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  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    1/53

    Mais que dizer - Transmitir.Ed. 19 Ano 2

    EXPRESSES!EXPRESSES!

    Jos Danilo Rangel - Rafael de Andrade - Laisa Winter - Leo Vincey - Carlos Moreira - David Bremide - Csar Augusto

    Marcos Ferraz - Bruno Honorato - Guilherme Sanjuan - Elias Balthazar - Moiss Costa - Gabriel Ivan - Sandra Britto

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    2/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 02

    EDITOR

    Jos Danilo Rangel

    CO-EDITOR:

    Rafael de Andrade

    COLABORADORES:

    Moiss Costa - Capa

    Laisa Winter - Quadro a Quadro

    Marcos Ferraz - Conto

    Leo Vincey - Crnica e Poesia

    Gabriel Ivan - Fotos

    Elias Balthazar - Poesia

    Guilherme Sanjuan - Poesia

    Csar Augusto - Poesia

    David Bremide - Poesia

    Carlos Moreira - Poesia

    Bruno Honorato - Poesia

    Sandra Britto - EXTRA

    Capa: Tela O Louco, de Moiss Costa

    e x p e d i e n t e

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    3/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 03

    NDICE

    Prembulo..................................................................04

    As Pedras do Rio Morto....................................................................06

    O Cadver.....................................................................12

    Decodifcando: O Sujeito e a Sujeio...............................16Literatura em Rede: Fruta do Oriente..............20Poesia: Tentativas...............................................29Por Favor, a Explicao....................................30Eu J Disse Tudo.........................................................31Frias..................................................................33Tristeza......................................................................................34Encontro Com o Abismo.............................35A Troca..................................................38O Rio...............................................................40

    Quadro a Quadro: Minha Vida Sem Mim................................42Extra: Poema Ao Vivo.....................................45Do Leitor.......................................................................51Envio de Material........................................................................52

    As Pedras do Rio MortoPor Marcos Ferraz

    Conto

    O CadverPor Leo Vincey

    Crnica

    pg. 06

    pg. 12

    Poema Ao VivoPor Sandra Britto

    Extra

    pg. 45

    Fruta do OrientePor Rafael de Andrade

    Literatura em Rede

    pg. 20

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    4/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 04

    Comeando pelo incrvel trabalho que trazemos na capa, a tela OLouco, parte da obra de Moiss Costa, disponvel para visualizao emIn Constante Mente Trao Cor Ao, s clicar! O outro acrscimo visualca por conta do Gabriel Ivan com as otos no entressees.

    Mais adiante, o conto As Pedras do Rio Morto marca a primeiraparticipao de Marcos Ferraz na revista, uma narrativa que bebe umtanto no antstico do olclore e outro tanto em questes ambientais. Osegundo texto a crnica de Leo Vincey, O Cadver, um texto curto,uma oto 3x4 do descaso que muitas amlias sorem, a seco, sem muitodrama ou ponderaes polticas ou demaggicas.

    No Decodicando, O Sujeito e a Sujeio, exponho alguns pensa-mentos ainda pouco desenvolvidos a respeito de um dos temas que tmme ocupado ultimamente. Em Fruta do Oriente, conto presente na

    Literatura em Rede, Raael de Andrade nos traz um texto que nos lembraos anteriores, contudo, um tanto mais sbrio e romntico.

    Em Poesia, temos a estreia de David Bremide, 14 anos, que az suaprimeira colaborao revista com o poema Tentativas. Temos tam-bm Bruno Honorato, com o seu Encontro Com o Abismo, um textode lego, Guilherme Sanjuan e seu Frias, ou pequeno drama de entre-linhas, Carlos Moreira denunciando as sempre crescentes exigncias doimperador, Elias Balthazar refetindo sobre o refetir, Leo Vincey comseu experimento neoconcreto, um poema meu e, por m, Csar Augustoe seu Rio.

    No Quadro a Quadro, Laisa Winter nos apresenta o Minha VidaSem Mim, como sempre, ela sucinta e levanta as questes que valem apena considerar. Depois, echando esse nmero, temos no EXTRA, umapequena apresentao da anpage Poema ao Vivo escrita pela prpriamantenedora da pgina, Sandra Britto, se voc ainda no conhece sugiroque conhea.

    Espero que goste.

    Porto Velho - Fevereiro de 2013Jos Danilo Rangel

    PREMBULO

    https://www.facebook.com/media/set/?set=a.308316209245671.70749.308304659246826&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.308316209245671.70749.308304659246826&type=3
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    5/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 05

    p a r c e i r o s :

    http://www.flasheslapoa.com/http://www.selmovasconcellos.com.br/http://bandavuaderafatal.webnode.com//http://www.moshphotography.com/http://www.newsrondonia.com.br/http://www.expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421
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    6/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 06

    Conto

    AS PEDRAS DO RIO MORTOMarcos Ferraz

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    7/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 07

    Todas as manhs, uma jovem garota

    cava sentada margem de um rio. O rio era co-nhecido como Rio Morto porque h muito tempodeixara de dar peixes. At a fora de suas guasj no era mais a mesma.

    Durante muitos anos o rio era reche-ado de pescadores. Antes de o sol aparecer nolongnquo horizonte, os homens, em suas pe-quenas casas, comeavam a organizar suastralhas. Vericavam iscas, varas, caf da manhe tudo mais o que precisavam. Engatavam seuspequenos teco-tecos em seus carros enferruja-dos e partiam em direo rampa de acesso aorio. Se chegassem depois do sol, nem entravam

    na gua.

    Mas com o passar do tempo, os pes-cadores da regio foram seguindo o curso do rio.Subindo cada vez mais, tornando aquela parteem que cavam num imenso deserto de gua.

    Mas ali cava a garota. Toda manh,ela sentava beira do rio e cava jogando pe-dras na gua. Sozinha, no falava com ningum.

    Ficava ora assoviando ora cantando. Aprovei-tando a brisa fria da manh acompanhada como leve cheiro da gua do rio. Olhando pro cho,acompanhava a grande la de formigas traba-lhadoras, que viviam um intenso vai-e-vem, car-regando folhas ou pequenos pedaos de insetosmortos.

    Logo, cabe dizer que a menina no a nica solitria ali. O velho Ernest, como um diafora conhecido na pequena regio, continuavasua labuta diria em busca do alimento do dia.Nem todos os dias ele tem o que comer. Tam-pouco alguma coisa pra vender. Logo, tambmno ter mais como manter sua pescaria. En-to, sem poder pescar, se alimentar ou venderseus peixes, perecer de fome, angustiando diaaps dia, implorando que suas horas acabem,que acabe logo o sofrimento. Assim como fezsua esposa e seus trs lhos pequenos.

    No incio, o velho Ernest cou ame-drontado com a presena, pra ele sinistra, dagarota na beira da gua. Sentado em seu barco

    cava olhando-a, imaginando todos os tipos deloucura que se pudesse imaginar. A pior delasfoi quando pensou que a menina poderia andarsobre a gua, chegar at ele e terminar de lheroubar as pobres tralhas que restaram. Mas tudono passava de devaneios tolos, e logo ele sepunha a tentar pescar seu almoo do dia.

    Quando o velho chegava ao rio, amenina parava de jogar suas pedras e cavatando-o o tempo todo. Sem movimentos brus-cos, apenas sentada com os braos em voltados joelhos encolhidos.

    O sol estava quase a pino, mas a me-nina, assim como o velho, no deixava o lugar.No barco, o velho Ernest tinha seu guarda-sol,protegendo a velha pele cansada, manchada demuito sol que j tomara. Mas a menina continu-ava sentada do mesmo jeito. Sentia o suor es-correr pelas costas. Os os de cabelo nas tm-poras e na nuca j estavam encharcados, e alitambm o suor lhe escorria.

    O velho cava pensando, coisa queno costumava mais fazer, pois j havia pensa-do em muitas coisas nos corridos anos de suavida, o que a pequena garota estaria fazendoali, sentada sob o sol quente. Cada vez que elepuxava a linha de sua vara e a isca continuavaali, sentia-se completamente triste, desmotivadoa viver at. E quando percebia que a menina es-

    Mas ali cava a garota.Toda manh, ela sentava beira do rio e cava

    jogando pedras na gua.

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    8/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 08

    tava observando-o cava constrangido. Pensouem ir ter um dedo de prosa com a garota, mascontinha-se toda vez que pensava em se apro-ximar. H muito tempo no falava com ningum.

    Nesse dia, em uma determinadahora, ele puxou sua linha e como sempre noveio nada. Quando olhou para a menina, frustra-

    do, deprimido, desmotivado, ela j no estavasentada. Encontrava-se em p, de braos cruza-dos. Ventava bastante e seu vestido balanavamuito no ar.

    Disposto a falar com a menina, juntousuas tralhas, sem nada organizar, jogou-as dequalquer forma no barco, deu partida no motorcansado da vida, barulhento, que soltava peque-nas gotas de leo na gua. Virou o barco emdireo margem e acelerou o motor.

    De longe, sem conseguir ver direito orosto da menina, no pde contemplar o lindosorriso que cobriu sua face.

    O velho foi se aproximando e a me-nina se abaixou, pegou uma pedra e atirou nagua. Ele, como j no tinha muita fora pra sol-tar a voz, teve que se aproximar o mximo pos-svel da menina. Levantou o motor para que eleno encostasse no cho e estacionou o barconas pedras da margem do rio. A menina jogoumais uma pedra.

    Sem dizer nada, caram se encaran-do por um longo tempo. Nesse tempo a meninajogou vrias pedras no rio. At que o silncio foiquebrado.

    O que faz aqui? perguntou Er-nest.

    Apenas observando. E o senhor? Pescando. Pescando ou tentando pescar?

    perguntou a menina virando o rosto pra ele.

    Agora ele pde perceber quo lindaera a menina. Pele suave, branca, olhos azuis,nariz pequeno, sobrancelhas bem feitas. Cabe-

    los louros que voavam de acordo com o vento.Ele olhou no fundo dos olhos da menina e de-pois baixou a cabea, constrangido. A meninacontinuou:

    H quanto tempo no pega umpeixe?

    Ele se sentou no barco. J perdi as contas de quanto tem-

    po faz. E por que ainda insiste nisso? Porque eu preciso me alimentar. H quanto tempo no se alimenta? H algumas horas. Farinha de rosca com gua? Como voc sabe? perguntou o

    velho, j quase sem voz por causa da fora queteve que fazer pra responder perguntas anterio-res.

    Segurando uma pedra, ela continuou:

    No interessa. Sr. Ernest, o senhorsabia...

    Como sabe meu nome? ... o senhor sabia que as pedras

    diminuem de tamanho? Mas no por que danatureza dela. Mas uma fora da natureza ex-terior. Principalmente por causa da chuva. Masvoc sabia que dentro da gua ela vai continuardo jeito que ? e jogou mais uma. Sr. Er-nest, a nossa vida tambm assim. Infelizmen-te temos sofrido muito por causa de inuncias

    Sr. Ernest, a nos-sa vida tambm assim.Inelizmente temos so-

    rido muito por causa deinfuncias exteriores, e,se no mudarmos nos-so modo de pensar ou deagir, vamos atroar.

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    9/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 09

    exteriores, e, se no mudarmos nosso modo depensar ou de agir, vamos atroar.

    O que quer dizer com isso? Nesse pedao do rio voc no vai

    conseguir nada. Deve se mudar, procurar outroslugares. Voc pode escolher...

    Escolher? perguntou num sus-surro. Minha cara menina, j no tenho maisidade pra escolher coisa alguma. Tenho 65 anosaparentando ter 98. A vida consumiu muito demim. Quando eu tinha 23 anos engravidei a me-nina com quem me encontrava. Encontrvamo-nos escondidos, fazamos o que queramos em

    qualquer lugar, no por safadeza, mas porqueramos apaixonados, mas os pais dela nuncaentenderiam. Meu pai, que nunca foi um exem-plo de homem, me incentivou a fugir. Disse queeu no precisaria assumir a criana, que a meni-na, que eu queria pra mim, poderia se virar sozi-nha. Ele me deu uma escolha. E sabe o que euescolhi?

    Ficar com a menina.

    claro que sim. Decidi falar como pai dela e assumir a criana. Levei uma surrato grande que at hoje me pergunto como so-brevivi.

    O senhor fala muito bem para umvelho.

    Sou velho, mas no sou ignorante.Estudei toda minha vida; pelo menos at assu-mir a criana, mas nunca larguei o hbito de ler.Sempre que podia estava lendo alguma coisa.

    E como acabou sozinho? Perdemos tudo para o dono da

    venda. As coisas foram cando difceis e aca-bei fazendo algumas contas. Como no tinhadinheiro pra pagar, ele nos tomou quase tudo.Meu barco era melhor, meu motor, meu carro...

    A voz do velho era to cansada, toidosa, que saa quase como um sussurro inau-dvel para a menina, mas ela se esforava aomximo para conseguir entender.

    Hoje, minha pequena menina

    voltou a falar , eu no tenho escolha. Tenhoque aceitar o meu destino.

    O senhor acredita no destino? Mais do que acredito em Deus. Se

    ele to misericordioso, por que me deixa so-frer? Eu s queria morrer feliz, sabe? Mas achoque at esqueci o signicado dessa palavra.Quem dir senti-la...

    A menina cou em silncio. Pegouuma pedra e jogou no rio. A gua ondulou equando as ondas chegaram margem um ventofresco tomou conta do lugar. O velho continuou:

    Eu j no tenho foras pra nada.Se continuar sem comer, no duro mais uma se-mana.

    Esperaram mais alguns minutos emsilncio at que a menina voltasse a falar:

    Acho que o senhor deveria voltarpara sua pescaria. Eu vou continuar a observaraqui. Obrigado por contar sua histria... pra umaestranha.

    Conheci vrias coisas estranhasnessa vida, querida. E vai por mim, voc no uma delas.

    Ela jogou mais uma pedra no rio.

    O senhor acredita nodestino? Mais do que acredito

    em Deus.

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    10/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 10

    O velho, sem foras, empurrou o bar-co pra dentro da gua, tentou dar dois passosrpidos desajeitadamente e pulou pra dentro dobarco. Deu partida no motor e foi para o seu lu-gar no meio do rio sem olhar pra trs. Novamen-te, sem ele ver, a menina deu um grande sorriso.

    Ele estaciona o barco, e retoma a sua

    rotina diria. A menina beira da gua continuajogando suas pedras no rio. A ltima, pensa ela.E fazendo uma fora maior que o normal, jogaa pedra o mais longe que pode. Imperceptivel-mente, as j microondas que a pedra fez acer-tam o barco.

    O velho Ernest sente uma pequenasgada na isca. Seus olhos brilham. Ele esperamais um pouco e sente mais uma sgada. Entoele sente uma puxada muito forte e puxa a varaem sentido contrrio. Agora ele est lutandocontra alguma coisa. Fraco demais, quase per-de a vara. Desajeitadamente cai dentro do bar-co, mas consegue recuperar sua vara de pescar.A luta continua. Ele puxa a vara e vem enrolandoa linha no molinete. Esse movimento se seguepor vrias vezes. Enquanto ele luta, a menina oolha atenciosamente da margem.

    Da gua sai um peixe bem grande. Jtotalmente exausto, o velho joga o peixe dentrodo barco e senta-se no nico lugar que tem prasentar. Levanta, segura o peixe e levanta-o mais

    para que a menina veja. Mas a menina j noest mais l. Ele entristece, mas pelo menos vaiter o que comer. Ento comea a rir do peixe sedebatendo dentro do barco, implorando por umpouco de gua entre suas guelras. Ele segue

    rindo mais alto. Cada vez mais alto. At lembrar--se que est realmente cansado.

    O velho Ernest agora se ajeita dentrodo barco. Ali cabe ele deitado, e ele pensa emdescansar um pouco antes de voltar pra casa.Ento ele deita, olhando o peixe que d suas l-timas suspiradas, morrendo pela falta de ar. Elesorri. Est feliz.

    Nesse momento, a ltima pedra quea menina havia jogado na gua encosta no fun-do do rio. As guas superiores comeam a mo-vimentar-se mais rpido.

    Novas guas esto surgindo.

    O barco se desprende da poita queestava preso e muito lentamente comea a serlevado pela gua. O sono do velho profundo.

    Mas seu sorriso continua no rosto.

    E o barco segue indo...

    .......................................................

    O velho Ernestsente uma pequena s-

    gada na isca. Seus olhos

    brilham. Ele esperamais um pouco e sente

    mais uma sgada.

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    11/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 11Foto: Gabriel Ivan

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    12/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 12

    Crnica

    OCadverLeo Vincey

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    13/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 13

    Querida me ajuda a arrum ascriana, t na hora e c sabe como posto p-blico.

    Home, que peixe, num vai se alte-

    rar, tu no t bem.

    T bom, mas pra de fal nessalinguage, nis n mais adolescente no.

    Eram trs horas da madrugada, ascrianas no iriam escola naquele dia. Alfredo,de seis anos, estava comeando a desvendaro mundo das palavras. Vivia lendo, maneiradele, tudo o que via. s vezes, at chateava a

    me por causa disso. Esse menino no para deler. Ser que ele vai ser dout? Ele, muito mir-rado devido falta de uma alimentao adequa-da, tinha como sonho de consumo uma misturade farinha seca, gua e acar, colocados numavasilha. Lamentava faltar aula, pois no dia daconsulta do pai, seria cachorro-quente com sucode cupuau. A roupa que tinha para sair j es-tava desgastada e alguns furinhos visveis des-tacavam-se. O chinelo quase quebrado deveria

    durar at o m do ms. O pai, a muito custo, pla-nejara comprar um novo. Ficou sentado no sofimprovisado, tomando um ch de capim-santo emastigando um pedao de po que a me torra-ra para ele.

    Bradock, o mais velho, de dez anos,tinha terminado o banho, estava se enxugando.

    Rpido menino, seu pai t tremen-do de frio, vamo colabor.

    T bom me, em dois minutos jme arrumo.

    Bradock um garoto determinado, oorgulho do pai. Alfredo via isso e tentava seguirrmemente os passos do irmo para chamar aateno do pai. Os amigos de Bradock, cansa-dos de tanto sofrimento, iam se perdendo pou-co a pouco. No viam perspectivas de melho-ras. Ele, ao pressentir alguma ao errada dosamigos, se afastava antes que ela acontecesse.Queria ser mdico e esse desejo era percebi-

    do pelo interesse anatomia humana. Lia tudorelacionado a esse assunto. Estava dois anos

    adiantados, fazia o stimo ano do ensino fun-damental. Era o menor da turma e se entedia-va com o fraco ensino de sua escola. A escolano tinha culpa, a professora no tinha culpa, oscolegas de sala no tinham culpa, a professorano podia nem exigir tanto deles. A culpa era doSistema. Tinha lido em algum livro ou nos murosda cidade. No se lembrava bem, mas compre-endia. No era resignado. Lutaria. Sabia disso.No tempo falado para a me j estava esperajunto do irmo.

    Maria das Graas tinha vinte e oitoanos, mas parecia passar dos quarenta. A vidanunca foi fcil para ela. Fugiu de casa aos dozeanos. No suportava mais apanhar do padras-to e nem das investidas que ele sempre fazia.A rua, doce rua, tornou-se seu lar. Nela no seprostituiu, trabalhou duro, fazendo todo servioque aparecia. Uma senhora, apiedou-se dela ea levou para t-la como lha. Aos dezoito anoscasou-se, ou melhor, foi morar com o Jos Ant-nio. Sustentar uma famlia no tarefa fcil, masos dois, aos trancos e barrancos conseguiam ir

    A culpa era do Sistema.

    Tinha lido em algum livro

    ou nos muros da cidade.

    No se lembrava bem,mas compreendia. No

    era resignado. Lutaria.

    Sabia disso.

    ...

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    14/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 14

    levando. Luxo no tinham, tinham um ao outropara o que der e vier.

    O marido j estava porta, esperan-do os trs. Jos Antnio, mais conhecido comoCear no bairro, encontrou rumo quando conhe-ceu Maria das Graas, sua luz no m do tnel.Se no fosse por ela, ele seria apenas ossosnesse momento. Trabalhava como vendedorambulante e fazia servios extras nos momen-tos de folga. De tudo sabia fazer um pouco. Sevirava, armava que quem quer ter dinheiro tra-balha. No tinha estudos e quase fez uma lou-cura para satisfazer seus desejos de jovem. Maseram guas passadas. No se perdeu na vida.

    Vamos am, no t mais aguen-tando mais. frio, tontura, dor de cabea, umavontade de vomitar e essas manchas vermelhasno corpo. Ser dengue? Todo ano a mesmacoisa.

    A famlia saiu. Sabia que uma laenorme a esperava no posto do municpio. Fo-ram andando, no era to perto, paravam aquie acol para que Jos Antnio descansasse.

    O medo nos olhos de cada um. A escurido damadrugada no oferecia perigo. s quatro horaschegaram ao local, pegaram a cha de nmeroquarenta e seis, a idade de Jos. A espera foilonga, s cinco e meia foi atendido. O mdico

    de planto armou que era apenas uma virosee, para dar mais segurana a si mesmo e ao pa-ciente, requisitou uns exames, os quais foramfeitos no prprio local. L havia um laboratrio.Em algumas semanas o resultado chegaria, as-sim armara a enfermeira.

    O retorno casa dele foi mais difcil,quase desmaiou no meio do caminho. Em casa,foi direto para a cama. Todos entraram no quar-

    to. O momento era de preocupao. Tomou oantipirtico e analgsico oferecidos no posto.Dormiu. A famlia velava o sono. Nesse dia nemsentiram fome. Os dias se passaram e Jos nomelhorava. Um desespero tomou conta de to-dos. Respirou pela ltima vez. O choro da fa-mlia era inconsolvel. No velrio, os amigos eparentes estavam l. Nesse momento chega umfuncionrio da Sade do municpio com um pa-pel nas mos. Constrangido, perguntou:

    Seu Jos Antnio se encontra?

    Maria das Graas desmaiou. Chorosincontidos...

    .....................................................................Para mais textos de Leo Vincey, acesse: http://www.recan-

    todasletras.com.br/autor_textos.php?id=39755

    A famlia saiu. Sabia que

    uma fila enorme a espe-

    rava no posto do munic-

    pio. Foram andando, noera to perto, paravam

    aqui e acol para

    que Jos Antnio

    descansasse.

    ...

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    15/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 15Foto: Gabriel Ivan

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    16/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 16

    D3C0D1F1C4NDO

    Jos Danilo Rangel

    O

    SUJEITOE ASUJEIO

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    17/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 17

    1. SISTEMA NO - SISTEMAS!

    O que acho de mais fascinante emPorto Velho o resultado de sua formao. Suacongurao atual, produto de uxos migrat-

    rios desordenados, abrange um sem nmerode realidades que, embora se comuniquem ese aproximem ideologicamente, permanecemdistintas umas das outras por conta de suas pe-culiaridades. E se falo realidades, no o fao toa. Embora acredite na prevalncia de uma su-prarrealidade, no acredito que ela se perfaade um conjunto bem organizado de partes ape-nas funcionais quando interagindo com o siste-ma total, a suprarrealidade, mas que se monte

    de um conjunto de outros sistemas mais ou me-nos independentes cujos movimentos contnuose prprios a sua dinmica interna acabam portrasbordar-lhe os limites indo interferir noutrosistema, ou noutros, que, por sua vez, tambmcontm movimentaes prprias, igualmente in-tervenientes.

    Cada sistema menor contm uma di-nmica interna, uma trama que lhe prpria, e,

    considerando que os sujeitos so lhos de ondevivem, herdeiros de seu lar, se temos uma gran-de variedade de subsistemas, no chega a serextravagncia imaginar que teremos, igualmen-te, uma grande variedade de sujeitos. Sujeitosmdios, quero dizer, pois por mais homogneae livre de inuncias externas que seja a dinmi-ca de um destes subsistemas (uma famlia, porexemplo), os sujeitos por ela produzidos teroem sua constituio elementos distintivos. Paraevitar confuses, passo a usar sujeito comosinnimo de indivduo e para equivaler ao quequero dizer com sujeito mdio, direi mode-lo de subjetividade padro de pensamento,comportamento e percepo, estrutura bsicasobre a qual se organiza a personalidade de umindivduo.

    Agora est mais simples a proposi-o anterior: cada subsistema social contmum modelo de subjetividade que lhe prprio eaceitando que de outro modo, ou seja, equipa-rando sujeito a indivduo, sempre teremos maissujeitos que subsistemas. A outra proposio

    vai estar ainda mais simples: embora haja comoque uma suprarrealidade atravessando todos ossubsistemas sociais, como que um padro b-sico sobre o qual a comunidade de um deter-minado lugar desenvolva seu prprio nicho, h

    uma srie de verdades especcas, de crenas,de prticas, de pensamentos inerentes a um de-terminado grupo, noutro portanto, sem qualquervalor.

    Se vamos pelo caminho certo e asproposies no contm demasiadas improprie-dades, ento, podemos dar um prximo passoe propor que o indivduo que vive em um locus

    social, recebe dele o modelo de subjetividade e,por conseguinte, vamos ainda mais longe, diga-mos que esse modelo de subjetividade limitadoapenas equipara o indivduo para viver ondevive.

    2. MEU MUNDO, MEU EU

    Imaginar uma cidade como um mo-saico ou como um quebra-cabea uma formabem mais fcil de ilustrar as diversas realidadesque compem a dinmica de sua comunidade,alm do mais nos d pistas para entender asuprarrealidade (que, no fundo, no est alm,mas antes, no superior, mas bsica, trata-seda estrutura primria sobre a qual se desenvol-vem os grupos e de um conjunto de leis vlidase verdadeiras para os grupos e no para este ou

    Cada subsistema socialcontm um modelo de

    subjetividade.

    ...

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    18/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 18

    aquele), a trama de todos os subsistemas queacabam por formular o sistema maior, a Cidade.Contudo, no assim que a maioria dos indi-vduos concebe a realidade citadina, ou geral,mas a partir da dinmica onde se desenvolvera,

    ou seja, a viso que a maior parte das pessoastm de dentro e no de fora do lugar ondevivem.

    Assim, o mundo verdadeiro, ou aconcepo de mundo, no mais que uma vi-so de mundo herdada por meio de fenmenosdescritos por algumas leis sociolgicas, antro-polgicas e psicolgicas, reforadas no indivdiopor vivncias e modos de vida cuja manuteno

    fora favorevida pelas vicissitudes da dinmicasocial.

    O problema desse mundo herdado,dessas lentes que so passadas de pais paralhos, est no fato de que a forma como se per-cebe o mundo se transforma em prtica, ou seja,a forma como se v o mundo a base da formacomo se vai lidar com o mundo. Podemos con-ceber muito facilmente que o mundo experimen-

    tado por um assalariado morador da periferia emmuito se distancia daquele mundo frequentadopor algum com condies nanceiras menosdesfavorveis.

    3. AS LEIS DAQUI

    O principal equvoco de quem consi-dera sua realidade a nica concebvel e a tomacomo verdadeira e no parcialmente verdadeira,ou localmente verdadeira, considerar o restodo mundo dentro dos limites estabelecidos pelaconcepo herdada, chegando a ignorar tudo oque no cabe a.

    Portador de um modelo de subjetivi-dade apenas funcional num determinado locussocial, o indivduo no pode atravessar as fron-teiras de sua realidade e passar a considerar asuprarrealidade, no pode encontrar as proprie-dades especcas de sua condio e as asso-ciar formulao do pensamento, cando preso

    portanto, a uma realidade orientada, fracionria,condenado a responder a ela, a viver nela comofosse a nica possvel.

    Porto Velho, por ser um grande mo-

    saico e por ser um lugar onde convivem tantose to diversos subsistemas sociais, uma cida-de perfeita para se dar conta de que a realidadeque frequentamos apenas uma parte do todo,um pedao apenas, e que alm dela, h pos-sibilidades e fatos que s podem ser conheci-dos quando abandonada a perspectiva inicial,quando tirada de cima de todos os fnomenosas lentes j comprometidas por um determinadomodelo de subjetividade.

    Infelizmente no acontece a todos.Na verdade, e o que ainda mais infeliz: pou-cos so aqueles que transitando entre as gentese as diversas realidades por elas sustentadasacabam por perceber quo limitante pode sersustentar uma realidade herdada, tornando-a omodelo geral de percepo do mundo. Somenteuns poucos, conhecendo gente e atravessandorealidades, chegam a entender que cada tribotem seus deuses e os adora e os carrega, mas

    que o pensamento est livre quando desconhe-ce tribos e deuses.

    ................................................................

    poucos so aqueles que(...) acabam por perceber

    quo limitante pode sersustentar uma realidade

    herdada.

    ...

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    19/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 19Foto : Gabriel Ivan

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    20/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 20

    Literatura em Rede

    FRUTA DO ORIENTERafael de Andrade

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    21/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 21

    Abrao de Demter

    Para Mi Ortiz, o m de tarde mais bonito.

    medo de querer demais

    O abrao de Demter

    Deusa que cresce nos males

    Sentir a pele de guas e sombras

    distncia que cresce em ns

    Medo de perguntar o que sei

    saudades do que no Amar as crianas que no tive

    Povoar a casa que est destruda

    Dizer no ao mundo

    Atacar os poderosos

    Engravidar em pleno natal

    um Cristo que morreu

    Ontem no iluminismo

    E que nasceu no amor

    Aos inimigos de inimigos

    Eu que no amoNem sei o que amar

    no morri de veneno ou fantasias

    Desejar na beira das janelas

    Deitar numa rede quente

    Visitar cidades frias de caf

    Eu que nem penso, nem escrevo

    medo de querer demais

    Abrao, a pele dela

    seios, vestes e bestiais

    Espalhados pelo quartoEnquanto suas crias

    Seus clrigos e is

    Correm pela minha casa

    Alegres como abelhas

    Em ores de maracuj

    Pelos tetos e pelo peito

    De meu mais profundo

    E adulto bloqueio.

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    22/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 22

    Estava a mais de doze, treze ou qua-torze dias bbado. Da hora em que apagavaextremamente preenchido do valor libertador dolcool at o momento em que acordava ressa-queado, desejando por uma nova dose, eu esta-

    va vivendo para aquilo. No estou querendo sermoralista, mas moral bicho idiota que nos per-segue, basta ler a literatura no especializadapara perceber que o lcool um substituto paracoisas que estes homens e mulheres no tm.

    So os para-sos articiais ingeridosem uma dose, em um

    cigarro ou uma plula

    qualquer, mas quais pa-rasos so verdadeiros?Eu poderia me portarcomo o personagem dovelho Tchekhov e mepreocupar com o queminha mulher, ou qual-quer outra pessoa, tema pensar com relaoaos males do fumo, mas

    eu no me importo. Noporque compreendo queos parasos so promes-sas, assim como soaquele luxo e glamourque nossa sociedadearma que existe e que possvel. A verdade que homens bebem pelofato de no verem sua frente a possibilidade,ou nunca viram, de verem realizados os desejosque colocaram em suas cabecinhas desde queeram crianas bobas brincando no inverno chu-voso.

    O carro do ano o sonho de quemanda a p, mancando de uma perna com furn-culos, que fede o suciente para afastar todasas mulheres e crianas de perto, o que resta aeste homem? A bebida sua nica forma deconseguir um abrao de outro amigo bbado. Acasa mobiliada, cheirosa, com boa comida omaior desejo de quem nunca teve uma casa eque pede dinheiro para comprar a garrafa mais

    barata de lcool quase puro, trs e cinquentaapenas, morte na certa em trs anos e meio.

    E a mulher perfeita da televiso, bo-nita, inteligente na medida certa, submissa e ao

    mesmo tempo audaciosa na cama o sonho dobbado que no tira a barba porque no pode.Enquanto estes sonhos so trocados pelo bomvcio do lcool, eles continuam vendendo so-nhos para aqueles que podem vender sua alma

    em troca, continuamarmando que tudo possvel, que a culpavem da incapacidadee no da sociedade in-

    justa e usam ns, sim,ns, como exemplos deincapazes.

    Isso umamentira! L mesmo nobar onde costumo com-prar minhas doses deparaso ou purgatrioexistem pessoas com

    grandes capacidades.O Jos formado emadministrao, mascomo possui o espritolivre e inquieto, nuncaserviu para um ser umescravo, muito menosum dirigente de escra-vos, como sua pros-

    so arma. O Raimundo Galinha um excelenteeletricista, com formao tcnica e tudo mais,mas foi acusado de ter um defeito gigantesco,no da religio do seu antigo patro, por issofoi extremamente recomendado pela liga dospatres que ele no fosse contratado por maisningum. Galinha repete o tempo todo que suareligio acreditar nos homens. Viva ento osmestres do lcool que nos servem todos os dias!Vejam bem, eu era um grande poeta, reconhe-cido por muitas pessoas e comprava meu pocom o que podia escrever no papel e estou nobar mais imundo da cidade.

    Eu disse bem: eu era. Quando era

    No estou queren-do ser moralista,

    mas moral bichoidiota que nos per-segue, basta ler a

    literatura no espe-cializada para per-ceber que o lcool

    um substituto paracoisas que estes ho-mens e mulheres

    no tm.

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    23/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 23

    poeta era tambm um bom amante ou razo-vel amante de algumas brilhantes mulheres.Por mais que meu corpo nada atraente e meusolhos j esbranquiados da idade no ajudemem nada na arte de seduo, minha forma apai-

    xonada de ver a vida e descrev-la fazia comque mulheres dotadas de certa paixo por es-tas coisas e certa cegueira para os padres debeleza social deitassem comigo e ali eu era fe-liz em meu pequeno harm ou de fazer partedo harm de uma delas.Escrevendo e vivendo,vendo meus dois lhoscrescendo longe da in-uncia negativa dos

    versos malditos, poderiadizer que este homemera extremamente feliz.Era - antes de mergulharaltivamente em algo quefoi meu m.

    Os moralis-tas podem armar quefoi o lcool, mas no foi,

    deitei no corpo daquelapequena fruta do orien-te, marcada de veneno

    em seu olhar de pretoe azul. um esforo in-telectual imenso narrarestes eventos com a

    dor de cabea que sintoagora, mas cabe ao meurestrito senso moral o dever de avisar a todosdos perigos dessa mulher que rasteja nos maisaltos cus da beleza e sensualidade, derruban-do anjos e deuses de seus lugares!

    J estava bebendo meu segundo copoda vodka mais barata de todas quando ela apa-receu, abraada em um homem elegante. Olheibem para meu corpo que aparecia no espelho,os cabelos desgrenhados, as unhas crescendo,a barba livre e selvagem, as roupas amassadasgastas do tempo e pensei: se ela for uma mulheresperta, ela car com aquele homem arruma-do. E foi exatamente isto que ela fez! Agora o momento que todos esperam, onde a poss-

    vel mocinha se alia ao possvel mocinho graasao amor ou ao fogo que tomou conta dos dois,mas a realidade no bem essa, as coisas noacontecem assim.

    A mocinha geralmente ca com o caraque tem mais dinheiro ou mais poderoso aomesmo tempo, e os mocinhos, sensveis, poe-tas, em contradio com o mundo, permanecemsozinhos ou se alimentando de feras. Ela, more-

    na de olhos grandes, devestido e maquiagensazuis, os seios fartos,o cabelo castanho comtoques mais claros e a

    cintura bem desenha-da pelos inimigos da f.Uma bela fruta do orien-te que ignorou umama podre do ocidenteque foi mordida por Evae tocada pelo demniodas letras. Poucas pala-vras descreveriam me-lhor essa situao.

    E assim foipor toda a noite. Ne-nhum sorriso por partedela, nada. E ela saiucom o mesmo homem

    que chegou. Depois dis-so, olhei para todo tipode mulher, umas eram

    magras demais, outras gordas demais, algumastinham os olhos bem apertados, outras at ti-nham os olhos grandes, mas lhes faltava quelamaquiagem azul que no sairia mais de minhamemria. Mesmo assim, rendi-me s vontadesde meu corpo, uma caada ligeiramente fcil mefez ter uma noite de sexo. Uma noite exagerode expresso. Foi uma vez meia noite. As trsda manh, naquele hotel sujo de beira de estra-da eu pedi para ser chupado e ela aceitou.

    Enquanto ela fazia, toda apaixona-da a me ver gemer e revirar os olhos, pensavana morena, que era ela em cima de meu corpo,uivando para a lua e mexendo os quadris at

    A mocinha geral-mente fica com o

    cara que tem maisdinheiro ou mais

    poderoso ao mesmotempo, e os moci-

    nhos, sensveis, poe-tas, em contradio

    com o mundo, per-manecem sozinhosou se alimentando

    de feras.

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    24/53

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    25/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 25

    to bela musa e bebendo de forma to gracio-sa s poderia ser leitora daquele meu camara-da, Bukowski. Ela poderia estar doente. Poderiaser casada com aquele homem, recm-casadana verdade e em lua de mel. Agora mesmo ela

    pode estar nos braos daquele ou de outrohomem, sendo penetrada com virilidade e euaqui, querendo-a como uma criana idiota. Dasmil possibilidades, qualquer uma poderia estarcorreta e o que eu poderia fazer a no ser es-perar acompanhado deminhas outras damas, olcool e a literatura.

    Escrevi ou-

    tros versos e publiqueiem jornais da cidade.Recebi crticas de meusmelhores inimigos. Eufalo sobre a mesma coi-sa sempre, sempre so-bre uma mulher que apenas um rosto, umaforma de beber lquido,uma forma de pedir li-

    cena para ir ao banhei-ro. Com o tempo, ganheia amizade de mais pes-soas no bar e a inimiza-de at mesmo dos meusleitores mais sedentos.As mulheres tinham ci-mes, anal, quem essaque povoa os versos, aboca e a libido do escritor das bbadas, pros-titutas e madames mais sedentas? Os homensno suportavam a ideia dessa paixo cheia decrneos, essa mulher tinha ido embora sentadano colo de um rico qualquer. S os mais antigosentendiam porque eu perdia dinheiro e amigospor causa de um corpo que nunca penetrei. Isso amor, eles diziam.

    Amor? Nunca soube nem nunca sa-berei o que isso. Isso coisa de artista pie-gas, chato, brocha e moralista. Prero pensarque estou preso a ela como uma doena. Queeu preciso tomar remdios para me livrar. Queme d calafrios de medo e sorrisos de felicidade

    porque sou extremamente diferente da maioriadas pessoas. Agora, no tinha mais o ttulo deescritor ou de lsofo, mas de derrotado. Claroque eu gostaria da forma como me chamavamantes, mas para o homem de negcios maldi-

    to que est deitado exatamente agora ao ladodela, ser escritor, lsofo, intelectual, professor,poeta, tudo a velha porcaria derrotada. Denada serve. Todas as mulheres para os homensde ao e que se danem os homens do subsolo.

    Vinte e doisdias se passaram.Aconteceu o que nin-gum mais esperava.

    Ela entrou pela portado bar e eu percebi squando ela j estava ameio caminho de minhamesa. Minha barba ain-da maior, eu parecia oque realmente sou: umpria da sociedade. Elaveio andando at minhamesa com um vestido

    verde, decotado na altu-ra dos seios e longo ata altura dos tornozelos,uma sandlia de cou-ro e os cabelos, j cur-tos, estavam amarra-

    dos para trs. Os olhoscarregavam no maisuma maquiagem azul,

    mas olheiras de cansao e tinham perdido umpouco do brilho. Tentei sorrir quando ela sentouna cadeira ao lado da minha. Tirou da pequenabolsa que carregava ao lado do corpo um maode papis amarelos que formavam um pequenocaderno rstico.

    Colocou sobre a mesa e arrastouem minha direo. Analisei e percebi que erammeus versos publicados para ela, recortados eorganizados em ordem cronolgica. Em silncio,me entregou uma caneta. Como de costume,assinei na primeira folha. Ela me olhou com umaexpresso de desaprovao. Embaixo dos ver-sos tinha um contrato de publicao e era isso

    Eu falo sobre amesma coisa

    sempre, sempresobre uma mulherque apenas umrosto, uma formade beber lquido,

    uma forma depedir licena parair ao banheiro.

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    26/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 26

    que eu deveria assinar. Li apenas um pouco,para no ofender. Puxou o contrato e guardoutudo dentro da bolsa. Um silncio monstruosose colocou entre ns. S o dono do bar ouviuseu pedido de uma dose de vodka, da mais ba-

    rata. Enquanto via-a beber o copo, pensava oque tinha ocorrido com ela.

    Meu casamento acabou, ela disse.Eu sorri. No sorria, ela disse. Previ um des-fecho monstruoso paraaquela noite. No lem-bro das palavras exatas,mas ela me disse queapesar de minha loucura

    e da loucura dela, nun-ca estaramos juntos.A loucura dela foi carpensando em tudo queeu escrevi e criar a partirde minha imagem louca,uma imagem para elamesma, como um espe-lho deturpado. Uma lou-cura se apossou de sua

    mente e no mais pres-tou ateno no seu ma-rido que era, de fato, umbonito homem de ao.O casamento acaboue ela costurou por trsde tudo uma forma detornar ainda mais pbli-co o porqu desse fato.Publicar aqueles versos como um livro seria altima ao dela para com este no mais jovemescritor. E s assim ela teria algo comigo. Eu ouum homem doente e preciso me tratar, disse ela.

    Mas sem essa doena o que eu teriafeito nesses vinte e tantos dias? De doena emdoena em continuo vivendo essa vida sem sen-tido, assim caminhando at me livrar do pesode forma minimamente honrada, sem enaruma bala na cabea. Olhando para os grandesolhos da fruta do oriente percebo o quanto fuiruim para ela, ruim no, prejudicial. As olheiraseram de no dormir, o vestido foi comprado emum brech. Antes ela dormia bem acompanhada

    e vestia roupas azuis brilhantes. Deixei um tro-cado em cima da mesa e levantei. Ela levantoua cabea, me olhou por trs segundos e baixou.Beijei sua mo. Voc nem ao menos me ama,ela disse.

    Amor coisa de artista piegas, chato,de pequeno burgus. Eu s queria te comer, vol-ta para teu marido, esquece essa bosta toda menti metade da frase sem olhar nos olhos dela.

    O livro foi publicado seismeses depois com umprefcio escrito por elamesma, narrando toda

    experincia que pas-

    sou. A ltima frase diziaexatamente o que sen-ti nos ltimos meses.Voltei para o mundonormal, porque a poe-sia para os cachorrose mendigos. Nenhumaboa moa gostaria denamorar um pria, maso que estranho nos

    atrai de forma misterio-sa, pelo medo e pelacuriosidade, nunca peloamor. O amor coisa deartista piegas, peque-no burgus, ele disse.Eu inspirei um monstrosem talento ou capaci-dade alguma, isso no

    me faz uma mulher capaz de amar?

    Ela esqueceu a bosta toda. Mas, on-tem mesmo, eu a imaginei em cima de mim en-quanto uma prostituta mal paga fazia seu traba-lho de forma bem feita.

    ...............................................................

    No lembro das pa-lavras exatas, mas

    ela me disse queapesar de minha

    loucura e da loucu-ra dela, nunca esta-

    ramos juntos.

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    27/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 27Foto: Gabriel Ivan

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    28/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 28

    P O E S I A

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    29/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 29

    TENTATIVAS

    Tente azer o dicil cilTente azer o medo virar coragemTente azer a raqueza virar oraTente azer o desespero virar esperana.Tente expressar todas as suas emoesEm uma palavra s.A cada tentativa um erroA cada tropeo um novo machucado

    A cada nova cicatriz enche-se o coraoDe vontade de ver o horizonte a sua renteA cada novo passo o medo de cair novamente.Erros e erros, tropeos e tropeos.Tentativas teis ou no, elas so o aprendizado da alma.

    David Bremide

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    31/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 31

    EU J DISSE TUDO

    eu j disse tudoque o imperadorqueria ouvir

    j disse que as estrelasno so minhase minhas lhastambm no

    que minha casano az altame apeteceo sol e o rio

    que no sei quantosinimigos oram mortose ainda mortos torturadosno que restoude sua semente

    disse que no uiat a ronteiraque no sonheimeu prprio sonhoque minha carneera racapara suportarsua presena

    disse que meu vmitoe minha imensa nuseaeram loucura e antasiae o veneno j no cortavaminhas veias

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    34/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 34

    TRISTEZA

    sentimento agourento, elescudeiro da dor, inimigo da alegria

    rancor do prazer e contentamento, stu tens como aliado a depresso, amiga da

    angstia, companheira da ansiedade e rival daautoestima, az dos seres cadveres ambulantes

    musa solitria em si, dona de legies de desaortunados

    como esquivar-se de tuas garras? sinnimo da cruel-dade, matriarca das lgrimas inconsolveis, sainda assim o motivo de inspirao, razodo compartilhamento do sorer de mui-

    tos poetas, solidrios a quem da pa-lavra no detm intimidade es-

    tas aqui em orma de lgri-ma, borrada pela queda

    cujo papel no pdemant-la intacta

    no peito aque-cu as ir-

    ms es.

    Leo Vincey

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    35/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 35

    ENCONTRO COM O ABISMONa alta do que azer, inventei a minha liberdade

    (Humberto Gessinger)

    Na verdade, como morrer.Ou melhor, entrar na morteAinda dotado de sanidade

    De pulsao.

    Um escuro violentoQue atravessa os atosCotidianos e se alimentaDe tudo que racional e belo

    Enterrar os braosAinda cheios de sangueNuma conormidade

    Porosa que nesta eraCulminou seu legadoDe uma alegriaDe uma alergiaNuma pobreza visceral

    Depois de pensarS h o passadoE o uturo queDe bonito s

    Tem a lembrana(que na verdade inexistente)Sobra-te o mais rioE mais caloso

    Sobra-te uma angstiaUm incmodo de existirUma vontade de no estarMesmo estando

    Num meio presenteQue (em si) s processoBrincando de sorrir ao amanhE chorar carnavais mal lavados

    Resta, por meio do corpoEssa mquina inelizCheia de comandos, impereies

    E predisposies

    Uma inquietao pardaQue vibra atravs da vidaComo um ponto reerencialMutilado pelas oras externas

    Quem sabe assim o ?Como s um erro vazioVagando entre estrelas

    E mentiras e absurdos polticosE quem sabe possamosResumir todo esse pulsoEsse respirar malditoQue ora nos ena merda

    Ora nos acorda com foresDe papel aps a sestaNum sbado qualquerComo se tudo tivesse sentido

    E subtrair todas as geraesDe identidades emPartculas de momentosQue de relevncia alguma

    InfuenciaramO explodir de supernovasA decapitao de deuses antigosE o borbulhar dos primeiros coacervados

    Nossa instnciaPosta em valorAo lado do cuMais ordinrio

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    36/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 36

    Ou do trouMais douradoDe um vazioCintilante

    Passam-se as pginasDe onde brotamPromessas

    To midas e lamuriosas

    Vez outra do pecadoOra do conto do PapaPois quando a pombaMais branca chora

    At morrer de sangrarO vinho de ouroFloresce naquelesQue sabem alar

    Com a lngua dos anjosSeja tua cruz meu poOu minha dvida meu castigo:At o homem acabar.

    Os vitorianos que seAcolheram em gregosE romanosE juraram amor eterno

    Frente os poemasMais trucidantesE as otograasMais impereitamente belas

    Viram-se num cavaloAinda mais traioeiroE inspetores policiaisEm orma de demnios

    E bruxas serpentianasQue nunca viramO caos do espelho.Tristes os contos

    E os coraesQuando rasgamAs mais lacrimosasPginas.

    Pra onde ir?Se por onde passoVejo arapucas

    E jovens danando elizes

    Em suas gradesSe pra onde olhoS vejo placas apontandoPor todos os lados?

    possvel levitarNuma terra de cus escuros? possvel sorrir nessas vilasOnde no alam?

    Entreabro as portasE caminho em orgias engraadasCom vinho quenteE piadas de bom brado

    Bucetas chupadasSem remorsoConotaes de novasGravatas dentro

    De controlesVolantes de monstrosRolas de borrachaUm mundo tornando-se

    Uma vitamina de pensamentosQue nunca vieram.Vencer ou vencer.Reproduzir e Re-produzir .

    Em que ponto vsChegardes, monstro eioOnde negocivelAs prprias vlvulas

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    37/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 37

    E os assaltos tendem diplomacia s trsHoras de uma quarta-eiraQue poderia ter sido um beijo.

    A tristeza, amigo, A vaidadedaquele

    Que pensa.

    Triste do queNo provar da solidoDe uma velhice cinzenta.Comer da treva de um cho negro.

    s vezes, em orma de moas.Outras em dias opacos.Mas a maldade que sobrevoaEsses pontos brancos

    De nossas cabeasE interpela-me sobreMinha monstruosidadeSe anseio o anjo ou o demnio,

    Emerge do mar,E eu vejoO que no pode ser visto.E eu sinto o cheiro

    De geraes de umaAngstia innita.E se abre como a grande boca da vida.(Ou da morte)

    E pra ele, assimComo outros loucosQue abraaram cavalos eSe jogaram de prdios,

    Eu olhei aquele monstroSem orma e sem amorSem vida e sem existnciaO prprio Abismo.

    DesventuradosOs que recuamPeranteO abismo

    E esperei.At quando a ormaSem orma

    Resolveu existir.

    E de seu olharSem undo,Abriu-se o tudoE o nada.

    E no havia o bem nem o mal.O certo ou o errado.O Divino ou o Proano.O Moinho ou o Drago

    E nunca maisPrecisei da verdade.E por um instanteNunca esquecido:

    Alcancei a simplicidade.

    Bruno Honorato

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    38/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 38

    A TROCA

    Eu no tinha quase nada,s tinha umas verdades bonitas,uns ideais que gostava e alguma ,e alguns sonhos que me deslumbravam,e me bastando isso, com isso era eliz;

    eis porque que os guardava,porque que os escondia com anco,a eles, os tesouros da ingenuidade,queria que durassem para sempre,que estivessem sempre intactos,a salvo das negligncias do mundo.

    Eu tinha as mos vazias,mas bastante cheio o corao;as muitas preciosidadesenchiam estantes e mais estantes,

    e me bastava olhar e proteger epossuir cada uma delas,mais pela glria da posseque pelos benecios do uso.

    Em torno, tudo mudava e remudava,vinha o tempo das chuvas e passava,a economia mundial alia e se recuperava,e o que eu tinha e guardava, por meus cuidados,era mantido longe e sempre a salvo.

    No sabia que era certo, mas era,cedo ou tarde, apesar de obstinado,as dvidas se alastrariam, e exporiamtudo prova, a coleo inteira.Aconteceria, cedo ou tarde,aconteceria - e aconteceu.

    Quanto encanto deseito!

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    39/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 39

    Quanto entulho descobrideendido como algo santo,

    um enorme acervo de inutilidadesque eu venerava e protegia,a todo custo, que tanto me custava!Uma incrvel paraernlia sem prstimo,que eu guardava e assistia,apesar do esoro e do cansao.

    Hoje, quase nada me restou daquele tempo,no me arrependo, me congratulo,pois o que pde car, cou, e ainda est,

    e o que no pde, eu mesmo o depus,pois no valia nem a guardanem a vaidade do guardador.

    Sim, no comeo quei triste,de andar cabisbaixo e amuado,de alar pouco, ou estar calado,mas no estou mais, nada perdi,no houve perda, houve troca.

    Troquei muito entulho por muito espao,e espao oi do que precisei para comeara encher meu corao de novidades,coisas mais leves, mais alegres,e menos antsticas.

    Jos Danilo Rangel

  • 7/29/2019 EXPRESSES_19

    40/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 40

    O RIO*

    Desponta beleza lquida nas guas do MadeiraFluir lenhoso, de textura barrosa desponta o rioque instrui entre seus braos energia beradeiraesbraveja ora bruta, megawatts, chiado e vilCertas vezes, existe mais beleza que rio.Certas vezes, existe mais rio que a cheia.

    Escorre dos barrancos, bebido no cantilEsse fuxo cor de ndio que ensaia cachoeirasDesmancha o concreto, os planos, o hostilCom a ora lquidicada em suas corredeirasCertas vezes, existe mais gua que cantilCertas vezes, existe mais cantil que voadeira

    No seu misticismo maculado pelo capital servilAtropela metas, desbarra ganncias e empresasO grande Madeira, sem foresta, maldizendo sutil

    Os versos de ganncia em suas linhas costeirasCertas vezes, existe mais ome que o anilCertas vezes, existe mais anil na lua cheia

    E indolente, o banzeiro traz consigo o que partiuTraz em mililitros o que era peixe e o que era ceiaSacode o Madeira a ome nos ribeirinhos que pariuE quem nos pariu j nem mais nele passeia.Certas vezes, existe mais calor que rioCertas vezes, nem existe mais o Madeira.

    Podado at raiz, Bebido em sua onte ebrilO corpo dagua, o nosso corpo, a nossa esteiraMaltratada pelos ps descompassados do BrasilQue tropea nas encostas e escorrega nas ladeirasOnde certas vezes, de tanto urto, deitado aliuCertas vezes j no tem Brasil,- como nele no tem madeira.

    Csar Augusto____________*Essa poesia oi escolhida para compor um livro do poesiaseditado em virtude da II Edio do Prmio de Poesia SESC RO.

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    O homem muda

    o mundo que mudando

    o homem muda

    Jos Danilo Rangel

    Tweet Potico

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    42/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 42

    O que voc faria se sou-besse que tem apenas dois meses devida?

    Ann (Sarah Polley) umamulher jovem que dedica cada minuto

    de seu dia para sustentar suas lhas,junto ao marido, dentro de um traillerinstalado no quintal da casa de suame. Ao descobrir que tem um tumorem crescimento acelerado, em seus

    dois ltimos meses de vida, Ann deci-de que o melhor a fazer deixar suaslhas e seu marido Don (Scott Spee-dman) bem encaminhados, para quesua falta no seja to impactante.

    J que todos vamos morrerum dia, sendo apenas uma questo detempo, o lme uma tima reexo.Ann decide realizar todas as suas von-tades, sonhos e desejos. Anal, penso

    MINHA VIDA SEM MIM

    uadrouadro

    a

    Laisa Winter

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    43/53EXPRESSES! Fev de 2013 | 43

    eu, que a ltima coisa que incomoda-ria algum em seu ltimo dia de vidaseriam os burburinhos de uma vizinharecalcada!

    Ann decide no contar a nin-gum que est doente e elabora umalista de coisas a fazer. Sendo uma meadolescente e mulher de um nico ho-mem, um dos itens inclui transar comoutro homem. Para suas lhas ela ela-bora tas de feliz aniversrio at quecompletem 18 anos, e para Don, umafutura esposa. Nossa protagonista logo

    encontra seu amante com quem pare-ce se realizar, mesmo amando o ma-rido, nessa relao que Ann se fazcompreender e se torna cmplice.

    A direo de Isabel Coixetrevela que mesmo em um lme dram-tico como este, possvel compor mui-tas cenas harmoniosas e de grandeleveza, sem fugir do tema.

    um lme que nos faz re-etir nossa a vida, as pessoas queamamos, que deixamos, e que nosdeixaram, as nossas lembranas,

    conquistas e arrependimentos. Semesquecer claro, que foi produzido porningum menos que Pedro Almodvar,que dispensa apresentaes.

    Minha vida sem mim no s um lme carpe diem, sim ele triste, mas tambm um brinde vida,ou um susto para aqueles que deixam

    tanta coisa para depois.

    .......................................................

    Ficha TcnicaTtulo Original: My lie without me

    Durao: 106 min

    Gnero: Drama

    Direo: Isabel Coixet

    Roteiro: Isabel Coixet, Nancy Kincaid

    Elenco:Sarah Polley, Scott Speedman,

    Deborah Harry, Mark Rualo, Leonor

    Watling, Amanda Plummer, Maria de

    Medeiros, Jessica Amlee, Kenya Jo

    Kennedy, Alred Molina

    Pas de Origem: Canad/Espanha

    Ano: 2003

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    EXTRA

    Poema Ao Vivo

    Meu nome Sandra Britto. Brittox apelido artstico. Algum me chamou assim um

    dia, eu gostei da sonoridade e adotei. Tenho 31anos, estudo Artes Visuais, trabalho como edu-cadora em museus e exposies. Sou atriz epoeta por instinto e necessidade. A ideia de po-etizar de verdade surgiu ano passado, quandocriei uma performance (Poema ao vivo e a cores Troque uma palavra por um poema) e estreeinuma festa junina no Minhoco Conra o v-deo! de l pr c, a performance foi se adap-tando e caminha em direo a projetos voltados

    poesia, sobretudo, poesia urbana.

    Gosto da troca e da possibilidade dedialogar com qualquer espao e para qualquerperl de pblico. A pgina surgiu em funo de

    divulgar o trabalho e transpor a ideia originaltambm para a atmosfera virtual. L, eu fao a

    mesma coisa que pessoalmente e de fato aovivo e a cores, pois eu deixo pra escrever nomomento em que estou conectada, no escre-vo nada antes e posto depois, tudo na horamesmo. A nica coisa que fao antes curtir apalavra postada para demonstrar que j estouciente do que me espera... Depois, outras ideiasforam surgindo como a srie #SUBDITADODI-TOPOPULAR (clique e conra), onde eu brincocom ditados populares subvertendo o signica-

    do mas tentando manter a sonoridade ao serlido ou dito em voz alta.

    Tambm tem os lampejos que soos cartazes coloridos que posto com frases

    Por Sandra Britto

    http://www.youtube.com/watch?v=57JoJmvQyPUhttp://www.youtube.com/watch?v=57JoJmvQyPUhttp://www.youtube.com/watch?v=57JoJmvQyPUhttps://www.facebook.com/media/set/?set=a.414291265315250.98534.334063616671349&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.414291265315250.98534.334063616671349&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.414291265315250.98534.334063616671349&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.414291265315250.98534.334063616671349&type=3https://www.facebook.com/media/set/?set=a.414291265315250.98534.334063616671349&type=3http://www.youtube.com/watch?v=57JoJmvQyPUhttp://www.youtube.com/watch?v=57JoJmvQyPU
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    O postouganhou unciona assim: voc posta uma palavra na pgina do Poema ao Vivo eganha um poema, ao vivo. Para conerir mais imagens acesse a anpage: Poema ao Vivo.

    https://www.facebook.com/PoemaAoVivohttps://www.facebook.com/PoemaAoVivo
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    Para conerir mais imagens acesse a anpage: Poema ao Vivo.

    https://www.facebook.com/PoemaAoVivohttps://www.facebook.com/PoemaAoVivo
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    DO LEITOR

    [email protected]

    A EXPRESSES! tem se moldado ao longo do tempo, e por diversasorientaes, uma delas a opinio dos leitores que sempre do interes-santesfeedbacks a respeito de toda ela, mas, pelo acebook. Se voc temuma crtica, uma sugesto, mande para ns, temos bons ouvidos,

    Obrigado.

    Jos Danilo Rangel

    mailto:[email protected]:[email protected]
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