Panela de Barro

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RELATÓRIO DE RISCOS ERGONÔMICOS 1-OBJETIVO O presente relatório tem como objetivo atuar com a área técnica da Regional FUNDACENTRO- Vitória - (ES) – CEES - localizada a Rua Candido Ramos, nº 30 - Jardim da Penha no desenvolvimento de um estudo Epidemiológico e Ocupacional das Paneleiras de Goiabeiras na Assessoria Técnica e Prestação de Serviços em Ergonomia, objetivando avaliar a existência de riscos ergonômicos nas oficinas de trabalho das Paneleiras de Goiabeiras, verificando conformidade com os parâmetros e preceitos da NR-17, Portaria nº. 3751 de 23 de Novembro de 1990 do Ministério do Trabalho, e fornecer propostas de ação que permitam eliminar, neutralizar e nas situações extremas, minimizar os riscos detectados. O presente estudo tem como objetivo fornecer informações dimensionais das bancadas de trabalho das paneleiras de goiabeiras para a empresa Usina Arquitetura Publicidade e Designer contratada pelo Governo do Estado de Vitória- ES em fazer a reforma e construção do novo galpão das paneleiras. Conforme solicitado, o levantamento abrangeu, inicialmente, apenas o Galpão da Associação das Paneleiras de Goiabeira localizado no Bairro de Goiabeiras Velha, à Rua das paneleiras, nº 55 cabendo posteriormente ao termino dos trabalhos acordados uma avaliação conjunta para definir necessidades de estender a pesquisa na confecção de um novo galpão buscando projetar bancadas de trabalho mais adequadas visando a aplicação de dados antropométricos. A vistoria foi realizada durante o mês de janeiro e fevereiro de 2002, com o acompanhamento do Sr. Antonio Carlos Garcia Junior- chefe dos Serviços Técnicos da Fundacentro Vitória- ES e Sra. Berenice Correia do Nascimento Presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, que coordenou as informações obtidas junto aos servidores cujas atividades foram analisadas. Finalizadas as análises apresentamos os resultados desses estudos consubstanciados no presente Relatório Ergonômico, iniciando com texto básico conceitual para possibilitar aos interessados estabelecer relação entre tais resultados e as propostas de correção formuladas. 1

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RELATÓRIO DE RISCOS ERGONÔMICOS

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RELATÓRIO DE RISCOS ERGONÔMICOS

1-OBJETIVO O presente relatório tem como objetivo atuar com a área técnica da Regional FUNDACENTRO- Vitória - (ES) – CEES - localizada a Rua Candido Ramos, nº 30 - Jardim da Penha no desenvolvimento de um estudo Epidemiológico e Ocupacional das Paneleiras de Goiabeiras na Assessoria Técnica e Prestação de Serviços em Ergonomia, objetivando avaliar a existência de riscos ergonômicos nas oficinas de trabalho das Paneleiras de Goiabeiras, verificando conformidade com os parâmetros e preceitos da NR-17, Portaria nº. 3751 de 23 de Novembro de 1990 do Ministério do Trabalho, e fornecer propostas de ação que permitam eliminar, neutralizar e nas situações extremas, minimizar os riscos detectados. O presente estudo tem como objetivo fornecer informações dimensionais das bancadas de trabalho das paneleiras de goiabeiras para a empresa Usina Arquitetura Publicidade e Designer contratada pelo Governo do Estado de Vitória- ES em fazer a reforma e construção do novo galpão das paneleiras. Conforme solicitado, o levantamento abrangeu, inicialmente, apenas o Galpão da Associação das Paneleiras de Goiabeira localizado no Bairro de Goiabeiras Velha, à Rua das paneleiras, nº 55 cabendo posteriormente ao termino dos trabalhos acordados uma avaliação conjunta para definir necessidades de estender a pesquisa na confecção de um novo galpão buscando projetar bancadas de trabalho mais adequadas visando a aplicação de dados antropométricos. A vistoria foi realizada durante o mês de janeiro e fevereiro de 2002, com o acompanhamento do Sr. Antonio Carlos Garcia Junior- chefe dos Serviços Técnicos da Fundacentro Vitória- ES e Sra. Berenice Correia do Nascimento Presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeiras, que coordenou as informações obtidas junto aos servidores cujas atividades foram analisadas. Finalizadas as análises apresentamos os resultados desses estudos consubstanciados no presente Relatório Ergonômico, iniciando com texto básico conceitual para possibilitar aos interessados estabelecer relação entre tais resultados e as propostas de correção formuladas.

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2- TÉCNICAS DE CONFECÇÃO DA PANELA DE BARRO : Pasta: a argila é utilizada sem qualquer alteração da sua constituição original. Essa argila apresenta-se compacta, sendo formada por feldspato, mica, argilitos, areias e grânulos de quartzo e gneiss. Tecnicamente, pode ser classificada como grosseira pela visualização dos fragmentos de rocha e por conter uma quantidade de matéria orgânica.

A argila tem um tratamento no local de extração para uma primeira eliminação de matéria orgânica e dos grãos de areia mais grossos. Depois de retirada é aglomerada em formato de uma “bola”, sendo então guardadas em compartimentos apropriados, e hidratadas, quando necessário.

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Método de manufatura: a técnica de confecção das panelas de barro e a “modelagem”. As artesãs retiram uma quantidade de barro suficiente para a modelagem de uma peça. A seguir, amassa-se a argila hidratando-a, quando necessário, para obter uma melhor plasticidade. Nessa oportunidade, retira-se da argila as impurezas Que vão aparecendo. Esse núcleo é colocado sobre um pedaço de tábua com superfície plana, o que vai facilitar a artesã na movimentação da peça no momento de sua confecção. Após, é feita uma abertura no centro do núcleo e nesse ato é definido o formato da peça. A partir daí, modela-se o objeto com uma série de movimentos, inicialmente usando as mãos. A panela começa a tomar os contornos desejados, ato que as paneleiras chamam de “puxar a panela’, porque ela é constantemente alisada ainda pelas mãos e depois por diversos tipos de materiais, como casca de coco, pedaços de cuité e espátulas de madeira, ou até objetos de metal.

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As cascas de coco e cuité, por terem sua superfície arredondada, são utilizadas para dar os contornos abaulados, principalmente da parte externa das panelas. No processo de moldagem, as paneleiras controlam a espessura da peça e as sobras vão aparecendo na parte da borda e são constantemente retiradas e reintroduzidas no corpo da panela. Para o acabamento, principalmente da borda, são usados os dedos para um alisamento perfeito e determinação da espessura. Após tomar o formato desejado, a peça é retirada da madeira para raspagem e eliminação do excesso de argila e dar forma a base, normalmente com um objeto de metal denominado de “arco’. Nessa etapa é verificado se dentro da argila encontram-se bolhas de ar. “...Reconhecem o “ar” ao deitar a faca e deslizá-la na parte externa do objeto. Quando a peça necessita de um melhor acabamento é utilizado um objeto metálico, quase sempre uma faca, para alisamento do corpo da peça que geralmente é levemente umedecida. Depois a peça é colocada para secar e eliminar o máximo de água da argila.

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Após a secagem, a peça passa por um processo de tratamento de superfície, com a raspagem e o alisamento feito com um seixo rolado “passado com uma certa pressão na superfície das peças para eliminar as saliências provocadas pela grande quantidade de areia da argila. Os grãos de areia maiores, visíveis na superfície, são retirados e os outros fixados na pasta pela pressão do seixo rolado. Os sinais desse alisamento são bem visíveis depois da peça pronta.

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Queima: após concluído o tratamento de superfície, as panelas de barro são colocadas novamente para secagem e eliminação total de água da argila ficando então prontas para a queima. Todo processo da queima se dá ao ar livre e é realizado quando duas ou mais paneleiras possuem peças para queimar. Os trabalhos são feitos de forma conjunta, com determinação de funções específicas. Prepara-se uma “cama” de madeira com superfície plana onde são colocadas todas as peça secas. Todo o vasilhame destinado à queima é cuidadosamente coberto por pedaços de madeira, geralmente leves e bem secos. O fogo é ateado em uma das “cabeceiras da cama” dando início à queima.

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As paneleiras preferem que a queima seja feita com vento soprando do nordeste ou norte e que sua velocidade seja moderada, porque o vento forte queima mais rapidamente a madeira e as panelas não ficam no ponto desejado. Quando não há vento ou sua intensidade é fraca as paneleiras mais antigas “chamam o vento” assobiando. A medida que a madeira vai sendo queimada, as panelas são retiradas para receber o tingimento de tanino.

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Para isso, cada artesã escolhe um lugar ao redor da “cama” de queima e deixa ao seu lado um vasilhame com tinta do tanino, que foi previamente preparada, juntamente com um açoite, feito com um maço de “vassourinha do campo”, arbusto natural do local, também chamado de muxinga, e um pedaço de madeira. Além disso, a artesã mantém ao seu lado um pedaço da casca da árvore do mangue e um pequeno rolete de argila para utilizar quando as peça apresentarem fraturas. Depois dessa preparação, as peças vão sendo retiradas da “cama” ainda quentes, com um gancho com terminal metálico e imediatamente açoitadas com tinta tanino. A artesã, que mantém na mão esquerda um pedaço de madeira, utilizado para fazer a panela mudar de direção, realiza movimentos rápidos e com isso vai tingindo todo o vasilhame com o tanino.

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Não se tem precisão sobre o grau de temperatura do fogo para a queima da cerâmica. Comparando com outras situações idênticas no Brasil e observações feitas nos locais de queima, verifica-se que a temperatura no ato da queima ao ar livre não ultrapassa os 400º C. Durante o processo da queima algumas peças se quebram. Umas, por ainda não estarem totalmente secas e, outras, por terem no interior uma grande quantidade de bolhas de ar. Essas bolhas de ar, na maioria das vezes, aparecem em função da queima da matéria orgânica que eventualmente não foi retirada no ato da confecção das panelas. É raro a quebra de panelas devido a má preparação da argila, principalmente de seu amassamento. Depois de confeccionadas e queimadas as panelas de barro apresentam as seguintes características técnicas: Textura: geralmente a cerâmica apresenta uma boa textura em função das técnicas de manufatura.

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Os elementos que constituem a argila também contribuem para uma boa compactação da pasta e para eliminação quase total das bolhas de ar. As peças que apresentarem pequenas fraturas são recuperadas logo após a queima com a aplicação do líquido do tanino ou mesmo pela aplicação direta da casca do tanino, cuja resina faz com que esses trincamentos desapareçam. Quando a espessura do trincamento é muito grande ( excedendo a 0,3 a 0,5 cm), é aplicada uma pequena quantidade de argila. Nesse momento , em função da temperatura da panela, a argila aplicada é rapidamente assimilada sem a necessidade de voltar ao fogo. Dureza: medida pela escala de Mohls e alcança de 3,5 a 4 graus de dureza. Formas: atualmente são as seguintes as formas confeccionadas pelas paneleiras de goiabeiras; assadeiras, caldeirão, frigideiras, panelas, etc.

Fonte: texto tirado da série memória viva – As Paneleiras- Autoria: PMV- Prefeitura Municipal de Vitória- ES.

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3- CONSIDERAÇÕES INICIAIS 3.1 CONCEITUAÇÃO Basicamente, ergonomia significa “regras de trabalho”, e sua aplicação visa determinar conceitos e formas de trabalho que resguardem a segurança e saúde das pessoas envolvidas na atividade. Assim sendo, trata-se de um conjunto de conhecimentos envolvendo tanto as ciências exatas como as humanas, objetivando otimizar a relação homem- máquina, adaptando as condições de trabalho às características do trabalhador. Em função das novas tecnologias, com estruturas mais sofisticadas de interação do ser humano com os processos produtivos, são maiores as exigências de se oferecer aos trabalhadores, além de um ambiente de trabalho seguro, um nível de conforto que torne sua atividade produtiva e agradável. Portanto a ergonomia procura estabelecer suas diretrizes para que o binômio conforto- produtividade seja observado. No entanto, deve sempre ser dada prioridade aos aspectos de “ Segurança e Saúde do Trabalhador ”. 3.2 OBJETIVOS DE UMA ANÁLISE ERGONÔMICA O objetivo principal desta análise é o de promover uma adequação ergonômica geral do posto e do meio ambiente de trabalho, trabalho esse que deveria ser desenvolvido ainda na fase de projeto de qualquer atividade ( montagem de um escritório, implantação de uma unidade fabril, construção de uma edificação, etc. ) com aplicação da chamada “ Ergonômia de Concepção”. A nossa realidade, porém mostra que essa preocupação com ergonomia somente aparece juntamente com o surgimento de trabalhadores adoentados, com queda de produção (qualitativa e quantitativa ) e necessidade de afastamento. Nesse estágio a aplicação dos conceitos ergonômicos apresenta vários níveis de intervenção, visando no primeiro instante caracterizar as condições mais

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elementares de risco para aos poucos introduzir mudanças no ambiente e sistema de trabalho como um todo. Inicialmente deve-se verificar as condições biomecânicas desfavoráveis, oferecendo ao trabalhador ferramental adequado às características antropométricas. Em seguida, analisam-se as condições ambientais, envolvendo ruído, temperaturas extremas (calor, frio ) , umidade, vibrações, exposição a agentes químicos, etc. e ainda a qualidade da iluminação geral e suplementar. Para se otimizar os resultados da implantação dos conceitos ergonômicos, deve-se ainda analisar cada método de trabalho estabelecido, bem como a forma de organização, ou o encadeamento desses métodos que levam ao produto final esperado da instituição/empresa. A aplicação da Ergonomia deve ser considerada uma necessidade da empresa moderna tendo em vista que : .pode prevenir doenças músculo- ligamentares , lombalgias , tenossinovite, lesões por trauma cumulativo- LTC, as quais reduzem a produtividade, geram afastamentos e criam problemas trabalhistas graves para a empresa; . permite trabalhar com nível correto de conforto proporcionando um ambiente mais saudável aos funcionários, podendo melhorar seu desempenho com ganhos na produtividade; A ergonomia, portanto, não deve ser considerada como um fim mas como um meio para oferecer aos trabalhadores melhores condições de exercício das atividades profissionais, com qualidade e conforto. 3.3. METODOLOGIA APLICADA Os levantamentos efetuados permitiram observar que não estão sendo aplicados os conceitos ergonômicos na atividade analisada e relacionada a seguir; desta forma, o trabalho realizado procurará oferecer propostas de caráter elementar que poderão ser otimizadas em instante posterior à sua implantação.

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A avaliação consistirá na observação cuidadosa da atividade do posto de trabalho das paneleiras, com atenção especial aos aspectos básicos de ergonomia, métodos e processos, ferramentas de trabalho, conforto ambiente e cronoanálise. Será enfatizado o conceito da carga de trabalho, o qual é substancialmente diferente da exigência da tarefa. Esta tem a notação de quantidade e qualidade de trabalho enquanto aquela prende-se a características individuais do funcionário e da sua percepção de sobrecarga ou subcarga de trabalho. Os funcionários considerados paradigmas serão entrevistados no intuito de se obter elementos subjetivos de conforto e sobrecarga de trabalho. Desta forma será também preservada a idoneidade desse estudo. Serão aplicados diversos “Check- Lists” abordando aspectos específicos de ergonomia e com uma lógica de aprofundamento. Assim, serão avaliadas as condições ergonômicas gerais com detalhamento progressivo. 4- SETOR ANALISADO 4.1. GALPÃO DA ASSOCIAÇÃO DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS . Localizado no térreo, com piso de placas de cimento, paredes de alvenaria, bancadas de trabalho de madeira, iluminação natural e artificial, com lâmpadas fluorescentes e ventilação natural. 5- ANÁLISE ERGONÔMICA O ambiente acima descrito (item 4), foi analisado sob a ótica das medidas de proteção ao trabalho preconizadas pela Norma Regulamentadora 17- NR 17 da Portaria 3214/78 e suas atualizações, e o resultado está apresentado conforme subitens a seguir definidos:

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6- ANTROPOMETRIA E BIOMECÂNICA Introdução: O projeto incorreto da área de trabalho, bem como dos equipamentos, ferramentas e meios auxiliares nelas existentes, impõe ao trabalhador, solicitações excessivas e desnecessárias que resultam normalmente em: - lombalgias no operário;

- menor conforto e fadiga precoce do operário; - sensíveis perdas de produtividade do operário; - grande incidência de erros na execução do trabalho; - ausências constantes ao trabalho; - acréscimos consideráveis nos cistos operacionais; - menor rentabilidade da empresa.

É portanto, de fundamental importância que a área de trabalho, seu arranjo, equipamentos e ferramentas nela existentes, sejam bem projetadas. Para tanto, é necessário que as mesmas estejam adaptadas às capacidades psico-fisiológicas – antropométricas e biomecânicas humanas. Para atingir este objetivo deve-se, portanto, conhecer as capacidades e limitações humanas. 6.1 CONCEITOS E OBJETIVOS DE ANTROPOMETRIA :

A Antropometria é definida como o estudo das medidas das várias características do corpo humano. Abrange principalmente o estudo das dimensões lineares, diâmetros, pesos, centros de gravidade do corpo humano e suas partes. Utiliza, ainda, os dados da biomecânica, estudando, nesse âmbito,

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ângulos, velocidade, aceleração, forças e espaços advindos de movimentos do corpo humano e suas partes.

No projeto de arranjo e espaço de trabalho, bem como de

equipamentos, o ideal seria adaptar cada um deles ao seu respectivo operador. Mas isto, em geral, é tecnicamente inviável por impossibilitar a fabricação de máquinas em série, acarretando assim altos custos de fabricação e baixa produtividade. O ideal, técnica e economicamente, seria então fazer o estudo visando atender à maior faixa possível de utilizadores, dentro de um limite ótimo de custos.

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ESTÁTICAS E DINÂMICAS

Para a execução deste estudo torna-se necessário o conhecimento das medidas estáticas e dinâmicas do corpo humano.

As medidas estáticas são as dimensões físicas do corpo humano, na posição parada. As medidas dinâmicas são as resultantes da execução de alguma função pela pessoa. Descrevem, portanto, a pessoa como um organismo funcionando em movimento, tal como quando operando os controles de uma máquina, estando, portanto, este estudo dentro do campo da biomecânica. Foram realizadas medições antropométricas estáticas e dinâmicas nas bancadas de trabalho das paneleiras os resultados são apresentados a seguir: As bancadas de trabalho apresentam alturas que variam (chão x superfície de trabalho) de 0,80 cm, 0,88 cm, 0,89 cm, 0,91 cm e 0,93 cm. Algumas bancadas ficam muito altas para a realização dos serviços. RESULTADOS E CONCLUSÕES: A NR-17 (ergonomia) no seu item 17.3- Mobiliário dos postos de trabalho- subitem 17.3.2 diz: “ Para o trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito de pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador

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condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais “. Sobre esses aspectos verificamos que nenhuma das bancadas de trabalho existentes possibilitam posicionamentos e movimentos adequados dos segmentos corporais das paneleiras por estarem com dimensões antropométricas inadequadas. Além de possuir um fechamento frontal que impede a movimentação dos membros inferiores. A característica das superfícies de trabalho não são compatíveis com o tipo de atividade. A área de trabalho é de difícil alcance para execução dos serviços. Portanto não atendem aos requisitos do item 17.3 subitem 17.3.2 ( a, b, c, ) da NR-17 (ergonomia) Conclui-se que todas as bancadas de trabalho devem ter 0,90 cm de altura (chão x superfície de trabalho) de acordo com estudos antropométricos realizados. Devem ser confeccionadas plataformas (superfícies) de madeira para que as pessoas mais baixas possam trabalhar adequadamente. As plataformas devem ser confeccionadas de madeira (compensado) de 2,0 cm de espessura, com 45,0 cm de comprimento e 30,0 cm de largura. Sua altura deverá ser de 11,0 cm.

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Foram realizadas medições antropométricas dinâmicas para determinar a área de alcance ótimo e máximo nas bancadas de trabalho para o trabalhador em pé. Solicitou-se que as paneleiras fizessem movimentos em semicírculo com a mão direita e esquerda, riscando com um pincel atômico a superfície de trabalho. Com isso pudemos avaliar a área de alcance ótima para o trabalho com as duas mãos ( alcance máximo e alcance ótimo). Após essa medição constata-se que a profundidade de todas as bancadas de trabalho devem ser de 80 cm. As bancadas atuais variam a profundidade de 0,80 cm, 0,83 cm, 1,05 cm, e 1,12 cm.

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ÁRE

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DINÂMICAS

DAS PANELEIRAS DE GOIABEIRAS. A Profundidade da bancada de trabalho deve ser de 80 cm.

116600

110000

2255 ccmm

AALLCCAANNCCEE MMÁÁXXIIMMOO

40 cm

8800 ccmm

ÁÁRREEAA ÓÓTTIIMMAA PPAARRAA TTRRAABBAALLHHOO CCOOMM AASS DDUUAASS MMÃÃOOSSAALLCCAANNCCEE ÓÓTTIIMMOO

RESULTADO DO ESTUDO BIOMECÂNICO REALIZADO COM AS PANELEIRAS.

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MEDIÇÕES ANTROPOMÉTRICAS DINÂMICAS ( ALCANCES BIOMECÂNICOS).

As fotos mostram os movimentos biomecânicos ( área de alcance ótimo e máximo ) na bancada de trabalho realizado pelas paneleiras. As fotos mostram os movimentos biomecânicos ( área de alcance ótimo e máximo ) realizado pelas paneleiras nas bancadas de trabalho. Os riscos brancos na superfície da bancada de trabalho registram a área de alcance para execução dos serviços.

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6.1.1 ASSENTOS PARA DESCANSO ,CUIDADOS POSTURAIS PARA TRABALHAR E EXERCÍCIOS ESPECÍFICOS. A NR-17 (ergonomia) no seu item 17.3- Mobiliário dos postos de trabalho, subitem 17.3.5 diz: “Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas”. Nas visitas realizadas nos locais de trabalho pode-se constatar que não existe assentos para descanso nas bancadas de trabalho. Verificou-se também que a grande maioria das paneleiras trabalham o tempo todo em pé. Portanto, recomenda-se que: No galpão sejam colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante o trabalho e pausas para descanso. 6.1.1.1 CUIDADOS POSTURAIS Uma série de cuidados pode ser ensinada às paneleiras, principalmente para evitarem posturas viciosas desnecessárias. A conscientização dos riscos e da forma de evitá-los ou minimizá-los, pode resultar em que as paneleiras assumam melhores posturas na realização de seu trabalho. E, indiretamente, uma atitude mais positiva diante de pequenas queixas. Portanto, recomenda-se que: Todas as paneleiras participem de palestras, e que recebam treinamentos de como cuidar da sua postura para trabalhar.

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6.1.1.1.1 EXERCÍCIOS ESPECÍFICOS Como todos nós sabemos, essas trabalhadoras, em geral estão entre os profissionais sujeitos às chamadas lesões por esforços repetitivos, em função da sua rotina de trabalho. Essas lesões são consideradas como doenças profissionais. A tenossinovite (doença nas articulações das mãos) é uma delas. Portanto, recomenda-se que: Seja promovido exercícios específicos entre as paneleiras, como ginástica laborativa. Ginástica laborativa são exercícios feitos antes da realização das tarefas. São exercícios de alongamento e relaxamento que evitam a fadiga muscular. 6.2 DETERMINAÇÃO DA FAIXA DE UTILIZADORES

O limite máximo da faixa de utilizadores no projeto seria evidentemente uma faixa de 100%, ou seja, toda a população dos utilizadores. Entretanto, para esta faixa, o projeto em geral é técnica e/ou ergonomicamente inviável. Por isso, num projeto objetiva-se, em princípio, a sua adaptação às características dimensionais de, no mínimo 90% dos utilizadores, ou seja, pessoas cujas dimensões variam entre os padrões 5% e 95%.

- O que significa pessoa – padrão 5%?

O percentual pessoa 5% significa que apenas 5% das pessoas que fazem parte do levantamento antropométrico considerado, têm dimensões ou capacidades físicas inferiores à deste padrão 5%. Ou, ainda, que 95% das pessoas deste mesmo levantamento têm dimensões ou capacidades físicas superiores à deste padrão 5%.

- O que significa pessoa – padrão 95%?

Da mesma forma, o percentual pessoa 95%, significa

que 95% das pessoas do levantamento considerado têm dimensões ou capacidade físicas inferiores e que apenas 5% têm dimensões ou capacidades físicas superiores a este padrão.

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6.3 CURVA DE DISTRIBUIÇÃO DAS MEDIDAS HUMANAS

O tratamento dos dados antropométricos pelos métodos estatísticos, resulta em geral quanto às medidas antropométricas em uma curva de distribuição normal.

6.4 ANTROPOMETRIA ESTÁTICA 6.4.1 Valores de antropometria estática dados do Instituto Nacional de Tecnologia- INT- Rio de Janeiro. e considerações ergonômicas. As tabelas que seguem apresentam resultados de um levantamento antropométrico realizado pelo Instituto Nacional de Tecnologia – INT- (Rio de Janeiro) ERGOKIT- onde estão relacionadas as dimensões estáticas do corpo humano. Este levantamento determinou dados antropométricos aplicáveis a estudos de espaço de trabalho, determinação de altura de bancadas e assentos. Observem que os dados são apresentados não somente em termos de uma pessoa média (50%), pois tais valores não fornecem indicações sobre as dimensões externas superiores e inferiores das pessoas (95% e 5%). As dimensões abaixo relacionadas foram aplicadas para determinar a altura das bancadas de trabalho e assentos utilizados no Galpão da Associação das paneleiras de Goiabeiras.

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS-DADOS DO INT( ERGOKIT)

DESCRIÇÃO VARIÁVEL

ANTROPOMÉTRICA

PERCENTIL VALOR EM CM DADOS DO INT

VALOR RECOMENDADO PELO ESTUDO:

LARGURA MÁXIMA DO PÉ: Distância entre o ponto mais lateral da articulação metatarso-falangiana do dedo e o ponto mais medial da articulação metatarso-falangiana do dedo I

5% 50% 95%

9,1 cm 10,1 cm 11,3 cm

12,0 cm

COMPRIMENTO MÁXIMO DO PÉ DESCALÇO, EM PÉ: Distância póstero-anterior do ponto mais externo do calcâneo à extremidade pulpar do maior dedo.

5% 50% 95%

24,4 cm 26,4 cm 28,5 cm

25,0 cm

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DESCRIÇÃO

VARIÁVEL ANTROPOMÉTRICA

PERCENTIL VALOR EM CM DADOS DO INT

VALOR RECOMENDADO PELO ESTUDO:

ALTURA DO MALIOLO LATERAL: Distância vertical do ponto mais proeminente do maléolo lateral.

5% 50% 95%

6,2 cm 7,2 cm 8,3 cm

8,0 cm

ALTURA DA JUNÇÃO PERNA-PÉ: Distância vertical da junção perna-pé ao plano no qual se apoia o pé.

5% 50% 95%

8,0 cm 8,8 cm 10,2 cm

10,1 cm

ALTURA DO COTOVELO FLETIDO, SENTADO: Dist6ancia vertical da ponta do cotovelo ao solo, estando o antebraço flexionado formando um ângulo de 90 graus com o braço.

5% 50% 95%

58,5 cm 62,5 cm 66,5 cm

66,0 cm

ALTURA DO COTOVELO FLETIDO, EM PÉ: Dist6ancia vertical da ponta do cotovelo ao solo, estando o antebraço flexionado, formando um ângulo de 90 graus com o braço.

5% 50% 95%

91,5 cm 98,0 cm 106,0 cm

98,5 cm

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7- DISPOSITIVO - CAVALETE ROTATÓRIO PARA MODELAGEM DAS PANELAS DE BARRO. Foi construído um dispositivo rotatório para modelagem das panelas de barro que permite movimentar a panela sem ter que levanta-la, permitindo com que a modelagem seja feita sem levantar a bandeja e panela de barro . Esse dispositivo permite movimentos mais confortáveis para a modelagem. Da forma com que o trabalho de modelagem das panelas de barro era feito, as paneleiras se queixavam de dores nas mãos, braços , punho, e ombros. Com a implantação desse dispositivo as queixas de dores serão reduzidas.

DISPOSITIVO SENDO TESTADO NA MODELAGEM DA PANELA DE BARRO

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RESULTADOS E CONCLUSÕES: Para solucionar esta situação é necessário que sejam confeccionados dispositivos de modelagem rotatórios conforme mostram as fotos.

CAVALETE DE MODELAGEM RECOMENDADO PARA PANELA DE BARRO

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BASE SUPERIOR DO DISPOSITIVO DE MODELAGEM

DESCRIÇÃO DO MATERIAL: 1-) Madeira com 2,0 cm de espessura, pintada com tinta óleo. 2-) Bandeja de madeira com 39,0 cm de diâmetro . 3-) Quatro rodinhas com 3 cm de diâmetro ( rotatórias). 4-) Chapa em aço de forma retangular de 7,0 cm x 4,5 cm com espessura de 3mm. 5-) Eixo central em aço com 6,0 cm de comprimento e 1,0 cm de diâmetro.

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BASE INFERIOR DO DISPOSITIVO DE MODELAGEM

DESCRIÇÃO DO MATERIAL: 1-) Madeira com 2,0 cm de espessura, pintada com tinta óleo. 2-) Diâmetro da circunferência da madeira ( bandeja) 39,0 cm. 3-) Chapa de aço de forma retangular de 7,0 cm x 4,5 cm, com espessura de 3mm, furada ao centro com 1,0 cm de diâmetro. 4-) Quatro parafusos auto atarraxante .

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VISTA DO DISPOSITIVO DE MODELAGEM COM AS DUAS BASES

(BANDEJAS) SOBREPOSTAS AO EIXO CENTRAL.

CAVALETES DE MODELAGEM

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VISTA DO ENCAIXE PARA REGULAGEM DE ALTURA DO

DISPOSITIVO DE MODELAGEM

BARRA DE ENCAIXE PARA REGULAGEM DE ALTURA DO

DISPOSITIVO DE MODELAGEM.

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VISTAS DO ENCAIXE DO EIXO CENTRAL E ROTAÇÃO DO

DISPOSITIVO DE MODELAGEM

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8-0 COMENTÁRIOS VERBAIS- QUEIXAS E OPINIÕES: Por ocasião das observações em campo solicitou-se as paneleiras que fizessem livremente quaisquer comentários a respeito do seu ambiente de trabalho ( criticas e sugestões). Transcrevemos ao final do relatório de forma literal os depoimentos mais significativos daqueles que foram apresentados ( comentários Verbais). - Sinto dores nos braços e nas costas por causa da altura da bancada de

trabalho. - Precisa mudar a altura da mesa. - Fica difícil suspender a panela , muitas vezes é pesada. - Trabalho a 13 anos na profissão de paneleira as vezes canso a munheca por

causa de pegar as panelas grandes, as vezes passo álcool e faço massagem para a dor. Mas tudo isso agente supera.

- Quando eu faço panela costumo cantar, fazer orações, hino de louvor isso ajuda passar o tempo, distrair, é uma terapia.

- Faço panelas a 63 anos me doe os ombros e braços as vezes. - Sinto dores nas pernas, o meu pé incha de tanto ficar em pé. - Prefiro trabalhar em pé pois o serviço rende mais. - Em média faço 30 peças de panela tamanho médio por dia , quando faço

mais sinto dores fortes nas mãos. - Na área de queima para cada açoitadeira deveria existir uma cobertura para

fugir do sol. - Acho que não podemos mudar muita coisa na queima pois mudaria muito a

tradição. - Tenho pressão alta, e sinto a perna inchada. - Sinto dor na coluna e no braço direito, fiz aplicação e fiquei 3 meses

afastada do trabalho, quando retornei ao trabalho as dores pioraram.

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O presente Parecer Técnico tem 32 páginas enumeradas e rubricadas e foi elaborado pelo Tecnologista da FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO - ( FUNDACENTRO), abaixo assinado, que contaram com a participação nos trabalhos de Audio Visuais do Sr. Edson Luis dos Anjos , Sr. Leordino Gomes de Novaes e Sr. Clodoaldo Caetité de Novaes. Ricardo da Costa Serrano Tecnologista/FUNDACENTRO Setor de Coordenação de Segurança no Processo de Trabalho. São Paulo, 10 de Abril de 2002.

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