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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

TÍTULO: GÊNERO CRÔNICA: INCENTIVO À LEITURA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)

Autor: Marlene de Almeida Cardoso

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

CEEBJA Mandaguaçu, rua Bernardino Bogo, 39

Município da escola Mandaguaçu – Pr.

Núcleo Regional de Educação

Maringá – Pr.

Professor Orientador Profª. Drª. Tânia Braga Guimarães.

Instituição de Ensino Superior

Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Resumo

Partindo do princípio que ler é compreender melhor o mundo em que se vive, é adquirir e ampliar conhecimentos, logo, para a formação de leitores não basta que os indivíduos aprendam a ler, é preciso desenvolver neles o hábito de ler. Assim, esta sequência didática tem como objetivo proporcionar aos educandos da EJA de Mandaguaçu, a leitura de crônicas a fim de despertá-los para a leitura como um hábito. Para tanto, serão utilizadas algumas estratégias de leitura propostas por Isabel Solé, pois se entende que as práticas de ensino de leitura constituídas na escola, precisam avançar nas questões estratégicas para capacitar o educando na compreensão e interpretação de textos de forma autônoma e significativa. As estratégias de leitura são ferramentas necessárias para desenvolver nos educandos a leitura proficiente. Para isso, os procedimentos metodológicos envolverão estratégias de leitura que contemplam a ativação dos conhecimentos prévios dos educandos, a

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interação por meio de discussão sobre os temas tratados nas crônicas lidas relacionando-os aos fatos da atualidade, atividades escritas envolvendo estudo dos textos e finalizando com a produção de uma crônica.

Palavras-chave Leitura; Estratégias de leitura; Educando; Compreensão; Crônica.

Formato do Material Didático

Sequência Didática

Público Alvo Alunos do Ensino Médio (EJA)

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1 INTRODUÇÃO

A leitura é uma ferramenta imprescendível na formação do ser humano, é

a ponte que o leva à aquisição de conhecimentos que ampliam sua visão de

mundo, promovendo seu desenvolvimento pessoal e social, capacitando-o a

interagir no mundo de maneira mais crítica e consciente.

No entanto, muitas lacunas são deixadas em toda a trajetória da vida

escolar dos alunos que precisam ser preenchidas por meio de estratégias de

leitura que lhes permitam um crescimento intelectual significativo. Cagliari (2009,

p. 130) considera a leitura como a extensão da escola na vida das pessoas, e

enfatiza que “a maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido

através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer

diploma”.

Dessa forma, acredita-se que hoje o ensino-aprendizagem de leitura pela

perspectiva dos gêneros, reposiciona o verdadeiro papel do professor de Língua

Materna, pois não pode mais ser concebido como um especialista em leitura de

textos literários ou científicos, os quais ficam distantes da realidade e da prática

textual do aluno, principalmente quando se trata da Educação de Jovens e

Adultos (EJA), mas como um professor nas diferentes modalidades textuais, orais

e escritas de uso social.

A responsável pela alfabetização do indivíduo é a escola, pois é a ela que

“a sociedade delega a responsabilidade de prover as novas gerações das

habilidades, conhecimentos, crenças, valores e atitudes considerados essenciais

à formação de todo e qualquer cidadão” (SOARES, 2004, p. 84).

Assim, para a formação de leitores não basta que os indivíduos aprendam

a ler, é preciso desenvolver neles o hábito de ler. Ler é compreender melhor o

mundo em que se vive, é adquirir e ampliar conhecimentos.

Nesse contexto, é fundamental que ocorra a compreensão, interação e

produção de sentidos em um texto lido. Para isso, no ensino-aprendizagem da

leitura é de suma importância os critérios utilizados na escolha de textos a serem

trabalhados, bem como das estratégias de leitura.

Por se tratar de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o público

é heterogêneo em relação à faixa etária, expectativas e objetivos. Portanto, faz-se

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necessário encontrar uma dinâmica no trabalho com a leitura em sala de aula

com textos que tornem essa prática prazerosa.

A partir dessa realidade e da constatação de que textos que apresentam

construções linguísticas e uma estrutura um pouco mais complexa são rejeitados

pelos alunos, a sequência didática a ser desenvolvida nesse trabalho será

composta de atividades de leitura com o gênero textual, “crônica”, utilizando

algumas estratégias de leitura fundamentadas no referencial teórico apresentado

por Solé (1998). A escolha do gênero crônica deve-se ao fato de se tratar de

textos que abordam temáticas do cotidiano; são textos curtos, construídos com

uma linguagem simples e, portanto, próximos da oralidade e do contexto social e

cultural dos alunos. O que corrobora com o argumento de Paulo Freire (1981, p.

8): “Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se e, antes de mais nada, aprender a

ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de

palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade”.

Utilizar a crônica como gênero textual em sala de aula poderá ajudar na

formação de leitores, pois ela possibilita ao leitor a dialogar com o texto, além de

acrescentar aos episódios do cotidiano, o lirismo, o humor, o drama, os elementos

ficcionais. Ainda, a crônica, geralmente deixa uma fresta aberta ao imaginário do

leitor, trazendo sentido e enriquecendo a arte da leitura.

As estratégias de leitura, segundo Solé (1998), são as ferramentas

necessárias para o desenvolvimento da leitura proficiente. Sua utilização permite

compreender e interpretar de forma autônoma os textos lidos e pretende

despertar o professor para a importância em desenvolver um trabalho efetivo no

sentido da formação do leitor independente, crítico e reflexivo.

Diante desses pressupostos, acredita-se que esse trabalho com a leitura

utilizando o gênero textual “crônica”, contribuirá para o desenvolvimento do hábito

e gosto pela leitura dos alunos da EJA de Mandaguaçu.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Proporcionar aos educandos a leitura de crônicas a fim de despertá-los

para a leitura como um hábito.

2.2 Específicos

- Apresentar o gênero crônica;

- Fazer a leitura de três crônicas;

- Discutir os temas e aplicar as estratégias de leitura de Solé.

3 GÊNEROS TEXTUAIS

A expressão “gênero” esteve na tradição ocidental, especialmente ligada

aos (gêneros literários), cuja análise se inicia com Platão para se firmar com

Aristóteles, passando por Horácio e Quintiliano, pela Idade Média até os

primórdios do século XX (MARCUSCHI, 2000).

No contexto educacional da atualidade, ouve-se muito falar no processo

ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa por meio dos gêneros discursivos,

dando-se a impressão de que o estudo do gênero seja uma prática recente e

inovadora. Como se pode constatar, estudo dos gêneros existe há muitos

séculos:

O estudo dos gêneros textuais não é novo e, no Ocidente, já tem pelo menos vinte e cinco séculos, se considerarmos que sua observação sistemática iniciou-se com Platão. O que hoje se tem é uma nova visão do mesmo tema. Seria gritante ingenuidade histórica imaginar que foi nos últimos decênios do século XX que se descobriu e iniciou o estudo dos gêneros textuais. Portanto, uma dificuldade natural no tratamento desse tema acha-se abundância e diversidade das fontes e perspectivas de análise. Não é possível aqui realizar um levantamento sequer das perspectivas teóricas atuais (MARCUSCHI, 2008, p.147).

Marcuschi (2008) defende a tese de que o texto e gênero estão

interligados, pois assim como há impossibilidade de se comunicar verbalmente

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sem a presença de algum texto, também é impossível não se comunicar

verbalmente por algum gênero. Sendo que só é possível ocorrer comunicação por

meio de um gênero textual.

Na concepção de Bakhtin (2000), há uma relação entre a variedade que

existe no caráter e modo da utilização da língua e na esfera da atividade humana.

Sendo que o uso da língua materializa-se em forma de enunciados envolvendo

conteúdo temático, estilo e construção composisicional. O autor ressalta ainda

que a comunicação oral é realizada por meio de gêneros no interior de uma dada

esfera de atividade humana:

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa (BAKHTIN, 2000, p. 279).

Para Bakhtin (1992), os tipos relativamente estáveis de enunciados são

denominados gêneros discursivos. Assim, na visão do teórico, os textos não são

aprisionados em determinadas propriedades formais considerando a mobilidade,

a dinâmica, fluidez e a imprecisão da linguagem:

O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, para seleção operada nos recursos da língua - recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional). Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles são marcados pala especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente, é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso (BAKHTIN, 1992, p. 279).

Então, pode-se argumentar que na visão Bakhtiniana, um gênero textual

nasce em função da prática social e é determinado pelas condições

concretamente dadas nas atividades comunicativas por meio das relações

humanas. Para Marcuschi (2002) o gênero textual também é fruto de trabalho

coletivo, pois o mesmo contribui no ordenamento e estabilização das atividades

comunicativas cotidianas.

Por isso, trabalhar os gêneros textuais em sala de aula é uma excelente

oportunidade de se lidar com a língua nos seus mais diversos usos do cotidiano.

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Como enfatiza Marcuschi (2002), a ideia de trabalhar com gêneros é uma forma

de dar conta do ensino.

3.1 O Gênero Textual Crônica

A palavra gênero vem ao longo do tempo sendo empregada para

identificar os gêneros clássicos: o lírico, o épico, o dramático e os modernos,

como o romance, a novela, o conto, o drama etc.

A história da crônica no Brasil está ligada ao projeto de formação de uma

literatura brasileira no século XIX. O compromisso romântico de fundação de uma

literatura nacional pode ser notado nos nossos primeiros folhetins publicados nos

jornais da época, dos quais a crônica é uma variante. No geral, tratava-se de uma

produção engajada na construção da literatura brasileira enquanto “sistema”, ou

seja, como conjunto de obras que formam uma tradição literária e que possuem

entre si denominadores comuns:

Estes denominadores são, além das características internas, (língua tema, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização. Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes de seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros (CANDIDO, 1997, p. 25)

Como assinala Antonio Candido (1992), a crônica é um texto

despretensioso, próximo do leitor e de sua sensibilidade cotidiana. Sem

pretensões de durar, “uma vez que é filha do jornal e da era da máquina”, é um

produto que nasce predestinado à efemeridade. Justamente por isso, traz em si

uma durabilidade maior do que a imaginada, pois aproxima a literatura do dia-a-

dia do leitor.

O sentido “maior” da crônica, aparentado à História, vai-se apequenando

para os limites do cotidiano, para as pequenas coisas do dia a dia, para os

acontecimentos de mera importância local. Às vezes, mesmo para os boatos e

fofocas, assumindo a crônica também a acepção de biografia escandalosa. Neste

manuseio da matéria do cotidiano, a crônica representa uma criação brasileira.

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Antonio Candido em “A vida ao rés-do-chão” é esplêndido quando fala sobre a

trajetória brasileira da crônica:

No Brasil ela tem uma boa história, e até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e a originalidade com que aqui se desenvolveu. Antes de ser crônica propriamente dita foi “folhetim”, ou seja, um artigo de rodapé sobre as questões do dia – políticas, sociais, artísticas, literárias. Assim eram os da secção “Ao correr da pena”, título significativo a cuja sombra José de Alencar escrevia semanalmente para o Correio Mercantil, de 1854 a 1855. Aos poucos o “folhetim” foi encurtando e ganhando certa gratuidade, certo ar de quem está escrevendo à toa, sem dar muita importância. Depois, entrou francamente pelo tom ligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje (CANDIDO, 1997, p. 7).

Com este sentido, Antonio Candido ratifica as ideias e afirma que a

crônica é um gênero ao rés-do-chão “Graças a Deus”, por ser assim são

consumidas diariamente em quantidade muito maior do que qualquer outro

gênero literário, embora carreguem, como estigma, um certo déficit de prestígio,

como se naturalmente lidas para o esquecimento. É uma espécie de janela dos

fatos; pela crônica, respiramos um pouco da massa opaca de acontecimentos e

também não nos entregamos à lógica pura do comentário objetivo é um gênero

que se caracteriza pelo texto curto que estiliza uma linguagem simples, quase que

coloquial aparecendo às vezes com um tom lírico, outras com certo humor, que

varia do irônico ao mais sarcástico (CANDIDO, 1997).

Segundo o crítico Jorge de Sá (1985), a crônica é um gênero literário que

permite várias formas composicionais: do discurso político ao diário confessional;

do humorismo ao lirismo reflexivo; da sátira de costumes à crítica mordaz. Essa

variedade composicional constituída pelo humor, pelo lirismo, pela paródia, pelo

pitoresco, e, pela crítica, forma os aspectos fundamentais da crônica.

A crônica permite um conhecimento para a vida, ao mesmo tempo que

possibilita a humanização entre as relações pessoais por meio dos temas que em

sua grande maioria tratam de questões “epidérmicas”, associadas à realidade

como: amor, preconceito, sexualidade, ética, valores, política, entre outros temas

sociais.

Esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar, com a outra mão, certa profundidade de significado e certo acabamento de forma que, de repente, podem fazer dela uma inesperada, discreta,candidata à perfeição. (CANDIDO, 1992, p. 13).

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Antonio Candido (1992, p. 13) ressalta a condição de comentário leve,

apresentando a crônica como “composição aparentemente solta”, com “ar de

coisa sem necessidade”, que “se ajusta à sensibilidade de cada dia”.

Pode-se afirmar então, que existe uma magia na construção linguística da

crônica, na medida em que o autor lança mão de um olhar apurado e de sua

sensibilidade, que possibilita o leitor viajar nas palavras e simplicidade dos fatos

que acabam por ganhar uma expressiva dimensão.

4 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n. 9394/96, em

seu artigo 37, prescreve que “a Educação de Jovens e Adultos, será destinada

àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino

Fundamental e Médio na idade própria”.

Sendo assim, tem-se uma diversidade no perfil dos educandos nessa

modalidade de ensino, relacionada ao nível de escolarização, à idade, à situação

socioeconômica e, principalmente, às perspectivas pelas quais busca a escola.

As Diretrizes Curriculares para a Educação de jovens e Adultos (2006),

orientam a organização curricular de todas as escolas do Paraná que ofertam

essa modalidade, buscando manter as características que atendem melhor o

perfil dos educandos.

A proposta pedagógico-curricular da EJA, vigente a partir de 2006,

contempla cem por cento da carga horária total na forma presencial, com

avaliação no processo. A matrícula é feita por disciplina e pode se dar na

organização coletiva ou individual. A organização coleliva se destina,

preferencialmente aos que podem frequentar com regularidade as aulas,

enquanto que a organização individual destina-se, de preferência aos que não

podem frequentar com regularidade as aulas.

Sendo assim, o trabalho pedagógico com a EJA deve contemplar a cultura,

o trabalho e o tempo, como eixos articuladores. Os conteúdos são os mesmos do

ensino regular nos níveis Fundamental e Médio, porém, com encaminhamento

metodológico diferenciado considerando as espeficidades dos educandos.

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Nesta perspectiva, as Diretrizes Curriculares da EJA enfrenta o desafio em

apresentar propostas aplicáveis num contexto de flexibilidade na estrutura, capaz

de contemplar inovações que tenham conteúdos significativos, respeitando o

ritmo de cada um no processo de apropriação dos saberes.

5 REALIDADE NA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Nesse trabalho, será desenvolvida uma sequência didático-pedagógica

composta por módulos. Tendo como público-alvo os alunos do Ensino Médio da

EJA, matriculados na disciplina de Língua Portuguesa, período noturno,

organização coletiva, no CEEBJA de Mandaguaçu.

Como já comentado, o objetivo principal desse trabalho é proporcionar aos

educandos a leitura de crônicas com a finalidade de despertar o gosto e

consequentemente o hábito da leitura.

Para isso, os alunos terão oportunidade de desenvolver a leitura de três

crônicas organizadas em três módulos, apresentando temas e formas

composicionais diversificadas utilizando procedimentos metodológicos de leitura

envolvendo atividades de pré-leitura que visa ativar os conhecimentos prévios e

estabelecer previsões. Durante a leitura poderão confirmar ou refutar suas

previsões e hipóteses levantadas, bem como trocar informações e estabelecer

relações entre os fatos da crônica com problemas da atualidade, e finalmente,

fechando com um estudo do texto por meio de questões escritas.

Os alunos terão ainda a oportunidade de realizar pesquisas de outras

crônicas, as quais levarão para sala de aula com a finalidade de leitura livre e

socialização entre os colegas da turma.

Nessa perspectiva, o trabalho com o gênero textual crônica atenderá às

necessidades dos educandos, por meio das atividades sequenciais e

estratégicas, levando-os a uma maior compreensão para a interpretação de textos

de forma autônoma e significativa, tornando-os sujeitos ativos no processo, logo,

formando leitores competentes que sintam prazer e gosto pela leitura.

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6 MÓDULOS DIDÁTICOS

6.1 Módulo I

1. A primeira etapa deste módulo terá como objetivo identificar o grau de

conhecimento que os alunos já possuem sobre o gênero crônica promovendo

uma discussão oral por meio das seguintes questões:

Vocês sabem o que é uma crônica?

Vocês sabem onde as crônicas são publicadas?

Vocês se lembram de alguma crônica que já leram?

Quem era o autor?

Quem sabe o nome de algum cronista?

Qual outro gênero discursivo possui semelhança com a crônica?

Discutidas as questões, na sequência serão apresentados os aspectos

próprios do gênero em estudo, seus elementos estruturais, literários e sua esfera

de circulação.

Vamos conhecer um pouco a crônica?

A crônica é um gênero narrativo. A origem da palavra vem do grego:

(chronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica,

e trata de temas da atualidade.

Geralmente a crônica é um texto curto, apresenta linguagem simples,

próxima da linguagem oral. Expõe os problemas do cotidiano, assuntos comuns

do dia a dia. As personagens são apresentadas em traços rápidos e sem nome ou

com nomes genéricos.

Há na crônica inúmeros fatos corriqueiros, aparentemente banais que

adquirem prestígio na medida em que o autor coloca sua subjetividade e sutileza

na construção da linguagem, tornando-os atrativos e muitas vezes até divertidos.

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Nesse gênero, dependendo do tema abordado, o autor trabalha com

construções linguísticas deixando implícita uma crítica social para o leitor refletir

ou simplesmente para entreter e divertir com sua dose de humor.

O gênero crônica permite várias formas composicionais, sendo

apresentado na forma de diálogo, geralmente constituído de humor; na forma

poética envolvendo o lirismo reflexivo; na forma narrativa ou dissertativa tecendo

críticas ou reflexões sobre problemas sociais da atualidade.

Sua publicação acontece em jornal ou revista, tendo como pressuposto

um leitor urbano, justificando assim a preocupação do cronista em dar mais

atenção aos assuntos que tratam de problemas do dia a dia da vida urbana,

comuns nas grandes cidades.

Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no

tempo.

2. A segunda etapa consiste na atividade de leitura, e para que haja

motivação, compreensão e consequentemente prazer, propõe-se a leitura de uma

crônica do autor Moacyr Scliar – Tormento não tem idade.

Atividades para a “pré-leitura”

Ativar os conhecimentos prévios dos alunos fazendo um levantamento do

que já sabem e o que precisam saber sobre o tema, formulando hipóteses,

estabelecendo previsões a partir do título do texto propondo a discussão oral das

seguintes questões:

O que será que este título quer dizer?

O que seria esse “Tormento”?

Sobre o que vocês acham que irá tratar o texto?

Vocês acham que esse texto possui personagens?

Se possui personagens, quem seriam e qual a idade deles?

O professor poderá registrar no quadro as possíveis previsões e hipóteses

levantadas pelos alunos.

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Realizada a discussão, entregar aos alunos uma cópia do texto a ser lido

solicitando leitura individual e silenciosa. Antes da leitura o professor poderá

discutir a forma composicional do texto.

Abaixo apresenta-se a crônica:

Tormento não tem idade

Meu filho, aquele seu amigo, o Jorge, telefonou.

- O que é que ele queria?

- Convidou você para dormir na casa dele, amanhã.

- E o que é que você disse?

- Disse que não sabia, mas que achava que você iria aceitar o convite.

- Fez mal, mamãe. Você sabe que odeio dormir fora de casa.

- Mas meu filho, o Jorge gosta tanto de você...

- Eu sei que ele gosta de mim. Mas eu não sou obrigado a dormir na casa dele

por causa disso, sou?

- Claro que não. Mas...

- Mas o que, mamãe?

- Bem, quem decide é você. Mas, que seria bom você dormir lá, seria.

- Ah, é? E por quê?

- Bem, em primeiro lugar, o Jorge tem um quarto novo de hóspedes e queria

estrear com você. Ele disse que é um quarto muito lindo. Tem até tevê a cabo.

- Eu não gosto de tevê.

- O Jorge também disse que queria lhe mostrar uns desenhos que ele fez...

- Não estou interessado nos desenhos do Jorge.

- Bom. Mas tem mais uma coisa...

- O que é, mamãe?

- O Jorge tem uma irmã, você sabe. E a irmã do Jorge gosta muito de você. Ela

mandou dizer que espera você lá.

- Não quero nada com a irmã do Jorge. É uma chata.

- Você vai fazer uma desfeita para a coitada...

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- Não me importa. Assim ela aprende a não ser metida. De mais a mais você sabe

que eu gosto da minha cama, do meu quarto. E, depois, teria de fazer uma

maleta com pijama, essas coisas...

- Eu faço a maleta para você, meu filho. Eu arrumo suas coisas direitinho, você

vai ver.

- Não, mamãe. Não insista, por favor. Você está me atormentando com isso. Bem,

deixe eu lhe lembrar uma coisa, para terminar com essa discussão: amanhã eu

não vou a lugar nenhum. Sabe por que, mamãe? Amanhã é meu aniversário.

Você esqueceu?

- Esqueci mesmo. Desculpe, filho.

- Pois é. Amanhã estou fazendo 50 anos. E acho que quem faz 50 anos tem o

direito de passar a noite em casa com sua mãe, não é verdade?

(Moacyr Scliar. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, p. 173-4.)

Concluída a leitura, verificar as hipóteses e previsões levantadas

anteriormente confirmando ou refutando-as.

Realizar novamente a leitura a do texto, desta vez podendo ser uma

leitura compartilhada em que alunos e professor participam relacionando o

conteúdo lido aos conhecimentos prévios dos alunos e acrescentando as novas

informações proporcionado uma ação interativa.

Propor uma recapitulação do texto lido identificando as ideias principais,

contextualizando o tema tratado e finalmente fazer um resumo.

3. A terceira etapa consiste numa breve apresentação do autor Moacyr

Scliar e origem do texto lido.

Conhecendo o Autor

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS) no dia 23/03/1937. Sua

mãe, professora primária, foi quem o alfabetizou. Em 1962, publicou seu primeiro

livro, “Histórias de um Médico em Formação”.

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Fonte: www.releituras.com/mscliar_bio.asp

A partir daí não parou mais. São mais de 67 livros

abrangendo o romance, a crônica, o conto, a

literatura infantil, o ensaio, pelos quais recebeu

inúmeros prêmios literários.Suas obras foram

traduzidas para doze idiomas. Colaborou com

diversos dos principais meios de comunicação da

mídia imprensa (Folha de São Paulo e Zero Hora).

Em 31 de julho de 2003 foi eleito par a Academia

de Letras, na cadeira nº. 31. O escritor faleceu no

dia 27/02/2011, em Porto Alegre (RS), vítima de

falência múltipla de órgãos.

Origem da Crônica

O texto “Tormento não tem idade”, foi criado a partir de uma

reportagem. Leia um trecho que serviu de inspiração para o autor Moacyr Scliar:

Dormir fora de casa pode ser tormento (Mirna Feitosa)

A euforia de dormir na casa do amigo é tão comum entre algumas crianças quanto o pavor de outras de passar uma noite longe dos pais. E, ao contrário do que as famílias costumam imaginar, ter medo de dormir fora de casa não tem nada a ver com a idade. Assim como há crianças de três anos que tiram essas situações de letra, há pré-adolescentes que chegam a passar mal só de pensar na idéia de dormir fora, embora tenham vontade.

Os especialistas dizem que esse medo é comum. A diferença é que algumas crianças têm mais dificuldade para lidar com ele. “Para o adulto, dormir fora de casa pode parecer algo muito simples, mas, para a criança não é, porque ela tem muitos rituais, sua vida é toda organizada, ela precisa sentir que tem controle da situação”, explica o psicanalista infantil Bernardo Tanis, do Instituto Sedes Sapientiae. Dormir em outra casa significa deparar com outra realidade, outros costumes. “É um desafio para a criança, e novas situações geram ansiedade e angústia”, afirma. [...]

(Folha de S. Paulo, 30/08/2001)

4. A quarta etapa desse módulo tem por finalidade fazer um estudo do

texto com questões escritas referentes à relação autor / leitor / texto que serão

entregues aos alunos.

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Estudo do texto

No início do texto, o leitor é levado a crer que o filho é uma criança ou adulto?

Por quê?

A mãe apresenta várias razões para tentar convencer o filho a aceitar o convite

do amigo. Cite algumas.

Como você supõe o estado civil do filho? Por quê?

Um dos argumentos usados pela mãe para convencer o filho com 50 anos a

aceitar o convite do amigo, deixa “pistas” que permitem imaginar que há uma

intenção por parte dela. Que argumento é esse? Qual seria essa intenção?

Quais características você atribuiria ao filho em relação aos hábitos, manias e

modo de vida?

Que fato apresentado no texto provoca surpresa e humor tornando a história

divertida?

Considerando o tema abordado e a organização da linguagem utilizada nessa

crônica, você concorda que se trata de um texto literário que tem por finalidade

entreter, divertir ou sensibilizar o leitor? Por quê?

Há nesse texto marcas da oralidade? Quais?

Que tipo de discurso é utilizado com predominância nessa crônica?

Quais características presentes no texto confirmam tratar-se de uma crônica?

Como já vimos, a crônica que você leu foi criada a partir de uma reportagem

que trata do medo de algumas pessoas de dormir fora de casa. E você tem

medo de dormir fora de casa? Por quê?

Quais são seus medos?

6.2 Modulo II

1. A primeira etapa deste módulo consiste na atividade de leitura da

crônica “Eu sei, mas mas não devia”, da autora Marina colasanti.

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Este texto, além de tratar de um tema que faz parte do cotidiano da vida

moderna, apresenta uma linguagem poética carregada de lirismo, sua forma

composicional difere-se da forma do texto lido no módulo anterior permitindo ao

professor interagir com alunos sobre esses aspectos em sua estrutura.

Antes da leitura da crônica, o professor deve conversar com os alunos

sobre o tema para acionar seus conhecimentos prévios com algumas questões

orais:

Qual é o conceito que você tem sobre o comportamento e o modo de vida das

pessoas nessa era da modernidade?

Na sua visão, hoje as pessoas vivem melhor do que antigamente? Por quê?

Como você imagina o dia a dia na vida das pessoas que moram nas cidades

grandes? È diferente das cidades pequenas? Por quê?

Quais são os fatores que influenciam esses modos de vida?

Você acha que no mundo contemporâneo as pessoas têm tempo para

contemplar a natureza?

Discutidas a questões, entregar aos alunos uma cópia do texto solicitando

uma leitura silenciosa. Antes da leitura o professor poderá solicitar aos alunos que

façam uma previsão sobre o que tratará o texto a partir do título.

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista

que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não

olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de

todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender

mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar,

esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A

tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não

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pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A

deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra,

aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números,

aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações

de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando

precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a

lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E

a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que

cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para

ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver

anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir

publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável

catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro

de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz

natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta

morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de

madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter

sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas,

tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma

revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um

pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no

resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de

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semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo

e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se

acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta,

para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se

gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti)

Conhecendo o Autor

Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde

então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e

histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também

por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de

Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zoológico, A

Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um

animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é

convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e

poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Depois da leitura da crônica, relacionar os novos conhecimentos aos

conhecimentos prévios dos alunos.

Realizar novamente a leitura do texto, desta vez poderá ser uma leitura

compartilhada em que o professor deve ajudar os alunos na compreensão global

do texto e numa ação interativa estabelecer relações entre os fatos da crônica

com os problemas atuais.

Concluída a leitura e a discussão sobre o tema abordado, os alunos

trabalharão de forma individual questões escritas envolvendo o estudo do texto.

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Estudo do texto

A crônica que você acabou de ler trata de uma questão relacionada ao

cotidiano da grande maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades

atualmente. Qual é essa questão?

Considerando o tema abordado, a que público se destina esta crônica?

No primeiro parágrafo a autora apresenta o fato do ser humano acostumar-se

a morar em apartamentos com janelas que têm vista para muros e paredes.

Em síntese a gente se acostuma:

a) à velhice, ao abandono.

b) à tristeza, à desilusão.

c) à clausura, ao isolamento.

d) à dor, à agonia.

e) à esperança, à ilusão

A cronista vai desenvolvendo o tema em cada parágrafo apresentando uma

relação de causas e consequências entre os fatos. Explicite quais são os fatos

e consequências apresentados no segundo parágrafo.

Em todo o texto de Marina Colasanti predomina:

a) amor à natureza e coisas simples da vida.

b) a esperança da recuperação da alegria de viver.

c) a incerteza sobre o destino do futuro do homem.

d) o repúdio irreverente ao progresso desumanizador.

e) o pessimismo fatalista quanto ao comportamento do homem.

Você concorda com o ponto de vista da autora quando ela diz que a gente se

acostuma a todos os fatos citados para nos proteger do sofrimento e preservar

a vida? Justifique sua resposta.

Há marcas de temporalidade neste texto? Explique.

Para desenvolver temas comuns ao dia a dia das pessoas os cronistas usam

uma linguagem bem coloquial, isto é, uma linguagem próxima à que usamos

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em situações comunicativas informais. Nessa crônica você observou a

presença de alguma palavra ou expressão com marcas da oralidade? Qual?

A autora repete a expressão “a gente se acostuma” em todos os parágrafos do

texto. Além de manter a unidade temática, qual sentido podemos atribuir à

repetição dessa expressão?

Afinal, acostumar-se tanto vale a pena? Comente.

Para finalizar esse módulo, propor aos alunos um trabalho em grupo para

a produção de cartazes com propagandas sobre as crônicas lidas para colocar no

mural da escola, incentivando os demais alunos da escola a lerem.

Considerando que este trabalho visa incentivar os educandos à leitura, propor

aos mesmos que pesquisem e tragam para sala de aula, crônicas encontradas

em revistas, jornais, livros ou sites da internet para leitura e socialização das

mesmas antes de iniciar o segundo módulo.

6.3 Módulo lll

1. A primeira etapa deste módulo consiste na leitura livre das crônicas

pesquisadas pelos alunos, as quais foram solicitadas no final do módulo anterior.

O objetivo desta atividade é despertar o gosto pela leitura por meio da

socialização das mesmas entre todos os educandos da sala de aula.

Após a leitura livre, cada aluno terá a oportunidade de expor suas ideias e

opiniões sobre os temas tratados em forma de seminário.

2. A segunda etapa consiste na leitura da crônica “Quero voltar a

confiar” do autor Arnaldo Jabor. Antes da leitura o professor deve promover uma

discussão sobre o tema a ser abordado no texto para acionar os conhecimentos

prévios dos alunos com as seguintes questões orais:

Como você define os conceitos: ética e moral?

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Você acha que na sociedade atual os princípios éticos e morais fazem parte do

convívio social?

O que seria necessário, em sua opinião, para o resgate de alguns valores que

estão se perdendo ao longo do tempo?

O que você acha dos Direitos Humanos preconizados na Constituição Federal

Brasileira?

Discutidas as questões, entregar uma cópia do texto para os alunos e

solicitar uma leitura silenciosa de forma individual.

Quero voltar a confiar Fui criado com princípios morais comuns: quando eu era pequeno, mães, pais,

professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e

consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável

responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou

autoridades... Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou

familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade... Tínhamos medo

apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror...

Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos. Por tudo o que

meus netos um dia enfrentarão. Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos

velhos e dos adultos.

Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos.

Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser

tonto... Anistia para corruptos e sonegadores... O que aconteceu conosco?

Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por

traficantes, grades em nossas janelas e portas. Que valores são esses?

Automóveis que valem mais que abraços, filhas querendo uma cirurgia como

presente por passar de ano. Celulares nas mochilas de crianças.

O que vais querer em troca de um abraço? A diversão vale mais que um diploma.

Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Mais vale uma maquiagem

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que um sorvete. Mais vale parecer do que ser... Quando foi que tudo desapareceu

ou se tornou ridículo?

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores! Quero me

sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão! Quero a

honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o

olhar olho-no-olho. Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a

esperança, a alegria, a confiança! Quero calar a boca de quem diz: "temos que

estar ao nível de...", ao falar de uma pessoa. Abaixo o "TER", viva o "SER" e

definitivamente bela, como cada amanhecer. E viva o retorno da verdadeira vida,

simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da

manhã! Quero ter de volta o meu mundo simples e comum.

Vamos voltar a ser "gente" onde existam amor, solidariedade e fraternidade como

bases. A indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito... Construir um

mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.

Utopia? Quem sabe?... Precisamos tentar... Quem sabe começando a

encaminhar ou transmitindo essa mensagem... Nossos filhos merecem e nossos

netos certamente nos agradecerão!

(Arnaldo Jabor)

Conhecendo o autor

Carioca nascido em 1940, o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor já foi técnico de

som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens. Na

década de 90, por força das circunstâncias ditadas pelo governo Fernando Collor

de Mello, que sucateou a produção cinematográfica nacional, Jabor foi obrigado

a procurar novos rumos e encontrou no jornalismo o seu ganha-pão. Estreou

como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde levou para a TV Globo,

no Jornal Nacional e no Bom Dia Brasil, o estilo irônico com que comenta os

fatos da atualidade brasileira.

http://www.paralerepensar.com.br/a_jabor.htm

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Concluída a leitura silenciosa da crônica, propor novamente a leitura do

texto, desta vez através de vídeo em power point

http://www.youtube.com/watch?v=4N_9m6cIzlA com recursos áudio visual.

Realizada essa atividade, pedir para relacionar os conhecimentos prévios

dos alunos aos novos conhecimentos adquiridos através das diferentes formas de

leitura.

Na terceira etapa, os alunos trabalharão em duplas ou de forma individual

questões escritas referentes à crônica lida.

Estudo do texto

Qual é o assunto tratado nessa crônica?

De acordo com o autor quais são os princípios morais comuns?

O autor começa o texto expondo uma realidade antiga. Que palavras no

primeiro parágrafo podem expressar esse tempo?

Em sua opinião, qual foi a intenção do cronista ao escrever esse texto?

O autor usa os termos ética e moral. Faça uma distinção entre eles.

“Construir um mundo melhor, mais justo e mais humano,onde as pessoas

respeitem as pessoas”. Diante deste trecho, o autor refere-se à quê?

Para você, o que seria necessário para construir um mundo melhor? Faça sua

lista de desejos para mudar nossa realidade.

Ao utilizar a expressão “olho no olho”, o autor sugere quais valores estão

sendo deixados de lado?

Há uma preocupação do autor em relação ao futuro. Qual é essa

preocupação?

Embora nesta crônica há predominância da forma composicional dissertativa,

o autor utiliza uma linguagem poética em alguns trechos do texto. Transcreva

esse trecho em que aparece o eu lírico do cronista.

Na frase: “Tínhamos medo apenas do escuro...” a palavra em negrito pode ser

substituída, sem alteração de sentido por:

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a) pelo menos

b) somente

c) também

d) ainda

Leia o trecho abaixo:

“E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de

primavera, leve como a brisa da manhã. E definitivamente bela como cada

amanhecer.”

Neste trecho do texto, ao se referir à verdadeira vida, o autor utiliza como

recurso linguístico uma figura de linguagem. Essa figura de linguagem é uma:

a) metáfora.

b) comparação.

c) antítese.

d) ironia.

Concluído o estudo do texto, para finalizar o trabalho, o professor deverá

propor aos alunos a produção individual de uma crônica relatando brevemente um

acontecimento simples do cotidiano, observando a forma composicional, as

características pertinentes ao gênero, selecionando recursos linguísticos

adequados à situação comunicativa. O professor, juntamente com os alunos,

deverá escolher a melhor crônica para sua publicação no jornal da região.

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