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  • Flores verticais: Amor e solido na vivncia travesti

    Autor(es): Andr Luiz dos Santos Paiva, Antnio Vladimir Flix-Silva

    No conto Dama da noite, Caio Fernando Abreu (1988), apresenta uma travesti

    predominantemente sedutora, experiente, perspicaz, segura. Essa travesti nos remete, em

    grande medida, s caractersticas das travestis que encontramos nas noites e, mais

    recentemente, em nosso cotidiano, apesar dos brados dos conservadores. Paradoxalmente,

    notamos diferenas entre essas duas possibilidades travestis que desestabilizam nossas

    expectativas dado o imaginrio social que as cerca, a saber: Dama da noite, apesar de ser

    habitante noturna da cidade, no vive da prostituio, ao contrrio, insinua possibilidades de

    contratar esse tipo de servio de um boy, invertendo assim, mais uma vez, os plos

    socialmente determinados, uma vez que a prpria existncia travesti j denuncia a

    arbitrariedade das determinaes sociais de gnero no que tange s possibilidades e

    limitaes do masculino e do feminino, pois ela, tendo pnis, fez-se feminina.

    Frente a essa peculiaridade da Dama da noite questionamos: qual a distncia entre as travestis

    que criamos e a travesti por ela mesma criada? Haveria que se falar numa identidade travesti?

    Para pensarmos esta questo retornamos ao ttulo do presente artigo, que teve como

    inspirao a msica incidental Flores horizontais de Jos Miguel Wisnik sobre poema de

    Oswald de Andrade, na qual se fala de amor e solido na vida das prostitutas, horizontais

    talvez por serem mulheres disponveis para todos. Nesse sentido, e dando uma nova valorao

    semntica aos termos, optamos por ressaltar o que mais intriga e interdita o modo de vida

    travesti, o pnis. Dessa forma, as travestis das quais falamos so aquelas que, desafiando o

    interdito, fizeram-se mulheres, no como as outras, mas Flores Verticais, mulheres de pau

    (OLIVEIRA, 1994).

    As interdies sociais vivenciadas pelas travestis so sutilmente expostas por Dama da noite

    em seu discurso, interdies que delimitam o lugar das travestis, suas experincias e afetos,

    interdies que, em suma, dizem respeito ao que esperamos e aceitamos das travestis em

    suas expresses de vida e, mais notadamente, performances de gnero e expresses de

    sexualidade. Alm dessas, existem tambm as interdies discursivas sobre as travestis, e

    essas no afetam apenas a elas, por mais que, em geral, no enxerguemos ou nos recusemos

    a enxergar, isso nos afeta diretamente. Essas interdies dizem respeito exatamente ao que

    esperamos no s das travestis, mas tambm dos demais papeis de gnero e expresses de

    sexualidades. Essa expectativa est saturada de limitaes e, dessa forma, a ambiguidade dos

    corpos e modos de vida travesti mostram-se, em geral, por demais grotescos para a viso

    predominante na sociedade (BENEDETTI, 2005), que se mostra restrita, dicotmica, negadora

    dos cortes nas normas de gnero (BENTO, 2006). Reiteramos, essas limitaes no atingem

    apenas as travestis, pois, controlando-as, controlamo-nos, e, no conseguindo maquiar o

    arbitrrio social na construo dos gneros e das sexualidades, apavoramo-nos quando nosso

    territrio no se mostra mais seguro, nico, inquestionvel (ROLNIK, 2006). assim que a

  • Dama da noite fica em ns, nos marca fundo, torna-se aquela que nos contaminar com seu

    perfume venenoso e mortal (ABREU, 1988 p.95).

    No modo de vida travesti construdo no imaginrio social, os aspectos ertico-sensuais so

    ressaltados e sequer se questiona a possibilidade de outras expresses por parte das travestis.

    O ertico-sensual valorizado, indo desde o desejo sexual em relao a elas at a acusao

    de aberraes da natureza ou depravao moral religiosa, estes ltimos posicionamentos

    fortemente atrelados a uma pretensa necessidade de continuidade entre sexo e gnero que se

    mostra, na verdade, determinista e negadora do carter arbitrrio de nossas construes

    sociais (SOUSA FILHO, 2007). Ora, essa postura que evidencia apenas uma das

    possibilidades do humano no faz outra coisa seno retirar a humanidade dos sujeitos que no

    se encaixam norma, forma mais eficaz de afastar aquilo que nos estranho, aquilo que nos

    nega, ou, quem sabe, nos afirma o que no queremos. Dama da noite, flor vertical de grande

    apelo sensual, no topo de sua segurana e experincia ainda acredita no Verdadeiro amor, e,

    num golpe final, nos esfrega na cara sua solido, e parte. Atravs de seus afetos, Dama da

    noite, enche-nos de emoo, quebra as nossas expectativas dbeis e borra novamente as

    fronteiras, reivindicando o estatuto de humanidade. Mostra uma existncia que sente e sofre de

    afetos, diferencia-se e iguala-se aos que esto na roda, apesar de sua abjeo (BENTO,

    2009).

    Mas de que forma Dama da noite expressa esses afetos, mais especificamente o amor e a

    solido? Em que momentos eles se tornam mais evidentes? Antes necessrio questionar de

    que amor e de que solido falamos. Ora, os afetos, assim como todas as formas de expresso

    humanas so socialmente construdos e, sendo assim, so histricos, transitrios e arbitrrios,

    ou seja, sendo de uma forma poderiam ser de outra, sem determinaes de quaisquer tipo,

    mas sim flutuando de acordo com os condicionantes histricos e culturais. A forma que temos

    de amar e sentir solido tem a especificidade de ser fortemente atrelada, por um lado, moral

    judaico-crist e, por outro, ao modelo de homem inaugurado pela modernidade e do qual, at

    hoje, sofremos enorme influncia. Da moral judaico-crist herdamos o amor vinculado ao

    respeito ao outro, ao respeitar a sua face, am-lo como a si mesmo, ao, no extremo, oferecer a

    prpria face (BUBER apud LELOUP, 2008). Os afetos vistos sob essa tica tm a marca

    indelvel de um outro a ser amado, de um outro que, sendo a nica possibilidade de objeto de

    nosso amor, pode nos faltar. Por outro lado, e sem com isso, absolutamente, querer negar a

    influncia da moral judaico-crist na construo do homem moderno, temos uma modernidade

    que inaugura um sujeito psicolgico, introspectivo, bombardeado por afetos, descobridor de

    algo em si que no pode ser decifrvel, ou, pelo menos no de forma to fcil (FIGUEIREDO,

    2007).

    O amor expresso por Dama da noite ainda uma das possibilidades do amor de nosso tempo,

    o amor romntico (COSTA, 1998), para ela O Verdadeiro Amor. No entanto, extrapolamos a

  • aparente exterioridade do objeto desse afeto e o localizamos tambm num afeto que pulsa em

    si e para si. O amor da Dama da noite desejo, e o desejo (...) o poder para existir e persistir

    na existncia (CHAUI, 2011 p. 48). Esse afetar-se pelo outro e desejar afet-lo, uma vez que,

    no caso de Dama da noite esse outro ainda no chegou, no existe na realidade apenas na

    sua imaginao, pode ser visto, antes de qualquer coisa, como uma pulsao para a

    existncia, sua prpria existncia, o que, antes de negar o outro, necessita, ao contrrio,

    afirm-lo. Essa necessidade de afetar um outro, num amor romntico, atravessa a existncia

    da grande maioria dos sujeitos contemporneos, mas, se tratando de uma existncia travesti

    acrescido de uma srie de complicadores e atravessamentos. A diferena passa a ser um

    empecilho para o amar. Mais uma vez se nega a possibilidade da travesti de comungar da

    roda. Nesse sentido Dama da noite afirma: Pra mim, no. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero.

    Eu no sou igual a eles, eles sabem disso (ABREU, 1988 p. 94). assim que ela cria um outro

    que, no existindo, passa a ser fonte de sofrimento, j que amar algo ou algum que no

    existe realmente s pode ser fonte de sofrimento (SAVATER, 2000 p. 18). No entanto, persiste

    a esperana, a dvida quanto ao porvir (CHAUI, 2011 p. 157), uma projeo enfim de um

    amor, afeto que, apesar da sua solido, a empurra para uma perseverao na existncia.

    A solido pode ser entendida como distncia, em nossa sociedade mais marcadamente uma

    distncia do outro, no entanto, no se restringindo a ela. A diferena, dado o seu no

    entendimento, acaba por aumentar essa distncia em relao ao outro, potencializa assim a

    solido. Muitas vezes a proximidade dos corpos pode parecer negar isso, mas a distncia

    simblica entre os que rodam na roda e as travestis imensa. No se tolera essa diferena,

    apesar de muitas vezes se frequentar os mesmos espaos que as travestis frequentam. Dama

    da noite e o boy com o qual ela conversa esto num mesmo bar, numa mesma mesa, no

    entanto, a distncia que os separa parece intransponvel (LELOUP, 1998 p. 10), aps o

    trmino da noite, Dama da noite volta a ser o que todo dia longe da roda e de tudo: uma

    criana assustada (ABREU, 1988 p. 98). Quando se volta para a casa vazia, os corredores

    parecem no ter fim, e o quarto (...) silncios hostis (LELOUP, 1998 p. 12), e nesse momento

    tanto Dama da noite, como a grande maioria das travestis, sente mais intensamente seu

    sofrimento, sofrimento decorrente de um no entendimento da diferena e que caracterizamos

    como sendo tico-poltico (SAWAIA, 2008).

    O sofrimento tico-poltico assim chamado por trazer como elemento de anlise nos

    processos de excluso ou incluses perversas a questo da afetividade. Nesse sentido, passa

    a ser colocado como questo o indivduo que, sendo excludo, por isso sofre e expressa

    emoes. Esse sofrimento diferente da dor, uma vez que, esta, prpria da vida humana,

    um aspecto inevitvel (HELLER apud SAWAIA, 2008, p. 102). J o sofrimento se caracteriza

    como uma dor que tem razes sociais, a dor que surge da situao social de ser tratado

    como inferior, subalterno, sem valor, apndice intil da sociedade (SAWAIA, 2008, p. 104).

    esse sofrer que atinge as travestis que, tendo seus espaos delimitados pelos que esto na

    roda, na normatividade, vem-se como localizadas no patamar mais baixo na hierarquia de

  • gnero criada por nossa sociedade. Anormais, doentes, imorais, so alguns dos adjetivos que

    lhes so impostos (ALBUQUERQUE JR., 2009). A Dama da noite de Caio Fernando Abreu

    (1988), pela fora polifnica da fico, acaba por ser uma espcie de representante dessas

    mulheres de pau que, por isso, so categoricamente excludas, ou, como preferimos, includas

    perversamente num circuito marginal que invisibiliza suas possibilidades de expresses de

    afetos, nega-lhes a possibilidade de entrega a um Verdadeiro amor, empurra-as para a solido

    sem considerar seu sofrimento.

    Outros exemplos so possveis, no s na questo das travestilidades como, tambm, na de

    outros grupos excludos, uma vez que a literatura fonte de dramticos exemplos de

    sofrimento tico-poltico, e de como ele varia historicamente, de acordo com a mediao

    priorizada no processo de excluso social: raa, gnero, idade e classe (SAWAIA, 2008, p.

    104). Sendo, dessa forma, um instrumento que possibilita uma revisitao aos processos de

    excluso, pois, se as anlises pretensamente cientficas tem formulado discursos vazios que

    no trazem novas possibilidades de olhares sobre seus objetos, a literatura, exatamente por

    ser algo menos preciso, mais artstico (FERRE, 2001, p. 116) lana a possibilidade de

    voltarmos a olhar bem o que diferente e que, justamente por isso, excludo.

    As anlises dos processos de excluses sociais atravs da questo do sofrimento tico-poltico

    evidenciam, por outro lado, o lugar desse outro que exclui e mantm as desigualdades. Dama

    da noite em alguns momentos reivindica rodar na roda, noutros, desdenha dela. Nesse

    movimento pode-se perceber que a demanda no apenas o desejo de igualar-se, mas de

    distinguir-se e ser reconhecido[a] (SAWAIA, 2008, p. 115). Ora, essa distino e

    reconhecimento passam, necessariamente, por um outro que, se afetando por ela, a perceba

    no s como diferente, mas, diferenciando-se, iguale-se em humanidade. Esse movimento s

    possvel atravs dos afetos, uma vez que ao falar de excluso, fala-se de desejo,

    temporalidade e de afetividade (ibid. p. 98). Nesse sentido o sofrimento que aflige a maioria

    das travestis existe em decorrncia da ausncia dessa identificao de um eu nesse outro

    diferente que, exatamente por isso, a torna um ser possvel. Em suma, tanto as emoes

    vivenciadas no sofrer das travestilidades como as expressas pela norma frente a essa

    diferena so indicadoras do (des)compromisso com o sofrimento do homem, tanto por parte

    do aparelho estatal quanto da sociedade civil e do prprio indivduo (ibid. p. 99). Sendo assim,

    para a amenizao desse sofrer em decorrncia da diferena necessrio um investimento

    afetivo e tico nas relaes, afetivo pois a tica s aparece no homem quando ele percebe

    que o que maior bem faz para o seu ser um outro ser humano (ESPINOSA apud SAWAIA,

    2008, p. 114). Portanto, se faz necessrio deixar-se afetar pelo sofrimento dos demais, e

    responsabilizar-se por ele (MORTARI apud FERRE, 2001, p. 210). Isso, em nossa anlise, s

    ser possvel atravs de um entendimento da diferena.

    No entanto, o entender a diferena no sinnimo de complacncia, no se d num

    movimento de tolerncia frente s formas de existncia e expresses de sexualidades das

  • quais se discorda. Nesse sentido, o boy tolera a Dama da noite, mas no a entende, no entra

    em seu mundo, no traduz sua diferena (VEIGA-NETO, 2001, 2005), no se reconhece nela,

    no sentido no de um conhecer de novo, mas de um conhecimento novo a respeito da

    diferena (REPA, 2010).

    A tolerncia, o respeito, dentre outras palavras utilizadas contemporaneamente para demarcar

    as possibilidades de relao com a diferena, que so, predominantemente, relaes impostas

    e de cunho normativo, entraram num circuito do politicamente correto, sem que, no entanto,

    houvesse um questionamento crtico em relao fabricao dessas diferenas. Diferenas

    histrica e culturalmente localizadas, socialmente produzidas. Sendo assim, antes de tolerar,

    respeitar, admitir a diferena, preciso explicar como ela ativamente produzida (SILVA, 2000

    p. 100). Somente dessa forma torna-se possvel um entendimento do diferente como

    constituidor da prpria identidade de quem entra em contato com ele. No entanto, ao invs

    disso, o que predominantemente encontramos uma imposio no que se refere ao trato com

    a diferena que a torna uma espcie de estorvo, um mundo no qual a presena de seres

    diferentes aos demais (...) vivida como uma grande perturbao (FERRE, 2001, p.197),

    perturbao que fica explcita na perplexidade do boy frente Dama da noite, perturbao que

    leva a uma essencializao das existncias tidas por diferentes, o que, consequentemente,

    gera a invisibilizao de aspectos fundamentais de suas existncias, como no caso dos afetos

    dos quais tratamos. Essa relao com a diferena no faz outra coisa seno ofuscar e reforar

    as relaes de poder desequilibradas existentes entre os normais e os anormais

    (FOUCAULT, 1997), que, mesmo assim, resistem, e sua resistncia se d, muitas vezes,

    apenas pela simples existncia que, por ser desviante, assombra permanentemente a

    identidade hegemnica, cruza as fronteiras se tornando hbrida, e, nesse caso, o cruzamento

    de fronteiras e o cultivo propositados de identidades ambguas (...) uma poderosa estratgia

    poltica de questionamento das operaes de fixao de identidades (SILVA, 2000, p.89) e,

    consequentemente das hierarquias e relaes de poder estabelecidas. nesse sentido que o

    ser puro simulacro (ABREU, 1988, p. 98) da Dama da noite exatamente o que a potencializa

    em sua existncia, bem como as existncias das travestilidades em geral, subjetividades queer

    por excelncia.

    Afirmar que a subjetividade de Dama da noite pode ser denominada de subjetividade queer

    (FERRARI, ALMEILDA, DINALDI, 2010) apostar exatamente no estranhamento (SILVA, 2009)

    que essa personagem causa, tanto ao boy com o qual ela conversa, quanto aos leitores do

    conto. Nesse sentido, o que Dama da noite e outras formas de expresses travestis nos

    afirmam de forma absoluta que existe a possibilidade de viver a transgresso, na

    transgresso, de forma prazerosa e questionadora da roda, das redes de poder estabelecidas e

    postas como normas (MISKOLCI, 2009), na questo das sexualidades, a heteronormatividade.

    exatamente no movimento de transformar a abjeo que essa norma imps s travestilidades

    em resistncia que vislumbramos o que h de mais fascinante nos modos de vida travestis,

  • assim que em meio ao jogo de poder o queer entra na disputa (...) e se apropria do que antes

    era considerado vergonhoso (FERRARI, ALMEILDA, DINALDI, 2010, p.109). A subjetividade

    queer se apresenta, dessa forma, como uma resistncia entranhada no tecido social, no

    cotidiano, no banal (LOURO, 2009, p. 137), no simples ato de existir como diferena.

    Dama da noite desafia o interdito e se afirma como ser possvel, como ser capaz de afetos, que

    sofre, que de certa forma se degrada num existir marginal. No entanto, isso no impede que ela

    demonstre tambm sua fora de desafiar, desdenhar da roda, questionar, enfim, as normas.

    exatamente nessa caracterstica desmascaradora do binarismo em relao s sexualidades

    imposto pela heteronormatividade masculino x feminino e todas as consequncias

    negativas disso, que reside a potncia das travestilidades. Reivindicando, num movimento

    paradoxal, em alguns momentos o rodar na roda, Dama da noite, acaba por desafi-la, exerce

    poder sobre ela, questiona se haver espao, numa roda to restrita, para seus afetos, se nela

    caber seu amor e sua solido.

    Dessa forma, o amor e a solido de Dama da noite, bem como de inmeras travestis, tornam-

    se formas de resistncia ao escancarar para a sociedade a humanidade desses modos de vida,

    o que esquecido com a finalidade de manuteno da ordem estabelecida: heterossexual,

    patriarcal, patologizante. Nesse sentido as travestilidades se afirmam como resistncias [que]

    contestam as formas de manejo da vida social (BRANCO apud FERRARI, ALMEILDA,

    DINALDI, 2010, p. 113) e afirmam o devir, e afirmar o devir afirmar o fluir e o destruir, o fluxo

    e o refluxo com exceo de qualquer estado que remeta perenidade, durabilidade e

    estabilidade (AZEREDO, 2009 p. 53), e nisso inclumos os afetos de amor e solido. Assim, o

    amor e solido expressos pelas travestilidades podem ser uma forma de reinventar esses

    afetos, ou, quem sabe, perder-se do amor e da solido.

    NOTAS:

    1- Boy o termo utilizado por Dama da noite para designar o personagem com o qual

    conversa.

    2- A fala da Dama da noite gira, predominantemente, em torno da diferena entre os que ela

    afirma estarem na roda dos que no esto.

    3- Ver FREIRE, 1978: Nessa obra, composta por duas novelas, o autor traz histrias nas quais

    podemos notar variaes nas possibilidades de sofrimento que, aqui, denominamos de tico-

    poltico para pensar amor e solido na vivncia travesti

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