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105 Com uma população que já beira os 600 mil habitantes, Feira de Santana vai comple- tando a primeira década do século 21 com ares de metrópole. Obras públicas de vulto impactam o seu tecido urbano, a exemplo de uma série de viadutos que estão sendo construídos no cruzamento das principais vias locais. O crescimento vertical impulsiona a economia e acrescenta novos signos visuais à paisagem. Recentemente, em pesquisa divulgada pela Gazeta Mercantil, Feira de Santana foi considerada como um dos mais dinâmicos municípios do país: entre 300 mu- nicípios brasileiros com mais de 550 mil habi- tantes, ocupa a 21ª posição. São dados signifi- cativos, não resta dúvida, que destacam o po- tencial da cidade. Mas que escondem seus gra- ves problemas da infra-estrutura, em áreas como saneamento, segurança, trânsito, uso do solo, meio ambiente e patrimônio. Produzido no calor da hora, este ensaio fotográfico é um recorte documental dessas e de outras contra- dições vividas por Feira de Santana nos dias atuais. F F FE E EIR IR IR IR IRA DE S A DE S A DE S A DE S A DE SA A ANT NT NT NT NTA A ANA NA NA NA NA no calor da hor no calor da hor no calor da hor no calor da hor no calor da hora a a (Ensaio Fotográfico e Texto: J. D.) Juraci Dórea Juraci Dórea Juraci Dórea Juraci Dórea Juraci Dórea (UEFS) Feira da Estação Nova

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Com uma população que já beira os 600mil habitantes, Feira de Santana vai comple-tando a primeira década do século 21 com aresde metrópole. Obras públicas de vultoimpactam o seu tecido urbano, a exemplo deuma série de viadutos que estão sendoconstruídos no cruzamento das principais viaslocais. O crescimento vertical impulsiona aeconomia e acrescenta novos signos visuais àpaisagem. Recentemente, em pesquisadivulgada pela Gazeta Mercantil, Feira deSantana foi considerada como um dos maisdinâmicos municípios do país: entre 300 mu-nicípios brasileiros com mais de 550 mil habi-tantes, ocupa a 21ª posição. São dados signifi-cativos, não resta dúvida, que destacam o po-tencial da cidade. Mas que escondem seus gra-ves problemas da infra-estrutura, em áreascomo saneamento, segurança, trânsito, uso dosolo, meio ambiente e patrimônio. Produzidono calor da hora, este ensaio fotográfico é umrecorte documental dessas e de outras contra-dições vividas por Feira de Santana nos diasatuais.

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(Ensaio Fotográf ico e Texto: J. D.)

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Feira da Estação Nova

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O decreto imperial, de 13de novembro de 1832, des-membrou Feira de Santana daVila de Nossa Senhora do Ro-sário do Porto de Cachoeira,mas a criação do novo muni-cípio só se concretizou em 18de setembro do ano seguinte,após a instalação da CâmaraMunicipal.1 Com isso, o Arrai-al de Santana da Feira passouà condição de vila e tambémde sede do município. Daípara a frente, o crescimento dopovoado, que estava situadona rota das tropas e boiadasque se deslocavam entre o ser-tão e o Recôncavo, foi relati-vamente rápido.

Já em 16 de junho de 1873,mostrando a sua vocação para

as atividades comerciais, a vilapassou a se chamar de CidadeComercial de Feira de Santana.Entre fins do século XIX e iní-cio do século XX, uma ondade prosperidade modernizou oseu espaço urbano, que passoua exibir várias obras públicasimportantes, entre as quais, oMercado Municipal (1914-1915), os coretos das praçasBernardino Bahia (1915),Monsenhor Renato Galvão(1916) e Fróes da Motta (1917),o Grupo Escolar J. J. Seabra(1916), Escola João Florêncio(1917) e o Paço Municipal(1926). O processo de moder-nização contou também coma cumplicidade da sociedadelocal, responsável pela edi-

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ficação de dezenas de casarõesque passaram a embelezar acidade, a exemplo da Casa deJoão Pedreira (Palácio do Me-nor), Vila Fróes da Motta,Casa de João Marinho Falcão,Chácara de Tertuliano Al-meida (Solar Santana), Casa deChico Pinto e Casa da Torre,entre outros.

Até os anos 30, a cidadecresceu de forma harmonio-sa, sendo chamada pelo escri-tor feirense Eurico AlvesBoaventura de “Cidade do si-lêncio e da melancolia”2. Pou-co tempo depois, no entanto,o próprio Eurico Alves regis-tra as mudanças da Feira deSantana num texto intitulado“A velha e a nova cidade”. Ex-

plica ele: “Em 1940, daí parafrente, todavia, operou-se re-pentina transformação aqui navida urbana. Como seguropetardo de progresso da noitepara o dia, o comércio sacudiua cidade. Ondas e mais ondasde nortistas, de nordestinos,sobretudo, de nordestinosbem intencionados, por aquibatiam.”3

Vale lembrar que, nessa épo-ca, Feira de Santana havia setransformado em importanteentroncamento rodoviário epor ela passavam obrigatoria-mente nortistas e nordestinosque se dirigiam para São Pau-lo, em busca de melhores con-dições de vida. Muitos dessesmigrantes terminavam ficando

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por aqui, atraídas pelo poten-cial da cidade.

Na década de 1960, Feira deSantana voltou a experimentarnovo surto de desenvolvimen-to, com a chegada da industri-alização. A euforia dessa fase,apoiada em incentivos fiscais,durou pouco, como em outraspartes do país. Em conseqüên-cia, muitas indústrias locais fe-charam.

O declínio do parque indus-trial feirense ocorreu no últi-mo quartel do século passadoe coincidiu com uma fase nãomuito promissora para a cida-de. É que o rápido processode urbanização, que alcançouquase todas as grandes cida-des brasileiras nos anos 80, em

decorrência do êxodo rural,também abalou profundamen-te os destinos de Feira deSantana. Diante da ausência deplanejamento e do imobilismodo poder público, Feira deSantana assistiu à deses-truturação do seu espaço urba-no e ao crescimento desor-denado da periferia. Quasenada se fez diante da exacer-bação dos muitos problemassociais que logo surgiram emtodas as áreas. Para completar,ela perdeu ainda, nesse perío-do, referências identitárias fun-damentais, como a feira livre(1977), o Campo do Gado(1986) e a Festa de Santana(1988) e viu seu patrimônioarquitetônico agonizar diante

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das pressões econômicas e dainsensibilidade de grande par-te do empresariado local.

Nos últimos anos, entretan-to, as coisas começaram a mu-dar. Atraindo investimentosem áreas diversas e com a pre-sença do poder público de for-ma mais visível, Feira deSantana parece ter encontra-do novamente seu rumo. Da-dos recentes dão conta de que

NOTAS

1 POPPINO, Rollie E. Feira de Santana. Salvador: Itapuã, 1968, p. 24-28.2 Boaventura, Eurico Alves. A cidade do silêncio e da melancolia. A paisagem urbana

e o homem: memórias de Feira de Santana. Feira de Santana, UEFS, 2006, p. 46.3 Boaventura, Eurico Alves. A velha e a nova cidade. A paisagem urbana e o homem:

memórias de Feira de Santana. Feira de Santana, UEFS, 2006, p. 84.

ela voltou a ser um importantepólo econômico regional. Asmudanças já começaram a serefletir no cotidiano dofeirense. Por um lado, elas pro-jetam sonhos, esperanças e féno futuro. Por outro, expõemas fraturas e contrastes sociaise físicos de um espaço urbanoem que convivem simultanea-mente a província e a metró-pole.

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Realizada às segundas-feiras, a emblemática feira livre de Feira de Santana ocupava as principaisruas do centro da cidade. Atraía gente de toda a região, numa expressão pungente de nossa econo-mia e da nossa cultura popular. Em 1977, ela foi transferida para o Centro de Abastecimento,perdendo a espontaneidade e representação cultural. Com o desaparecimento da “Grande Feira”,as feiras livres dos bairros ganharam força, a exemplo das feiras da Estação Nova, do Tomba e daCidade Nova.

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Centro de Abastecimento

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Durante a sua viagem às províncias do Nordeste, em1859, o Imperador D. Pedro II visitou Feira deSantana, interessado em conhecer o Campo do Gado,que era famoso por reunir grandes boiadas nos diasde feira. “Fui à feira, às 11. Pouco concorrida. Qui-nhentos a seiscentos bois quando aparecem 3.000 e4.000. O melhor era da Serrinha, havendo muito bonsbois, sobretudo touros, e sendo em geral gordo todoo gado da feira”, escreveu ele no seu Diário da via-gem, aparentemente satisfeito com o que viu.

Nessa época, o Campoocupava a área que hojecorresponde à praça doNordestino. Após ter fun-cionado em outros luga-res, ele foi transferido, em1986, para a zona rural.Com isso, caiu pratica-mente no esquecimento.Antigos freqüentadoresnão escondem o desen-canto com a situação atu-al: “O Campo acabou!”,dizem num misto de de-sabafo e nostalgia.

Campo do Gado Novo

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O Bando Anunciador integrava os festejos populares realizadosanualmente, em homenagem a Nossa Senhora Santana, padroeirada cidade. Era um cortejo irreverente que reunia figuras populares epessoas diversas da comunidade para anunciar a Festa. A partir de1988, por iniciativa da igreja, a parte da Festa, considerada comoprofana, foi extinta. Em conseqüência, o Bando Anunciador desa-pareceu. Em 2007, o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA),da UEFS, criou um projeto para resgatar esta manifestação da nos-sa cultura popular. A primeira tentativa deu certo. Em 20 de julhode 2008, o Bando voltou às ruas pela segunda vez.

A Caminhada do Folclore foiidealizada, em 2000, por Tâ-nia Pereira, articuladora cultu-ral do CUCA, com o propósi-to de mostrar o potencial dosgrupos folclóricos da região deFeira de Santana e dos muni-cípios vizinhos.

Sempre realizada através do CUCA,a Caminhada chegou, em 2008, ànona edição, reunindo grupos de ca-poeira, reisado, bumba-meu-boi,repentistas, vaqueiros encourados,burrinha, grupos de samba de rodae de baianas, bandinhas típicas, ca-retas e outras expressões da culturapopular. São, atualmente, cerca de5.000 participantes envolvidos di-retamente no desfile, entre homens,mulheres, adultos e crianças.

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Caminhada do Folclore

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MEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRAAAAANSENSENSENSENSE

A partir da década de 1970, o processo de destruição do patrimônio arquitetônico de Feira de Santana tornou-se mais intenso, alcançando, em particular, os prédios edificados entre fins do século XIX e início do séculoXX. Esses prédios formavam um conjunto valioso sob muitos aspectos, inclusive como expressão do Ecletismona Bahia. Sem qualquerpolítica de proteção,quase todos eles foramdemolidos pelo empre-sariado local, ou trans-formados em ruínas,ante o olhar passivo dasautoridades. Só recente-mente a cidade teveseus primeiros monu-mentos tombados peloIPAC (Instituto dePatrimônio Artístico eCultural da Bahia), aexemplo do Paço Muni-cipal, restaurado no anopassado.

Prefeitura Municipal

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Palácio do Menor

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ROTEIRO SENTIMENTALROTEIRO SENTIMENTALROTEIRO SENTIMENTALROTEIRO SENTIMENTALROTEIRO SENTIMENTAL

O progresso vem redesenhando rapidamente o mapa e os vários cenários de Feira de Santana. Alguns dessescenários são relativamente recentes, mas já estão enraizados no imaginário feirense. Lugares como o Ferro deEngomar, Usina de Algodão, Kalilândia, Esquina da Prefeitura, Abrigo do Marajó, Asilo Nossa Senhora deLourdes e Igreja dos Capuchinhos, entre outros, são referências físicas, mas são, antes de tudo, paisagenssentimentais de muitas gerações, memória na instável cena urbana feirense.

Esquina da Av. Senhor dos Passos com a Praça João Pedreira Antigo prédio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

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O desenvolvimento urbano de Feira de Santana se deu de forma predominantemente horizontal,aproveitando a topografia amena da região. Com isso, durante muito tempo, o “prédio do INPS”reinou absoluto na praça Bernardino Bahia, como uma das mais altas edificações locais. A partir dosanos 80, a cidade começou a mudar, optando também pelo crescimento vertical, tendência que já seconsolida nos dias atuais. Completando o quadro de renovação do cenário urbano de Feira da Santana,

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Construção do Viaduto da Cidade Nova Rua Mal. Castelo Branco

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há dezenas de novos condomínios fechados em construção e a edificação de viadutos no cruzamento dosprincipais eixos viários da cidade. Não se deve esquecer ainda a expansão do comércio, que se espalha emtodas as direções e reconfigura inclusive logradouros tra-dicionais, como é o caso da avenida Getúlio Vargas.

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Prédio à Rua Domingos Barbosa de Araújo

Prédio à Rua Nossa Senhora Aparecida

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CENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIAL

A visualidade do centro comercial de Feira de Santana está muito próxima do kitsch. À margem dequalquer controle, ela reflete, entre outras coisas, o espírito competitivo e a sensibilidade do empresariadolocal. Nota-se que as fachadas originais dos edifícios praticamente desapareceram sob as imensas placasde identificação. E há ainda o emaranhado dos fios elétricos, postes de iluminação, cartazes diversos emuitos outros penduricalhos compondo a frente dos estabelecimentos. A quantidade de informaçõesparece desorientar o transeunte, que circula com dificuldade pelas calçadas tomadas por produtos,vendedores ambulantes, barracas, tabuletas e outros elementos de publicidade.

Avenida Senhor dos Passos

Avenida Senhor dos Passos

Rua Marechal Deodoro

Avenida Senhor dos Passos

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CIDACIDACIDACIDACIDA DES PDES PDES PDES PDES PAAAAA RRRRRALELASALELASALELASALELASALELAS

As pressões sociais e a incapacidade do poder público de entender as realidades decorrentes do intensoprocesso de urbanização das últimas décadas contribuíram para a ocupação e degradação de inúmerasáreas da cidade. O resultado pode ser percebido em toda parte: no meio ambiente, nas praças, notraçado das ruas, no uso do solo e, sobretudo, na estética urbana. Feira de Santana é na atualidade umacidade de múltiplas faces, distante de suas raízes e repartida entre velhos e novos hábitos.

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Avenida João Durval Avenida Senhor dos Passos

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SSSSSAAAAA NTNTNTNTNTAAAAANA DOS ONA DOS ONA DOS ONA DOS ONA DOS OLHOS D’ÁGUALHOS D’ÁGUALHOS D’ÁGUALHOS D’ÁGUALHOS D’ÁGUA

Situado na faixa de transição entre o Recôncavo e o sertão, o município de Feira de Santana sempre teveuma posição privilegiada no que diz respeito à presença de fontes, nascentes e lagoas. Com o desenvolvimentoda cidade, no entanto, muitos desses mananciais, passaram a ser apenas incômodas referências na paisagemurbana. Sem qualquer preocupação com a preservação ambiental, o feirense vem progressivamenteagred??indo, ocupando, aterrando e comercializando estas áreas.

Juraci Dórea é artista plástico e poeta. Arquitetodiplomado pela Universidade Federal da Bahia e Espe-cialista em Desenho, Registro e Memória Visual pelaUEFS. Obteve o grau de mestre pelo Programa dePós-Graduação em Literatura e Diversidade Culturalda Universidade Estadual de Feira de Santana. Partici-pou, a partir dos anos 60, de numerosas exposições noBrasil e no exterior, dentre as quais: 19ª Bienal Interna-cional de São Paulo (1987), 43ª Bienal de Veneza (1988),3ª Bienal de Havana (1989), Pintura e Escultura do Nor-deste do Brasil, Lisboa (1996) e Projeto Terra, UniversitéParis 8, Vincennes Saint-Denis (1999). Publicou: EuricoAlves, poeta baiano (1978), O cavalo sépia (1979) e Terra(1985).

Lagoa Grande Lagoa Salgada

FOTOS: Julho-agosto de 2008