Exemplo de resenha

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Revista Científica On-line Tecnologia Gestão Humanismo ISSN: 2238-5819 _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Faculdade de Tecnologia de Guaratinguetá 3 Revista v.1, n.1 maio, 2012 SER PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: qual a responsabilidade? Prof. Me. Marco Antônio Duarte 1 FATEC Guaratinguetá [email protected] Resumo Este artigo é fruto de uma reflexão teórico-prática sobre o tema Ser professor universitário: qual a responsabilidade? O primeiro capítulo apresenta o contexto do mundo atual marcado por um conjunto de graves e profundos problemas que se manifestam explicitamente através da crise social, da crise do sistema do trabalho, da crise ecológica e que tem como fundamento primeiro uma base antropo-ética. É uma crise que cobra do professor universitário uma posição, uma postura, uma decisão no que concerne à formação que pretende oferecer aos seus alunos. O segundo capítulo traz uma reflexão sobre o lugar da universidade neste contexto de crise e chama a atenção para a importância e o dever de formar, principalmente em lugares como o Brasil, profissionais que atendam às exigências do mercado e, ao mesmo tempo, possam pensar a realidade para além da lógica mercadológica. No terceiro capítulo, depois do caminho trilhado, ganha força a imperiosa responsabilidade do professor universitário diante da crise do mundo atual e do seu papel no interior da universidade. A partir daí, procura-se destacar algumas características principais do professor responsável. Deixando claro, inclusive na conclusão, que o professor responsável é alguém que acredita, sem ingenuidade, na contribuição que a educação pode dar para transformação desta realidade crísica. Palavras-chave: Crise, Transformação, Universidade, Professor, Responsabilidade. Abstract This article came up from a practice theory reflection on the theme Being a University Professor: Which is the Responsibility? The first chapter presents the current context of the World signalized by a set of deep problems that are brought up by means of the social crisis, of the labor system crisis, of the ecologic crisis that have as a first base the ethic-anthropology. This is a crisis that demands a position from the University Professor, a posture, a decision that concerns to the education intended to the students. The second chapter brings a reflection on the place of the University in this crisis context and calls the attention to the importance and the duty of teaching especially in places like Brazil. It is important to answer the claims of the Market and at the same time lead the students to think the reality beyond its marketing logic. In the third chapter after the tracked way, the imperative responsibility of the University Professor gets power facing the actual World crisis and this role takes place in the interior of the University. From this point on, it searches some of the outstanding characteristics of this responsible professor. It clearly stands, mainly in the conclusion, that the responsible professor is someone who believes without ingenuity in the contribution that education can give to the transformation of this crisis reality. Keywords: Crisis, Transformation, University, Professor, Responsibility. 1 Professor da FATEC de Guaratinguetá. Texto adaptado de participação do autor no I SEDIES, Seminário de Didática do Ensino Superior, realizado no UNISAL de Lorena, no dia 29 de maio de 2010.

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    ISSN: 2238-5819

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    Faculdade de Tecnologia de Guaratinguet 3 Revista v.1, n.1 maio, 2012

    SER PROFESSOR UNIVERSITRIO: qual a responsabilidade?

    Prof. Me. Marco Antnio Duarte

    1

    FATEC Guaratinguet [email protected]

    Resumo Este artigo fruto de uma reflexo terico-prtica sobre o tema Ser professor universitrio: qual a responsabilidade? O primeiro captulo apresenta o contexto do mundo atual marcado por um conjunto de graves e profundos problemas que se manifestam explicitamente atravs da crise social, da crise do sistema do trabalho, da crise ecolgica e que tem como fundamento primeiro uma base antropo-tica. uma crise que cobra do professor universitrio uma posio, uma postura, uma deciso no que concerne formao que pretende oferecer aos seus alunos. O segundo captulo traz uma reflexo sobre o lugar da universidade neste contexto de crise e chama a ateno para a importncia e o dever de formar, principalmente em lugares como o Brasil, profissionais que atendam s exigncias do mercado e, ao mesmo tempo, possam pensar a realidade para alm da lgica mercadolgica. No terceiro captulo, depois do caminho trilhado, ganha fora a imperiosa responsabilidade do professor universitrio diante da crise do mundo atual e do seu papel no interior da universidade. A partir da, procura-se destacar algumas caractersticas principais do professor responsvel. Deixando claro, inclusive na concluso, que o professor responsvel algum que acredita, sem ingenuidade, na contribuio que a educao pode dar para transformao desta realidade crsica.

    Palavras-chave: Crise, Transformao, Universidade, Professor, Responsabilidade.

    Abstract This article came up from a practice theory reflection on the theme Being a University Professor: Which is the Responsibility? The first chapter presents the current context of the World signalized by a set of deep problems that are brought up by means of the social crisis, of the labor system crisis, of the ecologic crisis that have as a first base the ethic-anthropology. This is a crisis that demands a position from the University Professor, a posture, a decision that concerns to the education intended to the students. The second chapter brings a reflection on the place of the University in this crisis context and calls the attention to the importance and the duty of teaching especially in places like Brazil. It is important to answer the claims of the Market and at the same time lead the students to think the reality beyond its marketing logic. In the third chapter after the tracked way, the imperative responsibility of the University Professor gets power facing the actual World crisis and this role takes place in the interior of the University. From this point on, it searches some of the outstanding characteristics of this responsible professor. It clearly stands, mainly in the conclusion, that the responsible professor is someone who believes without ingenuity in the contribution that education can give to the transformation of this crisis reality.

    Keywords: Crisis, Transformation, University, Professor, Responsibility.

    1 Professor da FATEC de Guaratinguet. Texto adaptado de participao do autor no I SEDIES, Seminrio de Didtica do Ensino Superior, realizado no UNISAL de Lorena, no dia 29 de maio de 2010.

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    Faculdade de Tecnologia de Guaratinguet 4 Revista v.1, n.1 maio, 2012

    Introduo O mundo contemporneo apresenta-se como um lugar marcado por grandes e graves

    problemas culturais, sociais, ambientais e, enfim, humanos. Muitos autores caracterizam o mundo

    atual como um tempo de crise profunda; uma crise de propores jamais vista na histria da

    humanidade, pois o gnero humano efetivamente se v ameaado de extino. Toda a

    problemtica ambiental adicionada da violncia de toda ordem e, sem dvida, do perigo nuclear

    ainda existente, demonstram que, de maneira diferente de outros momentos da histria, o ser

    humano encontra-se numa situao de crise inigualvel.

    neste ambiente complexo e de crise profunda que o professor universitrio chamado, a

    partir de seu ofcio de mestre, a dar uma resposta. Perguntas como: Qual o papel social da

    universidade (ensino superior)? Qual o papel do professor universitrio neste incio de milnio?

    O que significa, em funo dos desafios do mundo contemporneo, a arte de ensinar? So

    fundamentais para uma prtica pedaggica lcida, reflexiva, crtica e, acima de tudo, responsvel.

    Destarte, estas so as principais questes colocadas como objetos deste texto. Antes, porm,

    vale a pena um maior aprofundamento do contexto no qual o professor universitrio, seus alunos

    e a prpria universidade esto inseridos.

    1 Uma breve viso contextual do mundo contemporneo

    No possvel entender, discutir ou analisar o mundo hodierno prescindindo de todo o

    processo histrico que o engendrou; e essa trajetria trilhada, principalmente, pelo Ocidente est

    diretamente ligada ao progresso cientfico-tecnolgico construdo pela humanidade nos ltimos

    trs sculos que trouxe, inegavelmente, um salto de qualidade em muitos setores da vida

    humana, entretanto o custo tem sido pesado demais. Um olhar mais rigoroso sobre a histria

    desse mesmo perodo acaba evidenciando as contradies que marcaram o caminho da cincia e

    da tecnologia na conduo da vida humana.

    Enfim, sabemos cada vez mais que o progresso cientfico produz potencialidades tanto subjugadoras ou mortais quanto benficas. Desde a j longnqua Hiroxima, sabemos que a energia atmica significa potencialidade suicida para a humanidade; sabemos que, mesmo pacfica, ela comporta perigos no s biolgicos, mas, tambm e, sobretudo, sociais e polticos. Pressentimos que a engenharia gentica tanto pode industrializar a vida como biologizar a indstria. (MORIN, 1999, p.18)

    A necessidade de se construir uma cincia com conscincia, como adverte Morin (1999),

    a mesma que, sem dvida, vale para a humanidade na totalidade de suas dimenses existenciais.

    S assim o gnero humano poder superar os desafios gigantescos impostos pela crise que ele

    mesmo criou.

    O fato que a crise, como a preconiza o filsofo espanhol Ortega y Gasset, um

    momento histrico em que no muda algo no mundo, mas em que o mundo inteiro muda. (apud

    TELES, 1996, p. 63)

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    Esta viso a respeito da crise elucida com muita clareza o tamanho da tarefa que todos

    aqueles que lutam por um mundo melhor tm pela frente. De que maneira a gerao atual

    pretende deixar o mundo para as geraes futuras? Qual o grau de compromisso da gerao

    atual com a casa em que vive, ou seja, o planeta Terra? Estas e tantas outras perguntas capitais,

    como buscar o sentido da vida, no podem faltar na prtica pedaggica de um professor

    universitrio comprometido com a transformao da sociedade.

    Como colocou Cornlius Castoriadis o problema da condio contempornea de nossa civilizao moderna que ela parou de questionar-se. No formular certas questes extremamente perigoso, mais do que deixar de responder s questes que j figuram na agenda oficial; ao passo que responder o tipo errado de questes com frequncia ajuda a desviar os olhos das questes realmente importantes. O preo do silncio pago na dura moeda corrente do sofrimento humano. Fazer as perguntas certas constitui, afinal, toda a diferena entre sina e destino, entre andar deriva e viajar. Questionar as premissas supostamente inquestionveis do nosso modo de vida provavelmente o servio mais urgente que devemos prestar aos nossos companheiros e a ns mesmos. (BAUMAN, 1999, p.11)

    Questionar e, sobretudo, mudar os fundamentos da civilizao ocidental uma das

    principais tarefas deste tempo de crise. Uma crise em todas as dimenses da vida humana.

    De acordo com Boff (2003, p. 11), trs problemas suscitam a urgncia de uma tica

    mundial: a crise social, a crise do sistema de trabalho e a crise ecolgica, todas de dimenses

    planetrias.

    A crise social revela-se mais claramente atravs da desigualdade entre povos e naes e,

    sem dvida, entre as classes sociais no interior de cada pas, principalmente na realidade injusta

    e, at mesmo cruel dos pases em desenvolvimento.

    A crise do sistema de trabalho pode ser analisada de maneiras diferentes, conforme a

    realidade do pas em estudo, mas dois problemas principais afetam os pases desenvolvidos e em

    desenvolvimento, respectivamente: a natureza do processo tecnolgico, que muitos socilogos

    chamam de desemprego estrutural e o problema conjuntural de pases que padecem de um

    grande atraso econmico.

    Quanto crise ecolgica, este parece ser o problema, pelo menos no campo terico, mais

    visvel e mais discutido, pois se trata, inclusive, da sobrevivncia da prpria espcie humana.

    Em ltima anlise, a crise primeira que origina as demais de natureza antropo-tica, ou

    seja, uma crise de valores efetivamente humanos. Portanto, o ponto de partida para a correo

    dos rumos da civilizao ocidental passa, necessariamente, por uma mudana paradigmtica, ou

    seja, requer uma nova maneira de ver o mundo; uma nova maneira de produzir cincia e,

    principalmente, uma nova maneira de conceber o humano, seja no campo poltico, econmico,

    social, cultural e, especialmente, no campo da tica.

    A antropo-tica instru-nos a assumir a misso antropolgica milnio: trabalhar para a humanizao da humanidade; efetuar a dupla pilotagem do planeta: obedecer

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    vida, guiar a vida; alcanar a unidade planetria na diversidade; respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferena e a identidade quanto a si mesmo; desenvolver a tica da solidariedade; desenvolver a tica da compreenso; ensinar a tica do gnero humano. (MORIN, 2000, p.106)

    A provocao moriniana suscita uma profunda reflexo sobre o lugar da universidade

    como centro irradiador desses valores vitais para a humanidade

    2 O papel da universidade no mundo atual

    Ensinar a tica do gnero humano, eis uma das grandes tarefas da universidade na aurora

    do sculo XXI. Todos os professores comprometidos com a arte de ensinar no podero

    prescindir deste fundamento, independente da disciplina ministrada. Antes de ser uma disciplina

    tcnica ou especfica deve ser uma disciplina humana, ou seja, ela s tem e ter sentido para a

    formao do humano. Para se formar o bom profissional de qualquer rea necessrio aliar a

    slida formao humana com a competncia profissional.

    Num mundo carente de reflexo e de questionamentos, a universidade tem um grande

    papel a desenvolver, ela precisa ter como um de seus objetivos principais o de formar pessoas na

    sua integralidade, isto , formar seres humanos por inteiro. Antes de formar o profissional, a

    universidade tem o dever de formar a pessoa levando em conta a sua singularidade, seus sonhos,

    seus projetos, seus desejos e, claro, deve instigar em cada pessoa o gosto pelo pensar, o gosto

    pelo inconformismo e, portanto, a busca da transformao de tudo que gera desumanidade,

    alienao e coisificao do humano.

    Dentro dessa perspectiva Wanderley (2003, p. 76) traz uma reflexo bastante

    esclarecedora ao afirmar que a universidade parte de um contexto global inclusivo que a

    determina e que, dependendo de seu funcionamento e sentido, ela pode colaborar na

    manuteno ou na transformao da sociedade.

    O fato incontestvel que a universidade tem um grande papel a desempenhar no mundo

    atual, pois o acelerado processo de desenvolvimento tecnolgico e a rpida difuso das

    informaes e do conhecimento tornam a universidade um espao fundamental para a preparao

    de pessoas competentes para atenderem s demandas desse novo tempo; mas conforme j foi

    discorrido anteriormente, a universidade deve preparar a um s tempo os profissionais que o

    mercado precisa e, principalmente, as pessoas de que o mundo precisa.

    Contribuir na promoo de um mundo mais justo, mais equilibrado e com desenvolvimento

    sustentvel so tarefas primordiais para a universidade.

    O mundo conheceu, durante meio sculo, um desenvolvimento econmico sem precedentes. Sem pretender fazer um balano exaustivo deste perodo, o que ultrapassa o quadro de seu mandato, a Comisso gostaria de recordar que, em sua perspectiva, estes avanos se devem, antes de mais nada, capacidade dos seres humanos de dominar e organizar o meio ambiente em funo das suas necessidades, isto , cincia e educao, motores principais do progresso

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    econmico. Tendo, porm, conscincia de que o modelo de crescimento atual depara-se com limites evidentes, devido s desigualdades que induz e aos custos humanos e ecolgicos que comporta, a Comisso julga necessrio definir a educao, no apenas na perspectiva dos seus efeitos sobre o crescimento econmico, mas de acordo com uma viso mais larga: a do desenvolvimento humano. ( DELORS, 1999, p. 69)

    A universidade no tem o poder poltico e, muito menos, um poder mgico para resolver

    todos os problemas da sociedade, mas pode dar uma significativa contribuio para a

    transformao do atual modelo poltico, econmico e social que d corpo e sustentao ao mundo

    dito civilizado.

    Sem ter iluses quanto ao seu peso social nas transformaes, nela se pode e se deve realizar, bem como em outras instncias, o estudo e a pesquisa cientfica que preparem profissionais competentes para a poltica de cincia e tecnologia do pas, para a crtica de teorias explicativas da realidade, para a crtica de modelos e projetos de desenvolvimento, para a formao da conscincia social. (WANDERLEY, 2003, p. 77)

    Esta concepo de universidade evidentemente exige um quadro de professores lcidos,

    responsveis e conscientes da magnitude de seu papel social.

    3 O professor universitrio responsvel

    com esta ampla viso sobre o papel da universidade e de seu prprio papel que o

    professor precisa avaliar constantemente o seu trabalho. Perguntas como: O que significa ser um

    professor responsvel? O que significa saber ensinar? O que necessrio ensinar? so

    fundamentais para o exerccio consciente da docncia no interior da universidade.

    De um modo muito particular, num pas como o Brasil, que precisa de uma poltica mais

    consistente de cincia e tecnologia e, sem dvida, de uma universidade comprometida com a

    construo de um projeto de pas, formando pessoas crticas e verdadeiramente conscientes de

    sua cidadania, contribuindo desta forma para o alargamento da democracia no pas, o trabalho

    docente primordial. Vale destacar, sem sombra de dvida, que no existe neutralidade na

    prtica docente. No fundo, as quatro dimenses da natureza da prtica educativa so: a

    gnoseolgica, a esttica, a tica e a poltica. A prtica educativa fecha essas quatro dimenses.

    Como educador, o professor faz poltica, ento ele tem de se assumir politicamente. (FREIRE,

    2005, p. 317)

    Assim sendo, a prtica pedaggica do professor universitrio responsvel precisa

    contemplar a competncia tcnica, o senso esttico e o compromisso tico e poltico. Ao passar

    para os alunos o contedo de sua matria, o professor carrega consigo a sua viso de mundo, os

    seus sonhos, as suas utopias, por isso no se pode falar em neutralidade de currculo. No cabe

    ao professor fazer politicagem ou proselitismo, mas imprescindvel que o professor tenha

    conscincia clara sobre todas as dimenses inerentes ao seu trabalho. Por tudo isso, torna-se

    patente a necessidade de sua formao permanente.

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    Para Snyders (1995, p. 107), uma alegria encontrar uma pessoa que realiza a unio de

    uma competncia, de um conjunto de convices e de uma experincia de vida. Esta afirmao

    refora a idia de que o professor responsvel aquele que tem compromisso com a formao

    integral do ser humano, isto , tem um olhar e uma prtica pedaggica que transcendem o mero

    contedo de sua disciplina. O professor responsvel aquele que percebe em cada aluno uma

    pessoa; pode-se dizer, com todas as letras, que o professor responsvel aquele que busca fazer

    do mundo um lugar melhor para se viver.

    Os professores verdadeiramente responsveis percebem a crise do mundo atual de duas

    maneiras: como um momento doloroso de passagem e, ao mesmo tempo, como um rico momento

    de oportunidades. E tambm tm a ntida percepo de que a universidade pode contribuir para

    fazer nascer um novo estado de coisas. No a partir de um otimismo ingnuo, mas com base num

    otimismo crtico, ou seja, tendo a objetiva percepo dos limites e possibilidades da educao em

    geral, e da universitria em particular. No uma tarefa fcil, entretanto precisa fazer parte da

    utopia do professor responsvel.

    Os responsveis: so aqueles que procuram dar uma resposta (da responsveis que vem de responsum em latim) adequada s foras em presena; aprendem do passado mantm-se abertos ao futuro, no temem as rupturas necessrias, sem perder o sentido do todo; veem na crise chance de crescer, para isso mudar e decidir-se para ser mais. (BOFF, 1983, p.03)

    Diante da crise social, do trabalho e ecolgica, mas, sobretudo, diante da crise antropo-

    tica, todos os professores responsveis so chamados, atravs de seu trabalho, a dar uma res-

    posta.

    Ainda de acordo com Boff (1983, p. 03) a superao da crise se faz pela lucidez que

    identifica o n problemtico, pela deciso do corte que pe termo decomposio e pelo projeto

    novo adequado ao chamado da hora.

    Com base nesta exposio, os desafios do trabalho docente so extraordinrios, pois

    exigem profundas reflexes: Qual o sentido da aula? Como deve ser realizada a arte de ensinar?

    O que se deve ensinar? E como se deve ensinar?

    Hoje a qualidade da formao do profissional exige muito mais de nossos alunos que

    apenas uma reproduo das informaes que eles receberam em aula. Isto exige uma completa

    modificao do que se entende por aula e o que se faz durante a aula (MASETTO, 2009, p. 84)

    A aula precisa contemplar uma metodologia diversificada, fundada na prtica do dilogo,

    na interdisciplinaridade e no debate argumentado. O ensino precisa contemplar a aprendizagem,

    ou seja, o professor precisa encontrar caminhos para que o aprendizado se efetive para todos. E

    alm do contedo de sua disciplina, o professor deve ensinar o gosto pelo conhecimento e pelo

    pensar, o senso de justia, a busca firme da tica e a percepo esttica das coisas.

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    Dentro dessa perspectiva o professor responsvel pode, at mesmo, tornar-se uma

    referncia para seus alunos; uma referncia humana e de sentido profissional. Enfim, o professor

    pode tornar-se uma figura marcante na vida de seus alunos.

    O professor marcante ensina bem, conhece sua rea... O professor marcante geralmente alia caractersticas positivas do domnio afetivo s do cognitivo... O professor marcante planeja as suas aulas... O professor marcante articula as posies tericas na disciplina que ensina com postura poltica clara... Em resumo, amplia os horizontes prprios e dos alunos, faz-se seguro e incute segurana, busca a verdade a despeito de todas as dificuldades e contingncias. Mas, no meio de tudo isso, no um super-homem ou uma supermulher: tem anseios, dvidas, medos, inseguranas, sonhos, esperanas e desesperanas (Cf. CASTANHO, 2009)

    O professor marcante, isto , responsvel, acima de tudo um profissional srio,

    comprometido com a sua escolha existencial e, acima de tudo, algum que nutre uma profunda

    relao de identidade com esta escolha profissional e existencial. Isto significa, de fato, ser

    professor, no no sentido metafsico, ou seja, algum pronto e acabado, mas no sentido de que

    no algum que tem na docncia um momento meramente transitrio.

    Consideraes finais

    Todas as pessoas que vivem no planeta Terra se encontram numa situao de crise, pois

    como j foi destacado anteriormente, dada a grandiosidade da crise, ningum escapa nem

    mesmo as classes dominantes do atual projeto de mundo.

    Lutar contra a crise uma deciso firme e radical de todos aqueles homens e mulheres

    que acreditam num mundo melhor. dentro deste esprito que deve se colocar o professor

    responsvel. plenamente possvel um professor exercer com muita competncia e qualidade

    tcnica as suas aulas sem fazer uma leitura crtica do mundo mas a verdadeira responsabilidade

    do professor para alm de uma viso tecnicista da profisso com a vida humana. No

    possvel comprometer-se com o direito vida, justia e verdadeira igualdade na diversidade,

    sem criticar o paradigma civilizatrio atual. O professor responsvel aquele que tambm luta

    pela dignidade de sua vida e da vida do outro.

    Como diz, em seu estilo prprio, G. Leakey (Strategy a living revolution), Somos criaturas

    do velho sistema que, no obstante isso, queremos construir o novo sistema: um de nossos

    programas deve ser ns mesmos (MORIN, 2010, p. 65)

    Referncias BAUMAN, Z. Globalizao: as consequncias humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. BOFF, L. Que significa crise? Folha de So Paulo, 1983, p. 03.

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    _______ Ethos mundial. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. CASTANHO, Maria E. Sobre professores marcantes. In: CASTANHO, S e CASTANHO, Maria E. (orgs.) Temas e textos em metodologia do ensino superior. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 2009. DELORS, J. Educao: um tesouro a descobrir. XXI. 2 Ed. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: MEC: UNESCO, 1999. Relatrio para a UNESCO da Comisso Internacional sobre educao para o sculo XXI FREIRE, P. Pedagogia da tolerncia. Paulo Freire; organizao e notas Ana Maria Arajo Freire. So Paulo: UNESP, 2005. MASETTO, Marcos T. Atividades pedaggicas no cotidiano da sala de aula universitria: reflexes e sugestes prticas. In: CASTANHO, S e CASTANHO, Maria E. (orgs.) Temas e textos em metodologia do ensino superior. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 2009. MORIN, E. Cincia com conscincia. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. __________ Os sete saberes necessrios educao do futuro. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2000. __________ Para onde vai o mundo? Petrpolis, RJ: Vozes, 2010. SNYDERS, G. Feliz na universidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. TELES, Maria L.S. Filosofia para jovens: uma iniciao filosofia. Petrpolis, RJ: Vozes, 1996. WANDERLEY, Luiz E.W. O que universidade. 2 rev. da 9 Ed. So Paulo: Brasiliense, 2003.