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Faculdade de Letras da 

Departamento

Criação de cenários de expaautómatos celulares no apoautómatos celulares no apoterritorial: Cabeceiras de 

José Pedro Oliveira

20

Universidade do Porto

o de Geografia

ansão urbana com recurso a io ao planeamento e gestãoio ao planeamento e gestão Basto (Norte de Portugal)

a Henriques Costa

10

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

José Pedro Oliveira Henriques Costa

Criação de cenários de expansão urbana com recurso a autómatos celulares no apoio ao

planeamento e gestão territorial: Cabeceiras de Basto (Norte de Portugal)

Dissertação apresentada

à Faculdade de Letras da Universidade do Porto

para a obtenção do grau de Mestre em

Sistemas de Informação Geográfica

e Ordenamento do Território

Departamento de Geografia

Porto 2010

Agradecimentos

Aos Professores Doutores Rio Fernandes e Elsa Pacheco, pela orientação,

apoio e abertura científica para acompanhar a realização desta dissertação numa área

pouco explorada em Portugal.

Ao Prof. Dr. José António Tenedório pelas informações preciosas e cedência

de bibliografia específica.

Ao António Costa, pelos seus comentários enriquecedores e sugestões ao longo

destes dois anos.

Á Cristiana Martinha pela ajuda e incentivo demonstrado ao longo desta

dissertação.

Ao Alexandre Rodrigues pela disponibilidade e conselhos importantes na

aprendizagem da linguagem Linux / Cygwin.

À Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, em especial ao Adelino

Magalhães pelo fornecimento de cartografia e de informações fundamentais sobre o

planeamento do município.

Aos colegas e docentes do Mestrado pelo ambiente de trabalho extraordinário,

pela troca de ideias e partilha de experiências.

Aos meus pais e irmãos.

À Marta.

iii 

Resumo

Nos últimos anos, o planeamento regional e urbano tem vindo a recorrer cada

vez mais aos modelos dinâmicos de base técnica cada vez mais sofisticada para gerar

cenários múltiplos de apoio à decisão no domínio do planeamento e gestão do território,

permitindo antecipar cenários, minimizar problemas e maximizar ganhos.

Com o desenvolvimento da geocomputação, verificou-se um acréscimo na

disseminação das metodologias de análise espacial, que combinam abordagens

recorrentes dos Sistemas de Informação Geográfica com outras emergentes, como o

recurso à modelação com autómatos celulares. Estes modelos têm assumido um papel

relevante no contributo para a leitura e interpretação das dinâmicas espaciais,

permitindo, modelar e simular “comportamentos” de evolução e reacção dos territórios,

ou seja, pode constituir uma ferramenta crucial para o apuramento das interpretações,

explicações e prospecções territoriais.

Nesta base, esta investigação tem dois objectivos fundamentais: o primeiro

incide sobre questões de avaliação (intervenção versus resultantes) do planeamento

territorial no concelho de Cabeceiras de Basto (Norte de Portugal) e a sua influência no

crescimento urbano; o segundo, associado a este, passa pelo ensaio de metodologias de

avaliação de tendências, através da simulação de cenários de expansão urbana, com

recurso à modelação com autómatos celulares através do modelo SLEUTH, que permite

a aferição de tendências de alterações do uso e ocupação do solo tendo em vista o

contributo para uma melhor definição de instrumentos intervenção territorial.

Abstract

In recent years, urban and regional planning has increasingly relied on dynamic

models based on increasingly sophisticated technique to generate multiple scenarios

decision support for the planning and land management, allowing anticipating

scenarios, minimize problems and maximize gains.

With the development of Geocomputating, there was an increase in the

dissemination of spatial analysis methods that combine approaches recurrent from

Geographic Information Systems with other emergents, such as the use of modeling

with cellular automata. These models have assumed an important role in contributing to

the reading and interpretation of spatial dynamics, allowing it to model and simulate

"behaviors" of evolution and reaction of the territories, in other words, it may be a

crucial tool for the improvement of interpretations, explanations and territorial

prospects.

On this basis, this research has two main objectives: the first focuses on issues

of assessment (intervention versus resultants) of spatial planning in the municipality of

Cabeceiras de Basto (Northern Portugal) and its influence on urban growth, the second

associated to this one passes by the test of methodologies for assessing trends, by

simulating scenarios of urban sprawl, using the modeling with cellular automata

through model Sleuth, which allows measurement of trend-use change and land use in

view of the contribution for better definition of territorial intervention instruments.

vii 

Acrónimos

AC – Autómatos Celulares

CAOP – Carta Administrativa Oficial de Portugal

CMCB – Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto

INE – Instituto Nacional de Estatística

MDT – Modelo Digital de Terreno

NUT – Nomenclatura de Unidades Territoriais para fins Estatísticos

PDM – Plano Director Municipal

PP – Plano de Pormenor

PRN – Plano Rodoviário Nacional

PU – Plano de Urbanização

RAN – Reserva Agrícola Nacional

REN – Reserva Ecológica Nacional

SIG – Sistemas de Informação Geográfica

SLEUTH – Slope, Exclusion, Urban extent, Transportation, Hillshade

UGM – Urban Growth Model

UOPG – Unidades Operativas de Planeamento e Gestão

ix 

Índice geral Agradecimentos .............................................................................................................................. i

Resumo ......................................................................................................................................... iii

Abstract ......................................................................................................................................... v

Acrónimos ................................................................................................................................... vii

1. Introdução ....................................................................................................................... 17

1.1. Objectivos ................................................................................................................... 17

1.2. A abordagem à avaliação das dinâmicas urbanas através dos modelos AC ................ 19

2. Das intenções ao resultado da intervenção no território: a consolidação de um eixo de desenvolvimento (Arco de Baúlhe – Cabeceiras de Basto)......................................................... 33

2.1. Enquadramento regional e caracterização do concelho ............................................... 33

2.2. Cabeceiras de Basto em meados do século XX .......................................................... 40

2.3. Quatro décadas de desenvolvimento lento: dos anos 50 a 1994.................................. 42

2.4. Os instrumentos de planeamento territorial e o início de um novo ciclo de desenvolvimento (1995 – 2008) .............................................................................................. 47

2.4.1. O planeamento e a evolução da mancha urbana de 1995 a 2008 .................... 64

3. Modelação geográfica através de autómatos celulares ........................................................ 75

3.1. Autómatos celulares e a sua aplicação na modelação de cenários .............................. 75

3.1.1. Elementos que caracterizam um autómato celular .......................................... 75

3.1.2. Os autómatos celulares urbanos ...................................................................... 77

3.1.3. Vantagens e limitações dos AC ....................................................................... 80

3.2. O modelo SLEUTH ..................................................................................................... 83

3.2.1. Princípios do modelo ....................................................................................... 85

3.2.2. Dinâmicas de crescimento urbano simuladas .................................................. 86

3.2.3. Informação geográfica necessária ................................................................... 90

3.2.3.1. Declives ........................................................................................................... 90

3.2.3.2. Áreas de exclusão ............................................................................................ 91

3.2.3.3. Áreas urbanas .................................................................................................. 92

3.2.3.4. Rede viária ....................................................................................................... 93

3.2.3.5. Relevo sombreado ........................................................................................... 95

3.3. Calibração do modelo .................................................................................................. 95

3.4. Cenários de expansão urbana para 2021 e 2030 .......................................................... 97

4. Considerações finais .......................................................................................................... 111

Bibliografia ............................................................................................................................... 117

Índice de Figuras  

Fig. 1. Uso e ocupação de solo previstos de 2005 a 2012 no NO do concelho de Almada. ...... 21

Fig. 2. Simulação de dois cenários de urbanização na AML para 2025. .................................... 22

Fig. 3. Simulação de cenários de alteração do uso do solo para a Província Algarvia para 2000 e 2020. ............................................................................................................................................ 23

Fig. 4. Simulação do uso do solo em Condeixa-a-Nova para 2011 e 2021 ................................. 24

Fig. 5. Exemplo de uma Máquina de Turing. .............................................................................. 25

Fig. 6. Ilustração das regras “Jogo da Vida” de Conway. ........................................................... 27

Fig. 7. Classificação dos modelos de alterações no uso do solo segundo W. Tobler .................. 28

Fig. 8. Cabeceiras de Basto no Norte de Portugal entre Trás os Montes e as NUTs do Ave e Tâmega ........................................................................................................................................ 34

Fig. 9. Cabeceiras de Basto e as principais redes de acessibilidades no Norte de Portugal ........ 35

Fig. 10. Rede viária do concelho de Cabeceiras de Basto ........................................................... 37

Fig. 11. Densidade Populacional por Freguesia em Cabeceiras de Basto (2001) ....................... 38

Fig. 12. Variação da Densidade Populacional por Freguesia em Cabeceiras de Basto (1991-2001) ........................................................................................................................................... 39

Fig. 13. Imagem do Anteplano de Urbanização de Cabeceiras de Basto .................................... 45

Fig. 14. Carta de Ordenamento do PDM de Cabeceiras de Basto ............................................... 50

Fig. 15. Legenda da Carta de Ordenamento do PDM de Cabeceiras de Basto ........................... 51

Fig. 16. Plano de Pormenor da Zona Industrial de Basto ............................................................ 53

Fig. 17. Plano de Pormenor da Área a Nascente do Mosteiro de Refojos .................................. 54

Fig. 18. Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe ......................................................... 57

Fig. 19. Plano de Urbanização da Vila Sede de Concelho .......................................................... 58

Fig. 20. Planta de Ordenamento da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto ........................... 61

Fig. 21. Legenda da Planta de Ordenamento da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto ....... 62

Fig. 22. Planeamento existente e programado em Cabeceiras de Basto ..................................... 64

Fig. 23. Evolução da mancha urbana em Cabeceiras de Basto entre 1995 e 2008 ...................... 66

Fig. 24. Evolução da mancha urbana em Cabeceiras de Basto entre 1995 e 2008 por tipo de intervenção .................................................................................................................................. 67

Fig. 25. Evolução das áreas da REN e RAN entre o PDM de 95 e revisão em 2008 .................. 70

Fig. 26. Diferentes configurações da vizinhança AC num espaço celular bidimensional ........... 76

Fig. 27. Expansão urbana baseado em AC numa superfície plana. ............................................. 77

Fig. 28. Expansão urbana com restrição do terreno. ................................................................... 78

Fig. 29. Expansão urbana com influência da rede viária. ............................................................ 80

Fig. 30. Ilustração do crescimento espontâneo ............................................................................ 87

Fig. 31. Ilustração do crescimento difuso e origem de novos centros ......................................... 87

xi 

Fig. 32. Ilustração do crescimento orgânico ................................................................................ 87

Fig. 33. Ilustração do crescimento influenciado pela rede viária ................................................ 88

Fig. 34. Ilustração do comportamento do coeficiente do declive na modelação ......................... 88

Fig. 35. Ilustração do crescimento através das regras de self-modification ................................ 89

Fig. 36. Declives ......................................................................................................................... 91

Fig. 37. Áreas de exclusão (a branco) ......................................................................................... 92

Fig. 38. Áreas urbanas 2008 (a branco) ...................................................................................... 93

Fig. 39. Rede viária 2008 ............................................................................................................ 94

Fig. 40. Relevo Sombreado ......................................................................................................... 95

Fig. 41. Modelo conceptual do processo de simulação do SLEUTH .......................................... 97

Fig. 42. Simulação da expansão urbana para 2009 ..................................................................... 99

Fig. 43. Simulação da expansão urbana para 2018 ................................................................... 101

Fig. 44. Simulação da expansão urbana para 2030 ................................................................... 102

Índice de Quadros

Quadro 1. Vários domínios de aplicação nas dinâmicas urbanas na modelação baseada em AC29

Quadro 2. Quadro comparativo em termos de distâncias e tempos de percurso entre os principais centros urbanos, antes e após entrada em funcionamento do PRN ............................................. 36

Quadro 3. Densidade Populacional da Região Norte, Ave, Tâmega e Cabeceiras de Basto em 2001 ............................................................................................................................................. 38

Quadro 4. Modelos AC no domínio da simulação de cenários de expansão urbana e alterações no uso do solo .............................................................................................................................. 84

Quadro 5. Definições de cor aplicadas pelo SLEUTH para denotar as probabilidades do píxel para urbanização .......................................................................................................................... 98

Quadro 6. Novos píxeis urbanos gerados por tipo de crescimento em 2009, 2018 e 2030. ...... 104

Quadro 7. Reclassificação das imagens simuladas de 2009, 2021 e 2030 ................................ 106 

Índice de Gráficos Gráfico 1. Áreas urbanas por freguesia entre 1995 e 2008 (em hectares) ................................... 65

Gráfico 2. Taxa de crescimento das áreas urbanas por freguesia entre 1995 e 2008 .................. 65

Gráfico 3. Nº de edifícios licenciados (novas construções) de 1995 a 2008 ............................... 69

Gráfico 4. Total de píxels urbanos nos anos de 2009, 2021 e 2030 .......................................... 100

Gráfico 5. Crescimento urbano entre 2009 e 2030. ................................................................... 105

Gráfico 6. Crescimento urbano entre 1995 - 2030 (em hectares). ............................................. 106

Gráfico 7. Percentagem do grow rate entre 2009 e 2030. ......................................................... 107

15 

Capítulo 1

17 

1. Introdução

1.1. Objectivos  

Considerando que o percurso de construção dos territórios “condiciona” o seu

comportamento, o que ocorre muitas vezes, independentemente das decisões do

planeador e decisor político, então a análise de tendências e simulação das resultantes da

intervenção pode constituir uma ferramenta crucial no apoio à decisão e no melhor

aproveitamento dos investimentos.

Propõe-se nesta dissertação uma abordagem às dinâmicas territoriais e de

planeamento no concelho de Cabeceiras de Basto, ensaiando a aplicação de um modelo

que proporcione o apoio à decisão no momento da concepção do plano e na intervenção

territorial em geral. Neste âmbito, embora o trabalho incida sobre a globalidade do

concelho, dar-se-á mais ênfase ao eixo urbano Arco de Baúlhe – Cabeceiras de Basto

por constituir o espaço âncora de desenvolvimento concelhio.

Esta dissertação tem dois objectivos fundamentais: o primeiro incide sobre

questões de avaliação (intervenção versus resultantes) do planeamento territorial no

concelho de Cabeceiras de Basto e a sua influência na expansão da mancha urbana; o

segundo, associado a este, é o de, pelo ensaio de metodologias de avaliação de

tendências, através da simulação de cenários com recurso à modelação com autómatos

celulares utilizando o modelo SLEUTH, permitir a aferição de tendências de alterações

do uso e ocupação do solo, para uma melhor definição de instrumentos de planeamento

e políticas e acções de transformação e gestão territorial.

Esta investigação ambiciona ainda dar resposta a questões de maior pormenor,

o que permite formular alguns objectivos mais específicos:

- elaborar uma análise do povoamento do concelho ao longo da segunda

metade do séc. XX até à actualidade e a sua comparação com o que foi planeado

através dos instrumentos de planeamento territorial, com ênfase para o eixo urbano

Arco de Baúlhe – Cabeceiras de Basto, para perceber até que ponto os planos foram

eficazes e se houve concordância entre o que foi proposto e o que foi concretizado.

- criar cenários de expansão urbana no concelho de Cabeceiras de Basto, num

espaço temporal até ao ano de 2030, utilizando o modelo SLEUTH, baseado em

autómatos celulares;

- observar e analisar os resultados do modelo SLEUTH numa área de baixa

densidade de ocupação; já que este e outros modelos do tipo se aplicam a áreas urbanas

consolidadas e em regra em contexto metropolitano, pelo que este pode ser um exercício

de teste a um outro tipo de área geográfica;

- iniciar através deste curto ensaio, um processo de investigação mais alargado e

mais profundo do ponto de vista dos testes e avaliações a produzir com as técnicas e

modelos disponíveis;

A partir destes objectivos, propõe-se uma organização desta dissertação em

quatro capítulos, de introdução (capítulo 1), o enquadramento regional e estudo da

dinâmica concelhia (capítulo 2), a aplicação do modelo proposto (capítulo 3) e por fim,

com as considerações finais (capítulo 4).

No primeiro capítulo definem-se os objectivos da investigação, faz-se o

enquadramento teórico sobre a utilização dos modelos dinâmicos no apoio à gestão do

território, e posteriormente abordam-se questões mais específicas relacionadas com a

utilização dos modelos dinâmicos baseados em autómatos celulares e fecha-se o

capitulo com a apresentação da estrutura da dissertação.

No segundo capítulo parte-se para uma abordagem teórica sobre a dinâmica

concelhia no contexto sub-regional, apresentando os seus principais traços da alteração

territorial a partir da década de 50 até à actualidade. Aborda-se a concordância entre o

planeamento e a reacção do território desde o Anteplano de Urbanização de Cabeceiras

de Basto até à revisão do PDM em vigor, as intenções e o resultado da intervenção, com

a análise do povoamento e a sua ligação ao que foi planeado.

O capítulo três é dedicado aos modelos baseados em AC, começando o mesmo

com a descrição das características dos autómatos celulares urbanos, as vantagens na

sua utilização, os seus erros e limitações. De seguida, descrevem-se alguns modelos

baseados em AC com capacidade de simulação de cenários de expansão urbana e

alterações do uso e ocupação de solo. Passa-se à descrição do modelo que é utilizado na

dissertação (SLEUTH), as suas dinâmicas de crescimento, alguns exemplos de

aplicação relevantes e a informação geográfica (data input) que é necessária para o seu

funcionamento eficaz. Procede-se à sua aplicação, descrição dos processos e à análise

dos resultados.

No último capítulo tecemos as considerações finais da investigação

desenvolvida, ou seja, tentar perceber até que ponto foram eficazes e coerentes os

planos de ordenamento no desenvolvimento do eixo urbano e aferir a utilidade do

19 

modelo no apoio à decisão, principalmente na revisão ou elaboração dos futuros planos

de ordenamento territorial e na problemática da gestão do território.

Dado o carácter “técnico” que envolve os objectivos e o objecto desta

dissertação as questões metodológicas relacionadas com a aplicação do software

SLEUTH, serão desenvolvidas no capitulo três.

1.2. A abordagem à avaliação das dinâmicas urbanas através dos

modelos AC

As ferramentas e aplicações disponíveis para o tratamento da informação

geográfica permitem criar cenários de avaliação das dinâmicas territoriais através da

observação detalhada do comportamento do território. De facto, se a reconstituição

histórica dos territórios permite extrapolar tendências, a rapidez das mudanças que se

processam em alguns locais exige a consideração de uma multiplicidade de elementos e

factores explicativos cuja consideração é largamente facilitada através da utilização de

novas técnicas de tratamento de informação geográfica.

Os intervenientes no território vêem-se frequentemente obrigados a tomar

decisões tendo como pano de fundo um futuro incerto, e estas incertezas conduzem à

necessidade de criar uma variedade de percursos futuros plausíveis e possíveis

respostas, de forma a tomar decisões sólidas e, consequentemente um planeamento

robusto, já que o mundo com que lidam é complexo, interligado e em constante

mutação. De facto, o urbanismo, a concepção de políticas para o desenvolvimento

sustentável, a gestão integrada das zonas costeiras, das bacias hidrográficas, entre

outros, colocam o problema de lidar com sistemas em que os factores naturais e

humanos são cuidadosamente entrelaçados e a compreensão dos processos que

provocam a mudança desses sistemas e conhecer suas ramificações espaciais é essencial

na elaboração de políticas eficazes (Lavalle et al., 2004).

Neste âmbito, o planeamento regional e urbano tem vindo a recorrer cada vez

mais aos modelos dinâmicos para gerar cenários múltiplos de apoio à decisão no

domínio do planeamento e gestão do território (Silva, 2002). A complexidade das

alterações que se processam no território, exigem abordagens integradas,

desejavelmente preditivas em diferentes escalas, capazes de simular as resultantes da

aplicação das acções encetadas, o que permite antecipar efeitos, minimizar problemas e

maximizar ganhos. Dito de outra forma, as decisões sobre as actividades que se

processam no desenvolvimento das áreas urbanas, actualmente podem fazer uso dos

modelos de apoio à decisão, constituindo ferramentas de auxílio e orientação na

tentativa de encontrar melhores estratégias para o desenvolvimento futuro (Van Delden

et al., 2007), permitindo assim uma melhor compreensão das consequências das suas

escolhas e ajudá-los no processo de tomada de decisões (Murgante et al., 2009).

De igual modo, as suas potencialidades como ferramentas úteis nos processos

de decisão, nomeadamente a visualização, gestão de dados geográficos e capacidades de

modelação espacial (Masser and Ottens, 1999) (Longley and Batty, 2003), têm

alcançado enorme popularidade tornando-se elementos quase indispensáveis na

simulação dos interesses, por vezes divergentes, dos diversos intervenientes no território

(Silva, 2002, Barredo et al., 2003).

Com o desenvolvimento da “Teoria do Caos”1, das poderosas ferramentas

oferecidas pelos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e pela geocomputação2,

verificou-se um acréscimo na disseminação das metodologias de análise espacial, dando

origem ao que muitos consideram ser uma nova área de conhecimento, que combina

abordagens recorrentes dos SIG com outras emergentes (com principal incidência no

seio da inteligência artificial) como os algoritmos genéticos: os Autómatos Celulares

(Tenedório et al., 2006, Batty, 2001, Torrens, 2003, Guermond, 2008).

Os modelos baseados em autómatos celulares, visam libertar o analista da visão

estática do espaço, incutida após séculos de produção cartográfica tradicional e ressalvar

a componente dinâmica como uma parte essencial do território(Tenedório et al., 2006),

servindo de ferramenta de pensamento geográfico para auxiliar e compreender a

natureza e o comportamento dinâmico do mundo real (Engelen et al., 2005, Poelmans

and Van Rompaey, 2010).

                                                            1 A Teoria do Caos é um campo de estudo em matemática, física, economia e filosofia que aborda o

comportamento de sistemas dinâmicos caracterizados pela sua enorme sensibilidade às condições iniciais.

Essa sensibilidade é popularmente conhecida como “efeito borboleta” KELLERT, S. H. (1993) In the

Wake of Chaos: Unpredictable Order in Dynamical Systems, University of Chicago Press. 2 A designação de geocomputação foi proposta por S.Openshaw, que descreve o uso de métodos que

recorrem intensivamente a computadores tendo em vista a perscrutação de conhecimento em geografia

OPENSHAW, S. (2000) Geocomputation IN OPENSHAW, S. & ABRAHART, R. J. (Eds.)

Geocomputation London, Taylor & Francis. 

21 

Desta forma, os métodos de geocomputação para o planeamento regional e

urbano podem, portanto, incluir abordagens inovadoras na produção de conhecimento

baseadas na incerteza introduzida pelos agentes, incompletude e imprecisão nos

processos decisórios (Diappi, 2004), e desta forma, podendo traduzir-se em melhorias

nos próximos anos, não só porque prometem uma grande variedade de bases de dados

para calibração dos modelos e testes, mas também porque a evolução cognitiva levará

ao desenvolvimento de modelos mais versáteis e mais fáceis de utilizar do que os

modelos tradicionais (Ayeni, 2005).

Em Portugal a utilização de modelos dinâmicos baseados em autómatos

celulares no apoio à gestão territorial não tem sido muito explorada, não obstante nos

últimos anos, em particular durante a última década, já se tenha produzido alguma

investigação científica nesta área. Trabalhos como o de Rocha et al. (2001/02) foram

inovadores na temática da geocomputação no nosso país, ao utilizarem autómatos

celulares na previsão das alterações nos padrões de uso e ocupação do solo da Área

Metropolitana de Lisboa, integrando as variáveis de previsão através de redes

neuronais3, ou de Tenedório et al. (2006) Fig.1., e Rocha et al. (2007) para simular a

evolução da linha de costa e uso de solo.

Fonte: (Tenedório et al., 2006)

Fig. 1. Uso e ocupação de solo previstos de 2005 a 2012 no NO do concelho de

Almada.

                                                            33 As redes neuronais foram desenvolvidas à imagem do sistema de neurónios interconectados que

constituem o cérebro, para que os computadores pudessem, observando os relacionamentos entre os

dados, imitar a sua capacidade de descriminar padrões e aprender através da experiência - TENEDÓRIO,

J. A., ROCHA, J., ENCARNAÇÃO, S. & FERREIRA, J. C. (2006) Modelos geográficos e sistemas

complexos - Técnicas de geocomputação para a monitorização da zona costeira. ESIG 2006. Oeiras.

O modelo SLEUTH, uma das aplicações baseadas em autómatos celulares que

simula o crescimento urbano é baseado em seis factores: declive (Slope), uso do solo

(Landuse), áreas não urbanizáveis (Exclusion), áreas urbanas (Urban extent), infra-

estruturas de transportes (Transportation) e exposição solar (Hillshade), foi utilizado

por Silva (2002) na criação de cenários de expansão urbana para a Área Metropolitana

de Lisboa com o limite temporal de 2025, permitindo verificar o comportamento

individual de células urbanas de 100 x 100 metros. Na Fig.2. pode-se reparar que na

AML, o cenário de crescimento urbano, sem a RAN com área de exclusão é diferente, já

que apresenta mais 16,65 % de novas células de urbanização que num cenário em que as

zonas da RAN sejam impeditivas de urbanizar (Silva, 2002)

Fonte: (Silva, 2002)

Fig. 2. Simulação de dois cenários de urbanização na AML para 2025.

Na simulação da figura à direita permitiu-se expansão urbana em áreas de RAN.

Ainda que, como se disse, os trabalhos nesta área não estejam muito

desenvolvidos, deve notar-se que Lisboa e Porto foram as primeiras cidades europeias

onde se procedeu à calibração do modelo SLEUTH, o que possibilitou aferir os valores

que reflectem as características do local, são causa dessa “sensibilidade” às

características locais (Silva e Clarke, 2002).

No domínio da simulação da distribuição espacial e local de alterações no uso

e ocupação do solo e avaliar o seu papel no apoio ao planeamento estratégico por

stakeholders relevantes, Gaspar et al. (2005) apresentaram um desenvolvimento

23 

metodológico baseado em autómatos celulares com o modelo Markov aplicado à área

das terras altas do centro de Portugal.

Na região algarvia Lavalle e Petrov (2006) desenvolveram cenários de

evolução da costa e de uso e ocupação do solo para 1998 - 2018 e 2000-2020 (Fig.3.)

respectivamente, utilizando o modelo MOLAND4, tendo incorporando vários tipos de

uso e ocupação do solo, acessibilidades e rede viária, aptidão para diferentes usos do

solo, políticas de planeamento e características socioeconómicas como a população, a

produção ou o emprego.

Fonte:(Lavalle and Petrov, 2006)

Fig. 3. Simulação de cenários de alteração do uso do solo para a Província

Algarvia para 2000 e 2020.

No mesmo ano Cabral e Zamyatin, (2006) investigaram as dinâmicas urbanas

dos concelhos de Sintra e Cascais entre 1989 e 2025 utilizando três modelos de uso do

solo diferentes, sendo que dois desses têm suporte no modelo Markov e autómatos                                                             4 MOLAND (Monitoring Land Use / Cover Dynamics) é um projecto de investigação realizado no

Institute for Environment and Sustainability - Land Management and Natural Hazards Unit of the Joint

Research Centre. MOLAND foi iniciado para responder a principal missão do JRC, que é apoiar a

elaboração, definição e implementação de políticas e legislação da UE (http://moland.jrc.ec.europa.eu/)

celulares, um implementado no Idrisi Kilimanjaro5 e o outro num software

desenvolvido por Zamyatin e Markov (2006).

Nuno Pinto (2006) e Pinto e Antunes (2007b), proposeram um modelo de

autómatos celulares para simular o crescimento de áreas urbanas de pequena dimensão

no contexto português, utilizando para tal células irregulares (Fig.4). O espaço celular

resulta da intersecção de sectores censitários com áreas urbanas e o estado de transição

depende de uma medida do potencial de transição, este considerado como a soma

calibrada por três componentes distintas: a acessibilidade de células, aptidão da

ocupação do solo e as interacções de vizinhança entre diferentes ocupações do solo

(Pinto e Antunes, 2007a).

Fonte: (Pinto, 2006)

Fig. 4. Simulação do uso do solo em Condeixa-a-Nova para 2011 e 2021

Para a região de Setúbal e Sesimbra foi efectuado um estudo de modelação e

análise da alteração do uso e ocupação do solo com o modelo Markov e autómatos

celulares (AC Markov) entre 1990 e 2010, criando dois cenários distintos (Araya, 2009).

Se em Portugal os estudos neste âmbito conhecer um maior desenvolvimento

na última década, a sua aplicação noutros países tem sido mais profícua. De facto, o

                                                            5 O Idrisi é software de SIG integrado e de Processamento de Imagem para a análise e visualização de

informação espacial digital (http://www.clarklabs.org/products/idrisi-taiga.cfm)

25 

desenvolvimento de autómatos celulares está intimamente relacionado com o estudo de

fenómenos complexos, auto-organização (selforganization) e sistemas de tipo caótico

(chaos theory). Estas teorias defendem que processos aparentemente simples

desenvolvem padrões considerados complexos, ou seja, através de modelos de

microsimulação é possível identificar tendências regionais (Silva, 2002), reflexões e

exercícios já largamente debatidos e testados em diversas ciências, pelo menos desde os

anos 30 do século XX.

A pesquisa sobre a concepção e aplicação dos autómatos celulares remonta aos

inícios da computação digital. Ainda na década de 30, Alan Turing (1936, 1950), um

matemático, provou os limites lógicos de computabilidade e na base deste trabalho

idealizou um computador universal, uma máquina que pudesse realizar todos os

cálculos numéricos possíveis, ficando conhecido como Máquina de Turing (Cooper,

1983) (Fig.5).

Fonte: (Wolfram, 2002)

Fig. 5. Exemplo de uma Máquina de Turing.

Tal como um autómato móvel, a Máquina de Turing possui uma célula activa

com vários possíveis estados, indicado nesta figura pelas direcções das setas.

Mas seria necessário mais uma década para se desenvolver a teoria dos

autómatos celulares. Von Neumann e Morgenstern (1944) publicam a “Teoria dos jogos

e comportamento económico” e, posteriormente sobre a auto-reprodução dos autómatos

celulares (Von Neumann, 1966, Von Neumann, 1951), que lhe valeu juntamente com

Standislav Ulam serem considerados os pais da teoria dos autómatos celulares. Ulam

(1962) acrescenta, ainda na década de 1950, que era possível encontrar comportamentos

de AC em regras locais que geravam padrões matemáticos no espaço bidimensional e

tridimensional e que esses padrões globais poderiam ser produzidos a partir de acção

local.

Durante alguns anos, Von Neumann foi o único investigador em projectos na

área dos autómatos celulares, e após a sua morte em 1957, o seu trabalho foi continuado

pelo seu colega e discípulo A. W. Burks (Burks, 1970).

As primeiras aplicações dos autómatos celulares nas dinâmicas urbanas,

correspondem aos ensaios para construir modelos matemáticos de sistemas urbanos na

década de 50 (Batty, 2000). Nessa altura, embora muita atenção tinha sido dada para a

construção de modelos de padrões espaciais urbanos sob o enfoque físico e social,

alguns investigadores construíram modelos para compreender o processo responsável

pela formação desses mesmos padrões (Liu, 2009).

A inovação dos modelos de Torsten Hagerstrand (1952) enquadra-se nesta

tendência, já que, a partir destes, através de modelos de migração e de redes locais de

assentamento, o crescimento espacial das áreas urbanas e as mudanças na estrutura

urbana foram tratados como diferentes tipos de processos de difusão (Morril, 1965). Na

construção dos modelos de difusão, a noção do efeito de vizinhança foi incluído

(Hagerstrand, 1967, Hagerstrand, 1965), constituindo, desta forma, o ponto de partida

da tecnologia dos autómatos celulares (Liu, 2009).

No início da década de 60 com o auxílio da tecnologia informática, foram

desenvolvidos modelos de crescimento urbano sob a abordagem comportamental com

mais ênfase sobre o comportamento dos indivíduos e os seus processos de decisão (Liu,

2009). Um desses modelos apresentado por Lathrop e Hamburg (1965) foi

desenvolvido, baseado em células para simular o desenvolvimento de uma área urbana

no Oeste do estado de Nova Iorque.

Chapin e Weiss (1968) desenvolveram a modelação do processo de ocupação

do solo, módulos de espaço celular articulados, onde as alterações nos estados foram

predictos em função de uma variedade de factores que afectavam cada célula, alguns

dos quais incorporando efeitos de vizinhança.

A transposição destas ideias para outras ciências teve um grande impulso com

um artigo publicado por Gardner (1970) quando se refere a um jogo, desenvolvido por

John Conway que simula a vida “The Game of Life”. Neste, e à semelhança da

realidade, células nascem, multiplicam-se e morrem em função de regras sociais e

27 

naturais. No "Jogo da Vida" de Conway, uma célula pode sobreviver, morrer ou nascer

nas sucessivas gerações de acordo com as seguintes regras:

• Sobrevivência: Uma célula viva com dois ou três vizinhos vivos, sobrevive na

próxima geração.

• Morte: Uma célula viva com menos de dois ou mais de três vizinhos vivos

morre de isolamento ou de sobrelotação.

• Nascimento: Uma célula morta com exactamente três vizinhos vivos, torna-se

viva na próxima geração.

Usando essas regras simples, o modelo é capaz de gerar estruturas muito

complexas como as diferentes células morrem, sobrevivem ou nascem em gerações

sucessivas. A Fig.6 apresenta uma amostra dos resultados da simulação gerada pelo

modelo.

Fonte: (Benenson and Torrens, 2004)

Fig. 6. Ilustração das regras “Jogo da Vida” de Conway.

Uma célula viva no centro da Vizinhança de Moore 3 x 3: a) sobrevive se tem dois

ou três vizinhos; b) morre por sobrelotação se tem quatro ou mais vizinhos ou por solidão

se tiver apenas um. Célula morta no centro da Vizinhança de Moore 3 x 3; c) nasce uma

nova célula se tiver exactamente três vizinhos; d) permanece morta de outra forma.

A aplicação de autómatos celulares em modelos urbanos veio da Geografia

quantitativa teórica com o pioneiro W. Tobler a propor um modelo de espaço celular

que simulava o crescimento urbano para a região de Detroit (EUA) e define neste

contexto a lei da geografia “everything is related to everything else, but near things are

more related than distance things” (Tobler, 1970: 236). Tobler começou a explorar o

modo como os autómatos celulares podiam ser utilizados em sistemas geográficos e

resumiu os cinco tipos de modelos de alteração da ocupação de solo (Fig.7),

descrevendo de forma sistemática o conceito de celular based em modelação geográfica

(Tobler, 1979).

Fonte: (Tobler, 1979)

Fig. 7. Classificação dos modelos de alterações no uso do solo segundo W. Tobler

Nos anos 80 S. Wolfram (1984, 1986) introduz uma linguagem simplificada

para analisar a evolução dos autómatos celulares, levando à construção de um modelo a

duas dimensões de uma máquina de computação universal (Itami, 1994). Wolfram

(1986) utilizou os autómatos celulares para investigar sistemas dinâmicos de forma mais

rigorosa e identificou quatro classes de dinâmica:

• Tipo I: O sistema evolui para uma situação homogénea

• Tipo II: O sistema evolui para a forma simples de estruturas separadas

• Tipo III: O sistema resulta em estruturas caóticas

• Tipo IV: O sistema resulta em padrões complexos das estruturas locais

Influenciada por Tobler, Helen Couclelis (1985, 1988, 1989) desenvolveu um

modelo com a interpretação geográfica do “Game of Life” de Conway, potenciando

29 

deste modo o uso dos autómatos celulares nas ciências que estudam fenómenos num

contexto territorial, enquanto Phipps (1989) utilizou os AC para compreender as

características gerais dos processos espaciais (White et al., 2004).

Nas últimas duas décadas as investigações nesta área têm crescido, como se

pode constatar na quantidade dos trabalhos que se produziram no âmbito do apoio à

gestão do território, através de simulações do crescimento urbano em regiões

metropolitanas, cidades médias e áreas sub-urbanas (Batty, 2008).

Batty e Xie (1994) desenvolveram simulações da expansão residencial sub-

urbana em Amherst, Nova Iorque, onde uma série de espaço-tempo do desenvolvimento

foi usado para ajustar o modelo. Por seu turno, Clarke e Gaydos (1998) empreenderam

uma série de simulações em larga escala do crescimento urbano metropolitano na Área

da Baía (EUA) e passaram a testar o modelo numa série de cidades americanas através

do projecto Gigalopolis6. Já White e Engelen (1993) trabalharam um modelo de AC

para Cincinnati (EUA), focado na urbanização, sub-urbanização e expansão urbana.

A partir desse momento diversos grupos desenvolveram modelos semelhantes

nos vários domínios da modelação baseada em AC e que se resume no seguinte quadro:

Domínio Região Geográfica Autor (es)

Dinâmicas do uso e ocupação de solo

Canada; Austrália; Japão

(Moreno and Marceau, 2007);(Lau and Kam, 2005); (Arai and Akiyama, 2004)

Crescimento urbano nas áreas rurais China (Yeh and Li, 2000)

Sub-urbanização de cidades Austrália (Ward et al., 2000)

Urbanização de cidades Varias cidades latino americanas

(Almeida et al., 2003)

Cenários de expansão urbana Varias cidades europeias; EUA

(Barredo et al., 2003); (Torrens, 2006)

Desenvolvimento e planeamento urbano e regional

Malásia (Samat, 2002)

Modelação de sistemas urbanos Holanda (White and Engelen, 2000)

Crescimento urbano difuso Itália (Besussi et al., 1998)

Quadro 1. Vários domínios de aplicação nas dinâmicas urbanas na modelação

baseada em AC

                                                            6 http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/

Contudo, é fundamental considerar nos modelos AC, a forma como se

determinam as regras de transição, já que estas determinam a dinâmica espacial do

sistema (White and Engelen, 2000) servindo como algoritmos que conduzem à alteração

do estado das células ao longo do tempo e essas regras podem ser representadas de

várias formas (Li et al., 2008). Várias metodologias foram empregues em regras de

transição como por exemplo através da utilização de matrizes de peso (White and

Engelen, 1993), do modelo SLEUTH (Clarke and Gaydos, 1998), da avaliação

multicritério (Wu and Webster, 1998), da análise de regressão múltipla (Sui and Zeng,

2001), da regressão logística (Wu, 2002), das redes neuronais (Li and Yeh, 2002) e

árvores de decisão (Li and Yeh, 2004).

É também importante referir o trabalho de Michael Batty sobre os autómatos

celulares em estudos urbanos, autor de uma série de trabalhos sobre os AC sob o ponto

de vista teórico e operacional. Uma das suas últimas obras (Batty, 2005) visa

proporcionar um quadro para a compreensão das cidades como entidades complexas e

apresenta os autómatos celulares e simulações baseadas em agentes7 e teorias fractais8

como ferramentas poderosas para simular essa complexidade.

                                                            7 Enquanto os AC estão concentrados em paisagens e transições, os modelos baseados em agentes focam

as acções humanas. Os agentes são autónomos, partilham um ambiente através do agente de comunicação

e interação, tomam decisões que vão repecurtir-se no ambiente - PARKER, D. C., MANSON, S.,

JANSSEN, M. A., HOFFMANN, M. & DEADMAN, P. (2003) Multi-agent systems for the simulation of

land-use and land-cover change: a review. Annals of the Association of American Geographers, 93, 314-

337. 8 Um fractal é uma forma geométrica fragmentada que pode ser dividida em várias partes, cada qual é

(pelo menos aproximadamente) uma cópia em tamanho reduzido do todo, uma propriedade designada de

auto-similaridade MANDELBROT, B. B. (1982) The Fractal Geometry of Nature, New York, W.H.

Freeman and Company. 

31 

Capítulo 2

33 

2. Das intenções ao resultado da intervenção no território: a consolidação de

um eixo de desenvolvimento (Arco de Baúlhe – Cabeceiras de Basto)

2.1.Enquadramento regional e caracterização do concelho Cabeceiras de Basto é um dos oito concelhos da NUT do Ave9, que

representam uma área total de 1238 km2. Este subsistema urbano organiza-se segundo

um modelo difuso de povoamento em que Guimarães e do triângulo Vila Nova de

Famalicão/Santo Tirso/Trofa assumem o papel de principais aglomerados

estruturadores.

Guimarães afirma-se pela dimensão demográfica e diversidade funcional,

completada especialmente pela qualidade urbana do centro histórico e uma aposta

politica que conjuga o património, as indústrias criativas e tecnológicas e a oferta

cultural. Por outro lado, Guimarães mantêm fortes relacionamentos com os centros

urbanos de Fafe, Felgueiras e Vizela, e fortalece o seu espaço de articulação com o

interior, através de Cabeceiras de Basto e Mondim de Basto10.

Localizado no Noroeste de Portugal Continental no Baixo Minho e no Norte

Atlântico (Ribeiro, 1997), Cabeceiras de Basto define os seus limites geográficos pelo

contacto com sete municípios, sendo que desses os de Montalegre, Boticas, Mondim de

Basto e Ribeira de Pena fazem parte de Trás-os-Montes, enquanto os restantes, no qual

se inclui Cabeceiras de Basto integram o Minho, constituindo assim um concelho de

transição, minhoto, mas banhado pelo Tâmega que articula um eixo Norte-Sul na

passagem para as serranias, entre o litoral e o interior do Norte de Portugal.

                                                            9 Decreto-Lei nº 68/2008,pag.2193, decretou a passagem de do concelho de Cabeceiras de Basto da NUT

do Tâmega para a NUT do Ave 10 Plano Regional de Ordenamento do Território Norte – Relatório Final, 2009  

Fonte: CAOP 2008, tratamento próprio

Fig. 8. Cabeceiras de Basto no Norte de Portugal entre Trás os Montes e as NUTs

do Ave e Tâmega

Faz parte do distrito de Braga e é constituído administrativamente em 17

freguesias, sendo que Riodouro é aquela que possui maior dimensão geográfica,

ocupando uma área total de 43,52 km2, e a freguesia de Vila Nune é a mais pequena

com apenas 4,56km2. A área total do concelho corresponde a 241 km2. A sede do

município (Cabeceiras de Basto) está localizada na freguesia de Refojos de Basto.

Apresenta como principais elevações a Serra da Cabreira e a Serra do Barroso,

a Norte do concelho, onde se atingem altitudes acima dos 800 metros. Contrariamente,

as altitudes mais baixas, inferiores a 200 metros, situam-se mais a Sul, junto do vale do

rio Tâmega. De um modo geral verifica-se um predomínio de declives médios a

elevados, em que os declives mais acentuados associam-se aos topos montanhosos de

altitudes mais elevadas, bem às vertentes dos maiores vales, nomeadamente do Rio

Tâmega11.

Esta topografia, terá constituído compreensivelmente um dos factores que

condicionaram a expansão do povoamento e das infra-estruturas de ligação no interior e

                                                            11 Relatório da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto, 2008

35 

ao exterior do concelho até porque o desenho da rede viária de hoje apresenta uma

estrutura que decalca as infra-estruturas do passado, isto é, mantém as condições do

privilégio de acessibilidade da parte Sul de Cabeceiras de Basto com a A7 / IC5 a

permitir aceder a importantes eixos de ligação, com destaque a Oeste para o eixo Fafe –

Guimarães – Famalicão, à A28 Vila do Conde – Póvoa de Varzim, à A3 Porto – Braga,

a Sul ligação à A11 Lousada – Penafiel e a Este ligação à A24 Chaves, Espanha – Vila

Real. Esta infra-estrutura, recente (construída no âmbito do Plano Rodoviário Nacional),

permitiu a redução substancial nos tempos médios de percursos entre o concelho e à

Área Metropolitana do Porto (a menos de uma hora), a outros centros urbanos (Braga,

Chaves, Vila Real) e a importantes nós de comunicação, nomeadamente o Aeroporto

Internacional Francisco Sá Carneiro e o Porto de Leixões.

Fonte: PRN, tratamento próprio

Fig. 9. Cabeceiras de Basto e as principais redes de acessibilidades no Norte de

Portugal

De Cab. Basto para:

Distância (Kms) 1999

Tempo (min) 1999

Distância (Kms) actualmente

Tempo (min)

actualmente

Variação (tempo)

Braga 57 EN 1h08m 7 EN+30 IC+20 IP 40m -28m

Guimarães 35 EN 42m 7 EN+30 IC 28m -14m

Fafe 23 EN 27m 7 EN+20 IC 21m -6m

Porto 35 EN + 55 AE 1h10m 7 EN+30 IC+55 AE 50m -20m

Vila Real 76 EN 1h31m 7 EN+36 IC+25 IP 50m -41m

Chaves 75 EN 1h30m 7 EN+36 IC+40 IP 55m -35m

Fonte: Estudos de Caracterização Sectorial – Transportes e Rede Viária, CMCB, 2001

Quadro 2. Quadro comparativo em termos de distâncias e tempos de percurso

entre os principais centros urbanos, antes e após entrada em funcionamento do PRN

A importância da A7 justifica a Variante EE NN 205/210, inaugurada em 2009,

que permite um acesso mais rápido ao nó de Basto A7 / IC5. A sua execução teve como

propósito a diminuição da distância e o tempo entre o principal centro do concelho e a

auto-estrada, assim como o apoio aos Parques Industriais de Lameiros e Basto, servindo

de igual forma a sede do concelho e as freguesias mais a Norte. Por outro lado, esta

variante vem facilitar a circulação de viaturas e de cidadãos, no centro da vila arcoense.

Note-se que se considerarem apenas as principais localidades – nós da rede –,

esta ligação é quase paralela à anterior EN 206 e à linha de caminho-de-ferro que

terminava no Arco de Baúlhe.

Actualmente está em construção a Variante Sul entre Lamas – Alvite e

Sobreira – Refojos de Basto, que tem como objectivo o descongestionamento da EN

205 podendo melhorar a fluidez do tráfego.

Além disso, foi planeada a variante do Tâmega que constituirá uma ligação

alternativa ao interior Sul, já que permitirá melhorar o acesso aos concelhos de Mondim

de Basto, Celorico de Basto e Amarante, com os quais actualmente o acesso é realizado

através da EN 210, permitindo desta forma a articulação com o IP4.

Cabeceiras de Basto está ainda servido pelas seguintes estradas nacionais:

- EN 205 com inicio na sede do concelho que liga a Vieira do Minho e à Povoa

de Lanhoso com direcção noroeste;

- EN 206 que liga a Oeste ao concelho de Fafe e a Este a Ribeira de Pena e

Vila Pouca de Aguiar;

37 

- EN 210 que assegura a ligação a Celorico de Basto e Mondim de Basto a Sul;

- ER 311 que liga a Norte a Salto (Montalegre);

- EN 311 que passa na sede do concelho em direcção sudoeste a Fafe e

Guimarães;

Se por um lado esta estrutura viária é a rede fundamental para as ligações do

concelho com o exterior, por outro lado, é também estruturadora de muitas deslocações

intermunicipais.

Fonte: CMCB, tratamento próprio

Fig. 10. Rede viária do concelho de Cabeceiras de Basto

Apesar do concelho já não possuir linha férrea (encerramento da Linha do

Tâmega, Amarante – Arco de Baúlhe em 1990), usufrui de relativa proximidade das

estações de comboio (Inter-cidades) em Guimarães a cerca de 36 km e a 64 km da

estação de Braga (Alfa Pendular) e da estação de metro da Póvoa de Varzim (82km) da

Maia (80km).

Embora fisicamente mais ligado ao Tâmega, ao nível sócio económico está

mais aliado ao Ave, já que verifica-se uma crescente dependência da oferta comercial

localizada em centros urbanos de nível superior, como é o caso das cidades de Fafe,

Guimarães e mesmo de Braga e Porto, designadamente de lojas e produtos de

referência, o que acarreta uma menor procura de base local, nomeadamente por parte da

população jovem12.

Em 2001, a densidade populacional do concelho era de 74 hab/km2 e a

freguesia do Arco de Baúlhe era a mais densamente povoada com 414 hab/km2

(Fig.11). No oposto, as densidades populacionais mais baixas correspondem às

freguesias mais periféricas e distantes. Em comparação com a região Norte e com as

NUT’s do Ave e do Tâmega (Quadro.3), o concelho possui valores bastante baixos,

nomeadamente com a do Ave, região esta em que está integrado.

Fonte: INE, 2001, tratamento próprio

Fig. 11. Densidade Populacional por Freguesia em Cabeceiras de Basto (2001)

Fonte: INE 2001

Quadro 3. Densidade Populacional da Região Norte, Ave, Tâmega e Cabeceiras

de Basto em 2001

                                                            12 Relatório da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto, 2008

Local de Residência N.º/ km²

Norte 172,4

Ave 407,9

Tâmega 209,5

Cabeceiras de Basto 74,1

39 

Relativamente à variação de população, verificou-se entre 1991 e 2001

aumento de 8,4% da densidade populacional no concelho a que correspondeu um

aumento de cerca de 6 Hab./Km², sendo a freguesia de Refojos de Basto que apresentou

o maior crescimento da densidade populacional com 29,1%. No mesmo período de

tempo, a freguesia que registou uma variação negativa mais acentuada foi Vila Nune

com 28,1%. Pela leitura dos mapas, pode-se deduzir que as grandes densidades estão

concentradas junto às vilas de Cabeceiras e Arco de Baúlhe, indicando talvez uma certa

suburbanização, a par do despovoamento das áreas mais montanhosas, mais

envelhecidas e mais distantes da vila e das principais vias de relação regional.

Fonte: INE, 2001, tratamento próprio

Fig. 12. Variação da Densidade Populacional por Freguesia em Cabeceiras de

Basto (1991-2001)

Num quadro de perda global e de envelhecimento populacional, importa referir

que em 2008, Cabeceiras de Basto era um dos concelhos com a taxa bruta de natalidade

mais elevada da NUT III Ave com 9,3%, superando a média do Norte do país (9,2%) e

apresentando valores aproximados com a média nacional (9,8%).13

                                                            13 INE, 2008

No sector de actividades económicas, os resultados dos censos de 2001 em

comparação aos de 1991, mostram que a população activa no sector primário apresentou

um decréscimo muito significativo, já que passa a absorver de 32,2% para apenas 12,6%

da população. O sector secundário apresenta, por sua vez, importante acréscimo,

passando de 32,2% da população activa, em 1991, para 42%, em 2001. O sector

terciário apresenta também um acréscimo, não tão acentuado, mas não menos

importante, passando de 35,6% em 1991, para 41,1%, em 200114.

2.2.Cabeceiras de Basto em meados do século XX

Considera-se que um dos principais estrangulamentos ao desenvolvimento de

Cabeceiras de Basto foi a inexistência de boas vias de comunicação com o “exterior”,

pelo que terá estado sujeita durante muitos anos a um isolamento “natural” (VV.AA,

1998).

As questões de acessibilidade e mobilidade em áreas de baixa densidade

populacional surgem, frequentemente, associadas ao deficit económico e social, à

privação, ao isolamento, entre outros, quase sempre consequência da falta de transporte

(Pacheco, 2003).

Em 1949 foi inaugurada a linha férrea até à vila do Arco de Baúlhe, passando a

linha do Vale do Tâmega a funcionar desde a Livração até esta vila cabeceirense. Os

meios de comunicação eram escassos, pelo que esta nova infra-estrutura viária veio

melhorar a comunicação entre o Arco de Baúlhe e as regiões contíguas, embora a área

de influência do comboio fosse bastante reduzida. No quadro da rede viária, os

principais eixos que atravessavam o concelho eram a EN 206 na parte Sul do concelho

com ligação Vila Pouca de Aguiar e passagem no Arco de Baúlhe, a EN 205 que

estabelece ligação com Povoa de Lanhoso atravessando a sede do concelho, a ER 311

que ligava Vidago até à sede de concelho e a EN 210 que liga Amarante ao Arco de

Baúlhe.

Cabeceiras de Basto era um concelho marcado pela ruralidade, com uma

população estimada de 21888 indivíduos15, mas com um crescimento demográfico

assinalável (em 1920 contava 16312 habitantes), relacionado com a diminuição da taxa

                                                            14 Censos 1991; Censos 2001 15 Relatório do PDM de Cabeceiras de Basto, 1995.

41 

de mortalidade que se deveu essencialmente a uma alimentação mais saudável,

melhores condições de higiene, de trabalho e progressos na medicina (Silva, 2005).

Nessa altura já eram bem patentes os dois padrões de povoamento distintos que

ainda hoje marcam o concelho. Na parte Norte, área predominantemente montanhosa

registava-se um povoamento concentrado de pequenos aglomerados rurais à semelhança

dos vizinhos transmontanos. Na parte Sul, caracterizada por áreas mais planas,

verificava-se um povoamento disperso ao longo das vias de comunicação existentes,

tipicamente minhoto, pontuado por casas solarengas rodeadas pelos seus enormes

campos de cultivo.

Os principais aglomerados urbanos do concelho eram a vila sede de concelho,

Cabeceiras de Basto e a vila do Arco de Baúlhe.

No caso da sede do concelho, a vila está ligada à fundação do Mosteiro de

Refojos, monumento imponente e central da vila, que durante muito tempo foi o

elemento polarizador do processo de transformação urbana deste aglomerado. O seu

tecido urbano histórico correspondia ao Mosteiro e anexos agrícolas, ao conjunto

formado pela Praça da República caracterizado por edifícios erguidos nos sécs. XVIII e

XIX, alguns solares e conjuntos agrícolas e o núcleo urbano do Souto Longal (Silva,

2005).

A actividade comercial desenvolvida na Praça da República, terá sido induzida

pelo facto dos principais eixos viários de atravessamento da sede aí se cruzarem,

constituindo esta área local privilegiado de atracção e permanência (Silva, 2005), uma

área a Norte da Ribeira de Madanços não se urbanizou por pertencer aos terrenos da

Quinta do Mosteiro.

A vila de Arco de Baúlhe localiza-se num ponto estratégico e equidistante entre

Fafe e Vila Pouca de Aguiar, e era um importante local de paragem, de reabastecimento

e de descanso nas várias hospedarias entretanto desaparecidas, onde muitos viajantes do

Norte do país transitavam na antiga "estrada real" em direcção às estâncias termais das

Pedras Salgadas e Vidago e Chaves ou para chegar a esta cidade, alguns daí para

passarem para Espanha.

Entre meados do séc. XIX e meados do séc. XX, reforça-se a unidade do

aglomerado constituindo os lugares envolventes aos locais de passagem das estradas

nacionais a matriz de densificação edificativa. O núcleo urbano tradicional era

caracterizado por fachadas de grande continuidade edificada que marginam três ruas

que se cruzam no seu centro16.

Com a construção da linha férrea houve uma grande alteração de movimentos

quotidianos da vida urbana, proporcionando tema para um novo fôlego de

desenvolvimento, que logo começa com o estabelecimento da ligação viária da estação

à Av. Capitão Elísio de Azevedo construída pela Junta Autónoma de Estradas17.

2.3.Quatro décadas de desenvolvimento lento: dos anos 50 a 1994

A partir da década de 50 registou-se um grande decréscimo populacional neste

concelho, devido sobretudo aos fluxos migratórios, a par da diminuição acentuada da

natalidade que se verificou a partir da década de 60. As grandes quebras populacionais

ocorreram entre 1960 e 1970 e entre 1981 e 1991, tendo-se verificado um aumento

populacional entre 1970 e 1981.

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, dois fenómenos influenciaram

significativamente a realidade do concelho. Numa primeira fase, verifica-se um fluxo

significativo de pessoas provenientes das ex-colónias que, ao integrarem-se no tecido

social da terra de origem, geraram uma nova dinâmica empresarial na região. Essa

população fixou-se sobretudo na sede de concelho tendo em conta a existência de um

conjunto de factores de atracção decisiva para a melhoria das condições de vida ao nível

de acessibilidades, serviços e equipamentos (Silva, 2005).

A par do exposto, a atribuição de competências e capacidade económica ao

poder local provocou grandes transformações, tendo possibilitado a dotação de infra-

estruturas básicas até então inexistentes. Estas transformações sentiram-se mais nos

aglomerados urbanos, provocando um fluxo demográfico interno que esvaziou as

periferias rurais em detrimento dos principais centros urbanos do concelho (Arco de

Baúlhe e Cabeceiras de Basto), influenciando desta forma o seu crescimento e

morfologia.

Nas décadas de 50, 60 e 70, a linha férrea constituiu uma das principais

estruturas de mobilidade, mas apesar da sua importância para a região, encerrou em

1990, reforçando desta maneira, a ideia de Merlin (1991) que referia que a importância

                                                            16 Relatório do Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe, 2005 17 Idem

43 

da linha férrea nos meios rurais era diminuta e que a reduzida procura de transporte

nesses espaços conduzia quase sempre à sua decadência, em favor de meios com custos

de funcionamento e circulação mais reduzidos, como o automóvel ou o autocarro.

Ao nível das infra-estruturas o principal problema consistia no seu baixo nível

de atendimento, fracos níveis de utilização de telecomunicações, deficiências na rede de

distribuição da rede eléctrica, rede de saneamento básico insuficiente.

Relativamente à quase globalidade dos equipamentos destacava-se uma

deficiência grave, que se situava na incapacidade de fixação do seu corpo técnico,

afectando deste modo a oferta dos diversos sectores. O concelho caracterizava-se por

uma cobertura deficiente de equipamentos no ensino pré primário e pelo reduzido leque

de formações oferecidos pelos estabelecimentos de ensino, enquanto a instalação de

equipamentos desportivos não correspondeu à dimensão da população residente.

As acessibilidades do concelho aos centros de ordem superior foi muito

prejudicada pelos traçados das estradas nacionais e a rede viária municipal era

insuficiente e caracterizada pelo estado de conservação deficiente (36% da população

em 1981 não era directamente servida por qualquer rede)18

Numa síntese rápida da situação, importa ainda notar que a actividade

económica do concelho focou-se sempre em sectores com reduzida articulação com os

recursos endógenos, verificando-se dificuldades objectivas ao desenvolvimento da

actividade industrial do concelho, das quais se destacam às más acessibilidades aos

centros de ordem superior e o impasse da criação de uma área industrial no eixo

Cabeceiras de Basto – Arco de Baúlhe que durou alguns anos19.

- Ante Plano de Urbanização da Sede do Concelho

O primeiro registo de planeamento para o concelho foi o Anteplano de

Urbanização de Cabeceiras de Basto, elaborado em 1953 pelo Arq. C. P. Leite. Este

documento foi convertido em Plano Geral de Urbanização, segundo o Decreto-Lei

560/71 e publicado em Diário da Republica, nº 242 (II serie) de 20/10/1992.

No quadro da politica de planeamento urbano durante o Estado Novo a figura

do Anteplano é introduzida em 1946 pelo Decreto-Lei 35031, substituindo o Plano

                                                            18 Relatório do PDM de Cabeceiras de Basto, 1995 19 Idem 

Geral de Urbanização e permitindo que um numero significativo de aglomerados

urbanos pudesse dispor de um documento ordenador da sua transformação, não

obstante, a sua implementação durante este período se caracterizar por uma relativa

ineficácia. A substituição da figura do Plano Geral de Urbanização pela do Anteplano

de Urbanização afastou os municípios da possibilidade de aplicarem uma efectiva

politica fundiária, considerando que a eliminação da sua autonomia financeira

determinou a dependência das autarquias relativamente ao Estado Central (Lobo, 1995)

Com base no regulamento deste Anteplano de Urbanização é possível identificar

a seguinte proposta de zonamento, muito em linha com os princípios da época,

orientados pela chamada Carta de Atenas, aprovada nos Congressos Internacionais de

Urbanistas e muito inspirada nas ideias de Le Corbusier:

- Zonas residenciais R1, destinadas “exclusivamente a casas unifamiliares”;

Zona Residencial R2, destinada a “um bairro de casas económicas”;

- Zonas mistas de comércio e residência M1 destinadas “à construção de

edifícios, tendo obrigatoriamente no rés-do-chão”;

- Zonas mistas de comércio e residência M2 destinadas “à construção de casas

de habitação e comercio, sendo só permitidas parcelas edificáveis com um mínimo de

250 m2”;

- Zonas mistas de comércio e residência, artesanato e armazéns onde o “rés-do-

chão das edificações é obrigatoriamente destinado a artesanato, comercio ou

armazéns”;

- Zona industrial destinada “exclusivamente á construção de futuros edifícios

industriais”;

- Zona ferroviária destinada “exclusivamente a instalações ferroviárias”; Zona

de reserva destinada a “ futuros desenvolvimentos urbanos”;

- Zona florestal destinada “ à instalação dos serviços florestais”;

- Zona agrícola onde eram “proibidas quaisquer construções que não tenham

carácter especificamente agrícola”;

- Centro desportivo destinado “unicamente à prática da cultura física”

45 

Fonte: Diário da República, 1992

Fig. 13. Imagem do Anteplano de Urbanização de Cabeceiras de Basto

- As propostas do Anteplano e as intervenções no território

Analisando a planta disponível, verifica-se a existência de uma proposta de

expansão e consolidação da vila para Norte e Este do Mosteiro, onde se destacam as

seguintes intervenções de acordo com as propostas do Anteplano:

Construção de uma praça a Este do Mosteiro, que corresponde ao actual Campo

do Seco, que já na altura era assumido e encarado pelos cidadãos como espaço colectivo

de encontro. Esta praça transformou-se num complemento à área já sedimentada da

Praça da República, alternativa e complementaridade que foi reafirmada ao longo do

tempo pelo facto de, à sua volta e ao longo da ligação à referida praça, se ter construído

um grande número de edifícios de habitação colectiva a par de alguns serviços e

equipamentos como o Hospital Sub Regional, Quartel dos Bombeiros, a escola primária

e algum comércio (Cunha, 1958)

No seguimento das propostas do Anteplano, a Câmara Municipal adquiriu no

final da década de 70 os terrenos da encosta a Norte da Praça da República e elaborou

um loteamento municipal onde implantou em diferentes fases da década de 80, edifícios

de habitação social, edifícios de habitação unifamiliar, equipamentos e oficinas

municipais. No mesmo período foram implantados equipamentos como os serviços

florestais e casa dos magistrados (Silva, 2005).

Se algumas propostas vieram mais cedo ou mais tarde a serem concretizadas,

outras nunca o foram, como é o caso da construção de certos equipamentos (cine teatro,

estabelecimento prisional e campo desportivo) e a construção da linha férrea que ligava

à vila do Arco de Baúlhe e respectiva estação na parte Este da vila. Na planta de

zonamento estava prevista igualmente a construção de uma zona industrial e no

quadrante Este, estava planeada uma variante com o objectivo de descongestionar o

trânsito do centro da vila. Uma e outra proposta não ocorreram, mas esta via acabou por

ser uma linha orientadora importante para a construção da Av. Cardeal D. António

Ribeiro no inicio do novo milénio, cujo traçado é relativamente semelhante.

As principais intervenções nesta área que não foram sujeitas a um planeamento

prévio foram a construção da Av. Dr. Francisco Sá Carneiro na década de 70, que

cortou a meio a Quinta do Mosteiro, em 1980 a Escola Básica EB 2/3 (no local onde

estava prevista a estação de caminhos de ferro) e nos meados da década 80 a Zona

Industrial de Lameiros na periferia da sede do concelho.

47 

2.4. Os instrumentos de planeamento territorial e o início de um novo

ciclo de desenvolvimento (1995 – 2008)

No início dos anos 80, num quadro de reforço da autonomia política e

financeira dos municípios, o Plano Director Municipal (PDM) é aprovado através do

Dec. Lei 208/82. Esperava-se que este plano, a produzir obrigatoriamente por todos os

municípios, introduzisse novas práticas de planeamento. Na realidade, em termos

conceptuais, o PDM representa um avanço legislativo assinalável e constituiu um

progresso significativo para o sistema de planeamento português (Ferreira, 2007),

embora se tenha verificado que estes instrumentos são pouco ajustados a uma gestão

criteriosa do território, pela falta de mecanismos de programação da urbanização e de

investimentos públicos e pela ausência de avaliação e monitorização dos seus

objectivos, sendo de destacar talvez, mais os seus reflexos na consciência para a

necessidade do ordenamento e gestão do território, do que os resultados que derivaram

da sua concretização (Fernandes e Ramos, 2007).

O Plano Director Municipal de Cabeceiras de Basto foi publicado no Diário da

Republica nº 205 (I série) de 5/09/1995. Em linhas gerais e para além dos objectivos

estabelecidos na legislação, nomeadamente a elaboração da RAN e REN, linhas

orientadoras de zonamento, a regulamentação e a programação de investimentos, o

PDM concentrou a sua atenção nas seguintes propostas:

- linhas de estratégia ligadas à potenciação da rede de lugares centrais em

especial a sede do concelho, estabelecendo-se zonas de influência, relacionadas com a

sua dimensão, funções que desempenhavam e localização, através da atribuição de

cinco níveis, sendo o primeiro nível a sede de concelho e o último os lugares de menor

dimensão.

A análise ao modelo de povoamento existente no concelho e a hierarquização

dos aglomerados levou à necessidade de estabelecer na classe dos espaços urbanos e

urbanizáveis quatro categorias:

- Aglomerados Urbanos

- Aglomerados Rurais

- Áreas de Construção Condicionada

- Aglomerados com Interesse Patrimonial Local

Incluiu-se nos Aglomerados Urbanos as sedes das áreas de influência sub-

concelhias; as Áreas de Construção condicionada consideram os espaços urbanos ou

urbanizáveis com alguma sensibilidade paisagística ou urbanística, pretendendo-se

garantir densidades suficientemente reduzidas para minimizar os impactos negativos no

meio, mas ao mesmo tempo garantir a homogeneidade suficiente para tornar rentáveis

os investimentos na sua infraestruturação.

A justificação da proposta para a categoria dos Aglomerados com Interesse

Patrimonial Local, deve-se à existência de lugares relativamente homogéneos com

dimensão significativa, cujo valor patrimonial da massa edificada exige o

estabelecimento de normas urbanísticas próprias.

Outra indicação fundamental deixada pelo PDM relativamente à sede do

concelho diz respeito à área Nascente do Mosteiro de Refojos definida pelo

Regulamento como do PDM como “Área em situação excepcional”, devido à sua

proximidade com este monumento e ao seu impacto na evolução do tecido urbano da

sede do concelho.

A rede viária do município foi hierarquizada em cinco categorias,

correspondendo o Nível 1 aos troços sob a jurisdição da JAE (EN 205, futuro IC5 e Via

do Tâmega).

No âmbito do enquadramento espacial das actividades económicas o plano

propôs a redução do peso do sector primário na actividade económica do concelho, não

pela redução da produção agrícola mas pelo crescimento do sector secundário e

terciário.

Na agricultura privilegiou-se a criação de grandes áreas para o

desenvolvimento desta actividade, apoio à criação de projectos de emparcelamento

permitindo a criação de explorações com maior rentabilidade numa perspectiva

empresarial.

O Plano atribuiu importância ao sector florestal com alargamento da área

florestal, nomeadamente de espécies mais nobres.

Relativamente ao sector secundário, a intervenção do plano orientou-se

segundo duas vertentes: por um lado não inviabilizar, por normativos urbanísticos, a

actividade das pequenas indústrias existentes no interior dos aglomerados (garantindo

obviamente a inexistência de impactos ambientais desfavoráveis) e por outro lado,

propôs-se a criação de uma infra-estrutura industrial localizada estrategicamente entre a

vila sede de concelho e o Arco de Baúlhe, área de melhores níveis de acessibilidade e

49 

mão-de-obra, podendo desempenhar papel central na captação e criação de novas

indústrias20, pretendendo assim, contribuir para um melhor ordenamento do espaço

industrial, na medida em que a localização destas áreas se processaria através de

projectos de loteamento ou de um plano de pormenor.

Na área da dotação dos equipamentos, o PDM pretendeu que esta fosse

articulada com a estruturação da rede de lugares centrais. Para a área da administração

pública e protecção civil foram propostos vários equipamentos como algumas sedes de

Junta de Freguesia, mais cemitérios e 2 Postos da GNR. Na educação e cultura propõe-

se a construção de mais escolas, criação da Biblioteca, do Museu Municipal e Centro

Cultural. Na saúde e assistência social sugeriu-se a construção de mais extensões de

saúde, farmácias, creches, jardins-de-infância e centros de dia. Na área do desporto e

lazer propõe-se a implantação de polidesportivos, piscinas, áreas de lazer e campo de

tiro, enquanto no ramo do comércio e serviços propõe-se a criação do Mercado

Retalhista e centros de transporte21.

No quadro das infra-estruturas de saneamento básico o plano apontou ao

disciplinamento do licenciamento de obras particulares, de acordo com as directrizes de

ordenamento territorial sobre a progressiva ocupação e uso de solo, à concepção de uma

estratégia global para o sistema de lixos, esgotos e águas num quadro de coordenação

inter-institucional e inter-municipal e a delineação de uma estratégia de realização de

estudos e consequente implementação de programas de infraestruturação sistemática do

concelho no quadro da obtenção de fundos comunitários e governamentais.

                                                            20 Relatório do PDM de Cabeceiras de Basto, 1995 21 Idem 

Fonte: PDM 1995, CMCB

Fig. 14. Carta de Ordenamento do PDM de Cabeceiras de Basto

51 

Fonte: PDM 1995, CMCB

Fig. 15. Legenda da Carta de Ordenamento do PDM de Cabeceiras de Basto

- As propostas do PDM e as intervenções no território

Tal como previa o plano, foi criada a infra-estrutura industrial (Zona Industrial

de Basto), localizada junto da Zona Industrial de Lameiros e foi elaborada através de

um Plano de Pormenor em 1997, não obstante, se tenha verificado com o tempo, que a

construção desta infra-estrutura foi manifestamente insuficiente para as necessidades do

município.

Conforme definido pelo PDM, foi estabelecida a hierarquia dos lugares

centrais, estratégia ligada sua à potenciação, em especial a sede do concelho. Assim, a

dotação de equipamentos e rede de infra-estruturas foi realizada respeitando a

importância hierárquica dos lugares. Grande parte dos equipamentos propostos foi

concretizada, (Biblioteca, Posto de Turismo, Museu Municipal, Extensão de Saúde no

Arco de Baúlhe, jardins de infância, gimnodesportivos, polidesportivos, piscinas, áreas

de lazer, Mercado Municipal, Centros de Transporte)

Em matéria de dotação de infra-estruturas de redes de abastecimento de água e

saneamento, no sistema de recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos, verificou-

se alguns melhoramentos, contudo insuficiente para servir todas as freguesias do

concelho.

Em termos florestais, assistiu-se a uma degradação das matas, ao desinteresse

do ponto de vista económico dos agricultores pela floresta, e a ocorrência de um

elevado número de incêndios e áreas ardidas, limitando desta forma o desenvolvimento

florestal.

O desenvolvimento agrícola do concelho ficou longe de ser assegurado,

justificado pelo predomínio do minifúndio, condições topográficas pouco favoráveis e

população activa do sector bastante envelhecida. Apesar do gradual declínio do sector, a

pequena agricultura familiar constitui ainda uma importante actividade complementar

para boa parte da população, sobretudo, das freguesias de ruralidade mais marcante22.

No sector terciário, registaram-se alguns sinais por parte da actividade

comercial para avançar para a modernização. Na vila sede de concelho foi aplicado o

programa URBCOM23, mediante projecto de urbanismo comercial, que promoveu onde

a qualificação urbana e a revitalização do comercio independente na vila24.

Além do mais, foi na sequência da aprovação do PDM que se lançam alguns

planos de pormenor e de urbanização com importante efeitos no planeamento e

transformação territorial de espaços estrategicamente importantes no concelho:

- Plano de Pormenor da Zona Industrial de Basto (Santa Senhorinha) (1997)

O Plano de Pormenor da Zona Industrial de Basto (ou de Santa Senhorinha) foi

aprovado e publicado na Resolução do Conselho de Ministros nº209/97 de 09/12/97. A

criação desta zona industrial esteve relacionada com o esgotamento da área

disponibilizada pela Zona Industrial de Lameiros, tendo sido necessário proceder à

localização de uma nova Zona Industrial a Sul da de Lameiros a confrontar com a EN

205, no lugar de Olela, freguesia de Basto. Para tal foi necessária a elaboração de um

Plano de Pormenor.

No âmbito territorial, a área de intervenção do Plano foi constituída pelas

seguintes áreas, delimitadas na planta de implantação (Fig.16):                                                             22 Relatório da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto, 2008 23 URBCOM - Sistema de Incentivos a Projectos de Urbanismo Comercial 24 Relatório da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto, 2008

53 

- área de lotes industriais; área de equipamentos, destinada a apoiar a zona

industrial; área de arruamentos, passeio e estacionamentos e área verde de protecção.

Fonte: Diário da Republica, 1997

Fig. 16. Plano de Pormenor da Zona Industrial de Basto

- Plano de Pormenor da Área a Nascente do Mosteiro de Refojos (1998)

O Plano de Pormenor da Área na Nascente do Mosteiro de Refojos foi

aprovado e publicado no Diário da República nº38 (I Série) de 14/02/1998.

As principais propostas deste plano foram:

- disponibilizar as áreas de construção necessárias para a localização de

equipamentos fundamentais na sede do concelho;

- criar uma via estruturante variante ao trânsito de atravessamento, com

características urbanas que permitisse a circulação de peões e de veículos automóveis;

- redefinir as dimensões da Av. Sá Carneiro, conferindo-lhe a figura urbana de

alameda, com uma escala mais humanizada;

Os espaços urbanos e urbanizáveis do plano incluíam áreas para localização de

equipamentos, edifícios mistos, edifícios exclusivamente residenciais e áreas de

circulação automóvel e pedonal, enquanto os espaços naturais e culturais destinavam-se

a áreas de parques e jardins e áreas verdes de enquadramento.

Fonte: Diário da Republica, 1997

Fig. 17. Plano de Pormenor da Área a Nascente do Mosteiro de Refojos

- As propostas do Plano e as intervenções realizadas

De um modo geral todas as propostas efectuadas pelo Plano de Pormenor

tiveram ligação às intervenções que foram realizadas, embora haja algumas observações

que se deve sublinhar. Relativamente ao objectivo de potenciar o crescimento da área do

plano de modo a articulá-la com a restante área urbana, acabou por existir alguma falta

de articulação da rede viária e pedonal (falta de ligação entre a zona da Quinta do

Mosteiro com o Campo do Seco).

A via estruturante variante foi concretizada (Av. Cardeal D. António Ribeiro),

mas como já foi sublinhado anteriormente, esta foi construída sob a linha orientadora da

via estruturante desenhada no Anteplano de Urbanização.

Para a qualificação da envolvente da Ribeira de Penoutas já existe um projecto

para a sua execução.

É importante sublinhar que houve uma alteração a este plano, já que foi criado

um espaço exclusivamente comercial, algo que não estava proposto no plano anterior

que só previa zonas mistas.

55 

No decorrer do tempo fizeram-se alterações simplificadas no Plano de

Pormenor e verificou-se que pela sua extensão, pela alteração à legislação e

regulamento, era necessário proceder à sua revisão, tendo em vista25:

- colmatar alguns erros grosseiros do PP em vigor;

- melhorar urbanisticamente a zona nascente da Praça Barjona de Freitas;

- criar um pólo comercial onde a população do concelho possa usufruir da nova

forma de intervenção comercial tentando assim manter no concelho os consumos

comerciais dos seus habitantes;

Este plano permitiu a introdução de uma nova dinâmica no tecido urbano da

sede do concelho através da construção de novas vias, equipamentos e edifícios de

habitação colectiva, no sentido da concentração e consolidação da malha urbana.

- Plano de Pormenor para a Revitalização da Aldeia de Busteliberne (2002)

O Plano de Pormenor para a Revitalização da Aldeia de Busteliberne foi

ratificado pela Resolução de Conselho de Ministros nº119/2002 e publicado no Diário

da República nº228 (Série IB) de 2/10/2002.

O objectivo deste plano passou pela definição dos critérios de ordenamento e

gestão urbanística, que visam a preservação e orientação da transformação do

património edificado, e a caracterização das novas construções na área abrangida pelo

Plano de Pormenor para a Revitalização da Aldeia de Busteliberne.

- Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe (2007)

O Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe foi aprovado e publicado

no Diário da República nº227 (II Série) de 26/11/2007.

O primeiro princípio afirma o reconhecimento da centralidade em torno da

Rotunda do Arco - centro viário, lugar de lazer, lugar de passagem e troca – como

princípio indutor de vida urbana. A ideia do plano será a de estabelecer um centro cívico

                                                            25 Relatório da Revisão do Plano de Pormenor a Nascente do Mosteiro de S.Miguel de Refojos, 2009.  

articulado com a rotunda, introduzindo um motivo disciplinador para a ocupação

urbanística actual, arbitrária e caótica26.

O sistema rodoviário que estrutura o espaço urbano da Vila tem uma forma de

“T”, resultante do cruzamento da EN 210 com a EN 206. A existência isolada desta

matriz, como única infra-estrutura com características para oferecer espaço apto a uso

urbanístico tem forçado o processo de urbanização nos terrenos marginais a estes

traçados.

O sistema rodoviário proposto define uma rede de vias hierarquizada em três

níveis:

- as rodovias estruturantes principais que constituem o sistema formado pela

EN 210 e EN 206;

- as rodovias estruturantes secundárias, formam um sistema de anel em torno

do núcleo tradicional;

- os arruamentos urbanos, rodovias estruturantes terciárias, formam o último

nível do sistema urbano.

No terceiro princípio estratégico define-se a estrutura do zonamento do plano.

O carácter actual da vila é definido pela dispersão dos lugares, como se verifica na

análise do povoamento e demografia. Esta estrutura de lugares regista efectivos

populacionais muito positivos, sem no entanto dar um contributo visível para a

urbanidade da vila, o que leva a se propor um processo que aglutine as construções e

sedimente o espaço urbano intersticial entre os lugares urbanos dispersos e marginais.

Em síntese, o conjunto urbano pretendido com os objectivos estratégicos

enunciados, será um aglomerado densificado com base nas construções isoladas,

hierarquizado pelo eixo da Av. Capitão Elísio de Azevedo e pelo Nó Viário.

O zonamento proposto no Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe

compreende a definição de classes e categorias de espaço notoriamente articulados com

actividades e dinâmicas existentes. Assim pretende-se incluir na formalização do

zonamento, as tendências actuais das formas urbanísticas que têm produzido espaço

urbano aproveitando-lhe as virtualidades e corrigindo os traços considerados negativos,

como sejam a dispersão e a descontinuidade que porventura se encontra no seu uso27.

                                                            26 Relatório do Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe, 2005 27 idem

57 

Fonte: Diário da Republica, 2007

Fig. 18. Plano de Urbanização da Vila do Arco de Baúlhe

- Plano de Urbanização da Vila Sede de Concelho (2008)

O Plano de Urbanização da Vila Sede de Concelho foi aprovado e publicado no

Diário da República nº108 (II Série) de 5/06/2008. Identifica-se como principal

objectivo deste plano “ordenar a composição urbana e a imagem urbana da vila,

afirmando a como primeiro centro urbano do concelho, estabelecendo as bases da

administração urbanística e o programa de desenvolvimento das principais redes

municipais ao serviço de uso público”. A estratégia de intervenção do plano assenta nos

seguintes pressupostos:

- colmatar as manchas de edificação existentes pela sua continuidade ou

recorrendo a implantações especificas de modo a resolver algumas incoerências do

tecido existente;

- complementar as centralidades existentes na Praça da República e Campo do

Seco com a implementação de zonas verdes urbanas articuladas com a estrutura

ecológica;

- implementar um sistema viário secundário constituído por troços de ligação

que constitua um anel envolvente aos núcleos urbanos tradicionais e alternativo à EN

205, EN 311/ER 311 e EM 524-1.

Fonte: Diário da República, 2008

Fig. 19. Plano de Urbanização da Vila Sede de Concelho

- Revisão do Plano Director Municipal (2008)

A nova geração dos PDM está enquadrada pela Lei de Bases do Ordenamento

do Território (Lei 48/98, de 11 de Agosto) e pela legislação enquadratória dos

instrumentos de planeamento territorial (Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro).

Nos últimos anos, a quase totalidade dos PDM’s em Portugal entrou em processo de

revisão, e face as alterações substanciais introduzidas no sistema de planeamento e no

seu enquadramento legal, além da experiência acumulada, espera-se que estes novos

planos sejam mais eficazes e consistentes, mais estratégicos e adequados à

sustentabilidade territorial que tenha como resultado um melhor ordenamento territorial

(Fernandes e Ramos, 2007)

59 

A Revisão do Plano Director Municipal de Cabeceiras de Basto foi publicada

no Diário da República nº 241 (II série) de 15/12/2008. Sendo o objectivo global do

Plano Director Municipal “consolidar a identidade do concelho no contexto regional

reforçando níveis de qualificação urbana e ambiental, promovendo um território

socialmente mais coeso a partir da valorização dos recursos naturais, culturais e

turísticos”28, definiu-se uma política para o ordenamento do espaço físico que assentou

na seguinte estratégia:

- dotar a parte Sul do concelho como área de expansão urbana e industrial,

abrindo a possibilidade de novos investimentos que poderão ser canalizados a partir da

construção da A7/IC5;

- dotar a parte Norte do concelho como área de preservação e conservação da

sua paisagem, potenciando estas áreas para o turismo.

A proposta de modelo de ordenamento definiu a classificação do solo urbano e

solo rural. Para além disso foi ainda definida a Estrutura Ecológica Municipal.

Solo Urbano

O Solo Urbano divide-se nas seguintes categorias:

- Solos Urbanizados;

- Solos cuja Urbanização é possível Programar;

- Solos afectos à Estrutura Ecológica Urbana.

Os Solos Urbanizados são aqueles que possuem vocação urbana e

compreendem as seguintes subcategorias:

- os Aglomerados Urbanos (que podem ser de Nível I, II e III, consoante a sua

densidade populacional, desenvolvimento económico e dotação de equipamentos);

- os Aglomerados Rurais de Interesse Patrimonial (que integram edificações

cujo valor patrimonial aconselha a que sejam tratados de forma autónoma,

estabelecendo normas urbanísticas próprias resultantes do valor arquitectónico do

conjunto);

- os Espaços Industriais destinados a unidades industriais que compreendem as

áreas para a localização de indústria transformadora, oficinas, armazéns, serviços e

actividades complementares.

As propostas do plano nesta categoria de espaços, definiu Unidades Operativas

de Planeamento e Gestão (UOPG de Lameiros e UOPG de Morgade), na medida em                                                             28 Relatório da Revisão do PDM, 2008

que a localização destas se processe na área para tal destinada, a qual será objecto de

planos de urbanização.

Os Solos cuja Urbanização é possível Programar são espaços que se destinam à

edificação de habitação, comércio, turismo, estabelecimentos industriais, serviços e

equipamentos e compreendem as seguintes subcategorias:

- Áreas de Urbanização Programada (que podem ser de Nível I, II e III)

- Áreas Industriais Programadas (propostas face ao crescimento do sector

secundário e à necessidade de descentralizar a localização de indústrias

transformadoras).

Solo Rural

O Solo Rural divide-se nas seguintes categorias:

- Espaços Agrícolas,

- Espaços Florestais,

- Espaços de Exploração Mineira,

- Espaços Naturais e de Especial Vocação Turística,

- Espaços destinados a Infra-estruturas viárias.

Os Espaços Agrícolas incluem os espaços afectos à RAN e parte da REN.

Nos Espaços Florestais incluem-se as áreas que representam ecossistemas

específicos nomeadamente as sujeitas ao regime da REN, as áreas florestais e incultos

que não representem ecossistemas com debilidade específica.

Os Espaços de Exploração Mineira são aqueles que se destinam à pesquisa e

exploração de massas minerais.

Os Espaços Naturais e de Especial Vocação Turística são constituídos por

áreas com características ecológicas e paisagísticas que lhes conferem especial vocação

para a conservação do ambiente natural ou cultural subjacente.

Os Espaços destinados a infra-estruturas viárias são espaços que suportam a

existência de importantes infra-estruturas que condicionam especialmente a ocupação

do uso do solo e integram a rede rodoviária estruturante.

61 

Fonte:PDM 2008, CMCB, tratamento próprio

Fig. 20. Planta de Ordenamento da Revisão do PDM de Cabeceiras de Basto

Fonte: Revisão do PDM 2008, CMCB

Fig. 21. Legenda da Planta de Ordenamento da Revisão do PDM de Cabeceiras

de Basto29

No sector secundário, o plano orientou-se em duas vertentes: por um lado, não

inviabilizar, criando normas urbanísticas para tal, a actividade das pequenas indústrias

existentes no interior dos aglomerados, garantindo estas a inexistência de impactes

ambientais desfavoráveis, e, por outro lado, criou-se uma área industrial localizada em

Lameiros que, situada estratégicamente entre Cabeceiras e Arco de Baúlhe, tinha como

finalidade desempenhar um papel central na capacidade de atracção e criação de novas

indústrias. Verificou-se que rapidamente a área disponibilizada para este fim se esgotou,

tendo sido necessário proceder à localização de uma outra área industrial situada a Sul

da de Lameiros a confrontar com a EN 205, no lugar de Olela, freguesia de Basto. Para

tal, foi necessária a elaboração de um Plano de Pormenor.

No quadro do ordenamento florestal este Plano propõe um modelo de

ordenamento que garanta a diversidade paisagística do concelho e a manutenção da

estrutura de solo dos espaços agrícolas e garantindo a função florestal nos solos com

                                                            29 Como a revisão do PDM engloba 19 cartas de Ordenamento à esc. 1/10000, optamos por colocar a

carta de ordenamento à escala concelhia, cedida pelo Município, cuja simbologia das shapefile é a

original impressa em Diário da República.

63 

maior aptidão para este uso e ao mesmo tempo o reforço das condições de

modernização do sector agro-florestal.

É proposto um Plano de Urbanização para a área de influência sub concelhia de

S. Nicolau e a criação de várias Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG)

em Carrazedo, Lameiros, S.Martinho e Área Industrial de Morgade através de Planos de

Pormenor (esta última através de um PU), de forma a promover inversão do padrão de

povoamento disperso do concelho e a garantia da obtenção de economias de escala e

aglomeração, reforçando a dinâmica da vila sede do concelho na região, concentrando

nela as principais funções urbanas de apoio aos cidadãos e às actividades.

Ao nível das acessibilidades o Plano propôs a construção da Variantes à EN

205, à EENN 205/210 para a sua inserção regional a partir das novas acessibilidades

(A7/IC5) que conferirão a Cabeceiras de Basto uma centralidade importante entre o

litoral e o interior face a potenciais mercados de investimento, e beneficiação de várias

estradas municipais, melhorando as condições de mobilidade interna e externa ao

concelho.

De forma a suprimir a falta de terrenos para a construção de habitação própria

por parte da população mais carenciada em zonas montanhosas, foi proposto a

elaboração de loteamentos em áreas de baldios.

No ambiente e qualidade urbana o plano visa o aumento das taxas de cobertura

das infra-estruturas do concelho relativamente ao abastecimento de água, saneamento e

à recolha de resíduos sólidos urbanos, a criação de um Parque Urbano, requalificação de

edifícios públicos, construção e beneficiação de jardins públicos.

Na área do desporto, cultura e turismo, prevê-se a criação e dinamização de

uma rede de equipamentos culturais, desportivos e de lazer, enquanto espaços de criação

de espectáculos e eventos, e simultaneamente enquanto espaços de encontro e lazer para

as populações, enquanto na educação e integração social estão previstos novos pólos da

Biblioteca Municipal, criação de parques infantis, centros comunitários e centros de

acolhimento de idosos.

Não tendo sido objecto de planeamento nos planos anteriores, foi iniciada em

2008 a construção da Zona Industrial de Vila Nune, mas que se enquadra perfeitamente

nos objectivos do novo PDM no que diz respeito à expansão urbana e industrial.

Para finalizar a descrição do planeamento, resume-se na Fig. 22, os planos

existentes e programados no concelho de Cabeceiras de Basto.

Fonte: PDM 2008, CMCB, tratamento próprio

Fig. 22. Planeamento existente e programado em Cabeceiras de Basto

2.4.1. O planeamento e a evolução da mancha urbana de 1995 a 2008

Não obstante fosse mais vantajoso analisar um período mais alargado, a base

cartográfica produzida apenas permite a desagregação temporal para o período balizado

pela sua produção mais antiga (1995) e a mais recente (2008)30.

Com a informação nos dois momentos, é possível visualizar e quantificar a

expansão urbana na área de estudo, verificando-se que o crescimento das áreas

urbanizadas, para a globalidade do concelho de Cabeceiras de Basto, foi de 16,6%.

Em 1995, a área em estudo era ocupada por cerca de 637,5 hectares de mancha

urbana, o que representava apenas de 2,64% da área total do concelho (Gráficos 1 e 2).

Ao longo do período 1995 até 2008 as áreas urbanas cresceram 16,6%, atingindo os

740,5 hectares, ou 3,06% de área ocupada. As freguesias com mais hectares de área

                                                            30 Não foi possível aceder a informação geográfica vectorial e raster das décadas de 50 até 70. Tivemos

acesso a ortofotos do concelho da década de 80, mas preferimos não utilizá-las nesta dissertação dada a

sua fraca qualidade de resolução.

65 

urbana em 2008 eram Refojos com quase 150 ha, Cavez e Arco de Baúlhe, enquanto

Passos e Vilar de Cunhas são as menos representativas (Gráfico 1).

Fonte: PDM 1995, PDM 2008, tratamento próprio

Gráfico 1. Áreas urbanas por freguesia entre 1995 e 2008 (em hectares)

Em termos de taxa de crescimento de áreas urbanas, as freguesias de Basto e

Vila Nune foram marcadamente mais dinâmicas entre 1995 e 2008, com aumentos de

quase 100% e 70%, respectivamente (Gráfico 2). Há ainda um grupo de freguesias que

cresceu sempre a um ritmo muito baixo: Passos, Bucos, Riodouro, Vilar de Cunhas e

Cavez, apesar desta última ser das freguesias com mais áreas urbanas.

 

 

Fonte: PDM 1995, PDM 2008, tratamento próprio  

Gráfico 2. Taxa de crescimento das áreas urbanas por freguesia entre 1995 e 2008

020406080

100120140160

Abadim

Alvite

Arco

Basto

Bucos

S.Nicolau

Cavez

Faia

Gon

diães

Outeiro

Painzela

Passos

Pedraça

Refojos

Riod

ouro

Vila Nun

eVilar d

e Cu

nhas

1995

2008

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

Abadim

Alvite

Arco

Basto

Bucos

S.Nicolau

Cavez

Faia

Gon

diães

Outeiro

Painzela

Passos

Pedraça

Refojos

Riod

ouro

Vila Nun

e

Vilar d

e Cu

nhas

Fig. 23. Evolução da mancha urbana em Cabeceiras de Basto entre 1995 e 2008

67 

Fig. 24. Evolução da mancha urbana em Cabeceiras de Basto entre 1995 e 2008 por tipo de intervenção

Analisando o mapa (Fig. 23 e 24) observar-se que grande parte da expansão

urbana se verificou essencialmente em torno do eixo Cabeceiras – Arco de Baúlhe, com

especial concentração na vila sede de concelho.

A expansão da mancha urbana está associada especialmente à implementação

do Plano de Pormenor em 1998 (1), que visou disponibilizar áreas de construção

necessárias para a localização de equipamentos e habitações colectivas preenchendo

assim, espaços que estavam ocupados pela agricultura ou abandonados. Este plano

revelou-se fundamental para a concentração e consolidação da malha urbana.

A construção de equipamentos municipais foi um dos grandes objectivos do

PDM tal como da sua revisão, reflectindo-se no território a sua importância. Analisando

o mapa, identificam-se inúmeras manchas urbanas associadas à construção desses

equipamentos, como a Pista de Aeronaves (2), do Centro Hípico (3), do Campo de Tiro

e Campo de Jogos (4), Centro Escolar, Piscina e Biblioteca (5).

A revisão do PDM impulsionará a dotação de mais áreas industriais, como é o

caso da Zona Industrial de Vila Nune (6) que começou ser construída em 2008 e está em

fase de conclusão, estando entretanto outras previstas através da realização de planos de

urbanização ou pormenor. O primeiro registo de planeamento dedicado exclusivamente

a áreas industriais foi o da Zona Industrial de Basto, através do Plano de Pormenor (7) e

mais a Norte o alargamento da Zona Industrial de Lameiros (8), que ocorreu através de

um processo de loteamento.

Como as zonas industriais referidas se revelaram insuficientes para a procura

existente, foram criados mais espaços industriais, embora sem planeamento prévio,

como foi o caso de Cavez (9). A revisão do PDM representa um aumento de 19.6% de

áreas urbanizáveis face a 1995, e nos solos cuja urbanização é possível programar,

30,5% correspondem a áreas industriais.

A iniciativa privada também impulsionou o crescimento das áreas edificadas

através da realização de inúmeros processos de licenciamento e loteamento para

edifícios habitacionais, num crescimento que terá sido motivado em grande parte, pelo

crescimento económico do concelho, pelo regresso de emigrantes, pelas facilidades de

acesso ao crédito da habitação e fixação de jovens na sua terra natal31.

Nos aglomerados rurais de montanha (sobretudo a parte Norte do concelho)

verificam-se frequentemente duas situações: a dificuldade de praticar a expansão

                                                            31 Relatório da Revisão do PDM, 2008

69 

urbana, e por outro lado, a construção de casas clandestinas. A primeira situação advém

do facto de os proprietários das respectivas parcelas de terreno não se mostrarem

disponíveis para as vender; a segunda advém da profunda precariedade económica

vivida por agregados familiares portadores de um elevado número de descendentes, o

que origina a edificação das suas habitações em terrenos baldios32.

Face à falta de planos de urbanização e pormenor, os processos de loteamento

tornaram-se instrumentos de resposta rápida aos promotores que pretendiam urbanizar

(muitas vezes numa óptica virada para o lucro e não para o cidadão) contrariando desta

forma a tendência de construção de áreas edificadas dispersas, não obstante, por outro

lado, contribuírem para um aparente desordenamento urbanístico, com a maior

fragmentação do tecido urbano.

Fonte: INE 2010, tratamento próprio

Gráfico 3. Nº de edifícios licenciados (novas construções) de 1995 a 2008

A partir de 199533 houve uma quebra nos pedidos de licenciamento de novas

construções até 1997, com subida no ano seguinte (Gráfico 3). A partir de 1998 há uma

fase de declínio até 2003, excepto o ano de 2001. Após recuperação em 2004 e 2006,

verifica-se nova queda até 2008, sendo este o ano com menos pedidos de licenciamento

de novas construções desde 1995.

                                                            32 Relatório da Revisão do PDM, 2008 33 Em 1995 houve um grande nº de pedidos de licenciamento relacionados com a legalização de

construções ilegais, Relatório da Revisão do PDM, 2008 

Comparando estes resultados com o Norte de Portugal34 no mesmo período,

verificam-se bastantes semelhanças principalmente na curva descendente a partir de

2001, talvez justificada pela desaceleração da economia e menos investimentos na

construção civil.

Embora se tenha verificado um crescimento urbano razoável desde 1995, o

facto é que a expansão urbana sempre esteve condicionada ao nível do planeamento,

designadamente pelas condicionantes da REN e da RAN, que representavam à data da

publicação do PDM de 1995 cerca de 60 % do território total do concelho. Com a

revisão do plano em 2008, estas áreas condicionantes mantiveram-se quase inalteradas,

ocupando 59% do total do território concelhio, ou seja em treze anos, os pedidos de

desafectação destas duas servidões só atingiram 1% da área total (Fig.25).

Fonte: PDM 1995, PDM 2008, tratamento próprio

Fig. 25. Evolução das áreas da REN e RAN entre o PDM de 95 e revisão em 2008

A mesma revisão apresenta como áreas urbanizadas e urbanizáveis (perímetros

urbanos) apenas 9,8% do total da área do concelho. Atendendo a este quadro e seguindo

a tipologia de Nuno Portas (1995) pode-se classificar este PDM e a sua revisão, de

                                                            34 INE, 2010

71 

restritivos, na medida em que têm por base uma filosofia conservacionista dos recursos

materiais ou culturais, que se apoia no zonamento, com elevada representatividade das

áreas onde não se pode construir, limitando assim, a oferta de solo potencial para

urbanização. Este facto, se é compreensível no quadro de um território de baixa

densidade de ocupação no contexto nacional e regional, terá todavia de considerar as

especificidades do mercado de solos, para ajudar a compreender o desajuste entre a

oferta escassa de solos urbanizáveis e a pressão dos proprietários para editar em solo

onde tal não é permitido.

Dada a sua publicação recente, ainda não é possível observar no território, as

intenções propostas pelo Plano de Urbanização da Vila Sede de Concelho e da Vila do

Arco de Baúlhe que passam por colmatar as manchas de edificação existentes,

sedimentando o espaço urbano intersticial entre os lugares urbanos dispersos e

marginais.

Mas sem dúvida que tal será do maior interesse no quadro da compreensão da

expansão urbana e do papel do planeamento nessa expansão, esperando-se que as

tecnologias adiante apresentadas possam vir a ser úteis nesse esforço.

73 

Capítulo 3

75 

3. Modelação geográfica através de autómatos celulares

3.1. Autómatos celulares e a sua aplicação na modelação de cenários

Investigações recentes em sistemas abertos e não lineares conduziram à

compreensão das cidades como sistemas complexos e evolucionários, sendo estas

entendidas como sistemas auto-organizados que são muito adequados para a simulação

computacional. O autómato celular é caracterizado por fases de transições de que pode

gerar padrões complexos através de regras de transição simples. Desta forma, como

refere Liu (2009), esta técnica parece ser ideal para modelar a complexidade dos

sistemas urbanos.

Tenedório et al. (2006) defendem que os modelos de AC têm uma capacidade de

modelação superior à dos SIG, quer ao nível do crescimento urbano, quer ao nível das

alterações de usos do solo. As variáveis espaciais incluídas nos AC são actualizadas de

forma dinâmica durante o ciclo iterativo o que se traduz em resultados não

determinísticos. Em contraste, a generalidade dos modelos SIG encontra dificuldades

em simular a evolução de uso do solo sem recorrer a regras locais e ciclos iterativos,

usando quase sempre variáveis espaciais estáticas.

Os modelos de AC tornaram-se bastante atractivos para as simulações em

ambiente urbano porque permitem gerar resultados bastante interessantes (Li and Yeh,

2002), constituindo uma poderosa ferramenta para compreender a cidade, vista como

um sistema complexo e evolucionário. Numa cidade auto-organizada a evolução do uso

do solo é um processo intimamente ligado à história, em que a evolução passada

condiciona a futura através de interacções locais entre as parcelas de terreno (Wu and

Webster, 1998).

3.1.1. Elementos que caracterizam um autómato celular

Segundo Batty (1997) os autómatos celulares definem-se como células

contíguas ou adjacentes, que alteram o seus estados - os seus atributos ou características

- através da aplicação repetitiva de regras simples, e contém pelo menos cinco

características (Liu, 2009):

- célula: que é a unidade espacial básica no espaço celular. As células dos

autómatos celulares são dispostas em mosaico espacial. A rede bidimensional de células

é a forma mais comum de um autómato celular usado na modelação do crescimento

urbano e nas alterações no uso do solo;

- estado: que define os atributos do sistema. Cada célula pode ter apenas um

estado a partir de um conjunto de estados a qualquer momento. Nos modelos urbanos

baseados em autómatos celulares, os estados das células podem representar os tipos de

uso e ocupação do solo, tais como urbano ou rural;

- vizinhança: que é um conjunto de células com que a célula em questão

interage, que à semelhança do mundo real, o espaço envolvente e a sua evolução

justificam muito dos comportamentos. Num espaço bidimensional, existem dois tipos

básicos de vizinhança: vizinhança de Von Neumann (quatro células), que inclui os

vizinhos Norte, Sul, Este e Oeste da célula em questão, e a vizinhança Moore (oito

células), que inclui as células definidas por Von Neumann e células vizinhas a Noroeste,

Nordeste, Sudeste e Sudoeste. Outros tipos de vizinhança, como a vizinhança dentro de

um círculo a uma certa distância da célula em questão, também têm sido utilizados em

modelação urbana (White and Engelen, 1997);

Fonte (Torrens, 2006)

Fig. 26. Diferentes configurações da vizinhança AC num espaço celular

bidimensional

- regras de transição: que definem como o estado de uma célula muda em

resposta ao seu estado actual e os estados das células vizinhas. Esta é a chave

componente dos autómatos celulares, pois essas regras representam o processo do

sistema em modelação e são, portanto, essenciais para o seu sucesso. As regras podem

ser mais determinísticas ou aleatórias no comportamento de cada célula e não há limite

para o número de regras;

77 

- tempo: que especifica a dimensão temporal que existe num autómato celular.

De acordo com a definição dos autómatos celulares, os estados de todas as células são

actualizadas simultaneamente em todas as iterações com o tempo.

3.1.2. Os autómatos celulares urbanos

Se considerarmos uma cidade imaginária construída num espaço celular, esta é

composta numa grade bidimensional de células regulares n × n, ou de parcelas de solo.

Cada parcela de solo pode ter um dos dois estados possíveis: urbano ou não-urbano. A

vizinhança representa a região que tem impactos sobre o desenvolvimento da parcela

em questão. As regras de transição determinam como uma parcela de solo transita de

um estado para outro, implicando, portanto, no processo de desenvolvimento da

localidade. Estas regras de transição são usualmente expressas como um conjunto de

regras "IF-THEN" que são intrinsecamente simples. No entanto, estas regras simples

podem gerar padrões complexos de desenvolvimento.

Assumindo condições sociais, económicas e ambientais uniformes em toda a

região, as parcelas que são urbanizadas, o seu estado é apresentado como urbano; todo o

resto das parcelas está num estado não-urbano. Portanto, o único factor que vai

impulsionar o desenvolvimento das parcelas é o número de parcelas desenvolvido na

vizinhança da parcela em causa, implicando o crescimento de qualquer das novas

parcelas urbanas que poderia ser influenciada pelas parcelas urbanizadas. Utilizando a

Vizinhança de Moore, a transição do estado de parcelas é regido pela seguinte regra.

Regra 1:

IF existem três ou mais parcelas desenvolvidas (ou seja, as parcelas

urbanas) na Vizinhança de Moore de uma parcela de solo não-urbana,

THEN a parcela de solo não-urbana será desenvolvida para um estado

urbano.

Fonte: (Liu 2009)

Fig. 27. Expansão urbana baseado em AC numa superfície plana.

Vermelho: urbano; Cinzento: Não urbano; t: Período temporal

Com essa regra de transição, o modelo gera uma série de cenários de

desenvolvimento urbano em diferentes momentos, que são exibidas na Fig. 27.

No entanto, numa situação real, as condições geográficas duma área nunca

poderão ser uniformes, como a morfologia da paisagem. Por exemplo, a fim de reduzir

os custos na construção de instalações municipais, o crescimento urbano pode ser

restrito às áreas com um relevo de mais de 300m, portanto, nenhum desenvolvimento

será efectuado em células com um relevo superior a 300m. Nesta situação, uma nova

regra precisa ser implementada no modelo para reflectir a restrição do terreno. Esta

pode ser apresentada como outra regra IF-THEN.

Regra 2:

IF Que o relevo da paisagem é mais do que 300 m

THEN a parcela de solo será restrita ao desenvolvimento (ou seja, permanecerá como uma parcela não-urbana).

(a) Relevo

t= 0 t=5 t=10

t=15 t=20 t=25

b) Desenvolvimento urbano

Fonte:(Liu, 2009)

Fig. 28. Expansão urbana com restrição do terreno.

a) relevo (preto: mais de 300m; cinzento: menos de 300m). b) Desenvolvimento

urbano (preto: parcelas urbanas; cinzento: parcelas não urbanas; t: período temporal).

79 

Com ambas as Regras 1 e 2, o cenário do desenvolvimento urbano nesta área

será alterado como demonstra a Fig.28.

Além disso, a variação também pode existir na rede de transporte. Por

exemplo, se existe uma estrada principal que atravessa a uma área urbana, o

desenvolvimento pode ser atraído para zonas ao longo da estrada. Neste caso, uma outra

regra de transição deve ser adicionada ao modelo para reflectir o efeito do apoio por

parte da rede viária para o desenvolvimento urbano.

Isso pode ser apresentado como o seguinte regra IF-THEN:

Regra 3:

IF existe uma ou duas parcelas urbana na Vizinhança de Moore de uma parcela

não-urbana, e existe uma estrada que atravessa essa parcela,

THEN a parcela não-urbana passará para um estado urbano.

Mais uma vez, com a implementação desta nova regra, o padrão de

desenvolvimento nesta área é alterado, como está ilustrado na Fig.29. Utilizando esta

estrutura de modelação, mais regras de transição podem ser adicionadas no modelo para

reflectir os vários apoios ou restrições de factores sociais, económicos ou ambientais

sobre o desenvolvimento urbano.

O exemplo ilustra bem um modelo muito simplificado de desenvolvimento

urbano, no entanto, ele fornece uma ideia geral de como as regras de transição definidas

localmente podem ser implementados nos autómatos celular urbanos, e como simples

regras podem ser aplicadas para simular o comportamento dum sistema urbano

complexo num espaço celular.

t=0 t=5 t=10

t=15 t=20 t=25

b) rede de transporte e desenvolvimento urbano

Fonte: (Liu, 2009)

Fig. 29. Expansão urbana com influência da rede viária.

a) relevo (preto: mais de 300m; cinzento: menos de 300m). b) Rede de transporte

(linha cinzenta); Desenvolvimento urbano (preto: parcelas urbanas; cinzento: parcelas

não urbanas; t: período temporal).

3.1.3. Vantagens e limitações dos AC

Com o desenvolvimento da computação gráfica, sistemas de informação

geográfica, e das teorias dos sistemas complexos desde o final dos anos 80, as

aplicações dos autómatos celulares para modelação urbana foram crescendo

rapidamente entre os investigadores urbanos, graças às suas características

intrinsecamente espaciais, que são inerentemente atraentes para a sua utilização a

problemas geográficos (White and Engelen, 1993). Os autómatos celulares são

segundo Clarke e Gaydos (1998), especialmente adequados na modelação urbana,

onde o processo de expansão urbana é inteiramente de natureza local e os efeitos

81 

agregados, como booms de crescimento, são emergentes, isto é, seu comportamento é

gerado por aplicação repetitiva de regras para além da condição inicial.

- Simplicidade na construção do modelo

Um modelo urbano de autómatos celulares pode ser construído como uma

matriz bidimensional simples de células com um dos dois estados possíveis: urbano ou

rural. A transição das células de um estado (rural) para outro (urbano) é baseada numa

série de regras simples, que podem ser implementadas no modelo como um conjunto de

simples regras "IF-THEN". No entanto, com base na natureza da auto-organização e

auto-reprodução do autómato celular, um design tão simples dos autómatos celulares

pode gerar padrões espaciais muito complexos quando o sistema evolui ao longo do

tempo.

A simplicidade e a natureza intuitiva dos autómatos celulares não só simplifica

o processo de construção do modelo, mas também torna mais fácil para modeladores

para compreender o desenvolvimento do sistema e interpretar os resultados do modelo.

Isso ocorre porque, segundo Benenson e Torrens (2004) o modelo imita a maneira pela

qual nós estudamos, compreendemos e descrevemos o sistema e os fenómenos no

mundo real.

- Modelação de dinâmicas espaciais de apoio às experiências “What If”

Ao contrário da maioria dos modelos urbanos convencionais que se

concentram mais ou menos no padrão espacial do crescimento urbano, os modelos

urbanos baseado em autómatos celulares costumam concentrar a atenção na simulação

das dinâmicas processuais do desenvolvimento urbano e na definição dos factores ou

das regras que conduzem ao desenvolvimento. Isto é devido à característica de que a

abordagem autómatos celulares fornece meios para a modelação dinâmica (Liu 2009).

É especialmente adequado para a modelação de sistemas dinâmicos complexos

compostos por um grande número de elementos individuais. Através da aplicação de

diferentes regras de transição, um modelo baseado em autómatos celulares procura

explorar a forma como o sistema urbano se tem vindo a desenvolver e como este

sistema se comporta em determinadas normas ou forças, proporcionando portanto um

ambiente de apoio às experiências "What If". Isto permite aos utilizadores explorar

diversos futuros possíveis e desenvolver conhecimentos que possam ser úteis no

planeamento urbano.

- A compatibilidade com o SIG/Raster

Na modelação de processos e fenómenos geográficos, a maioria dos modelos

de autómatos celulares são construídos com base num mosaico regular espacial, sendo

estes modelos naturalmente relacionados com SIG / Raster. O SIG pode fornecer dados

espaciais que formam a configuração inicial de um modelo autómatos celulares e os

resultados da simulação podem ser volvido para um SIG para posterior processamento,

visualização e armazenamento. A aplicação de autómatos celulares na modelação do

desenvolvimento urbano é praticamente impossível sem os recursos de gestão de dados

de SIG (Clarke e Gaydos 1998). Portanto, as aplicações de autómatos celulares em

geografia são na sua maioria integrados num SIG.

- Erros e limitações nos modelos urbanos AC

É sabido que a maioria dos dados SIG, podem ser afectados por uma série de

erros, e, tal como em muitos modelos de SIG, a simulação urbana em modelos AC

também está sujeita a problemas devido aos erros dos dados e incertezas inerentes ao

modelo. Esses erros propagam-se na simulação AC e afectam os resultados da

simulação (Yeh e Li, 2006).

Quando os dados espaciais são utilizados em AC urbanos, a simulação é

afectada por uma variedade de erros nos dados de origem, ou seja, erros posicionais

(erros de posicionamento no SIG podem afectar a precisão da simulação urbana,

causando incorrecções na estimativa de probabilidade de conversão relacionada com

variáveis de proximidade) e erros de atributos, por exemplo, levantamento convencional

de mapas que estão associados a erros humanos (erros de leitura) e erros instrumentais

(condições instáveis)

Além de erros de fonte de dados, há também erros na transformação SIG

comum como por exemplo:

. transformação de vector / raster;

· transformação raster / raster (reamostragem por exemplo);

· operações de Overlay ou buffer;

· outras operações complexas (por exemplo, classificação)

Os problemas dos erros nos modelos de AC são agravados tendo em conta as

suas incertezas. Existem outros tipos de erros não produzidos fisicamente durante o

processo de captura de dados, que provêm dos próprios modelos, devido à limitação da

83 

tecnologia, do conhecimento humano e à complexidade da natureza. Na simulação de

AC não apenas erros de input se propagam através do processo de simulação, mas

também os erros do próprio modelo. Os modelos AC são apenas uma aproximação à

realidade e mesmo que as entradas de dados fossem completamente isentas de erros

poderiam discordar com o mundo real.

Vários tipos de modelos de AC foram propostos de acordo com as percepções

e preferências individuais e requerimentos de aplicações específicas. Os resultados das

simulações são difíceis de repetir quando diferentes modelos AC são usados. Uma série

de erros inerentes pode ser identificado para os modelos AC relacionados com seguintes

aspectos:

. entidades discretas no espaço e no tempo;

· definições de vizinhança (tipos e tamanhos);

· as estruturas do modelo e regras de transição;

· valores de parâmetro;

· variáveis estocásticas

Outra limitação importante é que os modelos AC não conseguem lidar com

processos de top-down, como por exemplo, alterações que são executadas por decisões

políticas, tal como o zonamento. Parker et al. (2003) afirmam que estes modelos têm

sido bem sucedidos na simulação das dinâmicas ecológicas, no entanto, nos processos

em que envolvem decisões humanas, a taxa de sucesso dos modelos não é tão alta.

3.2.O modelo SLEUTH

Uma grande variedade de abordagens de modelação foi introduzida para prever

e simular o futuro desenvolvimento urbano. Estes modelos são muitas vezes baseados

na interpretação de vários factores determinantes que são usados para criar um mapa de

probabilidades.

Neste item descrevem-se alguns modelos baseados em AC capazes de simular

cenários de expansão urbana e alterações do uso de solo. A revisão inclui alguns dos

modelos mais citados na bibliografia que se resume no Quadro 4:

Designação Autores Área Geográfica

Horizonte Temporal

Tamanho das células Data input Licença

CLUE - (Conversion of Land Use and its Effects)35

(Verburg e Overmars,

2007)

Malásia e Filipinas

Entre 10 e 20 anos

1 km x 1km (no geral)

uso do solo, dados climatéricos, altimetria, dados sócio-economicos

Versão Demo

CUF-2 (California Urban Futures)

(Landis e Zhang, 1998)

Baía de S. Francisco, Califórnia,

EUA

10 anos 100m x 100m

uso do solo, acessibilidade,

vizinhança, politicas de planeamento

-

BabyLOV36 (White et al., 2004) Holanda 10 anos 500m x 500m

uso do solo, acessibilidade,

vizinhança, politicas de planeamento

Versão Demo

DUEM ( Dynamic Urban Evolutionary Modelling)37

(Batty e Xie, 2005)

Várias cidades

americanas

Entre 15 e 25 anos

300m x 300m (no geral)

uso do solo, transporte, vizinhança, politicas de planeamento, restrições

Download Grátis

MOLAND38 (Engelen et al., 2007) europeias

Entre 30 e 50 anos

Definido pelo utilizador

uso do solo, aptidão, acessibilidade,

vizinhança, zonamento

Versão Demo

SLEUTH39 (Dietzel e Clarke, 2007)

Cidades americanas; europeias

Entre 20 e 30 anos

100m x 100m (no geral)

Declives, uso do solo, áreas urbanas, áreas de exclusão, rede viária,

relevo sombreado

Download Grátis

Quadro 4. Modelos AC no domínio da simulação de cenários de expansão urbana

e alterações no uso do solo

A escolha do modelo SLEUTH40 nesta investigação foi orientada por várias

considerações. Primeiro, porque é um software de livre acesso (open source) e qualquer

utilizador pode fazer o respectivo download na página do projecto Gigalopolis41. Para

além do mais, existe um fórum de debate para os utilizadores que queiram esclarecer

duvidas acerca da instalação e funcionamento do software42. Em segundo lugar, o

SLEUTH dá ênfase especial na resistência do terreno, que é essencial para compreender

o desenvolvimento urbano num ambiente de montanha. Finalmente, o SLEUTH não só

simula o crescimento urbano, como fornece várias maneiras de interpretar as regras de                                                             35 Mais informação em: http://www.cluemodel.nl/ 36 Mais informação em: http://www.lumos.info/environmentexplorer.php 37 Mais informação em: http://www.casa.ucl.ac.uk/software/duem.asp 38 Mais informação em: http://www.riks.nl/projects/MOLAND 39 Mais informação em: http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/v2/About/about.htm 40 A justificação da escolha do modelo foi apresentada - HENRIQUES, P. (2010) Scenarios of urban

sprawl using GIS and cellular automata. IJUP 2010. Porto. 41 http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/v2/Dnload/download.htm 42 http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/v2/Discuss/discussion.htm

85 

transformação, como ajustar os coeficientes de crescimento, a criação de rede viária e

mudar a sua gravidade, e definir as áreas de exclusão, que tornam uma ferramenta

bastante razoável para comparar os cenários de planeamento de alternativas.

3.2.1. Princípios do modelo  

O SLEUTH é um software opensource e disponível ao público na página do

projecto Gigalopolis já referido anteriormente. As últimas versões do modelo estão

disponíveis na página, assim como o seu antecessor o Urban Growth Model (UGM)43.

A versão utilizada para este ensaio, é a mais recente, designada como

SLEUTH3.0Beta_p01 Linux, que saiu em Junho de 2005. Esta versão funciona no

Linux, Unix ou em sistemas operativos semelhantes, como o Cygwin.

SLEUTH é o acrónimo de “Slope, Land Use, Exclusion, Urban Extent,

Transportation and Hillshade” (Declive, Uso do Solo, Áreas Não Urbanizáveis, Áreas

Urbanas, Infraestruturas de Transporte, e Exposição Solar), que correspondem à

informação de base que o modelo necessita (Silva e Clarke, 2005).

O SLEUTH é um software de autómatos celulares, e como tal:

- é constituído por um espaço a que cada célula apresenta um estado (declives,

áreas urbanas....);

- as relações de vizinhança são feitas com as oito células contíguas;

- é composto por um conjunto de regras de transição (diffusion, breed, spread,

slope, roads);

- evolui ao longo de um período temporal sincrónico definido pelo utilizador

(dia-a-dia, ano-a-ano, década-a-década...)

Para que o modelo possa correr e os resultados sejam estatísticamente

significativos o SLEUTH requer cinco entradas de informação que no mínimo

contenham:

- quatro ficheiros contendo áreas urbanas, correspondentes a quatro anos

diferentes distribuídos ao longo do período do tempo que se pretende estudar;

- dois ficheiros com a rede viária para dois períodos temporais diferentes;

- um ficheiro contendo declives;

                                                            43 Antes do SLEUTH adicionar a componente que simula a alteração do uso do solo, o Deltraton, era

conhecido por UGM, que simula apenas o crescimento urbano

- um ficheiro contendo áreas não urbanizáveis;

- um ficheiro correspondente ao relevo sombreado, que será usado como base

onde se simulará o crescimento urbano;

O crescimento das áreas urbanas é o resultado de quatro regras de crescimento

que são aplicadas aos ficheiros anteriores e que serão analisados no sub-capítulo

seguinte:

- crescimento espontâneo

- crescimento difuso e origem de novos centros urbanos;

- crescimento orgânico;

- crescimento influenciado pela rede viária

Para além destas regras de crescimento, o modelo contém ainda um segundo

nível de regras de comportamento: as self-modification rules.

A urbanização no SLEUTH resulta a partir de vários elementos activos

(armazenados como arquivos): uma “semente” do arquivo urbano com a ocupação

urbana mais antiga, e pelo menos dois mapas viários que interagem com uma camada de

declive topográfico, a fim de permitir a geração de novos núcleos a expansão dos

existentes. Além dos declives, um mapa de restrição ou exclusão representa reservas

naturais e/ou agrícolas que impedem o desenvolvimento, quer com probabilidades ou

critérios rígidos. A ponderação da layer raster da rede de transportes permite uma

hierarquia de valores diferentes que influencia a urbanização de diferentes formas,

direcções e intensidades. A layer final, normalmente o relevo sombreado, é necessária

como um fundo cartográfico para a visualização dinâmica de urbanização.

O modelo funciona da seguinte maneira: após a leitura das layers de entrada, a

inicialização de números aleatórios e parâmetros de controle, um número predefinido de

interacções ocorre que corresponde ao mesmo número de anos. Um loop executa cada

história de crescimento e mantém dados estatísticos, enquanto executa um loop interno

as regras de crescimento para um único ano.

3.2.2. Dinâmicas de crescimento urbano simuladas  

- Crescimento espontâneo:

Define a ocorrência de urbanização aleatória do solo. No âmbito do autómato

celular, isso significa que qualquer célula não urbanizada na grid tem uma certa

probabilidade de se tornar urbanizada em qualquer espaço de tempo. No SLEUTH esta

87 

função de crescimento é controlada pelo coeficiente dispersion o qual regula o número

de vezes que a célula será aleatoriamente seleccionada e pelo coeficiente slope que

determina a probabilidade ponderada do declive local.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 30. Ilustração do crescimento espontâneo

- Crescimento difuso e origem de novos centros:

Nesta etapa determina-se qualquer uma das novas células urbanizadas

espontaneamente se tornará um novo centro urbano. O coeficiente breed define a

probabilidade para cada nova célula urbanizada para se tornar um novo centro de

expansão, dadas duas células vizinhas também estão disponíveis para urbanização, e o

coeficiente slope determina a probabilidade ponderada do declive local.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 31. Ilustração do crescimento difuso e origem de novos centros

 

- Crescimento orgânico:

define a parte do crescimento que provém dos centros de expansão existentes.

Se uma célula não-urbana tem pelo menos três células vizinhas urbanizadas, tem uma

certa probabilidade global de se urbanizar definida pelo coeficiente spread, dado que é

possível construir sobre a célula (coeficiente slope).

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 32. Ilustração do crescimento orgânico

- Crescimento influenciado pela rede viária:

é determinado pelas infra-estruturas de transporte, bem como a urbanização

mais recente. Com uma probabilidade definida pelo coeficiente breed, as células recém-

urbanizadas são seleccionadas e a existência da rede viária é procurada na vizinhança.

Se uma via é encontrada dentro de um determinado raio máximo (determinado pelo

coeficiente road gravity) da célula seleccionada, uma célula urbana temporária é

colocada no ponto da estrada que está mais próximo da célula seleccionada. Essa célula

temporária realiza um passeio aleatório ao longo da via onde o número de passos é

determinado pelo coeficiente dispersion. A localização final desta célula urbana

temporária é então considerada como um novo núcleo expansão urbana.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 33. Ilustração do crescimento influenciado pela rede viária

 

- Coeficiente dos declives:

O coeficiente slope influencia cada um dos quatro tipos de crescimento e é

constante em todo o ciclo de crescimento. Se o coeficiente é alto, as encostas íngremes

são menos propícios a urbanizar. Á medida que o coeficiente se aproxima de zero, um

aumento no declive local tem menos efeito sobre a probabilidade de urbanização.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 34. Ilustração do comportamento do coeficiente do declive na modelação

89 

- Self-modification rules:

Um segundo nível de regras de crescimento, designado de self-modification

rules é motivado por uma taxa de crescimento excepcionalmente alta ou baixa. A taxa

de crescimento é a soma dos quatro tipos diferentes de crescimento definida pelo

modelo para cada tipo de ciclo de crescimento ou ano.

Os limites CRITICAL_HIGH e CRITICAL_LOW (definidos no Scenario_file)

lançam um aumento ou uma diminuição em três parâmetros de controlo de crescimento:

a dispersão, difusão e expansão. Se a taxa de crescimento for superior ao

CRITICAL_HIGH, os coeficientes são aumentados por um multiplicador superior a um:

BOOM. Este aumento imita a tendência de um sistema de expansão para crescer cada

vez mais rapidamente. Se a taxa de crescimento cai abaixo do CRITICAL_LOW, os

coeficientes são reduzidos em um multiplicador inferior a um, BUST, fazendo com que

o crescimento desapareça tal como acontece num sistema em depressão ou saturação.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 35. Ilustração do crescimento através das regras de self-modification

No termo self-modification os valores do coeficiente aumentam mais

rapidamente no início de uma simulação de crescimento, quando ainda existem muitas

células disponíveis para urbanização e quando a taxa de crescimento é superior ao

CRITICAL_HIGH. Os coeficientes são reduzidos como fora dos níveis de expansão e a

taxa de crescimento cai abaixo do CRITICAL_LOW.

3.2.3. Informação geográfica necessária  

Como já foi dito anteriormente, o SLEUTH requer cinco entradas de

informação que no mínimo contenham:

- quatro ficheiros de áreas urbanas

- dois ficheiros com a rede viária

- um ficheiro contendo declives;

- um ficheiro contendo áreas não urbanizáveis;

- um ficheiro com o relevo

Estes ficheiros são criados em ambiente SIG44 e depois convertidos para

formato GIF-8 bits). Primeiro foi necessário determinar o valor do píxel, para criar os

ficheiros raster. Após consulta de bibliografia especializada (Hengl, 2006), e por

experiências efectuadas45, chegou-se ao valor de 20m por píxel.

Para todas estas layers, 0 é um valor nulo, enquanto todos os valores entre 1 e

255 são valores medidos. O modelo também exige que as layers de entrada tenham o

mesmo número de linhas e colunas46 e que estejam correctamente georreferenciadas, já

que o SLEUTH é sensível aos dados incorrectos.

3.2.3.1.Declives  

O ficheiro de imagem dos declives foi derivado através do TIN (Triangulated

Irregular Network)47, mas outras fontes podem ser utilizadas. O valor das células dos

declives deve ser apresentado em percentagem e não em graus.

Valores dos pixels 0-100

                                                            44 Através do software Arcgis 9.2, fizemos a conversão dos ficheiros vectoriais para raster e

posteriormente, utilizamos o comando export data, para a transformação em gif . 45 Testaram-se os valores de 50, 40 e 30m por píxel, mas a resolução do raster não tinha qualidade

suficiente, onde muitas áreas vectoriais desapareciam aquando da passagem para o raster. 46 Os rasters criados possuem 1550 x 969 (linhas x colunas) 47 Através do comando 3D Analyst do Arcgis 9.2

91 

Fonte: CMCB 2010, tratamento próprio

Fig. 36. Declives

 

3.2.3.2.Áreas de exclusão  

A layer das áreas de exclusão ou áreas não urbanizáveis, define todos os locais

que impossibilitam ou condicionam a urbanização. Áreas onde o desenvolvimento

urbano é considerado impossível, como nos parques nacionais ou lagos por exemplo,

são dado um valor de 100 ou superior. Locais que estão disponíveis para o

desenvolvimento urbano têm um valor de zero (0).

Os pixels podem conter qualquer valor entre (000-100), e se a representação da

exclusão parcial de uma área for desejada – zonas aquáticas desprotegidas podem ser

um exemplo: o desenvolvimento urbano não é provável, mas não há zonamento para o

impedir.

Nesta investigação definiu-se como áreas de exclusão as áreas incluídas na

Carta de Condicionantes estabelecidas na revisão do PDM de Cabeceiras de Basto que

correspondem à RAN e à REN, e também foram incluídos os espaços não urbanizáveis.

Valores do píxel: 0 = não exclusão 0 < n < 256 = exclusão

Fonte: PDM 2008, tratamento próprio

Fig. 37. Áreas de exclusão (a branco)

 

3.2.3.3.Áreas urbanas  

A extensão urbana para o ano de início é usado para iniciar o modelo e é a base

para o crescimento urbano. Para a calibração, a primeira área urbana (ano) é usado

como semente e as camadas urbanas subsequentes, ou anos de controlo, são usados para

medir vários valores estatísticos mais adequados. Por esta razão, pelo menos, para obter

uma indicação acerca das dinâmicas do crescimento urbano, o modelo necessita no

mínimo de quatro ficheiros contendo áreas urbanas, correspondentes a quatro anos

diferentes ao longo do período de tempo que se pretende estudar. O modelo requer

apenas uma classificação binária de urbano / não urbano.

Para a geração das manchas urbanas, inspirou-se no trabalho de SIlva et al.,

(2009) através do conceito de patch, onde a construção da base cartográfica não se

baseou nos objectos “edifícios”. Os edifícios apenas serviram de base à construção de

uma unidade espacial derivada, a mancha edificada. Neste contexto, os patches foram

definidos como manchas poligonais onde ocorrem edifícios.

93 

As áreas urbanas utilizadas na nossa investigação correspondem aos anos de

1995, 2003, 2005 e 2008. Os anos de 199548, 200349, 200550 e 200851 resultam da

vectorização de ortofotomapas.

Valores do píxel: 0 = não urbano 0 < n < 256 = urbano

Fonte: Virtual Earth, 2007; CMCB, 2008, tratamento próprio

Fig. 38. Áreas urbanas 2008 (a branco)

3.2.3.4.Rede viária  

A inclusão da rede viária é muito importante para assegurar a calibração do

modelo, já que a rede de transporte têm grande influência no desenvolvimento de uma

região. O SLEUTH simula a tendência do desenvolvimento urbano a ser atraído para os                                                             48 Ortofotos do Centro Nacional de Informação Geográfica 49 Ortofotos da Edinfor, S.A. 50 Ortofotos cedidas pelo Município 51 Vectorização a partir da ortofotos de 2007 do Microsoft Virtual Earth, mais as actualizações de 2008

efectuadas pela Divisão de Planeamento da Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto

locais de maior acessibilidade. Para incluir este efeito na calibração, diversas camadas

viárias que mudam com o crescimento da cidade ao longo do tempo, são desejáveis. O

SLEUTH será inicializado com a camada rodoviária mais antiga. Com os ciclos de

crescimento, ou "tempo", a passar a data de uma camada rodoviária mais recente é

atingida, a nova camada será lida e desenvolvimento irá continuar a partir daí. As

imagens da rede rodoviária podem ter valores relativos ou ser binárias (estrada / não

estrada) como foi aplicado neste estudo.

A rede viária para implementar no SLEUTH foi conseguida através da

cartografia do município de Cabeceiras de Basto. Esta base de dados corresponde aos

anos de 1995 e 2008 e apresenta a rede viária base (municipal e nacional), auto-estrada

e vias propostas (Variante do Tâmega).

Valores do píxel: 0 = não estrada 0 < n < 256 = estrada

Fonte: CMCB, 2008, tratamento próprio

Fig. 39. Rede viária 2008

 

 

95 

3.2.3.5.Relevo sombreado  

A fim de contextualizar espacialmente os dados da extensão urbana, uma

imagem de fundo é incorporada como imagem de saída. Esta deve ser uma imagem em

tons de cinza, e o relevo sombreado52 derivado do MDT é usado frequentemente.

Fonte: CMCB 2010, tratamento próprio

Fig. 40. Relevo Sombreado

3.3.Calibração do modelo

A calibração do modelo SLEUTH baseia-se em três fases de calibração

distintas. Uma primeira fase de resolução grosseira, uma segunda fase de resolução

média, e uma terceira fase de grande resolução. Em cada fase de calibração os

resultados das treze métricas são ordenados extraindo-se as cinco métricas que

sintetizam o comportamento do sistema para que se possa iniciar a próxima fase de

calibração.

                                                            52 Através do comando 3D Analyst – Hillshade do Arcgis 9.2

O modelo utiliza quatro ficheiros com informação distinta, e as treze métricas

disponíveis, da interacção entre ficheiros e métricas o modelo efectua um conjunto de

combinações por cada célula, esse conjunto de combinações é da ordem dos milhares, e

desta forma testam-se todas as combinações de valores que reflectem as regras de

crescimento/comportamento num espaço inicialmente mais ‘simplificado’, obtendo

valores mais refinados, que depois são novamente testados e detalhados num espaço

geográfico mais pormenorizado, e assim sucessivamente. Este modo faseado de

ajustamento às características locais é fundamental para uma boa performance do

modelo, diminuindo por exemplo o tempo de processamento.

A análise da variação dos valores ao longo das três fases de calibração permite

verificar como se comportam os diversos elementos a várias escalas, como progridem,

qual o seu grau de variação e qual o seu grau de importância no comportamento do

sistema; até aspectos de maior detalhe como sejam a variação do grau de agregação ou

segmentação do sistema em função da escala de análise e qual a direcção e o

crescimento médio tendencial.

Por limitações técnicas para a calibração do modelo SLEUTH para Cabeceiras

de Basto só foi possível efectuar a primeira fase de calibração anteriormente descrita.

Nesse processo os ficheiros têm a dimensão mínima das células de 20x20 metros, com a

dimensão do ficheiro raster de 1550x969 (número de linhas e colunas).

Durante a calibração53 o modelo aplica todas as combinações possíveis dos

valores dos coeficientes de crescimento (de 0 a 100) para o conjunto de dados. É criado

no output um arquivo de log que regista várias estatísticas diferentes, e cada estatística

reflecte a precisão com que combinações de variáveis de crescimento, espelham as reais

alterações urbanas, entre os anos consecutivos registados.As variáveis foram

seleccionadas utilizando a métrica de Lee-Salee54.

O processo depois de concluído produziu um conjunto final de cinco

coeficientes de crescimento:

Diffusion Breed Spread Slope resistance Road gravity

2 5 20 51 5

                                                            53 O processo de calibração foi executado no Cygwin entrando na pasta Scenarios, através do comando

manual grow.exe calibrate 54 Um índice de forma, uma medida de ajuste espacial entre o crescimento do modelo e na extensão

urbana conhecida para os anos de controlo:

http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/v2/About/dtDtControlDefine.htm#leesallee

97 

3.4.Cenários de expansão urbana para 2021 e 2030

A criação de cenários é o corolário do processo que vimos de apresentar, em

que os dados resultantes da calibração, são introduzidos no modelo para que seja

possível extrair cenários de crescimento urbano do concelho de Cabeceiras de Basto.

Para efectuar a simulação é necessário entrar na pasta Scenarios, e abrir o

ficheiro Cabeceiras_predict55 através do Notepad++, onde se editaram os dados para a

previsão.

O ficheiro traz por defeito, todos os parâmetros necessários à simulação, sendo

necessário alterar os valores que correspondem ao estudo em causa. Foram alterados os

caminhos de input e output dos ficheiros de entrada e saída, e de seguida inseriram-se os

valores dos coeficientes gerados na calibração, no Prediction_coeficiente_best_fit. No

prediction start_date colocou-se 2009 e no stop_date 2030.

Através do Cygwin56 dá-se início ao processo de simulação que está

representado na Fig. 41.

Fonte:Projecto Gigalopólis, 2010

Fig. 41. Modelo conceptual do processo de simulação do SLEUTH

                                                            55 Criado através do Demo200_predict que vem no programa, e alterou-se os dados em função dos nossos

dados 56 O processo de simulação foi executado no Cygwin entrando na pasta Scenarios, através do comando

manual grow.exe predict

Para este trabalho foi efectuada a modelação do crescimento urbano a partir do

ano de 2009 (Fig. 42) e até ao ano 2030, onde se assumiu como a impossibilidade de

urbanização na REN e na RAN e nas áreas exteriores aos espaços urbanizáveis. O

modelo produziu uma imagem de output para cada ano, a partir do ano “seed” de 2008,

criando um total de 22 imagens57.

Na Fig. 42 os pixels urbanos existentes do ano de entrada (2008) são indicados

a amarelo. Aos pixels que correspondem a espaços urbanizados durante o processo de

previsão são atribuídas cores com base na probabilidade percentual de urbanização para

o pixel, sendo que para os fins deste exercício os ajustes de cor para os pixels simulados

são os descritos abaixo (Quadro.5).

Cor do píxel Probabilidade de urbanização

Verde 1 % a 29%

Azul 30% a 59%

Laranja 60% a 79%

Vermelho 80% a 100%

Amarelo Tecido urbano existente

Fonte: SLEUTH, ficheiro Predict

Quadro 5. Definições de cor aplicadas pelo SLEUTH para denotar as

probabilidades do píxel para urbanização

                                                            57 As imagens são criadas na pasta Output

99 

 

Fig. 42. Simulação da expansão urbana para 2009

Para os primeiros anos, o período de modelação é claramente curto para activar

a simulação do crescimento perceptível a esta escala, mas em 202158 (Fig. 43), são

apresentadas diferentes classes de crescimento urbano: a verde correspondente a novos

núcleos urbanos e crescimentos médios e a vermelho o que é equivalente a

probabilidades elevadas de ocorrer urbanização.

A maior probabilidade de crescimento corresponde às áreas imediatamente

contíguas aos núcleos mais tradicionais, sendo visível a expansão ao longo das franjas

urbanas, ainda que com uma probabilidade de urbanização no intervalo 30% a 59%

verificando-se ao mesmo tempo o preenchimento dos espaços intersticiais das áreas

urbanas com mais destaque nas vilas de Cabeceiras de Basto (1) e do Arco de Baúlhe

(2), onde este processo de colmatação urbana apresenta uma probabilidade de

ocorrência bem maior (entre os 60 a 80%).

Em 203059, na imagem final da simulação (Fig. 44), já se observam evidências

de alta probabilidade de transição urbana de um número maior de píxels, com a maioria

dos nós peri-urbanos a exibir crescimento de ponta à medida que os aglomerados

urbanos ficam sem espaço interno para preencher, como é o caso da vila sede do

concelho (1), cuja expansão se verifica que tende a ocorrer para Sudeste.

Fonte: SLEUTH, ficheiro avg.log

Gráfico 4. Total de píxels urbanos nos anos de 2009, 2021 e 2030

                                                            58 Escolhemos a data de 2021, por ter o mesmo intervalo temporal anteriorrnente analisado (13 anos) 59 Na nossa opinião, e baseados em outras investigações, 22 anos, já será um período temporal suficiente

para mostrar resultados visíveis ao nível de expansão urbana

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

2009 2021 2030

nº píxels urbanos

nº píxels urbanos

101 

Fig. 43. Simulação da expansão urbana para 2021

Fig. 44. Simulação da expansão urbana para 2030

103 

Um dos aspectos que parece realçar das imagens é o facto da cor vermelha ter

predominância no eixo entre Cabeceiras de Basto e Arco de Baúlhe, o que indicia que,

no futuro, sem condicionantes ao nível do planeamento, a maior intensidade das

pressões urbanas possam ocorrer nessa área.

Entre as freguesias da Faia e Arco de Baúlhe verifica-se igualmente, uma

tendência para crescimento urbano a Sul (2). Relativamente à distribuição da mancha

urbana, verifica-se a expansão e consolidação dos aglomerados junto aos principais

eixos viários, como é o caso da EN 206 no Arco de Baúlhe e Faia (2) e em Cavez (3), da

EN 311 em Refojos de Basto, e na EN 205 entre Painzela e S. Nicolau (5). A mesma

situação se verifica nas Estradas Municipais nº 519 em Outeiro (6) e nº 524 e nos

arredores da vila de Cabeceiras de Basto, ainda dentro da freguesia de Refojos (7).

No entanto, estes eixos são caracterizados por vários espaços vazios que

impedem a consolidação de corredores urbanos continuados, verificando-se da consulta

da Carta de Ordenamento do PDM, observa-se que a maioria destes espaços,

correspondem a espaços agrícolas. Tal como foi proposto no PDM, estão previstas

algumas UOPG’s, que acabam por preencher grande parte deste espaços intersticiais,

contudo ao consultar a Carta de Condicionantes, percebe-se que existem

incompatibilidades com a REN e RAN, principalmente com áreas desta última servidão.

Desta forma, olhando para os objectivos do plano e analisando as tendências

do crescimento urbano, pode-se deduzir que, dentro de 15 a 20 anos, os espaços

agrícolas no eixo Cabeceiras de Basto – Arco de Baúlhe irão estar sujeitos a grande

pressão urbanística. No oposto, será improvável que esta pressão recaia sobre os

espaços agrícolas e florestais na parte Norte do concelho, já que o PDM tem como

objectivo garantir a preservação e conservação destas áreas, potenciando-as para o

turismo.

Por outro lado, ao longo da Variante EENN 205/210, Variante do Tâmega e

A7, não se verificaram núcleos de crescimento urbano. Tal facto, será a consequência

destas vias estarem no exterior dos espaços urbanizáveis, impossibilitando desta forma,

o desenvolvimento de novos centros urbanos.

O caso das manchas urbanas que permaneceram estagnadas, sem especial

crescimento, pode explicar-se pelo facto de estarem inseridas em áreas de protecção ou

em espaços não urbanizáveis tal como definidos pelo PDM. A sua existência pode

justificar-se pela construção antiga, anterior aos registos de planeamento, edificação de

carácter ilegal ou constituírem obras de manifesto interesse público, cujo processo passa

pelo pedido de desafectação à REN ou RAN, como foi o caso da Pista de Aeronaves (8).

No Norte do concelho, nota-se que a expansão urbana será quase nula, facto

que se pode justificar pelas fracas dinâmicas demográficas e urbanísticas dos locais,

pela morfologia do terreno, elevadas áreas de exclusão e poucas áreas urbanizáveis.

Na simulação, globalmente, verifica-se o predomínio quase exclusivo do

crescimento de génese orgânica (influenciado pelo coeficiente spread), claramente

gerado pelos centros de expansão existentes (Quadro 6). O crescimento urbano

influenciado pela rede viária gerou apenas 6 píxels em 2009, 4 células em 2021 e em

2030 apenas 3. Olhando para estes valores, observa-se que a rede viária não influenciará

a expansão urbana, num cenário que muito provavelmente teria outro desfecho, se,

nomeadamente os traçados das novas variantes e da A7/IC5, estivessem incluídos em

áreas urbanizáveis.

Nesta leitura, verifica-se que o crescimento espontâneo e o aparecimento de

novos centros quase não contribuirão para o desenvolvimento das áreas urbanas,

provocada talvez pela reduzida dinâmica urbana do concelho, o que contrasta com o que

se verificará para as áreas metropolitanas, designadamente na AML (Silva 2002), onde

foi possível verificar um crescimento deste tipo, superior ao crescimento orgânico.

Fonte: SLEUTH, ficheiro avg.log

Quadro 6. Novos píxeis urbanos gerados por tipo de crescimento em 2009, 2018 e 2030.

Entre 2009, o primeiro ano de modelação, e 2030 o último, verifica-se um

aumento de 115%, de píxels urbanos60 (existentes e simulados), conforme mostra o

                                                            60 Entenda-se, com probabilidades de urbanização.

Ano Tipo de crescimento

Novas células urbanizadas

orgânico rede viária espontâneo novos centros

2009 870 6 1 0 877

2021 1119 4 1 0 1083

2030 993 3 1 1 998

105 

Gráfico 461. Assim em 2009 existem 19344 píxels, para 32020 em 2021, e cerca de

41595 em 2030. Apresentando os valores em áreas (Gráfico 5), em 2009 teremos

773,76 hectares de mancha urbana, 1280,8 em 2021 e na simulação para 2030, 1663,8

de hectares urbanizados.

Fonte: SLEUTH, ficheiro avg.log

Gráfico 5. Crescimento urbano entre 2009 e 2030.

Estabelecendo a comparação com o período anterior 1995-2008 (16,6%), o

período 2009-2021 revelou uma taxa de crescimento urbano de 65%, e de 2021 para

2030 de 29,9%. Estes valores parecem exagerados, justificados também pela existência

dos píxels com baixa probabilidade de urbanização (1% a 29%). Assim, de modo a que

se refinar esta taxa de crescimento, para uma maior aproximação à futura realidade,

seleccionaram-se apenas os pixels com elevada probabilidade de urbanização, ou seja,

entre os 80% e 100%.

Após a afinação dos resultados (Quadro 7), verifica-se que a tendência de

crescimento entre 2009 e 2021 já se aproxima mais do período 1995-2008, passando

dos 65% para 17,5%, enquanto no oposto, os valores do período 2021-2030 passam de

29,9% para 60%. Relativamente às áreas (Gráfico 6), o ano 2009 parte com o mesmo

valor (740,5 hectares), o ano de 2021 corresponde a 870,5 ha, e 2030 com 1393,5 ha.

                                                            61 Os valores representados no Gráfico 4, foram extraídos do ficheiro avg.log, gerado pela simulação.

Mais info em: http://www.ncgia.ucsb.edu/projects/gig/v2/About/dtDtAvgDefine.htm 

0200400600800

10001200140016001800

2009 2021 2030

crescimento urbano (em hectares)

(ha)

Analisando o intervalo 1995 - 2021 a evolução do crescimento urbano será de

tendência linear, mas a partir deste último ano, o crescimento será bastante acentuado

até 2030. Os valores relativos à ocupação da mancha urbana sobre a área total do

concelho desde 1995 serão os seguintes: 2,64% da área total do concelho em 1995,

2,06% em 2008, 3,59% em 2021 e em 2030 serão 5,76%.

Fonte: Reclassficação dos ficheiros cabeceiras_urban_2009, 2021, 2030

Quadro 7. Reclassificação das imagens simuladas de 2009, 2021 e 2030

Gráfico 6. Crescimento urbano entre 1995 - 2030 (reclassificado).

Concluída a modelação, verifica-se que a mancha urbana simulada para 2030,

tem os limites muito semelhantes aos dos perímetros urbanos62 que estão definidos

pelos instrumentos de planeamento, ou seja, a maioria dos espaços urbanizáveis são

preenchidos, embora no Norte do concelho com menos proeminência, obedecendo

                                                            62 Estes estão representados na Fig. 37 a cor preta.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1995 2009 2021 2030

Crescimento urbano entre 1995 - 2030 (hectares)

Mancha urbana

Ano píxels urbanizados (80 a 100%)

nova área urbanizada (ha)

área total urbanizada (ha)

2009 0 0 740,5

2021 3255 130,2 870,5

2030 13076 523 1393,5

107 

assim ao crescimento simétrico e homogéneo que parte dos núcleos urbanos já

existentes.

Á medida que os anos vão passando observa-se a queda da percentagem de

novos píxels urbanos por ano (grow rate)63, que se pode justificar pelo essencialmente

esgotamento das áreas urbanizáveis ao longo do tempo, ou seja, pela mancha urbana

atingir os limites dos perímetros urbanos (Gráfico 7).

Fonte: SLEUTH, ficheiro avg.log

Gráfico 7. Percentagem do grow rate entre 2009 e 2030.

Este cenário, construído metodologicamente da forma que apresentamos,

aponta para a necessidade de se considerar, num contexto mais alargado e mais

complexo de previsão, a probabilidade de ocorrerem alterações dos instrumentos de

planeamento, face à importância das condicionantes na determinação da mancha

urbanizável. Será esse, de resto, uma das possíveis utilidades da metodologia e da sua

componente que se prende com a definição de cenários: definir quadros prováveis,

permitindo uma intervenção que favoreça a construção de um futuro desejável face

aquele que se afigura como o mais provável se nada ocorrer que o altere.

                                                            63 Percentagem anual dos novos píxels urbanos dividido pelo total de pixels urbanos 

0

1

2

3

4

5

2009 2021 2030

grow rate

109 

´

Capítulo 4

111 

4. Considerações finais

Neste capítulo final, o trabalho realizado com incidência em Cabeceiras de

Basto é avaliado nos termos da sua contribuição para a compreensão da relação entre o

planeamento territorial e a dinâmica urbanística, faz-se uma especial referência à

criação e análise dos cenários de expansão urbana, e em conclusão, apresentam-se

alguns comentários sobre a aplicação do SLEUTH tendo em conta trabalho de

investigação futuros.

Pretendeu-se que ao longo desta dissertação fosse possível avaliar a

contribuição do planeamento territorial na compreensão da estrutura actual do uso do

solo no concelho de Cabeceiras de Basto e em especial a sua influência no crescimento

das áreas urbanas.

Através da simulação de cenários com recurso à modelação com autómatos

celulares, aferiram-se as tendências de expansão urbana e consequentemente os seus

efeitos no território. A utilização destas tecnologias é importante quer pelo seu poder

explicativo dos fenómenos na evolução temporal e espacial, quer pela sua importância

para o apoio à decisão.

No domínio do planeamento, verifica-se que os planos tiveram grande

importância no crescimento urbano de Cabeceiras de Basto.

O Anteplano de Urbanização de 1953 contribuiu para definir a expansão e

solidificação da vila sede de concelho, além da sua dotação de alguns equipamentos.

Embora nem todas as suas propostas tenham sido concretizadas, teve no entanto um

papel fundamental como regulador do espaço intervencionado.

O PDM de 1995, entre outros aspectos, promoveu a determinação da RAN e

REN, estabeleceu as linhas orientadoras de zonamento concelhio, deu grande

importância à hierarquia dos lugares centrais, em especial à sede do concelho,

favorecendo a dotação e concentração de equipamentos, bem como a beneficiação,

diversificação e expansão da rede de infra-estruturas. Pretendeu também incentivar o

crescimento do sector secundário e terciário na actividade económica do concelho. Em

geral, parece ter sido um elemento essencial de política na modernização do concelho e

no ordenamento territorial, verificando-se que os objectivos propostos foram

alcançados, nalguns casos em associação com planos de pormenor que são lançados

logo após a sua aprovação. É o caso dos planos que dão origem à Zona Industrial de

Basto e que levam à consolidação e definição urbanística da Vila do Arco de Baúlhe e

da Vila Sede de Concelho.

O PDM e os PU e PP que se seguiram foram determinantes no crescimento

urbano do município, tanto na expansão como no processo de colmatação, corrigindo os

traços considerados negativos, como sejam a dispersão e a descontinuidade da mancha

construída.

A revisão do PDM, de 2008, propõe a expansão urbana e industrial na parte Sul

do concelho, considerando já os novos acessos (A7 e variantes) que vão servir as vilas

de Cabeceiras e Arco. Nesta linha de pensamento estratégico, são libertadas mais áreas

para urbanizar, incluindo através da consideração de UOPG’s, para as quais serão

elaborados planos de pormenor e de urbanização, mesmo se existem muitos espaços que

as integram e que entram em conflito com áreas da RAN e da REN. Globalmente, este

novo PDM continua muito restritivo, já que estas servidões ocupam grande parte do

território concelhio, quase 60 % da sua área total, condicionando significativamente o

processo de expansão urbana, sobretudo nas áreas mais a Sul, onde é maior a pressão

construtiva em áreas que coincidem com espaços onde os solos são de maior aptidão

agrícola.

O segundo objectivo do presente trabalho, está associado à simulação dos

cenários de expansão urbana e foi respondido através da instalação e utilização do

modelo SLEUTH. Para o seu funcionamento regular e para que os resultados fossem

estatisticamente significativos, foram criados em formato raster: quatro ficheiros

contendo áreas urbanas, dois ficheiros com a rede viária, um ficheiro contendo declives,

um ficheiro com as áreas de exclusão e um ficheiro correspondente ao relevo

sombreado.

Depois de inserir os rasters no modelo e introduzir os dados correspondentes à

calibração, o processo de simulação foi efectuado em ambiente LINUX (Cygwin),

resultando um total de 22 imagens correspondentes aos anos de 2009 a 2030 que

mostram como serão, provavelmente, as tendências do crescimento urbano para esse

período.

Na leitura dos resultados, verifica-se a expansão e consolidação do eixo

Cabeceiras de Basto - Arco de Baúlhe, assim como a de pequenos aglomerados

existentes junto aos principais eixos viários, como é o caso da EN 206, da EN 311 e na

EN 205. No entanto, no eixo Cabeceiras de Basto – Arco de Baulhe é de salientar a

existência de vários espaços “vazios” que impedem a consolidação de corredores

113 

urbanos continuados, sendo que, de acordo com o PDM em vigor, estão previstas a

elaboração de algumas UOPG’s, que poderão vir a permitir preencher grande parte

destes espaços intersticiais. Porém, sobrepondo estas unidades com a Carta de

Condicionantes, percebe-se que subsistem incompatibilidades com a REN e RAN.

Avaliando os objectivos do PDM e analisando as tendências do crescimento

urbano, pode-se deduzir que, dentro de 15 a 20 anos, os espaços agrícolas existentes no

eixo Cabeceiras de Basto – Arco de Baúlhe (e eventualmente outros) irão estar sujeitos

a grande pressão urbanística, contrastando com os espaços agrícolas e florestais na parte

Norte do concelho, que muito provavelmente irão continuar imunes a essa pressão, onde

o PDM apoia a sua preservação e conservação e dificulta a construção.

Os valores obtidos mostram que o crescimento urbano simulado será sobretudo

de tipo orgânico, realizado a partir das áreas de expansão recente, ao contrário de outros

tipos de crescimento (espontâneo e difuso) que não terão, segundo os resultados,

influência relevante na expansão urbana. A rede viária também não terá grande

influência, embora o cenário possa alterar-se, se os traçados das novas variantes e da

A7/IC5, passarem a estar incluídos nas áreas urbanizáveis, ou por outro lado, se foram

construídas novas vias durante o período simulado.

Após o afinamento dos resultados da simulação, seleccionando apenas os

pixels com probabilidades altas de urbanização (80 a 100%), verifica-se para o período

2009 – 2021, uma tendência de crescimento urbano de 17,5%, valores bastante

próximos dos que se verificaram no período 1995 – 2008 (com 16,6%), enquanto os

valores do período 2021-2030 serão de 60%. Relativamente às áreas urbanizadas,

teremos em 2009 cerca 740,5 hectares, em 2021 870,5ha, e no ano final da simulação

(2030) 1393,5 ha. Avaliando globalmente a evolução do crescimento urbano entre 1995

e 2030, teremos nos intervalos 1995 – 2008 e 2009 – 2021, um crescimento linear e

bastante semelhante, mas a partir de 2022 até 2030 verifica-se uma tendência para um

boom urbanístico.

O ensaio desta simulação trouxe resultados bastante animadores, já que

permitem a demonstração das tendências do crescimento urbano, embora a mesma

possa ser afinada por estar limitada apenas a uma fase de calibração. Ao demonstrar

essas tendências, este tipo de modelo pode constituir uma importante ferramenta no

apoio à decisão, na medida em que indica quais serão os espaços no futuro, com maior

probabilidade de estarem sujeitos à pressão urbanística, e consequentemente, poder

auxiliar os planeadores e decisores no desenho e aprovação das futuras áreas

urbanizáveis, ou no oposto, das áreas de protecção.

A aplicação do modelo SLEUTH no concelho de Cabeceiras de Basto pode,

desta forma, demonstrar a importância e aplicabilidade da modelação com recurso a

autómatos celulares no apoio ao planeamento e ordenamento do território.

Todavia, não pode ser esquecido que estes modelos têm as suas limitações,

sendo a principal, a incapacidade de lidar com processos de top-down, ou seja,

processos que envolvem decisões políticas, como por exemplo, os zonamentos, para

além do facto, do crescimento urbano estar condicionado por factores sócio-económicos

e demográficos que também não são constantes.

Os modelos não conseguem “prever” quais as decisões que irão ser tomadas

pelos planeadores do território e decisores políticos, daí a importância de, quando se

processam este tipo de simulações, se desenvolverem vários cenários para políticas

territoriais distintas, de modo a criar cenários alternativos, permitindo comparar custos e

benefícios de cada uma das escolhas, favorecendo uma melhor e mais bem

fundamentada prática do ordenamento territorial.

Não apenas no apoio à decisão, como em geral na investigação, existem

enormes possibilidades de futuro deste tipo de metodologias. Na sequência do ensaio

que foi realizado para Cabeceiras de Basto, sublinho a possibilidade de alargar o estudo

à utilização da outra componente do SLEUTH, o Deltraton, no domínio das alterações

do uso do solo; de aplicar o SLEUTH a outros contextos geográficos em Portugal, uma

cidade de grande dimensão, por exemplo; de simular a expansão urbana de períodos

anteriores até à actualidade, permitindo aferir as diferenças entre o real e o simulado e

explorar e refinar a simulação com diferentes cenários de planeamento.

 

115 

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117 

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