fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL....

8
fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305 Doce aíTabilidade que os monarchas Portuguezes outr'ora dfslfngula; Mas a frente pesada de cuidados Em vão se allsa, as rugas da tristeza Sob o( diadema d'ouro se lh'encrespão XV. ) ... Chegado â tenda el-rei, breve repouso Toma a rogo dos seus; mas logo ordena* Que lhe chamem Fr. Gil; e a sós com elleí « Que heis descoberto» padre? que esperanças « Que novab me trazeís? —Tem confiança ' « Em meu poder, ó rei dos Portuguezes: a Tua filha verás, vê-la-has; mui cedo « E para se cumprir a granJe obra « Em que empenhado tenho as minhas artes. « Minha sciencia toda. Muito ha. padre « M'o prometteis assim, e.... Desculpai me, « Sou pai, e nenhum pai nunca amou filha «Corno eu á minha Branca; nem mais digna « De amor e de ternura houve outra filha « A meu pezar confesso que aos altares « A cedi, e inda mal!... Trl<te presagio « Me agourava seu fado.— Rei, és homem, « E como homem és fraco e miserável « Pesa-te o que? Da filha que has votado « A um Deos que reino a reino te acerescenta? ((~£ll! Ms a m.,nha fiIha» a mlnha Branca.... « Tua filha veras: sou eu, AlTonso, «Que t'o asseguro. Do immundo espirito, « Que hei forçado a servir-me e obedecer-me, « A resposta alcancei: não está longe « A abbadessa d'Holgas d'estes sities. « Aonde, aonde está ?_ Com esta espada « Por minha própria mao ... -Tua mão, tua espada, « A tua c rôa, o teu sceptro que empenháras, « Nao sao nada sem mim. Que sois vós outros, « Reis da terra, que fora o vosso throno, « Sem o amparo do altar? Ouve: liberta « Será Branca por mim, nem longe é o dia. « Quando o ramo de peste em talha de ouro « Fôr escondido, quando bento orvalho « Estender seu influxo a terras dMmpios, « Quando em noite mais clara do que o dia « Escurecer o céo sombra de mortos, « E o gallo preto annunciar a hora « Fatal a encantamentos e á possança « Dos espíritos do ar, liberta é Branca. « Jíisto confia, ó rei; mas grande e forte « £ o poder que a guarda, grande império « E o do gênio quc a retém captiva. « De confiar-t'o duvidei 'té'gora; « Porém força é que o saibas: protegido « Da rainha das iadas é o joven « Roubador de tua filha; nem violenta « Em seus torpes abraços está ella: « Fatal encanto a cega, poderoso « Feitiço a enamorou.... ObI Deos! que horrores! « Meu sangue, a minha filha.... Que vergonha « Me annuncias!... Oh! venha a desgraçada! « seu juiz, seu algoz serei eu mesmo. « Nao o permitia o céo; altos decretos « Sao do destino eterno; adorar deves, « E conformar tua vontade humilde « com a vontade summa. Penitencia « De seu erro fará, e ha de aplacar-lhe « A penitencia sua as iras justas « Do esposo e do céo. :\ías a salva-la, « a quebrar seu encanto é necessária l Lma rdlmc,i cousa* ~ ° <Iue ? - Tres gottas *em ferro havidas, e do sangue próprio ^ roubador.- De Aben-Afan? Burlais-me, ™üre, zombais de mim? Não me havieis dito « yue com ella no mesmo encantamento « Esse pérfido Mouro está? —Sim, disse. «-E então? —Perto de nós está seu sangue.» XVI. Mal estas vozes pronunciara o frade, a entrada da tenda um cavalleiro, Yc"ma/ormosa dama acompanhado,* Assim faltava: «Perdoai minha ousadia, Sei,e/e,,hor; jusliça ante vós venho d p,!eíla(le implorar. Horrendo crime, < «arbara alTronta a Deos e á humanidade, 4 rormosura, um monstro ha perpetrado. A queixosa, senhor, é a bella dama yUlnqiJÍ v0íies; ° réo-"- l»terrogai-a, w.el,a ° "terals. - Formosa dama, « Justiça vos farei, tende bom animo. TOMO VI. « E se de vossa alTronta é tal o caso, « Que a dcsaggrave espada ou lança « Em campo raso, cavalleiros tenho « Que por tão bella dama se apresentem « a defendê-la ern cerco ou estacada « Contra o próprio Amadis. Mas vossos trajes « A usança«mourisca me parecem; « E vós senhora, sois?... -Moura hef nascido, « E christaa sou; mas de meu triste caso « Vos dirá esse honrado cavalleiro. « Desculpai-me, senhor; longos discursos « Meu padecer e mágoas não tolerão. » XVII. Nuno então conta o que no campo soube Dos cavalleiros que ao fatal combate pe Antas ern tardo auxilio havião ido E esta dama em poder da moura turba, Quando fueia, a virão; e sabido Tinha dos prisioneiros como a causa Do combate ella fora; como filha Era de regio sangue; e a de Christo Convertida, ao Almargem a levara A um santo ermitão, e em guarda a dera O mercador Rodrigues. Depois conta D Antas a crua historia, e como havendo Succumbido os christáos na fatal luta, Os infiéis a Sylves a levarão, E n'um medonho subterrâneo cárcere Por começo de tratos a arrojarão. « Como foi minha dita liberta-Ia, « Vós o sabeis, senhor (Nuno acerescenta); « Mas os tormentos crus, mas a Impiedosa « Injuria a troce que um perverso monstro « Lhe ha feito, oh! nao me atrevo a proferi-la « Concedei-me, senhor, que ante vós traga « O réo, e pasmareis de conhecé-io. «--[Ue. perto elle está. Trazei, soldados, « a piesença de el-rei esse malvado. » XVIII. Os soldados c'o velho Mouro entravão, E o rei com attenção fixo o contempla. o REI. « Approximai-o... O' pasmo!... üm Mouro é esse? « üm Mouro, dizeis vós!.... É Fr. Soeiro. A DAMA. « Um christão, justo Deos! e um religioso! O REI. « Fr. Soeiro! o confessor de minha filha! « Miserável! defende-te se podes; « Treme, infiel, das penas que te ajiuardão. « Por que enormes peecados has chegado « A esse estado de infâmia e de miséria? « Renegar do teu Deos, teus santos votos! a Como, infeliz, como chegaste a tanto ? » XIX. Attonitos em torno estavão todos, E com horror ao renegado frade Observa cada qual, atlenio ouvido Para escuta-lo dando. Mas calado, Mudo, quedo, c'os olhos esgazeados, Como se nao ouvira, immovel fica. « Pensas com teu silencio has de illudir-me? « Cuidas salvar-te assim? Como te_enganas! « Falia, eu Vo ordeno, falia; senão....» Mudo, Estático, impassível como d'antes. « Soldados, co'as espadas nas bainhas, « Porque as não manche o vil. as duras costas « Lhe rnacerai com rija mão. Veremos « Se lhe passa a mudos.» Executada Foi a sentença em vao; nem signal leve Da menor dor amostra. Pasma Affonso, Espantão-se os que vêm. Então d'um lado, Donde alé 'li calado esta observara Scena de maravilha, se approxima Fr. Gil. e com um brado tremebundo, Erguendo a esquerda mão: « Falia , eu Co ordeno. » O criminoso treme, e revolvendo Com fúria os olhos, n'um arranco horrivel: « O que queres de mim (lhe disse , mestre? S9

Transcript of fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL....

Page 1: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305

Doce aíTabilidade que os monarchasPortuguezes outr'ora dfslfngula;Mas a frente pesada de cuidadosEm vão se allsa, as rugas da tristezaSob o( diadema d'ouro se lh'encrespão

XV.

) ...

Chegado â tenda el-rei, breve repousoToma a rogo dos seus; mas logo ordena *Que lhe chamem Fr. Gil; e a sós com elleí« Que heis descoberto» padre? que esperanças« Que novab me trazeís? —Tem confiança '« Em meu poder, ó rei dos Portuguezes:a Tua filha verás, vê-la-has; mui cedo« E para se cumprir a granJe obra« Em que empenhado tenho as minhas artes.« Minha sciencia toda. — Muito ha. padre« M'o prometteis assim, e.... Desculpai me,« Sou pai, e nenhum pai nunca amou filha«Corno eu á minha Branca; nem mais digna« De amor e de ternura houve outra filha« A meu pezar confesso que aos altares« A cedi, e inda mal!... Trl<te presagio« Me agourava seu fado.— Rei, és homem,« E como homem és fraco e miserável« Pesa-te o que? Da filha que has votado« A um Deos que reino a reino te acerescenta?((~£ll! Ms a m.,nha fiIha» a mlnha Branca....« — Tua filha veras: sou eu, AlTonso,«Que t'o asseguro. Do immundo espirito,« Que hei forçado a servir-me e obedecer-me,« A resposta alcancei: não está longe« A abbadessa d'Holgas d'estes sities.« — Aonde, aonde está ?_ Com esta espada« Por minha própria mao ... -Tua mão, tua espada,« A tua c rôa, o teu sceptro que empenháras,« Nao sao nada sem mim. Que sois vós outros,« Reis da terra, que fora o vosso throno,« Sem o amparo do altar? Ouve: liberta« Será Branca por mim, nem longe é o dia.« Quando o ramo de peste em talha de ouro« Fôr escondido, quando bento orvalho« Estender seu influxo a terras dMmpios,« Quando em noite mais clara do que o dia« Escurecer o céo sombra de mortos,« E o gallo preto annunciar a hora« Fatal a encantamentos e á possança« Dos espíritos do ar, liberta é Branca.« Jíisto confia, ó rei; mas grande e forte« £ o poder que a guarda, grande império« E o do gênio quc a retém captiva.« De confiar-t'o duvidei 'té'gora;

« Porém força é que o saibas: protegido« Da rainha das iadas é o joven« Roubador de tua filha; nem violenta« Em seus torpes abraços está ella:« Fatal encanto a cega, poderoso« Feitiço a enamorou.... — ObI Deos! que horrores!« Meu sangue, a minha filha.... Que vergonha« Me annuncias!... Oh! venha a desgraçada!« seu juiz, seu algoz serei eu mesmo.« — Nao o permitia o céo; altos decretos« Sao do destino eterno; adorar deves,« E conformar tua vontade humilde« com a vontade summa. Penitencia« De seu erro fará, e ha de aplacar-lhe« A penitencia sua as iras justas« Do esposo e do céo. :\ías a salva-la,« a quebrar seu encanto é necessárial Lma rdlmc,i cousa* ~ ° <Iue ? - Tres gottas*em ferro havidas, e do sangue próprio

^ roubador.- De Aben-Afan? Burlais-me,™üre, zombais de mim? Não me havieis dito« yue com ella no mesmo encantamento« Esse pérfido Mouro está? —Sim, disse.«-E então? —Perto de nós está seu sangue.»

XVI.Mal estas vozes pronunciara o frade,a entrada da tenda um cavalleiro,Yc"ma/ormosa dama acompanhado,*Assim faltava: «Perdoai minha ousadia,

Sei,e/e,,hor; jusliça ante vós venhod p,!eíla(le implorar. Horrendo crime,< «arbara alTronta a Deos e á humanidade,4 rormosura, um monstro ha perpetrado.A queixosa, senhor, é a bella damayUlnqiJÍ v0íies; ° réo-"- l»terrogai-a,w.el,a ° "terals. - Formosa dama,« Justiça vos farei, tende bom animo.

TOMO VI.

:¦¦. .

" '¦¦

¦'.¦'¦¦¦

« E se de vossa alTronta é tal o caso,« Que só a dcsaggrave espada ou lança« Em campo raso, cavalleiros tenho« Que por tão bella dama se apresentem« a defendê-la ern cerco ou estacada« Contra o próprio Amadis. Mas vossos trajes« A usança«mourisca me parecem;« E vós senhora, sois?... -Moura hef nascido,« E christaa sou; mas de meu triste caso« Vos dirá esse honrado cavalleiro.« Desculpai-me, senhor; longos discursos« Meu padecer e mágoas não tolerão. »

XVII.Nuno então conta o que no campo soubeDos cavalleiros que ao fatal combatepe Antas ern tardo auxilio havião idoE esta dama em poder da moura turba,Quando fueia, a virão; e sabidoTinha dos prisioneiros como a causaDo combate ella fora; como filhaEra de regio sangue; e a fé de ChristoConvertida, ao Almargem a levaraA um santo ermitão, e em guarda a deraO mercador Rodrigues. Depois contaD Antas a crua historia, e como havendoSuccumbido os christáos na fatal luta,Os infiéis a Sylves a levarão,E n'um medonho subterrâneo cárcerePor começo de tratos a arrojarão.« Como foi minha dita liberta-Ia,« Vós o sabeis, senhor (Nuno acerescenta);« Mas os tormentos crus, mas a Impiedosa« Injuria a troce que um perverso monstro« Lhe ha feito, oh! nao me atrevo a proferi-la« Concedei-me, senhor, que ante vós traga« O réo, e pasmareis de conhecé-io.«--[Ue. — perto elle está. Trazei, soldados,« a piesença de el-rei esse malvado. »

XVIII.

Os soldados c'o velho Mouro entravão,E o rei com attenção fixo o contempla.

o REI.

« Approximai-o... O' pasmo!... üm Mouro é esse?« üm Mouro, dizeis vós!.... É Fr. Soeiro.

A DAMA.

« Um christão, justo Deos! e um religioso!O REI.

« Fr. Soeiro! o confessor de minha filha!« Miserável! defende-te se podes;« Treme, infiel, das penas que te ajiuardão.« Por que enormes peecados has chegado« A esse estado de infâmia e de miséria?« Renegar do teu Deos, teus santos votos!a Como, infeliz, como chegaste a tanto ? »

XIX.

Attonitos em torno estavão todos,E com horror ao renegado fradeObserva cada qual, atlenio ouvidoPara escuta-lo dando. Mas calado,Mudo, quedo, c'os olhos esgazeados,Como se nao ouvira, immovel fica.« Pensas com teu silencio has de illudir-me?« Cuidas salvar-te assim? Como te_enganas!« Falia, eu Vo ordeno, falia; senão....» Mudo,Estático, impassível como d'antes.« Soldados, co'as espadas nas bainhas,« Porque as não manche o vil. as duras costas« Lhe rnacerai com rija mão. Veremos« Se lhe passa a mudos.» ExecutadaFoi a sentença em vao; nem signal leveDa menor dor amostra. Pasma Affonso,Espantão-se os que vêm. Então d'um lado,Donde alé 'li calado esta observaraScena de maravilha, se approximaFr. Gil. e com um brado tremebundo,Erguendo a esquerda mão: « Falia , eu Co ordeno. »O criminoso treme, e revolvendoCom fúria os olhos, n'um arranco horrivel:« O que queres de mim (lhe disse , mestre?

S9

Page 2: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

306 M IJ SEO UNIVERSAL.

FR. GIL.

« íj*s tu, Fr. Soeiro?

MOURO.

Não.

REI.

« Quem cs tu pois?Não ésFr. Soeiro!

FR. GIL.

Responde.

MOURO.

REI.

Sou o diabo.

« Zombas de mim, traidor?

FR. GIL.1

:¦..;¦' ¦ .'.;¦¦,¦...¦'-. .'¦¦: ,¦

Não zomba, Affonso.« Ouve. Escutai-me todos em silencio,-« E não me interrompais. » Tira da mangaCurta varinha dobradiça e negra,Que tres vezes no ar com pausa agita,No chão depois um circulo descreve,Em torno ignotos caracteres fôrma,Palavras cabalisticas murmura,E em silencio, os braços descahidos,Eriçada na frente a rara grenha,Com os olhos fechados, como espectroQue se ergue sobre a campa em hora aziaga,Estático, terribi! permanece.

XX.

Súbito exclama com accento horrido:tf Espirito infernal, anjo das trevas,« Que ao meu poder, rebelde, hei sujeitado,« Pelas sublimes artes e execrandastf Palavras nao sabidas d'homem vivo,« Nem pronunciadas por humanos lábiostf Diante da Uiz do sol, eu te esconjuro,tf Immunda creatura, que declares« O que pretendes desse Im mundo corpo« De Fr. Soeiro? como e por que causatf A renegar da fé e de Deos santo,tf Teu e seu creador, o compelliste?tf E para que por suas mãos impurastf Deste á bella Oriana crus turmentos ?tf Falia , e verdade, em que te pez, nem mintas;« Ou as fataes palavras do castigotf Sobre*ti, vi. creatura , pronuncio.

XXJ.

« — Essa Oriana é filiba do peccado,<( E dc nascença minha escrava e delle.tf Roubou-m'a um tal trata nle de Garcia,tf Mercador que ahi jaz em Antas morto.« (E foi-se a tempo, que por nada o pilhotf N'uma onzena em que quasi, quasi o empalmo.)« Custava-me a perder essa donzella;« E ao velho ermilãp que a tinha em casa« Tentei, tentei debalde um anno Inteiro;« Debalde, que o mofino velho e tropegotf Não tinha que tentar. Quando vi juntos« Em Antas seis tão jovens cavalleiros,tf Assentei dc encaixar-me no mais moço« E mais gentil dos seis. Perto dormia« Essa Oriana: cuidei que a tinha feita;tf Mas, por rnáo fado, os cavalleiros todos

« Não se esquecerão de trazer ao peito« Aquella cousa que adorais vós outros,« E que nós,... kp vai por diante e não blasphernes« —Fiquei desapontado, como dizem« Os Inglezes; não ha na vossa língua« Com que o dizer, e venha oú hao do diabo« Tomem-na, que hão mister dessa palavra,« N'um falcão me enganchei, voei de sorte« Que o joven me seguio 'té junto delia.« Dormia, e em tão formosa, tao lasciva •« Postura estava, que eu à fé vos juro<( De diabo que sou, arrependi-me« De pôr ião fino mel em boca d^sno;« E não fora eu falcão nesse momento,« Meu incubo poder.... » Corou a bellaOriana , e indignado o interrompeFr. Gil: «Spirito immundo, não abuses« Da liberdade que te dei. Prosegue.

• ¦ xxu. ;/ -

« — Quem tal diria? o parvo do mancebo« Babado a olhar para ella uma hora inteiro...„« E por fim.... e por fim toma-a nos braços,« E desanda a fugir como um damnado« Para a levar á terra de baptismo,« E fugir, dizia elle lã comsigo,« Da tentação. Sahirão-lhe ao caminho;« E o resto sabeis vós. Vi-os eu todos« Os seis e o mercador ir direitinhostf Para o céo com palmitos e capellas;tf E eu raivando me fui direito a Sylves,« Onde a moça levarão. Vi ahi Soeiro,tf Com quem antigas contas tenho ha muito.« Escravo fora d'um Yillao mourisco,« Que nem toucinho, seu manjar querido,« Nem nada mais, bastante a encher-lhe a pança,.<( Lhe dava. Renegou por fome o frade;« Não fui eu que o obriguei: jã negra,., mouratf A alma tinha quando eu lhe entrei no corpo.tf Renegou; mas ninguém fez caso delle;tf Mouro ou christao, ficou sempre bernardo.tf Melti-me nelle, e fiz taes diabruras(( Taes tratos dei a outros christâos escravos,tf Que alguns fiz renegar, dei cabo d'outros;tf E por zelo da lei tomando-o os Mouros,tf Lhe encarregarão da princeza a guarda.tf 0 mais que fiz foi tudo bagatella;tf Nada alcancei; ella ahi 'stà comvosco,tf E eu vou-ine embora deste sujo frade,« Que nunca entrei em mais immundo corpo,« Nem temos là no inferno lagartixa« De mais nojo e fedor que este maldito.

A \l 11,

« —Ainda não, espera: on^e escondestetf A infante D. Branca? —E outro casotf Esse de D. Branca; não sei d'clla.« Anda ahi mór poder que o meu. — Alhla,tf A rainha das fadas?—Sim. — E quandotf Sc lhe acaba o encanto? —A' meia noitetf Em dia de S. João. —Com sangue?—Sangue.(( Solta-me, ou nada mais torno a dizer-te.tf Maldito frade! aíToga-me de gorde »«¦—Vai-te, inimigo, sume-te! » Um estouroMedonho retumbou por todo o campo,E em negro boqueirão se abrio a terra.Estremecerão todos, e aterradosSe benzem. Enxofrado fumo e cheiroExhaia o boqueirão. Com água bentaPurificao o ar, e a terra fecha-se.

XXIV.

Fr. Soeiro despossesso,, como um parvoOlhava para tudo, e, bocejando,Se é hora de jantar pergunta a Nuno.

FIM DO CANTO SEXTO.

Page 3: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

MUSÍÍÜ UNIVERSAL. ,107itll^U»a^J^^«.:>fc.JBga^i;rt; ;{»-.. ~--^

ESTUDOS MORAES.

EDMÜXDO E SUA PRIMA, POR PAOLO DE KOCK.

IV. A FAMÍLIA imiNGUESINGUE.

0 que é que o Sr. Edmundo poderá ainda esperarpara casar-se com sua prima? dizia comsigo Pelagiaalgum tempo depois destes acontecimentos. Elle que-ria primeiro a gloria, e ao depois a fortuna: agoraestará contente com o amor ?...

Constança não proferia palavra; porém era provávelque o mesmo objecto a distrahia. Depois de ter dissi-pado a sua fortuna e a de sua prima, Edmundo estavasempre triste e visionário, e ás vezes dizia a Cons-tança:

Que sorte vou offerecer-vqs! nada tenho, nadasou! Que porvir podereis esperar de um homem aquem a adversidade parece perseguir?...E Ginguet dizia com os seus botões:Elle não a quer desposar porque nada tem, euão a desposava quando tinha alguma cou,a.... quan-do a desposará pois? Ah! se me amassem.... comonãô me casaria logo!

Todos os dias repetia Edmundo: « E' preciso queeu laça alguma cousa ; * porém nada mais fazia doque lamentar-se contra a sorte, contra os homens econtra o cambio.

OSr. Pause tinha proposto a Edmundo um hr>ar dediapente na orchestra do seu theatro; porque,°ündaque o primo de Constança não fosse um instrumen-lista distineto, entendia bastante de rabecão e dia-doSSiiS*

ser empregado em alguma orchestraEdmundo tinha respondido a esta proposição- £ DoS servi™ i^o?... para ganhar 600 francos, meuamigo .•>... e o que quereis que faça com 600 francos ?»m^coS!

eC0Q0mia ' Sempie scl'vt'm l>ara algu-

frwüf°Afr" Pa"f,>' nao posso tocar diapente por 600S H"%

lon^ *'e me dar gosto 'pela

musica,oSrth '!a para seniprtí "m "'ediocre artista,yuaniio se ganha tão pouco, toca-se do mesmo modo.mai,n?1.!.fnSa,KI4í,,),.mea caro: ° ll0mem <l»eesti-

oira ¦, "!i,":'Ü,ía1Z llesses caleulos; pel° contrario,nha ZLí?8 "'Ir talent0J e trabalba mais nuando ga-ode'SS2? qUC (|uai?d0Il,1« paSa0 Wtíittí caro. EuOSSO ^ mr.,'

Cm ,aP0,° d° tlUe aVa"Ç° > milÍ">S dos

mou nn h a''t,S.taS' q,,e Cül»eçdrão nas orches-Prin ,,n . theat.ros (,° segunda ordem.

AlínS temnKâí-° ef? rccusar ° la*** (,tí diapente.v ia5/iP0'S °ll0ncst0 Pause> 1u,} "ao cessa-lallalü^,1r"lhe-ume,upre°0' ll,e (,isse que tinhaPelpimado PeU° S Um a'nig0' fab™«««e de pa-

Mmffií ffiwHwíÉS •u pinte os seus papeis? disscns sorriso amargo.

q«e ffiK^ÍLM^ porém disse a» fabricante"os 22 , íni,am?ni«; então me pedio elle que

senhoSSff* SCI$ í?"a'-daventos.... com o de-Po>' iíflí. V0SS° g0st0' e vos dará 15 francos^ePÍ,címfnrdí?Vent,0S' ex(ilama Ednmndo tornan-meti taSS? °

Bde C0,era:, abai«rei a esse ponto oPauseSfl!;^hP*ra ?ai?har 15f''a»eos!... Ah! Sr.

- Pm brincando comigo.aventa i^f™ °ar0' seis vozes 1» francos fazemtos?... ra*naiei?af,s • ° «ue tem pintar guardaven-grandes pintores conheço eu, 0 que são hoje

vfin^f l}° la*um<.< os quaes n'outro tempo pifftompnn.H? / f enoal.s que p01*isso tcnhao el,es h°Je3n nhriíleint0?- Sabe_se nn,it0 bem fl»60* artistas"

f nig? °k ,1COmer como os outros homens, e quen?2 ,d?

l''abalbar Para a gloria é preciso trabalharpara a barriga.^a7;PtÍZeÍU,d0 °, que perdes, senhor, mas eu nun-ca pintarei guardaventos.... prefiro fazer palitos....,nmI™S S\m' fazci palitos, meu caro amigo; fazeiao menos alguma cousa.•, £i™!,^?nversaçôes,nâ0 agradavão de fórma algumaa tdmundo, e, para distrahir-se dos discursos do Sr.S ia el,o ás, vezes a essas reuniões brilhantes on-iÍkIJa T'1? b0a ^?.ura no temP° das suas especu-itffi d0s p,lbl,cos > e onde era ainda bem re-«3 P°rque nadua havia aspirado da sua quebrae andava sempre bem trajado, tinha uma bella fi-gura, boas maneiras e mil outros attractivos, e comtodas estas qualidades em Paris vive-se muito temposem despezas. l

t Em uma dessas reuniões de homens que dão ares dericos, e dos quaes alguns , como Edmundo, não temiea cie seu, mas onde todos estão perfeitamentevestidos, o primo de Constança travou amizade coma família Bnnguesingue, que se compunha de pai, mãie unia.O pai era um homem pequenino, que pelo seu ta-lhe tora isento da conscripção. Com a cabeça mettidaentre os hombros, de olhos vivos e nariz pontudo, obr. Bringuesingue tinha um ar que elle buscava tor-^nar galhofeiro, e que talvez assim não fosse.Segundo o costume dos homens pequenos, casara-se elle com uma senhora muito alta, e que , com aidade, tinha tomado grande corpulencia. Ella podiamuito bem escondé-lo por traz de si.Sua filha parecia-se com o pai no tamanho e coma mãi na grossura: ella estava muito apertada, e comdifíículdade podia andar.Entre o marido e a filha , a Sra. Bringuesingue ex-cedia-os muito além da cabeça.Isto quanto ao physico, passemos agora ao moral.O Sr. Vendiciano Raul Bringuesingue era filho deam fabricante de mostarda, o qual tinha feito bom

pecúlio, misturando habilmente diíTerentes hervasaromaticas nas mostardas que fabricava. Graças aeste digno industrioso, a vacca quotidiana tinha-setornado menos insipida aos bons cidadãos que nuncadeixão de comer este prato fundamental.

O Sr. Bringuesingue filho, longe de desmerecer a reputação de seu pai, tinha feito grandes melhoramen-tos na arte de fazor conservas , e com isso augmen-tara rapidamente o seu cabedal. Porém, não tendosenão uma filha, e sentindo-se possuído de uma no-bre ambição, aos cincoenta annos o Sr. Bringuesin-gue abandonou a mostarda, as conservas, e ludoquanto cheirava a vinagre, para gozar dos prazeresdo mundo e da sua considerável fortuna.

O Sr. Bringuesingue, tendo-se retirado do commer-cio, tinha a fraqueza de querer fazer olvidar que nellese havia enriquecido. Tinha uma bella casa em umadas princípaes ruas da capital , um criado de libredava funeções e jantares, em que nunca appareciamostarda.... emíim, esforçava-se em dar ares de íl-d algo.

A Sra. Bringuesingue era uma exeellente esposa,

Page 4: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

:¦' ¦¦

. ..:'

''

. ;¦¦ ¦. ¦.. ¦.

¦.-¦..:

'. .'¦¦¦" ¦-.'.'

SOS MUSEO UNIVERSAL.

qüe em toda a sua vida não tivera outra paixão alémda dansa, paixão que ainda conservava, sem embargodos seus quarenta e cinco annos completos. Quantoao mais, sempre de accordo com seu marido, que ellalinha por um homem superior, a Sra. Bringuesingueesperava que elle fallasse para então emittir a suaopinião.

Todas as affeições dos dous esposos se tinhão natu-ralmente concentrado na filha unica. A Sra. Clodoratinha as feições bem regulares, e seus pais não co-nhecião pessoa tão bella. Elles lhe tinhão dado mes-tres de musica, desenho, inglez, italiano, dansa, geo-metria, geographia e historia. De tudo isto resultouque aos dezesete annos a Sra. Clodora cantava de-senloado, desenhava um olho que mais se pareciauma orelha, por todo inglez sabia dizer ~yes—, e portodo italiano—si, signor — , não dansava a compasso,cuidava que Bale era na Inglaterra e Edimburgona Suissa, e citava Scipião como o descobridor daAmerica.

O Sr. e a Sra. Bringuesingue, que não estavão emestado de reconhecer as faltas que sua filha frequentemente commettia na conversação, não cessavão derepetir que Clodora tinha recebido excellente edu-cação.

Entretanto, para receber as visitas, parabém trataros seus hospedes, para pôr-se ao corrente dos usosdas sociedades do grande tom , o Sr. Bringuesinguetinha-se visto muitas vezes embaraçado, e nem suamulher nem sua filha tinhão podido encaminha lo.Uma circumstancia que elle se apressou a aprovei-tar servio-lhe ás mil maravilhas.

O criado que tinha fôra achado muitas vezes naadega inteiramente embriagado. O Sr. Bringuesingueandava em busca de outro, quando um dia chegou-lhea noticia da morte de um fidalgo que morava não lon-ge de sua casa. O ex-fabricante vai logo ao palácio dodefunto, informa-se do seu criado grave e procura-o.Ereis vós que servieis ao Sr. conde?

Sim , senhor.E quanto vos dava elle?Seiscentos francos, casa, comida, roupa lavada,

e de vez em quando algumas gratificações.Offereço-vos mil francos e as mesmas vanta-gens; além disso, vos dou plena autoridade em minhacasa; somente contarei comvosco algumas vezes paracertos.... conselhos.... isto é, para que me lembreisusanças.... de que me acho esquecido; por ter es-tado largo tempo.... na provincia, faltão-me as bellasmaneiras de Paris. Vós porém, que servieis a um con-de que recebia no seu palácio tudo o que havia demais elegante na capital, deveis estar ao fado de tudoisso.... e pôr-me-heis corrente.

Comtois (assim se chamava o criado grave do falle-ciclo conde) aceitou com prazer a proposição do Sr.Bringuesingue, e vio logo quantos lucros tiraria en-trando para o serviço do novo amo. Com effeito Com-tois tornou-se lão indispensável ao Sr. Bringuesingue,que, antes de fazer qualquer cousa, não deixava de irconsultar o seu criado.

Se queria mandar fazer uma casaca, o ex fabrican-te de mostarda chamava Comtois e lhe dizia :

Como é que o Sr. conde mandava fazer suas ca-sacas?

Na ultima moda, senhor.E de que côr?Segundo a sua fantasia.Muilo hem.

E o Sr. Bringuesingue, voltando-se para o seu alfaia-te, lhe dizia:

Fazei-me uma casa na ultima moda.... e de côrsegundo a minha fantasia.Se queria mudar a mobilia de uma sala, de um

quarto de dormir, mandava ainda vir Comtois.De que moveis usava o Sr. conde no seu salão?Dos que se usão por toda a parle, senhor, como

cadeiras, poltronas, mesas redondas, tremós, sopháspianos, etc. '

Então o Sr Bringuesingue mandava chamar o mar-ceneiro e lhe ordenava mobiiiasse o seu salão comoo do Sr. conde.

Porém era sobretudo nos dias de visitas e de ban-quete que Comtois tornava-se um homem precioso:era elle quem fazia os gastos miúdos, quem indicavaa ordem do serviço, o momento de tirar-se a primeiracoberta, pôr-se a sobremesa, e o modo de tomar-seo café; era elle quem dizia o como se allumiaria osalão, em que lugares devião ficar as mesas de jogo,o como se comprimentarião e receberião as visitas;era elle einfim quem ludo ordenava, e qualquer quechegasse, quando elle fazia todas essas disposições,teria podido facilmente tomar o amo pelo criado.

Como, a despeito das lições que recebia de Comtois,o Sr. Bringuesingue tinha ainda receios decommetterem presença cias visilas algum despropósito, tinhaajustado certo signal com o criado; assim, quando seuamo fazia alguma cousa que não era própria da boacompanhia e oíTendia as regras da etiqueta , Comtoiscocava o nariz; eo Sr. Bringuesingue, que trazia osolhos sempre fixos no criado, ficava logo entendendoque sahíra da boa regra, e buscava reparar o seuerro.

Eis-ahi o que èra a familia Bringuesingue, que des-frutava 25,000 francos de renda no momento em queEdmundo Guerval entrou ein relações com ella.

O acaso quiz que o mancebo acompanhasse a Sra.Clodora no piano, que elle dansasse com sua mãi paranão deixar de ter lugar uma contradansa , e que porequivoco chamasse ao papá Sr. de Bringuesingue.Desde então toda a familia ficou encantada deEdmun-do. Demais , o primo de Constança tinha esse talenlosuperficial que é quanto basta para grangear os ap-plausos do mundo: elle tocava o piano para as dan-sas; canlava, desenhava facilmente a caricatura decada pessoa da sociedade; emíim, tinha presença deespirito, fallava de tudo, mesmo do que não entendia,decidia ou ridicularisava.... E' quanto hasta no mim-do para impor aos tolos e algumas vezes á gente deespirito.

Edmundo foi convidado para ir á casa do Sr. Brin-guesingue; e quando se retirou, o dono da casa disseao seu criado:

Como achais este moço?Muito bem, senhor, tem boas maneiras... nm

ar de distineção!...Comtois acha-lhe um ar distineto, disse o Sr.

Bringuesingue á sua mulher, fallando de Edmundo.Quero convidar a jantar este moço.... quero que fre-quente nossa casa.

Será bom dar-lhe um pequeno baile, pois dansadivinamente

Chamou-me Sr. </<? Bringuesingue.... não sei sepor descobrir em mim um ar nobre.

Assim parece, meu amigo.A Sra. Clodora nada dizia, e não vos afíirmarei se

ella arrazoava melhor; entretanto, parecia ella muitosatisfeita de que o Sr. Edmundo Guerval agradasse aseus pais. . , .

(Conlinua.j

Page 5: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

MUSEO UNIVERSAL. 309

MONUMENTOS.

Vista da Ponte de Cuhzac, em França.

A

,.;w^';A:^,.V;f -;.-.,•, A-:.,.. ¦...¦¦-. ..,*A'íf., A "r"-,'¦-'¦' - ¦;'¦-'<

mmmuÚr\n\l\l ti !)M«fflÍH~ V™ •^¦wJBW. w«rü> wSH Mt ^^^^1^Mi^BÉB«»«^B«mL.» Jt'^im/^*i^l^~^,-2*Jm&L.i'A**^^lT'22X^£ m. t ^^Pw^^^TPTllil» P^BÍMI fJW í'.SmmmmMLmtil I ità íí'^-*--'—- El «w BBp^^Jj-rB^^fc C«y-\ ,7"" ~"

/"™—V //' K\ —..—.. ¦ i "~H ** '«. —- -ji«<?'"'*''.^T*'' SSfi

,1 ii- 1|^^pH (V hllfã*» _A Jh I^>tJÍíÍÉ \ *TTt" H ^J «w li T ' _JrW mm^ÊÊtmtmZ *^'^^B^W»«t^klff43,l^lP^*"^«S^fc£"*5fc>fJ-i

^EZ ¦t*H «w H*- . M "j

,—||T|a£iSpâL^ TT'"~' ~JfffUM ."T • ^ - --*^JC *^^^%_ . * ' ^A"**"", '".T **1C 3 ¦*"-^^—" —. -" T. :*-mm Ttf ' ^t' — —-—*^«Sek-'ÍÍ1B ã^K caêir^E^M

6E,BMAaasr^DEu.;A^DHÜVliiSE&T. LEUJ1 R

A PONTE DE CUBZAC.

A eslrada de Paris paraBordéos apresentava, ainda1L0"CO ^"'Po, «m '"gar incommodo e perigoso na

?oS? d0 D.ordonha em Cubzac. Comtudo os bar-Dor nhr.?Í)preCi;^p0UC0 a pouco' se,1(1° substituídosma iS»„ aPte flí*S e,nt0(,as a* passagens de algu-|a

im portancia. O Sr. Descbamps, insp.-ctor-geralxZÍT» e,ca|Çadas, autor do projecto da famosaCSfiiSÍ!? *°u'tinha Pensadoque se poderia tam-e nrnríf " Cub/ac uma °ra,ule P°'"-e de alvenaria,2!!'

Un,a trave movediça para a passagem dosde rom ^m<?nt5° ° Dordonha. Mas Liorne, portoonnunh.?lercití ""Portanle situado além deCubzac,£mí$*Am???T à execução deste projecto, poi'g cin Jl,. d ÍRc«<<lades que encontra sempre a nave-eocnnr m d° Se t,ra^a de Pa.ssaruma trave movediça;vordení ° g0ral d0 Gi,°n<la, tomando parlido a fa-aCxec,ST? C0'Ura ^0rdéds' rePellía ,tídüs os annosSr.SchaÍP?."le.<leJGubzàc lal qual a Projectára oliaroí,n« ' Comtudo este concelho, para conci-mente „?,Ses d(> aTl)as os cidat,es • P^pÓz final-ciente ,,.,," lr,"cçao da P°nte com uma altura suíü--lépartiin „,a r'Vre Pass:,Keni dos navios. O voto dotes « r-2i ° fez c?n'.q»e a administração das pon-falho áefni SC dccidisse a faze-la, e a lei de 2 de« «o íboft concedeu um subsidio de 1.500.000

francos â companhia que se encarregasse por suaconta e risco do estahelecimento de uma ponte pen-sil, mediante a concessão do produeto de uma porta-gem durante o tempo determinado pela adjudicação.

Depois de um concurso puhlico aberto em Bordéos,esla adjudicação teve lugar no dia 20 de abril de 1835,mediante a concessão de uma portagem durante 27annos, t\ mezes e 27 dias.

Haja alguns annos que a ponte de Cubzacestá aber-ta á circulação.

A ponte e as obras que delia dependem desen vol-vem-se n'um comprimento total de ibhb metros. Adistancia entre os eixos dos obeliscos que suslentãoas correntes de retenção é de hhh metros: este com-primento é dividido em cinco traves iguaes, de 109metros cada uma. A estrada tem 7o, 50 de largura enire os corrimãos; no meio do seu comprimento estaelevada de 28 metros acima do mais baixo nivel daagua , e de 25m , 50 nos cabeços.

Dous immensos viaduetos elevados sobre arcadasde alvenaria vem unir se, de um lado com os cabidosda ponte, e do outro com aterrados que acabão na esltrada de Faria para Bordéos. O da esquerda compõe-sede 28 arcadas, o da direita de 29.

Page 6: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

310 MUSI.0 UNIVERSAL

ESTUDOS HISTÓRICOS.

ASSASSINATO DO DEY DE ARGEL. (12 de dezembro de 1754.)

(Este documento histórico foi recentemente desço-berto nos archivos do tribunal de commereio de Mar-selha. Na ultima pagina le-se a seguinte nota: « Des« cripção da morte do Dey e da installaçâo do seu« suecessor, recebida com a carta do Sr. Germano,« chanceller (cônsul), de 17 do dito mez. »)

« Hontem, ás 7 horas da manhãa, foi o Dey de Argelassassinado sobre o seu throno por um soldado alba-nez, residente ha tres annos em Argel, homem queparecia muito beato, porque era marahuto*

« O casnadar (secretario) foi assassinado do mes-mo modo por um outro soldado dos conjurados.

« O soldado albanez, chamado Auzoun Aly, en-trou na casa do Dey para receber o pagamento ordi-nario que o governo faz á milicia de duas em duasluas, estando presente o Dey.

« Cada conjurado trazia escondido debaixo do capo-te tres pistolas e um sabre*

« Auzoun Aly foi o primeiro que avançou para oDey para beijar-lhe a mão, e deu-lhe uma punhalada;o Dey* sentindo-se ferido, levantou-se e recebeu ain-da um tiro de pistola e um golpe de sabre que o fize-rão cahir a dez passos do seu throno.

« Ao tempo em que o Dey eahio morto, um solda-do do numero dos cinco conjurados deu um golpede sabre na cabeça do casnadar, cortando-lhe a mãoesquerda , fendeu-lhe a direita, e disparou-lhe unitiro de pistola no pescoço.« Auzoun Aly pegou logo do turbante do Dey mor-to, sentou-se no throno e disse! « Sou rei de Argel,« acabarão todos os alvorotos, o soldado será feliz¦« e o corso (1) triumphará. Augmento cinco laimes« (600 rs.) ao soldo em cada dous mezes* » E depois,levantando o sabre e dirigindo-se aos quatro escrivãessecretários d'estado que estavão a seu lado, disselhes : « Mandai arvorar o estandarte; que me venhão

« reconhecer por Dey.»« Os escrivães secretários, trêmulos de susto, gri-tárão aos escravos do alto dos terrados que içassèm o

pavilhão: essa ordem foi logo executada. O escrivãodascavalharices, que estava no páteo do palacio, ouvioos gritos , mandou fechar as portas e ordenou á guar-da do interior, que se chama nonbe, que atirasse so-bre Auzoun Aly, que estava sentado no throno.

« A guarda atirou muitos tiros de espingarda quenão lhe acertarão. Entretanto, Auzoun Aly, vendo queos cinco conjurados tinhão ficado estendidos mortosno páteo do palacio pelos tiros da guarda do defuntoDey, desceu do throno para correr á porta com a es-pada na mão, ou para fugir ou para chamar algunsoutros conjurados, e tendo-a achado fechada, tor-nou a subirão throno.

« O grande cozinheiro desceu da galeria onde

(I) Pirataria.

está ordinariamente, gritando: /Ps armas! ide cha-mar o aga da milicia! ordenou a uni chaoux (soldado)que atirasse a Auzoun Aly, designando-o assim: «Ati-rai ao barba-negra que está sentado. O tiro do chaouxacertou em Auzoun Aly, e estendeu-o morto. O seureinado usurpado durou um quarto de hora.

« O aga, que estava em sua casa, tendo-se armado,veio á porta do palacio com o sabre na mão, e fe Iaabrir gritando: « Eu sou o aga, abri. » A sua presen-ça animou a guarda e os oíficiaes,quecorriãopor todosos lados,espantados do assassinato com mettido na pes-soa do Dey e do casnadar, ambos estendidos mortosno meio do páteo do palacio.« O grande cozinheiro ia ser posto no throno como consentimento da milicia, mas a sua modéstia fê loabraçar o aga, dizendo-lhe: « Salvai Argel, sois vósque deveis defender-nos e reinar. »

« O aga pôz algumas diíliculdades;mas foi segura-do pela guarda, pelos officiaes da casa do Dey e pelossoldados,que entrarão immediatamente para opor nothronoi Foi assim sentado e reconhecido pela miliciaDey legitimamente eleito com o nome de Baba AlyAga* Tornou-se a arvorar o estandarte, que se tinhaarriado no momento em que matarão Auzoun Aly.

« O castello da marinha deu uma salva de vinte eum tiros. Ouvio-se a musica no palacio, o divan eos grandes vierão apresentar-se para reconheceremBaba Aly Aga por seu soberano. Depois disto , man-dou-se que os prégoeiros fossem por todas as ruas pu-blicar que Baba Aly Aga tinha sido eleito Dey de Argel;que se podião abrir as lojas e as casas e continuar ostrabalhos; que pela graça de Deos tinhão cessado asdesordens, e que se administrava a justiça comod* antes.

« Mandarão se atirar para a rua os corpos dos as-sassinos, incluindo-se Auzoun Aly, para ficarem ex-postos á vista do povo.« Depois deste pregão, reanimado o povo comanomeação do novo Dey, tornou a apparecer nas ruascomo se nada tivesse suecedido ; reinou em toda a ci-dade uma perfeita tranquillidade.

« Mehemet Cogea, Dey de Argel, assassinado porum soldado em 11 de dezembro de 1754, tinha nas-cido em Manemeng, aldôa das dependências de Smyr-na, em 10 de julho de 1688, dia do horrível terremo-to que destruio a cidade de Smyrna. Edi enterradohontem 11 de dezembro de 1754, ao meio dia, nacidade, no pequeno cemitério acf lado da fonte dosPiskery , para se não ter o trabalho de conduzir o ca-daver para Babazoun, a um quarto de légua fóra dasportas da cidade, onde este Dey tinha mandado edi-ficar o seu túmulo em 1750.

a O casnadar foi enterrado hoje ás nove horas damanhãa, por isso que sobreviveu algumas horas aosseus ferimentos. »

MISCELI.ANEA.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO, TANTOSCIENT1FIC A COMO POPULAR, TANTO PUBLICACOMO PRIVADA.

Na idade dos dezesete ou dezoito annos é quando arazão dos mancebos está sufficienlemeiite desenvol-

vida, e já podem reger-se e viver no mundo, salva adirecção dos bons conselhos. Resulta daqui que seraincompleta a educação que foi interrompida antesdesta idade. Quanto mais se vai aperfeiçoando a ci-vilisação, tanto é mais palpável esta verdade. Enlreos povos bárbaros é perpetua a barbaria , porque a

Page 7: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

MUSEO UNIVERSAL, Ml

educação é nulla. Algumas nações antigas derãogrande importância á educação, mas parece queosseus desvelos os encaminhavão a fins políticos. Ochristianismo veio dar preço á educação moral e re-ligiosa; porém assim mesmo a instrucção popular ja-zeu por longos tempos no esquecimento, e ainda hoje,em vários paizes da civilisacla Europa, é muito des-prezada; o ensino começa tarde e acaba cedo, é in-completo por culpa dos mestres, e pouco freqüenta-do por culpa dos pais.

Para que a educação seja proveitosa e perfeita, é ne-cessario que em cada povoação, e para cada jerarchiada sociedade, haja escolas adaptadas ás suas preci-soes, que o ensino seja gradual e freqüentado, e quenenhum alumno o abandone sem que a autoridadecompetente julgue se completou a educação. Graçasaos progressos da moderna civilisação, e á necessicía-de de instrucção que todos reconhecem, o que é con-seqüência natural dáquelles, a educação tem hoje va-lia, mas não toda a que lb compete, e além disso nãoestá sufíicientemente generalisada.

Portanto, a mocidade, as familias, o estado, temigual interesse na rápida propagação dos conheci-mentos úteis e do ensino que cimenta e fortalece osbons costumes. Emquanto estes não forem perfei-tos e a instrucção fôr tênue, não poderemos gozar detodos os benefícios da civilisação geral, nem colhertodas as vantagens que podem resultar das nossas ins-titiuçoes civis e políticas; as autoridades não pode-rao exercitar o seu justo poder e influencia profícuasobre uni povo pouco accessivel aos progressos doentendimento humano e das artes e commodidadessoei aes,Se em outros tempos, ora a politica, ora a religiãoüingirao exclusivamente a educação, ao presente de-vem concorrer ambas para este fim, porque tão in-leressada e a ordem social como a moral ou religio-sana boa direcção dos estudos e hábitos da mocidade.i s es interesses sâo tão grav >s como numerosos; sãoporem diversos, porque diversas são as profissões queok Homens abração, e dahi vem que a educação divi-mm orçosamente em scientiíica e em popular

ri^Saf° P°l)l'lar etaange quasi todas as classesw sociedade, e todos os conliecimenlos que compe-i21n,1illaTna-d0tcidatlru)s; ó l)oriíiso a mais im-oitjnt,. A scientiíica ou littèraria é só para limitado5atn que w'&ucm carreiras especiaes. Todavia

nfc fl as,vantagens resultantes do estudo das scien-VMM das lettras, que muitas pessoas lhes consagrãoSiStVT 0lUro fim mais do *m enriquecer o es-£ n ™V Va? ° cor?Çao; is"> porém só o podem fa-s o commerciante rico. o nrnnrietnrin nh,,»,^ ~5.!bfhM.Í',1(rlq,Cní1ente; e <iüa'nX0'eânhâráVsocledaue( . ã n SrT,1Ça0 Se1OS °Pu,entos <te hoje mandarem"¦" a seus filhos a educação superior!são o W f ?mentos nue se r. pmão indispensáveisPOrnoe ,;ulefCreVer C ° C0,llar; I11as ist0 n;1° basta >po que,: uem ha que não precise possuir algumas brt-

„^ °m!»: 2" ai>ti?la *ta de precisar abe

íonc m 1 j1 -o»*-»" »v uio.uiJiu iiuuieru CIOSdos on kJ,?1 dc.ve ser a mÍ8sa° das aulas populares,^opusculos cjornaes populares.

fias SZf° q?* Sahi,110s das classes ,nais 0|,(,ina-Ome,t ' "

VC' *? mal01. Precisão de instrucção.onl*2»? d'rector de uma oíllci,la' •'« "ma fabrica,*S2T?iS 0Pr0pnetano do terras ou de estahele'ParS ,"d.,,sl»a«í* - 0« empregados de certas re-pousà deni?,',0.pod*m d'spensar-se de saber alguma«sa Utpbys.ca, de chimica, de historia natural.

das mathematicas, de technologia, etc., conforme asrespectivas profissões e empregos. E' portanto ne-cessario que, segundo as diversas localidades e as di-versas profissões que ha de seguir a mocidade popu-lar o ensino comprehenda noções elementares detodos aquelles conhecimentos, eque, por exemplo,n um districto essencialmente agricultor haja ao me-nos aulas de agricultura ; no que fôr meramente in-ciustnal, aulas em que seaprendão as applicaçõesdassciencias ás artes. Não basta legislar sobre este as-sumpto; e necessário que as leis assentem em basesseguras e que se ponhão em prompta execução. Estedesenvolvimento dos vários ramos do saber humanoinfluíra por certo na industria, nos costumes, e, porconseqüência, na prosperidade publica. O trabalhodesacompanhado da reflexão, a mera applicação ma-ctnnal das forças colloca os homens a par dos brutos •só o trabalho intelligente é digno da humanidade, sóelle e íecunclo em resultados, só delle resultão os pro-gressos. *

Outro meio efficaz da educação popular é a lição dealguns escriptos claros e sisudos; estes livros costu-mao o povo a sahir do âmbito dos trabalhos materiaese interesses vulgares, oecupão-lhe as horas que aociosidade faz perigosas, oíferecem-Ihe alimento arazão, allumião-lhe a consciência, excitão lhe aemu-laçao pelos exemplos que apresentão, e finalmente oelevao ás idéas e deveres do mundo civil, moral ereligioso. Mas, com mágoa o dizemos, muito pou-cos livros temos que dar ao nosso povo, e este muitopouco habito tem de ler bons escriptos. Pedimos aoshomens que possuem conhecimentos especiaes dasartes e das respectivas sciencias que se dediquem aescrever livros para o povo, já sobre assumptos com-inuns a todas as classes, já como guias emanuaes paraas diversas profissões. Não será estéril a gloria nemequivoca a utilidade deste trabalho. Nos paizes donorte da Europa as classes populares tem seus hábitosde ler obras sobre religião, moral, historia e instruc-çao geral; e nesses povos, onde um tal habito estamais arraigado, observa-se que o gosto nas artes émais apurado e os costumes estão muito melhorados.

Nas classes inferiores da sociedade os pais geral-mente mandão os filhos para as escolas, e julgão-sedispensados de todo o cuidado da sua educação; osindivíduos abastados chamão mestres particulares, epensão que, fazendo os sacrifícios que demanda estemodo de instrucção, tem feito tudo. São dous erros.O pobre fez pouco, porque deve, além disso, vigiare inquirir sobre o gráo de aproveitamento de ensinoem que vai o filho, e dar-lhe de mais a mais em casaa educação moral; o opulento enganou-se tambemquerendo criar seu filho para viver no mundo, e cer-cando-o ao mesmo tempo dos melindres e concessõesepie caracterisão a educação particular.A educação privada tem suas vantagens; mas paraisso épreciso queos pais vigiem o progresso dos estu-dos dos filhos e a capacidade dos mestres ; poderá istoainda ter lugar tratando-se dos rudimentos quechama-mos primeiras lettras; mas,se se tratar de ensino secun-dario ou de sciencias, terão todos os pais tempo e co-nhecimentos para isso?... Mas supponhamos que aeducação privada é favorecida por uma reunião dequalidades ede circumstancias pouco vulgares, sem-pre lhe falia o estimulo da emulação e a força da re-gularidade, vantagens que não podem substituir-se,eque faltão quasi sempre neste modo de educação';além de que a escolha dos mestres pode ser infeliz, epor certo que não haverá progresso onde não houvernem sciencia nem methodo.

Se a educação privada na casa paterna tem gravesinconvenientes, nã3 deixa de os ter a educação pu-blica. Não podem tomar parte nella os pais; não é

Page 8: fj.0 3d« (25 de março de 18/|á.) MUSEO UNIVERSAL. 305memoria.bn.br/pdf/339369/per339369_1843_00039.pdf · tf Espirito infernal, anjo das trevas, « Que ao meu poder, rebelde, hei

31*2 MUSEO UNIVERSAL.

destinada a um só individuo, mas a muitos; divide-seportanta a attenção do mestre por muitos discípulos;é submettida a regras que constrangem, etc. Mas poroutro lado a regularidade que caracterisa a educaçãopublica, a superioridade (ao menos presumptiva) dosmestres, a emulação dos alumnos, são vantagens quenão tem compensação. Nas escolas se travão os pri-meiros vínculos da amizade, cuja recordação é de-pois tão grata no decurso da vida; dilata-se ô espiritode familia, cresce e se converte em espirito nacional;as verdadeiras idéas de pátria, de estado, tem os seuselementos nas escolas, Vê-se que, pesadas as vanta-gens e os inconvenientes, não ha (salvo se quizeremexceptuar os tênues rudimentos em mui tenra idade)que escolher entre as duas: a educação deve ser pu-blica, porque é esta a única nacional e social, e por-que é ella a única que promove a bem entendida erau-lação entre os alumnos.

Porém não está só na educação publica a educaçãoda mocidade. Nunca a familia deve perder os seus di-reitos, nem o pai e a mãi esquecer os seus deveres.Além de que os meninos só estão na escola algumashoras no dia, e por isso as obrigações da educaçãocaseira são continuas. Todo o pai, toda a mãi quecessa de seguir com o coração e com a alma o desen-volvimento iriLllectual e moral de seus lilhos na pri-meira idade, de algum modo se separa delles, e pormais cheia de consciência que seja a educação publi-ca, o homem que na sua mocidade foi privado dosbenefícios da educação domestica o dâ a perceber emtodo o tempo; ha certas aífeições que o seu coraçãoignora, hábitos que nunca toma, virtudes que nãopôde adquirir, gozos moraes que não experimenta.Pais e mais de familia, attentai bem nisto, é uma es-pecie de crueldade "dar a existência e recusar a edu-cação, porque esta ultima será um manancial de boasacções para vós, e de prosperidades certas para osvossos filhos.

CARTA AIYIPHIBOLOGICA DA SRA. DE SAINT-ANDRÉ AO PRÍNCIPE DE CONDE.

Luiz I de Bourbon, principe de Conde, nascido em1530, distinguio-se na carreira das armas; mas de-pois da morte do rei Henrique II, acontecida em 10de julho de 1559, descontentamentos o lançarão nopartido dos reformados, de modo que o accusárão deser o motor da conjuração d'Amboise, que teve lugarem 1560. Foi, em conseqüência, preso e encarceradoem Orleans, onde era então a corte: Catharina deMedicis e os Guises, furiosos contra elle, fizerão comque se lhe instruísse processo.

Foi no decurso deste processo que a Sra. de Saint-André, que tomava o maior interesse pelo principe,mas que não podia penetrar na prisão em que este seachava, fez chegar-lhe ás mãos a seguinte carta am-phibologica, na qual convida-o a persistir nas suasdenegações relativamente á conspiração d?Amboisè.Esta carta é symetricamente concebida desta ma-neira:

Acreditai-me, principe, preparai-vos amorrer : não vos pôde ficar bem odefender-vos. Quem vos quer perder éamigo do estado. Ninguém pôde sermais culpado do que vós. Aquelles quepor um verdadeiro zelo pelo reivos tornarão criminoso , achárão-se(por honrados) na incapacidade de seremsubornados. Tomo demasiado interesse portodos os males que tendes feilo emvossa vida , para vos querer oceultarque a sentença de vossa morte já não é

tão grande segredo. Esses sceleratos,pois que assim chamais aquellesque ousarão aceusar-vos , mereciãotáo justa recompensa , como vósa morte que se vos prepara ; o vossodesvario é que vos persuade que só o vossomérito vos suscitou inimigos ,e que não são vossos crimesque causão a vossa desgraça. Negai

costumado desembaraçotornado parte íia

os títulos criminosad'Amboise. Não é

tendes imaginado) im-convencer - vos disso :

com o vossoque tenhaispor todosconjuração(comopossivele para o q' possa sueceder encõmendai-vosa Deos.

Para ter o verdadeiro sentido desta carta, cumpreler só as linhas Ia, 3a, 5a, 7', 9a, etc, até o íim; assim,achar-se-ha nella o sentido seguinte, diametralmenteopposto ao que apresenta a carta lida toda e seguida:

Acreditai-me , principe , preparai-vos adefender-vos. Quem vos quer perder émais culpado do que vós. Aquelles quevos tornarão criminoso achárão-sesubornados. Tomo demasiado interesse porvossa vida , para vos querer oceultartão grande segredo. Esses sceleratos,que ousarão aceusar-vos, mereciãoa morte que se vos prepara; o vossomérito vos suscitou inimigosque causão a vossa desgraça. Negaique tenhais tomado parte naconjuração d'Amboise. Não épossivel convencer - vos disso ;adeos.

O processo continuou, e por fim foi o principecondemnado a ser decapitado. Ia assignar-se a sen-tença, quando a morte de Francisco II (em 5 de de-zembro de 1560) mudou a disposição dos espíritos.Solicitou-se o perdão do condemnado, e Carlos IX,subindo ao throno, concedeu o. E era tempo, porquepretende-se (post> que não esteja bem averiguado)que « a rainha mãi e os Guises, certos da condem-« nação, tinhâo mandado vir para Orleans cousa de« quarenta carrascos dos mais práticos do reino,« para a execução do principe , que só foi salvo pela« morte do rei e coragem de L'ilospital. »

LUIZ XIV E O CHIMICO.

Um chimico chamado Poli descobrio certa compo-sição terrivel, dez vezes mais desfruidora do que apólvora. Cheio de prazer com a invenção, e julgandopor ellafazer fortuna, dirigio-se a Paris em 1702, para aoíTerecer a Luiz XIV, que andava em continuas guerras.Este monarcha, que gostava muito dos descobrimen-tos chimicos, quiz ver a composição e seus effeitos.Fez-se a experiência em sua presença, e Poli mani-festou as vantagens que da adopção do invento pode-pião resultar na guerra. « O teu descobrimento é mmengenhoso, lhe disse o rei; todavia os meios de des-truiçao de que ao presente se faz uso na guerra sãomais que suíficientes para fazer os homens misera-veis. Prohibo-te a publicação desse invento, e ate leaconselho a que te esqueças delle; é um serviço quedevemos fazer á humanidade. » Com esta cláusulaconcedeu o monarcha uma pensão ao chimico, quefez mais fortuna em oceultar do que em descobrir.

«5

P.s

r.

cu

c

L

p.

p.LCl

í.r

•c