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FATORES COGNITIVOS E PROCESSO DECISÓRIO: Um estudo sobre a relevância dos
aspectos visuais na escolha dos usuários
César Augusto Tibúrcio Silva
Universidade de Brasília – UnB
André Luiz Silva Brandrão
Universidade de Brasília- UnB
Thais Mota Crabbi (autor de contacto)
Universidade de Brasília – Unb
Os autores autorizam a publicação da comunicação no livreto de atas do XVIII CICA, em
formato digital, e pretendem apresentar a comunicação sem discussant.
1 INTRODUÇÃO
No passado, a contabilidade estava associada à escrituração mercantil. Com o passar dos
anos, nota-se que a função da contabilidade, e por consequência o papel do contador, expandiu-se.
Hoje os contadores auxiliam gestores, executivos, governo, empresas em geral, entre outros
usuários no processo de tomada de decisão por meio de demonstrativos e relatórios contábeis.
Assim, é possível afirmar que existe um vínculo forte entre a contabilidade e o processo decisório.
A apresentação de uma nova informação irá gerar uma reação por parte do usuário.
O estudo da relação entre informação e decisão é fundamental para compreender o próprio
papel da contabilidade. Mas o processo decisório pode ser influenciado pela forma como a
informação é apresentada. Hartono (2004 apud Lima, 2007), por exemplo, afirma que a maneira
como informações de cunho contábil são evidenciadas pode impactar o valor das ações, o que
revela que os acionistas são sensíveis à forma de apresentação de determinados dados contábeis.
Nos modernos estudos sobre as decisões, o modo pelo qual a informação é apresentada e sua
respectiva influência no comportamento humano recebe a denominação de efeito formulação
(Lima, 2007).
Esta posição, por sua vez, contraria uma percepção comum existente na contabilidade: a
prevalência da essência sob a forma. Apesar da “essência sob a forma” referir-se a privilegiar, na
divulgação de um fato, os aspectos econômicos e não a forma jurídica, o termo acabou adquirindo
uma conotação mais ampla. Sob esta regra o que é importante para a contabilidade é a essência da
apresentação da informação. Neste sentido, o usuário seria plenamente racional e não seria passível
de erros de cognição.
A partir deste conceito da racionalidade econômica, premissa básica da teoria financeira
moderna, pode-se inferir que os indivíduos utilizam as informações disponíveis para a melhor
tomada de decisão. No entanto, na prática, não é apenas a racionalidade que determina o
comportamento humano. Outros elementos, como os dados visuais, sensoriais, emotivos, intuitivos
e instintivos podem influenciar a conduta das pessoas. Isso pode ser observado no cotidiano, como,
por exemplo, na compra de um veículo, na escolha de um parceiro ou na contratação do novo
gerente da empresa.
Nesse sentido, Cavazzote et al. (2009, p.201) dizem que a emoção é muito importante no
processo decisório, “[...] pois os sistemas emocionais forneceriam conhecimentos implícitos e
explícitos para escolhas mais rápidas e vantajosas.”. Ainda segundo Cavazzote et al. (2009, p. 201),
se não houvesse nenhum indício de relações afetivas “[...] as pessoas contariam apenas com uma
análise de custos e benefícios com numerosas opções, frequentemente conflitantes. ”
Levando-se em consideração os fatores sensoriais na tomada de decisão, este estudo adentra
no campo das finanças comportamentais e por consequência no estudo da contabilidade
comportamental. Segundo Mosca (2009, p. 4), o “[...] principal objetivo das finanças
comportamentais é aliar economia, finanças e o estudo comportamental e cognitivo oriundo da
psicologia para, dessa forma, revelar os reais fatores que moldam o processo decisório humano”.
As informações contábeis podem ser apresentadas de formas diversas, como, por exemplo,
por meio das demonstrações contábeis e relatórios de administração (tabelas, gráficos, imagens,
pareceres), entrevistas com executivos, vídeos institucionais, valor da ação (para empresas de
capital aberto), entre outros. Desse modo, a forma de apresentação das informações contábeis ao
público, pode interferir no processo de tomada de decisão das partes interessadas, seja o futuro
investidor, ou o gerente de um banco, que poderá autorizar um empréstimo requerido observando
apenas as informações contábeis disponibilizadas pelo cliente. Com isso, a maneira como as
informações contábeis são apresentadas, pode interferir o processo decisório de gestores,
influenciando suas crenças. Segundo Lima (2007, p. 33) “as crenças dos investidores representam
um componente crítico no processo de avaliação de alternativas”.
Os aspectos técnicos dos números contábeis e seu impacto nos usuários receberam forte
atenção de reguladores, profissionais e pesquisadores. Entretanto, as mídias linguísticas e visuais
são tão importantes na comunicação de questões relevantes para a contabilidade quanto os números
em si. As narrativas passaram a constituir uma parte significativa dos relatórios financeiros
regulatórios e voluntários. O aspecto visual, portanto, é similarmente significativo na pesquisa
sobre comunicação contábil (Davison, 2013).
Este artigo faz parte de uma linha de pesquisa que procura determinar a influência de fatores
não racionais no processo de tomada de decisão com informações contábeis. Neste sentido, a
pesquisa apresentada corresponde a primeira etapa, onde se analisa a influência dos elementos
exteriores na decisão. Investigar os aspectos visuais foi uma opção deste estudo, baseado nos
trabalhos de Todorov, Mandisodza, Goren e Hall (2005) e Graham, Harvey e Rajgopal (2010). Os
dois trabalhos discutem a influência de fatores visuais relacionados a pessoas na tomada de decisão.
Para isto, a pesquisa reproduz, com adaptações, a pesquisa de Todorov et al. (2005), que analisaram
se os aspectos visuais são importantes nas escolhas dos indivíduos em ambientes eleitorais.
Tendo em mente as reflexões aqui expostas – investigação de fatores não racionais no
momento decisório – o presente trabalho tem como objetivo determinar se os aspectos visuais
influenciam na escolha de candidatos eleitorais.
Apesar do objetivo aparentemente não guardar uma relação direta com a contabilidade, é
importante destacar que sendo uma ciência social, a contabilidade tem interesse em investigar os
fatores que influenciam a decisão. Dentre estes fatores, tem-se a questão da “essência sob a forma”.
Neste sentido, o aspecto visual estaria vinculado a “forma”, enquanto os quesitos de avaliação das
pessoas usadas na pesquisa, e descritos mais adiante, seriam a essência. Neste sentido, a pesquisa
de Hsieh et al (2019) é sintomático. Usando um software, os autores mostraram que as empresas
onde os executivos financeiros possuem uma aparência menos “confiável” pagam valores de
auditoria superiores às empresas com executivos com um aspecto visual mais confiável.
Os testes realizados, e, apresentados a seguir, mostram que os respondentes conseguiram
separar adequadamente os candidatos eleitos dos candidatos não eleitos, usando para isto somente
a fotografia. Isto pode ser um indício de que aspectos visuais podem ser importantes nas decisões
cotidianas dos indivíduos, incluindo decisões econômico financeiras, e na própria escolha dos
gestores públicos eleitos no Brasil.
A estrutura do artigo foi constituída da seguinte maneira: introdução; referencial teórico;
metodologia; análise dos resultados; e, por fim, conclusão que buscará responder a pergunta do
objeto deste artigo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As pessoas rapidamente fazem atribuições de rostos, como se uma pessoa é confiável,
competente e/ou simpática. Desde o início do século XX, os psicólogos sabem que há um consenso
em atribuir características sociais e de personalidade à aparência facial de um sujeito. (Todorov,
Olivola, Dotsch and Mende-Siedleski, 2015). Até mesmo crianças de 3 a 4 anos mostram um nível
significativo de consenso nas atribuições sociais de rostos, que é consistente com o que é
encontrado em adultos (Cogsdill, Todorov, Spelke and Banaji, 2014). Para, Kahneman (2003) as
impressões faciais são avaliações naturais que estão mais relacionadas com a percepção do
indivíduo do que com o seu pensamento.
De acordo com Todorov et al. (2015), em toda cultura antiga, pode-se encontrar crenças de
que o rosto é uma janela para a verdadeira natureza de uma pessoa. Apesar de as crenças terem
variado ao longo dos anos, e de cultura para cultura, todas elas compartilham a suposição de que
existe uma correspondência direta entre a aparência facial e a personalidade. Para os autores, a
tomada de decisão é tão rápida que as pessoas são capazes de formar julgamentos sobre os atributos
visuais de outro indivíduo em uma exposição facial de apenas 34 milissegundos.
Apesar do velho ditado alertar para “não julgar um livro pela capa”, muitas vezes a
formação de opinião sobre as características dos outros são tomadas a partir de amostras estáticas
e rápidas de sua aparência, ou seja, a primeira impressão a ser vista. O uso difundido da mídia
visual e a crescente popularidade da Internet significam que as aparências são cada vez mais as
primeiras pistas que recebemos sobre outra pessoa (por exemplo, através de fotos postada em redes
sociais), frequentemente muito antes de conhecê-las (Olivola and Todorov, 2010b).
Um tema econômico instigante sobre aspectos visuais e tomada de decisão indica que há
um “prêmio de beleza” no qual trabalhadores que aparentam ser mais atraentes ganham mais do
que trabalhadores com aparências abaixo da média. Esse resultado sugere que a percepção baseada
em atributos faciais é significativa na tomada de decisões financeiras (Graham, Harvey and Puri,
2016).
A boa aparência também pode ser um forte influenciador para as escolhas dos eleitores. Por
exemplo, Olivola e Todorov (2010a) mostraram que as pessoas têm maior probabilidade de votar
em candidatos políticos que possuem características faciais que os fazem parecer competentes. Por
meio de diversos experimentos, Ahler et al. (2017) descobriram que a disponibilização de
informações adicionais sobre o candidato não é capaz de alterar o julgamento previamente
estabelecido através da aparência visual. Para os autores, essa descoberta levanta preocupações
sobre a competência dos eleitores e sobre a qualidade dos gestores públicos que estão sendo eleitos.
Os símbolos visuais são há muito tempo um componente central da comunicação política e
sua importância aumentou à medida que o meio visual da televisão se tornou a fonte dominante de
informação política. Os políticos entendem o significado dos recursos visuais e trabalham com
intensidade para construir imagens eficazes ao mesmo tempo em que emitem sinais poderosos. Em
suma, as imagens visuais desempenham um papel central na construção de imagens políticas
(Schill, 2012).
A presente pesquisa foi baseada no artigo de Todorov et al. (2005), em que os autores
fizeram um experimento que consistia em mostrar se a aparência era um fator relevante nas
tomadas de decisões. O estudo foi elaborado com 40 participantes. Eram mostrados a eles fotos
dos rostos de candidatos dos quais os respondentes teriam que julgar se o candidato era ou não
competente. Segundo Todorov et al. (2005), inferências automáticas rápidas sobre competência,
baseadas somente na aparência facial de candidatos políticos, sem nenhum conhecimento prévio
sobre a pessoa, pode predizer o resultado das eleições ao congresso dos Estados Unidos da América
(EUA).
A competência pode ser considerada um dos atributos mais importantes que as pessoas
levam em consideração na hora de avaliar um político. Se os eleitores avaliam candidatos políticos
que aparentam ser competentes, inferências sobre tal atributo, a partir de aparência facial, poderiam
influenciar suas decisões de voto. (Todorov et al., 2005).
Na pesquisa de Todorov et al. (2005), para se testar esta hipótese, eles pediram aos
respondentes “ingênuos” (naïve) que dessem notas aos candidatos ao Senado e a Câmara (U.S.
House of Representatives) dos Estados Unidos sobre sete quesitos: competência, inteligência,
liderança, honestidade, confiabilidade, carisma e simpatia. No estudo, foram apresentados aos
participantes, durante um período de um segundo, fotos em preto e branco das faces dos ganhadores
e perdedores das eleições. Se algum participante reconhecesse o candidato, ele era de imediato
retirado da pesquisa. Todos os resultados foram derivados apenas de observações da face, sem
nenhum conhecimento prévio do candidato.
A aparência competente também pode ser importante na escolha do Chef Executive Officer
(CEO) de uma empresa. De acordo com Graham, Harvey e Puri (2016), a partir do julgamento de
quase 2000 participante, os CEOs aparentam ser mais competentes do que os demais executivos
da empresa e, quanto maior o tamanho da empresa, mais competente aparenta ser o CEO. Além
disso, a aparência competente é positivamente relacionada com a remuneração do executivo.
Diversas outras pesquisas mostraram a relevância da aparência para diferentes situações.
As pesquisas de Wilson e Eckel (2006), Sanchez-Pages e Turiegano (2010) e Andreoni e Petric
(2005) usaram a pesquisa experimental. Wilson e Eckel (2006), usando um jogo com informação
controlada, descobriram que a aparência pode ser interessante numa primeira etapa, embora não
garanta melhores salários no futuro. Quando o indivíduo de boa aparência não corresponde à
expectativa ocorre uma punição no experimento realizado. Através de um experimento, Andreoni
e Petric (2005) constataram que existe um bônus por beleza, mesmo que a contribuição das pessoas
de boa aparência esteja dentro da média do grupo. No entanto, o prêmio desapareceu quando os
pesquisadores informaram as contribuições individuais. Como o grupo tinha uma expectativa
maior das sobre pessoas de boa aparência, com a informação da contribuição por indivíduo a
expectativa não se concretiza e ocorre uma “punição por beleza”. Em geral os participantes da
pesquisa de Andreoni e Petric (2005) tinham uma expectativa perspectiva de um comportamento
mais social das pessoas com boa aparência. Sanchez-Pages e Turiegano (2010) usaram o conhecido
dilema do prisioneiro e descobriram que rostos simétricos são mais competitivos e, menos
corporativos, sendo e mais egoístas.
Outras pesquisas foram realizadas em situações reais, como é o caso das investigações de
Price (2008), Sachsida et al. (2004) e Cipriani e Zago. Price (2008) verificou a reação das pessoas
a uma campanha de obtenção de fundos para uma entidade do terceiro setor. O autor constatou que
as mulheres loiras que solicitaram a arrecadação obtinham 70% a mais do que as morenas. Price
(2008) descobriu também que os doadores caucasianos eram mais influenciados pelas
arrecadadoras loiras do que os não caucasianos.
Sachsida et al. (2004) fizeram uma pesquisa de campo em shoppings da cidade de Brasília.
Os resultados sugerem que a mulher com boa aparência recebe um bônus de beleza que
corresponde a 9% do salário. Os autores descobriram que esta diferença está relacionada com a
produtividade, e não com a discriminação. Esta também foi a conclusão do estudo de Cipriani e
Zago, que estudaram o efeito da aparência nos resultados dos exames.
O trabalho de Arunachalam e Shah (2010) investigou o efeito da aparência no mercado de
sexo. Usando dados de prostitutas do Equador e México, países onde a prostituição é legalizada,
os autores tentaram verificar se o bônus da beleza seria extremo nesta profissão. Eles concluíram
que existe o bônus. Uma profissional mais atraente chega a ganhar de 10 a 15% a mais por hora. O
autor argumenta, no entanto, que este prêmio possa estar superestimado pelas pesquisas realizadas
até então, já que quando se utiliza variáveis de controle este bônus é reduzido pela metade. Em
consonância com Arunachalam e Shah (2010), Doran (2008) também acredita que o bônus de
beleza talvez não seja robusto quando se considera as variáveis de controle.
Os efeitos da beleza também foram encontrados em outros domínios. Por exemplo, pessoas
bonitas tendem a ser mais felizes (Hamermesh and Abrevaya, 2012), mais propensas a ter sucesso
em solicitar doações de caridade (Landry, List, Price and Rupp, 2006), são mais propensas a
aumentar as receitas de suas empresas (Pfann, Bosman, Biddle and Hamer, 2000), se saem melhor
em programas de TV (Belot, Bhaskar and Van De Vem, 2012) e são menos propensos a se tornarem
criminosos (Mocan and Tekin, 2010).
Trabalhos como os de King e Leigh (2009) e Lenz e Lawson (2011), a exemplo do já citado
Todorov et al. (2005), analisaram o efeito da boa aparência na área política. King e Leigh (2009)
usaram os dados da Austrália, onde o voto é compulsório. Naquele país os candidatos mais bonitos
são mais prováveis de serem eleitos, sendo que o efeito é maior nos homens. Lenz e Lawson (2011)
foram mais específicos: pesquisaram o efeito da aparência e da televisão na escolha dos candidatos
nos Estados Unidos. O foco do trabalho dos autores foram as pessoas com pouca informação
política. Lenz e Lawson (2011) usaram fotografias na sua pesquisa e encontraram a existência do
bônus da beleza.
Para Olivola, Tingley e Todorov (2018), a utilidade do método democrático é
fundamentalmente limitada pela qualidade do processo de tomada de decisão que os eleitores usam
para eleger seus candidatos. Os autores analisaram como os estereótipos faciais influenciam a
tomada de decisão do eleitor norte americano. Utilizando dados de pesquisas eleitorais nos Estados
Unidos, os autores mostraram que os eleitores republicanos são mais propensos a votar em um
candidato quanto mais esta pessoa tem uma face estereotipada de aparência republicana, mesmo se
o candidato for um democrata. Por outro lado, as decisões de voto dos eleitores democratas não
estão relacionadas aos estereótipos faciais políticos. Além disso, os autores mostraram que existe
uma maior probabilidade de os eleitores americanos tanto republicanos, quanto democratas,
votarem em candidatos com rosto de aparência conservadora.
Embora a informação facial possa ser significante no julgamento sobre atribuições, está
longe de ser claro como se deve definir qual atributo da característica facial (como a curvatura da
boca e a distância entre os olhos) é determinante na tomada de decisão. Essa dificuldade é ainda
agravada pelo fato de que algumas características podem não ter rótulos. Ainda, tanto os
observadores, quanto os experimentadores, podem não ter consciência dos efeitos dessas
características na percepção social (Dotsch and Todorov, 2012).
Além disso, ao fazer atribuições sociais a partir de rostos, as pessoas estão fazendo muito
com pouca informação. Isto pode ser irrelevante em algumas situações (por exemplo, julgar que o
funcionário da empresa não dormiu de noite porque aparenta cansaço), mas pode ser consequencial
em outras (por exemplo, decidir que o vizinho é indigno de sua confiança somente pela distância
entre seus olhos). Quando essas atribuições podem ser consequentes, o curso correto de ação é
consultar outras informações mais úteis e não-faciais (Todorov et al., 2015).
Recentemente, pesquisa de Hsieh et al (2019) utilizou linguagem de máquina para
classificar milhares de fotografias de executivos financeiros de empresas. Depois disto, os autores
relacionaram uma medida de confiabilidade dos rostos com o pagamento para as empresas de
auditoria. Os autores encontraram que quanto menor a confiabilidade dos rostos, maior o valor
cobrado pela emrpesa de auditoria, ceteribus paribus. Assim, os auditores levam em consideração
a expressão facial dos executivos das empresas onde irão fazer auditoria, sendo que empresas com
executivos com expressões menos confiáveis, que poderiam trazer mais problemas, são penalizadas
nos valores cobrados pelo trabalho de auditoria.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada em campo por meio de aplicação de questionários. Tal
instrumento de pesquisa, foi selecionado pela sua facilidade de aplicação e suas vantagens que,
segundo Richardson (2010), são rapidez na obtenção de informações de um grande número de
pessoas simultaneamente, não há necessidade de treinamento demorado das pessoas que irão
aplicar o questionário, com isso a área geográfica da aplicação pode ser ampliada e há uma maior
facilidade e rapidez para a tabulação dos dados, dentre outros fatores.
O questionário elaborado para esta pesquisa, foi constituído em três partes (apêndice 1). A
primeira parte incluía a apresentação, o motivo de sua realização, as instruções de preenchimento
e pedia a cooperação do participante. A segunda parte coletava informações do respondente: a
idade e o gênero. A inexistência de outras informações sobre o respondente foi uma opção da
pesquisa, para facilitar o preenchimento do questionário.
Por fim foi apresentada a terceira parte, a qual disponibilizava espaços que foram
preenchidos com o auxílio de uma apresentação de slides. Estes slides continham fotografias dos
candidatos a deputados estaduais à eleição em 2018. Cada slide foi exibido aproximadamente por
três segundos; após este período um slide em branco era projetado, para permitir que o respondente
pudesse preencher o questionário. Assim, após a exibição da fotografia foi solicitado que o
respondente desse uma nota de um a cinco, sendo cinco a nota máxima. Os quesitos que deveriam
ser avaliados foram: a) Competência; b) Inteligência; c) Honestidade; d) Confiante; e) Carisma; e
f) Simpatia. Estes quesitos, quando citados no texto a seguir, estão em itálico.
Isto significa dizer que para cada fotografia o respondente deveria dar seis notas. Após
todos os respondentes terem avaliado os candidatos, uma nova fotografia era exibida, reiniciando
o processo. Como o número de fotografias totalizava dez, representando sessenta notas por
respondente. Ao final do questionário cada respondente foi solicitado a escolher um dos candidatos
que votaria em uma eleição.
Durante a aplicação dos questionários alguns alunos chegaram atrasados. Isto fez com que
existissem algumas respostas em branco. Ainda assim, optou-se por continuar considerando o
questionário para fins desta pesquisa, mesmo porque o número de casos foi relativamente pequeno.
Vale destacar que um participante manifestou, verbalmente, durante a aplicação do questionário, e
por escrito, no próprio questionário físico, que não acreditava na pesquisa pois, de acordo com o
próprio aluno, uma única foto não seria capaz de dar suporte a interpretações sobre os itens em
questão. Mesmo assim, o referido aluno respondeu ao questionário.
Para a seleção das fotos que comporiam a pesquisa foi escolhido o estado de Santa Catarina.
A escolha desta unidade da federação teve por finalidade evitar que os alunos reconhecessem as
fotografias dos candidatos. Depois de escolhido o estado, selecionou-se os cinco candidatos mais
votados e eleitos e os cinco menos votados. Na escolha dos candidatos menos votados, não foram
considerados os candidatos com zero votos, pois este desempenho pode estar relacionado com um
fator externo, como a cassação da candidatura. Não foram comunicados aos alunos os nomes dos
candidatos, nem a sua origem. Para evitar o primacy effect ou outro viés. Optou-se por construir
dois tipos de questionários, onde a única diferença era a ordem de apresentação das fotografias.
Esta ordem foi decidida através de um sorteio.
As fotos dos candidatos foram retiradas no sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral -
TSE (www.tse.jus.br) e constam do apêndice 2. As fotos foram encaminhadas pelos próprios
candidatos como imposição para a concretização da candidatura. Por não existir nenhum tipo de
normatização que padronize questões como posicionamento do indivíduo e coloração da foto, os
candidatos estavam livres para encaminhar a fotografia de sua preferência. Dessa forma, alguns
optaram por evidenciar somente seu rosto, em uma foto preto e branco. Outros optaram por mostrar,
além do rosto, o tronco e imagem colorida. Para evitar qualquer tipo de viés do pesquisador, não
houve nenhuma manipulação nas fotos, preservando a coloração e magnitudes.
A pesquisa foi realizada com estudantes da Universidade de Brasília, no primeiro semestre
de 2019. Anteriormente, outra pesquisa foi realizada no passado, com um questionário um pouco
alterado nos quesitos de julgamento. A amostragem se deu por conveniência, o tipo de amostragem
utilizado é o não probabilístico. A priori considerou que esta amostra não afetaria os resultados.
Entretanto, isto pode não ter ocorrido com o quesito Inteligência.
Na elaboração desse teste de hipótese foram utilizados diversos instrumentos estatísticos,
conforme o tipo de variável: correlação entre variáveis, tabelas de frequência e teste de diferença
de média. Tendo por base o Teorema do Limite Central, uma amostra maior que trinta elementos,
retirada da população com uma média μ e um desvio padrão σ, a sua distribuição amostral tenderá
para uma distribuição normal. Levin e Fox (2010) diz que, quanto maior o número da amostra,
mais ela se aproximará da distribuição normal. Desse modo, a distribuição T-Student, segundo
Levin e Fox (2010) é necessária por que, o erro padrão utilizado é apoiado em dados amostrais e
não no total da população.
Como as notas atribuídas estavam em um intervalo entre zero e cinco, para verificar a nota
média atribuída para cada candidato ou para cada quesito foi calculada a média aritmética simples.
Nos testes estatísticos foi considerado uma significância de duas extremidades de 5%. Na
apresentação dos resultados, optou-se por indicar a média, o desvio e o número de observações,
nesta ordem, entre colchetes, quando foi o caso.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A amostra foi constituída por 180 respondentes, sendo 82 do gênero feminino ou 45,6%. A
média de idade foi de 21,97 anos, sendo mínimo de 18 e máximo de 54 anos. De uma maneira
geral, tanto a idade quanto o gênero não afetaram a maioria dos resultados. Quando isto ocorreu, o
resultado foi destacado a seguir.
Candidato N Média Mediana Erro
Desvio Intervalo Mínimo Máximo
1 179 3,9395 4,0000 0,65502 3,33 1,67 5,00
2 178 2,3509 2,3333 0,69744 3,33 1,00 4,33
3 180 2,7652 2,7500 0,81235 4,00 1,00 5,00
4 180 2,8505 3,0000 0,74319 4,00 1,00 5,00
5 180 3,6230 3,6667 0,70437 3,83 1,17 5,00
6 180 3,4741 3,5000 0,73230 3,50 1,50 5,00
7 180 2,6870 2,6667 0,67698 3,17 1,00 4,17
8 180 3,6014 3,6667 0,75627 3,67 1,33 5,00
9 180 2,9079 3,0000 0,66495 4,00 1,00 5,00
10 180 3,7653 3,8333 0,70549 3,67 1,33 5,00
Tabela 1 – Estatísticas descritivas dos candidatos Eleitos e Não Eleitos.
Fonte – Elaboração propria
Os respondentes deram uma nota média, desvio-padrão e N, nesta ordem, de [3,1984;
0,42181; 180]. A variável Competência foi aquela com maior nota entre os respondentes [3,415;
0,59833; 179], seguida pela Inteligência [3,3911; 0,55712; 179], Confiança [3,1912; 0,49053;
180], Simpatia [3,0934; 0,47299; 180], Carisma [3,0738; 0,46394; 180] e Honestidade [3,0377;
0,59098; 180]. De uma maneira geral, as notas dadas apresentaram elevada correlação, todas
significativas a 0,01, entre os seis quesitos, indicando que uma boa nota dada a um candidato em
um quesito também se repetirá em outro quesito. Isto é um sinal de que as respostas guardam uma
certa coerência. A estatística de confiabilidade das respostas indicou um alfa de Cronbach de 0,874,
considerado adequado para um questionário.
Candidatos
Quesito Estatísticas
descritivas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Competência
N 178 177 179 179 178 179 178 179 179 179
Média 3,66 2,81 3,09 3,37 3,71 3,47 3,35 3,65 3,37 3,66
Erro Padrão 1,079 0,968 1,255 1,116 1,021 0,996 0,988 1,007 0,959 0,984
Inteligência
N 178 176 179 179 178 179 178 179 178 179
Média 3,61 2,97 2,86 3,25 3,64 3,49 3,52 3,55 3,39 3,62
Erro Padrão 1,010 1,005 1,004 1,021 0,905 0,938 0,998 0,955 0,975 0,989
Honestidade
N 178 177 180 180 178 179 179 180 178 179
Média 3,37 2,53 3,40 3,47 2,82 2,65 2,76 3,23 2,61 3,55
Erro Padrão 0,972 1,045 1,132 1,054 0,981 1,158 1,083 1,103 0,957 1,028
Confiante
N 179 176 180 180 180 180 179 180 179 180
Média 4,21 2,23 2,47 2,36 3,94 3,72 2,90 3,68 2,82 3,58
Erro Padrão 0,948 1,024 1,225 0,989 1,018 1,115 1,137 0,978 1,099 0,980
Carisma
N 179 176 178 178 180 179 178 180 179 180
Média 4,41 1,79 2,31 2,30 3,82 3,75 1,89 3,71 2,65 4,05
Erro Padrão 0,833 0,983 1,135 1,013 1,015 1,025 0,942 0,967 0,980 0,993
Simpatia
N 179 177 179 180 179 179 178 180 179 178
Média 4,40 1,77 2,47 2,36 3,78 3,77 1,76 3,81 2,66 4,15
Erro Padrão 0,883 1,042 1,219 1,056 1,129 1,085 0,883 1,014 0,994 0,959
Tabela 3 - Estatísticas descritivas dos candidatos Eleitos e Não Eleitos para cada quesito
Fonte – Elaboração própria
Após os resultados serem tabulados, foram calculadas as notas dadas nos quesitos para os
candidatos Eleitos e os não Eleitos. Se a nota média de todos os candidatos foi de 3,1984, os
candidatos eleitos receberam uma nota maior [3,5432; 0,49542; 179] quando comparado com a
nota atribuída aos não eleitos [2,8571; 0,47929; 171]. O teste de diferença entre a médias mostrou
que estes valores são significativamente diferentes, com um valor da estatística de Student de
18,032. Assim, é possível afirmar que os respondentes conseguiram, baseado somente na
informação visual, identificar os candidatos que receberam mais votos nas urnas dos candidatos
que não receberam uma votação expressiva.
É importante salientar que a amostra continha cinco candidatos eleitos e cinco não eleitos.
Entre aqueles que receberam maior nota por parte dos respondentes, quatro foram efetivamente
eleitos. Um dos candidatos não eleitos recebeu a terceira maior nota média em todos os quesitos
[3,6230; 0,70437; 180], enquanto um candidato eleito ficou com a sexta maior nota [2,9079;
0,66495; 180]. É importante notar este indivíduo que recebeu a terceira melhor votação teve notas
maiores em um tipo de questionário [3,8813; 0,55512; 80] do que em outro [3,4163; 0,74438; 100].
Esta diferença pode ser explicada pelo fato deste candidato estar na posição 5 de apresentação das
fotografias, logo após uma candidata com baixa votação, no questionário onde obteve melhores
notas. Isto provavelmente se deve a um efeito âncora na votação. Conforme destacado, em outro
tipo de questionário sua fotografia foi mostrada em primeiro lugar, obtendo uma nota inferior. As
médias das notas foram estatisticamente diferentes, sendo um dos casos onde o efeito âncora se fez
notar nos resultados.
Merece também destaque o candidato eleito nas urnas e que não recebeu uma nota elevada
dos respondentes, conforme citado anteriormente. Este candidato recebeu notas ruins em
Honestidade [2,6124; 0,9574; 178], Confiança [2,8156; 1,0988; 179], Carisma [2,6480; 0,9796;
179] e Simpatia [2,6648; 0,9941; 179]. Na fotografia mostrada deste indivíduo, o mesmo, apesar
de aparecer sorrindo, está com os braços cruzados, uma atitude percebida como distanciamento
(defensividade), barreira à interação e rejeição na pesquisa científica (Argyle, 1988; Gillies, &
Ballin, 2003).
Quando se analisa os quesitos de forma separada e a relação dos candidatos eleitos é
possível perceber que as duas características onde as notas não refletiram a eleição correspondem
a Honestidade e Inteligência. Nestes dois quesitos, dois individuos, entre os cinco com maior nota,
não foram eleitos. Analisando os resultados é possível justificá-los pelo ambiente vivido pelos
respondentes. Sobre a Honestidade cabe lembrar que nos últimos anos este assunto tem sido
destaque das conversas e da pauta da mídia brasileira em razão dos escândalos de corrupção.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, realizada nos últimos anos têm apontado a
corrupção com um dos principais problemas do país (por exemplo, CNI, 2018). Já o quesito
Inteligência provavelmente apresentou este destaque em razão dos respondentes serem estudantes.
Apesar de cada um dos quesitos conseguir separar, estatisticamente, os eleitos daqueles que
não foram eleitos, é possível destacar outra descoberta interessante na pesquisa. Em todos os itens,
a diferença das médias entre estes dois grupos foi significativa, com valores da estatística t acima
de 6 e significante a 0,0000, conforme tabela 1. Mas o quesito Honestidade foi aquele onde a média
dos eleitos [3,0892; 0,70187; 176] ficou mais próxima dos não eleitos [2,9966; 0,63659; 176].
Neste caso, a estatística t foi de 1,913, sig de 0,057. Os motivos expostos no parágrafo anterior
ajudam a entender a razão das notas entre os dois grupos não terem sido distantes.
Quesito Diferença de
Média
Desvio Padrão Estatística t Sign bi-caudal
Competência 0,30000 0,65816 6,013 0,000
Inteligência 0,28200 0,59057 6,317 0,000
Honestidade 0,09261 0,04842 1,913 0,057
Confiança 0,81829 0,73634 14,701 0,000
Carisma 1,29480 0,72355 23,537 0,000
Simpatia 1,32629 0,78584 22,326 0,000
Total 0,69284 0,50243 18,032 0,000
Tabela 3 - Teste de amostras emparelhadas
Fonte: Elaboração Própria
Foi realizada uma análise para cada candidato e para cada critério buscando verificar se
alguma variável apresentou significância nas notas atribuídas. Uma candidata, uma jovem em uma
fotografia bem produzida que recebeu a denominação de candidato 1 (vide apêndice 2, questionário
A), teve uma nota média entre os respondentes do gênero feminino maior que no gênero masculino
([4,0761; 0,56951; 81] versus [3,8196; 0,70122; 97], nesta ordem), significância de média de 0,01.
Outro candidato, denominado aqui de candidato 5, teve diferença nas notas dadas entre os dois
tipos de questionários, conforme já comentado anteriormente. A questão da posição de uma
fotografia no questionário também influenciou o resultado de mais um candidato, denominado de
candidato 10. Suas notas foram melhores quando estava posicionado no final [3,8865; 0,68542;
80], quando comparado com o questionário onde sua fotografia apareceu em oitavo [3,6667;
0,70968; 100], logo após a jovem candidata 1, a melhor votada (significância de diferença de média
de 0,038). Ou seja, as notas do candidato 10 foram afetadas por um efeito âncora, neste caso, as
notas da candidata 1.
Referindo aos quesitos analisados foi possível observar que os respondentes mais jovens
valorizaram mais a Inteligência na sua nota. Com efeito, a correlação entre estas duas variáveis
(idade e nota para Inteligência) foi negativa e significativa (-0,196, a 1%).
Também foi verificado que a nota média da Simpatia era diferente entre os dois tipos de
questionários [2,9987; 0,47234; 100] [3,2118; 0,4492; 80], O teste de diferença de média
apresentou significância de 0,002. Analisando cada candidato observou-se que dois deles
apresentaram diferença nas médias para este quesito. O primeiro deles foi, para fins desta pesquisa,
denominado de candidato 5, já citado anteriormente, que recebeu a terceira maior nota total. O
segundo candidato foi o candidato imediatamente seguinte, provavelmente em um efeito âncora.
Ao final do questionário, foi solicitado que cada respondente indicasse um dos indivíduos
entre os candidatos que votaria para uma eleição. Entre os 179 respondentes, 93 marcaram pessoas
que foram efetivamente eleitos. Este resultado foi uma surpresa, já que isto corresponde a um pouco
mais da metade da amostra. Analisando a distribuição de frequência dos escolhidos é possível
perceber que 56 respondentes assinalaram o candidato 5, que recebeu a terceira maior nota da
amostra. Este foi o indivíduo mais lembrado, apesar de não ser o melhor votado.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Esta pesquisa foi baseada no experimento de Todorov et al (2005), onde inferências
baseadas na aparência são feitas sobre competência e outros atributos. A exemplo dos autores
citados, a pesquisa também encontrou que é possível prever se um candidato é eleito ou não
baseado na sua fotografia. Isto é consistente com um grande número de pesquisas que destacaram
a relevância dos atributos faciais nas escolhas das pessoas. Estas pesquisas foram citadas no item
2 deste trabalho.
A investigação encontrou que a influencia facial e a capacidade preditiva, a partir de
atributos faciais, pode ser generalizada para qualquer idade ou gênero. Além disto, as notas
atribuídas guardaram similaridade, expressa na elevada correlação entre os valores atribuídos pelos
respondentes. Isto é importante destacar, uma vez que atributos, como inteligência, provavelmente
não deveriam ser inferidos tendo por base um retrato do rosto de uma pessoa.
Assim, as imagens visuais desempenham um importante papel nas decisões, conforme
destacado por Schill (2012) e Graham, Harvey and Puri (2016). Um aspecto encontrado na pesquisa
é que existe um efeito âncora na decisão, onde a nota recebida por um candidato pode ser
alavancada se o retrato anterior disponibilizado é de algum candidato “menos atraente”. Isto
também é condizente com os resultados encontrados nas diversas pesquisas sobre ancoragem.
Parte da nota atribuída foi influenciada pelo ambiente onde a pesquisa foi aplicada. Deste
modo, o efeito visual deve ser considerado com ressalvas. Entre os quesitos considerados,
honestidade e inteligência correspondem àqueles onde o aspecto ambiental se fez presente nos
resultados. No primeiro aspecto, o fato da pesquisa ter sido aplicada em um momento onde o tema
é considerado relevante pela população brasileira. No segundo caso, é importante lembrar que a
pesquisa foi aplicada em uma universidade, onde a questão da inteligência deve ser considerada
fundamental.
6 CONCLUSÃO
A presente pesquisa teve por objetivo verificar se os aspectos visuais influenciam os
indivíduos na escolha de candidatos a eleição. Com a participação de 180 respondentes, verificou-
se que os candidatos à deputado estadual do estado de Santa Catarina que receberam as maiores
notas nos quesitos analisados (competência, inteligência, honestidade, confiante, carisma e
simpatia) foram também os que receberam os maiores números de votos na eleição de 2018. Os
participantes da pesquisa, portanto, foram capazes de separar adequadamente os candidatos eleitos
dos não eleitos somente pela foto do candidato.
Entre as limitações da pesquisa, há um aspecto que não foi considerado e que pode ter afetado
os resultados. As fotografias dos candidatos são colocadas no endereço do tribunal eleitoral pelos
próprios candidatos. Um candidato que possui uma melhor estrutura de campanha talvez possa
fazer uma escolha mais adequada de sua fotografia ou contratar um fotográfo profissional para as
fotografias da campanha. Assim, pode ser que o aspecto visual observado na pesquisa seja
decorrente de maior poder financeiro, que conduz a uma melhor fotografia e também permite que
o candidato obtenha mais votos. Este aspecto não foi considerado na pesquisa, mas os autores
entendem que pode ser um ponto relevante para uma investigação futura.
A ciência contábil vem passando por diversas transformações ao longo dos anos e seus
reflexos são cada vez mais sentidos na sociedade. A mudança de uma contabilidade essencialmente
escriturária, onde o importante eram os débitos e créditos, para uma contabilidade substancialmente
tecnológica, onde a importância se concentra nas informações, que são transmitidas a uma
velocidade inimaginável pelo mundo, e no usuário, que passa a ser o elo que tem maior poder de
influência sobre a gestão, levanta sérias discussões sobre o futuro da ciência contábil.
Como parte integrante do processo de transformação da contabilidade, a presente pesquisa
mostrou que os aspectos visuais são, também, componentes da mudança. Portanto, o usuário, por
meio de seus processamentos rápidos e irracionais e, suportado pelo acesso imensurável à
informações e pela tecnologia, pode ser capaz de tomar decisões triviais, relevantes ou mesmo
catastróficas, apenas através de suas atribuições visuais.
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Apêndice 1 - Questionário Aplicado