Filosofia da Mente
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O que é a mente?
Como seres humanos podemos pensar, perceber, sentir e querer.
Tudo isso são atividades mentais, relativas à mente.
Mas o que exatamente é a mente?
O que é a mente?
Costumamos separar mente e corpo.
Temos um corpo, mas não queremos ser reduzidos às nossas características físicas. Parece haver mais do que simplesmente nosso corpo.
O que seria esse algo mais?
O que é a mente?
O termo mente (mind) é recente.Antigamente, palavra alma costumava ser bem mais utilizada.
Alma
Em grego: psiqué
Em latim: anima
Vamos pensar então no que seria uma alma.
O que é a mente?
Aristóteles
Para Aristóteles, alma é o que dá a forma de um ser vivo. Segundo ele, plantas, animais e humanos possuem alma. No entanto, as almas são de tipos diferentes para cada um.
Plantas: alma com aspecto nutritivo.
Animais: alma com aspecto nutritivo e perceptivo.
Humanos: alma com aspecto nutritivo, perceptivo e racional.
O que é a mente?
Descartes
Séculos depois, na Era Moderna (século 17), as relações entre alma e corpo voltaram a ser discutidas.
Para Descartes, a alma é um elemento racional, um coisa que pensa (res cogito) e não precisa ocupar espaço como um corpo.
Assim, alma e corpo são entidades separadas. Porém, a alma controla o corpo.
Descartes defende um dualismo de substância.
O que é a mente?
Descartes
“De sorte que este eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o que é.” (Descartes, Discurso do Método, grifos meus).
O que é a mente?
Spinoza
Para Spinoza, filósofo holandês do século 17, alma e corpo não são entidades diferentes, mas aspectos diferentes de uma mesma substância.
Segundo Spinoza, a realidade consiste de apenas uma única coisa que se apresenta com diferentes propriedades.
Spinoza defende um monismo (ou, no caso, um dualismo de propriedades).
O que é a mente?
Leibniz
Gottfried Leibniz, outro famoso filósofo do século 17, considera que alma e corpo são entidades separadas e independentes.
A alma e o corpo só aparentam agirem um de acordo com o outro por conta de uma harmonia pré-estabelecida no início da criação do mundo por Deus.
Leibniz defende um paralelismo psicofísico.
Mente e cérebro
Hoje, quando pensamos nessas questões, falamos mais em mente do que em alma.
E associamos a mente ao cérebro.
Pela nossa cultura mais científica, talvez mente seja simplesmente um nome para atividade cerebral.
Mas será que é só isso?
Mente e cérebro
Há duas divisões básicas para a questão da mente
Dualismo: existe mente e cérebro.
Materialismo: só existe cérebro.
Também poderíamos pensar em idealismo (só existe a mente), mas nesta apresentação vamos ficar só com essas duas.
Dualismo
O dualismo parece mais próximo do senso comum.
Um argumento a favor de uma posição dualista seria a necessidade de uma mente para definir nossa identidade pessoal.
Dualismo
O que faz você ser a mesma pessoa desde que era criança?
Talvez seja uma mente que determine quem você é. Se você estivesse em outro corpo, mas com a mesma mente, você ainda seria você. Ou não?
Dualismo
Ou pior ainda: imagine que, graças à uma tecnologia avançada, seu cérebro seja dividido e cada metade seja unida com a metade de um corpo artificial. Agora temos duas pessoas. Qual delas é você? Ou você seria as duas pessoas? Ou você não seria nenhuma delas?
Materialismo
O problema do dualismo é fazer referência a uma entidade não observável e também não explica como mente e corpo estão ligados (problema do Descartes).
No materialismo, tudo se resume ao cérebro. Um processo mental é simplesmente um processo cerebral. Essa é a tese da identidade mente-cérebro. Mas será que é só isso mesmo?
Materialismo
Como a minha mente se reduz ao cérebro? O que eu penso parece muito diferente do que acontece nas minhas conexões neurais!
Talvez a equivalência esteja na informação. Talvez meu cérebro seja apenas um computador que interpreta os sinais do sistema nervoso como bits.
Materialismo
Mas ainda assim computadores e cérebro parecem muito diferentes...
Vamos supor que um cérebro pode ser modelado em termos de computadores. Também podemos fazer o contrário: construir um computador que se comporte exatamente como um cérebro?
Inteligência Artificial
Simular uma inteligência lógica e quantitativa em computadores não é muito difícil.
Mas será que conseguimos simular outros aspectos da inteligência humana?
Inteligência Artificial
No Teste de Turing, a inteligência artificial é avaliada quando uma pessoa não consegue descobrir que está trocando palavras com uma máquina.
Se a tecnologia avançar o suficiente, será que poderemos interagir com robôs do mesmo jeito que interagimos com pessoas?
Inteligência Artificial
Ou será que há um limite para a capacidade dos robôs em simular o comportamento humano? Esse tema já foi trabalhado em várias obras de ficção.
Inteligência Artificial
Mesmo que uma máquina simule bem o comportamento humano, talvez ainda falte alguma coisa.
O problema do quarto chinês, elaborado por John Searle, trata disso.
Consciência
Se apenas o comportamento não pode nos garantir a existência de uma mente, então como podemos garantir que outras pessoas possuem mentes? A consciência parece muito subjetiva.
Consciência
De fato, uma corrente da psicologia chamada comportamentalismo (ou behaviorismo) considera que a mente humana só pode ser estudada em termos de comportamento. O que ocorre na consciência de uma pessoa é totalmente misterioso.
Consciência
Mas, afinal, existe ou não algo além do cérebro ou do comportamento?
Como dissemos, a consciência parece algo muito subjetivo. Talvez o papel da consciência tenha a ver com nossas próprias percepções.
Consciência
Podemos perceber muitas coisas. Algumas propriedades são qualitativas (qualia) como cores, sons, cheiros, sabores, etc.
Essas percepções podem se reduzir às atividades cerebrais ou existe algo mais? Frank Jackson, filósofo australiano, discutiu isso com o exemplo do quarto de Mary.
Consciência
Se as sensações e percepções são tão subjetivas, será que percebemos a mesma coisa? A cor que eu vejo é a mesma cor que você vê?
Consciência
Se as percepções são aquilo que nosso cérebro traduz sobre o mundo exterior, como podemos garantir que nosso cérebro mostra o mundo como realmente é? Será que nossas experiências sensoriais não podem ser falsas?
Consciência
Para o filósofo Nick Bostrom, a probabilidade de vivermos em um mundo simulado é relativamente alta.
Inconsciente
Além daquilo que estamos conscientes, nossa mente também trabalha com muitos aspectos inconscientes.
Um dos pioneiros sobre o tema do inconsciente foi o pai da psicanálise Sigmund Freud.
Inconsciente
Para Carl Jung, um ex-seguidor de Freud, o inconsciente vai além do indivíduo. Certos símbolos são universais (os arquétipos). Daí surge o conceito de inconsciente coletivo.
Inconsciente
Mas não preciso estar dormindo ou desmaiado para estar inconsciente.
Posso estar hipnotizado e fazer coisas por sugestão do hipnotizador sem perceber.
Também posso sofrer de mudança de personalidade.
Outros Problemas
Há muitas outras questões envolvendo a mente.
Uma delas seria: a mente afeta a realidade física?
Para algumas interpretações da física quântica a resposta é sim.
Outros Problemas
Uma questão é: quando a consciência começa a existir?
Ela nasce junto com a vida ou apenas em conjunto com o sistema nervoso?
Se a consciência não se reduzir ao sistema nervoso, como isso afeta a questão do aborto?
Outros Problemas
Outra questão: há níveis de consciência entre os animais?
Por que toleramos o abate de alguns animais e não de outros?
Conclusões
Temos muitas perguntas e praticamente nenhuma resposta conclusiva (como tudo em filosofia!). Porém, podemos dar alguns argumentos possíveis para tentar respondê-las.
Continue pensando...
Referências
David Papineau & Howard Selina, “Introducing Consciousness: A Graphic Guide”, Londres: Icon Books, 2010
Eric Matthews, “Mente: Conceitos-chave em filosofia”, Michelle Tse (Trad.), Porto Alegre: Artmed, 2007.
Frank Jackson, “What Mary Didn't Know?”, The Journal of Philosophy, v. 83, n. 5, 1986, pp. 291-295.
John Searle, “Minds, brains and programs”, Behavioral and Brain Sciences, v. 3, n. 3, 1980, pp. 417-457.
Linda D. Davidoff, “Introdução à Psicologia”, Lenke Peres (Trad.), São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
Nick Bostrom, “Are we living in a computer simulation?”, Philosophical Quaterly, v. 53, n. 211, 2003, pp. 243-255.
Nigel Benson, “Introducing Psychology: A Graphic Guide”, Londres: Icon Books, 2007.
Stephen Law, “Guia Ilustrado Zahar: Filosofia”, Maria Luiza Borges (Trad.), Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, pp. 123-137.
Theodore Sider, “Identidade Pessoal”. In: Earl Conee e Theorode Sider, Enigmas da Existência: Uma visita guiada à metafísica, Vítor Guerreiro (Trad.), Lisboa: Bizâncio, 2010.