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CONGREÇÃO DOROTÉIA DO BRASIL FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE – FAFIRE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA EDUCAÇÃO ALUNA: ALBANIZA IRANI SALES ANÁLISE DE DISCURSO E EDUCAÇÃO SUPERIOR: Uma Pesquisa Sobre a Abordagem das Matérias Publicadas nos Jornais Impressos de Assuntos Relacionados Às Universidades do Recife. <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/"><img alt="Creative Commons License" style="border-width:0" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc- nd/3.0/br/88x31.png" /></a><br /><span xmlns:dc="http://purl.org/dc/elements/1.1/" href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dc:title" rel="dc:type">AN&#193;LISE DE DISCURSO E EDUCA&#199;&#195;O SUPERIOR:Uma Pesquisa Sobre a Abordagem das Mat&#233;rias Publicadas nos Jornais Impressos de Assuntos Relacionados &#192;s Universidades do Recife.</span> by <span xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#" property="cc:attributionName">Monografia </span> is licensed under a <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/">Creative Commons Atribui&#231;&#227;o-Uso N&#227;o-Comercial-Vedada a Cria&#231;&#227;o de Obras Derivadas 3.0 Brasil License</a>. 2006 FAFIRE Tradição e Modernidade

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CONGREÇÃO DOROTÉIA DO BRASIL FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE – FAFIRE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA EDUCAÇÃO ALUNA: ALBANIZA IRANI SALES

ANÁLISE DE DISCURSO E EDUCAÇÃO SUPERIOR:

Uma Pesquisa Sobre a Abordagem das Matérias Publicadas nos Jornais

Impressos de Assuntos Relacionados Às Universidades do Recife.

<a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/"><img alt="Creative Commons License" style="border-width:0" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/3.0/br/88x31.png" /></a><br /><span xmlns:dc="http://purl.org/dc/elements/1.1/" href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dc:title" rel="dc:type">AN&#193;LISE DE DISCURSO E EDUCA&#199;&#195;O SUPERIOR:Uma Pesquisa Sobre a Abordagem das Mat&#233;rias Publicadas nos Jornais Impressos de Assuntos Relacionados &#192;s Universidades do Recife.</span> by <span xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#" property="cc:attributionName">Monografia </span> is licensed under a <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/">Creative Commons Atribui&#231;&#227;o-Uso N&#227;o-Comercial-Vedada a Cria&#231;&#227;o de Obras Derivadas 3.0 Brasil License</a>.

2006

FAFIRE Tradição e Modernidade

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ALBANIZA IRANI SALES

ANÁLISE DE DISCURSO E EDUCAÇÃO SUPERIOR:

Uma Pesquisa Sobre a Abordagem das Matérias Publicadas nos Jornais

Impressos de Assuntos Relacionados Às Universidades do Recife.

Monografia apresentada à Coordenação Do Curso de Especialização em Formação de Recursos Humanos para Educação, como requisito ao título de Especialista, sob orientação da Professora Maria da Graça Ataíde de Almeida.

RECIFE/2006

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter-me dado inteligência, perseverança, estímulo e

vontade de vencer, pois sem esses sentimentos jamais teria concluído este trabalho.

A minha mãe que sempre está ao meu lado e me proporciona um lar maravilhoso e cheio de

amor. Todos os “obrigados” do mundo são poucos para retribuir tanta dedicação e afeto

destinados a mim. Peço a Deus que a dê longos anos de vida, para que eu possa proporcioná-

la muitos momentos felizes.

Ao meu padrasto Manoel de Barros Correia, cuja presença e afeto foram muito importantes

para minha trajetória durante as aulas.

A minha orientadora Maria da Graça Ataíde de Almeida que, literalmente, é uma Graça de

Deus na minha Vida. Ela me fez percorrer caminhos, os quais eu ainda não havia despertado

através do seu conhecimento, sua paciência e sua disposição para ajudar. Sempre atenta e

pronta para orientar e corrigir as minhas falhas. Muito obrigada pelo seu carinho e sua

compreensão neste momento de tantas mudanças na minha vida. Desejo saúde, sorte e muito

sucesso para esta grande mulher.

A minha amiga Fabíola Frazão pelo companheirismo, pela troca de experiências e pelas

palavras sempre certas nas ocasiões convenientes. E pelos momentos agradáveis e

descontraídos que sempre me proporcionou. A qual me incentivou mesmo nos momentos

mais exaustivos durante o término do curso.

A Professora Cristina Teixeira que me deu a oportunidade de assistir suas aulas lecionadas no

Mestrado em Comunicação da UFPE.

Ao Professor Paulino, Coordenador do curso de Formação de Recursos Humanos em

Educação, da FAFIRE. Ele nos ensinou a importância de ser educador para o contexto social.

E sempre nos demonstrou a sua vocação para lecionar.

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EPÍGRAFE

“A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas

um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”.

Paulo Freire – Extensão ou Comunicação, 69.

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RESUMO

Esta pesquisa caracteriza-se como caráter de análise do discurso. A qual analisar-se-ão as

publicações jornalísticas sobre o ensino superior, publicadas nos principais jornais de

Pernambuco (Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco, Folha de Pernambuco).

Analisaremos estes periódicos não só a partir do conteúdo, mas também pelos fatores

históricos e sociais que envolvem o assunto. No intuito de informar e trazer jovens

estudantes, adultos, enfim todos, à reflexão sobre a atual realidade educacional brasileira. Em

especial a falta de oportunidade e os interesses existentes na permanência do quadro atual por

parte daqueles que têm o poder de manipular as informações e a ideologia da sociedade,

através das notícias e reportagens. Mostrar-se-á a preocupação com a informação e o

compromisso com a educação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................6

1 A INFLUÊNCIA DO DISCURSO PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL................8

1.1 A IDENTIFICAÇÃO DO DITO E NÃO DITO...............................................................14

1.1 A LINGUAGEM PRAGMÁTICA...................................................................................17

2. PUBLICAÇÕS JORNALÍTICAS: PRÁTICAS E ELEMENTOS DISCURSIVOS

IMPLÍCITOS NAS PUBLICAÇÕES SOBRE O ENSINO SUPERIOR.................................22

2.1. O INTERDISCURSO E A INTERTEXTUALIDADE DOS TEXTOS

JORNALÍSTICOS....................................................................................................................27

3. CONCLUSÃO..............................................................................................................32

4. REFERÊNCIAS............................................................................................................34

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INTRODUÇÃO

Este projeto seguirá como linha de pesquisa a linguagem dos meios, a qual dará subsídios

para a análise dos discursos das matérias publicadas sobre as instituições de ensino superior

do Recife, nos três principais jornais impressos do Estado de Pernambuco.

Nesta pesquisa identificar-se-ão as estratégias discursivas e elementos textuais utilizados na

abordagem do assunto por estes periódicos.

Analisaremos a linguagem como discurso e prática social e, como esta constrói a identidade

dos universitários da cidade do Recife. E, também, como os processos lingüísticos e sociais

influenciam a leitura da atual realidade.

Esta pesquisa destinar-se-á para a investigação das linguagens utilizadas nos discursos das

matérias publicadas sobre as universidades brasileiras nos principais jornais impressos do

Recife. Com finalidade no questionamento se estas linguagens apresentam-se com foco nos

sujeitos e a avaliação da relação existente entre os atores da educação e os da comunicação do

estado de Pernambuco.

Esta investigação dar-se-á através de um levantamento qualitativo sobre as matérias

publicadas nos três principais jornais do Estado de Pernambuco (Jornal do Commercio, Diário

de Pernambuco e Folha de Pernambuco), no primeiro trimestre de 2005, referentes às

universidades do Recife.

A coleta de dados basear-se-á no estudo das linguagens usadas nestas publicações e da

evolução dos processos educacionais e sociais brasileiros. Na qual se construirá uma relação

entre o processo histórico da educação superior no Recife e o amadurecimento comunicativo

acerca do assunto.

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Verificar-se-á através da análise do discurso a interpretação das práticas discursivas e sociais

presentes nesses periódicos. No intuito de identificar o teor da lingüística aplicada ao assunto

educação superior.

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1. A INFLUÊNCIA DO DISCURSO PARA O CONTEXTO EDUCACIONAL

UNIVERSITÁRIO

Nesta pesquisa iniciaremos o trabalho com o estudo da importância da linguagem como

influenciadora de opinião e expectativas sociais.

Todo discurso tem um público-alvo, ou seja, a quem este deseja falar, informar ou persuadir.

De acordo com Maingueneau todo enunciado deve apresentar um interesse a quem se dirige.

O que notamos logo que analisamos as publicações relacionadas a ensino superior, em

Pernambuco.

A lingüística textual estuda a coerência do texto, o que inclui as estratégias textuais utilizadas

como instrumentos de compreensão de enunciados.

A análise do discurso surgiu como método de estudo da linguagem, não só do que diz o

discurso e, sim os princípios da elaboração de cada discurso.

Existem várias vertentes da análise do discurso, as quais se tornam inviáveis de apontá-las

todas neste trabalho. Iremos, sim, mencionar alguns de seus fundamentos.

Baseamos-nos em fundamentos bakhtinianos nos quais tratam o discurso como matéria-prima

da produção midiática. O comunicador, para exercer de maneira completa a sua função,

precisa conhecer as funções e as distorções possíveis na construção discursiva - seja ele em

sua representação verbal ou não-verbal. Lembramos que as produções discursiva e midiática

exercem grande influência sobre a constituição social de uma determinada comunidade, até

porque todo discurso é carregado de ideologia, e, portanto, possui uma carga de interferência

social. O tripé que estabelece o sustentáculo principal para uma comunidade é a cidade, sob a

perspectiva estrutural, a sociedade e o cidadão, e estas relações estabelecem-se essencialmente

através da influência e das inter-relações estabelecidas através dos meios de comunicação.

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A constituição do imaginário - seja em uma perspectiva social ou individual - tem grandes

relações com a realidade midiática e a postura adotada pelos media em relação à informação.

A mídia, enquanto responsável pela divulgação e mediação dos fatos ocorridos no dia-a-dia

da sociedade, adquire também um caráter de agente, de elemento interventor no processo

histórico-social de um determinado grupo. Assim, segundo os pressupostos bakhtinianos,

evidencia-se uma interação entre infra-estruturas e superestruturas. Da mesma maneira que a

mídia interfere na sociedade, a sociedade altera ou influencia a mídia.

A mídia, especificamente no campo jornalístico, é uma área que facilita a visualização destas

relações entre infra-estrutura e superestrutura. Principalmente porque trabalha, mesmo que

inconscientemente, com a palavra enquanto signo ideológico e que influencia no cotidiano so

Na sociedade pós-moderna, a sociedade da informação, os media e as informações trazidas

por eles estão cada vez mais próximas e estabelecidas no cotidiano de seus integrantes. O

homem passa a ser parte da mídia, e a mídia parte do homem. Conseqüentemente, a mídia

torna-se determinante no desenvolvimento da sociedade e a sociedade passa a ser ponto-chave

na realidade dos meios de comunicação de massa. Cria-se, aqui, uma relação de interação e

interdependência entre infra-estrutura e superestrutura.

Citamos que Maingueneau explica o fato de muitos sociólogos e antropólogos propõem-se a

distinguir algumas funções do discurso que seriam necessárias à sociedade: “Lúdica”,

“Religiosa”, “Contato”. E sobre os gêneros de discurso diz tratar-se de dispositivos de

comunicação que só podem aparecer quando certas condições históricas encontram-se

presentes. (2001:60)

Analisamos que o discurso utilizado nos jornais sobre as universidades não é o mesmo

utilizado há uma década e não será o mesmo na próxima.

E nos deparamos com a linguagem em movimento, isto é, a qual sempre diversifica-se os

estilos e mecanismos da mesma. Pois existem as formações discursivas, as quais

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posteriormente definiremos, as quais são de caráter antagônico no discurso jornalístico. As

quais indiciam ao mesmo tempo um sentido dominante e um dominado, e mostrando que o

discurso não irrompe livremente, como fruto da vontade ou da escolha do sujeito.

E na continuação deste pensamento, Haroche nos ressalta o conceito quando afirma que o

“sujeito não é livre, ele é falado, isto é, dependente, dominado”. HAROCHE (1992:158)

Em termos psicológicos existe uma “inscrição” sobre este sujeito aprisionado, ou seja, o

assujeitamento (influência). A esta inscrição, verificamos que disponibiliza certas zonas de

sentido como permitidas e outras como proibidas para o sujeito. Essa determinação ideológica

materializa, na superfície lingüística, pistas do seu funcionamento.

No intuito de identificar e entender a superfície lingüística observamos o paradigma

proposto por Ginzburg, o qual se baseia em dados vistos como marginais, negligenciados

como menores e tidos como pouco importantes, que fazem a grande diferença no momento da

análise. Investigando como o homem se constituiu um grande decifrador de pistas, ao longo

do tempo, o autor resume:

“Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras

perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e

movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama,

ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas

emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar,

registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como

fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas

com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou

numa clareira de ciladas (...) Decifrar ou ler pistas de

animais são metáforas”.

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Interessamos-nos nesta pesquisa em tentar decodificar o discurso jornalístico.

Todo discurso tem uma “validade”, a qual se altera de acordo com a realidade social e

interesse popular.

E com isto buscamos não só analisar o discurso do ponto de vista da estética nem como

recorte do mundo, mas, sobretudo por abordar os mecanismos utilizados para manipular as

mentes. Sua investigação evidencia realidades que transcendem a materialidade dos conteúdos

das mensagens simbólicas. Esse fato lhe assegura ter realizado uma tarefa formidável, como

contribuição para o progresso de todos aqueles que resolverem estudar as mensagens

subliminares. Podemos afirmar que o pré-requisito de uma democracia passa por um público

bem informado.

Toda pesquisa de análise discursiva remete à história e às condições de produção dos

enunciados e das enunciações dos sujeitos sociais, razão pela qual, este trabalho de análise do

discurso da mídia tem um caráter sócio-histórico, uma vez que, traz em si, as marcas

lingüísticas do dito e do não dito; ou seja, dos elementos implícitos e explícitos, que,

lingüística e extra-lingüisticamente.

Para se compreender o significado do que foi dito e o que foi pressuposto ou implicitado, bem

como quais foram as reais intenções dos enunciantes, faz-se necessário conhecer o que não foi

dito, ou seja, se ler nas entrelinhas o não dito no discurso jornalístico.

No texto jornalístico busca-se preservar a fidelidade ao tempo histórico dos acontecimentos

para demonstrar-se como o signo e a linguagem, refletem e refratam, no dizer bakhtiniano, as

condições de produção social, trazendo em sua materialização, nos enunciados, as marcas das

formações sociais, ideológicas e discursivas de uma época e as relações de desejo, poder,

classe e ideologia que são instauradas através da linguagem.

Relacionamos as presentes análises lingüísticas nos estudos de Ducrot (1977), Foucault

(1971), bem como da Lógica Dialética em Marx e áreas afins - o que permitirá ao leitor

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compreender os significados literais e os significados implícitos contidos no discurso

jornalístico analisado.

Apresentaremos a Fundamentação Teórica que conduzirá a análise discursiva em pauta.

Posteriormente, abordaremos o Não Dito: os elementos lingüísticos, extralingüísticos

(filosóficos, ideológicos, institucionais e subjetivos) que apontam para o Não Dito.

Ao trazer à tona o não dito, buscamos os pressupostos implícitos do discurso, que são

classificados por Ducrot como significados implícitos. Tais fatos discursivos ficam

camuflados ou subentendidos numa realização discursiva.

A língua, na concepção de Ducrot, perde o caráter de um simples código, ultrapassando a

visão saussuriana, pois ela não é constituída de significados restritos e homogêneos; ela não é

um instrumento de comunicação fechado. A língua é muito mais do que isso "... ela será

considerada como um jogo, ou melhor, como o estabelecimento das regras de um jogo que se

confunde com a existência cotidiana". Ducrot (1977:12).

Ele nos traz o pensamento de que se a língua for aceita como um simples código, está se

admitindo de antemão que todos "...os conteúdos expressos graças a ela são exprimidos de

maneira explicita (...) assim, o que é dito no código é totalmente dito, ou não é dito de forma

alguma", O que não é verdade, pois existe o implícito, que supera a língua como código. Ele

afirma ainda que a língua não é um código, pois "...muitas vezes temos necessidade de, ao

mesmo tempo, dizer certas coisas, e de poder fazer como se não tivéssemos ditos: de dizê-las,

mas de tal forma que possamos recusar a responsabilidade de tê-las dito". Ducrot (1987:13)

Ao estudarmos as teorias de Foucault e no que as trazemos ao assunto das matérias

jornalísticas sobre as universidades, analisamos que os processos de exclusão sempre

marcaram território em todos os setores sociais, em especial a educação.

Foucault por sua vez afirma que dos três grandes sistemas de exclusão que marcam o

discurso: a palavra proibida, a divisão da loucura e a vontade de verdade, é justamente este

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último, a vontade de verdade, o mais importante. Tais sistemas de exclusão se exercem do

exterior, acrescenta, e referem-se à parte do discurso que põe em jogo o desejo e o poder.

É também Foucault quem afirma que numa sociedade como a nossa, conhecem-se

seguramente, os processos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar, também, é a

proibição. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode fazer de tudo

em qualquer circunstância, que não importa quem, não pode falar de não importa o quê.

(1971:2)

Nem tudo pode ser falado, nem tudo é falado, muitas coisas não podem ser ditas e muitas

vezes se faz o contrário do que se diz. Dessa forma, a verdade ou a real intenção do sujeito

não é explicitada, pois vai contra os interesses, os desejos e a ideologia dominante, razão pela

qual sempre se deve ter em mente, frente a qualquer discurso, a presença da subjetividade e

dos processos de exclusão.

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1.1 A IDENTIFICAÇÃO DO DITO E NÃO DITO

No que tenta explicar o mundo, o discurso jornalístico engorda suas estratégia para fazer a

informação parecer segura, confiável e fiel à realidade, como se esse fosse o único modo de

dizer. Lançando mão de tabelas, gráficos, mapas, estatísticas, quadros explicativos, pesquisas

inéditas, fotografia e fotomontagens, a tônica do discurso jornalístico é generalizar e fixar um

dizer como irrefutável. Esta manobra torna-se ainda mais poderosa quando textos, reportagens

e matérias aparecem sem autor explícito. Tal ausência de um nome, de um responsável pelo

dito, tem impacto na relação imaginária com o leitor, que passa a acreditar (daí advindo a

credibilidade) que não se trata ali de uma mera opinião pessoal, partícula de um mundo

reduzido e digno de apenas uma voz, mas sim de um julgamento universal, compartilhado por

todos. Assim, o efeito de sentido do discurso jornalístico aproxima-o de uma Lei. E Lei não

comporta opinião, interpretação nem crítica; deve ser aceita e maximizada na sua

impessoalidade.

Criado o mito, os responsáveis pelas notícias jornalísticas abusam do instrumento de poder

que detém e lançam mão de artefatos convincentes que não estão no escrito, mas direcionam a

opinião pública através do discurso.

Observamo que o implícito nunca é encontrado e sim reconstituído. Para tanto, é fundamental

utilizar-se dos conceitos de "implicitação como manifestação involuntária", e das "manobras

estilísticas", que permitem ao locutor gerar certas opiniões no destinatário, sem no entanto

correr o risco de formulá-las, "permitem portanto, fazer sem ter dito” . (Ducrot)

E esta, portanto, é a razão pela qual para se compreender um discurso, se faz necessário

conhecer os elementos da '' retórica “, que dão caráter conotativo ao discurso”.

Os caminhos que conduzem ao não dito são dadas pela coesão léxica, pelo jogo semântico, a

presença e a forma de utilização dos operadores argumentativos - mas, embora, porém e

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outros, que indicam quais as noções são aceitas e quais são as rejeitadas. O uso da paráfrase,

das metáforas, dos dêiticos e das marcas da subjetividade, bem como as formas de utilização

dos verbos num dado discurso, assim como os tempos verbais empregados contribuem para

uma compreensão melhor das intenções implícitas no discurso.

Quais são as condições de quem fala? Os interesses, a existência ou não de compromissos do

repórter para com uma das fontes? São fatos que remetem ao não dito.

O que significa o que se fala: a princípio o significado do que se fala tem um caráter.

Para se compreender os sentidos dos enunciados, é preciso se fazer a leitura contrastiva, pois

o discurso quer dizer isso e não aquilo, tendo em vista as implicitações discursivas. Também,

faz-se necessário saber quem é o sujeito, a que classe pertence, os valores que defende e de

que lado político-ideológico ele está. São dados que remetem ao não dito.

Quem fala? A quem fala? O que significa o que se fala? Por que se fala? Como fala? Quem

ouve? Através de quais instituições o discurso é feito ou justificado?

Precisamos focar-nos na idéia de que foi visto que toda enunciação carrega um forte caráter

ideológico, tendo por trás como elementos básicos o poder e o desejo, porém, tais intenções

não são ditas explicitamente, havendo a necessidade de se buscar o sentido oculto dos

enunciados de um dado discurso, que por ser polissêmico, polifônico e constituído de

subentendidos e pressuposições, muitas vezes a intenção real do enunciante não está no que

foi dito e sim no não dito. Pois Foucault diz que nem tudo pode ser dito e que a enunciação

está marcada por uma ampla rede de significações, proibições, interesses e desejos por parte

do sujeito, e afirma que apesar de o discurso parecer ser pouca coisa, as proibições que o

atingem revelam muito cedo, muito depressa sua ligação com o desejo e o poder. O espantoso

está em que o discurso - a psicanálise no-lo mostrou - não é simplesmente o que manifesta (ou

encobre) o desejo; é também o que é objeto do desejo; e em que o discurso - isso a história

não cessa de no-lo ensinar - não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de

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dominação, mas o porquê, aquilo pelo que se luta, o poder cuja posse se procura.

(1971:2))~~~~llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll

Refletimos que quando o sujeito afirma, o dito, é preciso buscar-se o que ele está negando ou

deixando de dizer, o não dito; para se detectar suas reais intenções discursivas e objetivas. E

que conforme pesquisamos o mito da imparcialidade, da objetividade e da veracidade total

não existe não ação humana, e por extensão no discurso jornalístico, razão pela qual o fazer

jornalístico está condicionado a todos os tipos de interesses e manipulações, pois ''só os

ingênuos acreditam que não têm interesses capazes de levá-los (os meios de comunicação e

também os jornalistas) a inverter os fatos'' reflete Laje. (1982:111)

Na busca diária da objetividade jornalística, fato impossível como já foi mencionado, e

O conceito de objetividade posto em voga consiste basicamente em descrever os fatos tal

como aparecem: é, na realidade, um abandono consciente das interpretações, ou do diálogo da

realidade, para extrair desta apenas o que se evidencia. A competência profissional passa a

medir-se pelo primor da observação exata e minuciosa dos acontecimentos do dia-a-dia. No

entanto, ao privilegiar aparências e reordená-las num texto, incluindo algumas e suprimindo

outras, colocando estas primeiro, aquelas depois, o jornalista deixa inevitavelmente interferir

fatores subjetivos.

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1.2 LINGÜÍSTICA PRAGMÁTICA

Trata-se de um dos principais fundamentos da análise do discurso, que tem como principal

função analisar os princípios que regem o uso da linguagem.

Esta nos revela que quando se ouve ou se lê um discurso, existe sempre um interesse que vai

além do que está escrito.

Há muito tempo que a lingüística pragmática é vista como a disciplina que se preocupa

em estudar a língua em situação de uso, numa perspectiva que obrigatoriamente leva em conta

emissor (o produtor do texto), seu receptor (o leitor/ouvinte) e o contexto em que ambos se

inscrevem.

Uma parte dos teóricos em comunicação defende que não se deve falar da Pragmática como

um ramo da Lingüística, já que, para estes, aquela se diferencia desta por se interessar pelo

estudo do uso da língua, por oposição ao estudo do sistema lingüístico.

Aprendemos a inegável importância de se introduzir a dimensão pragmática — além da

fonológica, da sintática e da semântica — nos estudos lingüísticos.

De acordo com os pragmatistas "a descoberta do papel da atividade enunciativa sobre a

estrutura lingüística é certamente a mais importante da Pragmática.

Podemos relacionar esta idéia às publicações jornalísticas sobre o ensino superior. Quando

estas criam nos jovens idéias e expectativas sobre o que determinada universidade oferece em

relação a melhores professores, emprego e, atém mesmo o enriquecimento do currículo do

candidato por ter sido aluno da tal instituição. Neste caso os interesses estão voltados para

obtenção de maior número de alunos possíveis.

Não criticamos o uso da publicidade por parte das instituições de ensino superior, até porque

estas publicações partem das universidades particulares que se mantém pelos próprios

recursos e precisam sempre renovar seu corpo discente. O que se questiona é esta “guerra”

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praticamente declarada entre as instituições, e quando estas são visitadas em nível de pesquisa

sobre tais publicações, verifica-se que pouco do que se expõe é, de fato, a realidade daquela

instituição. Salientamos que estas observações são percebidas apenas para quem faz uma

análise crítica das informações, pois os jovens e até mesmo adultos, na ânsia de ingressarem

na universidade não conseguem perceber tais aspectos e muitas vezes fazem um exaustivo

esforço financeiro para conseguir seu objetivo, que não refletem sobre a qualidade do ensino

que estão oferecendo-lhe e sua real vocação profissional, tal como, se aquele curso é o que ele

busca para sua vida profissional.

Ao analisarmos os enunciados, ou seja, a parte que antecede o texto e o titula, que já

percebemos basicamente o conteúdo do texto. Esta estratégia evidencia muitas vezes o apelo

jornalístico utilizados nas publicações. Citam na maioria das vezes o “futuro”, “sucesso”,

“formação”, “emprego”, e etc. Enfim, estes aspectos que todos buscam na sua trajetória de

vida e fazem com que o leitor se encante pelo que lê e fazer disso uma verdade.

A linguagem de acordo com a maneira que for elaborada torna-se manipuladora de opiniões.

De acordo com Iniguez, os meios de comunicação e fluxo de conteúdos simbólicos

assumiram o papel de instrumento de poder nas sociedades modernas. (2001:93)

Pretendemos mostrar a diferença entre gênero e tipo de discurso. E, explicar que o gênero dos

discursos dos textos das publicações sobre educação superior é de caráter jornalístico. Pois

tratam-se de periódicos e utiliza-se a linguagem característica deste segmento jornalístico,

porém o “tipo” destes discursos são de caráter publicitário, ou seja, visão do “educando”

como cliente.

Colocamos como ponto de estratégia da análise do discurso a importância e a diferença entre

“narrar e “expor”. Pois narrar implica em escrever sobre determinado assunto e fazer como se

estivesse contando um história. Assim, não se dá uma opinião nem força o leitor a criticar a

realidade. Ao contrário de expor, pois quem expõe trás consigo questionamentos, opiniões e

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atitudes em relação à realidade do que trata. Podemos verificar que as publicações sobre os

problemas educacionais (do fundamental ao superior) são apenas narrados nos periódicos.

Tornou-se uma praxe tal prática. A maioria não estimula e conscientiza a sociedade sobre tais

problemas. Apenas “cumprem” a obrigação de publicar. Entretanto, quando se trata sobre

“as universidades” o conteúdo textual não só reforça a idéia da suma importância de todos

terem o ensino superior, como também seduz o leitor quando associa status a ser universitário.

Ressaltamos, conforme dito anteriormente, não fazemos tais críticas às publicidades contidas

nos periódicos. Pois estas têm nestes aspectos sua função. Analisamos aqui as publicações,

ou seja, reportagens assinadas por jornalistas sobre a realidade do ensino superior em nossa

cidade e contexto nacional.

Ressaltamos que maior parte dos jornais (impressos) não só do Recife, mas de outras capitais,

não tem compromisso com o social. Concordamos que não é a função específica destes

periódicos de fazê-lo, mas num país onde ainda grande parte da população não concluiu o

ensino fundamental, o jornal precisamente deveria atuar como fator de mobilidade social, isto

é, como instrumento de apoio à educação.

Aprendemos a conviver com este fato sem nos darmos conta, de como diz Iniguez, das

“entrelinhas”. Porém, em termos históricos, esta prática de estudo ainda é muito recente

porque só a partir de Foucault passou-se a estudar e fazer analise crítica dos discursos. A

sociedade está aprendendo a ver e ler com outros olhos. Isto é, com pensamento na realidade e

no futuro.

Deparamos-nos com o pensamento de Foucault, o qual diz que uma das tarefas da análise do

discurso está em tratar os discursos como práticas que formam sistematicamente os objetos de

que falam.

E, com isto, aprendemos que lançar um significado e tentar entendê-lo, pragmaticamente,

muito mais do que utilizar palavras.

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No que reportamos estes procedimentos da análise do discurso para o contexto educacional do

Brasil identificamos que muito se fala e pouco se esclarece, em relação à realidade.

Observamos o que Maingueneau nos diz sobre a lei da sinceridade do discurso, a qual o

enunciador (quem fala ou redige) o discurso encontra-se engajado com o que aborda, não

encontramos nas publicações pesquisadas nos jornais sobre o tema abordado nesta pesquisa.

Uma das tarefas da Pragmática é justamente explicar como um receptor pode compreender

um enunciado de maneira não literal e porque o locutor escolheu este ou aquele modo de

expressar seu pensamento (literalmente ou não).

Finalmente, a instrução é um conceito usado para designar os conectores (conjunções,

locuções, advérbios sem significação referencial, etc.) cuja função parece variar de acordo

com o contexto.

A significação dos conectores corresponde a uma instrução sobre a maneira de interpretar a

relação que estabelecem entre as idéias (proposições).

Em outras palavras, pode-se dizer que se trata do conhecimento que o falante detém a respeito

do sentido e/ou da função que estas palavras têm nos contextos em que surgem.

Mesmo sem ter estudado sistematicamente os conectores, o falante de uma língua conhece e

muitas vezes emprega adequadamente tais termos, ou seja, usa-os de acordo com o valor

semântico que eles realmente têm (pelo menos os mais usados), levando em conta o tipo de

relação que ele realiza entre enunciados e idéias.

Enfim, a Pragmática não tem por objeto de estudo o código pelo código, mas principalmente

seu uso, e deve-se considerar, para se proceder ao estudo da dimensão pragmática da

linguagem, dois tipos de aspectos: os que são associados à estrutura lingüística e os que são

associados ao contexto extralingüístico.

Para os lingüistas contemporâneos, então, “o homem usa a língua porque vive em

comunidades, nas quais tem necessidade de comunicar-se com os seus semelhantes, de

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estabelecer com eles relações dos mais variados tipos, de obter deles reações ou

comportamentos, de atuar sobre eles das mais diversas maneiras, enfim, de interagir

socialmente por meio do seu discurso”.

Como conseqüência dessa mudança na maneira de conceber a linguagem, pode-se apontar

orientações dadas por meio de documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN), para o ensino da língua portuguesa.

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2. PUBLICAÇÕS JORNALÍTICAS:

PRÁTICAS E ELEMENTOS DISCURSIVOS IMPLÍCITOS NAS PUBLICAÇÕES

SOBRE O ENSINO SUPERIOR

Este capítulo destina-se à decodificação das práticas e elementos discursivos utilizados nas

publicações jornalísticas. Isto é, seus fundamentos, funções e objetivos.

Iniciamos por conceituar e identificar os tipos de elementos e práticas discursivas.

Esqueçamos a oralidade e nos concentremos na escrita, mais precisamente no ato de redigir.

Ao se escrever um texto torna-se obrigatório organizá-lo de maneira que se torne

compreensível para quem lê. A leitura é individual, ou melhor, pessoal e nela sua

compreensão. E nunca se pode prever até onde irá o alcance do texto.

Ao transpormos este fato para os jornais nos deparamos com a população daquele bairro,

município ou Estado. O alcance e influência deste periódico tornam-se incalculáveis.

Ao escrevermos ditamos o ritmo de apropriação do texto, isto é, a velocidade da leitura.

(Maingueneau)

O que não podemos “prever”, conforme dito anteriormente, o alcance e modo de interpretação

de um texto. Principalmente, o jornalístico que se “eterniza” o quanto repetitivo for o texto e

sua temática.

No caso das publicações estudadas neste trabalho ressaltamos que, como já é de

conhecimento da maioria da população mais instruída, que educação não é prioridade no

Brasil, nunca foi. A concentração de poder nas mãos das grandes empresas e multinacionais,

gerou o que chamamos de capitalismo selvagem. Onde quem tem mais sempre ganhará mais,

quem tem menos, não tem muito que esperar. Esta prática fez com que cada vez menos se

investisse e priorizasse a educação no país e, portanto, a indústria jornalística não se preocupa

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com a realidade educacional brasileira. E as próprias forças governamentais não estimulam tal

atitude e muito pelo contrário, conduzem e muitas vezes controlam as práticas jornalísticas.

Como nos explica Claudiana Nogueira, o fato das relações de dependências causadas pelo

crescimento constante das organizações midiáticas no setor privado que causam a regência do

discurso, isto é, sua ideologia e até algumas ordens sociais. E o que enfatizamos é o “poder

dizer” e assim pode-se informar ou opinar. De tal modo se observa o interesse do responsável

pela notícia em manipular a linguagem. (1992:224)

Associamos esta realidade atual ao papel do discurso e sua formação discursiva. Daí surgem

os sentidos e, de fato, a formação ideológica.

Segundo Eni Orlandi um dos pontos fortes do discurso está no “re-significar” a noção de

ideologia a partir da consideração da linguagem. O que se trata de uma definição discursiva

da ideologia. A interpretação atesta a presença da ideologia, pois diante de qualquer objeto o

homem é levado a interpretar. (2002:26)

Acrescentamos que a partir da ideologia surgem os sujeitos e os sentidos. E esta relação

constrói o papel discursivo de cada um na sociedade.

Levamos em consideração uma série de reportagens jornalísticas e até mesmo televisivas

sobre educação no Brasil. E nos deparamos sempre com as mesmas figuras de linguagem.

Focamos para nossa pesquisa as reportagens no Estado de Pernambuco (principais jornais).

As estratégias textuais praticamente idênticas, pois usam na sua maioria os seguintes

conteúdos: “A universidade para todos...”, “Cada vez mais jovens nas universidades do

Recife...”, “Eles estão chegando lá...”, “O sonho da formatura cada vez mais perto dos jovens

pernambucanos...”.

Estes chamados “bordões” geram uma falsa expectativa naqueles que lêem.

Independentemente do grau de escolaridade de quem lê, a primeira sensação que temos é que

de fato aquela informação procede. E ao analisarmos criticamente, ou no que trazemos para o

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campo discursivo, pragmaticamente, verificamos que são estratégias inegavelmente positivas,

construtoras porque despertam no leitor vontade vencer e conquistar seu sonho. Mais

detalhadamente observamos alguns critérios governamentais sobre o ingresso dos jovens às

universidades. Deparamos-nos com as exclusões sociais presentes nestes programas de

inclusão. E que aquele mar de rosas na verdade tenta esconder a barreira que divide o sonho e

a realidade. Ou melhor, a juventude carente e a universidade.

A esses impactos ao leitor provenientes das palavras, Bakhtin citava a polifonia da palavra. O

que ele não caracterizava só como os sons das palavras e sim, o sentido e sua ordem.

Analisando Bakhtin e o relacionando aos textos jornalísticos verificamos o que ele salientava

como funções eletivas e distribucionais, as quais se referem sob o ponto de vista da entonação

na voz do discurso. (2005:251)

Nosso estudo revelou o que consideramos mais impressionante no discurso, isto é, a

intertextualidade a qual está contida no interdiscurso presente em todo discurso.

E, ainda sobre as praticas discursiva expomos o pensamento de Foucault (1969:350-351):

“Temo que o senhor esteja cometendo um erro duplo: a propósito das práticas discursivas que

tratei de defini e a propósito da parte que o senhor mesmo reserva à liberdade humana. As

positividades que eu tentei estabelecer não devem ser compreendidas como um conjunto de

determinações que se impuseram do exterior sobre o pensamento dos indivíduos, ou que o

habitam no interior e como a priori; elas constituem, sim, o conjunto das condições segundo

os quais exercemos uma prática, segundo as quais essa prática dá lugar a alguns enunciados

parcial ou totalmente novos, segundo as quais, enfim pode ser modificada. Trata-se menos

dos limites colocados à iniciativa dos sujeitos que do campo em que se articula (sem

constituir seu centro), das regras que utiliza (sem que tenha inventado nem formulado), das

relações que servem de apoio (sem que ela seja seu resultado último nem seu ponto de

convergência). Trata-se de fazer aparecer as práticas discursivas em sua complexidade e em

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sua densidade; mostrar que falar é fazer algo, algo diferente do que expressar o que se pensa,

traduzir o que se sabe, diferente de pôr em jogo as estruturas da língua; mostrar que agregar

um enunciado a uma série preexistente de enunciados é fazer um gesto complicado e custoso,

que implica algumas condições ( e não somente uma situação, um contexto, alguns motivos) e

que comporta algumas regras (diferentes das regras lógicas e lingüísticas de construção);

mostrar que uma mudança, na ordem do discurso, não pressupõe “idéias novas”, um pouco de

invenção e de criatividade, uma mentalidade distinta, e sim algumas transformações em uma

prática, eventualmente nas práticas próximas e em sua articulação comum. Eu não neguei,

longe disso, a possibilidade de mudar o discurso: Só lhe tirei o direito exclusivo e instantâneo

à soberania do sujeito.”

Ao trazermos estes conceitos e pensamentos ao nosso objeto de estudo nos surpreendemos

com o poder da palavra e como esta pode ser usada de acordo com o interesse de quem a

utiliza. Pois maciça parte da sociedade que prefere ler o jornal, o faz por considerarem a

televisão como maior veículo manipulador de informações e idéias, esquece de ler, de fato, as

entrelinhas dos jornais. Nas quais o subjetivo torna-se cada vez mais concreto na concepção

do leitor.

O que queremos ressaltar é a importância da leitura crítica e atenção para o discurso indireto,

isto e, o que não está escrito e diz tudo. E, também, do que está escrito e diz algo com intuito

apenas de convencer ou fortalecer uma idéia.

Este ocultamento, ou falseamento, da realidade social em que estão inseridos os sujeitos do

discurso é um instrumental para criar e manter a dominação do grupo social por parte de uma

camada dominante. Esta realidade de homogeneização do conhecimento e das posturas dos

sujeitos em relação às mensagens transmitidas é gerada, em muitos momentos, pela falta de

uma contra-ideologia no contexto social. Desta forma, os conceitos apresentados pelo grupo

dominante são simplesmente aceitos, sem que haja contestação ou contraposição. Esta é uma

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realidade muito visível na mídia. Os meios de comunicação assumem, em muitos momentos,

o discurso de autoridade. Esta característica discursiva, e a formalização da transmissão do

discurso fazem com que o conteúdo dos media torne-se, para uma parcela considerável da

sociedade, incontestável. Este viés incontestável acaba por impedir a organização e o

surgimento de uma contra-ideologia.

Para obter um resultado eficaz na transmissão de uma dada mensagem através do discurso

jornalístico, a maior parte dos comunicadores utiliza recursos subliminares. Para tanto,

algumas das estratégias comumente utilizadas são a polifonia discursiva e o silenciamento

como elemento informacional. Através destes elementos e, muitas vezes, da simples análise

da sentença pelo contexto apresentado, é possível identificar elementos representativos de

ideologia na prática comunicacional.

Esta reflexão nos mostrou a importância de explicar as estratégias discursivas e não podíamos

deixar de explicar também, e dar enfoque ao interdiscurso. Aos conteúdos que vão além do

que está escrito conceituamos como interdiscurso, no qual estão inseridas as estratégias

discursivas e os elementos textuais como veremos a seguir.

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2.1. O INTERDISCURSO E A INTERTEXTUALIDADE DOS TEXTOS

JORNALÍSTICOS

Pesquisamos especialistas e teóricos no estudo da análise do discurso, no intuito de encontrar

uma maneira simplificada de explicar o conceito de interdiscurso e como este se dá.

Encontramos várias definições e aprendemos através delas que o interdiscurso baseia-se na

memória discursiva de cada pessoa. Ou seja, ele coloca o efeito de sentido de cada

pensamento.

A memória possui suas próprias características e, de acordo com Orlandi, esta é tratada como

interdiscurso. E este por sua vez é definido como aquilo que se fala antes, em outro lugar

independentemente. É a memória discursiva. E ela ainda nos salienta que o interdiscurso

disponibiliza dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em uma situação discursiva

dada. (2002:31)

Identificamos que muitos dos textos jornalísticos sempre estiveram lá, isto é, já foram ditos

várias vezes. O que se muda basicamente são o objeto da matéria e a linguagem. Pois algo

quando repetido inúmeras vezes faz com quem redige aproprie-se do discurso do outro como

seu.

O discurso não adquire sentido a não ser no interior de um universo de outros discursos,

através do qual ele deve abrir um caminho. Para interpretar o menor enunciado, é preciso

colocá-lo em relação com todos os tipos de outros, que se comentam, parodiam citam... Cada

gênero de discurso tem sua maneira de gerar as multiplicidades das relações interdiscursivas:

um manual de filosofia não cita da mesma maneira nem se apóia nas mesmas autoridades que

um animador de promoções de vendas... O próprio fato de situar um discurso em um gênero

(a conferência, o jornal televisado...) implica que ele é colocado em relação ao conjunto

limitado de outros. (CHARAUDEAU e MAINGUENAU, 2004:172)

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O interdiscurso é um dos conceitos fundamentais da Análise de Discurso (AD) filiada aos

trabalhos fundadores de M. Pêcheux e seu grupo de colaboradores. Este é um dos conceitos

que permitem caracterizar a AD nesta sua linha de filiação e a distingue de outras abordagens

ditas discursivas e de outros campos de saber. Definido através de um esforço contínuo de

elaboração e reelaboração conceitual, o interdiscurso se apresenta como o pivô teórico que

permite articular os outros conceitos da teoria, configurando assim um corpo sólido e

articulado de reflexões sobre a relação entre língua, sujeito, história e ideologia. Ao mesmo

tempo, o interdiscurso é um dos conceitos mais banalizados por sucessivas reapropriações,

freqüentemente em prol de sua operacionalização, o que permite reduzir um conceito

articulador de forte investimento teórico em uma simples metodologia de análise, aplicada

com fins puramente instrumentais.

E diante da sua importância à análise do discurso nos deteremos no enfoque à memória

discursiva construída durante a vida de leitura de cada indivíduo. A qual permite a quem faz

o discurso de repetir ou apenas citar algum trecho de uma idéia e este ser compreendido com

facilidade pelo leitor.

Salientamos que o interdiscurso baseia-se em todo o conjunto de formulações feitas e já

esquecidas que determinam o que dizemos.

Em decorrência do elo sujeito/história/ideologia, podemos inferir que não há sentido em si,

pois ele é determinado pelas posições ideológicas no contexto em que o dizer é produzido. E é

assim que o sujeito ao dizer, refere-se a uma formação discursiva para produzir um sentido e

não outro. Cada posição/situação possui sua formação discursiva que nos indica o que pode e

deve ser dito e também o que deve ser silenciado. O sentido é retirado da posição em relação à

ideologia.

Essa heterogeneidade discursiva permite-nos definir dispersão - na sua relação

sujeito/discurso sobre seu modo de existência sócio-histórica - como os vários papéis que

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desempenha concernentes às posições que o sujeito ocupa no momento do acontecimento da

enunciação, de acordo com a maneira pela qual este é interpelado pela ideologia. A dispersão

é formada por elementos que não estão ligados por nenhum princípio de unidade. O sujeito

tem a ilusão de unidade, mas seu discurso é repleto de dispersões que manifestam as diversas

posições ocupadas, que são regularizadas pelas formações discursivas.

O sentido discursivo é forçado e modificado pela unidade de sentido mais alargada que pode

ser projectada a partir do fragmento em consideraçäo.Todo o discurso é sempre interpelativo

ou apelativo, e para mais, é sempre o resultado de uma interpelaçäo ou de um apelo de um

outro discurso. O sentido discursivo näo se calcula por adiçäo dos sentidos expressos pelas

unidades constituintes mas calcula-se a partir do sentido de todos os discursos que funcionam

enquanto horizonte do discurso em consideraçäo. E este carácter interdiscursivo de todo o

discurso näo pode fazer esquecer que a relaçäo entre os discursos é uma relaçäo de traduçäo,

näo oferecida passivamente mas conquistada em toda a tensionalidade/tensäo e em toda a

polémica ( pressupondo por isso uma pluralidade de interpretaçöes ou de traduçöes possível).

A comunicabilidade dos discursos näo significa toda a ausência de malentendido, de

manipulaçäo ou sobretudo de equilíbrio de forças. Näo existe qualquer transparência de

princípio no desenvolvimento do interdiscurso: existe apenas uma opacidade polemológica

devida à presença da subjectividade enunciante nos seus discursos.

As instâncias de enunciaçäo discursivisadas (no processo da produçäo de diiscursos) sob a

força determinante do interdiscurso têm a sua fonte, nunca substancialmente presente, mas

sempre reconstruida por catélise, para utilizar o termo linguistico de Hjelmslev, na

subjectividade enunciante.(ver Enunciaçäo). Näo existe discurso sem sujeito (enquanto efeito

de discurso) tal como näo existe análise de discurso sem reconstruçäo das condiçöes

(subjectivas) de produçäo e de compreensäo dos discursos.

Toda a prática discursiva é virtualmente uma prática intersemiótica: näo há qualquer

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incompatibilidade entre diferentes tipos de semioticidade, e é assim que uma interacçäo de

duas ou mais semioticidades compatíveis pode bem caracterizar práticas culturais e artísticas

entre as mais densas e as mais complexas: é o fenómeno do sincretismo de códigos

(pensemos, por exemplo, no teatro que relaciona diferentes semioticidades, assim como a

ópera e, porue näo, a "vida quotidiana").

Apesar de existir heteronímia entre o ambiente ou o contexto gerador e o discurso gerado, näo

se pode dissociar o interdiscurso e os seus componentes, desse ambiente uma vez que o

interdiscurso näo é unicamente o resultado dos contextos; é acima de tudo, constituinte de

contextualizaçäop. Os discursos eles próprios situam os contextos e os ambientes: näo säo

puramente passivos no que se refere aos contextos.

Eis sete exigências epistemológicas que modulam ou forçam qualquer abordagem adequada

da discursividade. Pode-se, de facto, resumir sob duas grandes rúbricas que passamos em

revista nos parágrafos que se seguem: existe uma discursividade desde que exista uma

subjectivaçäo e contextualisaçäo dos fragmentos da linguagem.

A subjectivaçäo da actividade linguistica é uma necessidade de toda a reconstruçäo do sentido

global e rico de todas as sequências discursivas pois o discurso näo é apenas um texto "tout

court", como se diz, mas um "texto enunciativo".

Para Orlandi, as condições de produção do discurso compreendem fundamentalmente os

sujeitos e a situação, além da memória. Pensada em relação ao discurso, a memória é tratada

como interdiscurso, disponibilizando dizeres que afetam o modo como o sujeito significa em

uma situação discursiva dada. É pelo funcionamento do interdiscurso que se suprime, por

assim dizer, a exterioridade como tal, para inscrevê-la no interior da textualidade.

Isso faz com que, pensando-se a relação da historicidade (do discurso) e a história (tal como

se dá no mundo), é o interdiscurso que especifica, como dizia Pêcheux , as condições nas

quais um acontecimento histórico (elemento histórico descontínuo e exterior) é suscetível de

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vir a inscrever-se na continuidade interna, no espaço potencial de coerência próprio a uma

memória.

As condições de produção que constituem os discursos funcionam de acordo com certos

fatores. Um deles é o que Orlandi denomina “relação de sentidos”, segundo a qual não há

discurso que não se relacione com outros. Um discurso aponta para outros que o sustentam,

assim como para dizeres futuros. Não há começo absoluto nem ponto final para o discurso,

ele tem relação com outros dizeres realizados, imaginados ou possíveis. Outro fator é a

“relação de forças”, ou seja, o lugar a partir do qual fala o sujeito e que é constitutivo do que ele

diz.

Assim a junção do conteúdo institucional e o imaginário contribuem para a constituição das

condições em que o discurso se produz e, portanto, para a sua análise. Pode-se dizer, então,

que o sentido não existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em

jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas.

Deve-se pensar nos textos no que diz respeito à sua importância dentro de um esquema de

funcionamento mais amplo que as relações intrínsecas existentes em seu interior, parece

inevitável assumir uma perspectiva pragmática, que coloca em evidência o problema das

condições de produção como quadro de informações prévio e necessário a uma observação

interior de cada realidade discursiva.

Na época da política autoritária a educação é enaltecida como instrumento eficaz de controle.

Não seria incorreto dizer que o discurso de que “a educação, bem planejada e disseminada

garante a ordem e a disciplina” está, na verdade, invertido. Ao contrário, a necessidade

imperativa da ordem e da disciplina define o que será e a que servirá a educação.

Porém vê-se que também não passava de estratégia discursiva da época e que muitas daquelas

informações formaram a memória discursiva da sociedade. Por isso, esta falta de análise

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crítica textual. De onde temos gravado na memória a idéia do que está escrito é verdade

absoluta e incontestável.

CONCLUSÃO

A preocupação com o conteúdo publicado nos principais jornais impressos de Pernambuco

(Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco, Folha de Pernambuco) sobre o ensino superior

no Estado e no restante do país, moveu nosso interesse por pesquisar tais periódicos e tentar

decodificar as idéias implícitas em tais textos.

No início de nossas atividades buscamos as definições dos teóricos fundadores da prática de

análise do discurso. E deparamos-nos com os conceitos e definições das estratégias

discursivas existentes em todo e qualquer texto.

Pesquisamos e expomos, de forma sucinta, a evolução do discurso jornalístico. Tais como

suas práticas atuais. E trouxemos esta escala evolutiva para o campo educacional. Isto é, um

estudo sobre como se publicou e como se publica nos dias atuais as publicações jornalísticas

sobre o ensino superior.

Investigamos as formas assumidas pelas pré-noções acionadas por agentes do campo

jornalístico na produção e difusão de informações e pontos de vista sobre a educação. E

partimos da hipótese que em razão da posição ocupada pelo campo jornalístico na economia

geral de bens simbólicos, as práticas educativas de professores e demais agentes sociais são

conformadas por uma determinada construção social da realidade, isto é, por princípios de

visão da educação impostos por jornalistas, o mais das vezes sutilmente, tanto ao campo

educacional quanto ao espaço social geral.

Deparamos-nos com o monopólio da produção e difusão em larga escala da informação e da

opinião, e à sua privilegiada posição no campo do poder. E assim o jornalista encontra-se em

condições de impor visões do mundo social sobre temas direta ou indiretamente ligados à

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educação. Conforme visto anteriormente, isso é feito por uma transmutação nos objetos da

própria matéria jornalística. Ao sofrer as censuras internas ao campo jornalístico, isto é,

filtrada pelas taxionomias sociais da imprensa, a educação é conformada às lutas simbólicas

nas quais os jornalistas estão implicados. A análise do material empírico revela que essa

conformação da educação às lutas de classificação propriamente jornalísticas se dá por meio

de dois mecanismos principais: pela inserção dos temas educacionais nas oposições

estruturantes do universo mental da imprensa e pelo reforço conferido pelo campo jornalístico

aos agentes e instituições educacionais mais próximos dos pólos comercial e privado.

Tentamos em nosso trabalho que haja uma disseminação do interesse pela educação na

sociedade. Principalmente nos jovens, que ainda por sua inexperiência tornam-se

manipuláveis, no que diz respeito aos seus ideais e seu modo de interpretar o mundo.

As informações sobre educação superior muitas vezes ocorrem de modo arbitrário à ética,

pois existe a concorrência interna ao campo jornalístico como da disputa do jornalismo com

os demais campos pela imposição da "última palavra" em quase todos os assuntos,

especialmente os mais suscetíveis de catalogação sob o rótulo de "problemas sociais".

Cabe à sociedade ter discernimento para absolver as informações e buscar à realidade, que

está sempre próximo a cada um. Pois se a sociedade torna-se crítica, passa a discordar de

certas maneiras de informar.

Se adotarmos esta postura crítica, forçaremos a indústria jornalística a publicarem com

honestidade à realidade do ensino superior brasileiro. E, até mesmo, passar a contribuir em

caráter decisivo para o avanço e acesso à universidade.

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