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Falência de extubação:como evitar e como conduzir?

Bruno do Valle PinheiroProf. Pneumologia e Semiologia - FM - UFJF

U.T.I. - Hospital Universitário - UFJF

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Definições

Falha no desmame

• Falha no teste de respiração espontânea

• Necessidade de reintubação dentro de 48 horas

(falha de extubação)

III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. JBP, 2007Boles et al. Eur Respir J, 2007

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Causas de falha no desmame

Falha no t. respiração espontânea

• Não resolução da IRpA

• Incapacidade do sistema em

atender à demanda ventilatória

• Disfunção cardiovascular

III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. JBP, 2007Boles et al. Eur Respir J, 2007

Falha na extubação

• Obstrução das VAS

• Inabilidade de eliminar

secreções

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Admissão AltaInternação na UTI

Tratamentoda IRpA

Avaliarpossibilidadede desmame

Extubação

Re-intubaçãoT. respiraçãoespontâneaSuspeição

Boles JM. Eur Respir J 2007;29:1033-1056

Otimizar a mecânica

Manterestabilidade

hemodinâmica

Evitardepressão

do CR

Minimizarneuropatiaperiférica

Controlemetabólico

e nutricional

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Falência de extubação: como evitar?Identificação adequada dos candidatos à extubação

• Resolução do quadro de IRpA

• Hemodinamicamente estável

• Acordado

• Sem distúrbios metabólicos graves ou sepse

• Oxigenação adequada: PaO2>60 mmHg, FIO2<0,4, PEEP<5 cmH2O

• Índices preditivos? – IRRS<100-105

III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. JBP, 2007

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Teste de respiração espontânea

• Respiração espontânea• Tubo T• Pressão de suporte• CPAP

• Duração• 30 a 120 min

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Teste de respiração espontâneaTubo T vs. PSV

3 UTIs pediátricas

257 pacientes - >48 h VM

PSV=10 cmH2O – 1h(N=125)

Tubo T – 1h (n=132)

79,2% “passaram”extubados

77,5% “passaram”extubados

15%re-intubados

85%sucesso

13%re-intubados

87%sucesso

Farias et al. ICM 2001;27

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Teste de respiração espontâneaTubo T vs. CPAP

1 UTIs adultos

106 pacientes - >48 h VM

CPAP=5 cmH2O – 1h(N=54)

Tubo T – 1h (n=52)

3Re-intubados

51 Sucesso

2Re-intubados

50 Sucesso

Jones et al. Chest 1991;100:1655

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• Critérios para suspensão do desmame• Freqüência respiratória > 35 irpm• f/VT > 100-105

• SaO2<90%

• FC >140 bpm ( 20% do basal)• PAS >180 mmHg ou <90 mmHg (alt 20% basal)• Agitação, sudorese, alteração da consciência

Teste de respiração espontânea

Esteban et al. NEJM, 1995;332:345

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INTERRUPÇÃO ABRUPTA DA VENTILAÇÃO MECÂNICA30 min. versus 120 min.

76% 73%

12% 11%12% 16%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Sucesso Sucesso/Reintubação Falha30 min. 120 min.

Esteban. AJRCCM, 1999

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Brochard et al. AJRCCM 1994;150:896

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COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE DESMAME:TUBO T – SIMV - PSV

Esteban et al. NEJM, 1995;332:345

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Falência de extubação

Autor, ano N Falha TRE Sucesso TRE Re-intubação

Farias, 01

Esteban, 99

Vallverdu, 98

Esteban, 97

Esteban, 95

Brochard, 94

257

526

217

484

546

456

22%

14%

32%

18%

24%

24%

201

453

148

397

416

347

14%

13%

16%

19%

14%

3%

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VNI – Prevenção da falência do desmame

• Pacientes em VM por mais de 48 h• Desmame com tubo T ou PSV• Fatores de risco para falência de extubação

1. Mais de uma falência consecutiva em tentativas de desmame2. Insuficiência cardíaca3. PaCO2>45 mmHg após extubação4. Mais de uma co-mrbidade5. Tosse ineficaz6. Estridor pós-extubação

Nava et al. Crit Care Med 2005;33:2465

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Grupo VNI• N=48• IPAP=13,2+4,5• EPAP=5,3+1,6• Mínimo 8 h/dia por 48 h

Grupo controle• N=49• Oxigênio (SpO2>92%)• Tratamento convencional

VNI – Prevenção da falência do desmame

Nava et al. Crit Care Med 2005;33:2465

VNI determinou• Menor taxa de re-intubação (8% vs. 24%, p=0,027)• Redução do risco de óbito na UTI (-10%, p<0,01)

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VNI – Prevenção da falência do desmame

• Pacientes em VM por mais de 48 h• Resolução da causa de IRpA• Tolerância ao teste de respiração espontânea• Presença de pelo menos 1 dos seguintes critérios:

1. Idade acima de 65 anos

2. Falência cardíaca como causa de intubação

3. APACHE acima de 12 no dia da extubação

Ferrer et al. AJRCCM 2006;173:164-170

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VNI – Prevenção da falência do desmame

VNI(n=79)

Controle(n=83)

p

Re-intubaçãoDias UTIÓbito na UTIÓbito hospital

11%11+83%

16%

22%13+1114%23%

0,120,140,0150,41

Ferrer et al. AJRCCM 2006;173:164-170

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VNI – Prevenção da falência do desmameCurvas de sobrevida

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Esteban. NEJM 2004;350:2452

Re-intubação: 48% vs. 48%

Mortalidade: 25% vs. 14%RR=1,75, IC-95%=0,99-3,09 p=0,048

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VNI na falência respiratória pós-extubação

Esteban. NEJM 2004;350:2452

G. VNI

(n=114)

G Controle

(n=107)

p

Re-intubação

Mortalidade UTI

Internação UTI

Tempo para IOT

48%

25%

18 d

12,0 h

48%

14%

18 d

2,5 h

ns

0,048

s

0,02

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VNI na falência respiratória pós-extubação

Esteban. NEJM 2004;350:2452

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Edema de laringe pós-extubação

• Causa freqüente de falência de extubação: até 22%• Possíveis fatores de risco:

• Ventilação mecânica prolongada• Intubação por trauma• Intubações repetidas ou traumáticas• Cânulas excessivamente grandes• Altas pressões no balão• Movimentação excessiva da cânula• Infecção traqueal• Sexo feminino

Epstein. Intensive Care Med 2002;28:535

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Teste de vazamento do balonete(“cuff leak test”)

• Diferença entre VT fornecido pelo ventilador e o medido na expiração

• Ponto de corte: 110 ml

Obs: usar média dos três menores valores de VTexp ao longo de seis ciclos

Miller. Chest 1996;110:1035

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Utilidade do teste de vazamento do balonete

• Ponto de corte de 110 ml (avaliado em 100 pacientes)

• Sensibilidade: 0,67

• Especificidade: 0,99• Valor preditivo positivo: 80% (teste positivo – estridor)

• Críticas

• Poucos estudos o validaram em outras populações

• Falsos-positivos: secreção ao redor do tubo

• Risco de estridor vs. risco de manter o paciente em VM

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Metilprednisolona para prevenção deedema de laringe pós-extubação

François. Lancet 2007;369:1083

• 15 UTIs da França, entre 2001 e 2002

• Pacientes com mais de 18 anos, mais de 36 h de VM

• Randomização em 2 grupos

• Metilprednisolona (N=355): 20 mg – 12 / 8 / 4 / 0 h antes da extubação

• Placebo (N=343)

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Placebo Metil-prednisolona

p

Edema de laringe

76 (22%) 11 (3%) <0,0001

Re-intubação 26 (8%) 13 (4%) 0,02

Re-intubação por edema

14 (54%) 1 (8%) 0,007

François. Lancet 2007;369:1083

Metilprednisolona para prevenção deedema de laringe pós-extubação

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Corticóide para prevenção de edema de laringe pós-extubação

Fan. BMJ, 2008

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Fan. BMJ, 2008

Corticóide para prevenção de edema de laringe pós-extubaçãoImpacto na necessidade de re-intubação

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Markovitz. Cochrane Library, 2005

• Não há estudos controlados que tenham avaliado o papel da nebulização com adrenalina para o tratamento do estridor pós-extubação

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Conclusões

• Falência de extubção é um evento possível mesmo quando se conduz a VM e o desmame de forma correta

• A VNI é eficaz como medida preventiva em grupos específicos

• A VNI não deve ser uma medida de rotina na IRpA pós-extubação

• Corticóide em múltiplas doses é eficaz na prevenção do edema pós-extubação