Família Da Mata - Diversidade e soberania no semiárido baiano

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº1594 Abril/2015 Familia Da Mata - Diversidade e soberania no semiárido baiano Na comunidade de Queimada Velha, zona rural de Ibipitanga, Geraldo Pereira da Mata e Lucineide Conceição Figueiredo da Mata vivem com seus dois filhos, Cristiane de quinze anos e Vinícius de dez. O terreno de aproximadamente 70 hectares é utilizado de muitas formas pela família, que aposta na diversidade para garantir o futuro. Morador de Queimada Velha desde 2004, Geraldo nasceu em outra comunidade perto dalí, Santa Apolônia. Com sete anos já ia pra plantação de milho, feijão e capim ajudar o pai. Sempre gostou da vida da roça e se diz realizado por ter seu sítio pra plantar e criar animais. Hoje o sítio da família tem muito verde e animais dos mais diversos tipos parecem passear pela propriedade, no entanto as coisas eram diferentes quando chegaram: “Aqui era tudo capoeira, não tinha nada, não tinha capim, cerca... fomos trabalhando...no primeiro ano formei pasto e plantei milho e feijão, do segundo ano em diante comecei a criar gado” relembra Geraldo. Na propriedade haviam três tanques de água mas estavam aterrados, todos foram limpos e a família fez mais dois. Com a água de três destes tanques, eles dão de beber aos animais durante boa parte do ano, por volta de setembro eles secam, porém a família ainda conta com mais dois tanques que quase sempre perduraram até a chegada da próxima chuva, e lá abrigam uma criação muito bem cuidade de cerca de mil peixes; incluindo tilápia, tambaqui, pirarucu, corimba, carpa e pintado, que chegam a mesa da casa e também são vendidos para vizinhos e conhecidos. IBIPITANGA Este ano a família começou a fazer feno para estocar comida para os tempos de estiagem. “O meu projeto, é, depois de alimentar os animais...se sobrar feno que eu fiz este ano, fazer cobertura morta no quintal, nas mangas, laranjas, nas frutas... O que mais me orgulho é conseguir o que eu já consegui na vida, o que eu queria eu já tenho!” conclui Geraldo. Realização Apoio Geraldo e a vaca que espera para dar cria A família completa: Dona Lucineide, Geraldo, o filho Vinícius e a filha Cristiane ASAMIL Associação do Semi-Árido da Microrregião de Livramento

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Na comunidade de Queimada Velha, zona rural de Ibipitanga, Seu Geraldo da Mata e Lucineide da Mata vivem com seus dois filhos. O terreno de aproximadamente 70 hectares é utilizado de muitas formas pela família, que aposta na diversidade para garantir o futuro. Caminhando pela propriedade, é possível encontrar de tudo um pouco: de emas e pavões a pintados e tambaquis, de lichia a sorgo, de tomate a mogno africano.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº1594

Abril/2015

Familia Da Mata - Diversidade e soberania no semiárido baiano

Na comunidade de Queimada Velha, zona rural de Ibipitanga, Geraldo Pereira da Mata e Lucineide Conceição Figueiredo da Mata vivem com seus dois filhos, Cristiane de quinze anos e Vinícius de dez. O terreno de aproximadamente 70 hectares é utilizado de muitas formas pela família, que aposta na diversidade para garantir o futuro.

Morador de Queimada Velha desde 2004, Geraldo nasceu em outra comunidade perto dalí, Santa Apolônia. Com sete anos já ia pra plantação de milho, feijão e capim ajudar o pai. Sempre gostou da vida da roça e se diz realizado por ter seu sítio pra plantar e criar animais.

Hoje o sítio da família tem muito verde e animais dos mais diversos tipos parecem passear pela propriedade, no entanto as coisas eram diferentes quando chegaram: “Aqui era tudo capoeira, não tinha nada, não tinha capim, cerca... fomos trabalhando...no primeiro ano formei pasto e plantei milho e feijão, do segundo ano em diante comecei a criar gado” relembra Geraldo.

Na propriedade haviam três tanques de água mas estavam aterrados, todos foram limpos e a família fez mais dois. Com a água de três destes tanques, eles dão de beber aos animais durante boa parte do ano, por volta de setembro eles secam, porém a família ainda conta com mais dois tanques que quase sempre perduraram até a chegada da próxima chuva, e lá abrigam uma criação muito bem cuidade de cerca de mil peixes; incluindo tilápia, tambaqui, pirarucu, corimba, carpa e pintado, que chegam a mesa da casa e também são vendidos para vizinhos e conhecidos.

IBIPITANGA

Este ano a família começou a fazer feno para estocar comida para os tempos de estiagem. “O meu projeto, é, depois de alimentar os animais...se sobrar feno que eu fiz este ano, fazer cobertura morta no quintal, nas mangas, laranjas, nas frutas... O que mais me orgulho é conseguir o que eu já consegui na vida, o que eu queria eu já tenho!” conclui Geraldo.

Realização Apoio

Geraldo e a vaca que espera para dar cria

A família completa: Dona Lucineide, Geraldo, o filho Vinícius e a filha Cristiane

ASAMILAssociação do Semi-Árido da Microrregião de Livramento

Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

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A diversidade da família não está somente nos peixes que cria, mas também nos animais que podem ser vistos ciscando a terra ou buscando uma sombra durante as horas de sol mais forte. Entre eles, as ovelhas Santa Inês, Pé duro e Dorper, patos, porcos, as dezenas de galinhas, emas, perdizes, pavões, perús e outros animais não tão comuns na paisagem da região; com os animais a família gera renda e também abastece a mesa de casa.

Além disto, Geraldo trabalha em uma serralheria em que é dono há quatorze anos juntamente com seu irmão, onde fazem portões, vitrôs, e outros serviços na sede do município de Ibipitanga. De 2a a 6a feira e eventualmente aos sábados, das 7 da manhã até as 4 da tarde, o pai de família se afasta um pouco do que realmente gosta de fazer e de onde gosta de estar, para incrementar a renda na serralheria.

Assim que chega em casa, por volta das 5 da tarde, vai cuidar da roça e só para horas depois. ''(trabalhar na roça) não tem horário não...enquanto a lua estiver alumiando e tiver aguentando ficar em pé... cerquei tudo aqui carregando as madeiras de noite”. Esta é a maior dificuldade de Geraldo, conciliar o tempo entre os dois espaços. “Eu prefiro a roça, agente nasceu e criou na roça trabalhando, já está no sangue.” afirma ele.

A horta que Lucineide e Geraldo fizeram há poucos meses em canteiros econômicos está bonita e produzindo a maioria dos alimentos orgânicos que a família consome no dia a dia. Não sobram excedentes para serem vendidos ainda, mas isto é algo que o chefe da família pretende mudar: “Eu penso em no futuro me afastar da serralheria e produzir hortaliças pra vender, trabalhar menos lá e mais aqui” confessa Geraldo em seu quintal.

Outra coisa que chama atenção no sítio da família é a enorme variedade arvores, frutas e ervas medicinais que há no entorno da casa, encontramos pés de laranja, manga, bananeira, palma, umbú, limão, amora, cana, quiabo de cipó, siriguela, cajú, mamão, coco, maracugina e maracujá do mato, tamarindo, goiaba, jamelão, pinha, romã, jabuticaba, lichia, acerola, carambola, abacate, poejo, arruda, losna, sete-dor, sabugueiro, erva doce, mastruz, malva, capim santo, moringa, arruda, algaroba, boldo japonês, palma, nim, eucalipto, pau-brasil, mogno australiano e africano, bambu e muitos outros.

Em cada cantinho que se olha é possível encontrar uma planta diferente sempre bem cuidada pela família Da Mata. “O que tinha de mato quando chegamos nós não mexemos.. vai que uma hora eu preciso de madeira pra restaurar cerca...apesar

que eu prefiro comprar do que desmatar”.

Outra fonte de renda da família provém da venda de semente de capim, já chegaram a plantar cinquenta hectares com a gramínea, porém com os últimos três anos bastante secos na região, hoje plantam cerca de vinte hectares. Entre as variedades de capim estão o sete-léguas, o buffel e o urucuia.

Geraldo e Lucineide em seus canteiros econômicos

O alimento produzido vai direto para a mesa

Geraldo e seus tomates orgânicos

O verdejante quintal da família Da Mata