ficha de leitura 1

10
Modelos Conceptuais de Enfermagem Face à necessidade dos enfermeiros em clarificar os serviços que prestam à comunidade, os teóricos de enfermagem têm elaborado modelos conceptuais para a sua profissão. Estes modelos conceptuais orientam a prática de enfermagem, permitindo a descrição das actividades de cuidados e seus objectivos, mas servem igualmente de guia para a formação, investigação e gestão dos cuidados. É portanto, uma espécie de imagem mental, uma forma de representar a realidade da profissão de enfermagem. (SILVA, ?) Virginia Henderson “Virginia Henderson nasceu em 1987 e faleceu em 1996. Licenciou- se na Army School of Nursing, Washington, D.C., em 1921 e posteriormente especializou-se como enfermeira docente, tendo integrado o corpo docente da “Columbia school”, entre 1930 e

Transcript of ficha de leitura 1

Page 1: ficha de leitura 1

Modelos Conceptuais de Enfermagem

Face à necessidade dos enfermeiros em clarificar os serviços que prestam à

comunidade, os teóricos de enfermagem têm elaborado modelos conceptuais para a

sua profissão. Estes modelos conceptuais orientam a prática de enfermagem,

permitindo a descrição das actividades de cuidados e seus objectivos, mas servem

igualmente de guia para a formação, investigação e gestão dos cuidados. É portanto,

uma espécie de imagem mental, uma forma de representar a realidade da profissão de

enfermagem. (SILVA, ?)

Virginia Henderson

“Virginia Henderson nasceu em 1987 e faleceu em 1996. Licenciou-se na Army School

of Nursing, Washington, D.C., em 1921 e posteriormente especializou-se como

enfermeira docente, tendo integrado o corpo docente da “Columbia school”, entre 1930

e 1940. Escreveu e editou várias versões do livro” The Principles and Practice of

Nursing” (IPO LISBOA, 2007).

Considerada uma enfermeira de grande prestígio internacional, reconhecida pelo seu

esforço em clarificar as funções do profissional de enfermagem.

Publicou um modelo conceptual dos cuidados de enfermagem, baseando-se no

conhecimento e na satisfação das necessidades do indivíduo, em relação ao

desenvolvimento óptimo da sua independência. (SANTOS et al., 2003).

Em 1956, Virginia Henderson define a função dos enfermeiros como sendo a de

assistir o indivíduo, doente ou são, na realização das actividades que contribuem para

a sua saúde ou a sua recuperação (ou para a morte tranquila), que ele realizaria sem

Page 2: ficha de leitura 1

auxílio se para tal tivesse a força, a vontade e/ou o conhecimento necessários.

Fazendo isto de modo a ajudá-lo a conquistar a independência tão rapidamente

quanto possível (IPO LISBOA, 2007). Assim, o enfermeiro é aquele que ajuda e/ou

substitui o indivíduo naquilo que ele não é capaz de fazer, ou porque não pode,

não consegue ou não sabe.

Pressupostos teóricos

- “Tanto o enfermeiro como a pessoa valorizam a independência sobre a dependência;

- A saúde tem um significado social bem como um significado individual;

- Toda a pessoa tende a alcançar o mais alto nível de saúde ou, na sua

impossibilidade, uma morte serena;

- Quando a pessoa tem conhecimento, força e/ou vontade tende a alcançar a saúde;

- Tanto a pessoa como o enfermeiro devem definir objectivos congruentes;

- Os cuidados de enfermagem devem basear-se na satisfação de 14 necessidades

básicas;

- O enfermeiro deve ter em conta o plano terapêutico prescrito pelo médico ao definir

os objectivos dos cuidados;

- A prática profissional do enfermeiro deve basear-se nos contributos gerados pela

investigação em enfermagem/conhecimentos” (IPO LISBOA, 2007).

Como referi no sexto pressuposto, Virginia Henderson atribui ao ser humano catorze

necessidades fundamentais, inter-relacionadas, e cuja satisfação varia de indivíduo

para indivíduo, de acordo com a dimensão bio-fisiológica e psico-sócio-cultural. (IPO

LISBOA, 2007; SANTOS et al., 2003). São elas:

1- Respirar normalmente

Necessidade vital, universal e de satisfação pessoal, é fundamental para viver.

2- Comer e beber adequadamente

Necessidade de ingerir, absorver alimentos e líquidos em quantidade e qualidade

suficiente para assegurar o crescimento e a manutenção dos tecidos, de forma a

manter a energia necessária para um bom funcionamento.

3- Eliminar os resíduos corporais

Page 3: ficha de leitura 1

Necessidade do organismo rejeitar para o exterior do corpo as substâncias inúteis e

nocivas, e os resíduos produzidos pelo metabolismo. Esta necessidade inclui a

eliminação renal, intestinal, respiratória e cutânea.

4- Movimentar- se, manter posturas correctas

Necessidade que consiste em mobilizar todas as partes do corpo de forma

coordenada, mantendo-as alinhadas, permitindo, assim, realizar eficazmente as

diferentes funções do organismo.

5- Dormir e descansar

Necessidade que consiste na tomada de sono e repouso em quantidade e

qualidade suficiente, que permite ao organismo obter o seu pleno rendimento.

6- Vestir e despir-se, seleccionando vestuário adequado

Necessidades de trazer roupas adequadas de acordo com as circunstâncias para

proteger o corpo do clima e permitir liberdade de movimentos. A roupa adquire um

significado de aparência e pode tornar-se um elemento de comunicação.

7- Manter a temperatura corporal, adaptando o vestuário e modificando o

ambiente

Necessidade de conservar uma temperatura constante no organismo, para que se

mantenha a homeostase.

8- Manter o corpo limpo e arrumado, proteger a pele

Necessidade de manter o corpo limpo, ter uma aparência cuidada e manter uma

pele sã, uma vez que ela desempenha função de protecção.

9- Evitar os perigos ambientais e evitar ferir os outros

Necessidade de se proteger contra todas as agressões internas e externas e

manter a sua integridade física e psicológica.

10- Comunicar com os outros

Necessidade que consiste na troca de ideias, experiências, valores, opiniões,

sentimentos e informações com os seus semelhantes. O ser humano utiliza um

Page 4: ficha de leitura 1

conjunto de signos, verbais e não verbais, num processo dinâmico permitindo à

pessoa estabelecer laços com os outros.

11- Agir segundo as suas crenças e valores

Necessidade de ter gestos e acções em conformidade com a sua noção de bem e

mal de justiça, exprimindo uma ideologia e/ou vida espiritual.

12- Preocupar-se com a sua realização pessoal

Necessidade de realizar actividades de forma a sentir-se útil. As acções que o

indivíduo conclui permitem-lhe desenvolver a sua criatividade e utilizar o seu potencial

máximo. A gratificação que o indivíduo recebe, após as suas acções, pode permitir-lhe

chegar a uma plena felicidade.

13- Divertir-se

Necessidade de descontrair e recriar-se numa ocupação agradável com intenção

de reduzir a tenção física e psicológica.

14- Aprender

Necessidade de adquirir e adequar conhecimentos, atitudes e habilidades para o

modificação de comportamentos.

Postulados

Tendo em conta os pressupostos acima referidos e a satisfação das necessidades

básicas, inferem-se três postulados (suporte teórico e científico do modelo

conceptual):

1. Cada pessoa quer e esforça-se por conseguir independência (entende-se por

independência a capacidade da pessoa em satisfazer por si mesma as suas

necessidades básicas, de acordo com a idade, etapa de desenvolvimento e situação);

2. Cada pessoa é um todo completo com necessidades fundamentais;

3. Quando uma necessidade não está satisfeita, a pessoa não é um todo completo e

independente (entende-se por dependência a ausência, inadequação ou insuficiência

Page 5: ficha de leitura 1

na satisfação, no todo ou em parte das 14 necessidades básicas) (IPO LISBOA,

2007).

Os valores ou crenças constituem o “porquê” do modelo, e são eles:

- O enfermeiro tem funções específicas;

- Desempenhando outros papéis, o enfermeiro abdica do que lhe é próprio, delegando

as suas funções específicas e primordiais em alguém não qualificado;

- A sociedade deseja um serviço (função específica do enfermeiro) e conta

com ele.

Os elementos são o “quê” e traduzem na prática a conceptualização do modelo:

- Finalidade da profissão: manter e repor a independência do utente para que

ele possa satisfazer por si só as necessidades fundamentais;

- Alvo da actividade profissional: objecto sobre o qual se exerce essa

actividade – indivíduo, com todas as suas necessidades fundamentais;

- Papel do profissional: o papel do enfermeiro é de substituição, pois este

substitui o doente no que lhe falta para que este seja completo e independente;

- Fontes das dificuldades: a pessoa, quando incapaz de cumprir as suas funções,

quer por ausência de força, de vontade ou de conhecimentos;

- Intervenção de enfermagem: a intervenção compreende o centro e o modo de

intervenção.

Centro de intervenção: área onde a pessoa é dependente. A atenção do

enfermeiro deverá incidir sobre o que falta à pessoa para que esta possa

responder à satisfação dessa necessidade.

Page 6: ficha de leitura 1

Modo de intervenção: os modos de intervenção de que a enfermagem dispõe

são: substituir, acrescentar, reforçar, suprir, completar e aumentar. E têm como

objectivo tornar a pessoa mais completa, afim de que ela esteja independente.

- Consequências da actividade profissional: as consequências desejadas são a

de recuperar a independência, e, em determinadas situações, uma morte

tranquila (SANTOS et al., 2003; ALEGRE, 2010).

“Estes postulados, valores e elementos contribuem para a formação de uma

concepção de enfermagem. Justificando o ‘como’, ‘porquê’ e o ‘quê’ do Modelo

Conceptual de Enfermagem.” (SANTOS et al., 2003)

Os quatro conceitos metaparadigmáticos encontram-se definidos em qualquer

Escola de Pensamento. Assim, segundo a Escola das Necessidades, na qual se

insere o Modelo Conceptual de Virginia Henderson:

Pessoa: é um todo completo que apresenta necessidades fundamentais de

ordem bio-psico-social; que tende para a independência, se esforça por atingi-

la; possui aptidões, capacidades e poder para as acções de auto-cuidado e

satisfazer as suas necessidades.

Saúde: é um estado de integridade bio-psico-social do ser-humano e ocorre

quando as necessidades ou auto-cuidados podem ser satisfeitos.

Meio: conjunto de todas as condições externas e influências que afectam a

vida e o desenvolvimento, que influenciam a capacidade da pessoa para

decidir e satisfazer as suas necessidades ou auto-cuidados.

Cuidados: consiste em assistir a pessoa doente ou sã nas actividades que ela

não pode fazer por si só, porque não tem força, vontade e/ou conhecimentos,

afim de conservar ou restabelecer a sua independência na satisfação das

necessidades fundamentais, e reforçar as suas capacidades de auto-cuidado.

(ALEGRE, 2010)

Page 7: ficha de leitura 1

Bibliografia:

SILVA, Daniel Marques da – Correntes de pensamento em ciências de enfermagem [Em linha] (?) [Consult. 6 Mar. 2011] Disponível em WWW:<URL: http://www.ipv.pt/millenium/millenium26/26_24.htm>

IPO LISBOA – Virginia Henderson [Em linha] (2007) [Consult.: 6 Mar. 2011] Disponível em WWW:<URL:http://www.ipolisboa.minsaude.pt/Default.aspx?Tag=CONTENT&ContentId=1225>

IPO LISBOA – Virginia Henderson [Em linha] (2007) [Citação: 6 Mar. 2011] Disponível em WWW:<URL:http://www.ipolisboa.minsaude.pt/Default.aspx?Tag=CONTENT&ContentId=1225>

SANTOS, Ana; et al. – Modelo Conceptual de Enfermagem segundo Virginia Henderson – [Em linha] (2003) [Consult. 6 Mar. 2011] Disponível em WWW:<URL: http://www.scribd.com/doc/2373504/AVC>

SANTOS, Ana; et al. – Modelo Conceptual de Enfermagem segundo Virginia Henderson – [Em linha] (2003) [Citação: 6 Mar. 2011] Disponível em WWW:<URL: http://www.scribd.com/doc/2373504/AVC>

ALEGRE, Conceição – Apontamentos das aulas. Coimbra. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. 2009/2010.