Ferreira, J.B. (2008). Violência e assédio moral no trabalho_patologias da solidão e do...

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    Violência e assédio moral no trabalho:patologias da solidão e do silêncio

    João Batista Ferreira

    Doutorando em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações - UnBMestre em Psicologia – UnB

    s!ecialista em "est#o de $ecursos %umanos - USPPsic&logo 'l(nico e do Trabalho - U)$"S

    Pro*essor do 'urso de s!ecializaç#o em Psicodin+mica do Trabalho - UnB

    r irres!ir .el, a .iol/ncia institui um !rinc(!io de crueldade, lançando suas.(timas no mais com!leto desam!aro0 Penetra nos !oros0 Produz ante!aros0Muitas .ezes n#o h o 1ue dizer, n#o h o 1ue !ensar, n#o h o 1ue imaginar0$esta um sil/ncio in1uietante1 0

    O ob2eti.o deste artigo 3 discutir a din+mica da organizaç#o do trabalho 1ue !roduzsituações de .iol/ncia e ass3dio moral nas organizações0 4nicialmente, trabalhamos alguns

    conceitos dessas *ormas de abuso, utilizando como !ano de *undo o cen rio contem!or+neodas relações de trabalho0 m seguida, com base na abordagem da !sicodin+mica do trabalho,situamos uma com!reens#o das situações de .iol/ncia e do ass3dio moral nas organizações a !artir da escuta das narrati.as de trabalhadores banc rios0 o *inal do artigo, comocontribuiç#o !ara esta insi!iente linha de !es1uisa, a!resentamos os conceitos deestratégias

    perversas da organização do trabalho e zelo perverso , *ormulados com base nos resultados ediscuss#o deste !ercurso de estudo0

    Violência no trabalho: uma patologia do silêncio

    s situações de .iol/ncia !ontuam com linha s!era o tecido da nossa hist&ria0Sur!reende 1ue !oucas .ezes o tema se2a escolhido como ob2eto de estudo, es!ecialmente !or1ue .em se tornando mat3ria de grande re!ercuss#o, cada .ez mais !resente no +mbitosocial, nas organizações e nas relações de trabalho, sobre as 1uais centraremos nossa atenç#o0

    a1ui nos de*rontamos com um desa*io0 Podemos conceituar .iol/ncia5

    com!le6idade do tema, suas m7lti!las causas, es!eci*icidades e situações di*icultam a1 SOUS , dson 8uis ndr3 de0 T SS8 $, 9lida0 :iol/ncia sem dis*arce0 4n;Faces da Violência 0 Porto

    legre; 'orreio da PPO , , !0 ?01

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    *ormulaç#o de de*inições consensuais e nos le.am a !ensar nas di*erentes *ormas de.iol/ncia0 O termo .iol/ncia tem sido utilizado em situações muito di.ersas; .iol/ncia dostado, .iol/ncia da m(dia, .iol/ncia da e6clus#o social, .iol/ncia dos atos criminosos,.iol/ncia do e no trabalho, .iol/ncia na in*+ncia, .iol/ncia contra a mulher, .iol/ncia dos

    !e1uenos gestos

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    'om este r !ido !anorama, recolhemos alguns elementos !ara !ensarmos asmani*estações da .iol/ncia nas relações de trabalho0

    .iol/ncia se a!resenta naturalizada no discurso da com!et/ncia e da e6cel/ncia0 Sato Schmidt I= consideram essa .iol/ncia sint nica com o 1ue De2ours chamou deideologia da

    vergonhaII

    . ssa ideologia *az su!ortar a ad.ersidade do trabalho em nome do Ncor!o 7til aotrabalho 7tilN0 Uma ideologia 1ue esconde oestar doente 0

    MinaFo identi*ica nas im!osições da organizaç#o do trabalho uma *orma de .iol/ncia1ue denominou deestrutural I !ro!õe 1ue os instrumentos de dominaç#odas em!resas n#o se traduzem em situações de .iol/ncia, mas na induç#o da toler+ncia Gin2ustiça e ao so*rimento0 sses instrumentosnão-violentos s#o re*orçados !or so*isticados !rocessos de comunicaç#o interna e e6terna das em!resas, o!erando a l&gica de uma

    distorção comunicacional 0 Tal din+mica seria determinante nadominação simbólica não-violenta e contribuiria !ara a contenç#o da .iol/ncia, condenadaC !elas organizações detrabalho0 e*ic cia desses m3todos de gerenciamento seria mais da !er.ers#o 1ue da.iol/ncia, criando uma situaç#o !arado6al; a res!onsabilidade moral e 2ur(dica recai sobre1uem comete atos .iolentos e n#o sobre 1uem *az *uncionar o sistema0 dominaç#osimb&lica da racionalidade econ mica, e seus estilos de gerenciamento, le.ariam Gim!ossibilidade de im!utaç#o de res!onsabilidade da .iol/ncia sobre a organizaç#o0 1ueles1ue cometem atos de .iol/ncia no trabalho, nesta l&gica !er.ersa, !assam !or cul!ados e n#o !or .(timas0

    ssa abordagem, entendemos, am!lia a com!reens#o sobre as so*isticadas estrat3gias deauto-!reser.aç#o das organizações0 Eo entanto, esses m3todos de gerenciamento,mais10 S TO, 8enF S'%M4DT, Maria 8u(sa Sando.al0$sicologia do %rabalho e $sicologia &l'nica: um

    ensaio de articulação (ocali)ando o desemprego. studos de Psicologia, Eatal, .0 J, n0

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    lemanha, s!anha, B3lgica e "r3cia era de K,AW

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    'om!ortam-se como se a situaç#o *osse normal0 Podem chegar a des!rezar ou ignorar oassediado !or medo de serem demitidos ou assediados0 Menos *re1Yente 3 a situaç#o com oassediador em n(.el hier r1uico in*erior, 1ue !ode ser identi*icada nas chantagens ou outras*ormas de !ress#o en.ol.endo in*ormações 1ue !ossam denegrir o assediado< @? anos@ !essoas com 2ornada !arcial em *unç#o detratamentos m3dicos, como DO$T0 Ou sim!lesmente !essoas 1ue !ertencem a gru!os deminorias, como homosse6uais e negros?nSU?> II

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    8eclerc, esta 1uest#o 3 recolocada;

    Uma conduta .e6at&ria 1ue se mani*esta 1uer !or com!ortamentos, !ala.ras,atos ou gestos re!etidos, 1ue s#o hostis ou n#o dese2ados, a 1ual o*ende adignidade ou a integridade !sicol&gica ou *(sica do trabalhador e 1ue !ro.oca, !ara este, um meio de trabalho ne*asto0 Uma s& conduta gra.e !odetamb3m constituir o ass3dio !sicol&gico se ela causa !re2u(zo e !roduz ume*eito noci.o cont(nuo !ara o trabalhador A@A?@A @A0

    s crises no mercado de trabalho, condições de trabalho estressantes, .alores

    socioculturais dominantes, indi.idualismo, culto aos instrumentos da .iol/ncia, ideologia dalei da sel.aC ou .ale tudoC no mercado de trabalho, !reconceitos e estere&ti!os sociais s#oalgumas caracter(sticas do conte6to sociolaboral no 1ual se desen.ol.em estas situações0

    .iol/ncia e o ass3dio moral !odem resultar em gra.es conse1Y/ncias !ara as .(timas0

    32 '*0 8 '8 $',

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    ste cen rio in*luencia de modo signi*icati.o os modos de !ensar e sentir,com!ortamentos, identidades, a organizaç#o do trabalho0 Eeste conte6to s#o !roduzidas asnovas patologias sociais do trabalho estudadas !or De2ours com base no re*erencial da !sicodin+mica do trabalho>A0 Eeste caminho, Mendes>> e )erreira>? ./m desen.ol.endo

    !es1uisas sobre as essas !atologias0 ntre as !atologias sociais estudadas !or estes autores,e.idenciamos neste artigo aviol'ncia e o assédio moral no trabalho, conceituados a seguir deacordo com as !ro!osições de Mendes> 0

    .iol/ncia no trabalho relaciona-se G agressi.idade contra si mesmo, os outros e o !atrim nio real ou simb&lico das organizações0 .iol/ncia se acentua 1uando as relaçõescom o trabalho se deterioram, nas situações de estresse e insensibilidade ao !r&!rioso*rimento e ao so*rimento dos outros0 Desta *orma, !ode ser entendida como resultante da

    dominaç#o social no trabalho0 O trabalho torna-se gradati.amente sem sentido0 O so*rimentose am!li*ica, estende sua sombra !ara a .ida !ri.ada dos trabalhadores0

    Mani*estações da .iol/ncia !odem ser identi*icadas no .andalismo, sabotagem, ass3diomoral e nos suic(dios, entre outras0

    Os estudos dessa !atologia est#o em *ase inicial de desen.ol.imento0 Para a !sicodin+mica do trabalho, a .iol/ncia e o ass3dio moral s#o !atologias sociais caracterizadascomo situações de adoecimento coleti.o, e6acerbadas !elas atuais e6ig/ncias de !roduti.idade da organizaç#o do trabalho> 0

    organização do trabalho, um dos conceitos centrais da !sicodin+mica do trabalho, sedesdobra duas dimensões;divisão do trabalho e divisão dos homens >K@>J0 divisão dotrabalho se relaciona G di.is#o de tare*as, re!artiç#o, cad/ncias, ao modo o!erat&rio !rescrito0

    divisão dos homens , Gs relações de !oder, ao sistema hier r1uico e Gs res!onsabilidades etamb3m !ode ser denominada comorelaç(es sociopro%issionais ?=0

    43 '*0 D ROU$S, 044 M ED S, na Magn&lia et ali0$sicodin2mica do trabalho teoria* método e pes@uisas 0 S#o Paulo; 'asa

    do Psic&logo,

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    organizaç#o do trabalho tamb3m se di*erencia em organizaç#o do trabalho prescrita ereal )* 0 organizaç#o prescrita 3 com!osta !or regras e normas ligadas G l&gica da !roduti.idade0 Tende a ser desconectada das necessidades e dese2os das !essoas e dasati.idades reais de trabalho0 organizaç#oreal re*lete as situações im!re.istas 1ue

    continuamente ultra!assam o dom(nio t3cnico e o conhecimento cient(*ico0 $e.ela o *racassoda normatizaç#o diante da cont(nua modi*icaç#o da realidade, estabelece desa*ios constantes Gcom!reens#o e ao *azer humanos?

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    s !atologias sociais da .iol/ncia e do ass3dio moral *azem !arte das armadilhas !er.ersas estimuladas !ela organizaç#o do trabalho0 'ontaminam a sub2eti.idade dostrabalhadores0 ssas !atologias tendem a ser dissimuladas, di*icultando sua identi*icaç#o e aconse1Yente mobilizaç#o !ara combat/-las?>0

    ma escuta da sub,etividade

    O !resente trabalho surgiu de uma 1uest#o inserida nesse conte6to de !recarizaç#o dotrabalho0 Ea escolha do tema, utilizamos uma !remissa metodol&gica da !sicodin+mica dotrabalho;a demanda da pesquisa deve ser %ormulada pelos trabalhadores 0 Desta *orma, o atode *alar e o ato de ser ou.ido s#o essenciais !ara re*letir sobre a !r&!ria e6!eri/ncia0 enunciaç#o da e6!eri/ncia !ossibilita sua elaboraç#o0 !ala.ra *az nascer o 1ue n#o e6istia

    antes??

    0 !artir disso, e da !arceria do "ru!o de studos e Pes1uisa em Sa7de e Trabalho

    H" PS TL do 4nstituto de Psicologia da Uni.ersidade de Bras(lia com o Sindicato dosBanc rios de Bras(lia, consultamos esta instituiç#o !ara conhecer as demandas da categoriarelacionadas G sa7de no trabalho0 4denti*icamos um crescimento signi*icati.o de consultas eden7ncias a res!eito de .iol/ncias !sicol&gicas e ass3dio moral0 'onsiderando essasinalizaç#o, realizamos le.antamento de !es1uisas sobre o assunto0 :eri*icamos 1ue o tema

    era !ouco e6!lorado no Brasil, e n#o ha.ia estudos no !a(s com base na !sicodin+mica dotrabalho0Posteriormente, o " PS T realizou buscou in*ormações nos sindicatos do Distrito

    )ederal !ara ma!ear ocorr/ncias de situações de .iol/ncia no trabalho e ass3dio moral0 Oresultado mostrou 1ue o Sindicato dos Banc rios a!resenta.a a maior 1uantidade deden7ncias0 4sso orientou nossa o!ç#o de !es1uisar esta categoria0

    'om esta delimitaç#o, centramos o ob2eti.o deste estudo na in*lu/ncia da organizaç#odo trabalho nas .i./ncias de so*rimento, estrat3gias de mediaç#o e !atologias sociais da.iol/ncia e ass3dio moral no trabalho em banc rios de uma em!resa situada no Distrito)ederal0 Os ob2eti.os es!ec(*icos s#o; aL caracterizar o conte6to de !roduç#o dostrabalhadores !es1uisados@ bL identi*icar os sentimentos e estrat3gias de mediaç#o dostrabalhadores !es1uisados@ cL caracterizar a din+mica da trans*ormaç#o das estrat3giasde*ensi.as nas !atologias sociais da .iol/ncia e ass3dio moral no trabalho0

    Partici!aram do estudo 1uatro banc rios de uma em!resa de economia mista0 O gru!o !es1uisado *oi assim caracterizado; tr/s trabalhadoras com idade entre A? e ?A anos,

    54 '*0 M ED S,

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    escolaridade entre su!erior e !&s-graduaç#o, cargos de analistas de !rocessos e tem!o deser.iço na instituiç#o entre A e < anos@ e um trabalhador com idade de >= anos, cursosu!erior, cargo na rea de in*orm tica e A anos de ser.iço0 ntes de ocu!arem os atuaiscargos, todos trabalharam em ag/ncias, no atendimento ao !7blico0

    s !rinci!ais ati.idades e6ercidas !elos entre.istados eram; atendimento ao !7blico,.enda de !rodutos banc rios, an lise de !rocessos e o!erações, !reenchimento de contratos,elaboraç#o de !ro2etos e !es1uisas com clientes0

    s entre.istas !ossibilitaram ca!tar com maior !ro*undidade a sub2eti.idade da relaç#odas !essoas com o trabalho0 s entre.istas *oram realizadas *ora do ambiente de trabalho0 maior !arte das !es1uisas com abordagem da !sicodin+mica tem sido realizada *ora doambiente de trabalho, em !arceria co organizações de trabalhadores0 ssa o!ç#o !ossibilita

    maior liberdade de e6!ress#o aos !artici!antes?

    0Os dados *oram agru!ados a !artir da recorr/ncia dos temas e tratados !or meio da

    an lise dos n7cleos de sentido H ESL, m3todo ada!tado da t3cnica dean lise de conte do ? 0sta t3cnica !ermite descobrirn cleos de sentido cu2a !resença ou aus/ncia !odem com!or signi*icados !ara o tema estudado?K0

    Dois 2u(zes identi*icaram os temas recorrentes e registraram as corres!ondentes.erbalizações0 stes temas *oram agru!ados em categorias-s(ntese !elos crit3rios desemelhança, l&gica e !ertin/ncia dos conte7dos0 )oi !reser.ada a (ntegra das narrati.as dosentre.istados0 Os nomes e descrições das categorias *oram escolhidos com base nas !ala.rasdos !artici!antes0 Posteriormente, *oram constitu(das categorias-s(ntese e elaboradasde*inições !ara cada uma0 Os resultados *oram discutidos e inter!retados com base na !sicodin+mica do trabalho e nos ob2eti.os da !es1uisa0

    spaço de discussão da palavra

    s(ntese dos resultados est a!resentada no 1uadro a seguir;

    &ategorias de an!lise e categorias/s'ntese dos banc!rios

    &ategorias dean!lise 0e(inição &ategorias/s'ntese

    0ivisão dotrabalho

    Tare*as !rescritas *ormais ouin*ormais, normas, controles e

    ritmos de trabalho:oc/ tem 1ue *azer desse 2eito, de!ois

    a gente corre atr s do !re2u(zoC0

    56 '*0 M ED S,

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    Trabalhadores do $amo )inanceiro, 1ue identi*icou como situações de maior constrangimento; Nseu che*e o enche de trabalhoN@ No che*e !re2udica a sa7deN e No che*einstruções im!recisas e con*usasN?J0

    De modo geral, o a!oio dos colegas a2uda.a a en*rentar as ad.ersidades0 Eos momentos

    de maior !ress#o das che*ias, no entanto, os colegas tendiam a se distanciar, mostra.am-seambi.alentes, amedrontados0

    les _os colegas` se a*asta.am de .oc/ e a( liga.am !ra sua casa !ra *o*ocar;olha, eu passei por isso também Hbanc riaL0

    s .iol/ncias mais sutis gera.am d7.idas nas .(timas 1uanto a sua .eracidade,di*icultando a obtenç#o de !ro.as, a !artici!aç#o de testemunhas e desencadeando .i./nciasde!ressi.as0 .iol/ncia !sicol&gica dissimulada, neste sentido, 3 !er.ersa0 4m!ede ou reduz a

    ca!acidade de reaç#o das !essoas0 s .(timas sentiam di*iculdades !ara e.idenciar !rocessode desestabilizaç#o e isolamento a 1ue eram submetidas0

    E#o tenho testemunhas, n#o tenho !ro.as0 E#o tenho como !ro.ar 1ue as !essoas me discrimina.am0 Mas eu sinto, eu .e2o, eu sei Hbanc riaL0

    sses resultados sinalizam 1ue as dimensões da organizaç#o do trabalho se articulamcomo totalidade integrada e interde!endente, con*orme !ro!osições de De2ours= e MendesI 0

    m s(ntese, identi*icamos !ouca *le6ibilidade na organizaç#o do trabalho, traduzida em !r ticas como; ameaças de retirar comiss#o, negaç#o da !ala.ra, isolamento, im!osiç#o deati.idades desnecess rias, .igil+ncia e6agerada, discriminaç#o na !artici!aç#o emtreinamentos, di*iculdade !ara receber a2uda dos colegas, de receber as *olgas concedidas aoutros !elo mesmo trabalho0 s !essoas sentiam medo de 1uestionar essas !r ticas0 4m!unha-se assim o sil/ncio, im!ossibilitando a conciliaç#o das necessidades das !essoas com asdemandas da organizaç#o0

    sses resultados est#o de acordo com as obser.ações de De2ours sobre as organizações

    com modelos de gest#o r(gidos e centralizados, 1ue tendem a blo1uear a comunicaç#o !aradi*icultar o estabelecimento dos laços de solidariedade e, assim, am!liar a dominaç#o

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    3entimentos e estratégias de mediação

    categoria 2lguns conseguiam se desvencilhar mudando de setor, outros %icavamag&entando C re*ere-se aos sentimentos dos banc rios e estrat3gias de mediaç#o utilizadas0

    Os sentimentos decorrentes das situações de .iol/ncia !sicol&gica, da !ress#o e dos

    abusos das che*ias e.idenciaram; ang7stia, indignaç#o, !erda de autocon*iança, desam!aro,insatis*aç#o, *rustraç#o, insegurança, des1uali*icaç#o, .ontade de desistir de tudo,esgotamento, *alta de reconhecimento e medo0

    O medo e o !a.or 1ue todos t/m, os 1ue est#o na ati.a0 Te.e um 1ue te.ecoragem de *azer uma den7ncia Hbanc riaL0

    O medo de !erder o em!rego induz G atenuaç#o e n#o-e6!ress#o do so*rimento e, destemodo, *unciona como Ninstrumento de gest#oN, Nmotor da !roduti.idadeN e !oderoso indutor de con*ormismo e resignaç#oA@ >0

    sses sentimentos caracterizam o so*rimento a 1ue esta.am submetidos os banc rios0So*rimento mediado !or meio de estrat3gias de*ensi.as da negaç#o e racionalizaç#o0 negaç#o re*ere-se ao n#o-reconhecimento do !r&!rio so*rimento e do so*rimento alheio,e6em!li*icada na seguinte narrati.a;

    O incr(.el 3 1ue as !essoas ao seu redor, em .ez de te darem o a!oio, tratam.oc/ como se .oc/ ti.esse errada e elas 2 tinham so*rido a mesma coisa0 S&1ue elas n#o tinham coragem, *ica.am caladas e te olha.am Hbanc riaL0

    negaç#o do !r&!rio so*rimento e do outro a!arece, em nosso entendimento, associadaG racionalizaç#o ao o!erar a releitura da ang7stia, medo e insegurança e.idenciada em Ntratam.oc/ como se .oc/ ti.esse errada e elas 2 tinham so*rido a mesma coisaN0

    racionalizaç#o tamb3m *oi identi*icada na busca e6acerbada dos resultados,.inculados ao !rinc(!io da e*ic cia como um *im em si mesmo0 ssa busca caracteriza aracionalidade instrumental ? 0

    racionalizaç#o da mentira *oi obser.ada no com!ortamento dos gerentes com relaç#oaos normati.os !ercebidos como Nim!edimento ou morosidadeN !ara atingir os resultados0 snormas !r3-escritas eram descum!ridas ou !arcialmente cum!ridas, !or induç#o das che*ias,sob alegaç#o de 1ue, Nna .erdadeN, essas normas eram um Nindicati.o e n#o normati.oN dos !rocedimentos, mesmo diante da argumentaç#o dos *uncion rios de 1ue esse descum!rimentore!resenta.a riscos !ara todos0 !ress#o !ara o cum!rimento das metas le.a.a os gerentes aNinter!retarN os normati.os de acordo com as con.eni/ncias0

    63 '*0 D ROU$S, IJJJ064 '*0 M ED S,

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    n#o 1uerem se en.ol.er, tomar !artido0 4sso n#o e6iste Hbanc riaL0

    O indi.idualismo caracteriza uma das estrat3gias de de*esa contra o so*rimento0$esultante da *alta, reduzida coo!eraç#o ou !recarizaç#o das relações !sicoa*eti.as com ocoleti.o de trabalhoK@ J0

    O indi.idualismo 3 uma de*esa caracterizada !or *alta de com!rometimento edesmobilizaç#o0 Para De2ours, nesta estrat3gia; N'ada um de.e se !reocu!ar a!enas emresistir0 uanto ao so*rimento alheio, n#o se !ode *azer nada0 Eegando o so*rimento alheio ecalando o seuN=0 O indi.idualismo, de!endendo da intensidade, le.a G estrat3gia de*ensi.a dosil/ncio e da resignaç#o e !odem se !atol&gicos0

    inda 1ue menos *re1Yentes, no entanto, as iniciati.as indi.iduais e.entualmente !ossibilita.am a utilizaç#o da estrat3gia coleti.a da coo!eraç#o, caracterizada !ela aç#o

    coordenada dos trabalhadores *rente Gs ad.ersidades0

    O gru!o se uniu, !or isso n#o te.e como *azer nada contra ningu3m0 Masisso normalmente era di*(cil acontecer Hbanc riaL0

    Os *uncion rios 1ue toma.am a *rente nestas situações tendiam a *icar estigmatizados een*renta.am mais discriminações e6!l(citas ou sutis0

    Diante desse 1uadro, em muitos casos, s& resta.a aos trabalhadores mudar de setor, !rocesso 1ue !odia ser longo e desgastante0 ssa alternati.a caracteriza mais uma utilizaç#ode com!ortamentos indi.idualizados diante das ad.ersidades0

    assim tinha . rios colegas 1ue !assa.am !or situações di*(ceis com asche*ias0 lguns conseguiam se des.encilhar mudando de setor, outros*ica.am agYentando a1uilo Hbanc riaL0

    s tentati.as de den7ncias e as den7ncias Gs inst+ncias da em!resa res!ons .eis !or tratar dessas situações eram !ercebidas como !ouco ou nada e*eti.as0 4sso incrementa.a a*rustraç#o e o desam!aro0 omiss#o da em!resa caracteriza, no nosso entendimento, um

    sil/ncio organizacional indutor do con*ormismo e do sil/ncio dos banc rios 1uanto a seu !r&!rio so*rimento0 'on*igura-se, assim, uma estrat3gia !er.ersa da organizaç#o do trabalho0

    68 M ED S, na Magn&lia B$ % O, R7lia0 A in(luência da organi)ação do trabalho nas vivências depra)er/so(rimento do trabalhador: uma abordagem psicodin2mica 0 $e.ista de Psicologia; Teoria e Pes1uisa,< H069 '*0 D ROU$S, 070 Cf. D ROU$S, IJJJ0

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    maior utilizaç#o de estrat3gias de*ensi.as indi.iduais !ara en*rentar as situações de.iol/ncia con*irma os achados de Mendes, 'osta BarrosI 1ue identi*icaram situaç#osemelhante em estudo com banc rios de em!resa !7blica0

    s estrat3gias de*ensi.as indi.iduais s#o menos e*icazes do 1ue as de mobilizaç#o

    coleti.a na trans*ormaç#o da realidade 1ue gera so*rimento e, !or conse1Y/ncia, na reduç#odos riscos de adoecimento

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    com!artilhado !or di.ersas !essoas na organizaç#o do trabalho0 s situações de .iol/ncia eass3dio moral s#o duas *ormas muito gra.es destas no.as de*esas, denominadas neste estudode !atologias sociais0

    s reações de con*ormismo relatadas e.idenciaram um embotamento a*eti.o e

    alienaç#o do dese2o no dese2o do outro Ha organizaç#o do trabalhoL0 ssa resignaç#o e asdemonstrações de ada!taç#o, integraç#o e e*ic cia, es!ecialmente de alguns gestores, comomecanismos de*ensi.os, constituem uma condiç#o *a.or .el G utilizaç#o da .iol/ncia e doass3dio moral no trabalho0

    !er!le6idade dos banc rios diante dos gerentes !romo.idos !or atingirem resultados a1ual1uer custo, aos !oucos !arece ter se trans*ormado na !erce!ç#o naturalizada de 1ue Neste3 o caminho das !edrasN0 Desta *orma, re*orça-se a cultura de con*ormismo e alinhamento Gs

    ideologias de*ensi.as mais recom!ensadas !ela organizaç#o do trabalho0s necessidades de em!rego e con*orto, aliadas G !recarizaç#o do trabalho, *ornecem

    um terreno !ro!(cio a essas !atologias sociais0 centuam a con.i./ncia estrat3gica baseadaem interesses !ara crescer na em!resa, na cultura do desem!enho e do indi.idualismo – !osturas desarticuladoras do coleti.o de trabalho0

    stratégias perversas da organi)ação do trabalho

    discuss#o dos resultados deste estudo le.ou G articulaç#o de contribuições conceituaisre*erentes Gs !atologias sociais no trabalho0 Eeste sentido, !ro!omos os conceitos deestratégias perversas da organização do trabalho e zelo perverso.

    s estratégias perversas da organização do trabalho s#o um con2unto de !r ticasorganizacionais caracterizadas !or uma ou mais das seguintes !r ticas; negaç#o do real dotrabalho, e6acerbaç#o das dimensões da organizaç#o !rescrita do trabalho, ambi.al/ncia e oucontradiç#o entre o discurso e desestabilizaç#o sistem tica do coleti.o dos trabalhadores0 S#ocaracterizadas como !atologias sociais resultantes da racionalidade econ mica, re*orçadas demodo dissimulado !ela organizaç#o do trabalho e .iabilizadas !ela dominaç#o simb&lica0

    ;elo perverso 3 uma estratégia perversa da organização do trabalho. $esulta dae6acerbaç#o das dimensões da organizaç#o !rescrita do trabalho .oltadas !rimordialmente !ara resultados 1ue !ro!iciam maior reconhecimento e recom!ensas0 O zelo perverso decorreda dimens#o !rescrita da organizaç#o do trabalho como, !or e6em!lo, metas inalcanç .eis e1ue, !or aç#o ou omiss#o das organizações, se sobre!õem aos normati.os internos, !receitos3ticos, ordenamento 2ur(dico0 9 induzido !or reconhecimento subliminar ou e6!l(cito !or !arte das em!resas0

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    &onsideraç6es (inais

    :iol/ncia e sil/ncio0 Sil/ncio e .iol/ncia0m nosso !ercurso identi*icamos o 1ue tal.ez !ossamos chamar de dram tica

    a!ro6imaç#o das situações de .iol/ncia e sil/ncio0 .iol/ncia !ode submergir as !essoasnuma es!iral de adoecimentos 1ue !ermanecem ocultos !or tr s das .itrines do !rogresso0

    :iol/ncia 1ue silencia0 Simb&lica rima !er.ersa0:iol/ncia como im!osiç#o do sil/ncio, negaç#o da !ala.ra, da alteridade0Sil/ncio como mani*estaç#o da .iol/ncia, din+mica 1ue se insere na caracterizaç#o da

    !atologia social descrita !or Mendes>0 s !atologias sociais da .iol/ncia e do ass3dio moral – con*iguradas comoadoecimentos das situaç(es de trabalho – !odem resultar em s3rios !re2u(zos G sa7de das !essoas e, desta *orma, se re*letem nas organizações e na sociedade0

    'om!reender a din+mica da utilizaç#o dessas estrat3gias de*ensi.as, e suatrans*ormaç#o em !atologias sociais, se con*igura como um im!ortante caminho a ser !ercorrido !ara o en*rentamento dessas ad.ersidades0 Percurso 1ue demanda a continuidadedos estudos sobre a essa racionalidade !er.ersa, utilizada como instrumento de dominaç#o nasrelações de trabalho0 Percurso 1ue demanda a construç#o e o *ortalecimento das disson+nciasG narrati.a ma2orit ria da alienaç#o0 Disson+ncias 1ue !ossibilitem a !otencializaç#o doses!aços coleti.os de discuss#o e da !ala.ra, 1ue se con*igurem como alternati.as !ara !ensar,

    sentir e in.entar0s!aços coleti.os da di.ersidade, mani*estações de uma hist&ria 1ue n#o acabou, de

    uma narrati.a indis!ens .el !ara a constituiç#o das identidades das !essoas no trabalho0Uma narrati.a essencial !ara 1ue a hist&ria n#o *i1ue adormecida na solid#o e no

    sil/ncio0

    5e(erências Bibliogr!(icas

    $ \RO, driane $eis0 8 assédio organi)acional . Dissertaç#o de mestrado0 Ponti*(ciaUni.ersidade 'at&lica de S#o Paulo0 S#o Paulo,

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    B $$ TO, Margarida Maria Sil.eira0 Assédio oral: a violência sutil. An!liseepidemiol"gica e psicossocial no trabalho no Brasil 0 Tese de doutorado em PsicologiaSocial0 PU', S#o Paulo,

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    ) $$ 4$ , M rio '3sar M ED S, na Magn&lia0 %rabalho e riscos de adoecimento: ocaso dos Auditores/Fiscais da $revidência 3ocial Brasileira 0 Bras(lia; dições 8P ,)ena*is!, ?nSU?> II

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    SOUS , dson 8uis ndr3 de0 T SS8 $, 9lida0 :iol/ncia sem dis*arce0 4n;Faces daViolência 0 Porto legre; 'orreio da PPO , , !0 ?0

    SOUQ , Maria 8aurinda $ibeiro de0Violência 0 'asa do Psic&logo; S#o Paulo,