Filme nacional

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Filme Nacional Ossos Realizador: Pedro Costa Ano: 1997 Género: Ficção/documental Opinião: «Ossos» centra-se num casal de jovens, residentes num ghetto - o Bairro das Fontaínhas, em Lisboa -, que adquirem a condição depais no início do filme. Ele anda com o filho pela cidade, tenta mendigar e depois acha que o melhor é vender o filho. Ela (Lipkina) parece sentir muito a falta dele, ao ponto de ter uma certa tendência para deixar o gás aberto. Uma enfermeira (Ruth) parece querer ajudar toda a gente que lhe aparece pela frente. «Ossos» não mostra propriamente a vida destes desfavorecidos. Mostra-nos o cenário, mostra-nos os personagens a andar de um lado para o outro, mas não os mostra, de facto, a tentar suportar o dia-a-dia. A aproximação é muito abstracta. O filme de Pedro Costa parece estar apenas fascinado com o olhar dos personagens. Poderá não o ser na realidade, mas, visto o filme, fica a sensação de que será constituído maioritariamente por planos dos actores olhando fixamente um ponto, situado quase sempre a cerca de 45 graus por detrás da câmara. O realizador possivelmente iniciava as filmagens dizendo "acção... olhem para aqui." Mas, porque são aquelas pessoas tão introspectivas, em que pensam elas quando assim se deixam ficar a olhar? Os diálogos são muito escassos, e não têm a particularidade de exprimir algo por poucas palavras. Na realidade, não parecem exprimir nada de especial, e, quem sabe, o filme fosse mais sugestivo, no plano artístico, se se tivesse optado pela ausência total de diálogos.

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Page 1: Filme nacional

Filme Nacional

Ossos

Realizador: Pedro Costa

Ano: 1997

Género: Ficção/documental

Opinião:

«Ossos» centra-se num casal de jovens, residentes num ghetto - o Bairro das

Fontaínhas, em Lisboa -, que adquirem a condição depais no início do filme. Ele anda

com o filho pela cidade, tenta mendigar e depois acha que o melhor é vender o filho.

Ela (Lipkina) parece sentir muito a falta dele, ao ponto de ter uma certa tendência para

deixar o gás aberto. Uma enfermeira (Ruth) parece querer ajudar toda a gente que lhe

aparece pela frente.

«Ossos» não mostra propriamente a vida destes desfavorecidos. Mostra-nos o

cenário, mostra-nos os personagens a andar de um lado para o outro, mas não os

mostra, de facto, a tentar suportar o dia-a-dia. A aproximação é muito abstracta. O

filme de Pedro Costa parece estar apenas fascinado com o olhar dos personagens.

Poderá não o ser na realidade, mas, visto o filme, fica a sensação de que será

constituído maioritariamente por planos dos actores olhando fixamente um ponto,

situado quase sempre a cerca de 45 graus por detrás da câmara. O realizador

possivelmente iniciava as filmagens dizendo "acção... olhem para aqui." Mas, porque

são aquelas pessoas tão introspectivas, em que pensam elas quando assim se deixam

ficar a olhar? Os diálogos são muito escassos, e não têm a particularidade de exprimir

algo por poucas palavras. Na realidade, não parecem exprimir nada de especial, e,

quem sabe, o filme fosse mais sugestivo, no plano artístico, se se tivesse optado pela

ausência total de diálogos.

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Na minha opinião este filme suporta, simultaneamente, duas visões tradicionalmente

opostas. Neste filme mostra-se como se ultrapassou um tempo histórico e social.

Como a comunidade na qual nos inserimos já é outra. Como já não se situa no ponto

exacto onde cada um de nós ainda a concebe. A ficção fílmica alastrou a toda a

geografia portuguesa e, nisso, o filme tem também força documental.

Outros projetos de longa metragem:

Ne Change Rien (2009)

Juventude em Marcha (2006)

Onde jaz o teu sorriso? (2001)

No Quarto da Vanda (2000)

Ossos (filme) (1997)

Casa de Lava (1994)

O Sangue (1989)