Experiência e Linguagem Em Walter Benjamin - De Eloisa Gurgel Pires

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813 Educ. Pesqui., São Paulo, v. 40, n. 3, p. 813-828, jul./set. 2014. Experiência e linguagem em Walter Benjamin Eloiza Gurgel Pires I Resumo Este artigo apresenta uma reflexão a respeito da teoria da linguagem benjaminiana. Walter Benjamin, filósofo e crítico literário alemão, nas primeiras décadas do século XX, produziu um estudo decisivo no qual a linguagem não pode ser considerada como mero instrumento de elaboração dos dados da realidade nem como simples abstração, mas é pensada como campo no qual emerge uma intrincada rede de relações entre conhecimento e experiência. Para o filósofo, a linguagem é o médium espiritual e histórico da experiência. O conceito de Erfahrung (experiência) atravessa toda a sua obra: desde um texto de juventude, escrito em 1913, intitulado Erfahrung (1933), em que o autor contesta o desinteresse dos entusiasmos juvenis em nome da experiência dos adultos, às teses de 1940. Esse conceito está intrinsecamente relacionado, em seus escritos, ao pensamento de que todas as manifestações e expressões humanas podem ser concebidas como linguagem e, essa, por sua vez, é então pensada na sua dimensão simbólica, ao contrário do que pretendiam os filósofos do esclarecimento quando apontavam, como condição para o verdadeiro conhecimento, uma racionalidade que separava o imaginário do pensamento. Na contramão do pensamento iluminista científico, o paradigma estético é fundamental nos escritos benjaminianos. A partir do acolhimento do conceito na imagem, evidenciam-se novas formas de conhecer. Nessa perspectiva, tentaremos discutir o pensamento de Benjamin, mostrando as articulações e rupturas engendradas com as problematizações constituídas a partir das conexões existentes entre linguagem e experiência e sua relação com o campo educativo. Palavras-chave Experiência — Linguagem — Conhecimento — Walter Benjamin. I- Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Contato: [email protected] http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022014041524

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Artigo sobre a teoria da linguagem de Walter Benjamin

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  • 813Educ. Pesqui., So Paulo, v. 40, n. 3, p. 813-828, jul./set. 2014.

    Experincia e linguagem em Walter Benjamin

    Eloiza Gurgel PiresI

    Resumo

    Este artigo apresenta uma reflexo a respeito da teoria da linguagem benjaminiana. Walter Benjamin, filsofo e crtico literrio alemo, nas primeiras dcadas do sculo XX, produziu um estudo decisivo no qual a linguagem no pode ser considerada como mero instrumento de elaborao dos dados da realidade nem como simples abstrao, mas pensada como campo no qual emerge uma intrincada rede de relaes entre conhecimento e experincia. Para o filsofo, a linguagem o mdium espiritual e histrico da experincia. O conceito de Erfahrung (experincia) atravessa toda a sua obra: desde um texto de juventude, escrito em 1913, intitulado Erfahrung (1933), em que o autor contesta o desinteresse dos entusiasmos juvenis em nome da experincia dos adultos, s teses de 1940. Esse conceito est intrinsecamente relacionado, em seus escritos, ao pensamento de que todas as manifestaes e expresses humanas podem ser concebidas como linguagem e, essa, por sua vez, ento pensada na sua dimenso simblica, ao contrrio do que pretendiam os filsofos do esclarecimento quando apontavam, como condio para o verdadeiro conhecimento, uma racionalidade que separava o imaginrio do pensamento. Na contramo do pensamento iluminista cientfico, o paradigma esttico fundamental nos escritos benjaminianos. A partir do acolhimento do conceito na imagem, evidenciam-se novas formas de conhecer. Nessa perspectiva, tentaremos discutir o pensamento de Benjamin, mostrando as articulaes e rupturas engendradas com as problematizaes constitudas a partir das conexes existentes entre linguagem e experincia e sua relao com o campo educativo.

    Palavras-chave

    Experincia Linguagem Conhecimento Walter Benjamin.

    I- Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.Contato: [email protected]

    http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022014041524

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    Experience and language in Walter Benjamin

    Eloiza Gurgel PiresI

    Abstract

    This article presents a reflection on Benjamins theory of language. Walter Benjamin, German philosopher and literary critic in the early twentieth century, produced a landmark study in which language cannot be considered a mere instrument of development of data from reality nor a simple abstraction, but it is thought as a field in which an intricate network of relationships between knowledge and experience emerges. For the philosopher, language is the spiritual and historical medium of experience. The concept of Erfahrung (experience) permeates all his work: from a text written in 1933, when he was young, entitled Erfahrung (1933), in which the author questions the lack of interest in the enthusiasm of the youth in the name of the experience of adults, to the theses of 1940. In his writings, this concept is closely related to the thought that all human manifestations and expressions can be regarded as language, and language, in turn, can then be thought in its symbolic dimension, contrary to what the philosophers of the Enlightenment intended when they indicated, as a condition for true knowledge, a rationality that separated the imaginary from the thought. Contrary to the scientific Enlightenment thought, the aesthetic paradigm is essential in Walter Benjamins writings. From the concept image, new ways of knowing are evidenced. In this perspective, we seek to discuss Benjamins thought showing connections and ruptures engendered with problematizations formed from connections between language and experience and their relation to the education field.

    Keywords

    Experience Language Knowledge Walter Benjamin.

    I- Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.Contact: [email protected]

    http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022014041524

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    O colecionador de insignificncias

    Ler o que nunca foi escrito.Walter Benjamin

    Na obra de Walter Benjamin, encontra-se um conjunto complexo de reflexes em torno de variadas relaes estabelecidas entre histria e linguagem, imagem e pensamento, mas, longe de constiturem-se como um pensamento sistemtico a respeito da imagem, essas reflexes atestam uma perspectiva original e incontornvel acerca do olhar e da natureza da imagem que atravessa o pensamento. Nessa concepo, a imagem um princpio dinmico, uma potncia do pensamento.

    Ao pensar a obra de arte e o contexto urbano como medium-de-reflexo, Benjamin ps em xeque uma concepo linear de conhecimento baseada no continuum da prpria histria, desenvolvendo a crtica de um determinado modelo de razo e de racionalidade (SELIGMANN-SILVA, 2002, p. 8-9).

    Nessa crtica, a cincia e a filosofia so pensadas como arte. O filsofo prope no uma reterritorializao dos saberes, mas, ao contrrio, a sua desterritorializao, seguida de uma interrupo, um gesto de descontinuidade na estvel cronologia da histria. Algo semelhante ao que ocorre no contexto daquilo que Deleuze e Guattari chamaram de labirinto rizomtico. Para os autores, a realidade constitui-se como multiplicidade e, como tal, no est contida em nenhuma totalidade, tampouco remete a um sujeito; configura-se como rizoma vegetal que no tem uma raiz fixada em um ponto, mas possui vrias ramificaes , [...] no tem comeo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda (DELEUZE; GUATTARI, 2006, p. 32). Nesse sentido, o labirinto rizomtico, como metfora do conhecimento, algo em permanente construo, uma obra inacabada aberta que possui direes movedias, conectvel, modificvel. Da mesma forma, o conhecimento pensado por Benjamin de modo no linear; como uma paisagem urbana, a partir de lugares diferentes, fragmentariamente, nas

    reconfiguraes da memria; no a partir de um lugar fixo, mas movendo-se em uma constelao de ideias.

    Benjamin prope saltos, recortes inusitados que desfazem a distino entre a chamada alta cultura e a cultura popular e quebram o tempo continuum da histria oficial. Ao colocar-se a tarefa de escovar a histria a contrapelo, o filsofo prope-se desconstruir a historiografia e os mtodos tradicionais de pesquisa a partir de um olhar atento sobre as transformaes histricas da percepo humana; sobre as runas da modernidade e os estilhaos urbanos das metrpoles; sobre os atos de barbrie que se cometem em nome do progresso os quais ele presenciou na iminncia dos catastrficos acontecimentos europeus da Segunda Guerra.

    Vale lembrar que esse autor judeu alemo, apaixonado por Paris, foi fortemente marcado pelas contingncias histricas que atravessaram toda a primeira metade do sculo XX, o que refletiu no apenas no teor acentuadamente poltico de ensaios como Teorias do fascismo alemo (1996), escrito em 1930, e Experincia e pobreza (1996), escrito em 1933, mas tambm no carter provisrio e descontnuo de trabalhos controvertidos como as Passagens (2006), obra no concluda, escrita entre 1927- 1940. Em setembro de 1940, Benjamin morreu tragicamente. O filsofo cometeu suicdio aps uma rdua jornada pelos Pirineus, quando tentava a travessia da Frana para a Espanha com o propsito de fugir do nazismo.

    Com os cacos da histria, Benjamin construiu uma obra mltipla, optando por uma escrita no didtica, polifnica e no linear; fragmentria e inconclusa, como foi a sua histria.

    Seria um equvoco tentar compreender a obra benjaminiana pelo pensamento das disciplinas; como afirma Arendt (1999). Benjamin divergia do cnone oficial na universidade alem, aproximando-se da filosofia por via indireta: filosofava de passagem. Estudou a cultura urbana sem ser antroplogo, aventurou--se na histria da literatura sem ser historiador

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    e, ao recusar a filologia, mtodo de pesquisa tradicional da academia alem, rechaou tambm o esprito de sntese ou de sistema. Autodenominava-se um pesquisador itinerante, nem filsofo nem telogo, nem linguista nem tradutor, historiador ou poeta.

    Era um colecionador de insignificncias: cartes postais, selos, brinquedos, citaes, livros antigos, borboletas. Tambm trazia consigo algumas cadernetas de notas com endereos, citaes e suas observaes sobre o cotidiano, alm de escrever dirios de viagem que mesclavam a sua vida pessoal com reflexes poticas sobre as fisionomias das cidades. Um exemplo dessa escrita Dirio de Moscou (1989), escrito entre dezembro de 1926 e fevereiro de 1927, por ocasio de uma viagem a Moscou e de seu romance com a atriz russa Asja Lacis, a quem ele dedicou, em 1928, Rua de mo nica: Esta rua chama-se Rua Asja Lacis, em homenagem quela que, na qualidade de engenheiro, a rasgou dentro do autor (BENJAMIN, 2000).

    Benjamin era formado em literatura e filosofia alem; mesmo que em sua poca houvesse uma grande diferenciao dos saberes, no havia a especializao em excesso tal como conhecemos hoje, principalmente no meio acadmico. Como herdeiro da grande tradio do romantismo alemo (os Irmos Schlegel, Novali, Hlderlin) e da filosofia alem em geral, so as relaes entre lngua/linguagem e histria que lhe interessam. Seu pensamento, de acordo com Gagnebin (2010), nasce e se constitui a partir dessa questo, e no de domnios do saber especfico delimitado em disciplinas. Em seus escritos, no se trata apenas de buscar uma reflexo interdisciplinar ou uma troca entre proprietrios de territrios cientficos, mas h a perspectiva de uma fuso dos saberes, sem hierarquias ou justaposies.

    Percebe-se nos ensaios de Benjamin algo semelhante ao movimento das linhas de fuga do pensamento, devires que, segundo Deleuze, podem produzir relaes dinmicas e muito complexas mesmo a partir de uma forma

    simples ou simplificada: Uma fuga uma espcie de delrio. Delirar exatamente sair dos eixos (DELEUZE; PARNET, 1998, p. 33).

    Ao sair dos eixos disciplinares, o caminho o da direo contrria esperada. Interessa a Benjamin aquilo que foi esquecido pela histria, ou simplesmente ignorado pelo racionalismo da modernidade: a literatura e a arte dos surrealistas, dos simbolistas e dos decadentistas; a cultura urbana e seu cotidiano; as experincias com o haxixe. Ele no parte de um lugar fixo, pois entende que a realidade algo descontnuo. Assim sendo, ao invs de passar lgica e dedutivamente de um elemento a outro, explicitando as conexes, mistura o que se passa nas ruas com o que se passa nas fbricas, nas salas de cinema e na literatura, sobretudo na literatura marginal, bem como na narrativa dos folhetins (MARTIN-BARBERO, 2003, p. 84-85). Assim que surgem relaes inusitadas estabelecidas entre os escritos de um poeta como Baudelaire e as expresses da multido urbana e dessa com as tcnicas de montagem cinematogrfica.

    Ao redefinir o conceito de verdade e recuperar a linguagem como campo para a resignificao do sujeito e da histria, a obra de Benjamin apresenta-nos caminhos que levam a um dilogo entre o conhecimento e a verdade; a sensibilidade e o entendimento:

    Benjamin reivindica para as cincias humanas outra forma de expor a verdade, forma que se distingue profundamente do que chamamos conhecimento emprico do real e, portanto, questiona os limites rgidos da racionalidade tcnica, preconizando um tipo de conhecimento que inclui as paixes e as utopias indispensveis vida, sem as quais no h humanidade possvel (SOUZA, 2009, p. 187).

    Recorrendo a metforas, imagens, alegorias, aforismos e citaes, o filsofo constri uma viso de mundo que no , certamente, aquela do pensamento sistemtico,

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    limitado a operaes conclusivas. Ao contrrio, trata-se de uma perspectiva que amplia as possibilidades da razo, movendo-se e refazendo-se nas dobras da linguagem.

    A magia da linguagem

    Em seus estudos a respeito do drama barroco, Benjamin descobre que, em meio aos resduos e farrapos de um mundo em runas (a Europa do sculo XVII), o trabalho do alegorista revela algo para alm das evidncias encontradas nas coisas, nas paisagens. Sob seu olhar, o sentido no nasce tanto da plenitude da eternidade, mas surge da ausncia dos objetos, ausncia dita e, assim, tornada presente na linguagem. A alegoria revela-se para o filsofo como uma escrita imagtica com um enorme poder de significao. Essa descoberta permitiu--lhe, simultaneamente, aprofundar a sua teoria da linguagem.

    Nas palavras de Benjamin Todo conhecimento filosfico tem sua nica expresso na linguagem e no em frmulas e nmeros (BENJAMIN, 1971, p. 111). Entendendo a linguagem como um todo aberto, o conceito de experincia (Erfahrung) estar articulado ao de conhecimento, pois para Benjamin a estrutura da experincia se encontra na base do conhecimento (MATOS, 1993). O conceito de Erfahrung atravessa toda a obra benjaminiana: desde um texto de juventude intitulado Erfahrung (1933), em que o autor contesta o desinteresse dos entusiasmos juvenis em nome da experincia dos adultos, s teses de 1940.

    O texto denominado Erfahrung escrito a partir da associao do filsofo ao Jugendbewegung, um movimento reformista educacional, da segunda dcada do sculo XX na Alemanha, que pretendia transformar radicalmente a sociedade e a cultura pela ao de uma juventude esclarecida. Esse ensaio expressa o sentimento de insatisfao e decepo do jovem pensador a respeito de um modo de vida adulta, que substitui os valores ticos e espirituais em detrimento dos

    ideais de progresso tcnico e material. Nesse texto, a experincia no tomada ainda como categoria, como ocorrer, por exemplo, em seus ensaios sobre Leskov e Baudelaire. A preocupao de Benjamin era a de ressignificar a palavra Erfahrung, apropriada pelos adultos conservadores, e desmistificar o sentido de jugendstil (estilo de juventude), mostrando que esses termos eram utilizados como estratgia pela cultura burguesa com o objetivo de adequ-los ao que era conveniente ao sistema. As intuies juvenis de Benjamin inscritas sob o marco do movimento da juventude e sob o impacto da Primeira Guerra Mundial emergem, mais tarde, em suas escolhas epistemolgicas e nos seus estudos a respeito da modernidade, em uma viso histrica no dissociada da compreenso da linguagem enquanto mdium; isto , o pensar do pensar, experincia relacionada aos processos culturais e sociais. Em um olhar retrospectivo ao texto de 1913, Benjamin escreve:

    Num de meus primeiros ensaios mobilizei todas as foras rebeldes da juventude contra a palavra experincia. E eis que agora essa palavra tornou-se um elemento de sustentao em muitas de minhas coisas. Apesar disso, permaneci fiel a mim mesmo. Pois o meu ataque cindiu a palavra sem a aniquilar. O ataque penetrou at o mago da coisa (BENJAMIN, 2009a, p. 21). Atento crescente modernizao das

    cidades, industrializao, s vanguardas artsticas e ao advento da Primeira grande Guerra, Benjamin escreve seu ensaio em um gesto de repdio ordem estabelecida. Ele incorpora juventude um esprito capaz de transformar a sociedade, um esprito pulsante e crtico, no conformado pelo desenvolvimento contnuo da histria leia-se, do progresso. Faltaria ao adulto que j vivenciou tudo: juventude, ideais, esperanas, mulheres (BENJAMIN, 2009a, p. 21) sensibilidade para a poesia e as artes.

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    Influenciado pela carga romntica que caracterizou o movimento da juventude, Benjamin confere experincia dos jovens um estatuto diferenciado. O filsofo faz uma crtica sociedade hierarquizada na qual a ideia propagada pelos mais vividos, pais, pedagogos, polticos, de que a idade adulta seria a idade da experincia, daqueles que j viveram tudo e possuem a sabedoria, desvaloriza a juventude enquanto potencial de conhecimento e sensibilidade. Para Benjamin, a quantidade das vivncias no determina a qualidade das experincias, por isso o filsofo far uma distino entre vivncia e experincia, sem excluir a possibilidade do erro:

    Cada uma de nossas experincias pos-sui efetivamente contedo. Ns mesmos conferimos-lhe contedo a partir do nosso esprito. A pessoa irrefletida acomoda--se no erro. Nunca encontrars a verdade, brada ela quele que busca e pesquisa, eu j vivenciei isso tudo. Para o pesquisador, contudo, o erro apenas um novo alen-to para a busca da verdade (Espinosa). A experincia carente de sentido e esprito apenas para aquele j desprovido de espri-to (BENJAMIN, 2009b, p. 23).

    Os adultos, para Benjamin, gabam-se de sua experincia, a qual esvaziada de sentido quando, segundo o filsofo, restringe-se mera vivncia individual (Erlebnis), em uma sucesso interminvel do mesmo, em um cotidiano petrificado. O vazio dessa vivncia individual engendrado por uma ao que se limita a si prpria; a qual no faz outra coisa seno repetir a histria e reificar a ordem. Ela tende, na verdade, ao apagamento da experincia que a precedeu. De acordo com Giorgio Agamben (2008), essa expropriao da experincia j estava implcita no projeto fundamental da cincia moderna, o qual configurou o tempo homogneo e vazio. Na tranquila cronologia da histria, a linguagem perde ento a sua dimenso expressiva e refora a mitologizao do cotidiano.

    A lei do mito a da repetio, algo que nos remete brincadeira da criana que busca a satisfao no fazer sempre de novo. Dessa repetio nasce o hbito. Mas, ao contrrio do mundo das crianas, no dos adultos a repetio no est sob controle dos agentes, da a petrificao do cotidiano e sua mitologizao.

    O posicionamento crtico da juventude , na verdade, um alerta contra o empobrecimento da experincia e do vazio que se forma no coti-diano daqueles que se consideram mais vividos. tambm uma forma de ao recordatria, re-troativa, que busca retomar por intermdio da memria as potencialidades do passado. O texto Erfahrung constitui esse primeiro momento no qual o filsofo se contrape ao conformismo e indiferena que caracterizaria a idade adulta em relao aos descaminhos da histria, a toda sorte de catstrofes que esse tipo de conduta permitiu realizar.

    O filsofo encontrar em Kant os pressu-postos para a formulao de um conceito de ex-perincia total, o qual alude diretamente ideia de verdade que, sob o prisma da filosofia benja-miniana, entendida como a no intencionali-dade do ser; algo indefinido, indeterminado que preexistiria como foi exposto no prefcio do Drama barroco alemo a toda atividade cons-titutiva do intelecto. A lacnica frase com que Benjamin finaliza seu ensaio Sobre o programa de uma filosofia futura (1917, p. 111), a experi-ncia a multiplicidade unitria e contnua do conhecimento, exprime em poucas palavras a sua proposta para um programa de investigao da experincia e do conhecimento, a partir do tratamento dado por Kant aos mesmos concei-tos em seu sistema filosfico.

    A meta de Benjamin preservar e concluir o esprito do prprio sistema kantiano no estabelecimento de outra filosofia (no reduzida a mera teoria do conhecimento), baseada fundamentalmente na possibilidade de realizao de uma experincia pura, total e contnua. Entre as vrias diretrizes mencionadas em seu artigo, destacam-se duas de fundamental importncia: a) recuperar o legado

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    kantiano, seu sistema, extraindo e atualizando (por descarte, assimilao e modificao) as noes que poderiam fundamentar um conceito mais amplo, profundo e significativo de conhecimento em vista de revalidar uma experincia metafsica latente na filosofia de Kant; e b) assegurar a autonomia prpria do conhecimento, no estabelecimento de um campo de total neutralidade, fazendo com que o mesmo no se restringisse apenas a uma relao entre sujeito e objeto e nem sequer a uma outra espcie de relao que se desse somente entre entes metafsicos (BENJAMIN, 1971).

    Por metafsico Benjamin no entende a cincia da natureza, tal como a terminologia crtica a cunhou, e sim em seu sentido etimolgico, como toda sorte de experincias que extrapolam o natural, o racional, ou seja, experincias suprarracionais, supranaturais que se relacionam, por seu turno, dimenso teolgica (MURICY, 1999, p. 73). O esforo empreendido por Benjamin, ao abordar Kant, no foi o de demonstrar a falncia de um projeto filosfico, mas sim o de expor os seus limites diante de um conceito de experincia que, de acordo com Benjamin, se daria por intermdio da religio, conhecimento que se apresentaria filosofia como teoria.

    Matos (1993) observa a esse respeito que, para Benjamin, o fato de Kant ignorar a experincia religiosa, lingustica e at mesmo a esttica no propriamente o sinal da falncia de um projeto/sistema filosfico, o kantiano, mas de quanto esse projeto [...] se ancorava na pobreza da experincia que a poca favorecia (MATOS, 1993, p. 132). Isso porque, com a modernidade, a imaginao foi capturada no conhecimento, a experincia transformou-se em experimento, os sujeitos na sua incerteza, heterogeneidade e imprevisibilidade foram desapropriados e, no seu lugar, surgiu um nico e novo sujeito o eu penso cartesiano. Matos (2006, p. 240) afirma ainda que:

    H olhares que veem sem ver. O atento olhar cartesiano o olhar em linha reta imobiliza

    o objeto na tentativa de apreend-lo. Mas a conscincia chega tarde demais. A busca de uma racionalidade que faa conhecer sentindo e sentir conhecendo uma das preocupaes da crtica benjaminiana Razo das luzes, Aufklrung. No se trata, para Benjamin, de recuperar algo que nos lembremos, tampouco da conscincia que tomamos tarde demais. Procura-se, entre ambos, produzir a situao que permita a coincidncia do desejo e do conhecimento do desejo, do presente do conhecimento e do presente da conscincia.

    A hiptese de Benjamin de que o pensamento religioso, via teologia, permitiria restaurar o elo existente entre arte, filosofia e poltica, denota a insatisfao do filsofo com relao ao conceito de conhecimento de Kant e, portanto, o de experincia que estaria reduzido a fundamento do prprio conhecimento. Isso se deve, sobretudo, ao fato de os princpios do conceito de conhecimento em Kant terem sido extrados das cincias, especialmente, as fsico-matemticas (BENJAMIN, 1971).

    A experincia kantiana , de acordo com Benjamin (1971, p. 101), uma experincia singular temporalmente limitada demasiada-mente objetiva. Ou seja, Kant estaria, de acor-do com Benjamin, preso viso de mundo do Iluminismo, na qual a experincia se reduz a um ponto zero, a um mnimo grau de significao. Ou seja, a experincia resultaria to somente da relao da conscincia pura com a emprica. Em outras palavras, uma experincia restrita, um conhecimento limitado. Para Benjamin (1971), as limitaes desse conhecimento se devem ao modo como Kant considerou a experincia enquanto experimento; como algo meramente mecnico, previsvel, mensurvel.

    Para Benjamin, somente na linguagem o conhecimento e a experincia podem convergir. exatamente na busca da essncia lingustica do conceito de experincia que Benjamin tentar articular filosofia e religio, valorizando as experincias suprassensveis e suprarracionais,

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    ignoradas pela epistemologia moderna. Kant, de acordo com Benjamin (1971), no empreendeu uma reflexo acerca da natureza lingustica, ignorando, portanto, na sua sistematizao, outros campos de conhecimento, qualitativamente distintos. Ao empreender uma reviso crtica da filosofia de Kant, o filsofo permitir integrar, ao sistema kantiano, elementos que haviam sido excludos pela insuficincia bsica da viso de mundo do esclarecimento.

    Benjamin recorre ao mito bblico da criao, a partir do Gnesis, para expor as suas concepes sobre a linguagem. O recurso ao mito, segundo Muricy (1999), muito significativo de um procedimento utilizado no enfrentamento dos pressupostos tericos daquilo que se convencionou chamar de a virada lingustica do incio do sculo XX, movimento que ps no centro da reflexo filosfica a ltima palavra da lingustica e das teorias semiticas, deixando de lado, por seu carter metafsico, a reflexo sobre a natureza da linguagem. Contrariamente s concepes da virada lingustica, a teoria da linguagem de Benjamin se ope a uma perspectiva instrumentalista da linguagem, no a considerando como mero meio de comunicao. O autor vai contra a corrente hegemnica das reflexes filosficas de matriz cientfica, recorrendo ao que estava diametralmente oposto a essas matrizes: a Cabala, os msticos, os romnticos do crculo de Iena, Friederich Schlegel e Novalis.

    Em Sobre a linguagem em geral e sobre a linguagem humana (1992), texto escrito em 1916, ao se interrogar sobre a essncia da linguagem, Benjamin ir recorrer teologia e mstica judaica, tornando o seu pensamento, aparentemente anacrnico, algo surpreendentemente atual (SOUZA, 2009, p. 190). Ele foge aos esquemas da lingustica de Saussure e da filosofia analtica. Na interpretao do pecado original como fenmeno lingustico, h o reconhecimento de que a linguagem humana inseparvel da dicotomia conhecimento/vida. O texto sugere o fim dessa dicotomia, retomando a essncia espiritual humana; recuperando a

    sua linguagem. ela, e no a comunicao de contedos, que inscreve a natureza no mundo do sentido. Ao contrrio da perspectiva cientificista, a linguagem nomeadora no visa dominao da natureza (DANGELO, 2006, p. 12).

    Benjamin relaciona experincia, lngua e essncia espiritual em geral das coisas e dos homens. Em seu texto, a essncia espiritual refere-se lingustica e a linguagem das coisas imperfeita, pois a ela foi negado o princpio formal lingustico: o som. Em sua linguagem muda, a natureza comunica-se de acordo com as possibilidades de uma magia atribuda matria. H, portanto, uma distino entre a magia imaterial, puramente espiritual da linguagem humana e a magia da linguagem das coisas.

    Para explicar essa dimenso metafsica da linguagem, o filsofo recorre origem bblica segundo a qual, no incio, a palavra no era destinada comunicao entre os homens, mas se constitua como revelao de um saber que dispensava mediaes. No nome, a linguagem comunicava a si prpria e de maneira absoluta. Depois do pecado original, o homem condenado a usar a palavra como instrumento de comunicao. Houve, ento, a extino da linguagem adamtica, o que possibilitou o surgimento do verbo propriamente humano. O verbo divino substitudo pela proposio com a qual os homens falam sobre as coisas por meio de atos e julgamentos. Com a queda do homem do paraso, instaura-se um divrcio entre as palavras e as coisas. Do saber mediatizado pelas abstraes proposicionais emerge um conhecimento do mundo por meio da conversa vazia ou, como o filsofo denominou, da tagarelice (BENJAMIN, 1992).

    A lngua nominal perde sua magia. A perda da linguagem pura, ou o abandono do nome, faz surgir a necessidade de comunicar algo exterior ao prprio nome. A palavra no mais o lugar da essncia espiritual, mas meio de comunicar contedos, transmitir informaes; comunicar algo exterior prpria linguagem. De acordo com Benjamin, h na linguagem

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    algo comunicvel, mas esse algo a prpria linguagem, o que nela se manifesta. Assim, de acordo com o filsofo, tudo o que existe, seja da natureza animada ou inanimada, acontecimento ou coisa, comunica, expressa a sua essncia espiritual. A atividade intelectual geradora de ideias ou conceitos no algo que se comunica atravs da linguagem, mas na linguagem, ou melhor, a atividade intelectual, ela prpria linguagem. Desse ponto de vista, a linguagem tomada como a expresso do pensamento, mdium-de-reflexo.

    Nessa viso metafsica da linguagem h a tentativa de compreenso do mundo como revelao, na linguagem, de uma verdade que no se expressa exclusivamente pela abstrao conceitual, mas tambm por meio da experincia sensvel. Alm disso, com a tese de que todo conhecimento filosfico tem a sua nica expresso na linguagem, Benjamin elabora um conceito de experincia que permite a construo de um conhecimento capaz de alcanar no o conhecimento de Deus, mas a experincia de Deus. Assim, abre-se o acesso a regies que nem a filosofia de Kant, nem a cultura iluminista conseguiram alcanar.

    Conforme Souza (2009, p. 191), Esta dimenso semntica do mundo dos objetos pode estar encarnada nas palavras da poesia, que podemos experimentar como um tipo de conhecimento diferente daquele que encontramos no pensamento cientfico, emprico tcnico. Sob a perspectiva benjaminiana, na linguagem potica a verdade devir (ou desvio); sua forma alegrica e fragmentria de expresso no constitui uma manifestao de irracionalismo, mas uma forma de falar do mundo. Da o interesse por Baudelaire e As flores do mal, tomados como referncia na crtica da modernidade, pois a experincia do poeta diante de um mundo capitalista, reificado, assume uma dimenso tica oposta do esteticismo a-histrico.

    Logo, o ato heroico de ir contra a corrente em Baudelaire, Proust, Kafka, Brecht, manifesta-se como resistncia aos valores

    dominantes da cultura burguesa. Contudo, Benjamin no parte de uma anlise social da histria, e sim de sua materialidade lingustica, pois a que a histria se revela. Quando Baudelaire fala do difuso temor das noites medonhas que o peito oprimem como um papel que amassa (BAUDELAIRE,1995, p. 137) ele est revelando uma dimenso do real a qual a anlise da sociologia no chega (DANGELO, 2006, p. 19).

    Para Benjamin, linguagem traduo, sendo que sua relao com as coisas no arbitrria; uma palavra no o signo de uma coisa, no mera conveno. No constitui a essncia da coisa que nomeia. Mas na linguagem, enquanto mdium, que se traduz o mundo, ou que se torna dizvel, poetizvel e compreensvel a linguagem muda das coisas. Essa traduo na linguagem do homem da linguagem muda das coisas o prprio movimento que constitui o conhecimento, essencial para se pensar todo e qualquer processo educativo. Em Benjamin, o verdadeiro fundamento do conhecimento no o sujeito, emprico ou transcendental, mas a linguagem.

    A concepo mimtica da linguagem

    Os ensaios de Benjamin a respeito da linguagem podem ser divididos em dois grupos: os escritos de juventude, fortemente influenciados pela mstica judaica (Da linguagem em geral e da linguagem do homem (1992) e A tarefa do tradutor (1979)), e dois textos curtos escritos depois de 1933, que pertencem sua fase materialista.

    Nesses dois ltimos textos (Doutrina do semelhante (1996) e Sobre a capacidade mimtica (1970)), o conceito de mmesis um conceito-chave na reflexo benjaminiana. De forma instigante, confere outra dimenso ao pensamento crtico. Benjamin retoma a teoria da mmesis de Aristteles: a mmesis como um processo de aprendizagem especfico do ser humano (especialmente das crianas).

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    Em Aristteles, o impulso mimtico est na raiz do ldico e do artstico; a aquisio de conhecimentos se d em um processo prazeroso no qual se desenvolve a faculdade de reconhecer semelhanas e de produzi-las na linguagem (GAGNEBIN, 1999). Nesse caminho esboado por Aristteles, a teoria da mmesis induz a uma teoria da metfora; conhecimento e semelhana, conhecimento e metfora entretm ligaes estreitas, muitas vezes esquecidas, e at negadas.

    Nos escritos de Benjamin, a produo mimtica estar relacionada, como em Aristteles, ao jogo e ao aprendizado, ao conhecimento e ao prazer de conhecer. Dentro dessa perspectiva, remetendo-se ao universo infantil, Benjamin contesta a crena de que um suposto preestabelecido contedo imaginrio do brinquedo vem a determinar a brincadeira da criana. Ao definir esse pensamento como grande equvoco (BENJAMIN, 1996, p. 250), ele afirma que a relao da criana com o brinquedo d-se na direo contrria, na brincadeira que a criana busca incluir o seu brinquedo ou objeto de brincar: a criana quer puxar alguma coisa e torna-se cavalo, quer brincar com areia e torna-se padeiro, quer esconder-se e torna-se ladro ou guarda (BENJAMIN, 2009a, p. 93). A criana no brinca s de comerciante ou de bombeiro (atividades humanas), mas tambm de trem, de cavalo, de carro ou de mquina de lavar.

    De fato, a experincia social da criana atualizada na brincadeira e no jogo encontra--se permeada por condutas mimticas, que lhe permitem ir alm da sua capacidade de produzir semelhanas para lanar-se transmutao entre os diversos e possveis papis sociais, pelos quais ela transita livremente: entre o ser comerciante ou ser professor, ou entre o personificar-se de moinho de vento ou de trem (BENJAMIN, 2009a).

    Nos ensaios Rua de mo nica (2000), escrito em 1928, e Infncia em Berlim por volta de 1900 (2000), escrito em 1938, Benjamin dirige sua crtica para determinadas funes pedaggicas atribudas a alguns objetos criados para as crianas. A pedagogizao do

    brinquedo , para o filsofo, o que impede o reconhecimento dos potenciais infantis de se relacionar com o mundo e mesmo de transformar muitos dos sentidos e funes para os quais os brinquedos foram criados:

    Elucubrar pedantemente sobre a fabricao de objetos - material educativo, brinquedos ou livros que fossem apropriados para crianas tolice. Desde o Iluminismo essa uma das mais bolorentas especulaes dos pedagogos. Seu enrabichamento pela psicologia impede-os de reconhecer que a Terra est repleta dos mais incomparveis objetos de ateno e exerccio infantis [...]. Em produtos residuais, reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e para elas unicamente. Neles, elas menos imitam as obras dos adultos do que pem materiais de espcie muito diferente, atravs daquilo que com eles aprontam no brinquedo, em uma nova, brusca relao entre si. Com isso, as crianas formam para si seu mundo de coisas, um pequeno no grande, elas mesmas (BENJAMIN, 2000, p. 18-19).

    Sob a tica benjaminiana, a educao enquanto formao no propriedade privada da pedagogia, mas pode ser compreendida como um fenmeno que se realiza no sujeito, como ontognese, ou seja, como caminhada do ser em um processo infindvel. As crianas so reconhecidas, ento, como agentes transformadores dos espaos com os quais interagem, atribuindo significados aos objetos que manipulam e aos inmeros papis que representam. A brincadeira torna-se um ritual mimtico. Esses rituais da infncia so retomados por Benjamin como importantes fontes de subsdios para o entendimento dos processos histricos de construo dos saberes, bem como da constituio do sujeito moderno. Opondo-se pedagogizao dos brinquedos, o filsofo chama ateno para os processos histricos nos quais o ser humano produz semelhanas reagindo s semelhanas j existentes no mundo.

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    As semelhanas se modificam no decorrer dos sculos, no so imutveis, no existem em si, mas so redescobertas e ressignificadas pelo conhecimento humano em diferentes pocas (GAGNEBIN, 1999). Um exemplo disso pode ser dado com os saberes da astrologia, da adivinhao e das prticas rituais. Esses saberes so colocados hoje em oposio ao saber racional, o progresso cientfico os marginalizou, excluindo-os do que se possa chamar de verdadeiro conhecimento. No entanto, eles passaram a existir nos arquivos da linguagem:

    Se essa leitura a partir dos astros, das vsceras e dos acasos era para o primitivo sinnimo de leitura em geral, e se alm disso existiram elos mediadores para uma nova leitura, como foi o caso das runas, pode-se supor que o dom mimtico, outrora o fundamento da clarividncia, migrou gradativamente, no decorrer dos milnios, para a linguagem e para a escrita, nelas produzindo um arquivo completo de semelhanas extra-sensveis. Nessa perspectiva, a linguagem seria a mais alta aplicao da faculdade mimtica: um mdium em que as faculdades primitivas de percepo do semelhante penetraram to completamente, que ela se converteu no mdium em que as coisas se encontram e se relacionam, no diretamente, como antes, no esprito do vidente ou do sacerdote, mas em suas essncias, nas substncias mais fugazes e delicadas, nos prprios aromas. Em outras palavras: a clarividncia confiou escrita e linguagem as suas antigas foras no correr da histria (BENJAMIN, 1996, p. 112).

    A capacidade mimtica humana no foi substituda pelo pensamento abstrato, racional, mas se concentrou na linguagem e na escrita. Para Benjamin (1996), a leitura um processo eminentemente teleptico; por meio de uma iluminao profana do pensamento possvel encontrar parentesco entre a leitura das

    constelaes e dos planetas feita pelo astrlogo, a leitura do adivinho e a leitura de um texto; do mesmo modo, o gestual da dana assemelha-se aos movimentos da pintura e da escrita. Essa teoria vai na direo contrria a das concepes da linguagem baseadas no signo. Isso pode explicar o interesse de Benjamin pelas teorias onomatopaicas em torno da origem da linguagem, ainda que ele as julgasse muito limitadas em relao quilo que constitui a semelhana.

    Na teoria mimtica da linguagem est implcita uma lgica no da identidade, mas da semelhana; no h uma concepo identitria do sujeito e da conscincia, mas a ecloso de um verdadeiro outro (GAGNEBIN, 1999, p. 103). A atividade mimtica no se reduz a uma cpia, ela uma mediao simblica:

    Em vo procurar-se-ia uma similitude entre a palavra e a coisa baseada na imitao. Saber ler o futuro nas entranhas do animal sacrificado ou saber ler uma histria nos caracteres escritos sobre uma pgina significa reconhecer no uma relao de causa e efeito entre a coisa e as palavras ou as vsceras, mas uma relao comum de configurao. A imitao pode ter estado ou no presente na origem, ela pode se perder sem que a similitude se apague (GAGNEBIN, 1999, p. 98-99).

    Da o conceito de semelhana extrassensvel, utilizado por Benjamin para definir a linguagem como o grau ltimo da capacidade mimtica humana e o arquivo o mais completo dessa semelhana extrassensvel. Essa transformao filogentica da capacidade mimtica explicada pelo exemplo ontogentico do aprendizado da linguagem falada e da escrita pela criana.

    Com o movimento gestual do seu corpo inteiro, a criana brinca/representa o nome e dessa forma aprende a falar. Para a criana, nesse jogo, as palavras no so signos fixados pela conveno, mas sons a serem explorados. O escritor Eduardo Galeano (2002) costuma dizer

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    que nesta fase somos mais profanos e poetas; pois de muita importncia para a criana o aspecto material da linguagem, algo que os adultos se esquecem em detrimento do seu aspecto conceitual e que a linguagem potica recupera. No aprendizado da escrita ocorre o mesmo processo: a criana desenha a letra, ela imita o modelo proposto pelo adulto e, ao escrever a palavra, desenha uma imagem (no uma cpia) da coisa, estabelecendo, assim, uma relao figurativa com o objeto (GAGNEBIN, 1999, p. 100).

    Benjamin refere-se escrita chinesa para explicar a relao entre pintura e escrita, uma relao que no necessariamente uma relao de imitao. A partir da concepo mimtica da linguagem, ele supe movimentos histricos de transio da pintura escrita, por meio no s da grafia oriental, mas tambm por intermdio dos hierglifos e da escrita rnica. O autor mostra que a escrita no deriva de uma abstrao ou de uma conveno como a que o nosso alfabeto representaria, mas de um impulso mimtico que se inscreve no espao pela dana, numa parede pela pintura, ou numa pgina pela escrita.

    Nos ensaios sobre a capacidade mimtica e sobre a semelhana, h uma distino entre a dimenso semitica e a dimenso mimtica da linguagem. A dimenso mimtica surge do semitico como uma imagem fugaz que aparece e desaparece na paisagem. Na dialtica do visvel invisvel, a literalidade do texto o fundo nico, imprescindvel para que essa imagem possa, como em um relmpago, apresentar-se em forma de enigma, como interrogao. Para Benjamin, essa imagem rpida remete ao sentido essencial e ao mesmo tempo mutvel do texto. A transmisso do significado apenas o pretexto, imprescindvel, que permitiria a elaborao de um outro texto, um verdadeiro outro.

    A mmesis indicaria uma dimenso essencial do pensar, em uma aproximao ldica, que o prazer suscitado pelas metforas nos devolve. Ela aponta para uma aproximao do outro que consiga diz-lo sem desfigur-lo.

    Nessa perspectiva, a linguagem no se restringe tese lingustica do arbitrrio

    do signo, mas a uma transformao do sentido. O movimento do pensamento remete ao movimento da metfora, em um fazer-desfazer ldico e figurativo; d-se visibilidade ao invisvel, comunica-se o no comunicvel, atualiza-se o j dito. Benjamin dizia que a criana entra nas palavras como quem entra em cavernas, criando caminhos estranhos em um universo a ser explorado. Algo parecido com o percurso dos poetas, dos artistas ou dos cineastas quando penetram na linguagem, criando seus caminhos, suas errncias, suas obras, suas montagens, estabelecendo uma relao com o tempo que no , necessariamente, aquela do tempo linear, cronolgico, homogneo e vazio.

    Inspirado pelo pensamento benjaminiano, Giorgio Agamben (2008) aproxima os conceitos de experincia e linguagem remetendo-se a uma in-fncia; um lugar que anterior palavra; que rompe com a continuidade da histria, e que produz a descontinuidade entre lngua e discurso, entre natureza e cultura. No se trata de uma ideia de infncia como etapa de ordem cronolgica, como uma potncia que permite a renncia do previsvel e ilumina aquilo que no se revela de imediato. A infncia instaura o sujeito criativo, coloca o indivduo no lugar de produtor da cultura para que, com outros interlocutores, ele possa dar sentido e acrescentar significao ao mundo. A infncia se constitui num experimentum linguae. De acordo com Giorgio Agamben, ela entendida como a possibilidade de recuperao da pura expresso; o momento em que as palavras ainda no esto presas a modelos lgicos abstratos, ou a uma subjetividade essencialmente fabricada, modelada, recebida, consumida.

    A partir desse experimentum linguae, descobrem-se os reflexos mticos e poticos, bem como o sentido do sagrado frequentemente dissimulado nas atividades mais banais e cotidianas. Nesse contexto, a histria materializa-se teatralmente; faz parte da mesma matria imaginria e ficcional da existncia. Nesse sentido, o discurso histrico tambm o discurso imaginrio, no qual o

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    tempo cronolgico homogneo interrompido; fazendo emergir, em um salto originrio (Ursprung), o diferente, o inusitado, o no revelado, o silenciado. As imagens do cotidiano so postas em suspenso; d-se visibilidade ao nfimo, ao insignificante; transformam-se os destroos em matria de poesia, matria de histria: As coisas jogadas fora tm grande importncia como um homem jogado fora. [...] As coisas sem importncia so bens de poesia (BARROS, 2001, p. 14-15).

    Como em Baudelaire, os belos poemas de Manuel de Barros so exemplos do re-descobrimento de um mundo pouco visvel. Nesses versos h a recusa dos grandes temas; as coisas desimportantes transformam-se em relquias de linguagem como ocorre no poema de Drummond, quando um acontecimento absolutamente banal uma pedra no meio do caminho pode ganhar, na interpretao dos leitores, outras dimenses; sentidos outros que quebram a prpria continuidade temporal do acontecimento na repetio dos versos. Importante ressaltar que o componente potico constitui-se ento como espao da criatividade, operao prpria imaginao, lugar da in-fncia que produz uma ntima ligao entre o pensar e o ser. Como sentenciou Anaximandro, na Grcia:

    Pensar, no entanto, poetar e a verdade no apenas um tipo de poetar no sentido da poesia e da cano. O pensamento do ser a maneira fundamental de poetar. No pensamento assim considerado, a linguagem passa a ser linguagem primordial, isto , em sua essncia. [...] Todo poetar, em seu sentido mais amplo, e tambm no mais estrito, em seu fundo pensamento (ANAXIMANDRO apud HHNE, 2004, p. 78).

    Ao despojar-se da concepo instrumen-talista do conhecimento, Benjamin procura, nesse poetar, recuperar a dimenso mgica da linguagem. Os escritos benjaminianos acerca da modernidade a partir da fisionomia das cidades; dos poetas e artistas surrealistas; sobre autores

    como Baudelaire, atestam o interesse do filsofo em pensar a linguagem como campo (mdium) para a construo do pensamento enquanto poiesis (atividade criativa que organiza a refle-xo). Nesse sentido, Benjamin tinha, segundo Hannah Arendt (1999, p. 10), uma rara habilida-de para pensar poeticamente. Como bem coloca Muricy (2008, p. 79), em Benjamin:

    [...] construir ideias recuperar na linguagem domesticada pelo uso pragmtico das exigncias de informao e comunicao uma dimenso inaudita onde possa brotar algo como uma origem sempre renovvel.

    A escrita potica, ao reinventar o mundo, construo do olhar crtico, se pensarmos que o crtico, assim como o alquimista, exerce a obscura arte de transmutar os elementos desimportantes do real em resplandecentes verdades, interpretando os processos histricos inerentes a essa mgica transfigurao (BENJAMIN, 2009b). Ao interrogar os objetos, o olhar crtico descobre nas coisas, nas cidades, as marcas do mundo, procura ento, no invisvel que se esconde e se presentifica na linguagem das coisas, aquilo que faz um rosto, uma paisagem ou um objeto nos falar.

    Consideraes finais

    A obra benjaminiana no apresenta uma proposta educacional; ao contrrio, reage justamente ideia de tal proposta. Sua crtica dirige-se ao que chama de programa de remodelao da humanidade, nascido com o Iluminismo que, no sculo XVIII, reuniu nomes como o de John Locke na Inglaterra, Kant na Alemanha, e na Frana os escritores enciclopedistas Diderot, Voltaire, DAlembert, Montesquieu, Rousseau e outros pensadores que se mobilizavam em torno do que ficou conhecido como Filosofia da ilustrao, uma Suma filosofia, que pretendia abarcar com os seus verbetes todos os saberes da cincia, da poltica, da filosofia e das artes. O projeto do pensamento iluminista

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    era o de construir um conhecimento universal, a partir de uma racionalidade capaz de esclarecer, iluminar, ilustrar. Com os xitos da fsica, torna--se possvel conceber um universo determinista totalmente inteligvel ao clculo. Surge uma viso do mundo constituda pela identidade do real, do racional e do calculvel. Assim, so eliminadas a desordem e a subjetividade. A razo converte-se em um mito unificador do saber, como tambm da tica e da poltica.

    Emergem os princpios utilitaristas da economia liberal-burguesa segundo os quais prevalece a ordem e a harmonia. A construo da racionalidade iluminista colocou a sensualidade, a sensibilidade, o desejo e a paixo como inimigos do pensamento (MATOS, 1990, p. 284). A questo do dualismo corpo e alma ser discutida por Benjamin em O drama barroco alemo como algo que impede a compreenso da paixo enquanto um componente do desenvolvimento da racionalidade, inviabilizando a relao entre o homem e o seu desejo, entre a razo e o corpo, a histria e a memria.

    A filosofia da razo ilustrada pretendia fazer da criana um ser supremamente piedoso, bom e socivel. Essa concepo de educao limitou as possibilidades dos processos formativos e de aprendizagem. Ao buscar uma experincia total e concreta do conhecimento, Benjamin critica a institucionalizao do saber. O filsofo alemo encontra nos artistas e nas crianas um outro entendimento do mundo. Ele se ope aos padres psicolgicos, referindo-se figura da criana como uma pessoa inserida na histria e em uma cultura, da qual tambm criadora.

    A atualidade do pensamento de Benjamin e suas reflexes a respeito da modernidade, da infncia e da linguagem nos do pistas para refletir a educao enquanto processo formativo, no qual o conhecimento realiza-se como uma experincia de linguagem. Isso

    instiga-nos a pensar tanto a realidade enquanto texto que se abre significao de cada um, quanto o prprio movimento do sujeito em um processo de criao-nomeao do mundo. Nesse movimento itinerante, a linguagem o espao em que o sujeito diz o seu eu como condio de sua historicidade. Nas palavras de Kramer,

    [...] s o ser humano pode ser in-fans (etimologicamente em latim, aquele que no fala). Ento, ao contrrio dos animais, o homem como tem uma infncia, ou seja, no foi sempre falante aparece como aquele que precisa, para falar, se constituir como sujeito da linguagem e deve dizer eu. Nessa descontinuidade que se funda a historicidade do ser humano. Se h uma histria, se o homem um ser histrico s porque existe uma infncia do homem, porque ele deve se apropriar da linguagem. Se assim no fosse, o homem seria natureza e no histria. E aqui reside a possibilidade de saber, quer dizer, de vivendo a histria e de recontando essa histria construir um saber coletivo que extrapola a mera justaposio de informaes (KRAMER, s.d., p. 249).

    Nessa perspectiva, recupera-se aquilo que foi deixado margem pelos sistemas escolares fechados em suas disciplinas e hierarquias de valores. Valoriza-se o nfimo e um pensar-sentir que passe pela mediao do insignificante. Assim, a prpria vida cotidiana fragmentria e aparentemente sem sentido configura-se em um experimentum linguae, permeado de poticas visuais, sonoras e textuais, apresenta-se como um saber coletivo; uma estrada-texto aberta a possveis leituras/escrituras que so compartilhadas como experincias de linguagem, formas de conhecimento.

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    Recebido em: 21.07.2013

    Aprovado em: 02.10.2013

    Eloiza Gurgel Pires artista visual; pesquisadora e doutora em Educao pela Universidade de Braslia (UnB). Atualmente professora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No trnsito indisciplinado por diferentes campos, suas pesquisas e publicaes discutem as relaes existentes entre os processos culturais da contemporaneidade e a educao a partir: das poticas urbanas; do binmio histria/memria; da arte e das linguagens miditicas, especialmente das linguagens audiovisuais.