Feijáo na panela garante qualidade de vida para agricultores

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Feijão garante qualidade de vida para agricultores Encarando trabalho como diversão, seu Edmundo Meneses vive bem consorciando feijão com peixe, café e frutas Página 20 Rio Branco – Acre, DOMINGO, 26, e SEGUNDA-FEIRA, 27 de junho de 2011 SEU Edmundo aponta para o plantio mais novo de feijão na sua propriedade ROMERITO AQUINO TEXTO E FOTOS E le pode não ser o maior produtor agrícola do Acre, mas é um dos que tem a produção mais diversifi- cada do estado. Só fru- teiras, são de nove tipos: abacate, banana, caju, côco, cupuaçu, laranja, li- mão, mamão e tangerina. Andando por sua pro- priedade, de apenas cinco hectares, situada na Vila Campinas, no município de Plácido de Castro, tam- bém é possível ver cria- ção de pequenos animais e açudes com curimatã, piau e tambaqui, além de plantios de mandioca, de café, de milho e de feijão, muito feijão. Estamos falando de Ed- mundo Tavares Meneses, paraense de Belém, 74 anos, casado, pai de quatro filhos, que sempre morou na roça ou nos seringais do Acre. Vindo aos três anos de idade com o pai para cortar serin- ga no Acre, seu Edmundo é mais um bom exemplo dos avanços e das vitórias con- quistadas nos últimos 12 anos pelos sucessivos go- vernos da Frente Popular do Acre, que tem trabalhado para implantar a infra-estru- tura rural e para estimular a produção visando à geração de renda e empregos para melhorar a qualidade de vida de sua população rural. Seu Edmundo é também mais um exemplo da força de vontade que o homem do campo acreano tem para pro- duzir cada vez mais. “Minha diversão é o trabalho. Tra- balhando, eu tenho alegria de viver”, diz seu Edmundo. Todos os dias, que chova ou faça sol, ele percorre sua pe- quena propriedade para sa- ber como se encontra seus plantios e o que pode fazer para ampliar a produtividade de seus produtos. Seja arrancando com as próprias mãos um matinho em torno de um limoeiro, jo- gando ração para seus peixes ou colhendo os frutos e os grãos de suas plantações, seu Edmundo é um homem que não desanima nunca, pois está sempre plantando para fazer germinar a vida em forma de alimentos. Mesmo cuidando de sua esposa, Maria do Carmo Ma- cedo, que há anos está numa cadeira de roda, provocada por um derrame cerebral, seu Edmundo se diz feliz com a vida que tem hoje. Com a economia que juntou com o suor de seu rosto, que abre os olhos todos os dias por volta das cinco horas da manhã, ele já tem uma boa casa, com todos os utensílios e eletrodomésticos existen- tes nas residências urbanas. Mas nem sempre foi as- sim, pois a dureza da vida no campo sempre acompanhou seu Edmundo, que nunca es- moreceu diante dos desafios. “Naquela época do seringal, as coisas eram mais difíceis. Hoje, quem gosta de traba- lhar e tem uma terra para produzir não passa mais di- ficuldades”, assinala o agri- cultor. na panela AGRICULTOR já tem boa qualidade de vida

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Feijáo na panela garante qualidade de vida para agricultores - Especial Jornal Página 20

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Feijãogarante qualidade de vida para agricultores

Encarando trabalho como diversão, seu Edmundo Meneses vive bem consorciando feijão com peixe, café e frutas

Página 20

Rio Branco – Acre, DOMINGO, 26, e SEGUNDA-FEIRA, 27 de junho de 2011

Seu Edmundo aponta para o plantio mais novo de feijão na sua propriedade

�ROMeRITO AQuINOTEXTO E FOTOS

Ele pode não ser o maior produtor agrícola do Acre,

mas é um dos que tem a produção mais diversifi-cada do estado. Só fru-teiras, são de nove tipos: abacate, banana, caju, côco, cupuaçu, laranja, li-mão, mamão e tangerina. Andando por sua pro-priedade, de apenas cinco hectares, situada na Vila Campinas, no município de Plácido de Castro, tam-bém é possível ver cria-ção de pequenos animais e açudes com curimatã, piau e tambaqui, além de plantios de mandioca, de café, de milho e de feijão, muito feijão.

Estamos falando de Ed-mundo Tavares Meneses, paraense de Belém, 74 anos, casado, pai de quatro filhos, que sempre morou na roça ou nos seringais do Acre. Vindo aos três anos de idade com o pai para cortar serin-ga no Acre, seu Edmundo é mais um bom exemplo dos avanços e das vitórias con-quistadas nos últimos 12 anos pelos sucessivos go-vernos da Frente Popular do Acre, que tem trabalhado para implantar a infra-estru-tura rural e para estimular a produção visando à geração de renda e empregos para melhorar a qualidade de vida de sua população rural.

Seu Edmundo é também mais um exemplo da força de vontade que o homem do campo acreano tem para pro-

duzir cada vez mais. “Minha diversão é o trabalho. Tra-balhando, eu tenho alegria de viver”, diz seu Edmundo. Todos os dias, que chova ou faça sol, ele percorre sua pe-quena propriedade para sa-ber como se encontra seus plantios e o que pode fazer para ampliar a produtividade de seus produtos.

Seja arrancando com as próprias mãos um matinho em torno de um limoeiro, jo-gando ração para seus peixes ou colhendo os frutos e os grãos de suas plantações, seu Edmundo é um homem que não desanima nunca, pois está sempre plantando para fazer germinar a vida em forma de alimentos.

Mesmo cuidando de sua esposa, Maria do Carmo Ma-cedo, que há anos está numa cadeira de roda, provocada por um derrame cerebral, seu Edmundo se diz feliz com a vida que tem hoje. Com a economia que juntou com o suor de seu rosto, que abre os olhos todos os dias por volta das cinco horas da manhã, ele já tem uma boa casa, com todos os utensílios e eletrodomésticos existen-tes nas residências urbanas.

Mas nem sempre foi as-sim, pois a dureza da vida no campo sempre acompanhou seu Edmundo, que nunca es-moreceu diante dos desafios. “Naquela época do seringal, as coisas eram mais difíceis. Hoje, quem gosta de traba-lhar e tem uma terra para produzir não passa mais di-ficuldades”, assinala o agri-cultor.

na panela

AgRIculTOR já tem boa qualidade de vida

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ESPECIAL

O agricultor e ex-se-ringueiro Edmundo Tavares Meneses,

cujos filhos vivem hoje perto dele, também produzindo em chácaras de cinco hectares, em Vila Campinas, não tem saudades do seringal porque acha que agora é independen-te, com sua propriedade rural lhe proporcionando uma ren-da média mensal em torno de mil reais.

“Antes, a gente dependia do patrão do seringal e muitas

vezes nem sequer tirava saldo. Agora, sou independente. Bem diferente da época do serin-gal”, confessa seu Edmundo, que tem perspectiva de produ-zir este ano até 3,5 toneladas de feijão, bem superior à produ-ção da safra passada, que não passou de 1,5 toneladas. Além do feijão, ele plantou milho e mandioca, que formarão a sua renda junto com as fruteiras, o café e o peixe.

Este ano, o pequeno agri-cultor, que estudou em Rio

Branco apenas até a quinta série do ensino fundamen-tal, está ainda mais otimista. “Agora, está dando para levar melhor a vida e esperamos au-mentar nossa produção com a ajuda do governo e da Se-aprof, que presta assistência para a gente aqui”, diz seu Edmundo, ao lado do técni-co Nelson Maia, responsável pelo escritório da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) na Vila Campinas.

A chácara de seu Edmun-do é uma das 19 chácaras de pequenos produtores da região, que podem produzir este ano 25 toneladas de fei-jão. Ali, a produtividade do feijão atinge ao bom nível de 1.200 kg por hectare planta-do, que representa mais do que o dobro dos 524 kg por hectare registrado para a safra passada do Acre pela Com-panhia Nacional de Abasteci-mento (Conab), do Ministé-rio da Agricultura.

Mesmo produzindo mais, seu Edmundo espe-ra mais ajuda do governo para ampliar sua produ-ção, que necessita, segun-do ele, de melhorias em seus açudes e no sítio de fruteiras. Além disso, ele quer dispor de um veícu-lo que agilize a produção dele e dos filhos. “Quero um transporte que ajude a gente para levar e trazer mercadorias”, assinala seu Edmundo.

“Agora, sou independente. Bem diferente da época do seringal”

PROPRIedAde dispõe de uma pequena casa de farinha

Seu Edmundo mostra sua produção de limão PlANTIO de café amplia a renda do produtor cRIAçãO de animais é outra fonte de renda do agricultor

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ESPECIAL

O entusiasmo e a de-terminação com que o governo Tião

Viana, o terceiro da Frente Popular, vem investindo na produção agrícola pode ser expressa nas palavras que o próprio governador dirigiu aos pequenos agricultores do distante município de Mare-chal Thaumaturgo, ao entre-gar a eles, em 14 de feverei-ro, 10 toneladas de sementes de feijão para o plantio deste ano.

“Queremos desenvolver a economia de cada município e dar oportunidade para que as famílias tenham acesso à geração de emprego e renda. Por isso, nossa política de in-vestir em pequenos negócios, em cadeias produtivas como a do peixe e a do feijão. Com a produção de feijão, aliada às outras culturas que já existem em cada propriedade, a meta é que cada família chegue a uma renda mensal de R$ 1 mil nesse início e que possa aumentar esse valor em se-guida”, disse Tião Viana.

Naquela oportunidade, as sementes de feijão das va-riedades quarentão, mantei-guinha, peruano e mutubim iriam beneficiar 350 famílias das comunidades Belfort, Amônia, Foz do Bagé de Bai-xo, Foz do Breu, Restauração e Triunfo, todas de Marechal Thaumaturgo, município que já produz 14 tipos de feijão, a maior variedade do estado. O secretário da Seaprof, Lou-rival Marques Filho, calculou em 60 mil quilos o resultado do plantio das 10 toneladas de sementes entregues so-

Investindo na mecanização e na assistência técnica

mente aos pequenos produ-tores de Thaumaturgo.

Organizados em coopera-tivas e associações, os agricul-tores apostam no sucesso do plantio de feijão como fonte de renda. “Nós acreditamos que será feito um excelente trabalho aqui no município e que o feijão vai garantir uma renda a mais para todo mun-do. Esse é o nosso sonho se tornando realidade. A gen-te vai ver o feijão produzido sair daqui empacotado, com o nosso nome, e vamos ter uma vida melhor. É isso que queremos: condições de tra-balhar”, disse Antônio Mace-na, presidente da Cooperativa dos Sonhos de Todos (Co-opersonhos), de Marechal Thaumaturgo.

A cooperativa havia recebi-do do secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Maga-lhães, investimentos da ordem de R$ 254 mil para adquirir o maquinário necessário para o beneficiamento do feijão, que inclui trilhadeira, empacota-deira e motores e equipamen-tos de informática. Segundo Edvaldo Magalhães, tão im-portante quanto produzir é agregar valor ao produto.

Antes de deixar a adminis-tração estadual, o ex-gover-nador Binho Marques, que investiu muito na infra-estru-tura rural, como fez também o ex-governador Jorge Viana, destacou o aumento signifi-cativo da produção de feijão no estado. Segundo Marques, até o final do ano passado, 53% do consumo acreano de feijão já era produzido no estado, como o da marca Tia Eliza, presente nos super-mercados acreanos.

Binho Marques dimensio-nou o crescimento da agricul-tura do estado - onde também se destaca o feijão - citando o aumento de 61 mil para 108 mil toneladas da produção acreana de grãos. Em quatro anos, segundo o ex-governa-dor, os produtores adquiri-ram 200 tratores e mecaniza-ram mais de 20 mil hectares. “Acho que a gente deve con-tinuar nesse caminho para, de fato, aumentar a nossa produ-tividade e reduzir os preços”, assinalou Marques.

PlANTIO mais recente de feijão da propriedade

Seu Edmundo e a esposa vivem felizes no meio rural Seu Edmundo mostra o violão que toca as músicas para alegrar a casa

gOveRNAdOR Tião Viana ergue saco de feijão em Marechal Thaumaturgo

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ESPECIAL

Os mil e quinhentos quilos de feijão, produzidos na sa-

fra passada pelo agricultor Edmundo Tavares Mene-ses, ajudaram o Acre a am-pliar sua produção deste tipo de grão, considerado essencial nas mesas da gran-de maioria dos brasileiros.

Segundo dados da Co-nab, do Ministério da Agri-cultura, na safra passada (2010-2011), a produção de feijão do estado alcançou a 6,4 mil toneladas, supe-rior em 10,3% das 5,8 mil toneladas produzidas na sa-fra anterior (2009-2010). A produção passada já aten-deu mais de 50% do consu-mo de feijão dos acreanos.

Produção de feijão avança no estado e já chega a 6,4 mil toneladas

O aumento da produ-ção acreana de feijão entre as duas últimas safras se de-veu basicamente ao aumen-to da área plantada pelos agricultores, que passou de 10,2 mil hectares na safra de 2009-2010 para 12,3 mil hec-tares plantados na safra de 2010-2011, com aumento da ordem de 20,6%. A mecani-zação já beneficia quase um terço de toda a área plantada no estado.

Entre as duas safras, a produtividade do feijão no estado, no entanto, baixou de 571 quilos por hectare para 524 quilos por hectare plantado. Em nível nacional, a produção de feijão na safra passada foi de 3,7 milhões de

toneladas, para um consumo da ordem de 3,5 milhões de toneladas.

A Embrapa-Acre assinala que, no Acre, o cultivo de fei-jão comum é praticado essen-cialmente por pequenos agri-cultores, que trabalham em áreas de plantios em torno de

dois hectares. Por isso, a cul-tura desse grão, tão presente também na mesa dos acrea-nos, tem grande importância social e econômica para os agricultores do estado.

Segundo a Embrapa, a pesquisa, através da cria-ção, introdução e avaliação

de novas linhagens, bus-ca encontrar soluções que assegurem aos produtores de feijão altos índices de produtividade, boa com-petitividade do produto no mercado e bons níveis de tolerância e resistência à doença da mela. As pesqui-sas mostram que as varie-dades Rudá e Pérola são as mais recomendadas para o plantio no solo acreano.

O Ministério da Agri-cultura assinala que, de 10 brasileiros, sete consomem feijão diariamente. O grão, típico da culinária do país, é fonte de proteína vegetal, vitaminas do complexo B e sais minerais, ferro, cál-cio e fósforo. No Brasil, o consumo médio por pes-soa chega a 19 quilos de feijão por ano. Atualmente, o Brasil é o maior produ-tor mundial, com sua pro-dução tendo atingido 3,7 milhões de toneladas na última safra.

uM dos tipos de feijão produzido no estado

Seu Edmundo com o técnico Nelson Maia e um companheiro agricultor

Sede da associação dos produtores do ramal das Chácaras

TécNIcOS da Seaprof fazem curso de capacitação em mecanização agrícola