabem de nada! Como explicar a fila indiana formada pelos patos, quando toda tarde meu marido entra no pateiro para lhes dar repolho? O que dizer do caminhar dos cães diretamente para o canil, quando percebem que precisamos abrir o portão? Como explicar o cessar dos latidos quando digo a eles: ‘Muito obrigada, mamãe já viu que tem gente no portão’. Hoje, além do Tobi e do Pertrus, temos o Pingo Henrique, a Lassie Rita, a Cocada Eugenia e a Farofa Estela. Já nos deixaram o Xuxo, a Taba Léa, o Stopa e a Guga Maria – partidas sentidas, sofrimento enorme. Somos conhecidos na cidade como os cuidadores dos animais abandonados. Cuidamos de vários que achamos feridos, atropelados, abandonados e hoje estão alegres

e felizes em ca-sas de pessoas

que os amam. Somos padrinhos de todos e quase explodimos de felicidade quando

vamos visitá-los e eles se derretem aos

nossos pés! Isto é amor! Isto é ser feliz!”.

A arara faladeiraEliane Roballo, igualmente carioca da

gema, também foi buscar uma vida mais tranquila num dos municípios do estado. Mãe de três filhos mudou totalmente seu estilo de vida longe da “gema” carioca e construiu tudo novo na “clara” do estado, no municí-pio de Miguel Pereira. Eliane sempre gostou de animais e quando solteira e sem filhos, vivendo o glamour da moda e calçadas de Ipanema, tinha uma cachorrinha que a acom-panhava em todos os lugares. Teve três filhos e, logicamente, os bichos passaram a fazer parte da familia vivendo num sítio aprazível. Segundo Eliane, todos os bichos do sítio foram deixados por alguém que por algum motivo não pôde ficar com eles. O bicho encantador da família é uma arara, chamada de Arara, também abandonada no sítio. Eliane nos conta: “Ela é a coisa mais linda. Logo que chegou passou alguns dias quieta, mas como só recebeu carinho, logo se espalhou. O meu marido construiu uma gaiola gigantesca com troncos e até piscina, pois ela adora tomar banho. Quando isso acontece, ela ri dela mesma e fica aos gritos, gargalhando mesmo, ao estilo do Clodovil que ria recli-nando o corpo. Às vezes nos pregava susto, pois quando chegávamos à noite ela falava baixinho: ‘oi Arara’, parecia voz de gente. Até hoje, quando se liga o carro para sair ela grita ‘tchau Arara’. Ela adora banana e pede ‘Arara quer banana’. Embora tentássemos, não foi possível torná-la tricolor. Torce pelo Vasco e grita pelo time, provavelmente o time de seus antigos donos. A única pessoa que consegue entrar na gaiola sou eu, mas jamais consegui tocar nela. Deixamos assim,

pois pensamos em respeitá-la. Adora imitar as pessoas, se alguém gargalha, ela também o faz, e dança muito, canta ‘Atirei o pau no gato’ com direito a miau no final e tudo. Existe uma igreja de evangélicos do outro lado do sítio, perto da estrada principal e ela aprendeu a gritar ‘aleluia’. É só começarem o culto que ela participa. Também não conseguimos mudar isso. Enfim, essa interação não ensinamos, apenas estimulamos com muita atenção e carinho. É claro, acho que seria melhor para ela viver livre, mas veio para nós assim, não sobreviveria mais se a soltássemos. Em res-peito às leis de preservação e proteção dos animais fizemos registro no Ibama. Soube um dia, não sei se é verdade, que araras vivem 40 anos e morrem apaixonadas se perdem o dono. Outra coisa curiosa é que ela sempre chamou as crianças pelos nomes: Isabel, Vi-cente e Maria, com o detalhe de que Maria ela fala com sotaque americano, ‘Mauria’. É um animal muito querido e interage com toda a família”.

A amiga gatinha FridaBia Luz é uma linda moça moradora de

Ipanema. Com sua máquina fotográfica clica várias vezes sua gatinha Frida e divide as fotos numa das mais famosas redes sociais da internet. Bia nos conta que ganhou de um amigo a gatinha quando foi morar so-zinha. Ela nos fala: “Ganhei de amigo oculto pois amo gatos. Este meu amigo, Fred, me deu o bicho porque fui morar sozinha e ele seria uma companhia”. Ela prossegue: “Ganhei de surpresa e tive que dar o nome na hora. Queria algo que lembrasse meu amigo Fred, então foi um pulo para Frida. Que não deixa de ser chiquérrima, pois aproveitei para ter dois sentidos: Frida de Fred e Frida, de Frida Kahlo!” Bia mostra todo seu amor por sua gatinha e relata com alegria a companhia que sua gata lhe faz: “Eu amo ter animal de estimação. É uma super companhia! Ainda mais para quem mora sozinha. Chegar

e ser recebida na porta com aquele miadinho de saudade, te seguir, pegar no colo e ela deixar beijar, beijar e beijar... Quando vou dormir é só falar ‘Vamos dormir?’ Ela dá um miau e vem atrás, deita ao meu lado, em frente ao meu rosto e pede carinho na barriga. O meu namorado, Sergio, fala que ela é a gata mais carinhosa do mundo! Quando

Bia e Frida

Maria e Arara

Page 16: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

capa fiz obra aqui em casa, todos os dias quando chegava ela me mostrava o que tinha sido feito de novo. Precisaram quebrar um canto da parede, no teto da cozinha, e lá foi ela, subiu na geladeira, no micro-ondas e se esticou mostrando o buraco. Amo! Não tem preço! Agora, por exemplo, enquanto escrevo eu chamo: ‘Friiida’ ela vem, miando e olhando nos meus olhos. Sobe no meu colo e pede carinho. É muita companhia”.

A cadela KirraBia, antes de ter seu apartamento, morou

na casa da família de seu namorado Sergio. A família é dona da Kirra, uma linda cadela da raça labrador. Ela nos conta entu-siasmada: “A cadela que sempre quis ter! Uma fofa! Já foi mais minha, quando morei na casa do Sergio

durante dois a n o s . E r a minha com-panhia para correr. Éramos cúmplices. Ela me entendia perfeita-mente. Quando eu cal-çava o tênis para correr, já me olhava e o olhar dizia ‘vaaaamossss!’”.

Tenho saudades da companhia dela para correr, mas não tem nada mais gostoso que ir para casa do Serginho e quando ela me vê eu pergunto “quem é Serginho?” Ela fica alucinada! O Serginho fala: “Cadê a Bia?” Ela vem direto em mim. Amo bichos. Eles são inocentes, amigos, verdadeiros. Nós devía-mos observar nossos animais de estimação e tirar como lição. As atitudes são incríveis e totalmente comparáveis com as nossas”.

O canarinho JoãozinhoEdiméia é uma senhora, mãe de cinco

filhos, e sempre teve a casa cheia de gente. Depois que os filhos casaram e a única filha solteira trabalha o dia todo, fica muito só. Um dia ganhou de presente de um pedreiro que

fez um serviço em sua casa um canário belga, nascido em cativeiro. A ave recebeu o nome de Joãozinho, em homenagem ao pedreiro João que a presenteou. É uma emoção assistir à relação da Ediméia com o seu canari-nho. Ela nos diz: “Ele mora na gaiola, a casinha dele, mas eventualmente eu solto e ele anda pela casa, não foge”. Os cuidados com o passarinho são delicados e ela diz: “Ele canta lindo e me conhece. Quando falo com ele,

vem beslicar meus dedos, como se fosse um beijinho. Como canários passam pela fase da muda, trocando as penas, dou 3 gotinhas de remédio na época da muda para que ele não entre em depressão. Na época da muda Joãozinho não canta e sinto muita falta do lindo canto. Qualquer reunião em casa, quando tem mais barulho, o canto dele é a música da fa-mília”. Ediméia é tão apaixonada pelo bichinho que sempre que tem que sair e passar a noite na casa de um dos filhos, uma de suas amigas assume os cuidados com o canarinho.

A gata FumaçaHelena, hoje casa-da com Guilherme

que é alérgico a pelos de gatos, teve que abrir mão de levar para sua nova casa sua gatinha

Fumaça. Quan-do mocinha He-

lena encontrou num carro abandonado um

filhotinho recém-nascido e levou para casa. O gatinho era tão pequeno que sua mãe achou que não sobreviveria. No entanto, aceitou o filhote e ao banhá-lo descobriu uma cor cinza maravilhosa de seu pelo. Outra coisa que descobriu é que o animal era fêmea. A gatinha foi alimentada com leite no algodão e cresceu muito saudável. Helena hoje vai visitar a Fumaça na casa da mãe e é reconhecida logo que chega à escada. Fumaça começa a miar anunciando sua chegada. A gata teve três ninhadas e foi esterilizada. Não vai à rua, dorme quase o dia todo e é cheia de mimos como, por exemplo, só tomar água fresca e não usa a caixa de areia se não estiver rigorosamente limpa. Hoje Fumaça já é uma senhora de mais de 13 anos, muito saudável. Helena nos conta: “Ela é ciumenta, sensitiva e foge de qualquer visita que não goste de bichos. Esconde-se e só reaparece quando a visita vai embora. Se fica muito tempo sozinha, apronta alguma como fazer xixi no tapetinho do banheiro ou fora de sua caixa de areia, demonstrando sua insatisfação. Fumaça nunca ficou doente e nunca precisou de medicamentos”.

O galo RepolhoMaria tem 12 gatos e é apaixonada por

animais. Seus filhos também adoram animais. Ela nos conta que sua filha Bruna, quando menina, aos 6 anos de idade, tinha um galo chamado Repolho, que andava atrás dela o

dia inteiro. O galo mor-reu e Bruna quis fazer o enterro. Maria nos relata que Bruna, chorando dizia “Vai meu galinho, vai pro céu dos galos” e estava inconformada. Seu irmão perguntava a ela: “Bruna, existe céu pra galos?” Ela respondia: “Tem sim, Breno. Tem céu pra gatos, pra cachorro, pra galos, galinhas, todos os bichos”.

A cadelinha JujuMaurinha e Raimundo formam um casal

muito alegre e unido. Tiveram dois filhos que já estão adultos e arranjaram uma cachorrinha poodle toy quando os meninos ainda eram adolescentes. Segundo Maurinha, a opção que fizeram em ter a pequena Juju, compartilhando e acompanhando o crescimento da que chamam “nossa filhotinha Juju”, foi uma das coisas mais acertadas das suas vidas. Maurinha fala com emoção e lágrimas nos olhos: “Ela chegou de mansinho, foi ganhando e conquistando espaço e se tornou a nossa querida e amada companheira de todas as horas. Conviver, descobrir o lado lindo, flexível e adaptável dela, foi uma senhora experiência e aprendizado. Era um prazer e até bem engraçado vê-la disputando coisas incomuns conosco, como por exemplo, comer alface, rú-cula e agrião. Juju me acompanhava o dia todo. Ela partiu há 1 ano e meio e quantas saudades ela deixou! Às vezes ainda escutamos os seus passinhos no nosso quarto de madrugada. A nossa convivência durou 15 anos. Sinto muita falta e ando pelas ruas acariciando os cachorros que passeiam com seus donos. Ter uma cachorrinha como a Juju é ter certeza do quanto podemos trocar amor com os animais”.

Kirra em momento

de Repouso

Ediméia e Joãzinho

Bruna rezando pelo seu galo

Maurinha e Juju

Page 17: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

17

Quim e Zé, os furões companheiros

Carol Rangel é carioca, é médica e depois que foi morar sozinha, arranjou um animal dife-rente para lhe fazer companhia. Apaixonou-se pelo bichinho, Quim, um silver mitt, conhecido popularmente como furão. Carol encontrou um animalzinho que a encanta e lhe dedica todo carinho e afeto. Não satisfeita comprou mais um, o Zé, que é a nova alegria da médica. Ela posta regularmente as fotos dos bichinhos numa das redes sociais e sempre contando sobre sua paixão pelos bichinhos. Diz Carol: “Foi amor à primeira vista. Já vinha namorando os ferrets há algum tempo. Mas quando vi o Quim, me encantei e tive a certeza: é ele! Ele é um silver mitt e tem 3 me-ses. É extremamente brincalhão, fica difícil até tirar fotos. Estou aprendendo a cuidar dessa fofura e cada dia mais encantada. Em fevereiro deste ano chegou mais um integrante à casa. Trouxe o Zé, que nasceu em outubro de 2010. É um sa-ble siamês lindo, brincalhão e ba-gunceiro feito o Quim. Espero que ele seja feliz e que eles sejam companheiros!” Carol aconselha aos amigos: “Ele é muito mansinho e engraçado demais, me divirto com o pequeno. Comprem que não vão se arrepender. É mais fácil de cuidar do que um cachorro e não sente tanto a nossa falta quando temos que dar os plantões da vida”. Carol realmente adora seus

bichinhos e faz brincadeiras com a natureza dos dois dizendo: “Acho que vou profissiona-lizar o Quim e ganhar um cascalho extra no circo. Nunca vi contorcionismo igual! E o mais impressionante é que ele estava dormindo e

ficou horas na mesma posição”.

Liz, uma gatinha com donos até o fim

D. Kate tem 96 anos de idade, mora na Gávea, super lúcida, inteligente e culta. Ela

veio da Alemanha ainda pequena com seus pais, na época da 2ª Guerra Mundial, fugindo do nazismo e tem

uma trajetória de vida notável. É médica psiquiatra e trabalhou

com a Dra. Nise da Sil-veira no Museu do Inconsciente. Sempre

gostou de animais, especialmente ga-tos, ao ponto de fre-quentar exposições. Há um ano ela ado-

tou uma gata sem raça definida. Um casal de Niterói, amigo de uma amiga dela, cuida

e encaminha gatos para adoção. Pela internet, olhando as fotos de

vários animais D. Kate se interessou por um, mas ele já tinha sido adotado. Revendo outras fotos ela se apaixonou por uma gata de pelagem cinza com manchas caramelo e branca, que atende pelo nome de Liz. A gata tinha acabado de ter uma ninhada e foi abandonada pelos seus antigos donos. Seus filhotes foram logo adotados, mas D. Kate se interessou pela mãe. A

gata foi entregue esterilizada e vermifugada. Segundo ela, Liz já veio educada, pois nunca sujou ou estragou nada no novo apartamen-to. Em pouco tempo Liz virou sua grande companheira, acompanhando-a em todos os lugares do apartamento. O interessante é que, diferente da maio-ria, D. Kate, antes de adotar a gata, garantiu o futuro da jovem bichana, em caso de acontecer algo com ela. Já tem definida uma pessoa de sua confiança que assumirá a gatinha. O elo afetivo entre as duas é lindo.

O pug Ed e um bebê

Fernanda é uma car ioca que depois de casada foi morar em São Paulo. Ela e o marido, Alexandre, compraram um filhote de cão da raça pug, o Ed, e ele passou a ser companhia para o jovem casal, enquanto planejavam sua família. Fernanda relata: “Vários episódios provam que o Ed é um filho para gente. Quando o Ed teve um grave problema neurológico eu fiz uma promessa que se ele ficasse bom eu ficaria seis meses sem comer doce, que é uma das coisas que eu mais amo no mundo. Fui para a Argentina e o EUA e durante esses seis meses eu não comi um alfajor sequer. Fiquei grávida e o Ed acompanhou minha gravidez e o nascimento de nosso querido Benício, hoje com um aninho. Antes da gravidez o Ed andava de moto com a gente. Eu comprei um bolsa tipo ‘canguru’ para levar o cão e ele ia na moto entre mim e o Alexandre, com as patinhas e a cabeça apoiadas nas costas do meu marido. Quando o Benício nasceu o Ed ficou com muito ciúme, começou a fazer

Foi amor à primeira

vista.

Dona Kate e a gata Liz

Quim, Carol e Zé

Page 18: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

18

Abri

l 201

1

xixi dentro de casa para chamar atenção. Isso só parou quando o Bê começou a comer papinha, porque eu punha a comida do bebê que sobrava no pote do Ed e assim eles ficaram amigos. Hoje o Ed pega seu brinquedo predileto e leva até o Bê para eles brincarem juntos. Eu fico jogando o brinquedo e os dois correm atrás juntos. A presença do Ed em nossas vidas não incomodou em nada, ao contrário, eu não preciso de babá eletrônica porque quando o Benício acorda de manhã o Ed vai imediatamente me acordar. O Benício gosta tanto dele que a primeira palavra que ele falou não foi mamãe, foi Ed”.

Nossos amigosExistem inúmeros animais que nós elegemos para ter ao nosso

lado. Entre as centenas de espécies podemos citar pássaros, araras, periquitos, peixes de aquário, hamsters, furões, galos, galinhas, co-elhos, tartarugas e até mesmo iguanas e cobras. Mas não há dúvida que os cães e gatos são os mais populares. Deles, nós não esperamos nenhum serviço ou lucro; nós os temos em casa só pelo prazer da companhia. Os animais pequenos e dóceis são os preferidos, pois, entre outras coisas, eles são os mais indicados para conviver com crianças e idosos. O convívio com cães e gatos desempenha um papel positivo na formação da personalidade infantil e possibilita aos idosos uma ocupação saudável. Com relação a esse último aspecto, vale destacar que diversos especialistas recomendam que pessoas idosas tenham um animal de estimação em casa.

De modo geral, uma pessoa que cuida de um animal de estimação apresenta maior grau de satisfação pessoal, pois tal atividade preenche o tempo e estimula o estabelecimento de vínculos de afetividade. Essa é uma das razões que justifica o aumento do número de animais domésticos por residência em vários centros urbanos do Brasil. O que, de certa forma, acabou contrariando a previsão daqueles que acreditavam na substituição dos “tradicionais animais de estimação” pelos “novos amigos eletrônicos” do século vinte e um, tais como computador, vídeo-game, celular e iPods.

Não há duvida que, cada vez mais, a nossa relação de amizade com os animais de estimação tem se fortalecido e, certamente, podemos afirmar que esse vínculo durará por muito tempo.

Abandono de animaisA troca de e-mails mostrada a seguir é um excelente exemplo de

como conscientizar as pessoas sobre um problema crescente que é o abandono do animal de estimação porque os donos vão viajar, mudar, casar, parir etc.

* * *Bom dia, meu nome é Maria. No início do ano passado me mudei

para Manaus e deixei meus animais com minha mãe para ela cuidar. Recentemente, infelizmente, ela faleceu. Como ela morava sozinha com os meus dois gatos, os animais terão que ser adotados. Eles estiveram temporariamente com uma amiga que está se mudando e não poderá mais ficar com eles... Por isso estou buscando alguém, urgente, visto que ela sairá do apartamento no final de semana. Escrevo esse e-mail como forma de divulgar a adoção de meus gatos. São dois: uma fêmea e um macho, ambos vacinados, um ano e meio de idade, castrados, vermifugados e muito dóceis. Gostaria de saber se vocês poderiam divulgar pelo bairro para mim. Obrigada!

* * *Maria, por que você não leva os gatos para Manaus, de avião?

Hoje mesmo mandei três gatas para Salvador, Bahia, pela TAM Cargo. Se for problema de dinheiro a gente faz uma campanha na internet e consegue a grana toda ou em parte, sei lá. Já fizemos isso para várias pessoas humildes, porém responsáveis, que amavam seus bichos, que tiveram de se mudar e, com ajuda, levaram seus animais em viagem. Posso passar todas as dicas para a sua amiga, o que vai facilitar muito o processo. Afinal, os gatos são seus e a responsabilidade é sua. Adoção é para sempre, coisa séria e uma mudança não justifica o abandono. Minha irmã trouxe a gata dela do Japão, foram 24 horas de voo! Adoção não acontece em uma semana, não existe data para acontecer, tem “trocentos” gatos sendo doados agora mesmo nesta cidade. Já doei mais de mil animais, entre gatos, cachorros, chinchilas, aves e até um cavalo, mas tudo tem o seu tempo.

Porque não adianta dar para qualquer um, que pode maltratar, negligenciar, abandonar etc. Adoção só responsável, senão você coloca o bicho numa roubada. Porque está cheio de gente sem noção, irres-ponsável e até psicopatas aparecendo para adotar animais. Não pense que todo mundo que aparece para adotar é gente boa, não. Isso só acontece no mundo encantado da Disney. Na real, a banda toca de outro jeito. Adoção é um trabalho insano, estressante, difícil, e depende de tempo e da sorte de cada um.

Se você pensa que abandonar os animais num abrigo é uma opção, saiba que abrigos são campos de concentração, ambientes superlotados, insalubres, criadouros de vírus e bactérias letais, onde 90% dos bichos que são abandonados morrem em menos de 15 dias (se você não acre-dita, faça uma visita a um desses lugares, mas entre e passe umas horas no local, se tiver estômago forte, porque a experiência é barra-pesada). Aliás, essas instituições deprimentes deveriam ser proibidas, e, graças a Deus, já estão começando a ser. A Suipa, por exemplo, está interditada judicialmente devido às condições horríveis em que vivem os animais.

Pense nisso, se você tem amor a esses animais, que, segundo suas próprias palavras, são seus, e foram a companhia final de sua falecida mãe. Pense que eles têm sentimentos, sofrem, amam, sentem saudade, rejei-ção, abandono. Pense que eles deram aconchego e carinho a sua mãe. São vidas, cujo destino está em suas mãos. Por favor, faça a coisa certa.

Atenciosamente.Valéria

Benício e Ed

Page 19: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

19

EMERGÊNCIA Tel.:2529-4505

GERALTel.:2529-4422

Flavio Mac Cord

Mestre e doutorando em Ciências Médicas

pela Unicamp, pós-graduado em Retina

Clínica e Cirúrgica pela USP, professor

substituto da UERJ e médico do Hospital

Federal dos Servidores do Estado e da

Clínica São Vicente

40 anos. O clínico geral ou o médico oftalmologista irá sugerir uma periodicidade diferente para quem está em acompanhamento para alguma doença ocular ou sistêmica, levando em conta o histórico do paciente.

O exame de fundo de olho pode trazer informa-ções importantes para indivíduos de todas as idades. Recém-nascidos prematuros e cujas mães tiveram infecções durante a gestação devem ser submetidos rotineiramente a um exame detalhado de fundo de olho. Todos os demais bebês devem ser avaliados com o teste do reflexo vermelho, em que é avaliada a colo-ração avermelhada gerada pela retina através da pupila, quando submetida a uma iluminação direta. Esse teste pode ser realizado pelo próprio pediatra, no berçário ou na sala de parto, que encaminhará ao oftalmologista em caso de qualquer alteração ou de um resultado duvidoso. A oftalmoscopia, nestes casos, pode indi-car a presença de tumores como o retinoblastoma, infecções como toxoplasmose, rubéola, citomegalo-vírus e sífilis, além de doenças como a retinopatia da prematuridade, doença relacionada à formação dos vasos da retina que pode levar à cegueira.

Em adultos, o exame de fundo de olho realizado regularmente é fundamental para o diagnóstico precoce de diversas doenças oculares, entre elas o glaucoma. Aliado à medida da pressão intraocular, permite que o tratamento seja iniciado antes da presença de sintomas, já que o glaucoma, segunda causa de cegueira no Brasil, é uma doença silenciosa que pode levar anos para causar dificuldade visual.

As alterações relacionadas ao envelhecimento, como o surgimento de drusas na retina e o desenvolvimento de degeneração macular relacionada à idade, também são sempre observadas pelo oftalmologista durante a fundoscopia.

A fundoscopia, por suas ligações com a clínica médica, a neurologia e outras especialidades é um elemento importante para o diagnóstico e acompanha-mento de diversas doenças sistêmicas. Em indivíduos com hipertensão arterial ou diabetes, uma fundoscopia

Fundo de olho e sua relação com a saúde

O fundo do olho é a mais rica e detalhada pintura ao vivo e em cores da situação das artérias, veias e nervos do corpo humano, pois na sua visualização somente meios transparentes se interpõem entre o médico e a retina do paciente, salvo em situações patológicas. A retina funciona como uma janela através da qual se enxerga a saúde do organismo de uma maneira geral.

A retina é um tecido nervoso sensível à luz, localizado na superfície interna da parte posterior do olho, cuja função é transformar o estímulo luminoso em um estímulo nervoso. Comparando com o pro-cesso fotográfico, a retina é como se fosse o filme da máquina, que capta imagens por meio das suas células fotorreceptoras para enviá-las ao cérebro.

A fundoscopia ou oftalmoscopia é o exame em que se visualizam as estruturas do fundo de olho, dando atenção ao nervo óptico, aos vasos retinianos, e à retina propriamente dita, especialmente sua região central denominada mácula. O exame de fundo de olho é realizado desde 1851, quando Von Helmholtz inventou o primeiro oftalmoscópio e se constitui, ainda hoje, no principal elo entre a oftalmologia e os demais ramos da medicina. O principio óptico consiste na projeção de luz, proveniente do oftalmoscópio, no interior do olho e mediante a reflexão dessa luz na retina é possível observar essas estruturas.

Existem dois tipos de fundoscopia: a direta, na qual se obtém uma imagem quinze vezes ampliada, mas com restrito campo de visão, e a indireta, que pro-porciona uma imagem com ampliação menor, porém com visualização mais ampla da retina, evidenciando-se até sua periferia. A oftalmoscopia direta é comumente realizada pelo clínico geral e utiliza-se um aparelho simples e portátil, enquanto a oftalmoscopia indireta é geralmente restrita ao médico oftalmologista e de-pende de equipamentos mais complexos.

Indivíduos que não têm problemas oculares ou doenças que predispõem a males na região dos olhos, como hipertensão arterial e diabetes, precisam fazer o exame anualmente, especialmente se já passaram dos

cuidadosa pode trazer informações valiosas sobre a situação vascular subjacente. É interessante destacar que a fundoscopia é um método prático e fácil para se avaliar os danos em órgãos-alvo, além de fornecer informações sobre a atividade e tempo de desenvolvimento dessas doenças. Esse exame é mais um meio a ser utilizado pelo clínico para um melhor acompanhamento e tra-tamento dessas doenças e prevenir suas complicações oculares e sistêmicas.

Na neurologia, a fundoscopia é comumente empre-gada, por exemplo, em pacientes em coma, na procura de sinais como o edema de papila, que pode indicar hipertensão intracraniana e a presença de hemorragia sub-hialóide, que pode sugerir hemorragia intracraniana.

Assim, nestas últimas décadas, em que presencia-mos grandes avanços na Medicina, a prevenção assume naturalmente papel fundamental na promoção da saúde. A riqueza de informações contidas no fundo de olho é uma ferramenta valiosa nesse cuidado com o paciente.

O olho é um órgão que permite

observação direta de parte do seu

sistema vascular, sobretudo da retina.

Inúmeras doenças podem levar a

alterações características do nervo

óptico, da retina e de seus vasos

Page 20: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Espaço Oswaldo [email protected]

Esqueceram de mim...Dia desses aconteceu o lança-

mento de um livro sobre a TV-Tupi, escrito por Luís Sergio Lima e Silva, Editora Aplauso. Foi na Travessa do Shopping Leblon. Wilson Rocha me disse: “Vamos lá, Miranda. Vai ser bom a gente encontrar velhos amigos da-queles tempos, pois todo mundo deve aparecer...” Fui. Ele já estava lá. Era também o lançamento de outro livro sobre a vida do grande ator Rubens Corrêa (tiraram o nome dele do teatro da Prudente de Moraes, assim como tiraram também o nome do Aurimar Rocha do teatro da Ataulfo). Deixa pra lá. Deixo. Pra quê, não é mesmo? Bem, como o Ancelmo deu uma nota, tinha muita gente. Postei-me num cantinho com o Wilson. Teve quem viesse falar comigo. Velha guarda: João Loredo, Ricardo Katar, Adonis Karan, Eloá, Jalusa Barcelos, Iris Bruzzi, Maria da Glória e sua filha, bonitona, Eugenio Fernandes, Vivian Perl, Carmen Verô-nica, Lidia Matos, Dilma Lóes, Maurício Sherman, Maria Pompeu, Luiz Vieira, Flavinho, sim, o Cavalcanti Jr., com um netinho, Carlos Alberto Santos, o Piteirinha, meu diretor no “Sem limite”, Rede Tupi, o Fábio, de São Paulo, que pesquisa minha vida, o Almeida Castro, Dóris Monteiro, entre outros. E mais os atores Glória Pires, José Wilker, figuras que não identifiquei e outras que certamente não me conheciam. Wilson me levou a uma senhora sentadinha, propondo que eu também descan-çasse um pouco - em pé já por duas horas! “Oswaldo Miranda, mas você não muda!” Abraços, beijinhos... Era nada mais nada menos que Maninha Castro, uma das mais famosas garota-propaganda daquele tempo. Maninha! Com ela fiz um programa infantil na TV-Rio, patrocínio do Pão PuIlman, onde experimentei a Escolinha de jornalista, que repetiria na Excelsior com Tia Arlene. Uma lembrança, na hora. Quando a criançada começava

a bagunçar o programa, ela impunha a ordem, bradando com autoridade de uma professora, o palavrão res-peitado (um simulacro) por toda a turma: PITA QUl TAPATA! E voltava o silêncio no estúdio. Precisa passar para o Português? Maninha, cabelinho branco, saudade...

* * *Aperto. Os reencontros, abraços,

lembranças, busca de autógrafos, empurra-empurra... fiquei no meu can-tinho. E pronto. Mas estava doido para ver o livro. Capa com o Curumim, o indiozinho da taba. Maratona nas livra-rias. “Esgotado”. “Só por encomenda”. “Ainda não recebemos”. Desde 24 de janeiro e nada. Agora, na livraria da Travessa da rua Visconde de Pirajá, o gentil funcionário permitiu uma folhea-da, retirando o plástico, a embalagem. Pacientemente... página por página. Muita informação, garimpagem, foto-grafias, detalhes, coisas que eu nem sabia, pesquisa, texto bom, bom de ler. Deu trabalho, muito, na procura de gente para depoimentos, indica-ções, sugestões, tempo e cuidado no arrumar todo o material colhido. Obra certamente feita com sacrifício, dedi-cação, carinho, louvável contribuição que será, sem dúvida, elemento valioso de leitura e consulta sobre a história da TV, que completa agora 60 anos, e que tem justamente na querida Tupi, canal 6, a partir de sua instalação por Chateaubriand, em janeiro de 1950, importantíssimo marco na história da cultura da cidade.

Ah, sim, ia dizendo que na Tra-vessa folheei, ávido, sôfrego, o bonito livro. Emocionei-me com algumas recordações e com fotos que ilustram passagens que até devo ter vivido, já que mesmo no comecinho, lá na Av. Venezuela, 43, onde tudo nasceu, eu estava presente, produzindo um comercial sobre o lançamento da máquina de lavar roupa, produto que

O Cruzeiro, a mais importante

publicação da imprensa

brasiledra em seu tempo, 600

mil exemplares por semana:

abriu capa com J.Silvestre

e Leni Orsida, a Noivinha

da Pavuna, por causa do

Ibope: 80%, Globo, 14%, Rio,

Continental e Excelsior, traço!

O maior sucesso de audiência

da Tupi, repetida ainda em

toda a Rede Associada, João

Calmon, Arrabal, Lucena,

vibrando... e Edmundo

Monteiro p__ da vida por não

ter colocado o programão do

Silvestre na grade do Sumaré,

São Paulo, o que é outra

história...

apresentara ao público em matéria no semanário Shopping News. Não me encontrei na bela publicação. Nem no índice onomástico, gente cujo nome é registrado no texto ou que ofereceu informações ao autor. Eu não estou. Nem o Wilson Rocha. Esqueceram de mim... Não im-porta que, entre tantas coisas ex-pressivas eu tenha dado à TV-Tupi o maior recorde no Ibope, 80%, imbatível até hoje, com o casamen-to da mitológica Noivinha da Pa-vuna, Leni Orsida, no “Show sem li-mite” do credibi-líssimo J. Silvestre; ou participado da pr imeira tenta-t iva de mandar imagem (Pagliari) para São Paulo; ou produzir a pri-meira transmissão network via Embratel (apenas cinco estados) e por aí vai... Paralelamente neste momento, batendo 91 na cabe-ça, venho tendo sessões contínuas de depoimentos para José Carlos Alexim, no cuidadoso preparo de outra obra ainda mais abrangente, quando a TV no Brasil completa 60 anos, ao mes-mo tempo que dou subsídios para a memória do rádio e dos cassinos, quando a ABI - Associação Brasileira de Imprensa consagra-me com as bodas de platina pelo que produzi na área da comunicação. Céus! E nem caberia lembrar do que fiz, além do J.Silvestre, com o Flávio Cavalcanti, Mauro Mon-talvão, Léo Santos (irmão do Silvio), Paulo Max, José Saleme, Paulo Gio-vanni ali mesmo na Urca, recorrendo agora ao et cetera para fechar...

Page 21: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

21

Homenagem DesastreCharge viva

míd

ia

Deu na

HOJE: Viriato Costa: “Em são Paulo, num grande condomínio, a síndica incluiu no Regulamento, como proibição, gemidos amoroso”. E

não é que numa noite ela foi bater na porta de um apartamento exigindo que o item fosse cumprido, já que um casal fazia amor com alguns

decibéis acima do permitido... // VEJA: Capa carnavalesca: “Ei, você ai, me dá um partido ai, me dá um partido ai...” E a fidelidade partidária

indo pra casa do catete... // ÉPOCA: Ruth de Aquino: “O jeito com que Sandy segura o copo cheio, com o dedo mindinho tenso, denunciou

a incompatibilidade da moça com o líquido dourado.” Sim, não funcionou. Que tal uma devassa na agência que produziu o discutível comercial

com a ex-parceira do Junior? // ÉPOCA: “O cirurgião plástico Dr. Liacyr Ribeiro, o brasileiro que há 16 anos operou Kadafi - Segredo guardado

há 16 anos. Ele não quis anestesia geral, com medo de morrer ou ser morto”. Sim, teve o rosto esticadinho como pedimos e neste momento

pode até estar esticadinho... por inteiro // GERAL: Opah Winfrei ouvindo Lea Ti, filha de Toninho Cerezo que falou assim: “Meu pai me

disse que não se importava se eu era um homem, uma mulher ou um cachorro. Ele me amava.” Last but not least // EXTRA: “Espólio de

Michael Jackson já faturou 310 milhões de dólares”. Que não sejam espoliados pela família... // CARTA CAPITAL - Capa - Dilma: “Um

omelete sem quebrar os ovos. O desafio de cortar 50 Bilhões de reais em gastos sem abortar o crescimento.” Bem, o que ela fez na Ana

Maria Braga era de queijo // O GLOBO: “...a Câmara exige paletó e gravata. Nada mais justo que um auxílio-vestuário.” O gozador é ninguém

menos que o baiano de Itaparica João Ubaldo Ribeiro. // DESTAK: “A classe C incorporou 19 milhões de brasileiros vindos das classes D e

E mantendo o posto de maior do país, com mais de 101 milhões pessoas.” É um estudo sobre ascensão social, quer dizer, utopia, quimera.

José Alencar: o homem incomum, aquele que avultava no reduzido núcleo que representava o único e ínfimo saldo responsável por uma réstia de dignidade do governo Lula

Fukushima quer dizer “Ilha da sorte”...

O que a Angela Merkel foi fazer enfiada neste bueiro? Estaria se escondendo do Kadhafi? (internet, via Dulcinha)

Page 22: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

22

Abri

l 201

1

Fundador e regente da Cia. Bachiana Brasileira (Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro na categoria Música Erudita), o maestro Ricardo Rocha já realizou turnês com sua orquestra no Vietnã e em Cingapura. Gravou mais de 15 concertos para o rádio e a televisão, CDs e DVDs (com destaque para os Motetos de Bach). Em novembro de 2009 dirigiu a Nona Sinfonia de Beethoven na estreia da Orquestra Jovem do Brasil, formada por jovens escolhidos em todo o país, em comemoração aos 20 anos da queda do Muro de Berlim. Na Alemanha, criou e dirigiu por 11 anos (1989 a 2000) o ciclo “BrasilianischeMusik im Konzert” para a difusão da música sinfônica brasileira à frente de importantes orquestras, como a Sinfônica de Bamberg, entre outras. Na Argentina foi maestro residente frente à Orquestra Sinfônica Uncuyo, de Mendoza e, no Brasil, tem regido como convidado a Orquestra Sinfônica Brasileira, Teatro Municipal de São Paulo, Sinfônica de Minas Gerais, Petrobras Sinfônica e Sinfônica Nacional. É autor do livro “Regência, uma arte complexa” e possui o título de Kapellmeister, o mais alto em Regência na Alemanha.

FC – O título de Kapellmeister - Mestre Ca-pela - enfoca exclusivamente a Música Sacra?

Ricardo Rocha – Academicamente, o Kapellmeister é um título de ponta na pós-gradução para a formação de regentes não só de concertos sinfônicos, mas também de óperas. Um título, portanto, que inclui a grande música sacra, sem ser este o seu foco. Na tradição latina, o mestre de música na igreja sempre foi o Mestre Capela, cargo que o Pe. José Maurício Nunes Garcia exercia na Igreja do Carmo da Antiga Sé, quando da chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro. Seu correspondente na tradição germânica sempre foi o Kantor, cargo exercido por Johann Sebastian Bach ao longo de 27 anos na Igreja de São Tomás, em Leipzig. Entre nós a confusão começa pelo sentido de Capela, do latim tardio cappella, que significa pequena igreja, enquanto Kapelle, em alemão (apesar de também indicar um santuário) significa, na tradição musical, banda de música, orquestra.

As mudanças na Igreja nas últimas décadas excluíram a Música Sacra do serviço religioso?

Falar em exclusão não é apropriado; talvez seja mais conveniente falarmos em deturpação e desvio do critério que por séculos orientou a Igreja Romana na produção não só da música, mas na escolha de todos os

Maria Luiza de Andrade

O sagrado na origem da músicaMaestro Ricardo Rocha

perfil

serviços que encomendou, em diferentes áreas: o de servir a Deus com o melhor que se puder oferecer. Isto porque, em al-gum momento, as boas intenções expres-sas no Capítulo VI do Concílio Ecumênico Vaticano II, que trata da sagrada Liturgia, por alguma razão se perderam, produzindo resultados diferentes dos que, certamente, foram previstos.

Da mesma forma que a Igreja procurou sempre os melhores profissionais entre artesãos, pintores e arquitetos para suas obras, também o fez para a função eclesial da música sacra, profissionais da Música, como o seu Mestre-Capela, músico profissional capaz de or-ganizar os voluntários e amadores com talento musical dentro da Igreja. Entretanto, o cargo aparentemente desapareceu do serviço religioso, que foi entregue a grupos jovens e bandas de música amadoras. O que se buscava simples mostrou-se simplório; o pauperismo das produções musicais não tardou a aparecer, fosse nas composições escritas a partir de dois ou três acordes, com suas melodias de poucas e repetidas notas, ou na execução sofrível das peças pelos conjuntos.

Cedendo à tentação da moda musical, em parti-cular do gospel e das igrejas pentecostais americanas, a Igreja Romana perdeu em solenidade e atmosfera, esquecendo-se de suas próprias determinações, como na exarada de um de seus textos do citado capítulo VI do Sacrosanctum concilium: “A tradição musical de toda a Igreja constitui um patrimônio de inestimável valor, que sobressai entre as outras expressões de arte, especial-mente pelo fato de que o canto sacro, unido às palavras, é uma parte necessária e integral da liturgia solene”.

Aconteceu o mesmo com as outras igrejas cristãs?A Igreja Romana já perdeu sua liderança e contribui-

ção na área musical. Basta olhar para igrejas históricas como a Batista, por exemplo, que mantém, profissio-nalmente, o seu Ministro de Música (o equivalente ao Mestre Capela da tradição católica), com a manutenção e promoção de orquestras e coros infanto-juvenis, onde o ensino e o cultivo musical não só são levados a sério, como também são responsáveis pela formação de cantores, instrumentistas, compositores e regentes. Com seus Seminários, Ministros de Música, coros e orquestras, a Igreja Batista é hoje, para mim, uma referência no serviço musical religioso entre todas as denominações cristãs, malgrado a enorme influência do pathos triunfalista americano em suas composições,

estranho à piedade brasileira, e ao seu hábito discutível de fazer traduções para o Português diretamente no tecido musical.

Qual seria a saída para reverter a situação atual?No caso da Igreja Católica, penso que seu serviço

litúrgico-musical deva ser urgentemente repensado e, mais do que tudo, reestruturado com a consultoria e a presença de profissionais da área. Se não é financei-ramente viável a contratação de um Mestre-Capela para cada paróquia existente, dever-se-ia contratar pelo menos um para cada Arquidiocese importante, com a função de estabelecer parâmetros e referências para o fazer musical nas paróquias. Sei que o Setor de Música Litúrgica da CNBB vem buscando diretrizes sobre isso nos últimos anos, mas, pelos resultados obtidos, parece que os esforços não têm sido suficientes para a mudança deste quadro.

Enfim, vamos torcer para que a Igreja Romana recupere a grande produção musical da qual, por séculos, foi a grande promotora. Afinal, como disse e escreveu Santo Agostinho, inspirando um milênio depois o monge agostiniano Martinho Lutero, “quem canta, ora duas vezes”.

Em que medida a geração do fenômeno musical está ligada ao cultivo da sacralidade?

A partir da observação e da análise de fatos e padrões comportamentais em diferentes culturas, não importa se falamos de culturas asiáticas, dos diferentes povos indígenas da Amazônia ou da nossa música ocidental, podemos constatar que existe uma íntima relação entre a produção do fenômeno musical e o universo místico e religioso na visão do mundo e da realidade daquele que a cria, seja este um indivíduo, um povo ou um grupo social ou cultural. Na mesma proporção e relação, observamos que a perda desta dimensão, a perda do cultivo desta sacralidade que nos é inerente, provoca um processo de secularização, o qual, uma vez desencadeado, promove como que uma desertificação nas manifestações e impulsos musicais, expressos no desaparecimento progressivo de cantos e canções, assim como da geração de ritmos e dança.

Page 23: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

Abri

l 201

1

23

Maria Luiza de Andrade

Qual a conexão entre música e cultura?Música é cultura na medida em que é expressão

do espírito humano. Porém, ela se distingue de todas as demais artes pelo fato de ser a única a trabalhar e a existir exclusivamente dentro da categoria do tempo, enquanto as demais operam unicamente no espaço, como as artes plásticas, ou simultaneamente no espaço e no tempo, como o teatro, o cinema e a dança.

A mitologia grega conferia à música origem divi-na, poderes mágicos e até de cura. No entanto, se os gregos nos deixaram grandes obras de escultura, arquitetura e pintura, da sua música não nos sobrou quase nada além de suas escalas modais e um sistema musical primitivo, apesar de sabermos que a música era atividade de grande expressão entre eles. É jus-tamente no por quê da música grega ter-nos legado menos do que certamente produziu, que podemos identificar o ponto fundamental que vai diferenciar a civilização cristã e ocidental de todas as demais: foi nela que se desenvolveu, ao longo de quase mil anos, um sistema eficiente de notação musical, que a levou a desenvolver, a partir da monodia (canto gregoriano), a polifonia, a descoberta do acorde, o sistema tonal ou temperado, os tratados de harmonia e a criação de grandes conjuntos musicais, como as orquestras sinfônicas, criando o mais importante acervo musical da Humanidade. Não fosse a notação dos sons, inicialmente a sua altura e, bem mais tarde, a sua organização no tempo, ou seja, a notação do ritmo, não teria sido possível a promoção desta grande cultura musical produzida pelo Ocidente, que hoje é dominante em todo o mundo, particularmente na música popular, usuária do sistema tonal.

Como se desenvolveu a música no Ocidente?A análise da música ocidental nos mostra como o

seu desenvolvimento foi se dando de forma diferente do desenvolvimento do método científico. Neste, investiga-se o fenômeno até a descoberta dos pa-drões ou das leis naturais que o regem. Postula-se então uma teoria colocando-a imediatamente em prática, em experiência, para observar sua pertinência ou não. Já a música percorreu outro caminho: o da teorização, organização e construção sobre a prática musical experimentada e fruída pelo grupo na qual ela se manifestou. Portanto, ela se desenvolveu – e, no caso estrito da música ocidental, só se desenvolveu por ter havido teorização sobre o fenômeno musical espontâneo, simples e primitivo. Ou seja, a teoria veio depois da prática, buscou a sua organização após a experiência da prática.

Porém, a resposta a sua pergunta é mais simples: a música do Ocidente, nos últimos dezesseis séculos, foi criada e desenvolvida por culturas e indivíduos profundamente religiosos, não importando aqui a denominação de sua religião, via de regra, cristã. Ela se desenvolveu e só pôde encontrar crescimento por ser um fruto vivo do espírito, do Espírito que fundou a nossa civilização.

A caminho do concerto da OSB

memória

Aos quatro anos de idade me apaixonei pela Orquestra Sinfônica Brasileira assistindo, nas ma-nhãs de domingo, aos Concertos para a Juventude, iniciativa do inesquecível Eleazar de Carvalho. Meu pai, oficial de Marinha, contava a história do regente, que começara sua carreira musical tocando tuba na Banda dos Fuzileiros Navais. Parecia conto de fada!

Na saída do Theatro Municipal, eu observava os músicos se dirigindo para os pontos de ônibus com seus instrumentos a tiracolo. Papai chamava minha atenção para seus ternos surrados e os sapatos gastos: “Esses músicos, minha filha, são heróis; recebem salários aviltantes, mas não desertam da vocação. Infeliz o país que trata assim os seus músicos, a voz da sua alma!”

Quando íamos aos bastidores cumprimentar o Ma-estro Eleazar, ele me chamava pelo nome e indagava: “Então, Maria Luiza, já sabe solfejar?” Fico pensando se não foi esse incentivo que me levou a ingressar na Associação de Canto Coral, sob a direção de sua fun-dadora Cleofe Person de Matos. A ACC, em conjunto com a OSB, promoveu concertos memoráveis sob a regência dos maiores regentes nacionais e estrangeiros: Karl Richter, Strawinski, Victor Tevah, Jacques Pernoo e tantos outros. Cleofe e o regente francês Jacques Pernoo se juntaram para promover as primeiras audi-ções de obras notáveis do repertório coral-sinfônico, sempre em conjunto com a OSB, transformando os anos sessenta na década de ouro do Theatro Municipal. Com Pernoo, vieram intérpretes da Ópera de Paris e da Comédie Française (para os papéis falados) e cenógrafo para montar os oratórios “Joana d’Arc na Fogueira”, “O Rei David” (Honegger) e “O martírio de São Sebastião” (Debussy). O Maestro Pernoo e Henri Doublier (ator) voltaram ao Brasil seguidamente. Com eles mantive contato enquanto viveram.

Durante os quase vinte anos em que atuei na Associação de Canto Coral aprendi a respeitar ainda mais os músicos da OSB. Ensaiávamos exaus-tivamente, coro e orquestra, preparando-nos para a chegada dos regentes convidados. Dos ensaios gerais guardo os melhores momentos da minha vida.

Na década de 60, já formada e trabalhando em O

Músicos da OSB, heróis da minha infância

GLOBO, obtive bolsa de estudo do governo fran-cês para o Centro de Formação de Jornalistas, em Pa-ris. De volta ao Brasil, propus a Ro-berto Marinho que promovêssemos, a exemplo da Europa, concertos ao ar livre para levar a música erudita até o povo. A ideia foi encaminhada ao Departamento de Promoções, dirigido por Péricles de Barros, que batizou a série de concertos populares com o nome de Projeto Aquarius. O Maestro Isaac Karabtchevski encabeçou o Projeto, à frente da OSB, e o sucesso foi estrondoso, reunindo milhares de pessoas a cada apresentação.

Hoje, a situação financeira dos profissionais da orquestra mudou, os salários aviltantes ficaram no passado, o país amadureceu, a música clássica con-quista um público cada vez maior, mais jovem e mais interessado. Os clubes de música se multiplicam pelos bairros, reunindo grupos para assistirem palestras e concertos em DVDs.

A atual crise que atinge a nossa OSB pode acar-retar a morte da orquestra. Vem de longe a oposição dos músicos à liderança do atual titular. A “avaliação de desempenho” foi a gota d’água. Músicos do Brasil e das orquestras estrangeiras estão solidários com os colegas brasileiros. E sugerem: por que não submeter o maestro à avaliação de desempenho? E, em lugar de uma demissão em massa, será que uma única demissão não resolveria o problema?

Volto à infância e à “missa dominical” no Theatro Municipal: Bach, Beethoven, Brahms, experiência de trans-cendência, descoberta da dimensão espiritual da vida...

Obrigada, músicos da OSB. Continuem lutando. Thomas Keating, monge trapista e mestre de

Meditação, dá uma orientação segura: “Suponho que uma das grandes proteções da migração seja voar em bandos”.

Permaneçamos unidos.

Page 24: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

24

Abri

l 201

1

t

[email protected]

meu peito

sangra

por facada

amor

traição

quem

sangue

correr

não pode saber

meu coração

tem menstruação

de paixão

Tamas

Pens

amen

tos

Pró-

fund

os

Pont

o po

étic

o

O poema, sempre difícil de ser analisado, ou mesmo percebido, constante obstáculo para o leitor, eis que surge e se oferece à decifração. Mas se não o deciframos, não seremos por ele devorado. O poema não é uma esfinge. Ou me engano? Desejam-se as suas palavras como se deseja a placidez de um rio caudaloso em estação de estio. Mas logo sobrevém a tempestade, e a mesma paisagem, que tanto nos acalmava, torna-se ameaçadora, a ponto de nos arrancar de onde a observáva-mos, lugar que antes julgávamos seguro. Oh, impossível o sublime kantiano, acompanhar a tempestade, em toda sua plenitude, fora dela. Seria bom se a poesia tivesse a mansidão desse rio, qual o rio de Heráclito, mesmo que nele não fosse possível ver duas vezes nossa própria face. Seria bom ler poesia sem se deixar con-taminar, sem termos de levar para casa, ainda que tão somente, uma gota de toda essa lama.

Assim, umas vezes como placidez, outras tantas como tempestade, chegam-nos os versos de Tanussi Cardoso. Em Exercício do olhar, como assegura o próprio nome do livro, exercita-se os vários modos de percepção da subjetividade, exercita-se nossa capacidade de sobrevida dentro da arte poética, ou mesmo – talvez o impossível – a capacidade de sobre-vivência humana fora de toda essa tormenta.

Iniciando-se com “Óvulo I”, a poesia se apresenta como larva. Então, perguntamos? Do que é capaz uma larva? Já sabemos a res-posta. Afinal, tudo começou com uma larva. Eis o início: “que bicho se abrirá em palavra?” Através desse pequeno verso, viaja-se não apenas pela história humana, mas também através da literatura em língua portuguesa. Lá está Camões, com o seu bicho da terra tão pequeno, depois Drummond, que retoma Camões e apresenta esse bicho ainda bem pequeno, mas como protagonista de outras viagens, odisséias modernas. O autor de Exer-cício do olhar atualiza o tema e o lança à poste-ridade, pois a viagem continua, e a poesia-larva há de se multiplicar abrindo-se em palavras, constituindo novos mundos, constituindo a própria liberdade, que é o que caracteriza o ser humano. Nada melhor para mostrá-lo livre do que o ato criador, no caso do poeta, sua escrita,

tema do segundo poema, “Certas palavras”. Vai assim o desenrolar do livro, versos falando da língua, das palavras, da arte, de outros autores e de todas as possibilidades e impossibilidades.

O bom poeta nunca cabe em si próprio. Aliás, ninguém cabe em si próprio, mas, me-lhor do que o poeta para expressar tal preo-cupação não há: “porque todos os mistérios são santos, / não nomearemos o nome das / coisas.” Mas o que é o fazer poético senão o ato de nomear, mesmo negando-o? Escreve-se, nomeia-se, caso não se o faça com o nome conhecido, cria o autor uma nova maneira de dizer, um novo nome. Logo, nomeia-o do mesmo modo, embora à sua maneira. E assim avança Exercício do olhar.

O livro divide-se em três partes: o tempo, os dias, as noites. “Constrói o tempo teias e ruínas”, e nada melhor do que a poesia para fazer esse inventário, mostrando que esse tempo também é construído por palavras: “O olho no olho do poema / que se anuncia / o olhar nosso de cada dia.”

Em “os dias”, confessa o poeta: “quando na superfície / o verbo / vem da falta.” Talvez pudéssemos, aqui, conjecturar que a poesia vem tentar preencher o que nenhuma outra atividade humana conseguiu. É possível dizer que, se os outros ramos do conhecimento dessem conta da vida, não necessitaríamos da arte, nem da poesia. Mas se apresenta o artista e, para causar vertigem nos estudiosos das outras áreas do saber humano, diz: “porque partimos / cegos / não há luz sol estrelas.” O poeta ou cantor, mesmo cego, como Home-ro, vem lembrar a existência da luz, feito que esses outros, portadores de técnicas capazes de erigir engenhos tecnológicos, não foram capazes de perceber. “Os dias” ainda mostram a carnalidade da poesia: “a palavra / orgasmo / abre-se tônica / bem no / meio / da carnali-dade”, e, mais adiante, a carne vai irmanada à transcendência: “voo cego / de águia / desmaio / salto no / abismo / sem ar”.

Entre palavras discutindo as próprias palavras, palavras expressando o corpo e o amor, chega-se à ultima parte, “as noites”, em que a escrita revela, em “as sombras são”: “as sombras se esquecem / de si mesmas / e saem

Haron Gamal [email protected]

O difícil percurso do olhar

“Paixão e bebedeira. Bom enquanto dura. Terrível quando acaba.”

“ O jovem discípulo perguntou ao mestre: - Meu Mestre, que poder existe na mulher, que desde Adão, o homem é compelido ao pecado? Na primeira fração de segundo o mestre recordou a juventude e sua lembrança desenhou a imagem reluzente de Débora. Na segunda fração de segundo o mestre recordou a trajetória de feli-cidade e tormento provocado pela paixão por essa estonteante mulher. Na terceira fração de segundo o mestre recobrou a serenidade e disse: - Não há pecado maior que a negação do desejo.”

“Pequenos momentos de prazer São eternos.”

“Sonhos dissolvem-se Em migalhas de luz.”

“A escuridão está fora de mim.”

“A necessidade desenha o futuro. O prazer molda o prazer.”

“Minto-me.”

Page 25: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

a espantar / as coisas, / à noite.” Espanta-se o poeta, espanta-se o leitor, a constatarem a poesia, esse fio tênue, capaz de atingir senão o cerne das coisas - hoje, duvida-se que as coisas tenham cerne -, ao menos a levar ao ato de reflexão máxima, à descoberta surpreen-dente do que é estar vivo: “a cada poema / que se faz / adia-se a morte / até a manhã / de um novo / poema.”

Difícil falar mais sobre um autor de extensa e diversa obra – Boca maldita, 1982, Beco com saídas, 1991, Via-gem em torno de, 2000, A medida do deserto e outros poemas revisitados, 2003, Exercício do olhar, 2006, e 50 POEMAS escolhidos pelo autor, 2008, – com elogios de inúmeros autores conceituados, como o do prestigiado acadêmico Antônio Carlos Secchin: “um dos pontos altos é o belo tom elegíaco que você empresta a tantos poemas (sobre o livro: Viagem em torno de).

Retornando ao início dessa matéria, poderíamos perguntar: a poesia de Tanussi devorou o leitor, caso ele não a tenha decifrado? Certamente, não. Às vezes, como em toda escrita poética, a decifração torna-se difícil, e sabe-se que, para ela, não há apenas uma possibilidade de leitura, mas múltiplas. Então, não mais se teme a esfinge, admira-se e louva-se a sua beleza.

Exercício do olharTanussi CardosoEditora Fivestar, 145 páginas

classificadosALOE VERA - BABOSA NUTRITIVA E MEDICINAL

Poder regenerador dos tecidos da pele e das células em geral, cicatrizante, antinflamatória, ação antibiótica e muito mais. Obtenha informações para adquirir produtos feito com o puro gel da Aloe Vera.

Marlei ReginaTel.: 2579-1266

PSICOTERAPIA

Abordagem corporal, base analítica.Depressão/ansiedade, insônia, compulsões, síndrome do pânico, fobias, doenças psicossomáticas... Propiciando vitalidade, bem-estar e desenvolvendo confiança, auto-esti-ma, criatividade, auto-realizações.

Ana Maria – Psicóloga CRP 05-5977Tel.: 2259-6788 | 9952-9840

AULAS PARTICULARES DE INGLÊSProfessora experiente, dinâmica, ex Cultura, ex Britânia dá aulas particulares desde principiantes até professores. Conhecimento de Inglês técnico.

Prof. Lilian Tel.: 2286-2026 9941-2984

Este mês abrimos um espaço na Folha Carioca para publicar textos de pré-adolescentes e adolescentes. Rebeca Tomasquim, nossa primeira colaboradora é uma menina de 12 anos, muito inteligente, articulada e com aquele ar encantador de menina-moça. Ela, com sua meninice, tem a graça das crianças e já ficando mocinha, conversa todos os assuntos com adultos. Nada pretensiosa ou arrogante, dá prazer em vê-la opinando sobre diversos assuntos e falando de seus sonhos.

Rebeca tem um blog na internet onde posta seus textos, carregados das suas questões. Um amor! Ela diz: “Amo atuar. Não sabia que escrevia bem e de repente já tinha uma paixão e um blog onde posso postar os meus textos”.

É um prazer ler o que pensa uma menina carioca, com ótima estrutura familiar e livre para pensar!

Seu blog é www.rebulicos.blogspot.com

Rebuliços

Quando vou me satisfazer? Antes, tudo que eu queria era ser grande,

agora quero ser maior. Adolescente era tudo, agora quem dera se fosse adulta. Quem dera se não fosse criança. Sua música já não me contagia. Sua recreação não me satisfaz, quero saber. Antes a recreação estava de bom tama-nho. Por que ainda não fiquei satisfeita? Por que antes me satisfazia e agora já me cansei da novidade? Por que quero ser como os outros e não como eu sou? Vamos aumentando de tamanho e precisamos de mais satisfações para nos preencher. Queria que o passado me satisfizesse.

Realidade Hoje na minha aula de Português, a

professora fa lou que a part i r de agora as nossas redações seriam crít icas, que mostrassem opinião, que não tinha mais espaço para criar, quer dizer, na escola não teria mais espaço para criar.

Agora estamos mais velhos e na escola só cabe realidade. Agora não faremos mais fantasias, histórias que não existem, tudo seria opinião, críticas. Mas para criticarmos precisamos de histórias criadas. Afinal não podemos criticar a realidade. A realidade é uma para cada pessoa, por isso as histórias, mesmos que sejam verdadeiras não são reais. As visões são diferentes, e a realidade também é diferente. O que me aliviou naquele momento foi que apesar de estarmos sendo reais estaríamos criando a nossa realidade. Podemos criar não só na arte, mas no próprio momento de ser real, e pensar que sou o crítico mais importante que existe, fazendo um texto muito importante para um jornal importante. Não seria real o contexto, mas o texto seria totalmente real. E criando a opinião, vamos criando a nossa realidade que cria a nossa opinião real sobre o criado. E essa é a realidade que torna o meu mundo particular.

novos talentos

Page 26: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87

GÁVEABanca do CarlosRua Arthur Araripe, 1Tel.: 9463-0889

Banca Feliz do RioRua Arthur Araripe, 110Tel.: 9481-3147

Banca João BorgesClínica São Vicente

Banca MSVRua Mq. de São Vicente, 30Tel.: 2179-7896

Banca New LifeR. Mq. de São Vicente,140Tel.: 2239-8998

Banca Alto da GáveaR. Mq. de São Vicente, 232 Tel.: 3683-5109

Banca dos FamososR. Mq. de São Vicente, 429Tel.: 2540-7991

Banca SperanzaRua dos Oitis esq. Rua JoséMacedo Soares

Banca SperanzaPraça Santos Dumont, 140Tel.: 2530-5856

Banca da GáveaR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2294-2525

Banca Dindim da Gá-veaAv. Rodrigo Otávio, 269Tel.: 2512-8007

Banca da BibiShopping da Gávea 1º pisoTel.: 2540-5500

Banca PlanetárioAv. Vice Gov. Rubens Be-rardoTel.: 9601-3565

Banca PinnolaRua Padre Leonel Franca, S/NTel.: 2274-4492

Galpão das Artes Urba-nas Hélio G.PellegrinoAv. Padre Leonel Franca, s/nº - em frente ao PlanetárioTel: 3874-5148

Restaurante Villa 90Rua Mq. de São Vicente, 90Tel.: 2259-8695

MenininhaRua José Roberto Macedo

Soares, 5 loja CTel.:3287-7500

Da Casa da TataR. Prof. Manuel Ferreira,89Tel.: 2511-0947

Delírio TropicalRua Mq. São Vicente, 68

Chez AnneShopping da Gávea 1º pisoTel: 2294-0298

Super BurguerR. Mq.de São Vicente, 23

Igreja N. S. da Con-ceiçãoR. Mq.de São Vicente, 19Tel.: 2274-5448

Chaveiro Pedro e CátiaR. Mq. de São Vicente, 429Tels.: 2259-8266 15ª DP - GáveaR. Major Rubens Vaz, 170Tel.: 2332-2912

J. BOTÂNICOBibi SucosRua Jardim Botânico, 632 Tel.: 3874-0051

Le pain du lapinRua Maria Angélica, 197 tel: 2527-1503

Armazém AgriãoRua Jardim Botânico, 67 loja H tel: 2286-5383

Carlota PortellaRua Jardim Botânico, 119 tel: 2539-0694

Supermercado CrismarRua Jardim Botânico, 178 tel: 2527-2727

Posto YpirangaRua Jardim Botânico, 140 tel:2540-1470

HUMAITÁBanca do AlexandreR.Humaitá esq. R.Cesário

AlvimTel.: 2527-1156

LEBLONBanca ScalaRua Ataulfo de Paiva, 80Tel.: 2294-3797

Banca Café PequenoRua Ataulfo de Paiva, 285

Banca MeleRua Ataulfo de Paiva, 386Tel.: 2259-9677

Banca NovelloRua Ataulfo de Paiva, 528Tel.: 2294-4273

BancaRua Ataulfo de Paiva, 645Tel.: 2259-0818

Banca RealRua Ataulfo de Paiva, 802Tel.: 2259-4326

Banca TopRua Ataulfo de Paiva, 900 esq. Rua General UrquisaTel: 2239-1874

Banca do LuigiRua Ataulfo de Paiva, 1160 Tel.: 2239-1530

Banca PiauíRua Ataulfo de Paiva, 1273 Tel.: 2511-5822 Banca Beija-FlorRua Ataulfo de Paiva, 1314 Tel.: 2511-5085

Banca LorenaR. Alm.Guilhem, 215 Tel.: 2512-0238

Banca Cidade do Le-blonRua Alm. Pereira Guima-rães, 65 Tel.: 8151-2019

Banca BB ManoelRua Aristides EspínolaEsq.R. Ataulfo de PaivaTel.: 2540-0569

Banca do LeblonAv. Afrânio M. Franco, 51 Tel.: 2540-6463

Banca do IsmaelRua Bartolomeu Mitre, 144Tel: 3875-6872

BancaRua Carlos Goes, 130Tel.: 9369-7671

Banca Encontro dos AmigosRua Carlos Goes, 263Tel.: 2239-9432

Banca LuísaRua Cupertino Durão, 84Tel.: 2239-9051

Banca HMRua Dias Ferreira, 154Tel.: 2512-2555

Banca do CarlinhosRua Dias Ferreira, 521 Tel.: 2529-2007

Banca Del SolRua Dias Ferreira, 617 Tel.: 2274-8394

Banca Fadel Fadel Rua Fadel Fadel, 200 Tel.: 2540-0724

Banca QuentalRua Gen. Urquisa, 71 BTel.: 2540-8825

Banca do Vavá Rua Gen. Artigas, 114 Tel.: 9256-9509

Banca do MárioRua Gen. Artigas, 325 Tel.: 2274-9446

Banca Canto LivreRua Gen. Artigas s/n Tel.: 2259-2845

Banca da Vilma Rua Humberto de CamposEsq. Rua Gen. Urquisa Tel.: 2239-7876

Banca Canto das Le-tras Rua Jerônimo Monteiro, 3010 esq. Av. Gen. San Martin

BancaRua José Linhares, 85Tel.: 3875-6759

BancaRua José Linhares, 245Tel.: 2294-3130

Banca GuilherminaR. Rainha Guilhermina, 60 Tel.: 9273-3790

Banca RainhaR. Rainha Guilhermina,155 Tel.: 9394-6352

Banca Rua Venâncio Flores, 255 Tel.: 3204-1595

Banca Miguel CoutoRua Bartolomeu Mitre, 1082Tel.: 9729-0657

Banca Palavras e PontosRua Cupertino Durão, 219Tel.: 2274-6996

BancaRua Humberto de Campos, 827Tel.: 9171-9155

Banca da EmíliaRua Adalberto Ferreira, 18Tel.: 2294-9568

BancaRua Ataulfo de Paiva com Bartolomeu Mitre

Banca Novo LeblonRua Ataulfo de Paiva, 209Tel.: 2274-8497

BancaRua Humberto de Campos, 338Tel.: 2274-8497

BancaRua Alm. Pereira Guima-rães, 65

Banca J LeblonRua Ataulfo de Paiva, 50Tel.: 2512-3566

BancaAv. Afrânio Melo Franco, 353Tel.: 3204-2166

BancaRua Prof. Saboia Ribeiro, 47Tel.: 2294-9892

Banca Largo da Me-mória Rua Dias Ferreira, 679Tel: 9737-9996

Colher de PauRua Rita Ludolf, 90Tel.: 2274-8295

Garapa Doida R. Carlos Góis, 234 - lj FTel.: 2274-8186

Banca do AugustoRua Humberto de Campos, 856Tel: 3681-2379

Sapataria Sola ForteRua Humberto de Campos, 827/ETel.: 2274-1145

Copiadora Digital 310

Loteria EsportivaAv. Afrânio de Melo Franco

Loteria EsportivaAv. Ataulfo de Paiva

Vitrine do LeblonAv. Ataulfo de Paiva, 1079

Café com LetrasRua Bartolomeu Mitre, 297

Café Hum LeblonRua Gen. Venâncio Flores, 300

Tel.: 2512-3714

Leblon Flat ServiceRua Almirante Guilhem, 332

BOTAFOGOBanca Bob’sRua Real Grandeza, 139 Tel.:2286-4186

FLAMENGORepública Animal Pet-shopRua Marquês de Abrantes, 178 loja bTel: 2551-3491 / 2552-4755

URCABar e restaurante UrcaRua Cândido Gafrée, 205Próximo à entrada do Forte São João

Julíus BrasserieAv. Portugal, 986Tel.: 3518-7117

Banca do Ernesto

Banca da Teca

Banca da Deusa

Banca do EPV

Page 27: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87
Page 28: Folha Carioca / Abril 2011 / Ano 10 / nº 87