Fevereiro | 2013
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15ANOS
Publicando Cultura
JORNAL DE
ARTES
"A Canoa Sobre o Rio Epte" de , é uma das Claude Monet
obras que podem ser apreciadas na exposição "Roman�smo, a Arte do entusiasmo" no , em MASP
. Mais informações São Pauloem www. brmasp.art.
Becke� & Bion Gêmeo ImaginárioPor Walney Costa
Por Djine Klein
A palavra é...ALterNa�vO
Uma visita ao museu dedicado ao escritor russo
Por Berenice Sica Lamas
Dostoievski
JORNAL DE
ARTESArtes Plásticas | Artes Cênicas | Cinema | Musica | Literatura
Porto Alegre 2013 R$ 2,00 | | |Fevereirowww. /facebook.com jornaldearteswww. /jornaldeartesissuu.com
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 2
JORNAL DE
ARTESArtes Plásticas | Artes Cênicas |
Cinema | Musica | Literatua
EXPEDIENTE
Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI EditorEditor | João Clauveci B. MuruciEditora de Literatura | Djine Klein ([email protected])Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci
Email | [email protected] www.issuu.com/jornaldeartesSite |
Site |www.facebook.com/jornaldeartes
CNPJ | 107.715.59-0001/79 - (51) 3276 - 5278Fone |
Colaboradores desta edição
Djine Klein Walney Costa Bilheri Clóvis Loureiro Almandrade | | | | |
Berenice Sica Lamas Natália Giacomello Sérgio Marques Teixeira | |
Beatriz T. Balzan Barbizan M. Conceição Hyppolito Gerci Godoy | | |
Dênia Bazanella Gerson Dias de Oliveira JSM - João do Livro | | |
Sérgio Marques Teixeira Jane Peixoto Kaki Kerber Francisco | | |
Castro Lúcia Barcelos|
S í n d i c o s P r o f i s s i o n a i s
Fone | 51 3223 - 1973www.grupomethodus.com.br
Email: [email protected] São Manoel,1340, sala 203/ Bairro Santana-Porto Alegre- RS
Becke� & Bion
Gêmeo Imaginário
Martha Brito, Catharina Conte, Pingo Alabarce em Becke� e Bion. Foto| Gerson Oliveira
Por de Porto Alegre/RS Walney Costa
TEATRO
Peça de Júlio Conte
“ O Cérebro não dói o que dói são os pensamentos. O que dói são os pensamentos.”Vou descrever aqui úl�ma cena da peça, numa projeção pra além da história, quando Bion pergunta a Beck� “Depois da morte, encontrou o q esperava? ” , resposta “ Encontrei ” , “ E o q foi ” ques�ona Bion e Becke� lhe responde ...
Mas isso eu não vou escrever aqui e agora pra não acabar com a graça do suspense punk hindu q tem esse roteiro. Eu como um bom gen�l colonizado encontrei em Becke�, traduzido pro Brasil, uma fuga ou um atalho, da língua q fui educado a falar na escola social, pra algo poesia q não era comum encontrar nem nos bons autores q curto na minha própria língua . Também via outras possibilidades em Becke� q podem sempre renovar o curso desse rio d palavras chaves e metáforas, q ele revela , numa escala crescente d descobertas, pra minha existência , q o teatro feito mestre vem me apresentando por analogia d vida e geografia d alma. Pra mim o som dos textos d Becke� só não tem mas significado q o silêncio q pode ser sorvido no tempo da sua respiração, sou apaixonado por ambos e pela possibilidade figural q salta d seus cenários e personagens, pelo abismo da luz na imensidão do vazio, lá do fundo mais escuro das cenas do ser, origem e fim numa coisa só.“Eu não sou nada. Não sei escrever. Calma.Não sei pintar. Não sei tocar piano, não sei cantar. Manicômio do crânio... alguém arranque essa angus�a do meu peito... Calma....uma coisa aqui no meu peito... e não durmo, passo a noite aterrorizado...Calma....tenho medo dos pesadelos, e a minha pele, parece um lagarto...Calma. ...erupções, furúnculos, cistos, quisto e espinhasCalma.Quisto, cisto, cristo, furúnculos. ““Eu vim aqui por q me foi indicada uma lobotomia” diz Becke� a Bion, assim q trocam as primeiras impressões quando se encontram. Becke� tava muito quando procurou Bion e pra todos nós q temos admiração pelo talento e inteligência d Becke�, rola d ficarmos estarrecidos com essa solicitação, por q da forma como é falada e atuada pelo ator sem transmi�r algum �po d ironia ou escárnio, faz com q a gente acredite q assim foi. Era um encontro d cobra criada, eles poderiam antever a morte viva q é uma lobotomia. Mesmo jovens, são dois caras q sabemos q são muito foda, um eu conhecia bem mais q outro mas não o suficiente, como ainda não sei o bastante , mas minha pré admiração por Becke� faz crescer meu interesse por Bion , e pra quem d antemão tem uma relação inver�da ou d idên�co conhecimento sobre os personagens ou q ainda não tenha nenhum conhecimento sobre o tema, vai receber um monte d conteúdo ao assis�r essa peça q apresenta, desenvolve e joga com toda essa historia muito complexa q é a cabeça desse bicho bem mal educado chamado homem, num baile d Arte, Psique, Éros e Thanatos do pensamento do século 20, futurista e pessimista ao mesmo tempo, num desfile d celebridades da mais alta inteligência .
Julio Conte abre as portas desse contar, é um bandeirante dessa sinapse e penso q se ele quiser �rará dessa questão setecentos mil mestrados e doutorados, além d outras peças e direções, pois é uma fonte sensacional, q talvez provavelmente não tenha encontrado melhor autor pra mergulhar nesse caldeirão borbulhante do q ele próprio. Fico imaginando as trocentas mil elucubrações q devem invadir a cabeça do Julio, sendo ele ao mesmo tempo médico e ar�sta dessa trama q bem é diretor, frente a seu próprio espelho, um aviador da arte decolando todo dia, pra uma pesquisa sem fim e alta .Julio Conte é um baita autor teatral, ator, diretor, médico, psiquiatra, psicanalista, e por tudo isso um professor natural, tem muitas d peças d qualidade escritas q foram encenadas normalmente na seqüência do processo q as gerou, caracterís�ca essa q só faz deixar mais viva a cena, pois para todos os envolvidos, o frescor das descobertas e os experimentos nascem juntos. E aqui é importan�ssimo q se diga o quanto o grupo d atores e atrizes deve ter contribuído para essa empreitada d muito fôlego, pois o dialé�co texto e a indicação d direção só foi possível pela dedicação e capacidade d execução q o elenco transmite a cada gesto, livres da trama percebemos a valorização mutua e recíproca da direção e do elenco, numa bela troca d generosidade, coisa q o teatro também tem pra contribuir ao modelo d ensino oficial q rola por aí.Acompanho Julio Conte, desde “ Não Pensa Muito que Dói “ , lá por 81 , e o cara nunca parou d produzir bons textos e d ensinar teatro , ele é um pensador d teatro e parece q toda sua obra conspirou pra chegar nesse texto atual q tem muitas d suas questões em pleno processo d balanço, construção do novo e destruição do q �ver q não mais ser .“Enfia-se uma cânula supra orbitaria e dá-se uma pequena martelada. Ao romper ligações neurológicas do lobo frontal terminam-se todas as angús�as e ansiedade “ , e isso é tudo q não acontece na peça Becke� &Bion - Gêmeos Imaginários, q deve voltar a cartaz a qualquer momento, certamente num teatro perto d � !No Elenco Martha Brito, Catharina Conte, Pingo Alabarce, Cris�ano Godinho, Thiago Tavares, Gabriel Ditelles. Figurino, Mirelle Ri�el. Cenografia, Ana Lorenzon Ka�a Picolo, Visagismo Vinicius Cardoso. Iluminação, Marga Ferreira e Alexandre Lopes Fagundes. Preparação corporal, Thais Petzold. Preparação Vocal, Lígia Mo�a. Trilha composta, Violoncelos , Celau Moreyra, Pianos: Luiz Mauro Filho e Celau Moreyra. Estúdio e Técnica de Gravação, Fabio Mentz. Operação de som, Rúbia Elenn Esmeris. Operação de Luz, Alexandre Lopes Fagundes. Produção execu�va, Pingo Alabarce e Cris�ano Godinho. Coordenação de produção, Patsy Cecato e Cômica Cultural.
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 3
FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
A Linguagem da FotografiaPor de Salvador/BA Clóvis Loureiro
A linguagem da fotografia é a linguagem do ver. Do visto. O que, afinal, um fotógrafo expressa é o seu modo de ver o mundo. E podemos ver com mais ou menos inteligência, com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos originalidade, mais ou menos espontaneidade. Ver é um ato intencional e cria�vo, exige vontade e mo�vação interior. Geralmente os fotógrafos são pessoas que se deleitam com o ver. Ver com profundidade significa compreender. Alguém caminha por uma ampla calçada a beira mar, numa tarde serena. De repente, vê à sua frente um banco vazio, umas pedras emergindo da água e uma pequena árvore seca que, desde o ponto de vista em que se encontra, estão harmoniosamente dispostas no espaço. ( fotografia 1) Ele compreende que aquela imagem é ele mesmo naquele momento, é aquela tarde, é aquela experiência. Isto é a fotografia. A experiência pode adquirir graus cada vez maiores de complexidade, ou pode ser simples como um sorriso. E desta maneira variam as fotografias. Então tudo o que temos a fazer é, basicamente, desenvolver a nossa observação, afirmar a nossa atenção. É graças a curiosidade, à observação minuciosa e uma certa engenhosidade no olhar que se chega à percepção de imagens significa�vas. Estar alerta é importante. Estar presente. Se estamos perdidos em pensamentos, a realidade (pelo menos a visível) se nos escapa dos olhos. E da câmera. A fotografia é enfim a testemunha da qualidade do nosso ver. Não vemos, porém, apenas com os nossos olhos. Podemos fazê-lo com a totalidade do nosso ser. Ver é sempre dinâmico. Reconhece e descobre objetos. Cria relações e atribui significados. Projeta nossas fantasias, evoca nossos sen�mentos e provoca reações. Reagimos: fotografamos. A cada maneira de ver corresponde uma linguagem fotográfica, e a parte `a limitação da necessidade do mundo se manifestar a nossa frente, suficientemente iluminado, para que o fotografemos, não há limites para a linguagem fotográfica. Sempre inventamos novas maneiras de ver. A fotografia nasce da capacidade de maravilharmo-nos, de encontrar sen�do, de deixarmo-nos tocar por aquilo que vemos. Como já afirmaram muitos fotógrafos não há nada a fazer, a não ser estar presente, estar aberto ao mundo sen�r-se implicado com aquilo que se vê. Fotografia é imagem. Mas não apenas. Ela é o tempo de�do, é a memória. É a evidência da luz que incidiu sobre um objeto específico, num lugar específico, num momento específico. Se por um lado isto soa como uma limitação, por outro é o próprio mistério da fotografia. Aquilo que vemos numa foto aconteceu. Às vezes de uma maneira que não sabemos como ou porque a fotografia não explica. Mas aqueles objetos e pessoas que se gravaram sobre o filme e hoje são imagens, ontem exis�ram. É isso que es�mula nossa imaginação. Fotografia é a linguagem do inesperado, boas fotografias não acontecem toda hora. A fotografia é um encontro. Eis o seu sabor. Um encontro entre o fotógrafo e o momento. Uma cena e o seu reconhecimento. A fotografia trabalha com o acaso e se vale da intuição. Assim se realiza o encontro. Tudo o que queremos ao �rar fotografias é compar�lhar nossa visão do mundo e nossa sensibilidade à vida como os outros. É como dizer: olha só aquilo! E aí está todo o significado. Não há mais nada a explicar. Nada a acrescentar. O resto é por conta de quem observa a fotografia. Num mundo tão inflacionado de imagens, a maioria delas arrogantes e fe�chistas, quando não simplesmente sensacionalistas, por que não nos abrirmos àquelas fotografias sensíveis e reveladoras, cheias da auten�cidade de quem se sente comprome�do com a vida?
Foto| Clóvis Loureiro
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 4
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ARQUITETURA
Por de Salvador/BA Almandrade
* Almandrade é ar�sta plás�co, poeta e arquiteto
Polí�ca pública de cultura não se faz com editais
*O ar�sta hoje: entre o 'proponente' e o pedinte*
O ar�sta que passa o tempo recluso na solidão do ateliê, trabalhando, desenvolvendo sua experiência esté�ca, como um operário da linguagem e do pensamento, está em ex�nção. É coisa de museu.Ou melhor, é raridade nos museus de arte, que estão deixando de ser ins�tuições de referência da memória para servir de cenários para legi�mação do espetáculo. Às vezes, com míseros recursos que ficamos até sem saber direito: quando nos deparamos com baldes e bacias nessas ins�tuições, se são para amparar a goteira do telhado ou se se trata de uma instalação, contemplada por um edital para aquisição de obras contemporâneas...
O que interessa na poli�ca cultural nem sempre é a arte e a cultura, e, sim, o *glamour*. Em nome da arte contemporânea, faz-se qualquer coisa que dê "visibilidade".
As polí�cas públicas foram relegadas às leis de incen�vo à cultura e aos editais públicos. Nunca se fez tantos editais neste País, como atualmente, para, no fim das contas, fazer da arte um "suplemento cultural", o bolo da noiva na festa de casamento.
Na fala do filósofo alemão Theodor Adorno: "As obras de arte que se apresentam sem resíduo à reflexão e ao pensamento não são obras de arte". Do ponto de vista da reflexão, do pensamento e do conhecimento, a cultura não é prioridade. Na polí�ca dos museus, o objeto já não é mais o museu que se mul�plicou, juntamente com os chamados "centros culturais", nos úl�mos anos.
Com vaidade de supermercado, na maioria das vezes, eles disponibilizam produtos perecíveis, novidades com prazo de validade, para es�mular o consumo, vetor de aquecimento da economia. A qualificação ficou no papel, na publicidade do concurso.
Esses editais que bancam a cultura são inicia�vas que vêm ganhando força. Mostram ser um processo de seleção com regras claras para administrar o repasse de recursos, muito bem vendidos na mídia, como métodos de democra�zar o "acesso" e a "distribuição de verbas" para as prá�cas culturais.
Mas nem são tão democrá�cos assim. Podem ser um instrumento possível e eficiente em certos casos, mas não são a solução, é possível funcionarem, também, como escudo, para dissimular responsabilidades pela produção, preservação e segurança do patrimônio cultural.
Considerando-se, ainda, a contratação de "consultorias", funcionários, despesas de divulgação, inscrição... o trabalho árduo e apressado de seleção... é tudo, enfim, um custo considerável, que, em úl�mo caso, gera "serviços" e renda.
O ar�sta contemporâneo deixa de ser ar�sta para ser proponente, empresário cultural, "captador" de recursos, um especialista na área de elaboração de projetos, com conhecimentos indispensáveis de "processo público" e interpretação de leis. Dedica grande parte de seu tempo a esse negócio burocrá�co, que é a elaboração e execução de projetos, prestações de contas etc., todos contaminado pela lógica do *marke�ng*... coisas incompa�veis com o ar�sta em si, que apostou na arte como uma "opção de vida" e com forma de conhecimento, algo que exige dedicação exclusiva...
Ou, pior ainda: o ar�sta fica à mercê de uma "produtora cultural", para quem essa polí�ca de editais e fomento à cultura é, aliás, um excelente negócio...
Mais uma coisa é preocupante: e se essa polí�ca de editais se estender até a sucateada área da saúde, por exemplo? Imaginem uma "seleção pública" para pacientes do Sistema Único de Saúde, que necessitem de procedimentos médicos... Os que não forem "democra�camente contemplados", teriam de apelar para a providência divina, já engarrafada com a demanda de tantos pedidos...
Nem é bom imaginar. Que esta praga fique restrita aos limites da esfera cultural... Na pior das hipóteses, é uma "torneira" que sempre se abre para atender parte de uma superpopulação de ar�stas, proponentes, pedintes...
O ar�sta, cada vez mais, é um técnico passivo com direito a diploma de "bem comportado" em "preenchimento de formulário". E seu produto ficou relegado ao controle dos burocratas do Estado, e à "boa vontade" dos execu�vos de *marke�ng* das grandes empresas...
Se o projeto é bem apresentado, com boa "jus�fica�va" de gastos e retornos, o produto a ser patrocinado ou financiado... se é mediano, se é excepcional, não importa! O que importa é a «formatação", a "obje�vidade" do orçamento, a clareza das "etapas" e a "visibilidade", o "produto final"...
Como sempre, existem as chamadas exceções, mas...
Serigrafia | Almandrade
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 5
Por de Porto Alegre / Viamão/ RS * Djine Klein
A palavra é... ALterNa�vO
Alterna�vo. De ter opção, escolher o que mais
lhe convenha. Nada de tendência e temenças,
sem os interesses que visam moeda. À
ins�tuição e que um chefe sempre manda.
Palavra ALTERNATIVA não cabe a palavra
amordaçada. Sem grito de horror, só o absoluto
gritar Liberdades. Virar as mesas, ver aranha
tecendo o fio para própria ArTE. Tecer a casa.
Há pouca coisa no dizer das gramá�cas ou dizem
tanta palavra para alterna�va. Alterna�vo mingua a explicação por uns adje�vos e depois que desentendo as gramá�cas e,
por isso me divirto com elas feito uma criança no jardim e algodão-doce. E brinca pião, vou de sublinhar apenas uma, lá dizia a
explicação: alterna�vo. Alteradizo – uma mujer con su cepillo, el pelo porfiado, mientras el viento quebrantando la naturaleza
de rebeldia... La mar los vía.
Fiquei de asas. Mas vamos ao que a palavra não disse e eu via – de aLternA�vo e que muitos lhe atribuem. Alguns nem sabem
fazer poema, mas que sobre as próprias vidas vivem em versos de uma canção. De si ou do ré mi... Gosto desses fazendo um Sol
em noites de trovoamentos. E gosto mais ainda de seus gestos obrando por “espaço de conforto” e, que a vida ali não tem
disciplina para servidões.
Meus muitas vezes injuriados poetas vos juro, suas definidas artes de não ter juízo e ir vivendo assim, ganhar o pão e
permanecer ALterNa�vo – isso é que é ser de ternuras pelas co�dianas coisas e as outras existências das criaturas.
Conquanto, vos traço palavras que mesmo nascendo de minhas vastas ignorâncias, tenho-lhes muito daquelas citadas
ternuras. Até dissociaria suas existências em viver sendo aLTernatIVo – mas palavra de virar moda em mídias o ouvido
bastante se cansa.
Entrementes, há Alternavantes os compromissos – Alterna�vo, por uma carência que pesa e que sa�sfação: gentes
necessitando espaço e tempo para pra�car artes que o capitalismo não quer ouvir.
Às Mul�s os Bancos e as Estatais, as Câmaras e Senado! Vejam João do Livro – uma Garage onde acontecem Saraus e Serestas,
e que o amigo enseja dias Santos ou de labutar. Um labirinto de livros onde um bardo recebe amigos e viajantes. E lá se cruzam
príncipes e profetas, mulheres loucas ou pedagogas, damas recitando can�gas de amigos ou violeiros. Às vezes desconsolado
um rouxinol...
Os Bancos e as Estatais, as Câmaras e Senado. Natalia – menina que empresta vitalidade a “Nomeando”... Aquela casa tem
ginga e berimbau, meninos de África, guerreiros celebrem seus cantos que eu anseio ser Griô.
As Estatais, as Câmaras?... Eliete - o “Natureza Pura” em cooperação com amigas, lá encontras Sabores e Saraus e nossos
corpos e almas retornam contentes pela boa nutrição. É sempre festa para os sen�dos, dos sumos na consumação, vasta
lembrança de quando éramos felizes colhendo o fruto com a própria mão, num arvoredo que ficou na infância.
Câmaras e Senados, não. Mas o Cláudio empresta “Café da Praça” pras tribos sem terreiro próprio, sem teto e com sonho de
ter casa. Também tem comidinhas e Saraus, turismo e fes�vais ondes poetas quando se despedem dizem – Até logo, amigo!
Os senados não dizem nada, a voz da casa é a própria causa. Contudo em toda via há entre tantos, entrementes... E esse
ALTERNATIVO, o justo suporte suportando minhas palavras desvario. Todavia e toda vida digo, Jornal de Artes – é Muruci um
bruxo e seu pupilo, há quinze anos no laborar para que ilustres desconhecidos possam nas páginas dar o seu ar da graça,
revelando suas vozes e artes e, que as mídias outras não lhes reparam. É de graças as labutações do Editor.
* Contato ([email protected])
Cloveci Muruci
Porto Alegre | | 2013 | ARTES |Fevereiro 6
Mercado & Consumo
IMPORTADAS
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 7
O Museu na RússiaDostoievski
CRÔNICA DE VIAGEM
Por Berenice Sica Lamas de Porto Alegre/RS *
O museu literário Fiodor Mikhailovic Dostoievski em São Petersburgo (ex-Leningrado) na Rússia, situa-se na rua Kuzhnechny, na casa em que
o renomado escritor russo viveu os 3 úl�mos anos de sua vida, de 1878 a 1881 , com sua segunda mulher e alguns filhos. Inaugurado em 12 de
novembro de 1971, no dia dos 150 anos de seu aniversário. Expressa sua literariedade, prisão e exílio. O ambiente do apartamento respira
seriedade, transmi�ndo uma sensação de respeito e louvor. O silêncio e o recolhimento. Simplicidade e despojamento. Poucos visitantes de cada
vez. Divide-se em 2 seções: literário e memorial – as peças se sucedem: banheiro, quarto de dormir, quarto com brinquedos de criança, sala de
jantar, gabinete/escritório, cozinha. Através do mobiliário, objetos, artefatos, pertences, papéis, desfila sua história – talento cria�vo, prisão (a visão
da corrente enferrujada que prendia a perna é tenebrosa), exílio – sua genialidade literária - páginas de seu úl�mo romance Os Irmãos Karamazov –
que aqui escreveu, bem como O discurso sobre Pushkin. Às vezes dormia no sofá do gabinete. Seus pertences – capote, chapéu no cabide, guarda chuva, porcelanas, móveis, objetos de decoração e de uso co�diano – escrivaninhas,
cadeira de balanço, quadros, candelabros, relógios, porta-retratos, porta-lápis, jarra de lavar-se – e papéis referentes à sua vida desfilam ante nossos
olhos trazendo uma memória an�ga e suscitando imaginações. É possível conhecermos um pouco mais do escritor e da pessoa. Observa-se em
cima da mesa de trabalho a pena com que escrevia protegida por vidro. Vê-se o
quadro “Nossa Senhora das Dores”, verdadeiro ícone para o escritor. Percebe-se que as fotografias de família e amigos eram muito
valorizadas. Aparecem referências as suas viagens à Europa e
cidades onde esteve: Berlim, Paris, Roma, Florença, Londres,
Colônia, Dresden e seus romances traduzidos em diversas línguas
no mundo. Também são mostrados trabalhos em artes plás�cas:
bicos de pena, aquarelas, desenhos, caricaturas. Podem-se
intuir seus tormentos. Ali perto, nas proximidades da Praça Sennaya – de
grande simbolismo para ele – uma casa de esquina é
considerada “a casa de Rasholnikov”, o famoso personagem
protagonista de “Crime e cas�go”, também um romance
lapidar e profundo do grande escritor russo. Há um vídeo muito lindo e expressivo nas imagens,
mas infelizmente o áudio somente no idioma russo. A
aparelhagem moderna foi doação do governo norueguês.
Há material explica�vo plas�ficado disponível em russo e
inglês. Neste museu ainda é possível escolher excursionar a
lugares �picos referentes a Dostoievski em São
Petersburgo. O museu toca a sensibilidade, a visita
emociona, aproxima o visitante ao tempo do escritor,
deixando o espírito um tanto reflexivo. Um sen�mento de
nostalgia, admiração e quase reverência. O mesmo que
sen�mos ao ler suas páginas.
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* Berenice Sica Lamas é Psicologa e Escritora
Cloveci M
uruci
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 8
L u i z C â m a r a C a s c u d o
comenta que vê a cultura popular,
ou folclore, como aquela parte dos
conhecimentos e prá�cas culturais
que, de tanto usufruto do povo,
despreza-se - no bom sen�do - ou
simplesmente é esquecido ou se ausenta o
autor. A oralidade, tão em voga hoje em dia num momento onde se tenta a valorização do negro e indígena, é marca da cultura popular
que sobrevive e sempre sobreviveu aos registros escritos. Se este úl�mo tem um caráter descri�vo, factual e imortal – pois faz seu objeto sobreviver
à própria existência material - , a oralidade nos joga para o lado daquilo que só sobrevive porque alguém aderiu também àquela iden�dade, que
canta, dança, pensa e come daquela forma. A educação pela oralidade é diferente do que acontece na grande parte das escolas formais. Não se aprende a dizer "muito obrigado"
porque o professor mandou, mas porque alguém importante e confiável te falou que dizer "muito obrigado" é uma maneira íntegra e sábia de
apreciar ou até mesmo de discordar do outro. Vale salientar o quanto pelejamos para nos entregar à confiança de alguém. Ah, a confiança e tantos
outros bens são que nem a alma, não se pega, não se agarra, mas se sente e tem o poder da ascensão. Num momento histórico onde o poder de consumo alterou nossa maneira de nos relacionarmos com as coisas, natureza e o outro, a cultura
popular existente e resistente nas iden�dades fortes de religiões, festejos, povoados rurais e urbanos ao meu ver mantêm acessa a chama do que
gostaria, aqui, de chamar de sensação de comunidade. Pois só em grupo, em comunidade, ou seja, com uma iden�dade comum é possível haver
cultura popular. A cultura popular é feita junto. Mais válido e interessante do que a existência de um autor é a execução de uma obra em coro num
somatório onde cada voz transpõe um fazer, uma música, uma canção para um lugar comum de alegria onde figura-se o paraíso da união. Acho que
isso explica porque as danças circulares são muito bem sucedidas. Cada qual com seu lugar na roda do mundo e com o tempo e momento de brilhar
num centro que a�nge a todos, e isso não é exibição, é responsabilidade. É uma arte isso de escolher o �po e alcance do brilho que se deseja ter. A cultura popular é da rua. Não se compra ingresso, mas recebe-se convite, colabora-se, contribui-se. O coro canta, as pessoas dançam
numa festa em que existem dois grandes espetáculos: o do ar�sta e o do público. É uma su�l diferença se compararmos as festas populares – seja do bumba-meu-boi, seja a da bergamota! – com os shows da Madonna. A
Madonna não se importa se você está dopado num show dela, por que ela nem consegue enxergar você! São diversas as formas desenvolvidas nos úl�mos anos que visam resgatar os sorrisos sinceros e saudáveis de homens e mulheres de toda e
qualquer idade. A economia solidária, as tecnologias sociais, o vegetarianismo, os cole�vos, a permacultura, e tantas outras. Sei que parece
propaganda de creme dental, mas ainda não encontrei medida tão certeira para dis�nguir o bom e o mau quanto a apreciação de um sorriso
sincero e saudável, pois é isto que me faz diagnos�car, no silêncio das palavras, uma fala forte que soa algo como "minha vida está dando certo!".
Muvuca de Artes e Saberes
Por Natália Giacomello de Porto Alegre/RS
ARTE
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Cloveci Muruci
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 9
EscarlateCONTO
Por de Porto Alegre/RS Sérgio Marques Teixeira
Três dias sem vento. As baterias estão no fim. Se não ventar, esta noite eu fico no escuro. O João-de-barro pousa imponente no alto de uma haste do gerador. Ele que não se atreva em fazer casa ali. Ao primeiro sinal do minuano voa pássaro, casa e ninho para todo o lado.
A tarde é mormacenta de ar parado, sem rádio, sem televisão, sem telefone, e o mais grave de tudo sem computador. Tinha duas opções: Ou assisto ao melhor espetáculo da terra ou vou para o bilhar. No bilhar eu não vou tão cedo. Da úl�ma vez que es�ve lá foi só para me aborrecer.
Assim, vou tomando as providências para assis�r ao grande espetáculo.
Está quase na hora do show. Apresso-me com a água do chimarrão, e levo também a palha para enrolar o baio. Aposto que nunca viste como é enrolar um baio. Um dia mostro a você como se faz isso. Tudo arrumado no cepo. Tive pena da árvore quando foi cortada. Meu vizinho derrubou uma “Orelha de Macaco” com mais de oitenta anos. Precisava de dinheiro e cometeu este crime ecológico.
Deu-me de lembrança este cepo, foi só o que restou daquela árvore maravilhosa: Um cepo com oitentas raias. Mas tem sido bastante ú�l. Com meio metro de altura e com um diâmetro de quarenta cen�metros é uma perfeita mesa de centro. Mas para mim não fica no centro da sala e sim na ala oeste da área. Ao lado da cadeira de balanço. É ali que coloco a garrafa térmica, as palhas, o canivete, o amarelinho, e tudo o mais que vou precisar para assis�r ao espetáculo.
Não adianta pressa. O show tem hora marcada. E o ritual tem que ser cumprido passo a passo. Começo por colocar erva na cuia. Tudo tem que ser feito lentamente. Com muita calma. Mas esta erva é uma coisa por demais deliciosa. Pena não ter com quem dividir. O mate cevado a dois é muito mais gostoso.
Então descanso a cuia no suporte e me entretenho com o baio. Vou picando e esfarfalhando o fumo na palma da mão. Corto tudo bem fininho. De vez em quando dou uma espiada no céu. Não posso me descuidar, se me distraio, perco o show. Lá no alto um rabo de galo �nge suas penas de amarelo.
É o sinal. É assim que a coisa começa. Retorno ao mate, e sorvo o néctar da tranquilidade na hora do ocaso. Animais de todas as espécies conhecidas ou jamais vista desfilam na abóboda azulada. Tem camelos, tem elefantes, tem cavalos, galos, pombos, tem até gente passeando.
Todo é muito branco no início, tudo é muito fofo, tudo é gigantesco. O milagre começa a acontecer pelos pés destes bichos e pessoas. Primeiro acontece com os que estão no painel mais acima. Ficam amarelos. Depois a cor toma conta do corpo inteiro. Na sequência tudo fica âmbar. Parece que ficam alvoroçados com a nova cor e começam a se transformar em outras figuras. Gente vira bicho. Cavalos viram Centauros e depois perdem a parte animal e viram gente de novo. Fizeram isso quando eram brancos e estão repe�ndo tudo agora na cor Âmbar.
Mas o âmbar não dura muito. E já começam a ficar dourados. Uma delícia estas cores. Dourados. A água do mate chega ao fim. Ouço o roncar da bomba puxando as úl�mas gotas. Coloco mais água na cuia sem me despender das cores no céu. Mas o dourado também se vai. Num instante ficam avermelhadas e con�nuam se transformando.
Um casal de namorados passeia de mãos dadas. Parecem figuras da an�ga Atenas. Seriam Deuses? Já ficam escarlate, a cor do amor; A cor mais vibrante. A cor do pecado. Vai ver é por isso que eles se perdem no horizonte. Acho que foram se amar, pois se esconderam por trás do monte.
Há! Que inveja me dá. Os demais protagonistas do show estão ficando escuros, estão perdendo o brilho e a cor. O céu está se �snando de negro. Ainda espero que uma estrela apareça.
Vã esperança. Nada de estrelas. Uma que fosse, só para dividir o chimarrão. Nada de estrelas. Só a escuridão plena e um vazio profundo. E o mate que era o mais doce do mundo se torna amargo num instante, num segundo. Pudera! Um fio de lágrima rolou para dentro dele e eu nem notei.
Presto - Espaço Livre de Música abre inscrições
para oficinas
A PRESTO Produções e Promoções Ar�s�cas inicia as a�vidades de 2013 com a abertura das inscrições para as oficinas oferecidas pelo Espaço Livre
de Música.
Os interessados podem optar por Técnica Vocal, Canto, Violão (clássico
ou popular), Piano, Teoria e Percepção musical, e também pelas novas
oficinas de Acordeon, Flauta transversa, Saxofone e Violoncelo
(iniciantes).
Fernando Ávila, professor da oficina de Acordeon, é integrante do Quinteto
Persch e, segundo ele, não é necessário que o aluno tenha qualquer
conhecimento prévio. “O interessado em aprender a tocar este instrumento
só precisa ter vontade e fazer isto porque gosta da sonoridade do acordeon”, esclarece. “O aluno
aprenderá a executar um repertório variado escrito originalmente para
este instrumento, assim como adaptações, desde a música regional do Rio Grande do Sul, passando pela
música popular brasileira e gêneros de outras nacionalidades, explorando a
versa�lidade do instrumento”.
Para mais informações, o contato pode ser feito com a PRESTO Produções e
Promoções Ar�s�cas, pelos telefones (51) 3037-7784 e 9278-5967, pelo e-mail [email protected], pelo
site www.prestosl.com.br.
Aquarela| Cloveci Muruci
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 10
v i d a a o v e r s o
O Jornal de Artes abre espaço em duas páginas onde estarão as produções do Grupo diVersos e outros amigos, e os autores de
Viamão, para nossos leitores terem contato com um universo maior da nossa produção literária. “É preciso expor a mercadoria”,
enfatizou outro dia Bertolt Brecht, explicitamente. É nosso dever mostrar na prateleira nossos objetos de arte.
A editora de literatura, Djine Klein estará encarregada de trabalhar junto a esses autores, e descobrir o melhor achado, um
pequeno diamante junto a peneira de algum descuidado poeta , e trazer do fundo do rio a tímida criação.
Boa leitura.
Apoio Cultural :
D O S L I V R O S
JOÃO
Na tapeçaria da vidaO des�no nos escolheuDois fios entrelaçadosNa trama que Ele teceu
Teceu flores e frutosTempestades e bonançaPonto a ponto nos tornandoOra dor, ora esperança
Dobrou nossas vontadesAlinhavando provaçõesTeceu rugas, desteceu vaidadesPespontando as ilusões
Teceu amor e coloridoTornou-nos um só quererApós 40 anos vividosJá não dá pra destecer
POESIA
POEMA EM PROSA
CONTO
Bodas de esmeralda
Lágrima.
Men�ras
Por de Porto Alegre/RS Beatriz T. Balzan Barbizan
Por de Porto Alegre/RS Dênia Bazanella
Por de Porto Alegre/RS Gerson Dias de Oliveira
Por de Porto Alegre/RS M.Conceição Hyppolito Por de Porto Alegre/RS Gerci Godoy
Mo�vação Baú Perfumado
Tu és o inefável
O ENORME, o sen�mento
Que nasce no coração da gente
Como brotando do ser
Mesmo por um não ser,
De uma vivência INCERTA
E da pressão que nos cerca
E que nos faz te desconhecer...
TU PODES ESTAR PRESENTE
No meio da romaria
que grita por ANISTIA
E que segue, sem saber
Se pode ter ou não ter
Um prato farto na mesa?...
Tu podes estar presente
No meio dos flagelados
Dos ricos, dos condenados
Dos homens que tem poder?
E do VÍCIO que nos consome?
Das feridas e das dores
Do parto de um novo homem
Que nasce pra se perder?...
Tu podes estar presente
No grito de uma MASSA?
Que no sufoco se arrasta,
Sem saber como agir,
Sem saber como fugir,
Sem esperança de GLÓRIA
Pois quem a tem, na desforra
Guarda a mesma pra si...
TU PODES ESTAR PRESENTE???
Célula sódica não colorida.
Ardida. Fragmento líquido em forma de
gota. Gota que não se esgota. Que
escorre na face. Prova de dor. Atestado
patente de emoção latente. Fluindo
l e n t a , c o s t u m a e m u l s i o n a r
profundamente os lenços dos amantes.
Dos sofredores. Da mãe da noiva. Na
língua, sabe ácida e salgada. Duvidosa
prova de amor. De men�ra, quando jaz
na pele humana dos crocodilos. Costuma
desaparecer silenciosa na porosa
super�cie da pele. Água mágica que
brota dos olhos, onde parece viver. Ainda
fala, quando tudo já silencia. Não é prova
de coisa alguma.
Na caixa pequena, desbotada
um tesouro guardado, sem chave
repousa no meu armário
sem aniversário nem vela
melhor que ninguém lembre
não tem anos, só tempo
algumas pétalas quebradas
retratos esquisitos
e um cheiro branco de saudade
das coisas que pensei
e não escrevi.
Na repar�ção era considerado alegre e l h e c r e d i t a v a m n o i t a d a s e fe s t a s intermináveis, porém sua vida pessoal era um mistério, conhecida apenas por histórias contadas ao grupo.
Visitas ao seu apartamento nunca permi�u, pois dizia ser um espaço digno apenas de suas prezas. Porém foram tantas as perguntas e dúvidas levantadas, que descuidadamente esqueceu, sobre a cadeira, um pacote embalado como presente, contendo roupas femininas.
Assim os anos passaram. O tempo �ngiu seus cabelos de branco e as histórias tornaram-se menos freqüentes, porém mais detalhadas.
Em sua ficha funcional, não exis�am notas sobre atraso ou faltas, mas um dia faltou durante uma semana e quando o encontraram era apenas um fantasma sentado, frente a uma boneca, em seu apartamento, segurando um maço de cartas, por ele escritas e a si mesmo endereçadas.
Quando os médicos chegaram para o levarem, um silêncio doloroso a�ngiu a todos, ao verem-no despedir-se da boneca jogando-lhe as cartas, enquanto ela, rígida e fria olhava o nada, frente à parede branca.
Porto Alegre | | 2013 | ARTES | Fevereiro 11
Viamão Cultural
m ma oil c- .lj ia arte ms g@
Apoio Cultural :
O ponto de encontro da Cultura Café da Praça
POESIA
Espaço Interior
Soneto Absurdo
Dúvida ou Divida?
Ser social
Malabarismo
A palavra
Por de Viamão/RS Feranda Blaya
Por de Porto Alegre/RS JSM - João do Livro Por de Viamão/RS Baltasar Molina - ALVI
Por de Porto Alegre/RS Kaki Kerber
Por de Porto Alegre/RS Francisco Castro
Por de Viamão/RS Jane Peixoto
Por de Viamão/RS Lúcia Barcelos
Eu sou essa casca
Com a qual as pessoas estão acostumadas
Mas também sou essa densa massa interior
Que quase ninguém conhece
Nem quem me conhece há muito
Nem meus leitores mais an�gos
Tem dias que flutuo e em outros me sinto soterrada
E as duas sensações são verdadeiras
A vida é uma experiência solitária
E é assim com todo mundo
As outras pessoas da vida da gente
São importantes e necessárias
Mas são outras pessoas
Acho que é assim para todo mundo
Estou rebelde!
Dizem que o ser humano é um ser social.
Quando ele se encaramuja, dizem que ele está out,
Quando ele busca relacionar-se, dizem que é louco,
Quando ele não faz nada é preguiçoso.
E quando faz alguém feliz, descobre que se enganou.
Estou rebelde!
Meço as palavras
Dobro a língua
Conto os passos
Engulo sapos
Tomo medidas
Viro a esquina
E o mundo con�nua
De pernas para o ar.
Eis um poema com sabor de vinho.
Embriagado. Só de amores feito.
Pois, sem autor, ele se fez sozinho,
Com as entranhas do seu próprio peito.
Eis um poema construído ao jeito
De oportunas aves de arribação
Em voo cego, num caminho estreito,
Sabendo incerto o lugar que vão
Eis um poema, que sem rumo certo
Vai se espichando pelo céu aberto
Buscando o curso para um poemeto
Eis um poema que sem mais espaço
Tropeça e para, por não ter compasso
Da derradeira linha de um soneto.
Dizer sim talvez não
Não ter certeza do não
Talvez sim
Correr busca encontra procura
Talvez sim
Encontrar para o amor
Talvez não
Simplesmente encontrar?
Talvez sim
Curvo-me sobre a tarde,recolho ecos do rio que passa em teus olhos
para compor os poemas.Os girassóis inclinam-se com seus dilemas
de ver morrer a luz solar,e as borboletas, pairando no ar,
saboreiam as noites.Há um traço leve nas horas!
A palavra é tão pesada:não consegue expressar!
Gesta Heroica (poema épico)
Transcorria o século dezoitoQuando o sul sacodeA mansidão do pampa imensoE o gaúcho em libre arbítrio E rebeldia pega em armas.
São centauros, intrépidos.Valentes, homens, poncho e lança.Num galope libertário Rumo a Viamão Apequenam a distancia.
O sol reflete na aresta dos metais O minuano assobia na ponta das lançasEcoando no coração oco das taquaras.
Para trás sobre a relva Ficam os már�res Heróis sem nomeLa na frente se ascende A chama crioula da esperança
E o pampa que foi verdeVeste-se com a cor de sangue amanhecidoQual flor de cor�ceira e frutas de pitanga.Não �nham lugar onde morrer, Por rio grande, tanto davaCair no cume de algum cerro Na grota ferido em emboscada. Ou também! Pisando o sangue amigoPeleando nas trincheiras. De Viamão em cruz das almas.
Por isto e que hoje os poetasEmpunham a caneta como lanças.E acendem os candeeiros da historiaCom o clarão desta gesta na lembrança.
Porto Alegre Fevereiro RTES | | 2013 | A | 12
Vetorização do retrato de Fiódor Dostoiévski
Por de Porto Alegre/RSClauveci Muruci