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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil
Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial
Bartos Batista Bernardes
Financiamento coletivo: Uma análise do comportamento do consumidor luso-brasileiro
em plataformas de crowdfunding
Recife, 2014
Bartos Batista Bernardes
Financiamento coletivo: Uma análise do comportamento do consumidor luso-brasileiro
em plataformas de crowdfunding
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional em Gestão Empresarial do
Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em
Administração da Faculdade Boa Viagem – DeVry
Brasil, como requisito parcial à obtenção do grau
de Mestre em Gestão Empresarial.
Orientador: Prof. Dr. Rafael Lucian.
Recife, PE
2014
Catalogação na fonte -
Biblioteca da Faculdade Boa Viagem, Recife/PE
B522f Bernardes, Bartos Batista. Financiamento coletivo: uma análise do comportamento do
consumidor luso-brasileiro em plataformas de crowdfunding /
Bartos Batista Bernardes. -- Recife : FBV /DeVry, 2014.
171 f.: il.
Orientador(a) : Rafael Lucian. Dissertação (Mestrado) Gestão empresarial -- Faculdade
Boa Viagem - DeVry.
Inclui anexo e apêndice.
1. Crowdfunding. 2. Produtos culturais. 3. Satisfação.
4. Lealdade. 5. Redes sociais. I. Título.
DISS
658[14.2]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
Dedico esta conquista ao Bom Jesus dos
Martírios, meu Padroeiro e eterno protetor.
Não há gestos, atitudes, palavras ou
pensamentos, por mais sublimes e
dignificantes que se apresentem; que sejam
capazes de expressar o meu sentimento de
gratidão por tantas maravilhas a mim
concedidas. Em meio às dificuldades e
tribulações, é a minha fé que me salva. E
mesmo ciente de que não sou digno de que
meu Pai adentre em minha morada, sei
também que basta uma só palavra sua, para
que eu seja plenamente salvo por seu imenso
amor.
AGRADECIMENTOS
Aos meus bisavós Luiz e Ana Pereira de Farias (ambos in memoriam), por me acolherem no
momento em que mais precisei.
À minha mãe Sandra Maria e minha tia-mãe-avó Margarida Farias (Dida). Duas guerreiras
obstinadas que sempre lutaram para que eu estudasse, me orientando e me amando com o
mais incondicional dos amores; e meus pais José Bernardes e Silvino Almeida, pela amizade e
conselhos ao longo da vida.
Aos meus avós Cidinha e Onildo Batista (este in memoriam); Zefinha Bernardes e Misael
Carlos (ambos in memoriam).
Aos meus irmãos Graco Almeida, mais do que presente em todos os momentos de minha
vida; e Raíza, Rodrigo, Lara e Irina Bernardes, por traduzirem à estranha e inexplicável força
que envolve os laços de sangue; e às minhas primas-irmãs Ingrid, Madge e Giselle Fechine.
Amo vocês da maneira mais gratuita e sincera que possa existir.
Ao meu afilhado Christopher Nicholas (Chris), por possuir o sorriso mais iluminado que eu já
conheci. Uma criança 100% do bem. Deus o abençoe, Tio Fié.
Aos tios Gisele Maria e Vicente Fechine (in memoriam), que me abrigaram em sua casa por
vários anos nos tempos de faculdade e onde sempre me senti como parte dela. Minha tia: Sou
parecidíssimo com você!
Aos meus tios Soraya Maria e Ubiracy Frutuoso; Marcos Ayala e Maria Lúcia; Benedito
Glauco e Solange Maria; Aldo Bernardes e Nilza Hipólito; Marcelo Farias e Socorro
Bernardes; pelas constantes manifestações de amor e consideração.
Às minhas primas Luanna Ayala, Ana Esther, Ana Emília, Raissa, Rebeca, e Lisandra; e aos
primos Luís Otávio, Lucas, Gustavo, Raimundo Thales e Galileu, pela amizade. Como é bom
ter família grande e saber que vocês existem em minha vida. Amo-os de verdade.
Aos amigos Antônio Carlos de Martins Mello Filho e Vitório Vagner Nunes Teixeira, que, há
mais de 20 anos, dividem comigo uma saudável, verdadeira e fiel amizade. Vocês são dois
irmãos que a vida me deu.
Aos queridos amigos-irmãos Marcelo Wild, Padre João Paulo, André Riccari, Glauco Victor,
Léo Sonim, Nevinha Ribeiro, Clóves Fernandes, Sérgio Matos, Dayse Batista, Elvis Costa,
João Emanuel (Mano), Gerusa Falcão, Railton (in memoriam), Edméia Marinho, Andresa
Batista, Kézia Silmara, Vanderlei Almeida, Herbert Vagner, Tayonara Batista, Luís Carlos
Gonzaga, Sayonara Falcão, Yaroslane Batista, Fátima Porto, Jacykelly Renata, Leca Meira e o
surpreendente João Morais, por me dispensarem tanto amor, respeito e amizade, estando mais
presentes do que tudo em meu cotidiano. O que seria de mim sem vocês?
Aos queridos professores de toda uma vida desde a primeira que foi Dona Santana, e os
demais como Luíra Freire, Damião de Lima, Raquel de Fátima, Nide, Eude, Alarcon e
Alberto Edvanildo. Vocês foram os mestres que marcaram a minha vida!
Aos colegas Marcílio, Paava, Renato França, Kléber Rodrigues e Viviane Teobaldo; e a
Professora Dr.ª Janaína Calazans, pela valorosa contribuição dada a este trabalho, com os seus
conhecimentos.
Aos colegas Brandão, Rosano, Marcelino, Marquinhos, Vianei, Daniel, Miguel Ângelo, Pedro
e em especial Gerson Ireno e Reginaldo Lima, por terem participado de minha defesa.
Aos admiráveis Mauro Pacheco, Chris, Camila Bresani, Renata, Daniela e Fátima Silva,
orientandos de Rafael, pela companhia diária no WhatsApp e por terem prestigiado a minha
apresentação final. Um forte abraço a todos vocês!
Aos companheiros e colegas de mestrado, indistintamente, por tanta manifestação de carinho
e amizade nesses dois anos. Em especial destaco os amigos Ademário, Augusto Ramos,
Emanuel Cajá, Cícero Carlos, David Arcoverde, e Lucieno Santos; por terem sido mais que
irmãos e deixado extrapolar essa amizade para fora dos muros da Faculdade. Lucieno, por
exemplo, além de seu coração, abriu as portas de sua casa para nos abrigar. És grandioso!
Ao grande Vagner, que paulatinamente foi demonstrando ser um grande e fiel amigo. Você
tornou o meu fardo mais leve ao dividir comigo a amizade, a pousada e a gasolina. Fostes um
grande companheiro nesses dois anos. Talvez, sem você, eu não teria chegado até o final.
Você foi mais do que um irmão. Juntos, vivemos e dividimos grandes histórias que ficarão
para toda uma vida.
Aos irmãos Kléber Santos e Geraldo Vale. No primeiro dia de aula, foram os dois que menos
gostei. No último dia, eram os dois que eu mais amava. Obrigado meus parceiros, por serem
grandiosos e compartilharem comigo tantos momentos bons, fosse em um churrasquinho na
calçada, fosse em um jantar no Entre amigos (Bode); Fosse dormindo no chão, fosse
hospedados em um bom hotel. Sinceramente eu não tenho palavras para demonstrar o quanto
gosto de vocês.
Às colegas e amigas Fabiane Veras, Sandra Amorim, Samara Cordeiro, Kilma Galindo e
Mônica Albuquerque, por definitivamente terem me tomado de assalto e roubado meu
coração. Uma pena que nossa aproximação tenha se dado já no final do curso. Porém, não
faltarão oportunidades, já que o maior dom da vida é nos reservar surpresas.
À Tainá Freitas, por sua imensa disponibilidade em ajudar a mim e a todos. Caçulinha da
turma e gigante de coração. Uma grande mulher, minha eterna amiga. Esteja sempre por perto
Taí, pois você é o maior ponto de interseção de nossa turma, um verdadeiro elo de amor,
respeito e amizade. Tens meu coração e sabes bem disso.
Às mais do que especiais Luciana Rosas, por jeito doce e inocente; Tatiana Costa, por seu
jeito obstinado e divertido; e Raíssa Campelo, por sua segurança e lindo sorrido. Como vocês
são importantes para mim! E quão sortudo sou eu de ter tido a chance de conhecê-las e de
compartilhar tamanha amizade.
À minha irmã Ana Júlia Miranda de Torres, por sua generosidade, por seu carinho e por seu
amor. Sempre tão querida e acolhedora. Abriu seu coração e me permitiu usufruir de parte
significativa dele. Você me fortalece. Amo você Naju!
À coordenadora Lúcia Barbosa, que mesmo em sua discrição e seriedade, sempre demonstrou
afeição e se dispôs a colaborar comigo no que foi preciso. Uma mulher de fibra!
À professora Dorinha, pelas caríssimas caronas rumo a João Pessoa, onde o seu elegante
Arthur sempre lhe esperava. Tive acesso a verdadeiras aulas moveis, compartilhando uma
série de conhecimentos nesse trajeto interestadual.
À professora Hajnalka (Haj), grande culpada por minha entrada no mestrado. Ela foi o meu
primeiro amor. A gente se separou durante a caminhada, passamos por uma fase um pouco
turbulenta, mas restabelecemos a amizade com muito respeito e carinho. Afinal de contas, o
primeiro amor a gente nunca esquece.
À Mãetora Sônia Maria Calado Dias. Ser acolhido no mestrado com uma aula dessa
professora foi como desfilar sobre o mundo num tapete mágico recheado de histórias,
experiências e notórios conhecimentos. Sônia tem uma inteligência rica sem ser esnobe. Ela é
regida pelo coração, e possui um lado humano ímpar, digno das verdadeiras estrelas, pois
antes de qualquer coisa ela se reconhece como gente e gosta de gente. E é por isso que a sua
estrela brilha, e como brilha! Sou fã.
À Rosana Reis, estimada secretária. Como eu dei trabalho a essa pessoa, que foi a primeira
que conheci durante esse processo! De sorriso fácil e ao mesmo tempo misterioso, ela
consegue ser uma verdadeira mãe para todos nós. Sou extremamente grato a você Rosana, por
tudo, mas principalmente por sua inalterada disponibilidade do início ao fim.
Aos quatro septuagenários mais jovens e inteligentes que conheço: Edvan Leite, Carminha
Diniz, Berenice Batista, e a poetisa Miracy Farias. Há, com certeza, algum segredo na
alimentação de vocês, que os faz manterem uma vitalidade e uma energia que eu, 40 anos
mais jovem, sinceramente não consigo acompanhar. Parabéns!
Aos portugueses Dr. Adelino Cardoso e Yoann Nesme, pela imensurável contribuição para
que este trabalho fosse possível de ser realizado em solo lusitano.
Ao Professor Dr. Marcus Augusto Araújo; e a Professora Dr.ª Rita de Cássia Faria Pereira;
pelos excelentes conselhos, tanto na qualificação quanto na minha defesa, culminando com a
riqueza deste estudo.
Ao meu competente orientador Dr. Rafael Lucian, pelo trabalho sério e compromissado,
sempre à disposição, com muita confiança e agilidade, sete dias por semana, vinte e quatro
horas por dia. Registro aqui toda a minha admiração pelo seu jeito absolutamente entregue de
se dedicar à profissão.
Ao incomparável Richard Júnior, de longe o maior responsável por esta minha conquista. Se
não fosse por você, esse projeto jamais teria se tornado realidade. Obrigado por torcer,
acreditar e fazer com que tantos dos meus sonhos fossem e sejam efetivamente realizados.
À Patrícia Lapa, que de tanto amor eu não tenho sequer palavras para qualificar, mas que fiz
questão de (in)diretamente homenageá-la na página 67 desta dissertação. Afinal de contas
você simplesmente surgiu e enfeitou minha vida com o seu sorriso doce e sincero; com seus
conselhos nobres e verdadeiros; com seu coração sensível e humano; e essa vontade absurda
de ser feliz. Obrigado minha Lapitxa!
“Nascemos para manifestar à glória do
universo que está dentro de nós. Não está
apenas em um de nós, mas em todos nós. E
conforme deixamos a nossa própria luz brilhar,
inconscientemente damos às outras pessoas,
permissão para fazer o mesmo”.
Nelson Mandela
RESUMO
Este estudo buscou compreender a relação entre o consumo de produtos culturais em
plataformas de crowdfunding na conquista da lealdade e satisfação dos consumidores luso-
brasileiros. Para Cocate e Pernisa Júnior (2011), o termo crowdfunding é usado para designar
sites de financiamento coletivo destinado à concretização de projetos, podendo ser culturais
ou pessoais. O referencial teórico apresenta esclarecimentos sobre produtos culturais,
lealdade, satisfação e consumo colaborativo nas redes sociais, conceituando-os e apresentando
as principais variáveis que os permeiam. A abordagem metodológica adotada foi a pesquisa
descritiva apoiada com levantamento de dados coletados junto aos apoiadores brasileiros e
portugueses nas principais plataformas de crowdfunding desses países, o Catarse e o PPL,
respectivamente. O método de análise foi descritivo, com testes não paramétricos de
hipóteses; estatística descritiva para obtenção das frequências e teste U de Mann-Whitney
para análise das variáveis. Concluiu-se, a partir das análises realizadas, que existe uma clara
relação entre o uso de plataformas de crowdfunding e a conquista da lealdade e satisfação dos
consumidores brasileiros e portugueses. Alguns antecedentes tiveram contribuições
específicas na influência desse comportamento, sendo a co-criação de valor e o sentimento de
pertença para a satisfação; e co-criação de valor, recompensa, e sentimento de pertença, para a
lealdade. A co-criação de valor e o sentimento de pertença, no entanto, destacaram-se por
atenderem ambas as ambições do marketing.
Palavras-chave: Crowdfunding, Produtos Culturais, Satisfação, Lealdade, Redes Sociais.
ABSTRACT
This study have sought to understand the relation between consumption of cultural products
in crowdfunding platforms in the conquest of loyalty and satisfaction of Portuguese and
Brazilian consumers. According to Cocate and Pernisa Júnior (2011), the term crowdfunding
is used to designate collective funding websites intended to achievement of projects, which
may be cultural or personal. The theoretical framework presents clarification about cultural
products, loyalty, satisfaction and collaborative consumption on social networks,
conceptualizing them and presenting main variables which permeate them. The
methodological approach adopted was the descriptive research supported by survey data
collected, together with Brazilian and Portuguese supporters in the main crowdfunding
platforms of these countries: the Catarse and the PPL, respectively. The analysis method was
descriptive, non-parametric tests of hypotheses; descriptive statistics for obtaining frequencies
and test Mann- Whitney analysis of the variables. It was concluded from analyzes, that exists
a clear relation between the use of crowdfunding platforms and conquest of loyalty and
satisfaction of Brazilian and Portuguese consumers. Some background had specific
contributions in influencing this behavior, being the co-creation of value and the sense of
belonging to the satisfaction; and co-creation of value, reward, and sense of belonging, for
loyalty . The co-creation of value and a sense of belonging, however, stood out by both meet
the marketing ambitions.
Key-words: Crowdfunding, Cultural Products, Satisfaction, Loyalty, Social Networks.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Convite à colaboração em projetos do Catarse. ........................................................ 41
Figura 2: Valores para apoios e recompensas atribuídas ao projeto viajo logo existo. ............ 41
Figura 3: Projeto bem-sucedido e registro dos apoiadores. ...................................................... 42
Figura 4: Página do Catarse com a banda musical dead fish e jogos de cartas pequenas igrejas,
grandes negócios. ..................................................................................................................... 43
Figura 5: Apresentação da página do PPL na web. .................................................................. 44
Figura 6: Estímulo ao crowdfunding dado pelo PPL. ............................................................... 45
Figura 7: Projeto de dança terapêutica - Biodanza no PPL. ..................................................... 45
Figura 8: Projetos da banda de música raiz portuguesa Dazkeirieh. ........................................ 46
Figura 9: Projeto do livro viajantes no PPL e recompensas oferecidas como estímulo à
contribuição. ............................................................................................................................. 46
Figura 10: Imagens dos álbuns dos cantores Daniela Mercury, Chico Buarque, Dulce Pontes e
Carlos do Carmo; produtos culturais respectivamente intitulados de Feijão com arroz,
Paratodos, Lágrimas, e disco homônimo onde foi lançada a canção gaivota. .......................... 56
Figura 11: Desenho operacional da pesquisa. .......................................................................... 80
Figura 12: As nove variáveis consideradas no levantamento de dados. ................................... 85
Figura 13: Projeto Mola Strucktural, no Catarse. ................................................................... 101
Figura 14: Antecedentes que conduzem à satisfação. ............................................................ 122
Figura 15: Projeto La casa de pandora no Catarse: leiaute e página de apoiadores. .............. 123
Figura 16: Ecobook no PPL. .................................................................................................. 124
Figura 17: Antecedentes que conduzem à resposta de lealdade. ............................................ 125
Figura 18: Recompensas disponibilizadas pelo dead fish, aos apoiadores do Catarse. ......... 126
Figura 19: Recompensas para o projeto fábrica das cores, do PPL. ....................................... 127
Figura 20: Projeto local Porto, do PPL. .................................................................................. 128
Figura 21: Antecedente que conduz tanto à satisfação quanto a resposta de lealdade. .......... 129
Figura 22: Projeto da banda batuntã, do Catarse. ................................................................... 130
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Confiabilidade da escala de satisfação pela TRI. ................................................... 113
Tabela 2: Confiabilidade da escala de lealdade pela TRI. ...................................................... 113
Tabela 3: Resultados do teste U de Mann-Whitney. .............................................................. 115
Tabela 4: Antecedentes que influenciam na satisfação pelo teste U de Mann-Whitney ........ 116
Tabela 5: Antecedentes que influenciam na lealdade pelo teste U de Mann-Whitney. ......... 117
Tabela 6: Interfaces entre os antecedentes que conduzem a satisfação à lealdade................. 119
Tabela 7: Objetivos específicos, métodos de análise e resultados. ........................................ 121
Tabela 8: Objetivo geral, métodos de análise e resultados. .................................................... 122
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Faixa etária dos respondentes. ................................................................................. 89
Gráfico 2: Gênero dos respondentes. ........................................................................................ 90
Gráfico 3: Nível de instrução dos respondentes. ...................................................................... 91
Gráfico 4: Regiões brasileiras participantes. ............................................................................ 92
Gráfico 5: Regiões portuguesas participantes. ......................................................................... 93
Gráfico 6: Forma de acesso às plataformas. ............................................................................. 96
Gráfico 7: Quantidade de apoios realizados. ............................................................................ 97
Gráfico 8: Produtos culturais mais apoiados. ........................................................................... 98
Gráfico 9: Vínculo entre realizadores e apoiadores.................................................................. 99
Gráfico 10: Valores investidos no crowdfunding. .................................................................. 100
Gráfico 11: A confiança como antecedente do crowdfunding. .............................................. 102
Gráfico 12: A recompensa como antecedente do crowdfunding. ........................................... 103
Gráfico 13: O benefício não-monetário como antecedente do crowdfunding. ....................... 104
Gráfico 14: A co-criação de valor como antecedente do crowdfunding. ............................... 105
Gráfico 15: O co-desenvolvimento como antecedente do crowdfunding............................... 107
Gráfico 16: O sentimento de pertença como antecedente do crowdfunding. ......................... 108
Gráfico 17: Percentuais de satisfação com o crowdfunding. .................................................. 108
Gráfico 18: Porcentagem de resposta à lealdade. ................................................................... 110
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Marketing de Produtos e Serviços. .......................................................................... 59
Quadro 2: Modelo DART. ........................................................................................................ 75
Quadro 3: Escalas de Satisfação e Lealdade. ........................................................................... 83
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
1.1 Contextualização ........................................................................................................... 16
1.2 Problemática de pesquisa ............................................................................................. 22
1.3 Objetivo geral ................................................................................................................ 27
1.4 Objetivos específicos ..................................................................................................... 27
1.5 Justificativas .................................................................................................................. 28
1.5.1 Justificativas teóricas ............................................................................................... 28
1.5.2 Justificativas práticas ............................................................................................... 30
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 31
2.1 O surgimento do crowdfunding na web ....................................................................... 31
2.1.1 Envolvendo os consumidores ................................................................................... 34
2.2 Crowdfunding: criando oportunidades ....................................................................... 35
2.2.1 A força do consumo colaborativo ............................................................................ 37
2.2.2 O crowdfunding no Brasil e o caso do website Catarse ........................................... 39
2.2.3 O crowdfunding em Portugal e o caso do website PPL ........................................... 44
2.2.4 A confiança como fator motivador .......................................................................... 47
2.2.5 O sentimento de pertença e a co-criação nas ações de crowdfunding...................... 48
2.3 O crowdfunding e os produtos culturais ...................................................................... 49
2.3.1 Qualificando os produtos culturais........................................................................... 51
2.3.2 O valor dos produtos culturais ................................................................................. 53
2.3.3 O produto cultural quanto a sua (in)tangibilidade ................................................... 54
2.3.4 O marketing a serviço dos produtos culturais .......................................................... 57
2.3.5 Produtos culturais e tecnologia da informação ........................................................ 61
2.3.6 Patrocínio aos produtos culturais ............................................................................. 62
2.4 Lealdade e satisfação do consumidor de produtos culturais .................................... 63
2.4.1 Lealdade e satisfação................................................................................................ 66
2.4.2 Focando na satisfação do consumidor ..................................................................... 67
2.4.3 Lealdade do consumidor virtual ............................................................................... 70
2.4.4 O cliente co-criador e co-desenvolvedor.................................................................. 71
2.4.5 Sentimento de pertença e benefícios não monetários .............................................. 77
3 MÉTODO DE PESQUISA ................................................................................................. 79
3.1 Delineamento da pesquisa ............................................................................................ 79
3.1.1 Desenho operacional de pesquisa............................................................................. 80
3.1.2 População e amostra ................................................................................................. 81
3.1.3 Instrumento de coleta de dados ................................................................................ 82
3.1.4 Coleta de Dados ....................................................................................................... 84
3.1.5 Hipóteses de pesquisa .............................................................................................. 85
3.1.6 Cuidados Metodológicos .......................................................................................... 86
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................... 89
4.1 Caracterização da amostra .......................................................................................... 89
4.2 Análise estatística ......................................................................................................... 94
4.2.1 Testes não paramétricos ........................................................................................... 94
4.2.2 SPSS ......................................................................................................................... 95
4.3 Estatística descritiva das variáveis .............................................................................. 96
4.3.1 Especificidades acerca das plataformas de crowdfunding ....................................... 96
4.4 A satisfação dos apoiadores de projetos no crowdfunding ...................................... 108
4.5 A intenção de lealdade dos apoiadores de projetos no crowdfunding .................... 110
4.6 Confiabilidade do instrumento .................................................................................. 112
4.7 Análises a partir do teste U de Mann-Whitney ........................................................ 114
4.7.1 Teste U de Mann-Whitney ..................................................................................... 114
4.7.2 Análise dos resultados quanto aos objetivos propostos para a pesquisa ................ 115
5 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 121
5.1 Limitações do estudo ................................................................................................... 132
5.2 Sugestões para pesquisas futuras .............................................................................. 133
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 134
APÊNDICE ............................................................................................................................ 142
ANEXOS ................................................................................................................................ 150
16
1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo serão abordados aspectos relevantes acerca do financiamento coletivo de
produtos culturais através de plataformas específicas disponibilizadas na web. O
crowdfunding, como é conhecido esse tipo de consumo colaborativo, quando associado a
construtos como satisfação e lealdade, bem como os antecedentes que conduzem a esses
temas, em contexto de produtos culturais, motivou a elaboração da pergunta de pesquisa e dos
objetivos geral e específicos que se pretende atingir, justificando teórica e praticamente a
realização desta pesquisa.
1.1 Contextualização
Diante dos novos formatos de consumo apresentados pelas mídias digitais na da web, eis que
surge o crowdfunding, um modelo de financiamento coletivo de projetos onde, através de
plataformas especializadas, seus autores buscam mobilizar pessoas interessadas em contribuir
financeiramente com os mesmos, de modo a concretizá-los.
Nesta pesquisa será discutido o financiamento coletivo de produtos culturais mediante a
avaliação desse modelo que vai de encontro aos trâmites burocratizados que,
costumeiramente, são necessários para pô-los em prática, face às exigências e resistências da
iniciativa privada e da própria esfera governamental, posto que possuem um papel bem mais
desestimulador do que incentivador. Será abordado o poder exercido coletivamente pelas
pessoas, geralmente comuns, averiguando como os fatores de satisfação e lealdade são
percebidos nesse contexto em que os colaboradores acabam sendo co-criadores de valor para
uma série de produtos inovadores.
Para Giuliani (2003) a lealdade pressupõe um horizonte de tempo maior de consumo, uma
relação mais aprofundada entre a empresa e o consumidor. A satisfação do consumidor, na
visão de Kotler (1998), está ligada às expectativas e ao desempenho percebido do produto, de
modo que se um produto não atende às expectativas do consumidor, ele fica desapontado, por
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outro lado, se atende o cliente fica satisfeito e quando excede a expectativa percebe-se um
encantamento, fato que impulsiona e/ou amplia a satisfação do consumidor.
Salvo as raríssimas exceções, a maioria das pessoas e até mesmo das empresas, de um modo
ou de outro, ainda dependem de financiamento para por em prática os seus projetos, sobretudo
quando relacionados à inovação, como é o caso dos produtos culturais. No entanto, para a
obtenção desse financiamento, urge a necessidade de um tipo de conquista, um
convencimento de que o projeto a ser custeado é interessante e resultará num produto com
grandes chances de sucesso para o público ao qual ele se destina. Desse modo, os
empreendedores, quer sejam instituições financeiras, quer seja o governo, ou até as pessoas
comuns, todos têm de aprovar o que se está sendo proposto, para que o investimento seja
efetivamente realizado.
Normalmente as instituições financeiras possuem linhas de crédito específicas destinadas às
empresas que necessitam de apoio para os seus projetos. Órgãos como o SEBRAE costumam
orientar as pequenas empresas, contribuindo para que elas se firmem no mercado. No entanto,
as aberturas dessas empresas estão condicionadas a todo um preparo prévio, um estudo
minucioso de mercado para certificar se este as comporta. Conforme citado pelo SEBRAE
(2014), “abrir e gerir uma empresa exige um conjunto de habilidades e conhecimentos. É
preciso entender o mercado, o público que se deseja atingir e planejar bem o negócio”.
Alguns produtos têm maior dificuldade do que outros para atrair financiamento. Se o produto
for novidade para o mercado, terá uma atenção redobrada quanto à liberação do
financiamento, pois ao ser percebido como algo inovador, trará consigo algumas incertezas
que poderão dificultar o processo de conquista de investidores. Captar fomento para um
produto que ainda não tem um histórico no mercado é delicado e por isso sofre restrições, pois
é mais comum que projetos já entendidos como certeiros sejam caracterizados como
empreendimentos apoiáveis, a exemplo de um carro arrojado de uma montadora já há muito
tempo consolidada no mercado.
Um exemplo de produtos com dificuldades de atrair financiamento são os culturais, por dois
grandes motivos: primeiro porque produtos culturais surgem a todo o tempo e de todo lugar,
até mesmo do mais inóspito e improvável; segundo, porque, em se tratando de produtos
culturais, subtende-se que estejam relacionados à inovação e como toda boa novidade, traz
consigo o fator empecilho chamado incerteza.
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Um produto cultural pode ser entendido como aquele que apresenta um caráter diferenciado e
inovador, como resultado de um projeto ligado a qualquer área do ramo artístico ou cultural, a
exemplo do cinema, teatro, música, pintura, literatura, dentre outros. Produtos culturais são
produtos de consumo, cujo valor agregado vem da introdução de características
diferenciadoras relacionadas à cultura e à arte (FARIA; GANGEMI, 2006).
Por se tratar de um produto, naturalmente ele terá o desafio de conquistar um mercado
consumidor, mediante técnicas de atração de um público cujo elo principal será a
identificação. Segundo Throsby (2008), tanto um bem quanto um serviço pode ser qualificado
como produto cultural, a depender do valor agregado que ele possui. Assim, para conquistar
esse público, além do valor natural que necessita apresentar ao mercado econômico, há que se
ter um valor agregado, que surge da identificação de um indivíduo ou grupo com aquele
produto específico, o que faz com que ele se distinga dos demais.
Os produtos culturais têm muita ligação com a arte. Atualmente há inúmeros empecilhos para
que um artista novo consiga se firmar no mercado. Mariuzzo (2004) mostra que existe uma
grande dificuldade para o artista em início de carreira e que a repercussão de seu trabalho,
geralmente, ocorre em longo prazo, o que acaba desestimulando novos talentos. O
financiamento público se dá de forma limitada. Fica difícil, por exemplo, concorrer com
artistas que já se estabeleceram e que já possuem seus nomes ligados às grandes mídias do
país.
Tradicionalmente os produtos culturais são financiados tanto pelo governo quanto pela
iniciativa privada. A Lei de Incentivo à Cultura (1991), batizada de Lei Rouanet é um
exemplo de incentivo dado pelo Governo Federal, que age mediante a captação de patrocínio
em troca de incentivos fiscais. Um dos principais objetivos da referida lei é contribuir para
facilitar os meios para o livre acesso às fontes de financiamento da cultura e o pleno exercício
dos direitos culturais. Porém, apesar de já contar com mais de duas décadas, grande parte dos
projetos contemplados com recursos dessa lei, sobretudo quando vinculados aos nomes das
grandes empresas brasileiras, envolve também artistas de grande expressão e consagrados no
cenário nacional, seja na dramaturgia, seja na música. De toda sorte, dificilmente um projeto
de um artista comum, ainda sem reconhecimento da mídia, conseguirá atrair grandes
empresas para acreditar em seus projetos mediante o uso dessa Lei.
Nesse contexto restritivo, é que surge uma alternativa proporcionada pelas ferramentas
dispostas na web. As plataformas de redes digitais advindas com a tecnologia da informação
19
trouxeram consigo opções interessantes e não tradicionais de se captar recursos e assim por
em prática projetos comumente desacreditados pelos investidores públicos ou privados. Uma
dessas importantes ferramentas chama-se crowdfunding. Para Valiati (2013, p. 43), “O
crowdfunding, também conhecido como sistema de financiamento coletivo ou colaborativo,
torna possível a criação/realização de produtos que estão fora da zona de interesse da grande
indústria”. O crowdfunding é um modelo de financiamento coletivo de projetos, mediante a
utilização dos serviços proporcionados pelas redes sociais, em que as pessoas comuns ou até
mesmo empresas podem investir recursos financeiros tendo em vista a concretização de
projetos inovadores em que eles acreditam. Para Santos et al. (2012, p. 631):
Novos modos de circulação digital evidenciaram o poder das massas através
do crowdfunding. Esse modelo usa as massas para obter ideias, feedbacks e
soluções a fim de desenvolver atividades de forma mais satisfatória. Porém,
muitas vezes, os desejos das massas não podem ser atendidos por falta de
recursos e com isso surgiu a ideia de buscar apoio financeiro através de
pessoas comuns. O objetivo deste modelo é levantar fundos a fim de
viabilizar algo de maneira independente, sem precisar exclusivamente de
apoios ou patrocínios. Isso é realizado com apoio de mídias sociais e, em
particular, através da Internet.
O crowdfunding originou-se de outra ferramenta estratégica, denominada de crowdsourcing,
“cuja ideia consiste, principalmente, na participação do consumidor como produtor de
conteúdo ou de iniciativas antes oriundas somente de empresas midiáticas” (COCATE;
PERNISA JÚNIOR, 2011, p. 6). A diferença é que o apoio no crowdsourcing pode vir de
qualquer maneira, ou seja, até mesmo de uma palavra de conforto ou de uma ação pontual,
como a mobilização de pessoas em prol de uma ideia para solucionar um problema; enquanto
que no crowdfunding o apoio tem que indiscutivelmente apresentar uma conotação financeira.
E é justamente por lidar com o financeiro, e fortemente com os produtos culturais, que o
crowdfunding também passou a ser interessante para as empresas, sejam elas novas ou já
consolidadas no mercado. Farias e Gangemi (2006, p.2) mostram que
Segundo a maioria dos autores da área de marketing, a aproximação entre
empresas e produtos culturais é mais do que esperada no contexto da
globalização. Ela seria explicada pela expansão das fronteiras do mercado,
pela crescente importância da dimensão simbólica para a sociedade e para o
consumo, e pela hipercompetitividade.
20
Trata-se de uma forma inovadora de testar, expor e comercializar novos produtos, para as
empresas iniciantes; bem como de uma maneira bastante interessante das empresas veteranas
se comunicarem com o consumidor, alargando suas redes de atuação e atingindo um nicho
que tem outra visão de mundo, constituído pela novíssima e cibernética geração, que está
pronta para opinar e arriscar em busca do melhoramento dos produtos e serviços que lhes são
oferecidos.
A primeira experiência que se tem notícia acerca do crowdfunding ocorreu em um site
chamado Sellaband, no ano de 2006. Mas o que deu notoriedade a essa ferramenta de
marketing, consolidando-a, foi a campanha presidencial protagonizada por Barack Obama, em
2008, nos Estados Unidos. Segundo Mangold e Faulds (2009), a grande evidência de que as
pessoas estão dispostas a dar apoio financeiro a uma causa em que acreditam pode ser
comprovada através do sucesso de arrecadação de recursos pelo partido de Barack Obama na
campanha presidencial dos Estados Unidos, em 2008. A expressiva arrecadação de recursos
financeiros nessa campanha denotou o poder inexorável que o povo detém, no sentido de
fazer o impossível e desacreditado acontecer.
No mundo, dois sites de crowdfunding se destacam. O “Sellaband”, holandês, por ser o
precursor dessa ação de marketing, e o norte-americano “Kickstarter” que fez com que essa
ferramenta se tornasse um fenômeno de sucesso, tomando proporções globais. Foi com o
site Kickstarter, em 2009, que o crowdfunding ganhou a forma que conhecemos hoje, na qual
projetos de diversas áreas, e até voltados para o consumo, têm seu espaço (REDE GLOBO,
2012). Valiati (2012, p. 1) destaca que “a primeira plataforma a utilizar este modelo foi o site
europeu Sellaband, no ano de 2006, utilizado para que os fãs ajudassem os artistas a gravar
um disco, recebendo recompensas (CD, downloads, camisetas) em troca”.
No Brasil, destacam-se alguns sites de grande relevância quando o assunto é o fenômeno do
crowdfunding: O “Queremos!”, que lida especificamente com o financiamento de shows
estrangeiros para se apresentarem no Brasil; o “Vakinha”, que surgiu em 2009, além de
projetos culturais também beneficia projetos pessoais a exemplo de viagens, mudanças,
cursos, dentre outros. Os sites “Queremos” e “Vakinha” indicam que o crowdfunding tem
potencial para dar certo no Brasil (MOREIRA, 2011). O “Juntos com você”, sem fins
lucrativos, angaria recursos para por em prática projetos, os mais diversos, que tenham uma
função social estabelecida.
21
No Brasil, já existem aproximadamente setenta sites de crowdfunding (TAMANAHA, 2012).
Mas não há dúvidas, a maior plataforma de crowdfunding do Brasil é mesmo o “Catarse”
(GARCIA, 2014) também considerado o principal site do ramo em nosso país
(EMPREENDEDORES CRIATIVOS, 2014). A revista Galileu, em sua edição de dezembro
de 2013, elegeu o Catarse como um dos 25 sites mais influentes de toda a Internet no Brasil.
Embora em Portugal o crowdfunding ainda não esteja tão forte quanto no Brasil, visto que as
plataformas em terras lusas só surgiram no ano de 2011, duas delas conseguiram se
estabelecer com êxito desde então. Segundo Correia (2012, p. 11), em Portugal, “somente em
2011 surgiram as duas primeiras plataformas, orientadas para um público maioritariamente
português: MassivMov e o PPL”. Em Portugal, a PPL e a Massivemov são as duas
plataformas generalistas mais conhecidas, das poucas que existem, destacando-se depois a
Olmo e o Bes Crowdfunding, destacando-se a PPL como a maior plataforma portuguesa de
consumo colaborativo (LUSA, 2014).
Em termos comparativos, o PPL está para Portugal assim como o Catarse está para o Brasil.
Em ambas as plataformas, que operacionalizam de maneira bastante similar, o consumidor
que apoiar determinado projeto, terá direito a uma recompensa condizente com o valor que foi
aplicado. Esse tipo de incentivo é de praxe no crowdfunding. Pode-se dizer que no sistema de
crowdfunding essa recompensa monetária como forma de incentivo ou do produto que se
investiu, não tem comparação com a recompensa não monetária, que nesse contexto tem a ver
com o sentimento de pertença que envolve um colaborador ao participar de um processo de
co-criação através do consumo colaborativo.
Esse benefício não monetário pode ser atestado tanto pela espontaneidade da doação quanto
pela diversão e retorno psicológico positivo em fazer parte da co-criação de valor a um
produto em que se acredita, por sua originalidade e inovação. A co-criação estimula o processo
de criação realizado além das fronteiras organizacionais, permitindo que haja uma
comunicação, um intercâmbio de colaboração e integração de recursos fora da empresa na
cadeia de valor. Bartl et al., (2010) apresentam a co-criação como uma abordagem que
determina que a criação de valor seja realizada além das fronteiras organizacionais,
incentivando ainda a colaboração dos stakeholders no processo de desenvolvimento de
novos produtos.
Embora o crowdfunding seja entendido por muitos como uma ferramenta avançada de
marketing, já que realmente ela o é, o seu aperfeiçoamento não cessará, pois o que hoje
22
envolve em sua grande parte projetos de pessoas ou grupos comuns, sem oportunidades de
sucesso pelos modos tradicionais, tenderá a conquistar um número cada vez maior de
empresas, sobretudo as de pequeno porte. Assim, nesse ambiente, essas empresas poderão, de
maneira inusitada, dinâmica e envolvente, estabelecer um diálogo com o consumidor, que por
sua vez, encontrará espaço para opinar sobre os mais distintos produtos, co-colaborando com
o seu desenvolvimento e aprimoramento contínuo. Com esse efeito, os profissionais de
marketing terão oportunidades de atuar num mercado bem mais amplo e competitivo.
1.2 Problemática de pesquisa
A principal dificuldade de um produto cultural conseguir financiamento se abriga no fato de
que a indústria cultural age de maneira bastante restritiva, ou seja, não está preparada para
acolher diversos projetos inovadores que, sem incentivo, ficam muitas vezes fadados ao
insucesso.
Os padrões de exigência da indústria cultural têm restringido o tipo de
produtos artísticos e culturais que são apresentados para o público; por outro
lado, as formas de financiamento público da arte e da cultura atende
limitadamente a certo número de projetos que se enquadram nas normas da
lei. Ficam fora dessas possibilidades uma série de produtos artísticos e
culturais que, mesmo apresentando elevado nível de qualidade e de
inovação, não encontram espaço para a sua produção e divulgação na
sociedade (FRANÇA, 2012, p.2).
O crowdfunding representa a grande oportunidade para os novos talentos. Nesse modelo de
financiamento, todo e qualquer artista (iniciante ou veterano) poderá ter a chance de ver o seu
projeto realizado, por mais insensato que ele possa parecer, e mediante a interatividade
promovida pelas redes de relacionamentos, realizar um verdadeiro intercâmbio de
colaboração com pessoas de todo o mundo.
Um ponto crucial a se destacar sobre o crowdfunding é essa despretensão que vai de encontro
à ação burocrática e arranjada que o mercado normal exige para os produtos culturais. Para
Silva (2012, p. 8), “o atual mecanismo de financiamento através das leis de incentivo é um
processo lento, burocrático e cheio de incertezas”. No crowdfunding as pessoas físicas ou
jurídicas podem testar projetos audaciosos, e assim ter a chance de vê-los se tornar realidade,
23
embasados na força do coletivo, ou seja, do que o povo deseja ver acontecer, por acreditar ser
algo justo, digno e totalmente viável de se concretizar.
Concebidos em 2011, o Catarse e o PPL consolidaram-se, respectivamente, como as grandes
referências de crowdfunding no Brasil e em Portugal, de modo que dificilmente se aborda esse
tema nesses países, sem citá-los. Essas plataformas atuam em diversas vertentes, mas,
sobretudo, com projetos culturais em suas mais variadas manifestações. Os projetos têm um
prazo limite para execução e apresentam uma recompensa proporcional ao que foi investido
pelos financiadores, como forma de estimular a participação destes.
O Catarse e o PPL foram as bases incubadoras para inúmeros empreendimentos de sucesso,
ligados às mais diversas manifestações culturais. Artes plásticas, comunidades, esportes,
gastronomia, meio ambiente, dança, educação, carnaval, arquitetura e urbanismo, ciência e
tecnologia, são exemplos de categorias fincadas nesses ecossistemas virtuais, que têm a
missão unir realizadores e apoiadores no azo de consolidar inúmeros projetos que se façam ao
menos perceber como interessantes e produtivos de alguma maneira.
A página do Catarse na Internet explicita o slogan “Explore os projetos, encontre aqueles que
mexem com seu coração, e faça acontecer!”. Já a página do PPL apresenta a seguinte
informação “Crowdfunding (ou financiamento colaborativo) é uma forma simples e
transparente de angariação de fundos para um projecto através de uma comunidade online que
partilha os mesmos interesses. PPL é uma plataforma que permite reunir essa rede de
promotores e os seus apoiantes”. São com essas mensagens que os navegadores virtuais são
convidados a conhecer os mais distintos tipos de empreendimentos que estão disponíveis para
contribuição. Nessas plataformas também se pode ter contato com os projetos já finalizados,
tanto os exitosos quanto os que não chegaram a atingir suas metas e por isso não vingaram, ao
menos naquele período em específico.
Dentre os projetos de sucesso no Catarse se destaca o “Caindo no Brasil”, onde o seu
realizador percorreu 58 cidades brasileiras, catalogando 30 práticas educacionais inspiradoras,
onde destas, as 14 mais interessantes serão publicadas em um livro-reportagem contando
detalhes do funcionamento dessas práticas. O “Viajo, logo existo” trata de um projeto de um
casal que resolveu dar a volta ao mundo de carro, passando por 70 países, ao longo de três
anos e meio, exibindo em um livro além de um relato sobre o primeiro ano da experiência,
demonstrando as sensações percebidas ao longo da viagem, dezenas de fotos inéditas
mescladas com ilustrações artísticas.
24
No PPL vários projetos interessantes obtiveram êxito. Um deles é o “Ecobook”, que trata da
confecção de um caderno com 40 páginas tamanho A4, cujas páginas são reutilizáveis, tal
como uma lousa, onde se pode apagar o que foi escrito pelo pincel. Esse projeto tem um
cunho ambiental, uma vez que promove a racionalização de um tipo de uso de anotações.
A tecnologia da informação beneficiou o consumidor sob vários aspectos. Ele agora tem
acesso a vários instrumentos de pesquisa que o possibilita avaliar opiniões sobre os produtos
que se pretende adquirir, bem como de comparar os preços oferecidos pelos concorrentes. Há
uma verdadeira quebra de paradigma no formato de se realizar uma compra. O mais
surpreendente nesse contexto é a possibilidade de interação entre as empresas e os clientes,
que poderão opinar mais e até mesmo ser co-desenvolvedores dos produtos que estão
adquirindo, opinando sobre os mesmos, melhorando-os. De acordo com Coviello e Joseph
(2012), é mais provável o sucesso, quando as empresas de tecnologia desenvolvem testes com
consumidores, em que estes participam como assessores técnicos ou co-desenvolvedores.
Esse processo de co-criação, possibilitado pela web, só tem estreitado as relações empresa-
consumidor, anunciando que grande parte do que será consumido, tende a passar por uma
etapa de customização com a plena participação do cliente, no intuito de agradá-lo.
Para ajudá-lo nesse processo, o marketing virtual, a exemplo do crowdfunding, conta com
excelentes instrumentos de apoio na Internet; a exemplo do Twitter; do Facebook; e do
Youtube; por serem justamente os mais acessados. “...a convergência que existe nos processos
de crowdfunding é feita, principalmente, por meio das mídias existentes via web, como os
sites de redes sociais, a exemplo do Facebook, Twitter, blogs entre outros”. (COCATE;
PERNISA JÚNIOR, 2011, p. 5). As empresas têm se utilizado incessantemente dessas
ferramentas para difundirem seus produtos. Apoiados nesse contexto, as pessoas comuns
também têm se apropriado dessa tecnologia e publicado seus projetos, antes sem oportunidade
de disseminação, obtendo resultados positivos e conquistando diversos clientes que se
interessam por eles.
Outrossim, as ferramentas de marketing encontradas na Internet também possibilitaram um
afunilamento dos laços na relação existente entre empresa e consumidor, de modo que este
passa a ter em suas mãos diversos canais de comunicação demonstrar o seu nível de
satisfação, o que é vantajoso para as ações estratégicas que deverão ser tomadas pelas
empresas não apenas para oferecer um melhor produto, mas para aperfeiçoar toda a sua
logística de trabalho. Medidas que promovem o contato entre a empresa e
25
seus consumidores são vantajosas para as estratégias de marketing digital porque garantem
uma aproximação maior, estabelecendo uma relação de confiança (IPORTO, 2013). Esse
diálogo é importante também para a fidelização desse cliente, que precisa se sentir satisfeito
com todo o trajeto percorrido no processo de compra, sobretudo com o relacionamento com a
empresa. A criação de um vínculo mais forte permite que os clientes falem positivamente da
empresa, e se tornem mais propensos à fidelização (MARÇALO, 2013).
A atração do consumidor pelo crowdfunding vem, sobretudo, dessa possibilidade de íntimo
relacionamento com os realizadores do projeto, que lhe traz além de um sentimento de
pertença pela forma de envolvimento com o mesmo, um benefício não-monetário ou
psicológico pela sensação de prazer e entretenimento que também permeia o financiamento
coletivo. Conforme Lima (2013, pg. 20) O crowdfunding se adequa às empresas que
necessitam de uma forte interação com o consumidor para promoverem seus negócios, no
qual o investidor também é consumidor, pois geram uma sinergia produtiva em investimento
– produto final – satisfação do consumidor.
O crowdfunding permite uma relação muito forte e diferenciada entre o usuário/colaborador e
o realizador dos projetos que em sua plataforma estão inseridos. Se o proponente for uma
empresa, o crowdfunding poderá estreitar sobremaneira os laços com os seus consumidores,
pois estes terão a experiência de co-criação de valor para os produtos em tempo real, já que ao
se colaborar com um determinado produto, automaticamente está lhe atribuindo valor.
Segundo Leite, Huertas e Veludo-de-Oliveira (2012, p. 3), “quanto mais conhecimento as
empresas puderem absorver dos consumidores, maiores serão as chances de seu processo de
desenvolvimento de novos produtos ser efetivo e gerar satisfação”.
As empresas poderão consultá-los, ouvir sugestões, criar vínculos e melhorar continuamente a
qualidade dos seus produtos. Esse movimento mostra as empresas trazendo o consumidor
para dentro do seu contexto interno. Ele que antes era exógeno ao processo, cada vez mais
assume uma postura endógena. A força motriz do crowdfunding reside justamente em
oportunizar esse íntimo encontro entre a empresa e o consumidor, num processo dual e salutar
onde ambos saem ganhando. O crowdfunding marca o início de uma nova era nos negócios e
apresenta aos realizadores de projetos, uma oportunidade diferenciada de testar inovações e
perceber se estas agradam ou não os consumidores.
Tendo a oportunidade de participar como co-desenvolvedor de um produto, o cliente tenderá a
uma percepção positiva da empresa, pois será um participante ativo do processo e assim
26
alimentará um sentimento de pertença com aquela organização que acreditou em sua opinião.
A experiência vivida com o produto é que determinará o nível de satisfação do consumidor.
Para Kotler (2006), a satisfação é uma sensação de prazer resultante da comparação entre o
desempenho percebido de um produto e as expectativas do comprador. Para este autor, se o
desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito. Mückenberger (2001)
apresenta a satisfação como uma avaliação ou julgamento do cliente, ocorrido após uma
experiência com o produto ou serviço adquirido. Desse modo, tanto a co-criação de valor
como o co-desenvolvimento apresentam-se como fatores positivos para o relacionamento com
o consumidor.
Pode-se dizer que tal satisfação está ligada à sensação de bem estar em todas as etapas do
processo de compra, ou seja, desde o primeiro contato com a empresa fornecedora, até a
escolha do produto, as formas de pagamento, a entrega e o relacionamento pós-compra, mas
principalmente na plena realização das necessidades que são esperadas com a utilização
daquele produto. A satisfação dos clientes é uma variável de relevância sobre os seus
comportamentos posteriores, tais como: recompra, lealdade, propaganda boca-a-boca
favorável, dentre outros, representando uma verdadeira faceta de marketing (EVRARD,
1994). Vale mencionar que a satisfação pode ser específica ou acumulada, sendo específica
quando se tratar de uma única compra, e acumulada quando repetidas vezes consumindo o
mesmo produto ou comprando na mesma empresa. Se o sentimento de bem-estar perdurar,
conduzirá por via de consequência a um relacionamento de lealdade daquele consumidor com
aqueles estabelecimentos que atenderam com louvor às suas necessidades e/ou expectativas.
A lealdade está associada a uma prévia satisfação com o objeto de devoção, fato que permite
haver uma atenção especial ao cliente, tanto pelo retorno positivo que ele tem proporcionado e
pelo atendimento das expectativas, quanto pelo histórico do relacionamento que foi sendo
construído. Santos e Rossi (2002) definem a lealdade do consumidor como sendo uma
intenção comportamental de se manter uma relação forte e duradoura com determinado
fornecedor. Matilla (2001), por sua vez, mostra que a satisfação não é a única precursora da
lealdade, uma vez que outros fatores também são capazes de influenciar esse processo.
O crowdfunding se configura como uma ferramenta que se bem aproveitada pelas empresas
realizadoras dos projetos, terá grandes chances de conquistar a satisfação e a consequente
lealdade, mediante os mecanismos de co-criação, co-desenvolvimento, e sentimento de
pertença que contribuem automaticamente para que haja um envolvimento e uma
27
identificação mais estreita daquele cliente com aquele formato inovador de se consumir um
produto.
Nesse contexto, esta pesquisa será norteada a partir da seguinte questão: Qual a relação do uso
das plataformas de crowdfunding, na conquista da lealdade e satisfação em contexto de
produtos culturais brasileiros e portugueses? A partir daí, pretende-se conhecer
pormenorizadamente as nuances que permeiam esse fenômeno, bem assim sua relação com a
obtenção da satisfação e da lealdade do consumidor, mediante sua particular identificação
com o projeto em que se está colaborando.
1.3 Objetivo geral
O objetivo geral da pesquisa visa identificar a relação do uso de plataformas de crowdfunding
na conquista da lealdade e satisfação em contexto de produtos culturais brasileiros e
portugueses.
1.4 Objetivos específicos
Com o intuito de atender ao objetivo geral, foram delineados os seguintes objetivos
específicos:
Objetivo específico 1: Investigar os antecedentes que promovem a satisfação do
consumidor no contexto de produtos culturais através da experiência de crowdfunding
na web;
Objetivo específico 2: Compreender os antecedentes responsáveis pela resposta de
lealdade do consumidor em contexto de produtos culturais a partir da experiência
junto às plataformas de crowdfunding;
Objetivo específico 3: Verificar quais as interfaces existentes entre os antecedentes
que promovem a satisfação e a lealdade dos consumidores nas plataformas de
crowdfunding, em contexto de produtos culturais.
28
1.5 Justificativas
Aqui serão apresentadas as justificativas teóricas e práticas que atestam a viabilidade concreta
de se realizar esta pesquisa.
1.5.1 Justificativas teóricas
A justificativa teórica se pauta em dar visibilidade a um tema interessante e inovador,
concordando com Dias (2013), quando ele assevera que tudo está muito recente, e
consequentemente tem poucos estudos sobre o financiamento colaborativo, sendo este tema
ainda muito pouco explorado em nosso país, conforme assevera Silva e Freitas (2012, p.317)
“O tema a ser tratado é novo no Brasil, sendo que as plataformas de crowdfunding, objetos de
estudo ainda são novas, tendo pouco histórico para se analisar. Com base nessa afirmação, é
necessário iniciar um acompanhamento e um estudo a respeito do crowdfunding no país”.
Esta opinião é ratificada por Maurer, et al. (2012), ao afirmar que as discussões teóricas
acerca do consumo colaborativo estão sendo realizadas principalmente em países norte-
americanos. Assim sendo, existe uma carência de estudos que abordam tal modalidade de
consumo no contexto brasileiro. Além disso, o ambiente no Brasil parece estar propício para o
desenvolvimento de práticas coletivas. Desse modo, se apenas o tema crowdfunding como
ferramenta de consumo colaborativo, apresenta poucos estudos em nosso país, se associado às
variáveis da lealdade e da satisfação, dificilmente será encontrado algum trabalho que ponha
em dúvida a importância de se estar realizando esta produção científica.
A escolha de Portugal para figurar como a referência internacional deste estudo sobre o
crowdfunding, se deu principalmente pelo elo histórico que une o Brasil à terra que o
colonizou, além do fato dos dois países adotarem a mesma língua oficial, o que facilita e
contribui em muito na comunicação necessária à condução dos trabalhos, promovendo mais
confiança e objetividade ao que se pretende alcançar. Segundo Barbosa (2010), pela história,
língua e cultura que têm em comum, Brasil e Portugal possuem um relacionamento recheado
de potencialidades e especificidades a serem aproveitadas.
29
Somado ao contexto histórico, o fato de Portugal fazer parte do velho mundo, e o continente
europeu ter um papel de destaque e importância no cenário mundial, foi encarado como um
aspecto bastante relevante para esta pesquisa.
Ao longo desses 500 anos de convivência, o Brasil absorveu diversas influências portuguesas
em diversos aspectos que envolvem a sociedade. Para Saraiva (2000), a força das novas
relações Brasil-Portugal reside não apenas nos discursos de sensibilidades, paixões e
saudades, mas na relevância dos intercâmbios materiais entre as duas sociedades.
O acolhimento do projeto pelos representantes do Instituto Português de Administração e
Marketing – IPAM foi imprescindível para a sua ampliação em nível internacional, obtendo-
se um retorno bastante positivo, onde eles de imediato acolheram e se prontificaram a
contribuir com os trabalhos aqui estruturados.
Um dos representantes do IPAM fez o elo entre os pesquisadores da FBV/DeVry Brasil com
o idealizador da maior plataforma de crowdfunding em Portugal, o PPL, que também, muito
gentilmente se colocou à inteira disposição para ajudar a conseguir respondentes para o
levantamento de dados constante do questionário que foi totalmente adaptado para a realidade
portuguesa. Através de um dos dirigentes do PPL, o link do questionário foi compartilhado
com cerca de 10.000 colaboradores que já vivenciaram do consumo colaborativo em Portugal.
Como justificativa teórica, se reconhece que o tema desta pesquisa também foi pouquíssimo
explorado em Portugal, pois como bem afirma Correia (2012, p. 14) “Em meados de 2011
surgiram duas plataformas de crowdfunding em Portugal, que oferecem um serviço
semelhante ao Kickstarter: a Massivmov e o PPL”. Desse modo, tendo surgido há cerca de
três anos em terras lusas, qualquer estudo que se tenha sobre esse tema ainda se configura
como recente por isso interessante de ser aprofundado, havendo ainda, por esse motivo,
significativos espaços para produções científicas, sobretudo se o tema central estiver
associado às variáveis de lealdade e satisfação, como já foi dito, dificilmente haverá algum
trabalho anterior capaz de reduzir o mérito desta pesquisa.
30
1.5.2 Justificativas práticas
A partir da compreensão da influência das plataformas de crowdfunding na conquista da
lealdade e da satisfação em contexto de produtos culturais, as pessoas ou empresas que já se
utilizam dessas ferramentas poderão aprimorá-las tanto no Brasil quanto em Portugal.
A partir desse modelo de consumo colaborativo, que é universal e considerando que sua
literatura concentra-se, ainda, principalmente na América do Norte, procurar-se-á garantir
cada vez mais aos consumidores que são usuários e co-criadores de valor, sobretudo
brasileiros e portugueses, a oportunidade de serem agentes mais do que ativos no processo de
desenvolvimento daquele projeto ou daquele produto em que se acredita e se identifica,
cooperando para que possam ganhar vida e se tornar efetivamente reais.
Uma justificativa importante para este estudo é que, ao conhecer os antecedentes que
possibilitam essa relação, os criadores de projetos culturais terão acesso a informações
especiais acerca do tema, e assim poderão promover um aprimoramento em suas ações,
focando-as em aspectos realmente relevantes, tendo uma chance superior de atingir o nível de
satisfação e consequentemente conquistar a lealdade dos seus consumidores, mediante o uso
de ferramentas de marketing digital disponíveis na web, como é o caso do crowdfunding.
Não obstante, ratificar a importância dessa ferramenta como propulsora de novos talentos e
como uma alternativa a ser cada vez mais abraçada pelas empresas que visam atingir um
público diferenciado, é apontar para o futuro do consumo, em que a oxigenação do mercado
permitirá uma participação fundamental e ativa dos consumidores.
Vale a pena mencionar que as maiores plataformas do Brasil e de Portugal, ou seja, o Catarse
e o PPL, respectivamente, operacionalizam de modo bastante similar.
Diante dos fatores apresentados, acredita-se que os temas envolvidos neste trabalho
constituem importantes fontes de investigação, cujos resultados produzidos contribuirão para
o desenvolvimento de produtos cada vez mais criativos e inteligentes, contando com a
participação direta de quem mais se interessa por eles: a coletividade.
31
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Face ao advento da Internet e da era digital, grandes mudanças vêm ocorrendo nas formas de
relacionamento seja na vida pessoal, seja na vida profissional, onde através das redes sociais,
as interações podem ocorrer em tempo real e de qualquer parte do mundo. Desde as pessoas
comuns até os grandes empresários, independente dos recursos financeiros que dispõem, ou
da experiência adquirida, muitos já estão cientes do poder que orbita em torno do marketing
de rede e da força desse tipo de relacionamento através da web. A partir das ferramentas
virtuais, diversas opções se abrem ao mundo empresarial, possibilitando alavancar os seus
negócios. Atualmente, qualquer indivíduo ou grupo criativo passam a contar com mecanismos
inovadores de lançarem seus projetos e fazê-los conhecidos pelas multidões que os acessam
via web, e que muitas vezes estarão prontamente dispostas a contribuir para que eles se
concretizem por vias até bem pouco tempo inimagináveis. As plataformas de crowdfunding
protagonizaram uma reviravolta no empreendedorismo de produtos culturais, emergindo
artistas com seus produtos de muita qualidade e sucesso, este conquistado antes mesmo de se
tornar realidade, a partir do apoio da coletividade que nele acreditou.
2.1 O surgimento do crowdfunding na web
Acreditar num projeto, abraçá-lo, fazer do mesmo um ideal e utilizar das ferramentas de
marketing disponíveis na Internet para envolver as pessoas que se identificam com
determinada propositura, financiando-a e fazendo com que ela aconteça, são ações que
puderam ser observadas ao longo da campanha presidencial protagonizada por Barack
Obama, em 2008, nos Estados Unidos, que atestou o quão valoroso é poder das multidões,
inclusive o financeiro, tornando-se por isso, esta campanha, um referencial para a afirmação
do crowdfunding como uma importante via para se realizar projetos que sucederiam a partir
de então, podendo ser adaptado a quaisquer outros segmentos. A grande evidência para a
disposição das pessoas em dar apoio financeiro a algo em quem acreditam pode ser visto
através do sucesso de Obama com a angariação de fundos para sua campanha presidencial
em 2008 (MANGOLD; FAULDS, 2009). Segundo Cocate e Pernisa Júnior (2006, p.2):
32
A primeira experiência de crowdfunding na web aconteceu em 2006 com o
site europeu Sellaband que arrecada, ainda hoje, financiamentos para
iniciativas musicais. Mas foi em 2009 que surgiu o site de maior expressão,
voltado para a promoção de diversas manifestações artísticas, não atreladas
somente à música: o norte-americano Kickstarter.
Mesmo tendo surgido na Europa, com o site Sellaband, foi através do kickstarter que o
crowdfunding tomou proporções globais. Este site norte-americano não se pautou apenas em
projetos musicais, mas em qualquer outro que estivesse ligado ao ambiente artístico-cultural e
que fosse passível de envolver participantes que neles acreditassem, e assim terem a chance
de serem concretizados. Para estimular a participação e a colaboração de financiadores, os
administradores do site implantaram um sistema de recompensa proporcional ao tipo de
contribuição recebida para determinado projeto.
Tome-se, por exemplo, a edição de um livro sobre determinado tema. Os colaboradores desse
tipo de projeto poderiam receber em contrapartida, desde o seu nome na lista de colaboradores
impressa em uma página especial do livro, a ganhar um ou alguns exemplares do mesmo e até
mesmo sair para almoçar e confabular pessoalmente com o autor ou autora da obra, a
depender do valor investido. Há nesse contexto, além da causa fundamental que é a
publicação de um livro, todo um envolvimento particular entre o dono do projeto e àqueles
que nele acreditam. Trata-se de uma relação mais íntima de participação, de modo que os
financiadores passam a se sentir como parte ativa da realização daquele propósito.
Belleamme, Lambert e Schwienbacher (2010) relacionam diferentes possibilidades de retorno
oferecidas em troca da contribuição financeira: dinheiro, título, ações, participação nos lucros.
Em geral, o retorno é estabelecido proporcionalmente ao valor da contribuição, ou seja, ganha
mais quem investe mais, numa estratégia para estimular novos investimentos.
O crowdfunding se configura como uma ferramenta de marketing, onde através das redes
socais, pessoas (comuns ou não) e empresas (novas ou já consolidadas) apresentam propostas
inovadoras a fim de captar recursos financeiros de colaboradores que acreditem nesses
projetos, e assim colocá-los em prática. Cocate e Pernisa Júnior (2011, p.1) afirma que o
termo crowdfunding “é usado para designar sites que buscam financiamento coletivo para a
concretização de projetos variados, podendo ser culturais ou, até mesmo, pessoais”. Focando-
se tão somente à tradução da palavra, perceber-se-á que crowd significa multidão; e funding
significa financiamento, ou seja, a expressão crowdfunding pressupõe apoio financeiro
coletivo ou apoio das multidões, ou apoio de muitos, dentre outros. Para Valiati (2013, p.43)
33
“O crowdfunding, também conhecido como sistema de financiamento coletivo ou
colaborativo, torna possível a criação/realização de produtos que estão fora da zona de
interesse da grande indústria”. Maurer et al. (2012, p. 05) apresentam crowdfunding como um
“financiamento coletivo, a partir de redes de pessoas e/ou instituições que investem em
projetos criativos, ou seja, engajamento colaborativo”.
A web possibilita uma série de ambientes facilitadores na disseminação de um projeto. Nesse
espaço virtual, de redes digitais, são proporcionados compartilhamentos de informações e de
outros recursos digitalizáveis, assim como a produção e criação de inovações coletivas
(KOZINETS et al., 2008). Cada um desses ambientes têm um modo singular de apresentar
sua mensagem e assim se comunicar com quem está tanto do outro lado da parede de uma
mesma casa, como com quem está do outro lado do mundo. Esses ambientes, quando unidos,
são percebidos como uma cultura da convergência, que para Cocate e Pernisa Júnior (2011)
reflete uma espécie de cruzamento, uma troca de poderes entre os produtores e os
consumidores.
Essa relação de reciprocidade entre esses agentes, na cultura da convergência se dá sob o
suporte midiático, em suas diversas modalidades. Assim, embora um projeto de crowdfunding
esteja residindo no site kickstarter (que é tido como o maior do mundo nesse segmento),
diversas outras ferramentas contribuirão para a propagação do mesmo. Cocate e Pernisa
Júnior (2011, p. 5) mostram que “a convergência que existe nos processos de crowdfunding é
feita, principalmente, por meio das mídias existentes na web, como os sites de redes sociais, a
exemplo do Facebook, Twitter, blogs entre outros”. É a própria convergência dos meios de
comunicação.
Destaca-se ainda outro tipo de convergência importante, ou seja, daqueles que se identificam
e que resolvem acreditar num projeto tal, atraídos pela afinidade e pelo sentimento de crédito
gerado por este naqueles financiadores. “No âmbito da convergência, qualquer tipo de
produto pode ser oferecido, devido à web ser um ambiente propício para o encontro com o
consumidor certo para aquele determinado produto. Há públicos específicos para cada
elemento apresentado no ciberespaço” (COCATE e PERNISA JÚNIOR, 2011, p. 5).
Sem a cultura da convergência, não há a menor possibilidade dos projetos de crowdfunding
serem exitosos, havendo uma dependência clara e lúcida dos projetos com a interação dessas
ferramentas midiáticas. A organização da sociedade em redes digitais mediadas pelo
computador fez surgir a cultura da convergência. Prontos ou não o mundo já está convivendo
34
com esta cultura, a partir do momento que se baixa uma música ou assiste-se a um filme no
celular, as pessoas estarão absorvendo-a, e dos lugares mais remotos (JENKINS, 2009).
As plataformas online fazem emergir um novo consumidor, disposto a apostar em inovações,
desde que estas despertem o seu interesse de alguma forma. Talvez resida aí o grande desafio
do marketing digital, o de chamar a atenção, fazer com que determinado produto atraia o
cliente/investidor utilizando-se da interação que pode ser percebida nos sites que
proporcionem um contato mais restrito com o crowdfunding, especificamente com essa
finalidade, como o kickstarter.
2.1.1 Envolvendo os consumidores
Proporcional à convergência dos meios de comunicação disponíveis na Internet, tem-se um
efeito crescente de interação de membros dessas diversas redes de relacionamento, que
passam a usufruir desses mecanismos e a terem uma efetiva participação nos projetos que são
apresentados. Esses membros passam a emitir suas opiniões, estimulando outros seguidores,
tirando dúvidas, expondo suas críticas – positivas ou não – e colaborando para que todo o
processo não estanque, mas tenha andamento e possibilite que sempre surjam novas
oportunidades. Pode-se atribuir a esse evento que ocorre na web, o nome de cultura
participativa. Para Jenkins (2009, p. 30):
A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a
passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar
sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis
separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de
acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por
completo.
Pois bem, essa é a nova realidade, os consumidores deixaram de apenas colocar os seus
produtos nas cestas dos mercados. Eles agora querem opinar em tudo: na cor, no sabor, no
tipo de embalagem, nos níveis de açúcares, ou seja, estão mais ativos do que nunca. E a
grande tendência é que essa situação apenas evolua, graças ao suporte disponibilizado pelas
mídias de rede.
A convergência altera a lógica da indústria midiática, influenciando a forma que os
consumidores processam a notícia e o entretenimento. A população está entrando numa era
em as mídias estarão por todos os lugares (JENKINS, 2009). Por se tratar de uma conduta
neófita, todos esses movimentos acabam por se tornar um pouco complexos, muitas vezes
35
necessitando de um processo de taxonomia que atribua uma nomenclatura condizente com
todas essas manifestações de comunicação e compartilhamento de informações via web.
A linha divisória entre produtores e consumidores está cada vez mais tênue e na realidade
ainda não se pode mensurar precisamente até onde esse caminho vai levar, mas já se pode
vislumbrar que o consumidor agora pode ser mais exigente do que nunca, sobretudo pelo
acesso rápido que o mesmo tem aos concorrentes para a grande maioria dos produtos, fato que
faz com que as empresas busquem novos canais que ajudem a estreitar essas relações.
Torna-se oportuno mencionar que ao passo em que as relações entre produtores e
consumidores se estreitam, as fronteiras são alargadas e rompidas, possibilitando inúmeros
formatos de convergência e interação, como diz França (2012, p.10) “outro aspecto que
merece destaque nas relações econômicas desenvolvidas através do crowdfunding diz respeito
à ampliação das fronteiras entre os desenvolvedores dos projetos e os investidores”.
Seja através de culturas da convergência ou da participativa, seja através de todos os
mecanismos que as envolvem, as mudanças já estão ocorrendo e rapidamente. As
transformações ocorrem a passos largos, e muita gente tem se beneficiado com isso,
enxergado nessas mudanças, oportunidades promissoras de colocarem em prática os antigos e
até bem pouco tempo atrás, impraticáveis projetos, uma vez que, como bem mostra França
(2012, p.2):
Os padrões de exigência da indústria cultural têm restringido o tipo de
produtos artísticos e culturais que são apresentados para o público; por outro
lado, as formas de financiamento público da arte e da cultura atende
limitadamente a um certo número de projetos que se enquadram nas normas
da lei. Ficam fora dessas possibilidades uma série de produtos artísticos e
culturais que, mesmo apresentando elevado nível de qualidade e de
inovação, não encontram espaço para a sua produção e divulgação na
sociedade.
2.2 Crowdfunding: criando oportunidades
O desejo de realizar projetos inovadores num mercado de difícil acesso ao patrocínio das
grandes empresas acaba reduzindo as chances de que produtos à primeira vista desacreditados
tenham algum êxito no que se refere à conquista de um patrocínio pelas vias tradicionais.
Essas empresas geralmente estão voltadas à cultura do lucro e do retorno financeiro julgado
como certo para produtos que, via de regra, passam por uma prévia e ampla pesquisa de
36
aceitação. É aí que entra o grande diferencial das redes de relacionamento da web, que neste
caso representa um novo paradigma tecnológico suportado pela tecnologia da informação.
Essas redes traduzem a força da coletividade, que sob a ótica de Howe (2009), significa que o
futuro dos negócios está se reformulando. E o crowdfunding se encaixa sobremaneira nesse
processo. Portanto, a Internet acaba acelerando o processo de encontrar grandes grupos de
financiadores potenciais, dispostos a usar o crowdfunding e assim ingressar nas mais variadas
atividades de nossa cultura, a exemplo da música e do cinema (HOWE, 2009). E diante da
pluralidade da população global que tem acesso à rede, dificilmente um projeto interessante e
bem divulgado, não ache adeptos que se reconheçam naquela determinada iniciativa.
O crowdfunding representa uma grande oportunidade para os que apostam em produtos
culturais. Eles veem nessa ferramenta um meio de conquista pautada no talento, na
criatividade, na persuasão, sem a necessidade de se submeter a verdadeira batalha encabeçada
pelos grandes empresários do setor. Para França (2012, p.3), “O crowdfunding, modalidade de
financiamento coletivo, por exemplo, apresenta uma inovadora proposta para a viabilização
de projetos artístico-culturais, fugindo das formas tradicionais de financiamento por editais
públicos e das demandas da indústria cultural”.
O mercado do século XXI consegue denotar como os produtos de menos sucesso no espaço
midiático também apresentam reais significados de consumo frente ao conjunto total
(ANDERSON, 2006). A questão do financiamento por parte de grandes empresários restringe
a participação de novos talentos que por apresentarem algo inovador, e, portanto, arriscado,
acabam vendo seus projetos fadados ao esquecimento, já que não tem condições financeiras
para pô-los em prática. Porém, percebe-se que mesmo os produtos ou projetos aparentemente
“desinteressantes” têm sim chamado à atenção e produzido um nicho específico sedento por
consumi-lo.
Não se pode negar que um produto cultural é na maioria das vezes encarado como um risco
que deve ser evitado. O novo sempre presume surpresas e estas nem sempre são agradáveis. É
o risco que permeia qualquer negócio. Daí surge o receio dos grandes empresários em apostar
em um produto desconhecido, sobretudo que fuja aos padrões daquilo que já se tem
estabelecido como bastante comercial. É assim na música, no cinema, no teatro. Tudo é
minuciosamente pensado com o intuito do retorno financeiro.
37
A máquina da indústria cultural gira sem sair do lugar, determinando ela mesma o que deve
ser consumido e excluindo o que é entendido como risco inútil (WOLF, 2005). As grandes
empresas estão habituadas a realizar o planejamento estratégico de suas ações, seja em qual
área for. A produção cultural e intelectual está voltada para produzir apenas o que teria a
maior probabilidade de ser consumido, descartando as novidades que por ventura pudessem
gerar algum tipo de mudança na sociedade (VALIATI, 2013).
O revés de todo esse contexto chega através das tecnologias da informação e da comunicação
exibidas pelas redes sociais disponíveis na web, descentralizando o poder que sempre ficou
restrito às mãos dos todo-poderosos empresários que atuam, sobretudo, na área cultural,
oportunizando assim que pessoas sem visibilidade, sem recursos e sem oportunidades, mas
com muita criatividade, força de vontade e perseverança, apresentem suas propostas de
trabalho ou de projetos culturais, movimentando uma massa de pessoas que com ele se
identificam e que estão prontos a contribuir com os mesmos para que eles aconteçam.
Dessa forma, o consumidor pode se tornar parte do processo de produção de bens culturais
sem a necessidade da intermediação burocrática presente na indústria cultural (VALIATI,
2013). É o consumidor se envolvendo no processo de criação de um produto, antes mesmo
que este esteja pronto e que chegue às “prateleiras”. Esse produto criativo pode ser
representado tanto por um bem como por um serviço, gerando todo ele um dado valor
econômico. O que determina um produto como criativo é o fato de ter sido concebido
mediante um processo criativo que resultou num valor econômico (HOWKINS, 2007).
2.2.1 A força do consumo colaborativo
O que testemunha-se com o crowdfunding é uma verdadeira demonstração do poder que as
multidões têm para promover a realização de algo em que acreditam. Mesmo na simplicidade,
mas de tostão em tostão arrecadados em pequenas contribuições, alcançam-se gigantescos
resultados e até mesmo projetos tidos como audaciosos são acolhidos e postos em prática com
esmerado êxito. A partir do crowdfunding “percebeu-se o poder que as pessoas comuns, agora
não vinculados apenas a grandes empresas, tinham de viabilizar projetos através da
arrecadação de recursos” (SANTOS; ASSAIFE; OLIVEIRA, 2012, p.632).
38
Mesmo tendo uma conotação bem mais voltada para o financiamento de projetos de caráter
diferenciado, dada as potenciais oportunidades que ele acaba disponibilizando, o
crowdfunding tem um papel que vai além do que tão somente financiar projetos de pessoas ou
grupos ainda desconhecidos ou sem espaço na mídia e nos grandes meios empresariais. Ele
pode atuar como uma importante ferramenta estratégica para a realização de projetos
elaborados por produtores culturais de artistas já consagrados no mercado, que utilizam desse
espaço, sobretudo por reconhecer nele, um caminho perfeito para a consolidação de uma ideia
inovadora que se deseja por em prática.
O consumo colaborativo tem ganhado muito espaço nos últimos cinco anos, adquirindo essa
notoriedade justamente por apresentar um formato bastante atraente para o colaborador que se
envolve no processo, de modo que ele efetivamente produza resultados. Concordando com
Botsman e Rogers (2011), o consumo colaborativo é uma forma atraente e sustentável de
realizar desejos e suprir necessidades, representando um ônus muito baixo para o interessado.
O crowdfunding é na verdade uma vertente de outra forma de criação participativa através das
redes de relacionamento disponíveis na Internet, chamada de crowdsourcing. A atuação como
mera ferramenta estratégica para concretização de um projeto teve seu início justamente no
crowdsourcing, que tem por base o envolvimento de apoiadores para projetos diversos,
mediante a utilização das mídias sociais existentes na web, estimulando a criação
participativa, sem, no entanto, necessitar de apoio financeiro para a consolidação destes.
Cocate e Pernisa Júnior (2011) mostram que crowdfunding originou-se dos processos de
crowdsourcing, fenômeno onde a participação do consumidor se dá como produtor de
conteúdo ou de iniciativas antes oriundas somente de empresas midiáticas.
A grande particularidade que diferencia o crowdfunding do crowdsourcing, é que este não
envolve contribuição financeira para consolidação de um projeto, enquanto que aquele sim.
O crowdfunding faz parte de um sistema mais amplo, denominado
crowdsourcing. O crowdsourcing pode ser entendido como um modelo de
criação e/ou produção baseado em redes de conhecimento coletivo na
Internet, que serve para solucionar problemas, criar conteúdo ou inventar
novos produtos de forma colaborativa (VALIATI, 2013, p. 47).
Essa amplitude que envolve o crowdsourcing, faz com que todo e qualquer projeto que
envolva a colaboração coletiva através da Internet, seja considerado como parte desse
processo. O crowdsourcing pode envolver desde ideias para composição de músicas, temas
39
para peças de teatros, elaboração de uma estória fictícia ou mesmo a construção de uma casa,
enfim, tudo em que a participação conjunta de aliados venha a fortalecer e resultar em um
produto prontamente acabado, tendo como grande valia o fato da união de várias pessoas
naquela consecução.
Trata-se de um instrumento de co-criação a partir da participação online de pessoas ou até
mesmo instituições que se identifiquem com determinados projetos criativos. Não obstante, o
crowdfunding envolve engajamento colaborativo, ou seja, financeiro, a partir de redes de
pessoas e/ou instituições que investem em projetos criativos (MAURER et al., 2012).
A relevância demonstrada pelo financiamento de um conjunto de pessoas que se demonstram
atraídas por determinado projeto, a ponto de pô-lo em prática, torna o crowdfunding bem mais
interessante do que o crowdsourcing, movimento do qual ele deriva.
O grande mérito do financiamento revela-se na posição de que praticamente a totalidade dos
projetos que se apresentam como interessantes, necessitam de recursos financeiros para serem
postos em prática, e mesmo os que inicialmente não revelem essa característica de despertar
interesse, poderão perfeitamente, no decorrer do processo, se configurar como um negócio
lucrativo em cima daquela ideia que foi construída. Além disso, esse tipo de financiamento
através das plataformas de consumo colaborativo contribui com a questão ambiental, uma vez
que tais sistemas aumentam a eficiência do uso dos produtos, tornando-os melhores e
reduzindo o desperdício, além de criativamente estimular a absorção dos excedentes criados
durante a produção e o consumo (BOTSMAN; ROGERS, 2011). O fato dessa colaboração
envolver aspectos financeiros e possivelmente ligados ao contexto ambiental faz com que
essas ferramentas se apresentem ainda mais atraentes, despertando cada vez mais o interesse
de indivíduos em delas participarem.
2.2.2 O crowdfunding no Brasil e o caso do website Catarse
O fenômeno do crowdfunding teve sua primeira manifestação no Brasil a partir de 2009, com
site Vakinha, abrangendo tanto projetos culturais (música, teatro, dança, etc.) quanto pessoais
(formatura, casamento, viagens particulares, etc.), desde que os interessados apresentem
argumentos suficientemente convincentes a ponto de conquistar os investidores, estimulando-
os a acreditarem nos seus sonhos. Existem também diversos outros sites respeitáveis neste
segmento, a exemplo do “Queremos!” especialista em financiamento da vinda de shows
40
estrangeiros para se apresentarem no Brasil; e do “Benfeitoria”, considerado de muito sucesso
por ter possibilitado que a empresa Auri “viabilizasse o desenvolvimento de um leitor de
cores para deficientes visuais” (FRANÇA, 2012). O “juntos.com.vc”, por sua vez, representa
uma organização sem fins lucrativos voltada para o financiamento de projetos de impacto
social, que se utiliza do crowdfunding para viabilizar a concretização de projetos idealizados
por ONGs e empreendedores sociais, com a ajuda financeira de pessoas e empresas que se
identificam com as mais diversas causas. O Catarse, criado em 2011, foi o primeiro site
brasileiro a apresentar uma plataforma prioritariamente voltada para o financiamento de
projetos culturais. Apesar de estar há apenas três anos no ar, o site do Catarse já se consolidou
como o mais importante propulsor do crowdfunding no Brasil. É praticamente impossível
falar desse fenômeno em nosso país e não citá-lo. Atualmente existem cerca de 70 sites de
consumo colaborativo no Brasil, mas o Catarse é de longe o mais expressivo.
No Brasil o crowdfunding está em estágio inicial, porém possui diversas
plataformas que operam no país. O site Catarse (www.catarse.me) é a
principal plataforma de crowdfunding do Brasil e aceita propostas artísticas,
como circo, fotografia, música, teatro, livros, bem como propostas criativas
que vão de campos como alimentação, design, moda, tecnologia jogos,
entre outros com um prazo definido de execução (SILVA; FREITAS,
2012, p. 322).
Sua plataforma atua principalmente com projetos culturais em suas mais variadas
manifestações, desde alimentação à moda, passando por música, teatro, livros, dentre outros.
Todos os projetos aceitos pelo Catarse tem um prazo definido para a execução e apresentam
um incentivo (retorno) para estimular a participação dos financiadores.
Por apresentar um direcionamento aos projetos culturais, o Catarse não aceita propostas
ligadas a abertura de empresas nem a projetos de caridade. Como é de se esperar, todos os
Projetos devem ter começo, meio e fim, e antes de estarem dispostos no site, eles passam por
uma prévia avalição de qualidade e de relevância para só assim serem expostos e começarem
a atrair a atenção dos potenciais investidores.
O Catarse foi a base incubadora para inúmeros empreendimentos de sucesso no Brasil,
ligados às mais diversas manifestações culturais. Conforme Figura 1 abaixo, o Catarse
apresenta o slogan “Explore os projetos, encontre aqueles que mexem com seu coração, e faça
acontecer!” como forma de estímulo ao consumo colaborativo.
41
Figura 1: Convite à colaboração em projetos do Catarse
Fonte: Sítio oficial do Catarse
Com esse lema as pessoas são convidadas a navegar e conhecer os mais distintos tipos de
empreendimentos que estão disponíveis para contribuição. No site também é possível ter
contato com os projetos já finalizados, e os valores atingidos, tenham sido eles exitosos ou
não.
Dentre os projetos de sucesso no Catarse destaca-se o intitulado “Viajo logo existo – 1 ano de
estrada”, onde um casal iniciou há um ano um projeto de visitar 70 países, dando a volta ao
mundo, de carro, conseguiu exibir em um livro, o relato desse primeiro ano da experiência,
demonstrando as sensações percebidas ao longo da viagem através de dezenas de fotos
inéditas mescladas com ilustrações artísticas.
Figura 2: Valores para apoios e recompensas atribuídas ao projeto viajo logo existo
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial Catarse
42
Esse projeto fez imenso sucesso na plataforma, obtendo quase 700 apoiadores e arrecadando
R$ 49.275,00 dos apenas R$ 20.000,00 que inicialmente se pretendia arrecadar. Como
estímulo a contribuição nesse projeto, foram oferecidas as seguintes recompensas: Quem
contribuiu com R$ 25,00 recebeu uma versão do livro em pdf; quem contribuiu com R$
100,00 – além do livro em pdf, recebeu uma versão impressa, um pôster tamanho A4 e uma
caneca. A contribuição também poderia ser nos valores de R$ 200,00, R$ 300,00, R$ 500,00,
R$ 750,00 e até R$ 1.000,00, sempre com um aumento no número de recompensas,
proporcional à colaboração. Quem contribuiu com R$ 500,00 além das recompensas já citadas
ganhou também uma camiseta. Já quem colaborou com o valor máximo, fez jus a 20
exemplares do livro impresso, além do nome de apoiador especial do projeto na página de
agradecimentos do livro.
Um dos projetos interessantes apresentados no Catarse foi o “Sertão como se fala”, que tem o
intuito de produzir um documentário independente ao percorrer 17 cidades do nordeste,
passando pelos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí, a fim
de mostrar as diferenciadas fonéticas que compõem o alfabeto do sertão, quais sejam: Ê – Fê
– Guê – Ji – Lê – Mê – Nê – Rê – Sí. O alfabeto do sertão1 é o título de uma das canções mais
conhecidas de Luiz Gonzaga, o rei do baião, onde ele apresenta um alfabeto com sonoridades
particulares ligadas à cultura nordestina, e que certamente serviu de inspiração para esse
projeto.
Figura 3: Projeto “Sertão como se fala”, bem-sucedido no Catarse.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do Catarse
2.
1 Disponível em: <http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/47079/>. Acesso em: 21 out. 2014.
2 Disponível em: < http://www.catarse.me/pt/sertaocomosefala>. Acesso em: 19 out. 2014.
43
O projeto “Pequenas igrejas, grandes negócios” trata de um jogo de cartas que faz uma sátira
às igrejas que supostamente enganam os fiéis a fim de juntar recursos e enriquecer seus
líderes, tendo enorme sucesso, inclusive arrecadando R$ 92.750,00 dos apenas R$ 29.000,00
propostos pelos realizadores. A banda Dead Fish também fez um estrondoso sucesso no
Catarse, chegando a arrecadar quatro vezes a mais do valor inicialmente esperado para a
gravação do seu novo disco.
Figura 4: Página do Catarse com a banda musical dead fish e jogos de cartas pequenas igrejas,
grandes negócios.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do Catarse
3.
Uma curiosidade é que no Catarse, os projetos voltados para o carnaval sempre são exitosos.
Ravoni (2014) mostra que todos os 11 blocos carnavalescos que já passaram pela plataforma
conseguiram atingir as metas de arrecadação. A explicação é que não há nada mais coletivo
do que a festa de momo. Mas das categorias disponíveis no site, nenhuma outra foi mais
contemplada do que às ligadas a educação. Em pesquisa realizada pelo site, constatou-se que
a área onde se encontra o maior interesse em apoiar projetos é a educacional, inclusive com a
condição de que não haja a interferência governamental para algumas ações, que no Catarse,
deverão ser unicamente conduzidas pela sociedade (CATARSE, 2014).
3 Disponível em: www.catarse.me . Acesso em 20 set. 2014.
44
2.2.3 O crowdfunding em Portugal e o caso do website PPL
Em Portugal, o fenômeno do crowdfunding é bem mais recente do que no Brasil, tendo seu
surgimento no ano de 2011, com as plataformas MassivMov e PPL. Segundo Albuquerque e
Carvalho (2013, p. 15), “a PPL e a massivemov são duas das plataformas lusas mais
conhecidas”.
Em Portugal ainda se destacam outras duas plataformas de crowdfunding atualmente: a Olmo
e a BES Crowdfunding, esta última trabalhando em colaboração com o PPL. Destaca-se ainda,
em Portugal, a plataforma da MarkUp, que entrou no mercado com um conceito inovador,
criando cinco redes sociais especificamente para o mundo lusófono e os temas da moda e
música, disponibilizando um serviço que permite encontrar, no meio da multidão, as pessoas
certas com interesses semelhantes para apoiarem seus projetos (AIP, 2014). Além de ter sido
uma das plataformas precursoras em crowdfunding em Portugal, segundo Lusa (2014), o PPL
figura como a maior plataforma portuguesa de consumo colaborativo.
Figura 5: Apresentação da página do PPL na web
Fonte: Recorte de tela do sítio oficial do PPL.
Só no PPL, até meados de julho de 2014, 49% dos projetos publicados foram bem sucedidos,
chegando a arrecadar nesses três anos um montante superior a meio milhão de euros a partir
da colaboração dos seus 26.273 membros (PPL, 2014). Este site apresenta o crowdfunding
como uma forma simples e recente de angariação de financiamento de projetos através de
uma comunidade que partilha os mesmos interesses, sendo o PPL uma plataforma que permite
reunir essa rede de empreendedores e seus apoiantes (PPL, 2014).
Fica difícil falar em crowdfunding em Portugal e não mencionar o PPL, que absorve
principalmente projetos de cunho cultural, social e esportivo.
45
No PPL, as candidaturas são submetidas via online, sendo necessário o detalhamento preciso
do projeto, equipe, orçamento, plano de divulgação e de implementação, além das
recompensas que serão oferecidas aos colaboradores. A equipe do PPL, por sua vez, analisa o
projeto e inicia um processo de assessoria e de mentoring junto aos realizadores, tanto na
promoção quanto na divulgação do projeto, que, se financiado, terá o seu desenvolvimento
acompanhado pelo PPL de forma proativa, assegurando com que as recompensas prometidas
sejam efetivamente entregues aos financiadores (AIP, 2014).
A Figura 6 demonstra como na aba do site, o PPL estimula a participação de realizadores
interessados em divulgarem os seus projetos.
Figura 6: Estímulo ao crowdfunding dado pelo PPL
Fonte: Recorte de tela do sítio oficial do PPL
Um bom exemplo de projetos do PPL é o intitulado “BIODANZA - A nossa vida mudou
enquanto dançávamos” onde através de um livro, o autor José Arthur Vasconcelos apresenta o
significado da prática da biodanza, um “sistema de integração humana, de renovação
orgânica, de reeducação afectiva e de reaprendizagem das funções originais da vida" assim
definida por seu criador, o Senhor Rolando Toro Arañeda (PPL, 2014).
Figura 7: Projeto de dança terapêutica - Biodanza no PPL
Fonte: Recorte de tela do sítio oficial do PPL.
46
Nesse projeto, quem colaborou com 5€, teve seu nome na lista de apoiadores do livro. Quem
colaborou com 15€, além do nome na lista de apoiadores, teve direito a um exemplar do livro.
Os que apoiaram com 30€, receberam duas cópias do livro autografadas pelo autor, assim
como o nome na lista de apoiadores. Quem investiu 60€ no projecto, além das recompensas
anteriores, receberam uma camisa ilustrada por uma artista portuguesa.
Figura 8: Projetos da banda de música raiz portuguesa Dazkeirieh
Fonte: Sítio oficial do PPL.
A banda Dzkarieh conseguiu o apoio de 224 colaboradores para a gravação do seu novo disco
de uma carreira que já somam 15 anos dedicados à música raiz de Portugal. Obteve sucesso e
arrecadou 7.900 €, bem acima dos 6.500 € inicialmente pretendidos.
Figura 9: Projeto do livro viajantes no PPL e recompensas oferecidas como estímulo à contribuição
Fonte: Sítio oficial do PPL
47
Um dos projetos de literatura que foi exitoso no PPL foi o livro “viajantes”, que tem o
propósito de mostrar uma Lisboa como ninguém jamais viu, através de um vertente poética,
amorosa e visual, onde o leitor é convidado a descobrir cada canto e recanto da cidade nos
seus pormenores mais simples e relevantes. As recompensas como estímulo à colaboração
com esse projeto foram desde colocar o nome do apoiador em uma página de agradecimentos
do livro, a versão em e-book e física do livro, e até mesmo um curso online de escrita criativa
para aqueles que colaboraram com um valor superior.
Conforme PPL (2014), algumas ações são imprescindíveis para se confeccionar um projeto de
sucesso. Uma das dicas demonstradas no site aconselha os idealizadores dos projetos a
criarem um discurso poderoso “Seja honesto e claro sobre o que quer realizar. Conte uma
história que seja interessante e inspiradora. O tempo dos potenciais apoiantes é escasso.
Comunique a sua ideia de modo simples, sucinto e que capte a atenção. Não tente explicar
tudo nos cerca de dois minutos do vídeo. Se conseguir captar o interesse da audiência, cada
pessoa poderá ler com mais detalhe a restante informação e até entrar em contacto consigo”.
2.2.4 A confiança como fator motivador
Um dos aspectos mais importantes nos relacionamentos apresentados nas plataformas de
crowdfunding é a confiança que se deve ter tanto no projeto quanto em seu(s) autor(es).
Rousseau et al. (1998) acreditam que a confiança é um estado psicológico que envolve a
intenção para aceitar vulnerabilidade, tendo em vista positivas expectativas que são criadas
sobre as intenções e o comportamento do outro. Ela representa um importante critério,
facilitador das práticas colaborativas, somada à força da ação coletiva (BOTSMAN;
ROGERS, 2011), constituindo um pilar essencial para esse tipo de negócio. Geralmente os
primeiros a se comprometerem com os projetos são os familiares e amigos mais próximos.
Eles costumam serem os primeiros a investirem e a dar início ao processo de difusão do
projeto tanto no tradicional boca-a-boca, como pelas inúmeras mídias sociais dispostas na
Internet. Além disso, um amigo, ainda que virtual, pode acabar influenciando outro a investir
no projeto. Segundo Cocate e Pernisa Júnior (2012, p.8) “à medida que um projeto recebe o
apoio de uma pessoa, outras também se sentem mais incentivadas a integrá-lo. A confiança se
instala neste momento, em que um usuário vê que há um certo número de participantes que
48
acredita naquele projeto”. Daí por que o apoio da família e dos amigos mais íntimos é tão
importante quando do lançamento do projeto.
Como um site pode obter a confiança de desconhecidos para que seus
projetos sejam financiados? Lembremos que o projeto possui uma pessoa ou
grupo de pessoas responsáveis. Assim, mesmo que um site seja criado por
desconhecidos, indivíduos próximos àquela pessoa ou ao grupo, familiares,
namorados, amigos, conhecidos, dentre outros, podem ser alvos fáceis de
confiança para o financiamento do projeto, devido à familiaridade e carisma
que já sentem pelos produtores. Dessa forma, munidos dos primeiros
doadores, a probabilidade de existir novos colaboradores aumenta
(COCATE; PERNISA JÚNIOR, 2012, p. 7).
Essa relação de confiança tem um impacto muito positivo para o marketing, pois a base
alicerçada por familiares e amigos íntimos servirá para estimular uma gama de desconhecidos
a acreditarem e investirem com mais segurança naquele determinado projeto. Sempre que for
atribuída confiança nas relações sociais, organizacionais e institucionais, ela tenderá a
influenciar significativamente o consumo colaborativo (BOTSMAN; ROGERS, 2011). Além
do engajamento natural que ocorre por parte dos amigos do grupo que busca financiamento, é
bastante considerável a participação de fãs já formados, nos casos de projetos apresentados
por algumas bandas com carreira já iniciada, mas conhecidas apenas em sua região de
atuação, cidade e região metropolitana. Jenkins (2009) ratifica o poder que a participação de
fãs possui, na maneira de produzir mudanças inclusive no mercado.
2.2.5 O sentimento de pertença e a co-criação nas ações de crowdfunding
O papel dos doadores e colaboradores de um projeto de crowdfunding é demonstrado a partir
de sua efetiva participação, inclusive como parte diretamente envolvida no Projeto. Há
indiscutivelmente um sentimento de pertença e de envolvimento com o projeto que se está
investindo, seja por identificação ou pela simples faculdade de se investir ou não. Segundo
Koury (2001), o termo pertença advém do mergulho no universo relacional do grupo,
permitindo ao sujeito individual sentir-se pessoa que acredita e é acreditada. No caso do
crowdfunding, o colaborador acredita no projeto ao investir nele, e é acreditado na medida em
que o mesmo projeto o envolve como um importante componente para que possa ser
realizado. No consumo colaborativo, o investimento que se dá naturalmente, por livre e
espontânea vontade, sem pressão, sem imposição, mas simplesmente por desejar fazer parte
daquele contexto, daquela realidade. Como o financiamento dos projetos através do
49
crowdfunding vem somente de pessoas que se interessam pela consolidação dos mesmos,
ainda que não sejam fãs, verifica-se como o panorama de mercado está mudando, seguindo a
linha de baixo para cima, ou seja, dos consumidores para as empresas, (COCATE; PERNISA
JUNIOR, 2011). O colaborador passa a se enxergar não apenas como um financiador, mas até
mesmo como um dos criadores daquele projeto, um participante efetivo de uma cultura que
aproxima o produtor do consumidor.
De alguma forma, o doador auxilia na produção do projeto, pois pode se
considerar um dos responsáveis pela concretização do mesmo, acreditando
na iniciativa e tornando-a realidade com seu próprio dinheiro. Ao mesmo
tempo, destaca-se que é o consumidor do próprio projeto que auxiliou na
produção. Assim, o termo de Jenkins, cultura participativa, também pode ser
adotado, pois a participação de uma mesma pessoa acontece de duas formas,
como produtor e como consumidor (COCATE e PERNISA JUNIOR, 2011,
p. 7).
Nesse contexto de cultura participativa, o consumidor tem a chance de financiar e se tornar
parte do processo de consolidação de determinado projeto, financiando-o conforme as suas
limitações e na proporção em que ele acredite no sucesso do mesmo.
Como pose-se observar, o crowdfunding possui diversas vertentes voltadas para a produção
cultural em suas múltiplas manifestações, o que denota a necessidade da apresentação de algo
sempre inovador, objetivando cumprir com o seu papel principal. Repetindo Valiati (2013, p.
45) “o consumo cultural busca um produto aparentemente individualizado e sempre novo,
mesmo que seguindo fórmulas preestabelecidas”. Vale reforçar que o crowdfunding pode
servir como ferramenta de marketing para diversos outros tipos de produtos, inclusive de
cunho pessoal, como o financiamento de um curso universitário ou a viabilização de uma
mudança de uma pessoa de uma cidade para outra, e até de benefícios de cunho social, como
o desenvolvimento de um leitor de cores para deficientes.
2.3 O crowdfunding e os produtos culturais
Embora o crowdfunding seja uma ferramenta capaz de acolher projetos nos mais variados
ramos, seja filantrópico; religioso; de conotação pessoal; e até mesmo de retorno financeiro e
de participação nos lucros, é na produção cultural que ele acaba se estabelecendo com maior
força. Não é a toa que os principais sites que disseminam o crowdfunding no mundo estejam
voltados para esse segmento.
50
Os produtos culturais inevitavelmente tem uma grande disposição para o entretenimento,
sejam livros, discos, peças teatrais, obras de arte diversas; e por isso acabam por envolver
tantos jovens empreendedores, além de grupos e empresas já consolidadas nesse ramo.
Enquanto as jovens empresas buscam estabelecer o seu espaço num mercado competitivo, e
enxergam no crowdfunding uma oportunidade de sair do anonimato, as empresas já
consolidadas abraçam essa ferramenta por nela vislumbrarem uma excelente maneira de
expandirem seus negócios e até mesmo atingir um público diferenciado.
Os sites de crowdfunding ganharam até segmentação. Existem sites só para projetos de
pequenas empresas ou com fins sociais, como o Senso Incomum, criado por Eduardo Sangion
(RONCOLATO, 2011). Apoiados por outras mídias sociais disponíveis na Internet, que tem
acima de tudo um caráter bastante estimulador, dada às suas constantes
inovações/atualizações, elas são consagradas como uma chance real de se obter um futuro
“comercial” melhor.
Pode-se assegurar que a palavra “cultura” tem um significado bastante amplo, tendo por base
os primórdios da natureza na própria produção de alimentos, passando pelo cotidiano das
pessoas conforme os seus hábitos e características influenciados pelas condições
socioeconômicas e geográficas, até atingir o ápice com o envolvimento da mente e do
intelecto na medida em que se conhecem distintos lugares, obras e manifestações artísticas.
Nas concepções de Tabosa e Cavalcanti (2012), o conceito de cultura, etimologicamente
falando, deriva do cultivo da terra, evoluindo posteriormente para o cultivo da mente, com a
ideia da preparação e absorção de conhecimentos. Já na antropologia cultura engloba desde
conhecimentos, crenças e visões de mundo, a línguas, artes, leis, valores morais e costumes
(EAGLETON, 2005).
A sociedade é o berço natural de qualquer cultura, na medida em que ela inevitavelmente dita
seus valores, suas regras e suas formas de se lidar com o mundo. Hall (2006) manifesta que a
cultura é vista como a organização dos significados e dos valores de determinados grupos
sociais que em posições diferenciais de poder político, financeiro ou de acesso à mídia, luta
pela imposição de sua cultura visando abranger uma parcela mais ampla da sociedade.
Para que a cultura apresente valor de mercado, é preciso que ela tenha a capacidade de ser
vista como mercadoria. Tabosa e Cavalcanti (2012, p.13) mostram que “a cultura gera valor
porque o que é incorporado aos produtos são formas de vida: estilos, preferências, status,
51
subjetividades, informações, normas de consumo”. O desafio para que esse valor seja
percebido pelo consumidor é fazer com que este se identifique com as características
apresentadas por aquele produto cultural e assim, sinta-se interessado por sua aquisição.
2.3.1 Qualificando os produtos culturais
Produtos Culturais são aqueles que se traduzem em manifestações artísticas sejam de atores
ou autores principiantes ou já consagrados, que atuam ligados a diferentes segmentos tais
como a música, o teatro, o cinema, a dança, a escultura, a pintura, etc. e que através desses
produtos buscam uma aceitação no mercado mediante a conquista de um público que com
eles se identifique. A partir desses produtos culturais é que surgem as empresas culturais que
nas visões de Gouveia e Limeira (2008, p.75) “A empresa ou organização cultural, em uma
perspectiva restrita, é responsável pela criação, produção e/ou distribuição de artes ou
espetáculos ao vivo, tais como teatro, música, ópera, dança, bem como de artes visuais,
encontradas nas galerias de arte e museus, em bibliotecas e sítios históricos”. Num contexto
mais amplo, as indústrias culturais difundem uma série de produtos diferenciados, não se
esquecendo de englobar também os mais tradicionais, tais como os livros e os discos.
Qualificar um bem ou serviço como produto cultural não é tarefa simples, porque
involuntariamente para ser considerado como produto ele tem que apresentar um mínimo de
associação com o mercado, uma ligação com o aspecto econômico. Um bem ou serviço
poderá ser qualificado como produto cultural conforme o valor agregado. Portanto, além do
valor econômico, esses bens e serviços possuiriam um valor cultural, ligado a um grupo
cultural particular, representando a distinção do grupo em relação aos demais (THROBY,
2008). Percebe-se aí que a expressão “valor cultural” demonstra a capacidade que esse
produto deve ter de ser comercializado, potencializado pelo valor econômico a ele atribuído.
Por outro lado, a cultura ser tratada como mero produto, representa um risco as suas qualidade
e originalidade, perdendo até mesmo a sua essência motivadora e inovadora que é acima de
tudo a de lidar com o emocional das pessoas. Ao ser percebida e comercializada apenas como
produto, a cultura acabaria suprimindo outros tipos importantes de cultura, a exemplo da
cultura popular e dos folclores locais (CANCLINI, 2000).
O crowdfunding é uma ferramenta importante para ajudar a combater esse fato, uma vez que
ele abre portas para propostas inovadoras e de certa forma combate a massificação de um
52
estereotipo de produto que possa ser culturalmente visto como o ideal de ser consumido. É
importante que um produto cultural esteja sempre afastado da lógica o mercado, pois deixar
que ele funcione sob essa lógica e ignorar sua importância em outras instâncias e para
diferentes stakeholders, pode ter desdobramentos problemáticos (ARAUJO, 2000).
Mais do que tudo, produtos culturais devem significar pluralidade e multiplicidade, pois as
possibilidades para suas criações são infinitas e emergem a cada segundo, das mentes mais
divergentes e situadas nos mais diferentes pontos desse planeta. Alguns autores defendem a
ideia de que a cultura e a arte perdem seu valor quando são transformadas em produtos e se
submetem às forças de mercado e a mecanismos industriais de produção, pois acabam
perdendo as características fundamentais de autenticidade e originalidade (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985).
O crowdfunding representa um importante veículo para demolir esses mecanismos industriais
de produção que tendem a apontar como certo e viável algo que por elas foi eleito para ser
sucesso. Ele representa uma força para fazer com que os grandes produtos criativos possam
ser conhecidos, reconhecidos e consumidos, independentemente de qual seja a fonte de sua
origem. A qualidade de um produto cultural pode ser identificada quando o seu valor de uso
supera – em muito – o seu valor de troca. Assim, ela mantém o seu real significado
preservado, imune às tentações mercadológicas, que são importantes – sem dúvida – mas que
muitas vezes deturpam o real sentido daquele produto existir.
O Marketing Cultural tem a função de fazer com que determinado produto cultural se mostre
atraente para possíveis consumidores, de modo que esses venham a experimentá-lo, adquiri-
lo. Ele pode ser visto como uma atividade vinculada ao departamento de marketing de uma
empresa, tendo por objetivo a aproximação dessa empresa ao público consumidor através de
produtos culturais (REIS; SANTOS, 1996).
O Marketing Cultural precisa atender as necessidades e expectativas desses consumidores,
sendo entendido como uma ferramenta que amplia o alcance das atividades de comunicação e
de marketing de uma empresa (FARIA; GANGEMI, 2006). A lógica do crowdfunding é
claramente percebida quando Reis e Santos (1996) demonstram que essa aproximação pode se
dar de maneiras diversas, a exemplo de doações e patrocínios, com ou sem intenções de lucro
ou de divulgação de marketing, ou seja, com ou sem ganhos materiais ou não materiais.
53
A aproximação entre as empresas e os produtos culturais é algo bastante salutar no sentido de
se apoiar algo inovador e fazer com que o mercado se abra para esses produtos. Não obstante
há que ser cauteloso quanto à possibilidade desses produtos serem tratados como meras
mercadorias, pois segundo Morgan (1992) vivemos em um mundo em que as pessoas sabem o
preço de tudo e não sabem o valor de coisa alguma, uma vez que o valor de um produto
cultural vai bem além do seu preço de mercado, sendo mais amplo por lidar com algo que é
extremamente relevante para as pessoas, ou seja, o emocional, a identificação natural com
aquele produto, independentemente do que o mercado em si sugere sobre ele.
As estratégias de marketing que visam promover ações destinadas a atrair público para os
Produtos Culturais tornam possíveis a realização de diversos projetos, garantindo suas
implementações. As instituições que lidam com esses tipos de projetos, por vezes utilizam de
ações de marketing que garantam a sua sobrevivência, através da busca de parcerias e
captação de patrocínio junto às empresas privadas. Observe-se, por exemplo, um show
acústico de um artista iniciante, como bem dizem Gouveia e Limeira (2008), precisa de ações
de marketing que ampliem a sua possibilidade de troca com a população, atraindo novos
públicos e aumentando a busca de ingressos para os espetáculos. Essas ações, por sua vez,
poderão se dar integralmente através da web, e fará com que esse show tenha mais chances de
ter sucesso de público, na medida em que conquista consumidores para ele.
Os empresários ligados à área cultural começaram a perceber a importância do marketing e de
suas ferramentas para atrair tanto clientes quanto patrocinadores que apreciam produtos
culturais, entendendo essas ferramentas como uma importante alternativa para captar público
e recursos.
2.3.2 O valor dos produtos culturais
Karl Marx já dizia que todo produto tem valor de uso e valor de troca. Carcanholo (1998)
estudou o valor das mercadorias para Marx e apresenta que inicialmente, a mercadoria é um
objeto que, a partir de suas propriedades materiais, tem a propriedade de satisfazer as
necessidades do homem. Essa característica é conhecida como valor de uso. Por outro lado, a
mercadoria também tem a propriedade de ser trocada por outras mercadorias distintas. A essa
característica chamou-se valor de troca.
54
Como é sabido, os valores de mercado acabam influenciando também na comercialização dos
produtos culturais. O delicado nesse contexto é quando o consumidor passa a adquirir
determinado produto por mera ostentação e não por identificação com o mesmo. Nesse caso,
ao invés do prazer estético, o que se busca é estar por dentro, conquistar prestígio em
determinado contexto social, e não propriamente ter uma experiência do objeto (DUARTE,
2004), atitude essa em que o valor de uso é minorado face ao valor de troca estabelecido pelo
mercado, associando o consumo à capacidade financeira de envolvê-lo.
É natural que se espere uma identificação natural do cliente com os produtos culturais, ou
seja, que as ações de marketing tenham a função maior de despertar o interesse por algo que
aquele consumidor de certa forma há muito tempo já esperava, na certeza clara de que aquele
produto tem a ver com a sua personalidade, com os seus ideais e com a sua visão de mundo,
em detrimento a um conceito meramente mercadológico para se sentir pertencente a uma
classe social, o que ocorre quando aquele consumidor pouco entende ou se identifica com o
produto.
2.3.3 O produto cultural quanto a sua (in)tangibilidade
Durante muito tempo os produtos físicos ou materiais dominaram em absoluto os mercados
mundiais. Dada a sua intangibilidade, como acontece na maioria dos casos, os produtos
culturais poucas vezes encontraram um espaço relevante no mercado. O recente surgimento
de novas mídias, somado aos efeitos da globalização, promoveram um verdadeiro revés na
situação dos produtos intangíveis. Tabosa e Cavalcanti (2012, p.3) asseveram que,
Diante do processo da globalização, com o advento da era da comunicação e
da informação, estamos acessando novos patamares da centralidade do
intangível para os conteúdos dos produtos. A nossa vida que estava
organizada há séculos e talvez milênios no entorno do material, dos
conteúdos tangíveis muda bruscamente para uma situação em que o
intangível/imaterial passa a ter papel preponderante.
Concordando com Gouveia e Limeira (2008), alguns bens culturais são de capital ou duráveis,
a exemplo de um quadro de um pintor famoso, que continua gerando uma grande quantidade
de serviços muito após a morte de seu criador. Outros, como as artes performáticas, existem
por um curto período de tempo, embora seus resultados possam durar por vários anos. Assim,
seja essa arte expressa num quadro pintado por um artista famoso, seja no desempenho de um
grupo musical, em ambas as circunstâncias ela terá certa durabilidade.
55
A diferença é que no primeiro caso, essa arte ultrapassa a linha da própria existência do autor,
enquanto que na segunda, as emoções percebidas poderão durar por toda a vida daquele que
viveu aquele espetáculo, mas tem uma conotação finita diante da impossibilidade de se viver
novamente e in loco emoção semelhante. O que pode dar uma ideia de perpetuação, nesse
caso, são os espetáculos gravados em DVD que poderão ser exibidos na posteridade, porém
sem a possibilidade de estar naquele momento dividindo da mesma energia que ali estão
sendo emanadas.
Nesse momento reforça-se o papel das emoções que está ligado aos produtos culturais.
Dificilmente uma pessoa que assistiu a um espetáculo como o do Cirque de Soleil ou da
Broadway, ou um show de um grande artista, esquecerá das sensações vivenciadas.
Muito embora as pessoas sempre se refiram aos produtos culturais como essencialmente
intangíveis, há que se destacar que existem bastantes produtos culturais materializados.
Enquanto estes são representados pelos CDs de músicas, DVDs de filmes, livros, revistas e
jornais; àqueles são representados por concertos, shows, peças teatrais, espetáculos circenses,
dentre outros.
Para Towse (2003), é necessário diferenciar os bens culturais materializados dos serviços
culturais intangíveis. Nesta categoria estão compreendidas as artes performáticas. Neste caso
em específico, a autora utiliza a expressão “produtos culturais” para decretar aqueles que têm
uma conotação materializada, enquanto utiliza a expressão “serviços culturais”, para
demonstrar aqueles que têm um vertente intangível.
Ainda assim, os produtos culturais, em sua maioria, têm um significado bem mais voltado
para intangibilidade, ou seja, dos serviços, do que para a tangibilidade, representada pelos
produtos materiais. Vale reforçar a ideia de que mesmo materializado, aquele produto
originou-se da propriedade intelectual de alguém que usou de sua criatividade e originalidade,
traduzidas em poesias, canções, cenas e outras manifestações que representam um momento,
que pode ser real ou fictício, mas que mediante a produção em série passa a ser melhor
proliferado, atingindo um público bem maior, sem qualquer obstáculo fronteiriço, graças ao
apoio das mídias sociais.
James Téboul (1999) diz que enquanto um produto é uma coisa, o serviço é um ato.
Comungando com esse pensamento, Gouveia e Limeira (2008) concluem que boa parte dos
produtos culturais, principalmente o das artes performáticas - como teatro, música e ópera -
56
são serviços, num relacionamento entre o prestador e o cliente, onde o qual o cliente entra de
um jeito e sai transformado depois da prestação desses serviços, o que também acontece nos
casos de um corte de cabelo, uma consulta médica, uma aula ou um espetáculo teatral.
Percebe-se então que o serviço cultural tem uma lógica transformadora, capaz de mudar o
pensamento das pessoas, contribuindo para torná-las mais cultas na medida em que incitam o
pensamento e a reflexão, coisas que só serão possíveis através dos produtos culturais que
apresentem qualidade, a exemplo canções de extraordinários talentos da Música Popular
Brasileira, tais como Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Fagner, Chico Buarque, Chico César,
Alcione, Clara Nunes, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Gal Costa, Tom
Jobim e Vinícius de Moraes. Dos cantores portugueses, destacam-se Mariza, Amália
Rodrigues, Dulce Pontes e Carlo do Carmo, dentre outros.
Figura 10: Imagens dos álbuns dos cantores Daniela Mercury, Chico Buarque, Dulce Pontes e Carlos
do Carmo; produtos culturais respectivamente intitulados de Feijão com arroz, Paratodos, Lágrimas, e
disco homônimo onde foi lançada a canção gaivota.
Fonte: Recortes das páginas onde constam as discografias desses artistas
4.
Os Produtos Culturais intangíveis apresentam uma subjetividade muito específica no que
alude as suas qualidades, bem mais do que se pode esperar dos produtos materializados. Isso
ocorre porque cada pessoa absorve os produtos de natureza imaterial de uma maneira muito
intrínseca e particular. Pode-se dizer que as emoções despertadas por um produto cultural
intangível é de caráter íntimo. Assim, o que uma pessoa ou um grupo de pessoas pensam
sobre aquele produto, pode ser exatamente o contrário do que outras acham, justamente
porque estas não se identificam em absolutamente nada com a proposta do mesmo.
4 Disponíveis em:
<http://www.danielamercury.art.br/discografia/>; <http://www.chicobuarque.com.br/construcao/index.html>;
<http://www.dulcepontes.info/discografia.html>; e <http://www.discogs.com/Carlos-Do-Carmo-Carlos-Do-
Carmo/master/686802>. Acessos em 23 out. 2014.
57
2.3.4 O marketing a serviço dos produtos culturais
O marketing a serviço da criação de valor para os clientes no âmbito dos Produtos Culturais
tem uma vertente bastante mutável, uma vez que precisa de constante atualização e renovação
de suas ações para que possa atingir suas expectativas. Se o marketing estando a serviço de
um produto tangível e normal tal como um veículo ou um eletrodoméstico já necessita desse
engajamento com a inovação, quando voltado para os produtos culturais, essa necessidade é
superada em longa escala.
Para Tabosa e Cavalcanti (2012, p.7), “num mundo que muda tão rápido, os profissionais de
marketing precisam pensar ininterruptamente no futuro se quiserem continuar criando valor
para os seus consumidores”. Uma forma inovadora como ação de marketing para criar valor
para os produtos culturais é sem dúvida alguma o crowdfunding. O valor para o cliente se
traduz na diferença percebida entre os benefícios do uso do produto pelo custo investido na
sua compra (CHURCHILL, 2003).
A comercialização de Produtos Culturais, no entanto, não difere das de um produto como
outro qualquer, no sentido de que precisa enfrentar os mesmos desafios percebidos no
mercado, tais como consolidação do produto, da marca, disputa de preço, qualidade,
inovatividade, satisfação, enfim, tudo o que envolve uma acirrada concorrência.
Para Tabosa e Cavalcanti (2012, p.8) “com o processo da globalização nos novos tempos,
consolidou-se a assertiva de que a comercialização é o obstáculo mais importante a ser
superado na cadeia de produção, circulação e consumo dos objetos”, sobretudo porque os
produtos estão mais sujeitos do que nunca a uma grande competitividade mercadológica.
Faria e Gangemi (2006) asseveram que para a maioria dos autores da área de marketing, a
aproximação entre empresas e produtos culturais é mais do que natural no contexto da
globalização, sendo explicada tanto pela expansão das fronteiras do mercado, quanto pela
hipercompetitividade. Esse termo hipercompetitividade surge justamente com o aprofundar
dos efeitos da chamada aldeia global e das inúmeras possibilidades de transações comerciais
que ela permite. E os produtos culturais não ficam de fora desses efeitos. Faria e Gangemi
(2006, p.1) mostram que “quase tudo que não era tido como mercadoria, passou a ter essa
conotação nos últimos 15 anos”.
58
Assim, denota-se que o mundo está mais comercial do que nunca e que tudo, de certa forma,
pode virar um produto negociável. Os produtos culturais emergem nesse contexto com uma
força absurda e fatura muito com tudo isso. Os empresários ligados à área cultural já
perceberam a importância do marketing e de suas ferramentas para atrair e manter clientes.
Por isso, eles não medem esforços ao investirem pesado em suas ações.
Os profissionais que lidam com a gestão de produtos culturais têm um desafio e tanto a vencer
no dia a dia, por atuarem com tipos de “mercadorias” onde mais do que quaisquer outras
necessitam de uma identificação superior com o consumidor, já que estes precisam se
reconhecer no que está sendo consumido, algo que de certo modo mexa com o seu imaginário,
com os seus sentidos e porque não dizer com as suas emoções, sonhos e até desejos. Tabosa e
Cavalcanti (2012, p.18) revelam que “o desafio do gestor da produção cultural é facilitar o
fluxo e os contra-fluxos das subjetividades através da mediação com o consumidor
oferecendo a valorização do produto como experiência de consumo por meio do
reconhecimento da diversidade, o enriquecimento interior e ampliação sensorial”.
Esse lidar a todo instante com a subjetividade e com o intangível, faz com que os
profissionais que exercem suas atividades junto aos produtos culturais enfrentem um desafio a
mais enquanto gestores, que é o de convencer o consumidor da importância de se ter uma
experiência com aquele produto e de como o mesmo poderá trazer um significado positivo a
sua vida e à sua percepção de mundo.
Na maioria dos casos, o produto cultural é compreendido como sendo de elevado valor
intangível, passando uma ideia de consumo imediato, inserido nas categorias dos serviços,
como, por exemplo, um espetáculo de ópera. Há nesse caso uma imbricação entre o produto e
o serviço. Para fazer com que o consumidor se atraia por esse produto intangível e de caráter
cultural, o composto de marketing vai agir com os seus tradicionais 4Ps dos produtos, sendo-
lhes adicionados 2Ps capturados do marketing de serviços. Como bem mostra Churchill
(2003), o marketing de serviços passou a ser percebido como aquele com a finalidade de criar
trocas para produtos intangíveis.
Conforme demonstra o Quadro 1, aos 4P’s dos produtos que compõem o mix de marketing e
significam preço, produto, praça e promoção, somar-se-ão os 2P’s dos serviços que são
pessoas e processos. Para cada um desses P’s foram indexados Cs correspondentes,
significando os impactos que os P’s tem sobre os consumidores, conforme a visão dos 6Cs de
Baker (2005). Detenha-se aqui apenas ao marketing de serviços onde as Pessoas estão ligadas
59
à Cumplicidade (relações humanas) e os Processos estão ligados aos Contra-fluxos e os fluxos
(as interações e identificações das pessoas com esses processos). Como já abordados
anteriormente, o marketing de serviços, principalmente se voltado para os produtos culturais,
terá uma imensa imbricação entre as pessoas e os processos.
Quadro 1 – Marketing de Produtos e Serviços.
MARKETING DE PRODUTO + MARKETING DE SERVIÇOS
MARKETING DE PRODUTO
4 P's Preço, Praça,
Produto e Promoção
4 C's Consumidor, Custo,
Comunicação e Conveniência
4 P’s + 2 C’s
MARKETING DE SERVIÇO
2 P's Pessoas e Processos
2 C's Cumplicidade e Contra-fluxos
Fonte: Elaboração própria, adaptada de Baker (2005).
Essa imbricação denota um poder de atração originado possivelmente na cumplicidade
percebida nesses relacionamentos, bem assim nas interações construídas durante o percurso
fluxos/contra-fluxos, que resultará numa sinergia natural entre as partes, fazendo toda a
diferença no consumo de um serviço. Além do mais, o marketing voltado para os produtos
culturais consolida todos os aspectos que costumeiramente são vislumbrados em qualquer
outro produto tangível e material.
O marketing cultural, assim como em qualquer outro produto que não tenha o contexto
cultural, naturalmente também se ocupa com questões como mudança na percepção em
relação à determinada marca, o aumento nas vendas, a exposição da marca e o retorno
financeiro (ALMEIDA, 1993). Entende-se aí, que os mesmos esforços constituídos por uma
empresa ligada aos produtos tangíveis, também são desprendidos pelas empresas de produtos
intangíveis, na constante luta por aumento de clientela, de vendas e de lucros, dentre outros
fatores.
Da mesma forma em que se espera de todo produto, aqueles voltados para a vertente cultural
também almejam alcançar a satisfação dos consumidores, sobretudo no afã de galgar um
60
sucesso de crítica, de público e também financeiro, obviamente. Mas o interessante de se
destacar no contexto dos produtos culturais é que eles são realmente produtos de experiência,
de vivência, tendo estas uma representação única para a vida de cada consumidor.
Sob essa égide, a experiência de assistir a um show de rock é vivenciada pelo expectador no
próprio momento do show. Ao final do espetáculo, o consumidor ainda que insatisfeito com o
show que acabou de participar, não terá como devolver o que acabou de ser consumido ou ser
ressarcido pelo não atendimento de suas expectativas. Não é uma situação que permita a
troca, como acontece com os produtos tangíveis. Por outro lado, se satisfeito, essa satisfação
será disseminada tanto no boca-a-boca quanto através das redes sociais, estimulando a
participação de mais e mais pessoas que de alguma forma se agradem daquele produto.
Mais do que simplesmente bens de experiência, os produtos culturais devem ser qualificados
como “bens de crença”, o que significa que sua qualidade é raramente conhecida, dada a sua
característica subjetiva que permanece mesmo depois de experimentada (GOUVEIA;
LIMEIRA, 2008). Como consequência, nenhuma reclamação pode ser feita se há um
desapontamento, por exemplo, com um filme depois de sua projeção. Isto não acontece com
outros bens de experiência, como por exemplo um vinho, cuja qualidade pode ser contestada.
Gouveia e Limeira (2008) também mostram que produtos ou bens de experiência são aqueles
para os quais o preço não é um indicador de satisfação que o produto irá trazer para o
consumidor, ou seja, a capacidade dos produtos culturais em satisfazer os desejos dos
consumidores só será revelada após o consumo. Porém eles afirmam que essa característica
não é de exclusividade dos produtos culturais, mas é própria de uma grande quantidade de
serviços.
A satisfação de um produto cultural apresenta um viés muito forte ligado ao emocional, ou
seja, do quão significativo aquele espetáculo é para cada uma das pessoas que o assistiu. Há,
porém, aqueles que consomem esses produtos para demarcar um espaço na sociedade.
Parafraseando Bourdieu (1984), o consumo é ao mesmo tempo uma atividade material e
simbólica. Nesse caso em específico, essa simbologia está ligada também ao status social,
onde o produto cultural pode ser consumido para demonstrar o pertencimento a um
determinado tipo de classe social.
Entrementes, Gouveia e Limeira (2008) ressaltam que, no caso de um filme, o mesmo não
pode ser previamente testado enquanto está sendo montado, rodado e finalizado, pois nessa
61
altura a maioria dos gastos já foi feita e são totalmente irrecuperáveis. Eles apontam também
que em relação aos bens culturais, embora os custos fixos de produção sejam elevados, os
custos de reprodução refletem o contrário, sendo muito baixos, demonstrando que quanto
maior for o tamanho do mercado comprador, menor será o preço da venda unitária, o que
confirma a velha lei da oferta e da demanda. Se um filme faz sucesso, ganha vários troféus no
Oscar, automaticamente será bastante reproduzido e vendido, e quanto maior a escala dessa
produção, menores os custos de replicação e de venda.
2.3.5 Produtos culturais e tecnologia da informação
O marketing representa um braço inovador da ciência da administração. Se ele for aplicado às
organizações que oferecem Produtos Culturais, acaba demonstrando um caráter mais inovador
ainda. Os produtos culturais são costumeiramente os que mais precisam de investimentos e de
patrocínios para sair do papel. Seja do poder público, seja da iniciativa privada, seja da
população em geral, como no caso dos apoiadores mediante plataformas de crowdfunding, os
produtos culturais, especialmente os que apresentam características muito inovadoras e ainda
não similarmente experimentadas no mercado, enfrentam diversos obstáculos para conseguir
projeção.
Quanto à gestão de marketing de organizações culturais, a primeira
referência surgiu em 1967, em livro publicado por Philip Kotler
(“Marketing Management: Analysis, Planning and Control”), que
destacou a necessidade de se analisar o marketing de organizações
como os museus, as salas de concerto, as bibliotecas e as
universidades, que oferecem produtos culturais, os quais competem
pela atenção dos consumidores por parcela dos investimentos públicos
e privados (GOUVEIA; LIMEIRA, 2008, p. 3).
A tecnologia da informação conseguiu estabelecer a minimização das fronteiras culturais a
um ponto quase invisível pelo menos no que tange ao relacionamento entre pessoas. O poder
alcançado com essa comunicação se reflete de modo progressivo nas transações comerciais e
financeiras. Atualmente, muitos dos produtos culturais que antes eram conhecidos
massivamente apenas em seus países de origem, passaram a romper fronteiras numa alta
velocidade, mediante ferramentas vinculadas às redes sociais tais como Youtube, Facebook,
Twitter e Instagram, dentre outros.
Gouveia e Limeira (2008) pontuam que a tecnologia da informação está arranhando as
fronteiras que existiam entre o que se passa perto e longe de casa, transformando-a numa
62
central de informações e entretenimento. Com base nisso, qualquer pessoa, mesmo estando no
aconchego do seu lar, poderá cria e difundir projetos de cunho cultural através da web,
inclusive buscar captar recursos para pô-los em prática mediante ferramentas
importantíssimas como as que estão ligadas ao crowdfunding. Hoje, mesmo estando no Brasil,
o autor de um projeto cultural pode receber apoio financeiro de estrangeiros residentes em
Portugal ou em qualquer outra parte do mundo, através dos mecanismos virtuais, que agem
em questão de segundos. Toda essa possibilidade inovadora é fantástica e ajuda a promover
uma série de produtos culturais interessantes que até pouco tempo atrás teriam poucas chances
de existir.
2.3.6 Patrocínio aos produtos culturais
Os critérios de seleção dos patrocínios destinados aos Produtos Culturais se dão das maneiras
mais variadas possíveis, a depender dos segmentos dos patrocinadores ou das pessoas que
decidem investir nesses produtos. Governos e Empresas apoiam projetos que convirjam com
suas ações, podendo ser de cunho social, voltados para determinadas comunidades tais como
indígenas e quilombolas; ou até mesmo direcionados a prestigiar as culturas locais, a exemplo
do Carnaval Pernambucano, do São João da Paraíba e do Boi amazonense.
Gouveia e Limeira (2008, p.29) mostram que “o mercado de patrocínio compreende
indivíduos, fundações e empresas privadas que fornecem suporte financeiro para os
empreendimentos culturais. Cada patrocinador tem seus próprios critérios para selecionar um
empreendimento a ser apoiado”.
Sempre que se pensa em apoio ou patrocínio de produtos culturais, tendenciosamente as
pessoas associam ao governo ou às grandes empresas, pouco se lembrando da força que reside
nos indivíduos comuns, no povo. É justamente essa força que impulsiona aqueles que fazem
do crowdfunding uma realidade. Esses apoiadores sentem-se instigados ao investirem nesses
produtos inovadores. Há um envolvimento pessoal em cada ação de financiamento
proporcionada pelo indivíduo que apoia determinado projeto. Esse envolvimento, se benéfico
e prazeroso, servirá como estímulo a novas ações semelhantes, além de incentivar outras
pessoas a agir de idêntica forma, sobretudo pelo retorno emocional e intangível que participar
como co-criador de valor para um produto através da plataforma do crowdfunding poderá
certamente proporcionar.
63
Normalmente as instituições financeiras possuem linhas de crédito específicas destinadas às
empresas que necessitam de apoio aos seus projetos. Órgãos como o SEBRAE no Brasil
costumam orientar as pequenas empresas, contribuindo para que as mesmas se firmem no
mercado.
Tradicionalmente os produtos culturais são financiados tanto pelo governo quanto pela
iniciativa privada. A Lei de Incentivo à Cultura, batizada de Lei Rouanet é um exemplo de
incentivo dado pelo Governo Federal, que age mediante a captação de patrocínio em troca de
incentivos fiscais. Um dos principais objetivos da referida Lei é contribuir para facilitar a
todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos
culturais. Porém, apesar de já contar com mais de duas décadas, uma parte considerável dos
projetos contemplados com recursos dessa Lei, quando vinculados aos nomes das grandes
empresas, envolve também artistas de grande expressão no cenário nacional, além de somas
milionárias nesses investimentos. De toda sorte, dificilmente um projeto de um artista
comum, ainda sem reconhecimento da mídia, conseguirá atrair grandes investimentos
privados mediante o uso dessa Lei. Imagine-se, no entanto, quantos projetos excelentes de
pessoas comuns poderiam ter sido postos em prática, com a contribuição disponibilizada a
apenas um grande artista de peso, que chegam a captar até 5,8 milhões para uma turnê de
apenas 12 shows (DIAS, 2013).
2.4 Lealdade e satisfação do consumidor de produtos culturais
Se para uma empresa o fato de um consumidor adquirir seu produto é importante, conquistar a
lealdade desse cliente é mais importante ainda. A lealdade do consumidor é o sonho de
consumo de qualquer empresa. Stone, Woodcock e Machtynger (2001), apresentam a lealdade
como um estado de espírito, um conjunto de atitudes, crenças e desejos relacionadas a um
determinado produto. Os desafios para atingir a lealdade são enormes, face a acirrada
concorrência existente na atualidade, somada a facilidade do descarte daquilo que não agrada,
o que se dá com uma rapidez nunca antes vista, sobretudo em relação aos produtos e serviços
de empresas que deixam a desejar. Segundo Hardesty e Bearden (2009), o conceito de
lealdade do consumidor ocupa posição central no marketing, representando sempre um campo
de conhecimento de interesse primário na academia. É possível assegurar que a lealdade é um
dos fatores mais especiais para o marketing, após este cumprir a missão maior de atrair o
consumidor para a primeira compra ou utilização de um serviço. Frank (1967) diz que a
64
conceituação de lealdade provém de uma abordagem comportamental, em que o
comportamento de compra repetitivo era central. Nesse contexto, a questão da repetição é
muito valorizada, sendo base para confirmação da lealdade. Por outro viés, Dick e Basu
(1994) apresentam uma abordagem composta, apresentando o comportamento e a atitude
como duas condições essenciais à lealdade.
Essa abordagem denota a necessidade do cliente perceber no produto, um atrativo que o
motive a estabelecer um vínculo, inclusive afetivo, capaz de estimular o constante retorno ao
seu uso. Assim, entende-se que a lealdade é conquistada a partir de uma identificação natural
com o produto, que por sua vez além de gerar um sentimento de prazer e de satisfação,
provoca também o interesse de experimentá-lo outras vezes. A satisfação é essencial para o
construto da lealdade, entretanto é apenas o primeiro antecedente para se alcançar a mesma,
sendo necessário o estudo de outros aspectos influenciadores (SANTOS et al., 2010).
A lealdade pode conduzir a uma conduta de clientes mais rentáveis, pois quanto mais
apaixonados pela marca da empresa ou pelo tipo de produto ela oferece, mais ele estará
disposto a consumir, inclusive não se prendendo a detalhes ínfimos que por ventura tenham
lhe desagradado, pois ele, o cliente leal, se torna também mais tolerante aos possíveis
contratempos que possam surgir na empreitada da compra e do uso do produto. Os programas
de fidelidade são grandes exemplos de ações de marketing que promovem um grande reforço
na lealdade, contribuído para que esses fatores de tolerância se estabeleçam. O’Brien e Jones
(1995) asseveram que os programas de fidelidade podem acelerar o processo de fidelização
dos consumidores, que passam a ter um ciclo de vida dentro da empresa, e por isso mesmo,
passarem a ser mais lucrativos. Há, porém, uma grata diferença entre lealdade e fidelidade.
Giuliani (2003) assevera que enquanto a fidelidade está ligada a uma conveniência que pode
ser momentânea, onde os clientes acreditam estar diante de uma boa opção para aquele
determinado momento, a lealdade tem a ver com convicção, pressupondo um horizonte de
tempo maior em uma relação bem mais aprofundada. Destacamos ainda o tipo de lealdade
forçada, que para Barnes (1994) simboliza os altos custos de mudança que levam o
consumidor a permanecer na relação contra a sua vontade.
Há uma imbricação muito forte entre a lealdade e a lucratividade. Os consumidores leais são
de um valor imensurável, representando ativos de importância singular na solidez de uma
empresa. Serão eles que irão garantir sua sustentabilidade da empresa, formando uma espécie
de base que irá contracenar com outros tipos de clientes que só se utilizam daquela
65
organização e de seus produtos, esporadicamente. Lionello, Slongo e Alba (2013, p. 05)
apresentam que “diversas pesquisas têm mostrado o valor dos consumidores leais para as
empresas, bem como a relação entre lealdade e lucratividade”. Essa afirmação mostra que a
formação de uma base de consumidores fiéis dará uma segurança à empresa, e que essa
segurança está associada à lucratividade, devendo por isso ser uma meta estratégica a ser
alcançada para fazer dessa fidelidade o seu objetivo, conforme apresentado por Lionello,
Slongo e Alba (2013, p. 5), ao mostrar que “a formação e a manutenção de uma base
consistente de consumidores leais deve ser uma estratégia básica empresarial, pois essa
orientação, em última análise, gera lucros superiores e sustentáveis”.
É natural que um cliente leal sinta-se constantemente influenciado a realizar uma recompra
em determinada empresa. Diante desse aspecto, as empresas têm se conscientizado da
importância de se ter um conhecimento pormenorizado desses clientes, mediante um
diagnóstico que lhes apontem dados como a quantidade de itens que compram, o quanto
gastam, a frequência das transações e outras informações relevantes. Para que esse
monitoramento seja profícuo se faz imprescindível que essas empresas mantenham um banco
de dados robusto acerca desses clientes, e assim tracem seus planos estratégicos, tanto a fim
manter o nível de lealdade já existente, quanto no intuito de aumentá-lo.
Narayandas (2005) identificou que 80% das empresas monitoram a lealdade dos seus clientes.
Esse fato acaba criando mecanismos para formar uma base de relacionamento mais sólida
com esses clientes, contribuindo também, como resultado, para o aumento da receita da
empresa. Dentre as estratégias empresariais, há a de manter um diálogo com seus fregueses,
fazendo com que os mesmos mantenham-se estimulados a continuar acreditando na empresa e
em seus produtos, sentindo-se acima de tudo recompensados pelo uso dos mesmos e
retribuídos até acima das expectativas pelo que foi investido. Bolton, Kannan e Lipscomb
(2000) ao relacionarem esta tarefa sugerem que para determinar a eficácia a longo prazo de
uma lealdade em um programa de recompensa, uma empresa deve quantificar a influência
desse programa sobre o futuro comportamento de compra (por exemplo, os níveis de uso). A
mensuração dessa lealdade só facilita esse diálogo cliente-empresa, inclusive no sentido de se
entender mais eficazmente as suas necessidades.
66
2.4.1 Lealdade e satisfação
A lealdade é muito importante para os negócios de uma organização, em vários aspectos.
Matilla (2001) mostra que as empresas que conquistam a lealdade de seus consumidores
tendem a ter uma melhora substancial na sua rentabilidade, pois esses consumidores leais
serão menos sensíveis a aumento de preços do que os clientes eventuais. Santos e Rossi
(2002) definem a lealdade do consumidor como sendo uma intenção comportamental de
manter uma relação prolongada com um determinado fornecedor. Oliver (1997) afirma que a
lealdade está ligada a uma disposição de recompra de determinado produto ou serviço, mesmo
diante de influências situacionais ou ações de marketing que possam conduzir à mudança do
comportamento de compra.
Para se conquistar a lealdade é natural que haja um sentimento de satisfação antecedente a ela,
porém não é o bastante. Matilla (2001) mostra que a satisfação não é a única precursora da
lealdade, uma vez que outros fatores também são capazes de influenciar esse processo. Oliver
(1999) considera a lealdade como um fator central na formação de relacionamentos, ocupando
um lugar que antes pertencia à satisfação.
A co-criação como fator inovador e agregador de valor, tem uma grande capacidade de
promover essa satisfação. Nessa nova estratégia, as empresas não apenas interagem com
os clientes para oferecer serviços personalizados, mas também desenvolvem e reforçam
as capacidades operacionais (WIND; RANGASWAMY, 2001). Se o cliente participa
da criação do produto que deseja adquirir, as chances de que esse produto gere
satisfação são superlativas. A co-criação com os clientes torna-se uma nova fonte de
competência das estratégias empresariais (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004). Por
isso que aos poucos se nota que as empresas passam a dar uma atenção especial a essa
questão, sobretudo quando dos produtos de maior valor econômico. Nos sites das
montadoras de veículos já se pode vislumbrar um ensaio de como a participação do
cliente ficará fortalecida nos próximos anos. Na página da montadora da FIAT5 na
Internet, por exemplo, o cliente já pode montar o seu veículo e assim escolher detalhes
tanto de estrutura quanto de acabamento, ficando quase impossível ele não sair daquele
ambiente, insatisfeito pelo que adquiriu.
5 Disponível em: <http://www.fiat.com.br/carros/novo-palio/monte-seu-carro.html>. Acesso em 23 out. 2014.
67
A Capacidade de customização é uma das grandes preocupações do processo de co-
criação (ZHANG e CHEN, 2006). O interessante é que essa personalização já ocorre de
forma individualizada, ao contrário, por exemplo, de produtos como gêneros
alimentícios expostos nas prateleiras dos supermercados. Estes têm até uma
personalização de sabores e cores, mas é uma personalização considerada de massa, pois
o cliente ainda não tem como mexer nos quantitativos dos ingredientes ali contidos. Pine
(1993) diz que a personalização de massa é diferente da individual, esta sim produz efeitos
bem mais impactantes. Uma coisa é fazer um produto pensando nas mulheres da cidade de
Garanhuns, outra coisa é ouvir o que a mulher de 40 anos e profissional da advocacia em
Garanhuns espera daquele determinado produto.
Os serviços tornaram-se uma das mais importantes capacidades competitivas, sobretudo
quando da possibilidade de se oferecer de modo personalizado. Customizar um produto ao
ponto de dificultar a vida do concorrente poderá ser uma constante nas empresas que
quiserem investir em inovação e gerar satisfação. A busca é por agregar os clientes, pois esses
são os que mais interessam às organizações. Na medida em que se aplica a co-criação,
estreitam-se os laços, facilitando não apenas a troca de informações, mas também reduzindo
as incertezas e possibilitando uma melhor assistência no pós-compra ao produto adquirido. A
co-criação também desperta no cliente um sentimento de pertença, e ele passa a enxergar-se
não apenas naquele produto com o qual ele colaborou, mas também naquela empresa que lhe
deu essa oportunidade de participação.
2.4.2 Focando na satisfação do consumidor
É inegável a importância percebida na relação do consumidor com uma categoria específica
de produtos, quando o objetivo é gerar a satisfação. Ninguém está mais apto a lidar com
questões de avaliação, satisfação e vivência com um produto ou serviço, do que o próprio
consumidor. Oliver (1981) conceitua a satisfação como uma avaliação da surpresa inerente à
aquisição de um produto ou de um serviço, bem assim durante a experiência de seu consumo.
Para Kotler (2006) a satisfação é uma sensação de prazer resultante da comparação entre o
desempenho percebido de um produto e as expectativas do comprador. Para este autor, se o
desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito.
68
Outros pesquisadores têm apontado que tanto a natureza como o grau de experiência do
consumidor em relação a uma categoria específica de produtos são importantes determinantes
no processo de satisfação (CADOTTE; WOODRUFF e JENKINS, 1987). Atentas a todo esse
contexto de valorização do consumidor co-criador, as empresas trabalham de forma
categorizada, conforme as características dos produtos que se pretende trabalhar, para assim,
aproveitar da melhor maneira possível, as experiências que esse consumidor possui e tende a
oferecer. Assim, produtos como automóveis, celulares, aparelhos de tv, aparelhos de som,
dentre outros, além de serviços como hotelaria, passeios turísticos, eventos artísticos, e outros
tantos; todos passam a contar com a opinião de quem mais interessa, ou seja, do cliente,
sempre no afã de que ele atinja a satisfação esperada por aquele produto ou por aquele
serviço.
A satisfação quando igualada à noção subjetiva de bem-estar passa a ter uma conotação toda
especial, pois é algo que transcende à questão financeira que historicamente os empresários
costumam voltar suas atenções com total prioridade. A adoção desse conceito de satisfação é
mais consistente com as visões encontradas na economia, onde ela supera a utilidade
econômica esperada e encampa a utilidade do consumo pós-compra (JOHNSON;
ANDERSON e FORNELL, 1995). Por outro lado, Westbrook (1987) apresenta a satisfação
como sendo um julgamento global a respeito do consumo ou uso de um produto. Munidos da
ciência de que a sensação de bem-estar percebida no período pós-compra de um produto pode
trazer inúmeros benefícios para a empresa, várias estratégias são empreendidas objetivando
fazer com que o consumidor sinta-se pleno com o produto comprado de tal modo que o valor
investido em sua aquisição seja ofuscado pelo poder da satisfação que já foi gerada com o seu
uso.
O ato de adaptar os produtos para conquistar os clientes necessita de práticas eficazes de
feedback contínuo para selecionar as ideias mas propícias de serem postas em prática, e assim
criar condições de atender a esses consumidores, respondendo-os com a finalização do
produto que por eles foi moldado. Day (2011) argumenta que para ajudar a posicionar as
empresas em seus ambientes imprevisíveis, elas vão precisar de uma nova classe de recursos
que se chama adaptação. Tudo pode ser criado, e quando não, poderá ser melhorado ou
adaptado de forma a atender o objetivo com maior eficiência. Nada nunca estará tão bom ao
ponto de não poder ser melhorado, sempre haverá espaço para algum benefício, para alguma
adaptação.
69
A composição do alicerce para todo o relacionamento que se dará com o cliente reside na
satisfação. Ela deverá se fazer visível em todas as fases do processo, desde o primeiro contato
do cliente com o produto até a consolidação da compra e o viés que vem após essa etapa, que
é o de atender ou superar as expectativas esperadas pelo consumidor em relação ao produto
adquirido. A satisfação será a grande norteadora dos comportamentos posteriores que o
cliente vier a ter. Para Evrard (1994), a satisfação dos clientes é uma importante variável de
seus comportamentos posteriores, tais como: recompra, lealdade, propaganda boca-a-boca
favorável, além do impulso dos programas de qualidade total, em que a satisfação dos clientes
representa uma jogada de marketing. A satisfação constitui um dos fatores que conduz à
lealdade, mas não é o único. A propaganda boca-a-boca, que é a mais embrionária
manifestação do marketing, para ser favorável, será sempre refém do nível de satisfação
conquistado pelo produto, quando da sua utilização pelo consumidor.
A satisfação do cliente possui dois conceitos essenciais: satisfação específica em uma
transação e satisfação acumulada (BOULDING et al., 1993). A aferição dessa medida
individual de satisfação é necessária para consolidar a ação que está se pretendendo tomar
para que se alcance o nível da lealdade. Descobrir através dessas avaliações a maneira mais
viável de fazer com que essas compras específicas transformem-se em acumuladas e assim se
chegue à esperada conquista definitiva do cliente, alcançando a esperada fidelidade. Há que se
destacar a diferença entre a satisfação específica, de uma única transação; da satisfação
acumulada, observada nas sucessivas experiências de recompra. Nota-se aí que o prazer
gerado pelo consumo pode ocorrer em relação a uma compra específica daquele produto
determinado, mas não gerar a vontade de voltar a consumi-lo por diversas razões, como a
perda do interesse ou por ter optado por outro semelhante e de outra marca que atendesse às
suas necessidades, ou seja, gerar satisfação num primeiro momento e já não gerar em outro,
de repente porque o cliente, àquele instante, esperava por algo a mais do que estava lhe sendo
oferecido. A satisfação acumulada, por seu turno, é bem mais interessante, pois ela representa
uma espécie de atestado de que tudo está caminhando eficazmente, isso porque quando essa
satisfação persiste e se estabelece, ela já está automaticamente indo ao encontro da lealdade.
Vale a pena citar que para ser acumulada, a satisfação teve que um dia ter sido específica.
Cada vez que uma empresa conquista clientes mediante o processo de atração e geração de
satisfação que levam à lealdade, alcança-se um tipo de retenção desses clientes, que passam a
agregar valor, significando uma maior rentabilidade, principalmente pelo fato de que esses
clientes certamente realizarão sucessivas compras, e assim produzirão lucros. Os resultados de
70
satisfação em nível de mercado são um forte indicador da retenção agregada do cliente pela
empresa e, ainda, da futura rentabilidade (ANDERSON; FORNELL e LEHMANN, 1994).
Essa preocupação com o bem-estar do cliente, esse monitoramento, representa uma forma de
demonstrar atenção e preocupação com o mesmo, resolvendo as pendências que por ventura
poderiam conduzir a uma insatisfação, evitando-a. O consumidor merece toda a atenção e as
empresas têm se dedicado a atendê-lo com zelo, urbanidade e afinco, desejosas de conquista-
los em princípio, mas com o grande intuito de mantê-los fieis a suas marcas e a seus produtos,
garantindo a lucratividade, o sucesso e a sua boa imagem no mercado.
2.4.3 Lealdade do consumidor virtual
A lealdade do consumidor virtual é atestada de forma muito parecida com a do consumidor
tangente. Deve ser bem mais fácil monitorar a quantidade de revisitas de um mesmo cliente a
uma loja quando esta é virtual, do que quando se trata de um espaço físico. Além do mais o
ambiente virtual proporciona uma capacidade muito maior de revisitas, considerando que o
cliente não precisará se deslocar do conforto do seu lar para chegar a consultar produtos ou
efetuar suas compras. No ambiente virtual, algumas definições de lealdade do consumidor
são: probabilidade de visitas repetidas por um mesmo indivíduo (ARMSTRONG; HAGEL,
1996). Quanto mais visitas ele fizer, mais surgem oportunidades, possibilitando a realização
de compras novas compras no mesmo ambiente virtual. Essa intenção de fazer novas compras
no futuro, assim como no ambiente físico, dependerá de fatores idênticos, ou seja, de
satisfação durante todo o processo, como a escolha do produto, as formas de pagamento e de
entrega, e a relação mantida no pós compra.
A lealdade é tratada no contexto do e-commerce de maneira bastante singular, inclusive com
critérios preestabelecidos no intuito de esboçar o que é realmente importante ser considerado
para atingi-la. Toufaily, Ricard e Perrien (2012) apresentaram um modelo integrativo com
cinco componentes antecedentes da lealdade, quais sejam: 1- características do consumidor,
2- características do ambiente, 3- atributos dos produtos e serviços, 4- características da
empresa, e 5- características do website, para medir o construto em contextos de e-commerce.
Primeiramente é considerado o perfil do consumidor, que será o norteador da integração com
as características seguintes, pois tudo parte dele, do seu desejo pela aquisição de um
71
determinado produto. Ele deverá demonstrar um amadurecimento para lidar com os formatos
disponíveis na web, por exemplo, o de efetuar uma compra ciente de que não terá como
provar/experimentar com antecedência, o produto que se está adquirindo. Assim, se ele tiver
um perfil mais ativo, moderno e inovador, estará apto a realizar sua compra virtual com
tranquilidade.
Em segundo lugar vêm as características do ambiente onde o consumidor está realizando
aquela compra. Será que há diferença entre a compra virtual realizada dentro de casa ou a
partir de uma lan house? O estado do ambiente também pode influenciar positiva ou
negativamente na realização da compra, assim como se o comprador está sozinho durante o
ato ou sob a influência de familiares e amigos. Em seguida vem outro critério importante, ou
seja, os atributos dos produtos ou serviços, ou seja, o que esses têm a oferecer para melhorar a
vida daquele consumidor, para lhe proporcionar prazer ou para resolver questões necessárias
ao seu dia-a-dia? Em quarto lugar vêm as caraterísticas da empresa. O que ela tem como
missão? O que ela tem de diferencial nos produtos e serviços que oferece? Qual a sua
especialidade e quais os atrativos para conquistar os consumidores? Por fim vêm as
características do website, onde, quanto mais interativo e funcional ele for, quanto menos
dúvidas ele gerar no cliente, mais este se sentirá atraído a efetuar sua compra.
2.4.4 O cliente co-criador e co-desenvolvedor
A tecnologia abre uma gama de possibilidades para interação entre as empresas e os clientes.
Estes por sua vez mais bem informados tornaram-se mais exigentes. A co-criação vem
corroborar com o atendimento a essas exigências. Bartl et al., (2010) mostram a co-criação
como uma abordagem que determina que a criação de valor seja realizada além das fronteiras
organizacionais, promovendo o intercâmbio de colaboração e integração de recursos e know-
how para fora da empresa na cadeia de valor, incentivando assim, a colaboração dos
stakeholders no processo de desenvolvimento de novos produtos. As ferramentas
disponíveis na web consolidaram a participação dos clientes como assessores técnicos e co-
desenvolvedores dos produtos que são oferecidos pelas empresas. De acordo com Coviello e
Joseph (2012) é mais provável o sucesso, quando as empresas de tecnologia desenvolvem
testes com clientes, onde estes participam como assessores técnicos ou co-desenvolvedores
dos produtos. Kleinsmann (2008) aborda o co-desenvolvimento como um processo onde
indivíduos de várias áreas compartilham conhecimento e informações sobre um determinado
72
projeto, com o objetivo de obter um entendimento em todos os aspectos que o compõe.
Trabalhar com os clientes faz com que as coisas acelerem e os objetivos passem a ser
atingidos mais rapidamente, gerando assim uma satisfação mais verdadeira, no sentido de que
além da satisfação comumente esperada, esta, por sua vez, terá um sabor especial, conquistada
por essa permissão que foi concedida ao cliente, de participar ativamente do processo de
desenvolvimento do produto que por ele estava adquirindo.
A geração de novas ideias a partir do relacionamento com os clientes na Internet tem
contribuído positivamente para a criação novos produtos. Segundo Coviello e Joseph (2012),
os clientes são considerados fundamentais no processo de desenvolvimento de novos
produtos. Cada cliente ao interagir no desenvolvimento de um produto e opinar sobre ele,
dando sugestões, conseguirá o melhoramento do mesmo, o que será tão bom para a empresa
quanto para o consumidor, que passará a ter maior visibilidade justamente por ser ele o maior
interessado e protagonista da relação de compra.
Concordando com Troccoli (2009), co-criar valor implica haver uma participação ativa dos
clientes no processo de formatação dos bens e serviços dos quais eles irão usufruir. Essa
opinião é acreditada por Penrose (1959) quando ele afirma que os clientes formam uma
importante trilha interna para a inovação nas empresas. É a partir das necessidades dos
clientes que os estudos se estabelecem visando a melhoria contínua dos produtos que são
ofertados. As diferentes atividades de desenvolvimento de novos produtos requerem
diferentes tipos de clientes, assim como diferentes tipos de envolvimento. Cada um tem um
papel e uma contribuição distinta (COVIELLO; JOSEPH, 2012). É preciso considerar
também o ambiente fora do controle da empresa, estar atento à geração de novas ideias, ações
e atribuição de valores. Os clientes são a tradução natural da capacidade de agregar essas
características para se chegar a um novo produto. As empresas que desenvolvem novos
produtos com a contribuição dos clientes, estão criando um valor adicional aos mesmos,
elevando suas chances de sucesso.
A co-criação de valor pode ser considerada como o novo paradigma do marketing, e ela veio
realmente para ficar. A tendência é que daqui por diante, o consumidor tenha um papel
sempre mais sólido na construção do produto que ele irá consumir, opinando minuciosamente
sobre cada detalhe que o mesmo deverá apresentar. Numa época de concorrência feroz, as
empresas que fecharem os olhos a esses aspectos poderão ficar obsoletas num futuro bem
próximo. De acordo com Rocha, Ponchio e Francisco (2013), a co-criação de valor representa
73
uma abordagem do novo paradigma vigente no marketing, envolvendo tanto a empresa quanto
o consumidor no processo de produção de bens e serviços. Esse fato também acaba
abrangendo o processo de conquista da lealdade, visto que o consumidor que participa da
confecção de um produto, sugerindo-lhe detalhes, otimizando-o, tenderá a nutrir um
sentimento de fidelidade com essa empresa que lhe abriu essa possibilidade.
A evolução do papel do cliente externo para co-produtor torna possível a confecção de um
produto exatamente do jeito que ele idealizou, melhorando assim o processo de tomada de
decisão da compra. O cliente se torna um valor co-criador, resultando em um sistema de co-
criação de valor (ZHANG e CHEN, 2008). No momento em que o cliente opina sobre um
produto, participando de sua construção como co-criador, ele automaticamente estará lhe
adicionando valor. A evolução do papel do cliente a partir de um elemento externo para um
co-produtor pode ser realizada por uma série de co-criação de atividades (ZHANG e CHEN,
2006). Vale dizer que o cliente externo, quando transportado para dentro do processo
produtivo, além de envolto a uma especial satisfação como consumidor, acaba criando um
valor adicional para a empresa, tendo em vista que sua atitude ao opinar na elaboração de um
produto ou de um serviço, pode refletir num produto inovador capaz de atrair outros clientes
em potencial, felizes com o resultado obtido e por isso desejosos de consumi-lo, graças ao
valor nele agregado.
Essa união de forças entre empresa e cliente externo passa a tomar uma notoriedade cada vez
maior e já é tema bastante relevante ao pensamento de marketing, assim como o efeito da
interação com os clientes no desenvolvimento de novos produtos é particularmente relevante
para o desenvolvimento desse pensamento (GRUNER e HOMBURG, 2000). Sob a ótica de
que tudo o que for bom e puder promover o crescimento não deve ser desperdiçado, o
envolvimento dos clientes no desenvolvimento de novos produtos deve ser valorizado, pois
faz parte de uma competência estratégica que visa criar valor a um produto mediante o
aproveitamento positivo da voz do consumidor. Ninguém mais do que ele pode contribuir
para o melhoramento de um produto.
Na verdade essa evolução da co-criação só está sendo possível por conta das inovações
tecnológicas e da interatividade promovida pela Internet. Nesse contexto, pode-se notar que
os clientes sempre promoveram melhoramentos e sempre foram co-criadores de produtos,
porém num processo moroso, onde as empresas levavam meses e até anos pesquisando e
ouvindo opiniões de boca-a-boca, fazendo palestras, workshops, preenchendo formulários
74
físicos, dentre outros. Hoje não, com as ferramentas dispostas na web, esse processo ganhou
agilidade, eficácia e precisão, obtendo as respostas desejadas num espaço de tempo
impressionantemente curto.
No processo evolutivo da criação e aperfeiçoamento de produtos, os clientes sempre foram
protagonistas, vistos como caixa de ressonâncias, ativos importantíssimos para agregar valor
ao que está sendo produzido pelas empresas. No processo de desenvolvimento de novos
produtos, cada empresa com sucesso nesse ramo utilizou clientes como caixa de ressonância
para produzir o seu conceito de mercado, abordando os usuários, muitas vezes em feiras, para
obter um feedback geral sobre aquele produto inovador emergente” (COVIELLO; JOSEPH,
2012). Evolutivamente exigentes, os clientes com gostos mais rebuscados sempre souberam
contribuir para a inovação dos produtos, quando procurados. Esses consumidores são
encontrados estrategicamente em feiras do ramo tecnológico e convidados a participar do
processo de releitura dos produtos que estão sendo inovados.
Ao realizar essa contribuição, o cliente co-criador se firma como nova fonte de vantagem
competitiva. O diálogo entre o cliente e a empresa é fundamental nesse processo de co-
criação. Assim, surge o conceito de co-criação de valor: a participação do cliente no processo
de produção, sua interação com a empresa na busca da criação de valor (PRAHALAD;
RAMASWAMY, 2004). É necessário facilitar o acesso desse cliente para que haja uma
interação que produza resultados positivos. O Pensamento de Marketing ou Planejamento de
Marketing considera como valoroso esse entrosamento entre o cliente e a Empresa. Prahalad e
Ramaswamy (2004) fazem um argumento conceitual de que o cliente como co-criador pode
ser uma nova fonte de vantagens competitivas. Propõem um modelo DART que significa
diálogo, acesso, avaliação de risco do produto, e a transparência para reduzir a tradicional
assimetria de informação entre os clientes e a empresa, conforme se vislumbra no Quadro 2.
75
Quadro 2 – Modelo DART.
D DIÁLOGO
Estímulo à troca de conhecimentos entre a empresa e o cliente, promovendo um senso de vínculo emocional com o produto e com a empresa, aumentando as oportunidades para inovação e geração de valor.
A ACESSO
Uma forma do cliente experimentar os benefícios do produto antes mesmo de sua aquisição, sendo viabilizado através da interatividade entre a empresa e o cliente, criando condições para que se desfrute do estilo de vida de um proprietário daquele produto, sem as responsabilidades da propriedade.
R RISCO Forma de gerenciar os riscos a partir da participação direta dos clientes no processo, elevando a confiança destes na medida em que eles avaliam os riscos e debatem sobre os mesmos
T TRANSPARÊNCIA Forma de assegurar o aumento da confiança do cliente pela empresa, bem assim na qualidade do produto por ela produzido.
Fonte: Elaboração própria. Adaptação de Prahalad e Ramaswamy.
Esse modelo DART é de extrema relevância e mostra que a opinião do cliente deve ser
cuidadosamente filtrada, pois uma coisa é participar da co-criação de valor para um produto
que o próprio cliente participante irá consumir, outra é quando essa co-criação se dá com o
simples intuito de expandir aquele produto, sem se preocupar se aquele co-criador irá ou não
consumi-lo. Assim, o diálogo, o acesso e a transparência tornam-se imprescindíveis. Quando
o produto denotar risco de aceitação, essa avalição irá atiçar o comportamento do mercado de
modo a sentir a receptividade daquilo que está sendo posto à prova. Contudo, a contribuição
do cliente jamais deverá ser descartada, ainda que passe por avaliações posteriores para
sondar sua eficácia.
As sociedades que adotam uma postura mais centrada no cliente, possuem
uma estratégia de gerenciamento que visa alavancar a competência desse
cliente. Os gestores devem sistematicamente considerar todos os possíveis
processos e atividades de co-criação de valor com os clientes (ZHANG e
CHEN, 2008, p. 248).
A co-criação de valor pode ser acolhida como um novo paradigma do marketing,
reposicionando o papel da produção de bens e serviços mediante o envolvimento com o
consumidor. O conceito de co-criação de valor tem ganhado representatividade a partir das
discussões e estudos de marketing com o conceito de valor em uso na criação de valor
(VARGO; LUSCH, 2004). É de suma importância que a co-criação não fique restrita apenas
aos produtos, mas que se expanda também aos serviços em seus mais variados ramos,
modificando-os. Já se discute uma abordagem do novo paradigma vigente no marketing, a co-
criação de valor, envolvendo não apenas a empresa no processo de produção de bens e
serviços, mas também o consumidor (DIETRICH; BERTUOL e BRASIL, 2010). Os
76
profissionais devem estar atentos a perceber de que maneira os clientes gostariam de receber
os serviços que estão lhes sendo propostos.
As nuances que envolvem o sistema de co-criação de valor, quando ligadas a mecanismos de
recompensa para estimular a participação das pessoas, de modo que estas recebam um retorno
pela ajuda disponibilizada, têm muito a ver com a proposta do crowdfunding. Ao se acreditar
na proposta de um projeto inovador, e ao se investir nele por entender que se trata de algo
consistente, somado ao fato de que será recompensado proporcionalmente à colaboração
efetuada, automaticamente está se criando valor para àquele produto.
Por meio da análise dos valores pessoais, esta pesquisa revelou que existe
também a preocupação por parte dos participantes em serem reconhecidos
ou recompensados pela “ajuda” oferecida à empresa. Com isso, as
empresas precisam buscar mecanismos de recompensa para aumentar a
participação das pessoas. Afinal, quanto mais conhecimento as empresas
puderem absorver dos consumidores, maiores serão as chances de seu
processo de desenvolvimento de novos produtos ser efetivo e gerar
satisfação (LEITE, HUERTAS e OLIVEIRA, 2012, p. 3).
A recompensa se apresenta como um fator de grande relevância para absorver a opinião dos
consumidores, provocando a valorosa participação deles, estimulando-a. Para Carvalho
(2012), o sistema de recompensa representa um pacote de benefícios materiais e imateriais
disponibilizados pela empresa a seus colaboradores a fim de aumentar a motivação e a
produtividade na organização. Essa opinião do consumidor também contribui para um
processo de co-criação de valor, sobretudo porque acabará atraindo outros consumidores a
fazer parte do contexto. A lógica é essa, quanto mais um projeto capta participantes, e isso no
crowdfunding é publicamente exposto, mais há o estímulo para que outras pessoas também se
destinem a fazer no mesmo. A participação de um consumidor acaba desencadeando a de
outros.
Há uma ascendência na questão da valorização das experiências do consumidor, por parte das
empresas. Ele que antes representava um fator externo e alheio à dinâmica interna das
empresa, passa agora a figurar como um agente ativo, inserido no processo de marketing,
fundamental para as ações estratégicas de valorização dos produtos. O consumidor agora é
batizado como um parceiro de grande credibilidade na empresa, interagindo e participando do
processo de co-produção de valor. Essa interação se pauta no oferecimento das suas
habilidades, competências e principalmente de suas experiências de consumo, representando
um agente ativo e endógeno no processo de marketing (PRAHALAD; RAMASWAMY,
2004). Assim, o consumidor que já era importante no processo produtivo, sobe de patente e
77
passa a ser tratado com reverência no contexto empresarial que aposta na co-produção de
valor e que já entendeu que a gama de opções advinda dessa acolhida só tem a somar e a
trazer resultados inteligentes à administração organizacional que dela se utiliza.
2.4.5 Sentimento de pertença e benefícios não monetários
Da mesma forma que uma experiência negativa deixa as pessoas reticentes a enveredar pelo
mesmo caminho novamente, uma resposta positiva a algo que vivenciado pode conduzir à sua
repetição. Quando se adquire um produto, fica satisfeito com o mesmo, e ainda por cima
recebe uma recompensa extra por tê-lo adquirido, como ocorre com os programas de
fidelidade, é natural que esse fato o conduza a realizar novas transações com a empresa
propositora desses programas. Lewis (2004) analisa o programa de fidelidade de um varejista
online e descobre que o nível de recompensa recebida em um período anterior afeta
positivamente a probabilidade de fazer maiores transações no período atual.
O sentimento de pertença que envolve os programas de fidelidade é de extrema relevância.
Esses programas acabam atrelando os clientes ao nome da empresa fazendo com que eles se
sintam como parte integrante dela. Há também os aspectos mais sutis de um programa de
fidelidade, como um sentimento de pertença (Dowling; Uncle, 1997). Essa sensação de
pertencimento só estreita as relações cliente-empresa, alimentando o desejo de se continuar
interagindo com ela, mediante a concretização de novas compras, já que o cliente passa a se
sentir como parte da empresa. Esse estímulo não advém apenas do benefício financeiro que o
prêmio possa oferecer, mas vem também do prazer que se tem ao paulatinamente conquistar
tais bonificações.
Concordando com Chandon, Wansink e Gilles (2000), os benefícios monetários podem ser
entendidos como benefícios de economia, qualidade superior e conveniência; enquanto os não
monetários estão associados a status e entretenimento. A questão do benefício não monetário
ou psicológico atesta o quanto a diversão de se conquistar uma premiação está associada aos
programas de fidelidade e o quanto isso pode ser benéfico para a empresa. Esse benefício
denominado de não monetário chega a possuir um valor até maior do que os possíveis lucros
advindos durante as transações de compra e acúmulo de vantagens.
Qualquer tipo de programa que adote um sistema de bonificação para estimular a participação
daquele consumidor que se identifique com o produto que está sendo ofertado tende a ser de
78
grande valia, pois essa relação tenderá a contribuir para a satisfação desse consumidor que por
sua vez passará a se envolver mais profundamente com a empresa. A probabilidade de se
conseguir uma recompensa é uma função de compra cumulativa, a partir da combinação de
elementos do desenho do programa, como: os limites, inclusive de tempo, e as vantagens
oferecidas. As preferências do cliente determinam os benefícios esperados por ele para
participar em um programa de fidelidade (Lewis, 2004).
Aqui se percebe o quanto o gosto do cliente e o que ele espera do programa é importante na
construção dessa relação de fidelidade. Quando ele acredita no produto, considera a
recompensa relevante e se envolve nesse processo, está criando laços positivos com a
empresa. É o que acontece nos programas de crowdfunding, pois a recompensa que muitos
dos sites oferecem para quem acredita em seus projetos, também serve de estímulo à
participação daqueles que com eles se identificam.
A literatura mostra que o crowdfunding envolve uma série de variáveis importantes que o
caracterizam: sentimento de pertença, confiança, qualidade, amizade, redes sociais, co-criação
de valor, co-desenvolvimento, dentre outros. No entanto, em relação à satisfação e a lealdade,
estas serão melhor percebidas a partir do tratamento e análise dos dados coletados nesta
pesquisa, conforme detalhamento apresentado nos próximos capítulos que se inicia pelos
procedimentos metodológicos adotados para se alcançar o que se pretende.
79
3 MÉTODO DE PESQUISA
Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos que foram utilizados na investigação
da questão desta pesquisa, conforme a seguir: Qual a relação do uso de plataformas de
crowdfunding na conquista da lealdade e satisfação em contexto de produtos culturais
brasileiros e portugueses? Assim, serão detalhados os delineamentos que foram utilizados
nesta pesquisa, apresentando o desenho metodológico, o instrumento de pesquisa, a forma de
coleta de dados, a população e a amostra, e os cuidados metodológicos que envolveram a
mesma.
3.1 Delineamento da pesquisa
Este trabalho foi conduzido por uma pesquisa descritiva sob o método de levantamento de
dados, visando elucidar a pergunta de pesquisa a partir do conhecimento da relação do uso das
plataformas de crowdfunding, na conquista da lealdade e satisfação em contexto de produtos
culturais brasileiros e portugueses. Conforme Malhotra (2006), o método de levantamento
envolve um questionário estruturado onde os respondentes elucidarão informações
específicas, a partir de um interrogatório que envolve perguntas sobre seu comportamento,
intenções, atitudes, motivações e características demográficas e estilos de vida. A pesquisa
envolveu pessoas que efetivamente já colaboraram, contribuindo financeiramente com a
realização de um ou mais produtos de financiamento coletivo nas redes sociais, em
plataformas de crowdfunding dispostas na web, tanto no Brasil quanto em Portugal.
A pesquisa descritiva foi realizada com coleta de dados mediante levantamento. Mattar (2008,
p.13) afirma que “a maioria das pesquisas de marketing realizadas são descritivas”. Malhotra
(2006) assegura que a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a descrição de alguma
coisa, geralmente ligada à características ou funções de mercado. Entrementes, concordando
com este mesmo autor quanto aos métodos de levantamento de dados, Gil (1999) mostra que
as pesquisas de levantamento ou survey primam pelo questionamento direto às pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer, solicitando informações a um grupo significativo de
80
pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante a análise quantitativa, obter
as informações correspondentes.
A pesquisa descritiva visa descrever características de determinada população ou fenômeno
ou o estabelecimento de relações entre as variáveis, tendo como uma suas principais
características a utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados (GIL, 1999). Nesta
pesquisa, o fenômeno do crowdfunding ocupa o posto de tema central. Um estudo descritivo
mais simples se refere a uma questão ou hipótese com uma variação na qual perguntamos ou
declaramos algo a seu respeito (COOPER, 2003).
O estudo descritivo teve início com a elaboração do instrumento de coleta de dados, ou seja,
de um questionário, seguida da aplicação de um pré-teste com grupo professores de marketing
para validá-lo quanto à clareza e a objetividade. Esse grupo foi composto por três professores
de graduação com experiência na área de Marketing em cursos de graduação de faculdades do
Recife. As questões relativas às escalas passaram pelo aval de uma professora com título de
doutorado em comunicação e atuante na área do marketing. Na sequência foi definida a
população e a amostra exigida para a coleta de dados. Por fim realizou-se a análise dos
resultados, conforme desenho operacional de pesquisa apresentado na próxima subseção.
3.1.1 Desenho operacional de pesquisa
A fase descritiva da pesquisa será conduzida na sequência metodológica ilustrada na Figura
11, exposta abaixo, onde seguem constituídas todas as fases necessárias de serem realizadas
desde a elaboração do instrumento de coleta de dados até o atingimento dos resultados.
Figura 11 – Desenho operacional da pesquisa descritiva
Fonte: Elaboração própria.
81
3.1.2 População e amostra
A população deste estudo foi representada pelos apoiadores de projetos que obtiveram êxito
em plataformas de crowdfunding do Brasil e de Portugal, encontrados nas maiores
plataformas de consumo colaborativo desses países na atualidade, respectivamente o Catarse e
o PPL.
Para Malhotra (2006, p.320) população é “a soma de todos os elementos que compartilham
algum conjunto comum de características e que compreende o universo para o problema de
pesquisa de marketing”. Este autor explica amostra como sendo um subgrupo da população
que será selecionada para participar da pesquisa. Conforme Gil (2010), uma amostra precisa
apresentar um número adequado de elementos para que os dados obtidos num levantamento
sejam significativos. Thompson (2004) assevera que o tamanho da amostra a ser analisada
depende do número de itens ou variáveis disponíveis para análise e que para um total de 10
variáveis, uma amostra de 200 indivíduos é suficiente para se alcançar um resultado estável.
Hair Jr. (2009, p.108) expressa que quanto “à questão do tamanho da amostra, o pesquisador
dificilmente realiza uma análise fatorial com uma amostra com menos de 50 observações, e de
preferência o tamanho da amostra deve ser maior ou igual a 100”. Este mesmo autor apresenta
um mínimo, como regra geral, de pelo menos cinco vezes mais observações do que o número
de variáveis a serem analisadas, e o tamanho mais aceitável teria uma proporção de dez para
um. Hair Jr. (2009) informa ainda que alguns pesquisadores chegam a propor um mínimo de
20 casos para cada variável. Este estudo envolveu 9 variáveis, quais sejam: crowdfunding,
satisfação, lealdade, co-criação de valor, co-desenvolvimento, recompensa, sentimento de
pertença, confiança, e benefícios não-monetários. Assim, atesta-se que um número de 200
respondentes é mais do que suficiente para alcançar o que se pretende, sobretudo pelo fato
desta pesquisa não ter o intuito de generalizar os resultados obtidos, mas, tão somente, realizar
testes acerca das relações hipotéticas constantes do modelo teórico proposto, construído para
este trabalho.
O tamanho da amostra desta pesquisa foi composto por 200 apoiadores de projetos de
crowdfunding voltados para o financiamento de produtos culturais. Esses apoiadores foram
encontrados nas maiores plataformas de crowdfunding do Brasil e de Portugal,
respectivamente o Catarse e o PPL, e abordados por e-mail, e por Newsletters dispostas na
Internet, convidando-os a responderem o questionário. Os e-mails aos realizadores brasileiros
82
foram remetidos pelo próprio pesquisador, solicitando que o link da pesquisa fosse
disseminado com os apoiadores de seus projetos, o que ocorreu a partir do início do mês de
julho de 2014, justificando o motivo da pesquisa e incentivando a participação dos apoiadores
no ato de responder as questões que lhes serão apresentadas. Já os apoiadores portugueses
foram convidados através de newsletter, encaminhada por e-mail pela própria plataforma do
PPL, a responderem a análogo questionário, com pequenas adaptações à realidade portuguesa.
A abordagem utilizada nesta fase foi a não probabilística, com técnica de amostragem por
conveniência, por confiar no julgamento pessoal do pesquisador, deixando a seu cargo os
elementos a serem incluídos na amostra (MALHOTRA, 2006). A técnica de amostragem por
conveniência, segundo Mattar (2008), permite selecionar as amostras por alguma
conveniência do pesquisador, sendo utilizada frequentemente para obter ideias sobre
determinado assunto de interesse. Essa técnica permite que a seleção das unidades amostrais
seja deixada em grande parte a cargo do pesquisador, sendo os entrevistados escolhidos por se
encontrarem num lugar definido (MALHOTRA, 2006), a exemplo das plataformas Catarse e
PPL.
O questionário utilizado tanto no Brasil quanto em Portugal, será minuciosamente discutido
na próxima subseção e apresentado no Apêndice deste trabalho.
3.1.3 Instrumento de coleta de dados
O instrumento desta pesquisa descritiva foi um questionário online, conforme apresentado no
Apêndice, com 23 questões estruturadas, de múltipla escolha, aplicado com pessoas que
apoiaram algum dos projetos exitosos de crowdfunding, em contexto de produtos culturais,
disponíveis nos sites www.catarse.me e ppl.com.pt/pt. O Catarse e o PPL foram escolhidos
por serem, respectivamente, as maiores referências em crowdfunding no Brasil e em Portugal,
na atualidade. Para Zikmund (2006), os levantamentos pela Internet permitem que os
profissionais de marketing alcancem um grande público, inclusive global, personalizando as
mensagens e garantindo a confidencialidade das respostas de um modo rápido e a um custo
bem reduzido. Foi justamente esta facilidade que permitiu que a esta pesquisa abrangesse um
contexto internacional.
83
Prioritariamente, foi elaborado o questionário para a coleta de dados junto aos colaboradores
de projetos voltados para produtos culturais expostos nas plataformas do Catarse e do PPL,
grandes responsáveis pelas ações de crowdfunding, neste país e em Portugal, respectivamente.
O objetivo dessa coleta de dados foi perceber, a partir da opinião desses apoiadores, o nível de
satisfação e de lealdade dos mesmos para com esse tipo de financiamento coletivo através das
redes sociais.
Nos questionários, além de perguntas sócio demográficas como idade, gênero, nível de
instrução e região geográfica dos colaboradores, foram apresentadas questões acerca das
variáveis que influenciaram ou continuam influenciando na colaboração de um projeto de
crowdfunding, a exemplo da co-criação de valor, do sentimento de pertença, dos benefícios
não monetários, das recompensas, da confiança, dentre outros.
Ainda nos questionários, foram adotadas as escalas de Oliver (1999) para lealdade e de Oliver
(1980) e Westbrook (1980) para satisfação, ambas já validadas, visando conhecer os níveis de
lealdade e de satisfação dos participantes, mediante à aplicação das escalas de Likert (1932),
sendo com 2 itens e 5 pontos para medir o grau de satisfação; e de 3 itens e 5 pontos para a
lealdade, conforme Quadro 3. As afirmações e questionamentos das escalas constantes do
Quadro 3, passaram por uma validação de face, mediante avaliação de uma Professora
Doutora em comunicação e atuante profissionalmente na área de marketing.
Quadro 3 – Escalas de Satisfação e Lealdade
ESCALA CONSTRUTO PERGUNTA ITENS DISCRIMINAÇÃO DOS ITENS
OLIVER 1980 e WESTBROOK
1980 SATISFAÇÃO 1
De uma maneira geral, quão satisfeito você ficou com a experiência de apoiar um projeto de crowdfunding?
DE 1 a 5 1 - Totalmente Insatisfeito e 5- Extremamente Satisfeito
OLIVER 1980 e WESTBROOK
1980 SATISFAÇÃO 2
Como você se sentiu com a experiência de ter se envolvido em um projeto exitoso de crowdfunding?
DE 1 a 5 1 - Totalmente Insatisfeito e 5- Extremamente Satisfeito
OLIVER 1999 LEALDADE 1 O crowdfunding apresenta mais benefícios do que outros
formatos de financiamento. DE 1 a 5
1 - Discordo Totalmente e 5- Concordo Totalmente
OLIVER 1999 LEALDADE 2 Com o passar do tempo eu percebo gostar cada vez mais
do modelo de financiamento de projetos através do crowdfunding do que de outros modelos.
DE 1 a 5 1 - Discordo Totalmente e 5- Concordo Totalmente
OLIVER 1999 LEALDADE 3 Quando eu precisar de apoio para algum projeto, sempre
escolherei o crowdfunding. DE 1 a 5
1 - Discordo Totalmente e 5- Concordo Totalmente
Fonte: Adaptação das escalas de Oliver (1980, 1999) e Westbrook (1980).
84
3.1.4 Coleta de Dados
A coleta de dados ocorreu de julho a outubro de 2014. No Brasil, teve-se um contato com os
gestores/realizadores de 15 projetos exitosos, financiados através dessas plataformas, que
juntos contaram com exatos 8.067 apoiadores desses seus projetos culturais nos mais diversos
ramos: música, literatura, vídeo, dança, jogos, viagens e espaço cultural. Junto a esses
gestores, tentou-se o acesso aos colaboradores de seus projetos, a fim de que esses 8.067
apoiadores fossem convidados a responderem um questionário online, como parte da
pesquisa. Para facilitar o diálogo com os realizadores, este pesquisador apoiou um total de 15
projetos no Catarse. As evidências desses apoios seguem inseridas no “Anexo B” desta
dissertação. Afora estes, seguindo o conselho dos técnicos do próprio Catarse, alguns
realizadores foram contatados diretamente por e-mail, sem qualquer colaboração prévia com
seus projetos, pedindo uma ajuda no compartilhamento do link da pesquisa. Apenas 2 dos
cerca de 20 convidados aceitaram divulgar à pesquisa, elevando em 207 o número total de
convidados que passou a ser de 8.245.
No Brasil, das 8.245 possibilidades de respondentes a serem contatados, mediante as ações
previstas na metodologia, apenas 794 foram confirmados que receberam o link da pesquisa
para responderem ao questionário. Foi fundamental neste momento o apoio de alguns
realizadores de projetos que se dignaram a divulgar o link da pesquisa, principalmente agindo
por um sentimento de reciprocidade pelo apoio dado aos seus projetos, pelo pesquisador. O
resultado final desses 3 meses de coleta no Brasil, foi que das 794 pessoas que foram
convidadas a participar da pesquisa, apenas 181 efetivamente responderam-na. Há a
possibilidade de que um número bem maior de convidados possa ter sido atingido, mas como
alguns dos realizadores que prometeram divulgá-la, não confirmaram posteriormente, o que se
pode provar como certo é que 794 colaboradores do crowdfunding foram efetivamente
convidados, conforme tabela resumida dos apoios recebidos e dos e-mails comprobatórios que
seguem respectivamente nos “Anexos C e D” desta dissertação.
A coleta de dados no PPL se deu com apoio de um dos idealizadores dessa plataforma, que foi
contatado por e-mail, através do intermédio do Diretor do Mestrado em Gestão de Marketing
do Instituto Português de Administração de Marketing – IPAM. Ambos se dispuseram a
contribuir com esta pesquisa. O idealizador do PPL divulgou o link do questionário na
newsletter do PPL, exposta no “Anexo A”, que também seguiu por e-mail para todos os
85
apoiadores dessa plataforma. Cerca de 10.000 apoiadores portugueses foram convidados a
responderem ao questionário, sendo o mesmo utilizado no Brasil, com pequenas adaptações
necessárias à realidade lusitana.
Mesmo com cerca de 10.000 apoiadores possivelmente tendo acesso ao link da pesquisa, a
taxa de retorno foi muito baixa, resultando em apenas 19 respondentes. Sabe-se que nem
todos os apoiantes visitam constantemente as newsletters dessas plataformas, ou mesmo leem
todos os e-mails que chegam em suas caixas. Ainda assim, se tentou novos contatos e
formatos de divulgação do questionário, porém sem sucesso, tendo em vista a alegação dos
idealizadores do PPL, de que muitos estudos vêm sendo realizado recentemente, desde
trabalhos de graduação à dissertações e teses, motivo pelo qual houve a possibilidade de
atender a um mesmo trabalho mais uma vez. Na última tentativa foi proposto que o link da
pesquisa figurasse por uma semana na página inicial da plataforma, o que, infelizmente, não
pode ser atendido.
Na Figura 12 a seguir, são apresentados os antecedentes e as variáveis consideradas na
pesquisa:
Figura 12 – As nove variáveis consideradas no levantamento de dados.
ANTECEDENTES RELAÇÃO
CONFIANÇA
CO-DESENVOLVIMENTO
CO-CRIAÇÃO
RECOMPENSA
BENEFÍCIOS NÃO-MONETÁRIOS
SENTIMENTO DE PERTENÇA
SATISFAÇÃO
LEALDADE
CONTEXTO: CROWDFUNDING E PRODUTOS CULTURAIS
Fonte: Elaboração própria.
3.1.5 Hipóteses de pesquisa
Neste estudo, pretende-se rejeitar a hipótese nula e confirmar as hipóteses alternativas,
conforme abaixo explicitadas:
HIPÓTESE NULA (H0): O consumo de produtos culturais oriundos de plataformas de
crowdfunding não se relaciona com as respostas de satisfação e lealdade.
86
HIPÓTESE ALTERNATIVA 1 (H1): O consumo de produtos culturais oriundos de
plataformas de crowdfunding tende a promover a satisfação dos consumidores.
HIPÓTESE ALTERNATIVA 2 (H2): O consumo de produtos culturais oriundos de
plataformas de crowdfunding desperta uma resposta de lealdade nos consumidores.
Para Zikmund (2006), as hipóteses são proposições não comprovadas para explicar certos
fenômenos, sendo uma declaração de pressupostos sobre a natureza do mundo. Mattar (2008)
explica que a hipótese nula (H0) tem a função de negar as ocorrências previstas para o estudo,
ou seja, as que foram estabelecidas pelas hipóteses alternativas (H1). No entanto há que se
mencionar Malhotra (2006), que apresenta a hipótese alternativa (H1) como aquela em que se
espera alguma diferença ou efeito, enquanto que na hipótese nula (H0), não será percebida
qualquer diferença ou efeito. Malhotra (2006) continua, mostrando que seria incorreto
concluir que, pelo fato de não ser rejeitada, a hipótese nula possa ser aceita como válida. No
teste clássico de hipóteses, não há maneira de determinar se a hipótese nula é verdadeira. Para
este mesmo autor, nas pesquisas de marketing, a hipótese nula é formulada de modo que sua
rejeição leve à aceitação da conclusão esperada.
3.1.6 Cuidados Metodológicos
A aplicação de um questionário foi a ferramenta utilizada nesta fase descritiva, objetivando
conhecer os aspectos da população a ser estudada. Por conta desse aspecto, alguns cuidados
foram necessários e de grande valia para que os objetivos da pesquisa fossem atendidos com a
maior eficiência possível.
Um questionário representa uma técnica estruturada para coleta de dados, contendo uma série
de perguntas que os entrevistados deverão responder (MALHOTRA, 2006). Visando
conquistar a atenção dos respondentes, foi elaborado um questionário motivador e
estimulante, sobretudo porque todos os respondentes conhecem bem do tema que está sendo
abordado, uma vez que eles já participaram efetivamente de um processo de crowdfunding.
Por tratar da análise de temas como satisfação e lealdade, as questões foram pensadas da
forma mais neutra possível, de modo a não promover o direcionamento da resposta e nem
influenciar o respondente.
87
As 23 questões que compuseram o questionário demandaram pouco esforço dos respondentes,
já que foram estruturadas para serem respondidas num tempo médio de 10 minutos.
Tanto as questões referentes às escalas de satisfação e lealdade, quanto as demais também
foram estruturadas e de múltiplas escolhas, como parte do reforço no afastamento de qualquer
tipo de tendenciosidade do pesquisador, já que na construção das mesmas não foram, sob
hipótese alguma, abordados os seus pontos de vista.
Por se tratar de uma amostra que envolve um público diverso, em idade, gênero, nível de
instrução e nacionalidade, foram utilizadas palavras simples, de fácil entendimento e sem
ambiguidade, revisadas por profissionais de marketing tanto no Brasil quanto em Portugal, no
que alude à clareza de sua compreensão.
Quanto ao leiaute, procurou-se dar uma aparência profissional, com uma tímida associação às
artes, de modo a não comprometer a credibilidade e seriedade da pesquisa. Essa associação
visa chamar a atenção dos respondentes, motivando-os a participar da pesquisa.
Para que os respondentes tenham facilidade de visualizarem as alternativas de respostas das
perguntas, as mesmas foram apresentadas verticalmente no questionário, que foi dividido em
3 partes, conduzindo os respondentes até o seu final, contribuindo para que eles não
desistissem no meio do caminho.
O pré-teste relativo ao instrumento de coleta de dados foi realizado em duas etapas, sendo a
primeira com um grupo de três professores de marketing de faculdades do Recife; e a segunda
com uma professora com título de doutora em comunicação e atuante na área do marketing,
que após revisou o questionário focando principalmente nas questões pertinentes às escalas de
satisfação e de lealdade utilizadas no instrumento.
O pré-teste visou atentar para a clareza das questões de modo que o participante tenha
facilidade de respondê-las. Nessa etapa, muitas vezes utilizam-se de colegas pesquisadores
para que eles atestem se houve exata compreensão do que foi perguntado (BAPTISTA, 2007).
Na primeira fase do pré-teste foram avaliados também os formatos das perguntas, o seu
ordenamento e a quantidade destas face ao cansaço e a impaciência de respondê-las. Esses
aspectos, bem assim a introdução dada ao questionário, devem ser verificados durante o pré-
teste (GIL, 2011).
88
Entre as limitações da aplicação online desse questionário, mediante uma plataforma de
survey, estava prevista a possibilidade de não se atingir de imediato os 200 respondentes
pretendidos. O que se esperava atingir em menos de um mês, demandou mais de três meses. A
realidade demonstrou que praticamente 18.000 colaboradores de projetos de crowdfunding
poderiam ter tido acesso ao link da pesquisa, pelos contatos que foram feitos em ambas as
plataformas estudadas, sendo que apenas 200 destes chegaram a respondê-la.
89
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados os dados demográficos oriundos das estatísticas descritivas
que caracterizam a amostra, e em seguida analisadas as variáveis presentes neste estudo, a
partir dos testes estatísticos realizados, visando atender tanto os objetivos propostos, como
também confirmar ou não as hipóteses levantadas para esta pesquisa.
4.1 Caracterização da amostra
O levantamento dos dados se deu entre os meses de julho e outubro de 2014, totalizando 200
questionários válidos e totalmente respondidos por colaboradores de projetos exitosos oriundo
do consumo colaborativo seja no Brasil, seja em Portugal.
Nos Gráficos de 1 a 6 são apresentados os dados que compõem o perfil sócio demográfico dos
respondentes, caracterizando a amostra quanto ao gênero, idade, nível de instrução,
preferências, regiões onde residem, tanto no Brasil quanto em Portugal.
Gráfico 1: Faixa etária dos respondentes
Fonte: Elaboração própria.
No Gráfico 1, como se percebe, 52% dos respondentes têm idade acima de 30 anos. Tal perfil
já era esperado, pois em pesquisa6 detalhada realizada pelo próprio Catarse ao final de 2013,
em parceria com a Chorus, empresa de pesquisa com foco em projetos ligados à cultura e
6 Disponível em: http://pesquisa.catarse.me/. Acesso em 21 out. 2014.
90
sociedade, onde foram ouvidos mais de 3.000 apoiadores, foi atestada que a maioria dos
consumidores de crowdfunding estão nessa faixa etária.
Gráfico 2: Gênero dos respondentes.
Fonte: Elaboração própria.
No Gráfico 2, demonstra-se que 56% dos respondentes são do gênero masculino, o que
representa um total de 112 pessoas desse gênero, enquanto que 44% dos participantes desta
pesquisa são do sexo feminino, representando os 88 demais participantes. Esse resultado
talvez reflita o que se passa no entorno do próprio consumo colaborativo, uma vez que a
maioria dos realizadores de projetos de crowdfunding, até então, são do sexo masculino. Dos
15 projetos apoiados pelo pesquisador para suporte à realização deste, apenas 4 foram
idealizados pelas mulheres. Espera-se, no entanto, que esse número tenda a se elevar, dadas às
qualidades criativas e de sensibilidade que o gênero feminino possui, essenciais à uma
produção diversificada de cultura, principalmente nesse ecossistema que envolve o consumo
colaborativo.
91
Gráfico 3: Nível de instrução dos respondentes.
Fonte: Elaboração própria.
O nível de instrução dos respondentes foi bastante elevado, tendo em vista que a grande
maioria tem uma considerável vivência acadêmica. Afora o baixo percentual de 4% dos
colaboradores possuírem até o ensino médio, definitivamente o consumo colaborativo é
representado, em 96%, por universitários ou graduados com cursos de pós-graduação a níveis
de especialização, mestrado e doutorado. Basta perceber que 21% dos respondentes são
formados por mestres e doutores. O retrato da formação acadêmica exposto no Gráfico 3,
revelou uma consistente distribuição dos níveis de instrução dos respondentes, como um
reflexo do que se espera quando se trata de um tema inovador e que envolve pessoas ligadas
aos produtos culturais e consequentemente ao conhecimento e constante aprendizado.
O censo demográfico7 de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, apontou que dentre os que vivenciavam a vida acadêmica naquele ano, ao nível
universitário, 87% cursavam cursos de graduação, 9% de especialização, 3% de mestrado e
1% de doutorado, o que, guardadas as devidas proporções, reflete o escalonamento quanto ao
nível de instrução percebido nesta pesquisa.
7 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em 20 out.
2014.
92
Em dados disponíveis no PORDATA8, sítio vinculado à Fundação Francisco Manuel dos
Santos, que disponibiliza bases contemporâneas de dados portugueses, verificou-se que em
2013, 80% dos estudantes vivenciavam a vida acadêmica, ao nível universitário, nos cursos de
licenciatura ou mestrado integrado; e que 15% cursavam mestrado e 5% de doutoramento. Tal
divisão se aproxima ainda mais ao resultado obtido na pesquisa do que o percebido no perfil
educacional brasileiro dentre os respondentes. Proporcionalmente falando, em Portugal existe
um número mais elevado de estudantes em programas de mestrado e doutorado, do que aqui
no Brasil.
Gráfico 4: Regiões brasileiras participantes.
Fonte: Elaboração própria.
Como se pode perceber no Gráfico 4 – acima, mais da metade dos respondentes da pesquisa
residem na região sudeste, sendo por isso, essa região, a que mais atua no consumo
colaborativo no Brasil. Infelizmente não houve representação da região norte brasileira neste
estudo. O censo demográfico realizado em 2010 pelo IBGE9, mostrou que 42% dos
brasileiros residem na região sudeste, o que justificaria a maior parte dos respondentes vir
daquela região. No entanto, mesmo o sul contando com um percentual de apenas 15% dos
brasileiros, teve uma representação de 24% nesta pesquisa; enquanto que na região nordeste,
mesmo com 28% da população brasileira, a participação foi ínfima, de apenas 9% dos
respondentes.
8 Fonte: PORDATA. Disponível em
<http://www.pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+superior+total+e+por+nivel+de+formacao-
1023>. Acesso em 24 out. 2014. 9 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em 20 out.
2014.
93
Gráfico 5: Regiões portuguesas participantes.
Fonte: Elaboração própria.
Em Portugal, conforme demonstrado no Gráfico 5, a grande parte dos respondentes vive na
região de Lisboa, totalizando 68%. Em seguidas e equiparadas em números de respondentes,
vêm as regiões Norte, Centro e Grande Porto.
Os censos realizados em 2011 pelo Instituto Nacional de Estatística de Portugal10
, mostraram
que 26,7% dos portugueses residiam na região de Lisboa, de onde vem a maioria dos
respondentes portugueses, nesta pesquisa.
No questionário utilizado na coleta de dados, a região da Grande Porto foi separada da região
Norte. Juntas, suas populações correspondem a 34,9% do total de habitantes portugueses, o
que dá uma média de 17% dos habitantes portugueses para cada uma delas. Em 2011, só a
região do Porto, já possuía 237.991 habitantes, praticamente a metade da população de
Lisboa, que era de 547.733 habitantes, na mesma época. As regiões de Alentejo de Algarve
não tiveram participação neste estudo, talvez pelo baixo índice populacional delas, que
somam 11,5%, num efeito semelhante ao ocorrido no Norte do Brasil.
Torna-se oportuno ressaltar que mesmo havendo um índice maior de colaboradores nas
regiões mais habitadas desses países, nada impede que habitantes de qualquer região brasileira
10
Fonte: INE. Censos 2011. XV recenseamento geral da população. Disponível em:
<http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main>. Acesso em 22 de out. 2014.
94
ou portuguesa, como de quaisquer países do mundo, colaborem com os projetos dessas
plataformas, sobretudo por elas serem virtuais e livres de qualquer espécie de fronteira.
4.2 Análise estatística
A análise estatística permite que o pesquisador descreva estatisticamente o relacionamento
entre duas ou mais variáveis ao mesmo tempo (ZIKMUND, 2006). A escala utilizada foi a
ordinal por fornecer dados que podem ser ordenados do menor para o maior, inclusive
detectando preferências, onde a mediana é usada como medida de tendência central. Foram
utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov ou testes K-S, para medirem o nível de
significância das hipóteses, mediante a aplicação de testes não paramétricos através do
programa do SPSS. Para detectar as influências dos antecedentes apresentados pela literatura
como vinculados ao crowdfunding, foi realizado um teste U de Mann-Whitney, fundamental
para atender aos objetivos específicos deste estudo.
4.2.1 Testes não paramétricos
Neste trabalho, foram utilizados testes não paramétricos para testar as hipóteses. Para
Malhotra (2012), os testes não-paramétricos são utilizados para estudarmos variáveis
extraídas de uma amostra, de duas amostras independentes ou de duas amostras relacionadas.
Neste trabalho utilizou-se apenas uma amostra independente, por não se tratar de um estudo
comparativo, mas da análise do comportamento do consumidor face ao fenômeno do
crowdfunding. Segundo Cooper (2003), os testes não-paramétricos são utilizados para testar
hipóteses com dados nominais e ordinais, tendo números menores de suposições e por isso
mais fáceis de entender e de usar.
Os testes não paramétricos são utilizados quando as variáveis independentes são de natureza
não métrica (MALHOTRA, 2012). Eles possuem essa nomenclatura pelo fato de que
raramente se t em conhecimento dos parâmetros de uma população, o que acaba ocorrendo na
maioria das pesquisas de marketing (MATTAR, 2008). Também se utilizam desses testes
quando as variáveis são de natureza não-métrica. Há testes deste tipo para estudar variáveis
95
extraídas de uma amostra, de duas amostras independentes e de duas amostras relacionadas
(MALHOTRA, 2012). Tal escolha alinha-se com as demais pesquisas de marketing, afinal
não há parâmetros externos universais para mensurações do comportamento do consumidor,
sendo portanto cada investigação responsável por sua própria parametrização.
Malhotra (2012) diz que se não rejeitamos a hipótese nula é porque não há qualquer relação.
Para este mesmo autor, sempre que se faz inferências sobre uma população, corre-se o risco
de chegar a uma conclusão incorreta, ou seja, rejeitar uma hipótese nula que poderia ser
verdadeira. A probabilidade de um erro é chamada de nível de significância, e assim, procura-
se controlar esse erro estabelecendo-se o nível tolerável do risco de rejeitar uma hipótese nula
verdadeira, que no caso deste estudo, foi de 5%.
A hipótese nula deste estudo foi rejeitada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S),
objetivando confirmar as hipóteses alternativas propostas para este trabalho. Segundo
Malhotra (2012), os testes não paramétricos baseados em observações extraídas de uma
amostra incluem o teste de Kolmogorov-Smirnov, o teste qui-quadrado, o teste das repetições
e o teste binomial. Enquanto o teste qui-quadrado é utilizado para comparar avaliações reais e
esperadas, em questões pontuadas categorias com sim, não e irrelevante; o teste K-S é
utilizado quando da necessidade de determinar preferências, sendo muito útil a esse trabalho
no atendimento do objetivo geral.
No entanto, para atender aos objetivos específicos, foi realizado o teste U de Mann-Whitney,
pela pretensão de se avaliar os antecedentes que conduzem à satisfação e a lealdade em
contexto do consumo colaborativo.
4.2.2 SPSS
Este trabalho elegeu o Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, como o ideal para o
tratamento dos dados obtidos na coleta. O SPSS representa um pacote estatístico de
tratamento de dados voltado para as ciências sociais, emitindo relatórios com resultados que
são utilizados para análise do pesquisador. A sua sigla é traduzida como Pacote Estatístico
para as Ciências Sociais.
96
O programa do SPSS, a exemplo do frequencies, gera uma tabela de contagem de frequência,
percentagens e percentagens cumulativas para os valores de cada variável, apresentando ainda
todas as estatísticas associadas, exceto o coeficiente de variação (MALHOTRA, 2012).
4.3 Estatística descritiva das variáveis
O método descritivo proporciona obter informações sucintas acerca dos dados contidos no
total de elementos das amostras, além de utilizar de medidas de associação que servem para
medir o nível de relacionamento existente entre duas ou mais variáveis (MATTAR, 2008). Os
relatórios necessários às análises foram extraídos do SPSS, programa responsável pela
aplicação do teste U de Mann-Whitney, bem como pelas frequências e pelos testes de
hipóteses.
4.3.1 Especificidades acerca das plataformas de crowdfunding
Naturalmente que a forma de acesso mais comum às plataformas de crowdfunding se dá
através das redes sociais, sobretudo pelo fato do consumo colaborativo na web estar
inteiramente ligado a essa vertente. Segundo Cocate e Pernisa Júnior (2011), os processos de
crowdfunding interagem através das mídias existentes na web, como os sites de redes sociais,
a exemplo do Facebook, Twitter, blogs entre outros. Essas mídias representam apoios
fundamentais tanto na propagação dos projetos quanto na proliferação dos pedidos de
colaboração para eles.
Gráfico 6: Forma de acesso às plataformas.
Fonte: Elaboração própria.
97
Conforme demonstra o Gráfico 6, um importante percentual, de 23,5% conheceu o fenômeno
do crowdfunding mediante o contato com uma plataforma específica, a exemplo do Catarse e
do PPL, o que foi bastante relevante, devido à novidade desse fenômeno no mercado. Outro
percentual importante foi o dos que conheceram o consumo colaborativo pelos amigos, ou
seja, 20,5% dos respondentes. Os amigos e os familiares são os pilares para deslanchar os
apoios nessas plataformas.
No Gráfico 7, estão demonstradas as porcentagens de quantidades de apoios realizados, onde
se verifica uma alta taxa de reincidência, posto que 68% dos respondentes já colaboraram
mais de uma vez com algum projeto de crowdfunding.
Gráfico 7: Quantidade de apoios realizados.
Fonte: Elaboração própria.
A grande maioria dos respondentes, 42% deles, já colaborou mais de três vezes com projetos
oriundos do consumo colaborativo, o que denota haver um público cativo, ávido por novos
produtos inovadores, ratificando que a pergunta que deu origem a este trabalho tem
fundamento, pois se há uma taxa elevada de retorno a esse consumo, é porque existem fortes
indícios de que esses consumidores estão satisfeitos e propensos a uma resposta de lealdade.
Os produtos culturais preferencialmente apoiados, conforme dados desta pesquisa, estão
ligados à música e a literatura, conforme se pode perceber no Gráfico 9. Um produto cultural
é aquele que apresenta um caráter diferenciado e inovador, podendo estar ligado a qualquer
área do ramo artístico ou cultural, a exemplo do cinema, teatro, música, pintura, literatura,
98
dentre outros, podendo estar ligado tanto a bens, quanto a serviços. Além do valor econômico,
esses bens e serviços possuiriam um valor cultural (THROBY, 2008).
Gráfico 8: Produtos culturais mais apoiados.
Fonte: Elaboração própria.
A maior parte dos projetos constantes do Catarse, uma das plataformas estudadas, está
relacionada a produtos culturais dessas áreas. Para Faria e Gangemi (2006), os produtos
culturais possuem um valor agregado vem da introdução de características diferenciadoras
relacionadas à cultura e à arte.
Embora o questionário abrangesse produtos culturais relacionados à dramaturgia, festas
populares, educação, escultura e artes plásticas; 33% dos respondentes assinalaram a
preferência por vários outros produtos, tais como ligados a quadrinhos, audiovisual, cartoons,
jogos de tabuleiro e outros que apresentem uma vertente tecnológica. O levantamento
constante do site Catarse, na data de 16 de outubro de 2014, mostra que as três áreas mais
apoiadas até esse momento e nessa plataforma são a música, a literatura e cinema e vídeo, o
que confirma os dados obtidos no decorrer desta pesquisa.
Quando um projeto é lançado em uma plataforma de crowdfunding, os primeiros a apoiarem
são os amigos e familiares dos realizadores desses projetos. A partir desse apoio fundamental
e inicial é que ocorre uma farta divulgação e proliferação da essência do projeto que acaba
chamando a atenção de estranhos que se interessem por ele e desejem colaborar para que o
mesmo possa se tornar real.
99
Gráfico 9: Vínculo entre realizadores e apoiadores
Fonte: Elaboração própria.
Porém, mesmo o vínculo de amizade entre os apoiadores e realizadores dos projetos
representando um fator importantíssimo, foi apontado neste estudo que a força decisiva na
concretização de um projeto de crowdfunding está nas mãos daqueles que não tem nenhuma
relação com os idealizadores, os chamados desconhecidos, que representam 54% dos
participantes deste estudo. O Gráfico 9 demonstra que os familiares têm uma participação
irrisória, tendo em vista que apenas 7% dos respondentes declararam ter algum laço de sangue
com os autores dos projetos.
Nessa relação entre realizadores e apoiadores, outros vínculos também foram citados pelos
respondentes, a exemplo de pessoas que se conheceram apenas virtualmente, sem qualquer
vínculo mais próximo de amizade; e de projetos que foram lançados por realizadores onde já
havia uma admiração prévia, a exemplo de projetos musicais de bandas famosas que já
possuíam um número significativo de fãs. Segundo Jenkins (2009), a participação de fãs
possui enorme poder na maneira de produzir mudanças no mercado, sendo que no consumo
colaborativo não poderia ser diferente.
Nesse contexto do consumo colaborativo Cocate e Pernisa Júnior (2012) destacam que
indivíduos próximos àquela pessoa ou ao grupo, tais como familiares, namorados, amigos e
conhecidos, são bastante propensos a contribuírem com os projetos de suas autorias,
principalmente pelo apreço que sentem pelos produtores. A partir da contribuição dos amigos
e familiares, e do compartilhamento das informações acerca dessa ajuda nas redes sociais,
100
diversas outras pessoas estranhas aos realizadores, mas em sintonia com seus projetos passam
a ter interesse em contribuir. Daí por que o apoio dos amigos e familiares se torna tão
essencial. Essa base alicerçada por familiares e amigos íntimos serve para estimular uma
gama de desconhecidos a acreditarem e investirem com mais segurança naquele determinado
projeto.
O fato mais bacana desse resultado em que foi perceber que o crowdfunding alcança muito
mais do que um grupo fechado representado por familiares e amigos, ou seja, ele promove
uma verdadeira ação de marketing em torno das mais diversas redes sociais, seja o Facebook,
o Twitter, o Instagram, além de divulgações plataformas jornalísticas e culturais, ou mesmo
em meios mais convencionais como quadros de avisos nas universidades e participação em
programas de tv ou da web, a fim de divulgarem os seus projetos. Daí porque um alcance tão
significativo de 61,5% de colaboradores que não possuem qualquer vínculo familiar ou de
amizade com os propositores dos produtos culturais à disposição nas plataformas de consumo
colaborativo.
Os resultados foram claros quanto aos valores investidos, sejam em reais ou em euros, mas
proporcionalmente aos dois países onde os dados foram coletados, as respostas não foram
afetadas, considerando que enquanto no Brasil, na plataforma estudada, a contribuição
mínima é de dez reais, em Portugal, a contribuição mínima, na maioria dos casos, é de 10
euros.
Gráfico 10: Valores investidos no crowdfunding.
Fonte: Elaboração própria.
101
De posse desses dados percebeu-se que 49,5%, ou seja, praticamente a metade dos
respondentes contribuiu com valores entre trinta e cem reais ou trinta euros. Demonstra-se
também, no Gráfico 10, que um número significativo de respondentes, precisamente 30,5%
desses, contribuíram com valores superiores a cem reais ou euros.
Existem projetos em que as contribuições ultrapassam os mil reais ou euros, a exemplo do
“Vela Bikes” que pede apoio de até três mil e duzentos reais, no Catarse; e do “Troika”, que
pediu apoio de até mil e quinhentos euros, no PPL.
O projeto “Mola Structural Kit” chegou a pedir apoios no montante de dez mil reais,
conquistando uma numeração mais do que expressiva tanto em apoiadores, quanto em
arrecadação. Esse projeto foi idealizado por estudantes de pós-graduação em arquitetura,
tendo por finalidade apresentar algo que pudesse demonstrar de forma tátil e visual, o
comportamento das estruturas arquitetônicas, necessárias às obras grandiosas de pontes, rodas
gigantes, passarelas, dentre outros, conforme demonstrados na figura 13.
Figura 13: Projeto Mola Strucktural, no Catarse.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do Catarse
11.
Esse projeto reflete a força que o consumo colaborativo possui, inclusive de quebrar barreiras
e se firmar em diferentes contextos, como este que foi idealizado por arquitetos e acabou
sendo abraçado por diversos profissionais dessa área ou que por ela se interessam, resultando
numa arrecadação estrondosa, que superou mais de 1000% do inicialmente estimado. Para se
ter ideia, os realizadores desse projeto inicialmente pretendiam arrecadar R$ 50.000,00 e
chegaram aos R$ 600.000,00. Esse fato certamente chamará a atenção de empresários dos
mais distintos ramos, sobretudos grandiosos projetos de cunho cultural, a exemplo de uma
super produção cinematográfica, tendo em vista que quando o projeto é bom, inovador e
interessante, consegue sim, alcançar resultados surpreendentemente inesperados.
11
Disponível em: <http://catarse.me/pt/mola>. Acesso em: 21 out. 2014.
102
Gráfico 11: A confiança como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
A confiança tem uma grande responsabilidade na conquista de colaboradores. Praticamente
90% dos respondentes declararam que a confiança no projeto foi determinante para que o
apoio fosse concretizado, conforme se observa no Gráfico 11. A confiança tem um efeito
bastante positivo para as ações de marketing, de modo que sempre que ela se estabelecer nas relações
sociais, organizacionais e institucionais, ela tenderá a influenciar o consumo colaborativo
(BOTSMAN; ROGERS, 2011).
Uma das maneiras de se obter confiança em algum projeto, é perceber a quantidade de
pessoas que acreditam nele, um tipo de efeito multiplicador onde uns vão estimulando os
outros a também colaborarem. Concordando com Cocate e Pernisa Júnior (2012), quanto mais
um projeto recebe apoio de colaboradores, mais outras pessoas se sentem mais instigadas a
integrá-lo, sendo nesse momento que se instala a confiança, ou seja, quando um usuário
percebe que há um certo número de participantes que acredita ou já acreditou naquele projeto,
dando a sua contribuição.
Pouquíssimas pessoas expressaram que a confiança era irrelevante, talvez pelo fato do projeto
estar sendo proposto por um familiar, onde mesmo não tendo tanta confiança nesse projeto, os
laços de sangue passam a falar mais alto, tornando-se irrelevantes outros aspectos
normalmente observados. Autores como Rousseau et al. (1998) acreditam que a confiança é
um estado psicológico que permite aceitar a vulnerabilidade, tendo em vista positivas
expectativas que são criadas sobre as intenções e o comportamento do outro.
103
Ainda que irrisória, toda contribuição financeira dada a um projeto de crowdfunding faz jus a
uma recompensa. Muitos realizadores, por exemplo, retribuem seus apoiadores com uma
referência a seus nomes nos sites de seus projetos, ou com o nome deles em uma página de
agradecimentos de livro, no caso de projetos literários. Por outro lado, a grande maioria dos
projetos expostos nas plataformas apresentam recompensas estimulantes à contribuição, de
modo que qualquer pessoa que colabore com aquele projeto receba em troca um retorno
proporcional ao valor que foi investido, que pode ser desde um exemplar de um produto com
uma dedicatória exclusiva até mesmo participar de um workshop com os idealizadores dos
projetos ou almoçar com eles.
Gráfico 12: A recompensa como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
Os dados coletados na pesquisa demonstram que a recompensa exerce um papel
preponderante para a contribuição, visto que muitos se interessam no retorno pelo que foi
investido. Na maioria absoluta das vezes esse retorno é material, principalmente na forma de
um exemplar do produto que foi financiado, em menor ou maior quantidade ou com menos ou
mais características. Como se observa no Gráfico 12, dentre os respondentes, 60% consideram
que a recompensa fez diferença na hora de realizar a contribuição. Neste caso, mostra-se
bastante pertinente o pensamento de Carvalho (2012), quando ele mostra que um sistema de
recompensa representa um pacote de benefícios materiais e imateriais disponibilizados aos
colaboradores, no intuito de aumentar a motivação. No caso do consumo colaborativo, se feita
uma analogia ao pensamento desse autor, os benefícios materiais são representados pela
104
recompensa física de um produto ou serviço, enquanto que as imateriais podem ser
representadas pelas recompensas simbólicas de um agradecimento em local especial, como
em uma página da Internet.
No contexto do financiamento colaborativo nas plataformas de crowdfunding, os benefícios
não monetários, que significam aqueles que não estão diretamente vinculados a um retorno
material ou recebimento de um produto físico, são considerados de grande importância por
68% dos respondentes, o que demonstra um sentimento de bem-estar oriundo da contribuição
realizada, sendo que este sentimento está bem mais ligado a questão da contribuição em si
para um projeto oriundo do consumo colaborativo, do que do recebimento do produto oriundo
desta contribuição. Segundo Corbi (2006), a questão não monetária está relacionada a um
bem-estar subjetivo e aspectos de autoestima.
Gráfico 13: O benefício não-monetário como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
Os benefícios não monetários estão ligados às funções indiretas que envolvem os
consumidores num relacionamento que pode ser de médio ou longo prazo (MOLLER, 2000),
o que pode ser um preditivo para uma posterior resposta de lealdade, já que algo que causa
bem-estar tende naturalmente a ser repetido.
Concordando com Chandon, Wansink e Gilles (2000), os benefícios monetários podem ser
entendidos como benefícios de economia, enquanto os não monetários estão associados a
status e entretenimento. Sob essa ótica, é importante destacar que contribuir com um produto
105
do crowdfunding tem uma conotação divertida, sobretudo pelo formato inovador que ele
propõe, dando prazer e bem-estar àqueles que passam a se envolver com o consumo
colaborativo. Segundo Mesquita (2010), os benefícios psicológicos consistem nos resultados
psicológicos ou sociais do consumo de um produto. Isso explica porque dos benefícios não
monetários têm sido considerados como mais importantes pela maioria dos respondentes da
pesquisa, por encararem essa participação no crowdfunding como uma realização pessoal, em
detrimento aos 22% dos participantes da pesquisa que consideraram a recompensa física mais
importante e dos 10% dos respondentes que consideraram tanto o benefício monetário, quanto
o não monetário, como irrelevante.
Quando se participa da colaboração de um produto através do crowdfunding, significa que se
está financiando-o de modo que ele possa se tornar realidade através do processo coletivo de
colaboração. Todas as pessoas que praticam esse tipo de financiamento está co-criando valor
para o produto projetado por seu idealizador/realizador. Quanto mais pessoas acreditarem
nesse produto e nele investirem recursos financeiros, mas esse produto terá valor. Esta
pesquisa revelou que os apoiadores de projetos de crowdfunding também comungam desse
pensamento, já que 72,5% dos respondentes disseram que o fato de participar como co-criador
de valor para um produto inovador constituiu um diferencial na hora de realizar a
contribuição. Apenas 8,5% disseram que o fato de co-criar não fazia qualquer diferença,
enquanto que 19% dos entrevistados consideraram irrelevante o fator dessa co-criação. Esses
dados estão demonstrados no Gráfico 14.
Gráfico 14: A co-criação de valor como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
106
A co-criação com os clientes torna-se uma nova fonte de competência das estratégias
empresariais (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2004). Para Rocha, Ponchio e Francisco
(2013) a co-criação de valor representa uma abordagem do novo paradigma vigente no
marketing, envolvendo tanto a empresa quanto o consumidor no processo de produção de
bens e serviços. Fazendo uma adaptação do pensamento desses autores ao crowdfunding, esse
modelo envolve o colaborador no processo de concretização de determinado produto, antes
mesmo que ele exista, de modo a fazer com que ele realmente se torne real.
Diante do exposto, percebe-se que o crowdfunding configura-se como uma importante
modelo de co-criação de valor. A banda de rock Dead Fish, por exemplo, pretendia arrecadar
R$ 60.000,00 no Catarse, para o lançamento do seu novo álbum. No entanto, essa banda
angariou nada menos do que R$ 258.000,00 – faturando 300% a mais do o inicialmente
planejado. O processo de co-criação de valor para esse produto se formou a partir de cada
colaboração, resultando numa expressiva captação de recursos que tornou o produto final bem
mais valorizado do que quando ele foi posto no site visando conquistar a participação de
apoiadores.
Bartl et al., (2010) apresentam a co-criação como uma abordagem que determina que a
criação de valor seja realizada além das fronteiras organizacionais, ou seja, além dos locais
onde os produtos foram planejados, tendo uma conotação bastante voltada para o processo
de desenvolvimento de novos produtos, sobretudo culturais, por terem, todos eles, um caráter
inovador.
O co-desenvolvimento e a customização dos produtos são dois assuntos que se misturam na
literatura. Vários produtos que se consomem na atualidade já dão essa oportunidade de
customizar. As montadoras de veículos são um grande exemplo dessa tendência. Para Zhang e
Chen (2006), a capacidade de customização é uma das grandes preocupações do
processo de co-criação, pois é quando o cliente passa a opinar na construção do
produto. Essa construção pode trazer bons resultados, visto que o cliente tenderá a
colocar naquele produto, características que lhe são desejosas.
107
Gráfico 15: O co-desenvolvimento como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
Kleinsmann (2008) aborda o co-desenvolvimento como um processo onde indivíduos de
várias áreas compartilham conhecimentos e informações sobre um determinado projeto, com
o objetivo de obter um entendimento em todos os aspectos que o compõe. Dessa forma, os
consumidores poderão ter produtos de melhor qualidade e que os satisfaçam.
O crowdfunding pode representar uma importante ferramenta para a customização de
produtos, uma vez que ele já oportuniza o financiamento de projetos antes mesmo de
sua existência, ou seja, se somado a esse fator, os consumidores puderem opinar na
construção desses produtos, eles poderiam se sentir mais realizados. Esta pesquisa
apresentou um resultado discreto para a customização de um produto através do
crowdfunding, posto que, conforme Gráfico 15, apenas 46% dos respondentes
consideraram esse aspecto como positivo, ao passo que 54% acham que a customização
é irrelevante ou que não leva a uma realização como consumidor.
A maior parte dos colaboradores de projetos de crowdfunding admite que o envolvimento
com o consumo colaborativo desperta o sentimento de pertença, ou seja, de que acreditam e
são acreditados em relação ao grupo proponente daquele projeto. O Gráfico 16 mostra que
82% dos apoiadores de um projeto de crowdfunding absorvem o sentimento de pertença.
Segundo Koury (2001), o termo “pertença” advém do mergulho no universo relacional do
grupo, permitindo ao sujeito individual sentir-se pessoa que acredita e é acreditada.
108
Gráfico 16: O sentimento de pertença como antecedente do crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
Considerando que para cada contribuição em um projeto de crowdfunding há também um
retorno em alguma espécie de recompensa, proporcional ao valor que foi investido, esse fato
alude aos programas de fidelidade promovidos por várias empresas, que oferecem algum tipo
de recompensa como incentivo e modo de estimular o consumo. Para Dowling e Uncle
(1997), os programas de fidelidade são exemplos de programas que despertam o sentimento
de pertença nos consumidores. Efeito similar vem ocorrendo no fenômeno do crowdfunding.
4.4 A satisfação dos apoiadores de projetos no crowdfunding
Gráfico 17: Percentuais de satisfação com o Crowdfunding
Fonte: Elaboração própria.
109
A escala de satisfação de Oliver e Westbrook (1980), apresentou duas perguntas, sendo uma
voltada para satisfação pela experiência de se apoiar um projeto do crowdfunding e outra
relacionada ao envolvimento com um projeto exitoso de consumo colaborativo. Esta escala
foi adaptada ao contexto desta pesquisa onde os respondentes colaboraram com um ou mais
projetos de sucesso no crowdfunding. Oliver (1981) apresenta a satisfação como uma
avaliação da surpresa inerente à aquisição de um produto, sobretudo durante a experiência de
seu consumo, quando as expectativas são superadas. A satisfação pode ser entendida como
um julgamento global a respeito do consumo ou uso de um produto WESTBROOK (1987).
Os resultados desta pesquisa mostraram que as respostas para ambas as perguntas foram
muito similares, de modo a perceber que a grande maioria dos respondentes, praticamente
85% deles, se sentiram no mínimo muito satisfeitos em terem uma experiência com o
crowdfunding. Para Anderson, Fornell e Lehmann (1994), os resultados da satisfação
representam um forte indicador de retenção do cliente.
Há que destacar que foi significativa a porcentagem de colaboradores que se sentiram
totalmente insatisfeitos com a experiência do consumo colaborativo, uma vez que 7,5% deles
apresentaram essa impressão, aumentando esse percentual para 9% se somados aos que se
consideraram ligeiramente insatisfeito. Acerca da insatisfação, lembramos o pensamento de
Kotler (2012) quando diz que a satisfação é uma sensação de prazer resultante da comparação
entre o desempenho percebido de um produto e as expectativas do comprador e que, se o
desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito.
Diante dos resultados encontrados e do alto percentual de satisfação dos respondentes,
ratifica-se a confirmação percebida quando dos testes K-S de hipótese que foram realizados,
ou seja, que o consumo de produtos culturais oriundos de plataformas de crowdfunding tende
a promover a satisfação dos consumidores. Malhotra (2006) profere que a hipótese alternativa
(H1) é aquela em que se espera algum efeito, sendo perfeitamente o que ocorreu nesse estudo,
tanto para a satisfação aqui demonstrada, quanto para a lealdade que será discutida na
próxima seção.
110
4.5 A intenção de lealdade dos apoiadores de projetos no crowdfunding
Gráfico 18: Porcentagem de resposta à lealdade
Fonte: Elaboração própria.
Oliver (1999) elaborou uma escala de lealdade muito pertinente ao distribuir em três
afirmações distintas, os benefícios inerentes ao consumo de determinados produtos. Quando
adaptada à realidade do crowdfunding, no contexto deste estudo, as afirmações abordaram os
seguintes temas em relação a esse fenômeno: se ele apresenta mais benefícios que outros
formatos; se percebe gostar cada vez mais desse modelo de financiamento do que de outros; e
se escolherá esse modelo sempre que precisar apoiar algum tipo projeto. Este autor considera
a lealdade como um fator central na formação de relacionamentos, ocupando um lugar que
antes pertencia à satisfação.
Evrard (1994) ratifica esse pensamento ao demonstrar que a satisfação dos clientes é uma
importante variável de seus comportamentos posteriores, tais como a recompra e a lealdade.
Mattila (2001), por sua vez, afirma que a satisfação não é a única precursora da lealdade, uma
vez que outros fatores também são capazes de influenciar esse processo.
O que se percebe pelas respostas coletadas é que a maioria dos respondentes concordam que
o crowdfunding apresenta mais benefícios do que outros formatos de financiamento, pois 77%
dos respondentes tiveram esta conclusão, como se vê no Gráfico 18. Esse percentual talvez
111
não tenha sido maior em decorrência desse fenômeno ainda ser algo muito novo e ainda
carente de uma efetiva consolidação no mercado.
Quando a pergunta se tratou de demonstrar que esse modelo está sendo cada vez mais bem
recebido, e que as pessoas tendem a gostar cada vez mais dele, os respondentes deixaram
claro que sim, ao menos 81% deles convergiram com esse pensamento. Vê-se aqui um
aumento de 4% sobre a pergunta anterior, que afirmava que ele traria mais benefícios do que
outros formatos de financiamento. Esse resultado já aponta que com o passar do tempo, o
estabelecimento no mercado e consolidação do consumo colaborativo através das plataformas
da web, a tendência é que as expectativas de lealdade só aumentem.
Há que se destacar que existem casos em que o consumidor se sente satisfeito em uma
primeira experiência e perde ou diminui essa satisfação em um segundo contado. Efeito
contrário a esse também pode ocorrer, mas o que se deseja é que a satisfação seja sempre
acumulada. Boulding et al. (1993) aponta que a satisfação do cliente pode ser específica,
correspondente a uma única transação; ou acumulada, sendo esta bem mais segura, por
apresentar um histórico acumulado de satisfação. Assim, acumulada, a satisfação tende a
caminhar para uma resposta de lealdade do consumidor. No ambiente virtual algumas
definições de lealdade do consumidor envolvem a probabilidade de visitas repetidas por um
mesmo indivíduo naquele ambiente (ARMSTRONG; HAGEL, 1996). No caso deste estudo, o
ambiente virtual é representado pelas plataformas de crowdfunding.
Bastante interessantes foram as respostas atribuídas à terceira afirmação da escala de lealdade,
onde para quando precisar de algum apoio para algum projeto, sempre se escolherá o
crowdfunding. Santos e Rossi (2002) definem a lealdade do consumidor como sendo uma
intenção comportamental de se manter uma relação forte e duradoura com os fornecedores.
As respostas foram bem condizentes com a realidade de um fenômeno que ainda está em fase
embrionária e onde uma grande parcela da população sequer ouviu falar, ou conhece. Na
região norte do Brasil, por exemplo, não teve nenhuma representação de respondentes neste
estudo, infelizmente.
Dentre os respondentes, apenas 28% disseram concordar totalmente com a afirmação de que
sempre escolherão o crowdfunding para pedir apoio a algum projeto. Se 41,5% responderam
que concordam parcialmente, é porque ainda existem algumas restrições sobre o fenômeno e
muitos aspectos que ainda precisam ser moldados ou melhorados, mas que não são objetos
deste estudo.
112
Assim como ocorreu para a variável satisfação, os resultados deste estudo também
confirmaram a hipótese alternativa 2, em relação à lealdade, ou seja, de que “ O consumo de
produtos culturais oriundos de plataformas de crowdfunding desperta uma resposta de
lealdade nos consumidores”, muito embora esta hipótese tenha apresentando um nível mais
baixo de confirmação do que a hipótese vinculada à satisfação.
Enquanto que a hipótese alternativa 1 para satisfação foi confirmada mediante uma
porcentagem média de 85% dos respondentes que se declararam muito satisfeito ou
extremamente satisfeito em ter participado do consumo colaborativo, esse percentual caiu em
10% quando das respostas para os itens da escala que atestam a intenção de lealdade, onde
uma média de 75% dos respondentes disseram concordar entre parcialmente ou totalmente
com esses itens. Em suma, a hipótese alternativa 2, apesar de também confirmada, apresentou
índices inferiores aos encontrados para a variável satisfação.
4.6 Confiabilidade do instrumento
A confiabilidade das escalas foi testada através da Teoria de Resposta ao Item – TRI,
utilizando-se do software IRTPRO, especializado em cálculos de confiabilidade, inclusive
para escalas que envolvam dados de natureza dicotômica. Para Malhotra (2012), a
confiabilidade mostra até que ponto uma escala produz resultados consistentes se as medidas
forem tomadas repetidamente, apresentando um grau de consistência dos resultados.
Lucian e Dornelas (2014, p. 100) conceituam a TRI como “um conjunto de modelos
matemáticos que procura representar a probabilidade de um indivíduo dar uma resposta para
cada item, como função dos parâmetros do item e da habilidade dos respondentes”.
Optou-se pelo cálculo da confiabilidade através da TRI em detrimento do tradicional cálculo
de alfa de Cronbach pelo fato da Teoria de Resposta ao Item possuir uma capacidade superior
de mensurar a contribuição individual dos itens à formação das escalas não paramétricas e ao
fato da TRI não variar conforme a amostragem e o número de itens da escala (LUCIAN;
DORNELAS, 2014).
113
Segundo Lucian e Dornelas (2014), os itens que apresentarem para o valor “a” respostas fora
do intervalo compreendido entre 0,85 e 1,70 são tidos como plenamente confiáveis. Foi o que
se percebeu quando dos resultados da confiabilidade das escalas para satisfação e lealdade
utilizadas neste trabalho.
Tabela 1: Confiabilidade da escala de satisfação pela TRI.
Item Símbolo a
1 S1 38,85
2 S2 38,89 Fonte: Dados da análise.
Como se pode observar na Tabela 1, para os níveis de satisfação, os escores de “a” nas
respostas foram de 38,85 para S1 (satisfação1) e de 38,89 para S2 (satisfação2), no modelo
dicotômico. Estando, portanto, inseridos nos níveis de confiabilidade proposta pela TRI, por
estarem ambos acima de 1,70. Para Lucian e Dornelas (2014), quanto maior o valor do
parâmetro de “a”, maior também a probabilidade de sucesso dos respondentes com maior
habilidade.
Tabela 2: Confiabilidade da escala de lealdade pela TRI.
Item Símbolo a
1 L1 3,56
2 L2 8,58
3 L3 2,63 Fonte: Dados da análise.
Efeito similar ocorreu com os níveis de lealdade, após testagem na TRI, pelo modelo
dicotômico, onde a TRI apresenta uma melhor calibragem, conforme tabela 2. Neste caso, os
valores de “a” nos três níveis de lealdade L1, L2 e L3, apresentaram-se acima de 1,70 –
respectivamente 3,56; 8,58 e 2,63; tendo assim a confiabilidade confirmada para todas essas
respostas.
Para Cooper (2003, p. 186) “uma medida é confiável na medida em que fornece resultados
consistentes”. Para este autor, a confiabilidade está relacionada à estimativa do grau em que
uma mensuração é livre de erro aleatório ou instável.
114
Concordando com Lucian e Dornelas (2014), por sua característica essencial de ser sensível
ao item e não à amostra, a TRI não possui exigência alguma de amostragem em relação à
seleção dos sujeitos.
A TRI permite que indivíduos que tenham o mesmo número de acertos, possuam escores
diferentes, sendo a única opção de igualar os escores em caso de coincidência de resposta em
todas as questões (LUCIAN; DORNELAS, 2014). Estes mesmos autores destacam que as
estimativas da TRI são sobre o item e não sobre a amostra, e que, nessa técnica, o importante
é o comportamento do item, independente do grupo que esteja sendo testado.
4.7 Análises a partir do teste U de Mann-Whitney
Para este estudo foi realizado o teste U de Mann-Whitney, conforme será demonstrado na
subseção seguinte. A partir desse teste, foram extraídos os principais dados norteadores das
análises desta pesquisa.
4.7.1 Teste U de Mann-Whitney
O teste U de Mann-Whitney configura-se como uma importante técnica para comparar a
diferença de posições de duas observações independentes (MALHOTRA, 2012). Neste
estudo, as amostras foram divididas em dois grupos distintos, sendo o primeiro composto
pelos respondentes satisfeitos e não-satisfeitos; e o segundo formado pelos respondentes leais
e não-leais.
Em seguida foi procedida a divisão das amostras em dois grupos balizados por suas respostas
em relação à satisfação (satisfeitos e não satisfeitos), e outros dois grupos relacionados à
lealdade (leais e não leais). A partir dessa separação foi possível identificar se havia diferença
entre o comportamento dos antecedentes para cada uma das respostas investigadas. Diante da
confirmação das diferenças de comportamento para cada antecedente proposto, fosse para a
satisfação, fosse para a lealdade, ficou evidenciada a existência de influências significativas
dentre as variáveis mensuradas em cada amostra.
115
Após aplicação do teste U de Mann-Whitney nessas amostras, e da confirmação das
diferenças entre as variáveis mensuradas, foi possível identificar quais os antecedentes
capazes de influenciar na satisfação e na lealdade dos consumidores de plataformas de
crowdfunding em contextos de produtos culturais, conforme se pode observar na Tabela 3, a
seguir.
Tabela 3: Resultados do teste U de Mann-Whitney
N.º ANTECEDENTE TESTE U MANN-WHITNEY SATISFAÇÃO LEALDADE
1 CONFIANÇA
SIGINIFICÂNCIA 0,229 0,364
SITUAÇÃO REFUTADO REFUTADO
2 RECOMPENSA
SIGINIFICÂNCIA 0,301 0,001*
SITUAÇÃO REFUTADO CONFIRMADO
3 BENEFÍCIO NÃO-MONETÁRIO
SIGINIFICÂNCIA 0,957 0,192
SITUAÇÃO REFUTADO REFUTADO
4 CO-CRIAÇÃO DE VALOR
SIGINIFICÂNCIA 0,031* 0,005*
SITUAÇÃO CONFIRMADO CONFIRMADO
5 CO-DESENVOLVIMENTO
SIGINIFICÂNCIA 0,222 0,137
SITUAÇÃO REFUTADO REFUTADO
6 SENTIMENTO DE PERTENÇA
SIGINIFICÂNCIA 0,014* 0,039*
SITUAÇÃO CONFIRMADO CONFIRMADO
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da análise.
* O nível de significância estabelecido foi de 0,05.
O teste U de Mann-Whitney foi fundamental para atender aos objetivos específicos desta
pesquisa, que consistem em analisar a influência dos antecedentes constantes da Tabela 3, no
contexto da lealdade e da satisfação dos consumidores de produtos oriundos do financiamento
coletivo.
4.7.2 Análise dos resultados quanto aos objetivos propostos para a pesquisa
No intuito de atender aos objetivos específicos constantes deste trabalho, foram promovidos
os testes estatísticos, cujos resultados deram base para as análises que serão nesta subseção
detalhadas.
116
OBJETIVO ESPECÍFICO 1: Investigar os antecedentes que promovem a satisfação do
consumidor no contexto de produtos culturais através da experiência de crowdfunding na web.
Dentre os diversos antecedentes que se destacam no consumo de produtos oriundos do
consumo colaborativo, conforme expõe a literatura pertinente ao tema, a co-criação de valor e
o sentimento de pertença se destacaram quanto à promoção da satisfação desse tipo
específico, como se pode observar na tabela 4.
Tabela 4: Antecedentes que influenciam na satisfação pelo teste U de Mann-Whitney.
ANTECEDENTE TESTE U MANN-WHITNEY SATISFAÇÃO
CO-CRIAÇÃO DE VALOR SIGINIFICÂNCIA 0,031
SITUAÇÃO CONFIRMADO
SENTIMENTO DE PERTENÇA SIGINIFICÂNCIA 0,014
SITUAÇÃO CONFIRMADO
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da análise.
A co-criação de valor tem o poder de trazer o consumidor para dentro da empresa ou do
projeto daquele determinado produto. Ela oportuniza que ele possa agir sobre este
produto antes mesmo que ele se torne realidade, como acreditador da consistência e da
credibilidade daquele projeto. Segundo Prahalad e Ramaswamy (2004), a co-criação
com os clientes torna-se uma nova fonte de competência das estratégias empresariais.
Esse entendimento, no entanto, eleva-se ao se tratar do consumo colaborativo que é o
objeto central deste estudo, provando que a co-criação representa uma forte influência à
satisfação do consumidor.
O sentimento de pertença também foi constatado como importante fator motivacional para o
consumo de produtos oriundos do financiamento coletivo nas redes sociais. O seu grande feito
advém, concordando com Koury (2001), do fato de permitir que o sujeito consumidor sinta-se
como pessoa que acredita e é acreditada naquele projeto, como se fosse parte dele. Daí por
que esse sentimento se apresentou como um dos influenciadores da satisfação.
117
OBJETIVO ESPECÍFICO 2: Compreender os antecedentes responsáveis pela resposta de
lealdade do consumidor em contexto de produtos culturais a partir da experiência junto às
plataformas de crowdfunding.
Tabela 5: Antecedentes que influenciam na lealdade pelo teste U de Mann-Whitney.
ANTECEDENTE TESTE U MANN-WHITNEY LEALDADE
RECOMPENSA
SIGINIFICÂNCIA 0,001
SITUAÇÃO CONFIRMADO
CO-CRIAÇÃO DE VALOR
SIGINIFICÂNCIA 0,005
SITUAÇÃO CONFIRMADO
SENTIMENTO DE PERTENÇA
SIGINIFICÂNCIA 0,039
SITUAÇÃO CONFIRMADO
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da análise.
A tabela 5 apresenta os antecedentes que conduzem à lealdade do consumidor. Os resultados
deste estudo apontaram a recompensa como um dos antecedentes que influenciam na resposta
de lealdade do consumidor. A literatura que discorre sobre esse tema já é vasta ao certificar o
que foi comprovado nesta pesquisa, só que agora no contexto do consumo colaborativo. Os
programas de fidelidade adotados pelas mais variadas empresas e dos mais variados ramos,
utilizam desse artifício como meio de conquistar a lealdade dos seus consumidores. As
preferências do cliente determinam as recompensas esperadas por ele para participar em um
programa de fidelidade (Lewis, 2004).
No caso do crowdfunding, a recompensa se apresenta como um grande estímulo, já que para
cada contribuição financeira realizada em uma plataforma de crowdfunding, o consumidor
fará jus a uma recompensa proporcional à sua contribuição. Desse modo, ele poderá ter desde
o seu nome exposto nas páginas de agradecimento de um livro, na parede de um museu
recuperado ou numa página oficial do projeto na Internet; até mesmo a versões exclusivas de
alguns produtos, com direito à dedicatória e um bate papo em um restaurante com os
realizadores dos projetos. Carvalho (2012) afirma que um sistema de recompensa representa
um pacote de benefícios disponibilizados aos colaboradores, no intuito de aumentar a
motivação. O aumento dessa motivação reflete no estímulo á lealdade nas plataformas de
consumo colaborativo.
Outro antecedente importante que conduz à lealdade do consumidor é a co-criação de valor.
Como já foi dito, a co-criação de valor agrega o consumidor de uma forma que ele passe a
participar como importante aliado em decisões prévias acerca da concepção dos produtos.
118
Para Rocha, Ponchio e Francisco (2013), a co-criação de valor representa uma abordagem do
novo paradigma vigente no marketing, envolvendo tanto a empresa quanto o consumidor no
processo de produção de bens e serviços. A co-criação de valor pode ser traduzida de diversas
formas, e uma delas envolve o efeito que percebemos no fenômeno do crowdfunding, onde
cada colaborador que acredita nos projetos, que neles contribuem financeiramente, está co-
criando valor aos produtos que se originarem desses projetos, não apenas pela contribuição
financeira, que é a essência do crowdfunding, mas pelo crédito que se dá a algo inovador,
estimulando, inclusive, outras pessoas a também contribuírem.
Os dados encontrados neste trabalho mostraram que a co-criação de valor não apenas
influencia a questão da satisfação, mas se configura também como um importante antecedente
responsável pela resposta de lealdade nas plataformas de crowdfunding, em contexto de
produtos culturais. Esse resultado demonstra que a possibilidade de co-criar valor para um
produto numa plataforma de consumo colaborativo, desperta no consumidor uma vontade de
tornar a realizar novas contribuições, co-criando valor para outros produtos nessas
plataformas.
Mais uma vez torna-se oportuno citar o pensamento de Santos e Rossi (2002), quando eles
definem a lealdade do consumidor como uma intenção no comportamento de firmar uma
relação duradoura com os seus fornecedores, que no contexto desta pesquisa são
representados pelos realizadores dos projetos que pretendem angariar recursos junto aos
colaboradores, em plataformas específicas da web.
O terceiro e último antecedente capaz de despertar uma resposta de lealdade no consumidor
de produtos culturais em plataformas de crowdfunding detectado nesta pesquisa foi o
sentimento de pertença. Conforme expõe a literatura pertinente ao tema, o sentimento de
pertença mostra que o colaborador é pessoa que acredita e ao mesmo tempo é acreditado pela
proposta daquele projeto e do produto que dele se origina. Johnson, Crosnoe e Elder (2001) se
referem ao sentimento de pertença como uma ligação a algo em que se sente parte do mesmo.
Ao co-criar valor e ser recompensado, o consumidor tenderá a se enxergar naquele produto
como se fosse parte dele, num verdadeiro sentimento de pertença. Se esses efeitos ocorrerem
numa plataforma de crowdfunding, haverá uma tendência à resposta de lealdade, tal como foi
identificado neste estudo.
119
OBJETIVO ESPECÍFICO 3: Verificar quais as interfaces existentes entre os antecedentes
que promovem a satisfação e a lealdade dos consumidores nas plataformas de crowdfunding,
em contexto de produtos culturais.
A co-criação de valor e o sentimento de pertença passaram a ocupar um local de destaque
nesta pesquisa, por se apresentarem como os únicos antecedentes capazes de promoverem
tanto a satisfação quanto à resposta de lealdade do consumidor. Bartl et al., (2010) definem a
co-criação como uma abordagem que determina que a criação de valor seja feita além das
fronteiras organizacionais. Em relação ao sentimento de pertença, Dutra e Noronha (2013)
mostram que a pertença a um grupo se afirma com autonomia e partilha, sendo esse
sentimento expressado com identidade própria. A tabela 6 apresenta os níveis das influências
destacadas nessas interfaces.
Tabela 6: Interfaces entre os antecedentes que conduzem a satisfação à lealdade.
ANTECEDENTE TESTE U MANN-WHITNEY SATISFAÇÃO LEALDADE
CO-CRIAÇÃO DE VALOR SIGINIFICÂNCIA 0,031 0,005
SITUAÇÃO CONFIRMADO CONFIRMADO
SENTIMENTO DE PERTENÇA SIGINIFICÂNCIA 0,014 0,039
SITUAÇÃO CONFIRMADO CONFIRMADO
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da análise.
Nesse contexto, a co-criação faz com que as plataformas de crowdfunding oportunizem ao
consumidor/apoiador, participar da criação do produto, financiando-o e atribuindo-lhe valor, a
partir do momento em que ele decide colaborar com um produto cultural exposto em uma de
suas plataformas.
A co-criação sem dúvida conduz à satisfação e vai mais além, ou seja, desperta no apoiador o
desejo de voltar a participar do consumo colaborativo, já que ficou provado que a co-criação
também incita a lealdade. Não foi a toa que 72,5% dos respondentes disseram que o fato de
participar como co-criador de valor de um produto inovador faz toda a diferença na hora de se
realizar uma contribuição em um site de crowdfunding.
No financiamento coletivo o sentimento de pertença é majorado pelo fato da contribuição se
dar antes da concretização do produto, sendo fundamental para que ele se realize. Assim, o
colaborador passa a se sentir como parte do projeto que ele ajudou a financiar. Os dados da
frequência deste estudo mostraram que 82% dos respondentes se sentiram como parte do
120
projeto apoiado, o que foi ratificado em importância pelo nível de influência constatada tanto
para a satisfação quanto para a lealdade.
121
5.0 CONCLUSÕES
Este trabalho analisou a influência do uso das plataformas de crowdfunding, na conquista da
lealdade e satisfação em contexto de produtos culturais brasileiros e portugueses.
A partir do estudo do comportamento de apoiadores do consumo colaborativo, especialmente
em duas plataformas de crowdfunding, o Catarse, no Brasil; e o PPL, em Portugal, pode-se
constatar a força desse fenômeno e sua capacidade de envolver tanto os realizadores de
projetos, mas principalmente os apoiadores, que são os grandes responsáveis pela
concretização de brilhantes ideias, fortalecedoras das culturas desses países.
A análise dos resultados foi suficiente para esclarecer tanto o objetivo geral quanto os três
objetivos específicos propostos para este estudo, conforme detalhamentos constantes das
tabelas 7 e 8, que servirão de norte para as apresentações das conclusões pertinentes a cada
um deles, minuciosamente discutidas logo na sequência.
Tabela 7: Objetivos específicos, métodos de análise e resultados.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS MÉTODO DE ANÁLISE RESULTADOS
OE1
Investigar os antecedentes que
promovem a satisfação do consumidor no contexto de
produtos culturais através da
experiência de crowdfunding na web.
ANTECEDENTES
QUE LEVAM À SATISFAÇÃO
TESTES NÃO PARAMÉTRICOS DE
HIPÓTESES K-S, e TESTE U
DE MANN-WHITNEY PARA IDENTIFICAR A
INFLUÊNCIA DOS
ANTECEDENTES
Evidenciou-se que dos antecedentes
CO-CRIAÇÃO DE VALOR e o
SENTIMENTO DE PERTENÇA propostos na literatura pertinente ao
consumo colaborativo, e discutidos
neste trabalho, são capazes de conduzir o consumidor de produtos culturais à
satisfação.
OE2
Compreender os antecedentes
responsáveis pela resposta de
lealdade do consumidor em contexto de produtos culturais a
partir da experiência junto às
plataformas de crowdfunding.
ANTECEDENTES
QUE LEVAM À RESPOSTA DE
LEALDADE
TESTES NÃO
PARAMÉTRICOS DE
HIPÓTESES K-S, e TESTE U
DE MANN-WHITNEY PARA
IDENTIFICAR A
INFLUÊNCIA DOS
ANTECEDENTES
Certificou-se que para despertar a
resposta de lealdade nos consumidores
de produtos culturais em plataformas de crowdfunding na web, três
antecedentes analisados neste estudo se
destacaram como fortes nessa missão, quais sejam: CO-CRIAÇÃO DE
VALOR, RECOMPENSA, e
SENTIMENTO DE PERTENÇA.
OE3
Verificar quais as interfaces existentes entre os antecedentes
que promovem a satisfação e a
lealdade dos consumidores nas plataformas de crowdfunding,
em contexto de produtos
culturais.
INTERFACES ENTRE OS
ANTECEDENTES
ANTERIORES
TESTES NÃO
PARAMÉTRICOS DE
HIPÓTESES K-S, e TESTE U
DE MANN-WHITNEY PARA
IDENTIFICAR A
INFLUÊNCIA DOS
ANTECEDENTES
Constatou-se, a partir deste estudo, que
existem duas interfaces capazes de
despertar tanto a satisfação quanto à resposta de lealdade do consumidor de
produtos culturais em plataformas de
financiamento coletivo, quais sejam: a CO-CRIAÇÃO DE VALOR e o
SENTIMENTO DE PERTENÇA.
Fonte: Elaboração própria.
122
Tabela 8: Objetivo Geral, método de análise e resultados.
OBJETIVO GERAL
MÉTODO DE ANÁLISE
RESULTADOS
OG
Identificar a relação do uso de
plataformas de crowdfunding na conquista da lealdade e
satisfação em contexto de
produtos culturais brasileiros e portugueses.
A RELAÇÃO
ENTRE AS PLATAFORMAS
DE CROWDFUNDING
NA CONQUISTA
DA LEALDADE E DA SATISFAÇÃO
DOS
CONSUMIDORES
TESTES K-S NÃO PARAMÉTRICOS DE
HIPÓTESES;
ESTATÍSTICA DESCRITIVA PARA
OBTENÇÃO DAS FREQUÊNCIAS e TESTE
U DE MANN-WHITNEY
PARA DETECTAR A INFLUÊNCIA DAS
VARIÁVEIS
Concluiu-se, a partir das análises presentes neste
estudo, que as ambas as HIPÓTESES DE PESQUISA foram confirmadas, ou seja, que
existe uma clara influência do uso de
plataformas de crowdfunding na conquista da lealdade e satisfação dos consumidores
brasileiros e portugueses. Alguns antecedentes exercem influências significativas nessas
conquistas, sendo a CO-CRIAÇÃO DE VALOR
e o SENTIMENTO DE PERTENÇA para a SATISFAÇÃO; e CO-CRIAÇÃO DE VALOR,
RECOMPENSA, e SENTIMENTO DE
PERTENÇA para a LEALDADE. A CO-CRIAÇÃO DE VALOR e o SENTIMENTO DE
PERTENÇA, no entanto, destacaram-se por
atender ambas ambições do marketing.
Fonte: Elaboração própria.
Para o objetivo específico 1, o teste U de Mann-Whitney mostrou que dois antecedentes são
estatisticamente significativos para dar ênfase ao sentimento de satisfação do consumidor: a
co-criação de valor e o sentimento de pertença, conforme se pode observar na figura 14, a
seguir.
Figura 14 – Antecedentes que conduzem à satisfação.
ANTECEDENTES RELAÇÃO
SATISFAÇÃO
CO-CRIAÇÃO
SENTIMENTO DE PERTENÇA
CONTEXTO: CROWDFUNDING E PRODUTOS CULTURAIS
Fonte: Elaboração própria.
A co-criação de valor significa que quando se apoia financeiramente um projeto, está lhe
atribuindo valor, dando-lhe crédito. Ela tem a capacidade de trazer o colaborador para o
contexto do projeto que está sendo apoiado, dando-lhe a possibilidade de poder agir nesse
produto antes mesmo que ele se torne realidade. Sendo assim, Prahalad e Ramaswamy
(2004) afirmam que a co-criação torna-se uma nova fonte de competência das
estratégias empresariais de marketing. Este estudo ratificou a sua importância como
capaz de despertar a satisfação do consumidor dos produtos em plataformas de
consumo colaborativo.
123
Figura 15: Projeto La casa de pandora no Catarse: leiaute e página de apoiadores.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do Catarse
12.
O projeto La casa de pandora que está ativo no Catarse, e representado pela figura 15,
pretende arrecadar R$ 6.175,00. Para tal, 61 pessoas já apoiaram o projeto e tiveram
acesso, através de um vídeo informativo exibido na plataforma, a toda funcionalidade
da casa e o seu objetivo, que é o de ser um espaço que acredita em ideias e oferece
infraestrutura para que elas saiam do papel.
Ela funcionará como uma catalisadora de projetos e será aberta para quem quiser
participar, além de não ter fins lucrativos. A proposta do projeto La casa de pandora é
que cada empreendedor que se utilize do espaço tire 100% de lucro para si, e possa
contribuir no final do mês para pagar as contas e investimentos do lugar.
As contribuições para o esse projeto vão de R$ 20,00 até R$ 1.000,00 de forma que
qualquer que seja o valor da contribuição realizada, aquela pessoa acreditadora estará
co-criando valor para o projeto, fortalecendo-o e indiretamente incentivando novas
colaborações. Ao fazer a colaboração e co-criar valor, o colaborador passa a torcer pelo
êxito do projeto no qual acredita, daí um dos grandes motivos que conduzem à
satisfação.
Esse entendimento faz parte do contexto do consumo colaborativo que é um dos objetos
centrais deste estudo, provando que a co-criação tem influência sobre a satisfação do
consumidor.
12
Disponível em: < http://www.catarse.me/pt/lacasadepandora>. Acesso em: 19 out. 2014.
124
Outro importante antecedente que conduz à satisfação é o sentimento de pertença, que está
ligado ao fato dos colaboradores se sentirem como parte daquele produto que apoiaram.
O sentimento de pertença também foi constatado como um dos antecedentes que conduzem à
satisfação do consumidor de crowdfunding. Ele se configura como importante fator
motivacional para o consumo de produtos oriundos do consumo colaborativo. Segundo Koury
(2001), esse sentimento vem do fato de permitir que o sujeito consumidor sinta-se como
pessoa que é parte daquele projeto. Ao ver aquele projeto concluído, o apoiador para sempre
lembrará de que fez parte dele, bem assim de que sua contribuição foi fundamental para que
ele se tornasse realidade. Vejamos o exemplo do projeto do ecobook, sucesso no PPL.
Figura 16: Ecobook no PPL.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do PPL
13.
O ecobook, apresentado na figura 16, se trata de um projeto bastante inovador, de caráter
cultural, educacional e ecológico, onde um foi idealizado um caderno em que suas páginas
têm um aspecto similar a de uma lousa branca de uma sala de aula, devendo ser escrito com
caneta especial, que lhe dá a chance de apagar o que foi escrito e reutilizar essas páginas
tantas vezes quanto se achar necessário. Segundo os idealizadores, esse caderno pode ser
muito útil para crianças, estudantes, empresários e pessoas que atuam constantemente com o
processo criativo.
13
Disponível em: <http://ppl.com.pt/pt/prj/ecobook>. Acesso em: 19 out. 2014.
125
A página do ecobook no PPL é uma das poucas em que se apresenta passo a passo, o caminho
que o interessado deve percorrer para efetuar sua colaboração, desde o cadastramento até o
fechamento do negócio, não deixando de avisar que a contribuição só será creditada caso o
projeto venha a ter sucesso, pois é assim que funcionam os sites de crowdfunding.
Certamente os 101 apoiantes desse projeto exitoso da plataforma portuguesa de crowdfunding
se apropriou do sentimento de pertença em relação a este produto inovador, de modo que,
sempre que se fizer referência doravante ao mesmo, eles terão a ciência de que fizeram parte
do projeto piloto, contribuindo para que o mesmo pudesse deixar de ser apenas um projeto e
ganhasse o mundo. É justamente este sentimento, que no contexto do crowdfunding e pelos
resultados aqui obtidos, conduz à satisfação.
Para o objetivo específico 2, os testes estatísticos apresentaram três antecedentes como
influenciadores na resposta de lealdade do consumidor de sites de crowdfunding, conforme se
observa na figura 17, a seguir:
Figura 17 – Antecedentes que conduzem à resposta de lealdade.
ANTECEDENTES RELAÇÃO
CO-CRIAÇÃO DE VALOR
RECOMPENSA
SENTIMENTO DE PERTENÇA
CONTEXTO: CROWDFUNDING E PRODUTOS CULTURAIS
LEALDADE
Fonte: Elaboração própria.
No que se refere à lealdade, além da co-criação e do sentimento de pertença, a recompensa
figurou como plenamente capaz de conquistar o cliente ao ponto de ele desejar novamente
participar do consumo colaborativo. A recompensa é estrategicamente utilizada pelas
empresas no intuito de conquistar, através da fidelização, a lealdade dos seus cliente.
Além de ser um antecedente de resposta à satisfação, a co-criação de valor também desperta a
resposta de lealdade do colaborador de projetos de crowdfunding. Esse desejo de realizar
novos apoios explica-se pela forma de como o consumidor é visto nessas plataformas, ou seja,
como um importante aliado, ainda que financeiramente, na realização dos produtos, sob a
126
ótica da co-criação de valor. Para Rocha et al. (2013), a co-criação de valor tem a capacidade
de envolver o consumidor no processo de produção de bens e serviços. Não obstante, a força
da co-criação no contexto do crowdfunding, não vem tanto da questão financeira em sim, mas
bem mais pelo crédito que se dá a algo inovador.
A recompensa ocupa lugar central na resposta à lealdade, e ela é disponibilizada por milhares
de empresas e nos mais diferentes formatos de programas de fidelização que tanto sucesso
fazem na atualidade. A literatura é vasta sobre esses programas, mas no contexto deste
trabalho a recompensa serve de estímulo não apenas para a colaboração, mas como preditivo
de retorno a novos apoios em diferentes projetos.
Figura 18 – Recompensas disponibilizadas pelo dead fish, aos apoiadores do Catarse.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do Catarse14
.
A recompensa exerce um grande estímulo no crowdfunding. Na figura 18, se percebe o
quanto as recompensas foram incentivadoras para o intenso financiamento da gravação do
novo disco da banda de rock “Dead fish”. As recompensas variaram de R$ 25,00 até R$
1.000,00, sendo que para a menor, o colaborador teria direito a um CD, enquanto pela
colaboração maior, ele seria recompensado com um CD; uma camisa; uma caneca; um vinil e
mais um vinil 7”, mais um passaporte para entrada gratuita, com direito a um acompanhante,
em todos os shows da banda, por um período de um ano.
14
Disponível em: < http://catarse.me/pt/deadfishoficial>. Acesso em: 19 out. 2014.
127
Nos sites de crowdfunding, as recompensas muitas vezes são bastante inusitadas e criativas.
Nota-se que os realizadores utilizam-se de muitos artifícios para conquistar os colaboradores.
Um dos projetos do PPL, intitulado de fábrica das cores – loja colaborativa, ofereceu como
recompensas além do nome do colaborador na página da Internet, cursos de costura e de
reciclagem de sabonetes. O intuito desse projeto é destinar um espaço às artes partilhadas,
onde artesãos de várias origens pudessem expor as suas peças em um local pequeno, do
tamanho de uma caixa, mas que lhe seja próprio.
Figura 19 – Recompensas para o projeto fábrica das cores, do PPL.
Fonte: Recortes de tela do sítio oficial do PPL
15.
Carvalho (2012), mostra que a recompensa tem um papel de apresentar benefícios que
motivem os colaboradores a contribuírem. Essa motivação reflete no estímulo á lealdade nas
plataformas de consumo colaborativo.
O teste U de Mann-Whitney realizado neste trabalho detectou que o sentimento de
pertença além de influenciar na satisfação, também age sobre a lealdade do consumidor
de plataformas de crowdfunding. Para Souza (2001) o sentimento de pertença indica
que um indivíduo se une plenamente a um novo grupo.
15
Disponível em: < http://ppl.com.pt/pt/prj/fabrica-das-cores>. Acesso em: 19 out. 2014.
128
O projeto Local Porto exposto na figura 20, de sucesso no PPL, tem o objetivo de mapear
turisticamente a cidade do Porto, em Portugal, a partir do olhar dos próprios moradores da
cidade, que indicarão cafés, restaurantes, bares, discotecas, igrejas, museus, hotéis, hostels,
passeios, locais de compras e serviços de aluguel de carros, motocicletas e bicicletas; tudo em
uma plataforma turística e inovadora especifica na web.
Figura 20 – Projeto local Porto, do PPL.
Fonte: Recorte de tela do sítio oficial do PPL
16.
Quem colaborou com este projeto é porque se identificou com o mesmo e decidiu investir
financeiramente, sobretudo pelo desejo de usufruir das benesses por ele oferecidas. Cada
colaborador desse projeto exitoso, ao vê-lo em pleno funcionamento, sentir-se-á como
pertencente ao mesmo, dada a sua valorosa contribuição.
Quaisquer cidades turísticas, por mais divulgações que haja sobre elas, escondem pontos
relevantes que só os nativos conseguem decifrar como os mais legais para se visitar. Os
Órgãos oficiais de turismo muitas vezes não conseguem apresentar aos turistas, pontos
estratégicos e de grande valor que só quem vivencia cotidianamente a cidade,
independentemente da classificação social, é quem sabe melhor informar. O sentimento de
pertença percebido pelos apoiadores de projetos como o aqui exemplificado, pode
proporcionar a resposta de lealdade, conforme foi identificado nos resultados desta pesquisa.
16
Disponível em: < http://ppl.com.pt/pt/prj/localporto>. Acesso em: 19 out. 2014.
129
Em relação ao objetivo específico 3, os resultados desta pesquisa apontaram a co-criação e o
sentimento de pertença como os únicos antecedentes capazes de despertar tanto o sentimento
de satisfação, quanto a resposta de lealdade do consumidor de produtos culturais em
plataformas de crowdfunding, conforme demonstrado na figura 21.
Figura 21 – Antecedente que conduz tanto à satisfação quanto a resposta de lealdade.
ANTECEDENTES RELAÇÃO
CO-CRIAÇÃO DE VALOR
SENTIMENTO DE PERTENÇA
CONTEXTO: CROWDFUNDING E PRODUTOS CULTURAIS
SATISFAÇÃO
LEALDADE
Fonte: Elaboração própria.
A possibilidade de co-criar valor desperta no consumidor além de um sentimento agradável,
uma vontade de tornar a realizar novas contribuições, gerando valor para outros produtos
inovadores constantes dessas plataformas. Porém, o sentimento de pertença, de se enxergar
como parte daquele produto, faz com que seja despertada no consumidor, uma vontade de
continuar a apoiar novos projetos oriundos do consumo colaborativo.
Mais uma vez torna-se oportuno citar o pensamento de Santos e Rossi (2002), quando eles
definem a lealdade do consumidor como uma intenção no comportamento de firmar uma
relação duradoura com os seus fornecedores. E a co-criação desperta essa intenção no
crowdfunding. O projeto da banda batuntã, do Catarse serve como um bom exemplo do poder
influenciador da co-criação de valor, a partir dos exemplos constantes das recompensas
oferecidas àqueles que contribuíram financeiramente com esse projeto.
130
Figura 22 – Projeto da banda batuntã, do Catarse.
Fonte: Recorte de tela dos sítios oficiais do Catarse e da banda batuntã
17.
A banda batuntã desenvolve um trabalho de pesquisa e criação musical tendo o ritmo como
seu principal fio condutor. Essa banda é caracterizada pela energia, espontaneidade e
inovação. A batuntã, em sua versatilidade, transita desde a percussão corporal até o uso de
objetos inusitados como canos de pvc, pneus, garrafas, peças de carro e eletrodomésticos
como elementos sonoros e visuais em seus espetáculos.
Dentre as recompensas oferecidas estava a de colocar o nome dos colaboradores em uma
página especial no site da banda na Internet, como forma de agradecimento.
O fato de ver o nome na página oficial da banda na web, como no caso desse projeto, reflete o
poder que envolve tanto a co-criação de valor, onde aquele colaborador em específico
contribuiu para criar esse valor, acreditando nele e permitindo sua realização; quanto ao
sentimento de pertença, onde ao visualizar seu nome como colaborador daquele projeto em
sua página oficial, naturalmente sentir-se-á como parte importante dele.
17
Disponível em: http://batunta.com/disco/apoiadores/. Acesso em 30 nov. 2014.
131
A satisfação do consumidor é tida como uma avaliação ou julgamento do cliente, ocorrido
após uma experiência com o produto ou serviço adquirido (MÜCKENBERGER, 2001).
Vários autores comungam com a opinião de Evrard (1994) ao apontar a satisfação dos clientes
como uma importante variável de seus comportamentos posteriores, a exemplo da lealdade.
Santos e Rossi (2002) definem a lealdade do consumidor como sendo uma intenção
comportamental de se manter uma relação forte e duradoura com os fornecedores. A co-
criação e o sentimento de pertença, conforme o exposto, têm a capacidade de atender a esses
dois comportamentos distintos, muito embora conexos, dos consumidores.
A satisfação foi identificada como relevante ou forte por 85% dos respondentes da pesquisa,
havendo aí mais um indício de sua relação com o consumo de produtos culturais no
crowdfunding.
Percebe-se ainda que há uma tendência de crescimento dessa lealdade, posto que metade dos
respondentes declararam concordar totalmente em gostar cada vez mais do modelo de
financiamento de projetos proposto pelo crowdfunding, sendo que a maioria dos entrevistados
concordou que este modelo apresenta mais benefícios dos que os outros formatos de
financiamento disponíveis no mercado.
Diante desses resultados, conclui-se que ambas as hipóteses de pesquisa foram confirmadas,
quais sejam: Que o consumo de produtos culturais oriundos de plataformas de crowdfunding
tende a promover a satisfação dos consumidores; e que o consumo de produtos culturais
oriundos de plataformas de crowdfunding desperta uma resposta de lealdade nos
consumidores.
Assim, tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos foram atendidos neste estudo,
demonstrando existir sim uma influência do uso das plataformas de crowdfunding em
contexto de produtos culturais, na conquista da lealdade e satisfação desses consumidores em
específico. Alguns antecedentes configuraram-se como fundamentais para que essas
conquistas fossem possíveis: co-criação de valor, sentimento de pertença e recompensa. Mas
não restou dúvidas que a co-criação de valor e o sentimento de pertença tiveram destaque
especial por serem os únicos a atingir as duas principais variáveis relacionadas ao
crowdfunding em contexto de produtos culturais, que é o objeto maior deste trabalho, ou seja,
a satisfação e à lealdade do consumidor.
132
O consumo colaborativo exerce um grande fascínio tanto para os apoiadores quanto para os
realizadores, abrindo portas para novos rumos de atuação do marketing digital. É de
relevância mencionar, pelo que foi discutido e observado neste estudo, que o crowdfunding
aponta para o futuro do consumo, onde, mediante a convergência das mídias e de uma maior
oxigenação do mercado, será exigida uma participação mais próxima e ativa do consumidor,
no processo de elaboração e de criação de novos produtos.
5.1 Limitações do estudo
Uma das limitações deste estudo está relacionada a pouca participação de respondentes
portugueses no questionário que lhes foi disponibilizado. Diversas tentativas foram feitas,
inclusive com o apoio de um dos idealizadores da maior plataforma portuguesa de
crowdfunding, que através de uma newsletter, disponibilizou o link da pesquisa com todos os
apoiadores do PPL, cerca de 10.000 no total, tendo cuidado de divulgar só após o período de
férias naquele país, para que todos estivessem mais atentos ao material que chegava às suas
caixas de e-mails.
Após perceber que a taxa de retorno dos respondentes foi muito baixa, foi pedida uma nova
divulgação, porém negada dadas as diversas outras pesquisas sobre este tema que vêm sendo
realizadas concomitantemente. Como forma de contribuir para conseguir mais respondentes, o
Diretor do Instituto Português de Administração de Marketing se prontificou a disponibilizar
o link da pesquisa em uma página de Facebook, obtendo-se, ainda assim, um baixo retorno
em termos de respondentes.
Torna-se oportuno salientar, conforme os últimos censos18
realizados nos dois países
participantes desta pesquisa, que o Brasil possui uma população 19 vezes superior a de
Portugal. No entanto, o número de respondentes brasileiros foi apenas 10 vezes superior ao de
portugueses, o que se configura como uma justificativa certamente aceitável para o baixo
retorno.
18
Fontes: IBGE, Censo Demográfico 2010, que apontou uma população de 190.732.694 brasileiros; e INE,
Censos 2011 em Portugal, que apresentou uma população de 10.562.178 habitantes nesse país. Disponíveis
respectivamente em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/>; e
<http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main>.
133
No Brasil as dificuldades também foram grandes, mas como a plataforma do Catarse
disponibiliza os e-mails dos realizadores dos projetos, houve uma facilidade maior em se
estabelecer um diálogo no intuito de promover a divulgação do link da pesquisa e de estimular
que ela fosse respondida.
Outra limitação importante de ser citada é que, por envolver terminologias muito novas,
embora elas tenham sido explicadas detalhadamente entre parênteses, no próprio questionário,
talvez muitos respondentes não tenham tido a compreensão clara do que se pretendia com
cada questão.
Quanto às escalas, por exemplo, pela proximidade dos itens, muitos respondentes talvez não
tenham expressado naquele momento exato, o que realmente sentem na maior parte do tempo,
dedicando-se a responder por um sentimento possivelmente momentâneo.
5.2 Sugestões para pesquisas futuras
Por envolver produtos culturais e o fato da música figurar com tamanha força tanto em
números de apoios como pela própria preferência desses apoiadores, seria bastante
interessante uma análise do fenômeno do crowdfunding associado à participação de bandas ou
artistas já consagrados em projetos dispostos nessas plataformas, associando-se essa
participação à contribuição dos fãs na divulgação, colaboração e ampliação das arrecadações.
O crowdfunding certamente representa uma grande oportunidade para a maioria dos artistas,
consagrados ou não, em tempos de franco declínio da indústria fonográfica.
Outra pesquisa interessante seria em virtude da relação entre a co-criação de valor como
estímulo ao consumo colaborativo, considerando que esse antecedente figurou neste estudo
como um grande motivador tanto para a satisfação quanto para lealdade dos consumidores em
plataformas de crowdfunding.
Pelo conhecimento adquirido nesta pesquisa, nota-se que o futuro do consumo pedirá uma
participação bem mais próxima do consumidor no processo de elaboração de novos produtos,
ou seja, um efeito de co-criação e de pertencimento que deve ser abordado em novas
pesquisas, tendo em vista o rico conteúdo desse tema e a relevância que o permeia.
134
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142
APÊNDICE
PESQUISA DESCRITIVA – LEVANTAMENTO DE DADOS (SURVEY)
INFORMAÇÃO DE APRESENTAÇÃO NO E-MAIL:
Foram dois tipos de formatos utilizados nas informações constantes nos e-mails convidativos para os
respondentes, sendo uma mais técnica, utilizada nos primeiros contatos, e posteriormente outra
com uma postura mais leve e precisa, visando conquistar um público jovem que se dispusesse a
responder o questionário.
1- PRIMEIRO FORMATO (TÉCNICO):
Prezado(a) Senhor(a):
Sou aluno do Mestrado Profissional da Faculdade Boa Viagem / DeVry e estou realizando uma
pesquisa sobre o crowdfunding (financiamento coletivo) no Brasil.
Também fui um dos apoiadores do projeto de sucesso XXXXXXXXX, e gostaria de contar com a sua
contribuição para o meu trabalho, através de suas respostas ao questionário que segue no link
abaixo:
www.xxxxxxxxxxxxx.com.br
Sua opinião é muito importante e o questionário levará o tempo máximo de 10 minutos para ser
respondido na íntegra. O sigilo das respostas é garantido e todos os dados obtidos terão unicamente
aplicação para elaboração de minha dissertação de mestrado.
Aos que se interessarem, será disponibilizado um sumário executivo com as principais conclusões do
estudo.
Desde já agradeço a sua colaboração.
143
2- SEGUNDO FORMATO (LINGUAGEM MAIS JOVEM):
Olá turma, que coisa mais bacana é o crowdfunding, num é? Essa ferramenta que já ajudou a realizar
muitos sonhos, pode ainda ficar melhor, graças aos estudos que vêm sendo feitos por muitos
pesquisadores.
Você que já contribuiu alguma vez com um projeto de crowdfunding, está convidado a responder o
questionário que segue no link abaixo. São apenas 5 minutinhos!
www.xxxxxxxxxxxxx.com.br
144
QUESTIONÁRIO – DESCRITIVA – LEVANTAMENTO (SURVEY):
Esta pesquisa é vinculada ao Mestrado Profissional em Gestão Empresarial da Faculdade Boa Viagem
– DeVry, sob a responsabilidade do aluno do curso de mestrado Bartos Bernardes e do Prof. Dr.
Rafael Lucian, e tem o objetivo de identificar os níveis de satisfação e de lealdade sobre o consumo
de produtos oriundos crowdfunding (financiamento coletivo) no Brasil e em Portugal.
Em momento algum da pesquisa o seu nome será revelado, nem qualquer informação que possa vir
a lhe identificar. O interesse está voltado para a análise das respostas médias dos participantes e
nenhum questionário será avaliado individualmente.
Muito obrigado.
145
FACULDADE BOA VIAGEM
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL
QUESTIONÁRIO SOBRE CROWDFUNDING NO BRASIL E EM PORTUGAL
PARTE 1 – SOBRE COMO CONHECEU O CROWDFUNDING
01- Você já respondeu esta pesquisa anteriormente?
( ) sim
( ) não
02- Como você conheceu o crowdfunding?
( ) através das redes sociais, a exemplo do Facebook, Twitter, Instagram
( ) através de uma plataforma específica de crowdfunding, a exemplo do Catarse
( ) através de periódicos – Jornais ou revistas
( ) através de amigos
( ) outra maneira
PARTE 2 – SOBRE O APOIO DADO ATRAVÉS DO CROWDFUNDING
03- Quantas vezes você já apoiou um projeto de crowdfunding?
( ) uma
( ) duas
( ) três
( ) mais de três vezes
04- O projeto de crowdfunding que você apoiou está ligado a qual dos produtos culturais
abaixo:
( ) Música
( ) Literatura
( ) Dramaturgia
( ) Festas Populares
( ) Educação
( ) Escultura/Ornamento
( ) Artes Plásticas
( ) outros, cite: __________________
146
05- Qual o seu vínculo com o(s) autor(es)/realizador(es) do projeto de crowdfunding que você
apoiou?
( ) nenhum
( ) amizade
( ) família
( ) amigos de amigos
( ) outros, cite: __________________
06- Qual o valor mínimo que você já investiu num projeto de crowdfunding?
( ) até R$ 10,00
( ) entre R$ 11,00 e 30,00
( ) entre R$ 31,00 e 50,00
( ) entre R$ 51,00 e 100,00
( ) acima de R$ 100,00
07- Qual o valor máximo que você já investiu num projeto de crowdfunding?
( ) R$ 10,00
( ) entre R$ 11,00 e 30,00
( ) entre R$ 31,00 e 50,00
( ) entre R$ 51,00 e 100,00
( ) acima de R$ 100,00
08- A confiança no projeto foi determinante para o seu apoio?
( ) sim
( ) não
( ) irrelevante
09- O fato de ter acesso a uma recompensa pela contribuição no crowdfunding fez diferença
na hora de colaborar com o projeto?
( ) irrelevante
( ) sim
( ) não
10- No contexto do financiamento colaborativo através das plataformas de crowdfunding, qual
dos benefícios abaixo você considera mais importante?
( ) a recompensa recebida pela contribuição, que simboliza o benefício monetário
( ) a realização pessoal percebida na contribuição, que simboliza o benefício não monetário
( ) irrelevante
147
11- O fato de estar participando como co-criador de valor a um produto inovador fez diferença
na hora de realizar a contribuição? (co-criador de valor, pois quando se acredita num
produto e nele se investe, está lhe atribuindo valor).
( ) não
( ) irrelevante
( ) sim
12- Se lhe fosse dada a oportunidade de opinar na customização, ou seja, atuar no co-
desenvolvimento de um produto inovador através de uma ferramenta de crowdfunding,
você se sentiria mais realizado?
( ) sim
( ) não
( ) irrelevante
13- Ao colaborar com o produto cultural e vê-lo concretizado através do financiamento
coletivo, você se apropriou do sentimento de pertença, ou seja, de que você faz parte da
história daquele produto?
( ) irrelevante
( ) sim
( ) não
14- De uma maneira geral, quão satisfeito você ficou com a experiência de apoiar um projeto
de crowdfunding?
( ) 1- totalmente insatisfeito
( ) 2- ligeiramente insatisfeito
( ) 3- um pouco satisfeito
( ) 4- muito satisfeito
( ) 5- extremamente satisfeito
15- Como você se sentiu com a experiência de ter se envolvido em um projeto exitoso de
crowdfunding?
( ) 1- totalmente insatisfeito
( ) 2- ligeiramente insatisfeito
( ) 3- um pouco satisfeito
( ) 4- muito satisfeito
( ) 5- extremamente satisfeito
16- O crowdfunding apresenta mais benefícios do que outros formatos de financiamento.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
148
17- Com o passar do tempo eu percebo gostar cada vez mais do modelo de financiamento de
projetos através do crowdfunding do que de outros modelos.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
18- Quando eu precisar de apoio para algum projeto, sempre escolherei o crowdfunding.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
PARTE 3 – SOBRE O PERFIL DO RESPONDENTE
19- Qual a sua idade?
( ) abaixo de 15 anos
( ) entre 16 e 20 anos
( ) entre 21 e 25 anos
( ) entre 25 e 30 anos
( ) entre 30 e 40 anos
( ) acima de 40 anos
20- Qual o seu gênero?
( ) Masculino
( ) Feminino
21- Qual dos produtos culturais abaixo mais lhe interessa:
( ) Música
( ) Literatura
( ) Dramaturgia
( ) Festas Populares
( ) Educação
( ) Escultura/Ornamento
( ) Artes Plásticas
( ) Outro. Cite:________________________________________
149
22- Em qual região do Brasil você reside:
( ) Norte
( ) Nordeste
( ) Sul
( ) Sudeste
( ) Centro-Oeste ( ) Grande Lisboa
( ) Grande Porto
( ) Norte
( ) Centro
( ) Alentejo
( ) Algarve
( ) Nenhuma. Moro no exterior
23- Qual o seu grau de instrução?
( ) Ensino Fundamental incompleto
( ) Ensino Fundamental completo
( ) Ensino Superior incompleto
( ) Ensino Superior completo
( ) Pós-graduado(a) - Especialização
( ) Pós-graduado(a) - Mestrado
( ) Pós-graduado(a) – Doutorado/Doutoramento
151
TABELA DE DISCRIMINAÇÃO DOS DOCUMENTOS ANEXADOS
DISCRIMINAÇÃO DOS ANEXOS
ANEXO A CONTRIBUIÇÃO DA PLATAFORMA DO PPL COM DIVULGAÇÃO DE NEWSLETTER
ANEXO B COMPROVANTES DOS APOIOS REALIZADOS PELO PESQUISADOR EM PROJETOS NO CATARSE
ANEXO C RELAÇÃO QUANTITATIVA DOS APOIADORES CONTATADOS A RESPONDEREM O QUESTIONÁRIO
ANEXO D COMPROVANTES DOS CONTATOS FEITOS POR E-MAIL COM ALGUNS REALIZADORES DE PROJETOS
ANEXO E COMPROVANTES DA REALIZAÇÃO DE PRÉ-TESTES COM O INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
ANEXO F DEMONSTRATIVOS DE PÁGINAS DO CATARSE E DO PPL NA WEB
153
ANEXO B
COMPROVANTES DOS APOIOS REALIZADOS PELO PESQUISADOR EM
PROJETOS NO CATARSE
INÍCIO: 05/11/2013 - TÉRMINO: 03/10/2014
155
http://www.catarse.me/pt/users/209082-bartos-bernardes#contributions
Acesso em: 13 de out. 2014.
156
ANEXO C
RELAÇÃO QUANTITATIVA DOS APOIADORES CONTATADOS A
RESPONDEREM O QUESTIONÁRIO NO BRASIL
ITEM PROJETO APOIADOS PELO PESQUISADOR AUTOR(ES)
N.º DE APOIADORES
CONTRIBUIÇÃO EM CONVITES PARA RESPONDENTES TOTAL
1 FINALIZAÇÃO CD BATUNTÃ BATUNTÃ 220
Convidou os 220 apoiadores do seu projeto através da ABA DE NOVIDADES DO CATARSE 220
2 PESSOA-COISA, CIDADE-TORRE PAULA SACCHETTA 171
Convidou os 171 apoiadores do seu projeto através da ABA DE NOVIDADES DO CATARSE 71
3 APOIE O ESPAÇO COMUM LUIZ ESTRELA LUIZ ESTRELA 954 CONTATO SEM RESPOSTA 0
4 LIVRO VIAJO LOGO EXISTO - 1 ANO DE ESTRADA LEONARDO SPENCER 680
APENAS 2 RESPONDENTES CONFIRMADOS 2
5 BLUE - UM DIA DE GATO PAULO KIELWAGEN 264
Convidou os 264 apoiadores do seu projeto através da ABA DE NOVIDADES DO CATARSE 264
6
VALÉRIA LOBÃO - NOEL ROSA PRETO E BRANCO FINALIZAÇÃO DO CD DUPLO VALÉRIA LOBÃO 282
Repassou o link da pesquisa para os amigos apoiadores, através do facebook 0
7 A CAMINHO DO MAR MARCIO LUCENA 220 Confirmou que divulgou, mas não especificou o local 0
8 DEAD FISH @ DISCO NOVO DEAD FISH 3210 CONTATO SEM RESPOSTA 0
9 VÍDEO CLIPE ARMADA - I KISSED A GIRL THIAGO CANDIDO 19
Confirmou que divulgou com seus 19 apoiadores 19
10 10 ANOS PARALELOS PARALELO CIA DE DANÇA 39
Prometeu divulgar, mas não deu resposta 0
11 ENTRE CASAS MARIANA BERGO DE OLIVEIRA 36
Prometeu divulgar com seus 36 apoiadores 36
12 ALVORES - A LIGA DOS ARTESÃOS LAURO KOCIUBA 201 CONTATO SEM RESPOSTA 0
13 MASMORRA DE DADOS
EURICO NETO, DANIEL ALVES E PATRICK MATHEUS 1309
APENAS 3 RESPONDENTES CONFIRMADOS 3
14 DESTINO INCOMUM MALUF 37 CONTATO SEM RESPOSTA 0
15 DOIS LIVRINHOS RAFAEL KOFF 425 APENAS 1 RESPONDENTE CONFIRMADO 1
8067 TOTAL: 616
157
ITEM PROJETO NÃO APOIADOS PELO
PESQUISADOR AUTOR(ES) N.º DE
APOIADORES CONTRIBUIÇÃO EM CONVITES
PARA RESPONDENTES TOTAL
1 NOVELA GRÁFICA JERRY DIAS 178 Confirmou ter convidado 178 apoiadores do seu projeto 178
TOTAL: 178
8245 TOTAL GERAL: 794
158
ANEXO D
COMPROVANTES DOS CONTATOS FEITOS POR E-MAIL COM ALGUNS
REALIZADORES DE ALGUNS PROJETOS DE SUCESSO
PROJETO APOIADO POR BARTOS BERNARDES
FINALIZAÇÃO DO CD DA BANDA BATUNTÃ
165
ANEXO E
COMPROVANTES DA REALIZAÇÃO DE PRÉ-TESTES COM O INSTRUMENTO
DE COLETA DE DADOS
PRÉ-TESTE – PARTE 1
ANÁLISE DAS QUESTÕES EM GERAL POR TRÊS COLEGAS DE MESTRADO E
PROFESSORES DE MARKETING DE FACULDADES
DA GRANDE RECIFE
167
PRÉ-TESTE – PARTE 2
ANÁLISE DAS DAS ESCALAS E DEMAIS QUESTÕES POR PROFESSORA DE
MARKETING COM DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
168
FBV - FACULDADE BOA VIAGEM / DeVRY BRASIL
CENTRO DE PESQUISA E
PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - CPPA
MESTRADO PROFISSIONAL EM
GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE
MESTRANDO: BARTOS BERNARDES
TEMA DA PESQUISA:
A influência do uso de ferramentas de crowdfunding na conquista da lealdade e satisfação
em contexto de produtos culturais
ORIENTADOR: RAFAEL LUCIAN, Dr.
“VALIDAÇÃO DE FACE”
Visando atestar a CLAREZA e a ADEQUAÇÃO das questões/afirmações abaixo, que foram
adaptadas às ESCALAS DE SATISFAÇÃO (OLIVER, 1980 e WESTBROOK, 1980) E DE
LEALDADE (OLIVER, 1999), e serão utilizadas na FASE DESCRITIVA de nossa Pesquisa,
sob o método de levantamento de dados, solicitamos de Vossa Senhoria avaliar, por item, se
as questões apresentadas têm condições de atender ao que se propõe, ou seja, medir os níveis
de SATISFAÇÃO e LEALDADE desses consumidores após suas efetivas participações em
projetos exitosos em uma plataforma de crowdfunding no Brasil.
Informamos que todos os respondentes são conhecedores do crowdfunding, tendo apoiado um
projeto de sucesso junto à plataforma www.catarse.me.
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PESQUISA SOBRE CROWDFUNDING NO BRASIL
VALIDAÇÃO DE FACE
1- De uma maneira geral, quão satisfeito você ficou com a experiência de apoiar financeiramente um
projeto de crowdfunding?
( ) 1- totalmente insatisfeito
( ) 2- ligeiramente insatisfeito
( ) 3- um pouco satisfeito
( ) 4- muito satisfeito
( ) 5- extremamente satisfeito
CLAREZA ADEQUAÇÃO
SIM ( x ) NÃO ( ) SIM ( x ) NÃO ( )
OBSERVAÇÃO: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
2- Como você se sente com a experiência de envolvido em um projeto exitoso de crowdfunding?
( ) 1- totalmente insatisfeito
( ) 2- ligeiramente insatisfeito
( ) 3- um pouco satisfeito
( ) 4- muito satisfeito
( ) 5- extremamente satisfeito
CLAREZA ADEQUAÇÃO
SIM ( x ) NÃO ( ) SIM ( x ) NÃO ( )
OBSERVAÇÃO: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
3- O crowdfunding apresenta mais benefícios do que outros formatos de financiamento.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
CLAREZA ADEQUAÇÃO
SIM ( x ) NÃO ( ) SIM ( x ) NÃO ( )
OBSERVAÇÃO: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
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4- Com o passar do tempo eu percebo gostar cada vez mais do modelo de financiamento de projetos
através do crowdfunding do que de outros modelos.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
CLAREZA ADEQUAÇÃO
SIM ( x ) NÃO ( ) SIM ( x ) NÃO ( )
OBSERVAÇÃO: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5- Quando eu precisar de apoio para algum projeto, sempre escolherei o crowdfunding.
( ) 1- discordo totalmente
( ) 2- discordo parcialmente
( ) 3- Não concordo nem discordo
( ) 4- concordo parcialmente
( ) 5- concordo totalmente
CLAREZA ADEQUAÇÃO
SIM ( x ) NÃO ( ) SIM ( x ) NÃO ( )
OBSERVAÇÃO: ___________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________