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Periodontite: uma das causas de perda de dentes Estima-se que 80% da população adulta, potencialmente, sofra de doença perio- dontal. A doença periodontal – enquanto patologia que afecta os tecidos de suporte dentário – é, por vezes, negligenciada pela ausência de informação sobre os sinais e sintomas que a acompanham. Sendo nas suas formas menos graves facilmente trata- da, quando em estados avançados pode le- var à perda de dentes. |Pag.14 No âmbito da boa gover- nação e da liderança participativa, o ministro da saúde, Luís Gomes Sambo, falou recente- mente sobre o estado do sector e revelou que a es- perança de vida dos an- golanos consta entre os melhores do continente: era de 41 anos, em 1990, passou para 49 anos, em 2000, e, actualmente, é de 61 anos. A mortalidade infantil que, em 1990, era de 258 óbitos por mil nascidos vivos, melhorou para 158 por mil, em 2007, e hoje é de 44 óbitos por mil nascidos vivos. A conferência de im- prensa completa do mi- nistro Gomes Sambo pode ser acedida em www.jornaldasaude.org O Caminho do Bem European Society for Quality Research Lausanne EUROPE BUSINESS ASSEMBLY OXFORD jornal Ano 8 - Nº 79 Fevereiro/Março 2017 Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude a saúde nas suas mãos A N G O L A da Ordem dos Médicos homenageia 131 profissionais pelo cumprimento do dever A Ordem dos Médicos de Angola (ORMED) homenageou 131 médicos que completa- ram 25 anos de carreira pela sua entrega à saúde e bem-estar das populações. Na cerimónia – que teve lugar no dia do médico – o bastonário da Ordem, Carlos Alberto Pinto de Sousa, disse ao Jornal da Saúde que o acto teve “um significado muito impor- tante porque distingue, ao mais alto nível, todos aqueles que tiveram um desempenho exemplar, que actuaram com profissionalismo e humildade, cumpriram os deveres e souberam transmitir às novas gerações um legado salutar”. |Pags.3 a 5 O suicídio em Angola Primeiro estudo a nível nacional apresentado em livro Os dados relativos à prática do suicídio foram, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tratados e analisados, permitindo traçar um retrato da situação no país. Combater um problema que se torna cada vez mais comum é o objectivo das autoras do estudo. "O livro também ensina os leitores a defenderem-se, a protegerem-se, a proteger os outros, a ajudarem-se a si próprios e a ajudar os outros", revelam. |Pags.6 a 13 FAUSTA DA CONCEIÇÃO “Se conseguirmos, com a edição desta obra, evitar um caso de suicídio que seja, já será muito bom, porque só o facto de conseguirmos salvar uma vida é gratificante para o resto da nossa existência” Esperança de vida dos angolanos aumentou 50% nas últimas décadas

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Periodontite:uma das causas de perda de dentes

Estima-se que 80% da população adulta,potencialmente, sofra de doença perio-dontal. A doença periodontal – enquantopatologia que afecta os tecidos de suportedentário – é, por vezes, negligenciada pelaausência de informação sobre os sinais esintomas que a acompanham. Sendo nassuas formas menos graves facilmente trata-da, quando em estados avançados pode le-var à perda de dentes. |Pag.14

No âmbito da boa gover-nação e da liderançaparticipativa, o ministroda saúde, Luís GomesSambo, falou recente-mente sobre o estado dosector e revelou que a es-perança de vida dos an-golanos consta entre osmelhores do continente:era de 41 anos, em 1990,passou para 49 anos, em2000, e, actualmente, éde 61 anos.A mortalidade infantilque, em 1990, era de 258óbitos por mil nascidosvivos, melhorou para158 por mil, em 2007, ehoje é de 44 óbitos pormil nascidos vivos.A conferência de im-prensa completa do mi-nistro Gomes Sambopode ser acedida emwww.jornaldasaude.org

O Caminho do BemEuropean Society for

Quality ResearchLausanne

EUROPE BUSINESS ASSEMBLY

OXFORD

jornalAno 8 - Nº 79Fevereiro/Março2017Mensal Gratuito Director Editorial: Rui Moreira de Sá

MINISTÉRIO DA SAÚDEGOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA aude

a saúde nas suas mãosA N G O L A

da

Ordem dos Médicos homenageia 131 profissionais pelo cumprimento do deverA Ordem dos Médicos de Angola (ORMED) homenageou 131 médicos que completa-ram 25 anos de carreira pela sua entrega à saúde e bem-estar das populações.Na cerimónia – que teve lugar no dia do médico – o bastonário da Ordem, Carlos AlbertoPinto de Sousa, disse ao Jornal da Saúde que o acto teve “um significado muito impor-tante porque distingue, ao mais alto nível, todos aqueles que tiveram um desempenhoexemplar, que actuaram com profissionalismo e humildade, cumpriram os deveres esouberam transmitir às novas gerações um legado salutar”. |Pags.3 a 5

O suicídio em Angola

Primeiro estudoa nível nacionalapresentado em livro

Os dados relativos à prática do suicídio foram, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tratados eanalisados, permitindo traçar um retrato da situação no país. Combater um problema que se torna cadavez mais comum é o objectivo das autoras do estudo. "O livro também ensina os leitores a defenderem-se, aprotegerem-se, a proteger os outros, a ajudarem-se a si próprios e a ajudar os outros", revelam. |Pags.6 a 13

FAUSTA DA CONCEIÇÃO“Se conseguirmos, com aedição desta obra, evitar umcaso de suicídio que seja, jáserá muito bom, porque só ofacto de conseguirmos salvaruma vida é gratificante parao resto da nossa existência”

Esperança de vida dos angolanos aumentou 50% nas últimas décadas

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2  OPINIãO Fevereiro/Março 2017 JSA

Conselho editorial: Prof. Dr. Miguel Bettencourt Mateus (co-ordenador), Dra. Adelaide Carvalho, Prof. Dra. Arlete Borges,Enf. Lic. Conceição Martins, Dra. Filomena Wilson, Dra. Hel-ga Freitas, Dra. Isabel Massocolo, Dra. Isilda Neves, Dr. Jo-aquim Van-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Dr. JosinandoTeófilo, Prof. Dra. Maria Manuela de Jesus Mendes, Dr. Mi-guel Gaspar, Dr. Paulo Campos.Director Editorial: Rui Moreira de Sá [email protected]; Redacção: Susana Gonçalves (edição); Cláudia Pinto; Fran-cisco Cosme dos Santos.Correspondentes provinciais: ElsaInakulo (Huambo); Diniz Simão (Cuanza Norte); CasimiroJosé (Cuanza Sul); Victor Mayala (Zaire)

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FICHA TÉCNICA 

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De acordo com uma recente mensagem da directora regional daOrganização Mundial da Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moe-ti, por ocasião do Dia Mundial da Saúde (7 de Abril), cerca de 322milhões de pessoas no mundo são afectadas pela depressão, con-siderada umas das principais causas de incapacidade a nível mundial,e um dos factores que contribuem para o fardo mundial de doen-ças. Na região africana, são perto de 30 milhões de pessoas.A depressão é uma das principais causas das mortes por suicídio,aproximadamente 800 mil por ano. É, aliás, a segunda principal causamundial de morte em jovens dos 15 aos 29 anos. Em Angola, em2014 e no primeiro semestre de 2015, registou-se um total de 783casos, dos quais 85% são homens, com Luanda à cabeça, seguida deperto pela Huíla.A depressão afecta pessoas de todas as idades, de todos os qua-drantes e em todos os países. O estigma e o receio do isolamentosocial são obstáculos à procura de ajuda, existindo uma necessidadepremente de prevenir e tratar as pessoas atingidas por este grave

e complexo problema de saúde.Sem tratamento, a depressão pode ser recorrente, duradoura, pre-judica a capacidade de um indivíduo para lidar com as actividadesdiárias, e pode ter consequências devastadoras para o relaciona-mento com a família e os amigos.Nem de propósito, os dados relativos à prática do suicídio em An-gola foram agora, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tra-tados e analisados. Este trabalho de elevado valor científico, reunidoem livro lançado este mês em Luanda, da autoria de Fausta Concei-ção, Luísa Assis, Edite Neves e Rosária Neto, permite traçar um re-trato da situação no país e combater um problema que se torna ca-da vez mais comum. Os transtornos psíquicos, como a depressão,a esquizofrenia, o consumo de álcool e outras drogas, ou o trans-torno bipolar estão entre as principais causas de suicídio no nossopaís, mas a estas juntam-se motivos como “a existência de proble-mas financeiros e passionais”, entre outros.A ler nesta edição.

Depressão e suicídiode mãos dadas

Rui MoReiRa de Sá

Director [email protected]

O Jornal da Saúde chega gratuitamente às suas mãos graças ao apoio das seguintes em-

presas e entidades socialmente responsáveis que contribuem para o bem-estardos angolanos e o desenvolvimento sustentável

do país.

QUADRO DE HONRAEmpresas Socialmente

Responsáveis

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3DIA DO MÉDICOFevereiro/Março 2017 JSA 

Ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo 

“Os médicos dedicam a vidaao serviço da humanidade”nA Ordem dos Médicos deAngola (ORMED) homena-geou 131 médicos que com-pletaram 25 anos de carreirapela sua entrega à saúde ebem-estar das populações.Na cerimónia – que teve lu-gar no dia do médico, a 26de Janeiro, em Luanda – oministro da Saúde, Luís Go-mes Sambo, sublinhou que“todos os médicos devem fi-delidade à profissão e, comosempre, têm que dedicar assuas vidas ao serviço da hu-manidade”.Disse ainda que têm

também que exercer a pro-fissão com consciência edignidade, colocar a saúdedo doente acima de qual-quer interesse, a obrigaçãode preservar a vida humana,o dever de pôr os conheci-mentos científicos e as tec-nologias de saúde com todaa lealdade ao serviço dosdoentes.O dirigente acrescentou

que os profissionais de saú-de devem ter a capacidade ea honestidade para conhe-

cerem os seus limites, eaceitar chamar outros mé-dicos, com mais qualifica-ção ou mais experientes,sempre que necessário.No dia em que a Ordem

dos Médicos de Angolacompletou o seu 27º aniver-sário, o ministro lembrou àclasse médica que prestarassistência a um doente emestado grave nos serviços deurgências é um dever hu-manitário.Gomes Sambo fez men-

ção ao código internacionalde ética médica de 1949. Es-te documento determinaque o médico deve manter omais alto nível de condutaprofissional e não permitirque a ganância ou lucro in-fluenciem o exercício livreda medicina, independen-temente do seu juízo profis-sional sobre os doentes. E,ainda, que o médico devetratar os colegas e os doen-tes com honestidade e de-nunciar os que possuem ca-rácter inadequado e defi-ciente, no que diz respeito a

competência, sobretudo osque ocorrem em fraudes ouengano.

Humanização dos serviçosO governante convidou to-dos os médicos para consi-derarem a humanizaçãodos serviços de saúde comoparte da agenda de traba-lho. Com vista a melhorar ocomportamento de váriosmédicos e as respectivas to-madas de decisões em rela-ção à profissão, aconselhoua pautarem sempre a suaconduta pelo juramento deHipócrates, código interna-cional de ética médica e ou-tros manuais como princi-pais guias. No certame, o titular da

pasta da saúde felicitou obastonário da Ordem dosMédicos, e os que lhe ante-cederam, pelos progressosrealizados em matéria deorganização interna da Or-dem e pelas suas contribui-ções decisivas para a edifi-cação do Serviço Nacionalde Saúde.

Bastonário Carlos Alberto Pinto de Sousa

“Homenageamos osmédicos que actuaramcom profissionalismo ehumildade, cumpriramos deveres e tiveram umdesempenho exemplar”

nNa cerimónia de homena-gem aos médicos que com-pletaram 25 anos de carreira- que teve lugar no dia domédico, a 26 de Janeiro, emLuanda – o bastonário da daOrdem dos Médicos de An-gola (ORMED), Carlos Al-berto Pinto de Sousa, disseao Jornal da Saúde que o ac-to teve “um significado mui-to importante porque distin-gue, ao mais alto nível, todosaqueles que tiveram um de-sempenho exemplar, queactuaram com profissiona-lismo e humildade, cumpri-ram os deveres e souberamtransmitir às novas geraçõesum legado salutar”.No quadro do lema adop-

tado este ano “Trabalhar pa-ra humanizar o atendimen-to”, Carlos Pinto de Sousalembrou aos médicos o seupapel fundamental na hu-manização, que passa tam-bém pelo contacto com ospacientes e suas famílias. “Aclasse é incentivada a nuncaesquecer que, para ser mé-dico, é preciso pensar, pri-meiro que tudo, nos doentese, consequentemente, nãopermitir a existência de bre-chas no edifício moral destaprofissão, construída ao lon-go de vários anos”.O bastonário garantiu

que a Ordem vai continuar apugnar no sentido dos mé-dicos, integrados em equi-pas de saúde, exercerem a li-derança decorrente do mé-rito e da prova irrefutável dasua competência. “A Ordemdefende, preconiza e esti-mula o papel primordial dosmédicos junto das popula-

ções e promove constante-mente uma aproximação aoutras associações de profis-sionais”.A instituição assume ain-

da o compromisso de con-tribuir, de forma inequívoca,para a execução das acçõesde saúde que as políticas pú-blicas definam como priori-tárias no âmbito da saúde nopaís.O bastonário Pinto de

Sousa defendeu ainda que“os médicos devem valori-zar os novos conceitos que amedicina defende, ou seja,permanente e actuante pro-fissionalismo, adaptando-seà realidade sem ferir os valo-res fundamentais que cons-tam no código deontológicoda profissão médica”.Não obstante a medicina,

nas últimas cinco décadas,ter sofrido transformaçõessignificativas motivadas pe-la evolução científica e tec-nológica, e também pelospadrões nosológicos, e de seobservarem novos paradig-mas evolutivos marcadospela ramificação da medici-na em especialidades médi-

cas e áreas de actuação, “aprofissão de médico conti-nua baseada no juramentohipocrático dos pontos devista formal e substancial”,lembrou.“O que vale dizer que

continua a valorizar-se a re-lação médico-doente, nasua dimensão holística e hu-manista, cujo conteúdo ul-trapassa a ideia utilitaristada profissão”, sublinhou.De acordo com Pinto de

Sousa, “o compromisso dosmédicos assume a respon-sabilidade consciencializa-da face aos doentes e àsdoenças, a liberdade deprescrição dentro dos limi-tes impostos do código éti-co-deontológico, a verticali-dade de procedimentos,portanto não vulneráveis ainteresses mercantilistas esem prejuízo da sua dignifi-cação social e material, hu-mildade intelectual que éexigida pela grandeza dosque reconhecem a necessi-dade de actualização cientí-fica permanente e solidarie-dade para com os colegas”,concluiu.

Francisco cosmE Dos santos

com rUi morEira DE sÁ

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4  DIA DO MÉDICO Fevereiro/Março 2017 JSA 

“Somos dos primei-ros médicos a exercermedicina no períodopós-independênciaem Angola”Menezes Pedro

Freitas

PediatraFaculdade de Medicina da Universidade Agostinho NetoHospital Municipal do Bailundo, Huambo

Para mim, esta homenagemsignifica, em primeiro lugar,o reconhecimento do esforçoempreendido nos estudos,dado que não foi fácil, no pas-sado, fazer uma licenciaturaem medicina. Em segundolugar, um grande reconheci-mento do contributo dado aosector de saúde e o trabalhoque prestei às populaçõesque precisavam dos cuida-dos sanitários desde o inícioe durante toda a minha car-reira médica no país.Os principais desafios

que enfrentei foram a adap-tação repentina a que tive deme sujeitar devido aos tra-balhos que desenvolvi emcondições adversas. No iní-cio, durante os estudos, jáhavia muitas dificuldades,pois faltavam livros, compu-tadores, energia eléctrica…Após a formação, trabalhá-vamos com o que era possí-vel, porque não tínhamosoutras alternativas e tam-bém éramos os primeirosmédicos a exercer a medici-na no período pós-indepen-dência em Angola.

“Integro o grupo demédicos que enfren-taram muitas dificul-dades para se forma-rem”Eunice Manico

Faculdade de Medicina, daUniversidade Agostinho NetoChefe do departamento dapromoção e gestão de dado-res de sangue

Instituto Nacional de Sangue

Esta homenagem tem umsignificado extremo que medeixa bastante orgulhosa.Na realidade, integro o gru-po de médicos que enfrenta-ram muitas dificuldades pa-ra se formarem. Consideroassim uma grande batalhachegarmos até este dia queconsagra os 25 anos de car-reira de vários edificadoresda medicina no país.Os principais desafios

que enfrentei ao longo doexercício da medicina forammuito difíceis, desde a faltade cultura, por parte dos an-golanos, quanto à necessi-dade e valor da doação desangue, o que tem sido umaluta constante para salvar vi-das, entre outros reptos queque o tempo apagou… Um caso de sucesso na

minha carreira consistiu naformação que fiz para metornar especialista, após lon-gos anos à espera desta es-pecialidade.

“Pode-se melhorar asaúde se todos os pro-fissionais primarempela humanização eolharem os pacientescom zelo e muitoamor”Elisa Gaspar

Faculdade de Medicina doInstituto Superior de Ciên-cias Médicas na ex-URSSPediatra-neonatologista ecoordenadora do núcleo doaleitamento maternoMaternidade Lucrécia Paim

Esta homenagem tem umgrande significado porquevem lembrar o que repre-sentaram para mim estes 25anos de exercício de medici-na. Na verdade, foram mui-tas as vitórias no processo deaquisição de mais conheci-mentos ao longo da profis-são: fiz dois mestrados emsaúde materna infantil noBrasil, e de saúde pública emEspanha, e vários outros cur-sos, entre os quais o de for-mação de formadores emtrês etapas (Angola, Singa-pura e Cabo Verde) para omelhoramento dos progra-mas a nível da África.Os principais desafios

que enfrentei foram a faltade equipamentos e de tec-nologia em geral. Quandoregressei ao país, não exis-tiam os quadros que temosactualmente. Éramos trêsmédicos que trabalhávamosno berçário da maternidade.Após o falecimento de um,tivemos de fazer incontáveissacrifícios para garantir a as-sistência de muitas criançasque nasciam diariamente. Um caso de sucesso que

realço foi, por coincidência,relacionado com um fami-liar: a minha tia abortava fre-quentemente, sem querer.Foi assim hospitalizada, du-rante cerca de dois meses,para poder ter, finalmente,um bebé. Acompanhei-a empermanência. Como médi-ca, após o serviço ia a casaapenas para trocar de roupae regressava de imediato pa-ra cuidar dela. Quando deuà luz foi uma alegria e nãome ausentei sem que ela re-cebesse o título de alta!Pode-se melhorar a saú-

de se todos os profissionaisprimarem pela humaniza-ção dos serviços, olhando ospacientes com zelo e muitoamor.

“Durante toda a vida,empenhei-me paraque muitas mulheresconseguissem teruma gravidez sem ris-cos e filhos saudá-veis”Augusta Leonel

Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho NetoGineco-obstetraClínica Girassol

Esta homenagem tem paramim um significado de ex-trema importância, porquejá passaram 25 anos desdeque me formei e, ao longodeste período, dei o meumelhor em prol da saúdedos angolanos. Agradeço àOrdem dos Médicos de An-gola por esta louvável inicia-tiva de reconhecimento atodos os profissionais que sededicaram inteiramente aoexercício da medicina nopaís.Os principais desafios

que enfrentei na carreira fo-

ram, por um lado, aplicar naprática tudo que tinhaaprendido na formação aca-démica, e, por outro, empe-nhar-me cada vez mais paraque muitas mulheres con-seguissem ter uma gravidezsem riscos e filhos saudá-veis.Entre outros casos de su-

cesso, destaco os episódiosde várias mulheres que nãoconseguiam terem filhos,com histórias de fertilidadedifíceis, e ter conseguidotratá-las com êxito. Inclusi-ve, houve muitas mães queatribuíram o meu nome aosseus filhos pelo reconheci-mento do meu trabalho.Pode-se melhorar a saú-

de apostando na formaçãode quadros e investindoneste sector, priorizando-o,de forma a desenvolvê-lo.

“O desafio mais grati-ficante foi a contri-buição permanentepara a melhoria dasaúde da populaçãoangolana”Ana Ruth Luís

Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho NetoDirectora dos serviços de saúde da Chevron para África AustralChevron Angola

Esta homenagem tem umgrande significado porque é

um reconhecimento mere-cedor, de um trabalho longo,com grandes dificuldadesenfrentadas na formação.Entre os principais desa-

fios encarados, sublinharia adefesa do curso em 1992,quando o país estava emconflito armado e eu tiveque defender a tese numacorreria total, devido à guer-ra que assolava a capital. Ou-tros desafios que não foramnada fáceis consistiram naminha especialização, omestrado, e – a mais gratifi-cante – a responsabilidadeque suportamos, até ao pre-sente momento, de contri-buirmos para a melhoria dasaúde junto a toda a popula-ção angolana.Casos de sucessos são

inúmeros: as vidas que sal-vei, doentes que consegui-

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5DIA DO MÉDICOFevereiro/Março 2017 JSA 

A Bial patrocinou a ga-

la de homenagem aos

médicos pelos seus

25 anos de carreira. O

seu director em An-

gola, Nuno Cardoso,

disse ao JS que foi uma

honra para a farma-

cêutica poder asso-

ciar-se ao merecido

reconhecimento aos

médicos pela sua en-

trega à saúde e bem-

estar das populações.

A Bial actua em cinco

áreas terapêuticas, de-

signadamente a anti-

bioterapia, maternida-

de, sistema nervoso

central, laringologia e

a dor. Entre os princi-

pais produtos que dis-

ponibiliza, salientam-

se o Clavamox, Tricef,

Uroflox, Sedoxil, Foli-

cil, Folifer, Yodafar, Ri-

nialer, Reumon, e o

Rantudil.

Sem revelar mais de-

talhes, este responsá-

vel revelou que a Bial

vai lançar, até Junho,

um novo produto que

vem satisfazer uma

grande necessidade

em Angola.

“O momento pertur-

bador no fornecimen-

to dos medicamentos

já foi ultrapassado, o

grupo está optimista e

acredita que 2017 e

2018 serão anos de

progresso, devido à

regulamentação e or-

ganização da esfera

farmacêutica, fruto

dos esforços do exe-

cutivo”, concluiu.

Bial Angolapatrocinoua gala

ram restabelecer a sua con-dição de saúde e, modéstia àparte, a minha nomeaçãocomo directora dos serviçosde saúde da Chevron para aÁfrica Austral, entre outrosque foram ganhos no decor-rer da carreira profissional ede que já não me lembro. Pode-se melhorar a saú-

de revendo primeiramentea qualidade da formaçãodos médicos. Na realidade, amedicina é uma profissão euma carreira que requerconstantes atualizações.Destacaria ainda a educaçãoda população, no sentido depautarem os seus comporta-mentos sempre pela pre-venção, dando a conheceras doenças que existem e co-mo podem ser prevenidas.

“Faço parte do lequede médicos que edifi-caram e primarampara o desenvolvi-mento da medicinaem Angola”Francisco Sica

Faculdade de Medicina Uni-versidade Agostinho NetoOftalmologistaMarinha de Guerra

Esta homenagem significa ogrande reconhecimento detodos que acompanharam o

crescimento da Ordem econtribuíram bastante parao desenvolvimento da saúde– que continua a ter progres-sos significativos. Os principais desafios

que enfrentei não fogem docontexto que se vivia na altu-ra em que me formei. A faseem que comecei a desempe-nhar a medicina era umaépoca difícil, quer para a for-mação, quer para o exercícioda profissão. Acresce que,logo após a conclusão docurso, decidi servir o exérci-to e ingressei nas FAPLA.O facto de ter ingressado

na Faculdade com uma ida-de inferior a 18 anos e estarformado antes dos 25 anosde idade, sem nenhuma re-provação, constituiu, paramim, um caso de sucesso. Etambém ter feito parte do le-que de médicos que edifica-ram e primaram para o de-senvolvimento da medicinaem Angola, para além daformação de especializaçãoem oftalmologia no exército.Pode-se melhorar a saú-

de com bastante trabalho,garantindo condições a to-dos os níveis, no sentido dehaver mais dedicação e em-penho por parte dos profis-sionais.

“Pode-se melhorar asaúde procedendo àcapacitação contínuados médicos e dos téc-nicos que integram asequipas”Pedro Gaspar

Faculdade de Medicina da Universidade AgostinhoNetoDirector da saúde da IngombotaRepartição da Saúde da Ingombota

Esta homenagem tem umsignificado importantíssi-mo na minha carreira, poistrata-se de um gesto que meorgulha bastante como mé-dico que sou.O principal desafio que

enfrentei consistiu basica-mente em ter exercido aprofissão em condições ad-versas nas unidades sanitá-rias, com falta medicamen-tos, de material gastável, deequipamentos, entre outros

problemas de vária ordem –situação que, entretanto,melhorou.Pode-se melhorar a saú-

de em vários aspectos. Des-de o nível institucional à ca-pacitação contínua dos mé-dicos e de tantos outrostécnicos que integram asequipas que dão um contri-buto significativo ao sector.

“Partos impossíveispor via natural, reali-zaram-se com suces-so por cesariana. Ho-je, essas crianças sãoadultos saudáveis econtribuem para odesenvolvimento socioeconómico do país”Kirino Tchivanja

Faculdade de Medicina da Faculdade Agostinho NetoGinecologistaMaternidade Lucrécia Paim

Esta homenagem tem umsignificado bastante valioso,não só para mim, mas paratodo grupo que se formoucom tanta determinação em1992, e que vem contribuin-do significativamente parao desenvolvimento do sec-tor da saúde no país.Os principais desafios

que enfrentei foram sem-pre, e continuam a ser, oscuidados que tenho dedica-do às mulheres que acor-rem ao hospital, com zelo ededicação. São inúmeros os casos de

sucessos que obtive na mi-nha carreira. Os que maisme marcaram foram os par-tos impossíveis de seremfeitos por via natural, ape-nas por cesariana, e com ofruto do nosso trabalho rea-lizaram-se com muito su-cesso. Hoje, estas crianças jáatingiram a idade adulta,gozam de boa saúde, e con-tribuem para o desenvolvi-mento socioeconómico dopaís, em diversas esferas davida pública. Pode-se melhorar a saú-

de exigindo-se um grandeesforço de toda sociedade.Em primeiro lugar, o sanea-mento básico tem de fun-cionar. Em segundo lugar,deve-se garantir o forneci-mento de água potável para

todos, de forma a evitarem-se inúmeras doenças adqui-ridas por ingestão de águasnão tratadas.

“Nas primeiras jorna-das de vacinação tive-mos de percorrer lo-calidades minadas,com vias intransitá-veis, mas com esforçoe dedicação conse-guimos atingir cober-turas elevadíssimas”Miguel dos Santos

de Oliveira

Universidade de Sinforoso naCrimeia, República da Ucrâ-nia, ex-URSS Director Nacional de SaúdePública

Esta homenagem constituium marco de extremo sig-nificado que me faz reflectirimenso. Demostra o empe-nho que tive pelos estudos,o sacrifício empreendidoao longo destes 25 anos decarreira que contribuírambastante para o bem-estardas populações.O principal desafio que

enfrentei consistiu naadaptação à realidade nopaís, após a minha forma-ção ao longo de anos no ex-terior, designadamente àscondições de trabalho queencontrei nas provínciasdurante a guerra, quandotínhamos como missão le-var a saúde junto das popu-lações. Outro repto que melembro foi durante as pri-meiras jornadas de vacina-ção. Tivemos de percorrerlocalidades minadas, comvias intransitáveis. Foigrande o esforço e dedica-ção, mas conseguimosatingir coberturas elevadís-simas.Casos de sucesso são vá-

rios: as nomeações comodirector hospitalar, direc-ção provincial da saúde, aabertura de várias unida-des sanitárias em Luanda, aformação e recolocaçãodos quadros do interior.Pode-se melhorar a saú-

de trabalhando cada vezmais, apostando fortemen-te na formação de técnicos,e não considerar que a saú-de se trata apenas nos hos-

pitais, mas sim antes, a ní-vel da prevenção.

“No início da carreiradeparei-me com si-tuações muito com-plexas nos hospitais,as quais só foram ul-trapassadas com o es-pírito de equipa e aju-da mútua entre osprofissionais”Albino Teixeira

Faculdade de Medicina daUniversidade Agostinho NetoDirector da Clínica da Mari-nha de Guerra AngolanaMarinha de Guerra

Esta homenagem é o reco-nhecimento do trabalho ár-duo que fiz nestes 25 anosde carreira médica. Comomilitar que sou, tive de de-sempenhar a profissão emépocas de guerra, o que foimuito difícil, visto que esta-va no início de carreira e de-parava-me com inúmerassituações muito complexasnos hospitais, as quais só fo-ram ultrapassadas com oespírito de equipa e ajudamútua entre os profissio-nais.No período de guerra ha-

via muitos feridos para se-rem assistidos, os recursoseram poucos, como a faltade medicamentos, matériasgastáveis…O que nos faziaresistir naquela altura, e quefalava mais alto perante vá-rias situações calamitosas,era o patriotismo.Um dos casos de sucesso

na minha carreira foi a espe-cialização em cuidados in-tensivos no Brasil e admi-nistração hospitalar na Uni-versidade Nova de Lisboa, oque me tornou num médicopolivalente. Pode-se melhorar a saú-

de investindo fortemente nosector, principalmente nasaúde preventiva. Deve ha-ver uma maior mobilização,porque é do conhecimentode todos a nossa populaçãoé maioritariamente analfa-beta. É preciso mais educa-ção sanitária. E, também,melhorar as condições doshospitais, comissões técni-cas e a formação contínuados profissionais.

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n Preocupadas com o au-mento do número de casosde suicídio de que começa-ram a ter conhecimento,quatro especialistas angola-nas em saúde mental decidi-ram analisar mais profunda-mente o fenómeno, procu-rando explicações para ofacto de cada vez mais pes-soas optarem por terminarcom a própria vida e, sobre-tudo, para encontrarem for-mas para tentarem impedirnovos casos. O resultadodeste trabalho, da autoria de

Fausta Conceição, Luisa As-sis, Edite Neves e Rosária Ne-to, é o livro O Suicídio em An-gola, recentemente lançadoem Luanda.Conscientes de que nem

todos os casos de suicídiopodem ser evitados, estas es-pecialistas sabem que a ha-bilidade em lidar com eles,assim como saber identificarsinais de alarme, pode fazertoda a diferença. Com estaobra pretendem, também,fornecer ferramentas paraque, além dos profissionais

de saúde, também o cidadãocomum consiga identificarum potencial suicida e inter-vir de forma a evitar quecumpra a sua decisão. “Não é assim tão compli-

cado tentar prevenir o suicí-dio”, afirma a psiquiatraFausta Conceição, autora etambém coordenadora deSuicídio em Angola. Ao Jor-nal da Saúde explicou que,“em primeiro lugar, é precisoaprender a reconhecer ospedidos de ajuda que, geral-mente, são desvalorizados. É

a partir desses pedidos deajuda que podemos actuar”.E exemplifica, “se alguémdiz, ‘Não aguento, estou fartoda vida’, só o simples facto deo dizer já deve ser uma cha-mada de atenção. Ninguém,no seu estado normal, está‘farto da vida’. Todos sabe-mos que a vida tem altos ebaixos e conseguimos geri-los sem pensar em suicídio”.Porém, não basta conseguirdetectar uma situação de pe-rigo. “É preciso saber comoactuar”, sublinha a psiquia-

tra. E, com esse objectivo, olivro agora lançado inclui “al-gumas indicações de formascomo podemos ajudar. É es-crito de forma muito sucinta,não é cansativo. Se fosse umtexto muito exaustivo, as pes-soas poderiam não seguir aleitura. Penso que está inte-ressante porque há vários tó-picos e, cada tópico ensinauma coisa. Ensina os leitoresa defenderem-se, a protege-rem-se, a proteger os outros,a ajudarem-se a si próprios ea ajudar os outros. Tornapossível intervir em situa-ções no seio familiar, entreamigos, no meio profissio-nal”. É um livro escrito paraprofissionais? “Não. É um li-vro instrutivo que pode ser li-do por quem o desejar”, afir-ma a autora.No entanto, a publicação

tem ainda um outro objecti-vo mais específico. “Este livrofoi feito para ser utilizado emfuturos estudos, em Angola”,revela. “Um dos problemasque enfrentamos no país é ainexistência de bibliografiapara comparação. Não po-demos fazer estudos empíri-cos baseados em bibliografiade outros países. Os estudostêm de começar a ser feitosaqui. Nesse sentido, usámosum questionário que deveráser utilizado em futuras reco-lhas, para que os dados este-jam mais esquematizados.Tivemos algumas dificulda-des nesse aspecto porquehavia muitas omissões emrelação a muitos dados quedeveriam ser referidos e nãoforam”, lamenta, acrescen-

Primeiro estudo a nível nacional apresentado em livro

SuSana GonçalveS

Os dados relativos à prática do suicídio foram, pela primeira vez, recolhi-dos a nível nacional, tratados e analisados, permitindo traçar um retratoda situação no país. Combater um problema que se torna cada vez maiscomum é o objectivo das autoras do estudo.

O suicídio em Angola

6 SAÚDE MENTAL Fevereiro/Março 2017 JSA

“Os transtornos psíquicos, como a depressão, a esquizofrenia, o consumo de álcool e outras drogas, ou o transtorno bipolar, por exemplo, estão entre as principais causas de suicídio, mas a eles juntam-se motivos como “a existência de problemas financeiros e passionais”

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tando que “todo o livro é ba-seado em factos reais, apura-dos através dos dados reco-lhidos com a ajuda da polí-cia, em todas as provínciasdo País.”

Causas, métodos e prevalênciaAnalisados os dados dispo-níveis, as autoras do livroconcluem que os casos desuicídio em Angola não sedistinguem muito da gene-ralidade dos casos de outraslatitudes no que diz respeitoa causas e métodos utiliza-dos ou à prevalência em rela-ção ao sexo ou idade. Os transtornos psíquicos,

como a depressão, a esqui-zofrenia, o consumo de ál-cool e outras drogas, ou otranstorno bipolar, porexemplo, estão entre as prin-cipais causas de suicídio,mas a eles juntam-se moti-vos como “a existência deproblemas financeiros e pas-sionais”, por exemplo. A época de crise econó-

mica que vivemos está direc-tamente ligada ao aumentodo número de casos de suicí-dio, defende Fausta Concei-ção. “A crise de que tanto sefala leva ao suicídio. Às vezes,as pessoas sentem-se des-prezadas ou fora de um de-terminado circuito socialporque não conseguem con-quistar as vitórias que outros,à sua volta, conseguem. Essasensação de fracasso leva-asa olhar para o futuro sem en-contrarem uma saída” e, co-mo acontece em todo omundo, também aqui o sui-cídio se apresenta comouma “solução final”.Há, no entanto, uma cau-

sa bem específica de Angola:“as acusações de feiticismo,que ainda persistem no País”e que estão na origem demuitos casos.Os métodos utilizados

também não diferem muitodos que são mais utilizadosem todo o mundo. “O maisfrequente, no nosso meio, éa asfixia por enforcamento -sobretudo no caso dos ho-mens - enquanto que nospaíses nórdicos e europeuso método mais comum é orecurso à arma de fogo. Mastambém temos casos de afo-gamento, de precipitação novazio, de intoxicação pormedicamentos ou venenose atropelamentos provoca-dos pelas próprias vítimas”,enumera a psiquiatra. Em Angola, tal como no

resto do mundo, o número

de homens que se suicidamé muito superior ao das mu-lheres. “Os homens matam-se, as mulheres experimen-tam”, afirma a especialista.“Na maior parte dos casos, amulher não tem a intençãode se matar mas, muitas ve-zes, tal acaba por acontecer.E, claro, também existem oscasos das mulheres que es-tão mesmo decididas a mor-rer. Mas, na maior parte doscasos, a intenção não é essa.”Já em relação às faixas

etárias em que se registammais casos, também não hádiferenças substanciais emrelação aos indicadores in-ternacionais, sendo mais co-mum na chamada meia-idade, época em que as pes-soas enfrentam problemascomo a perda de emprego,por exemplo. Porém, a coor-denadora de O Suicídio emAngola destaca os casos na-cionais protagonizados porcrianças que, e apesar da suaprática médica de muitosanos, não deixam de sensi-bilizá-la, como o caso deuma menina de nove anos, eque explica através das “si-tuações de precocidade quepodem levar a este desfecho.Há pais que não têm muitascondições para oferecer aosfilhos que, desde pequenostêm as responsabilidades deum adulto. A mãe e o pai vãopara a lavra trabalhar eaquela criança fica a tomarconta da casa e dos irmãosmais novos. Esta situaçãoprovoca um amadureci-mento precoce, pois ela pas-sa a pensar como um adulto.Não tem idade para isso.Tem idade para ficar a brin-car. Ela vê os amigos a brin-carem e não pode fazer omesmo…”

A opção por colocar umfim à própria existência nãoafecta mais ou menos umadeterminada classe social.Apesar da falta de dados re-lativos a este aspecto, não sepense que uma vida maisabastada pode ajudar a evi-tar a decisão. “Temos muitoscasos que revelam que, nasclasses sociais mais elevadashá tendência para recorrerao suicídio e falamos de al-guns casos no livro, nomea-damente de ex-ministros eministros angolanos que opraticaram”, revela a autora.

De Luanda ao Kuando KubangoOs dados recolhidos pelasautoras permitem perceberque as províncias que apre-sentam o maior número desuicídios são Luanda, Huílae Cuanza Sul. A província doNamibe é a que tem o me-nor número de casos e nãohá registo de cometimentosna província do Cuando Cu-bango. “Temos muitos casos em

Luanda e muitos casos naHuíla. No entanto, eu diriaque a taxa será maior naHuíla, já que Luanda é a pro-víncia mais pequena mas éa que concentra uma maiorpopulação. Se comparar-mos com a Huíla, que é umaprovíncia maior mas comuma população muito me-nor, a percentagem de casosnesta região chega a ser su-perior. E não é o númeroque conta, é a percentagem”,afirma a especialista, avan-çando com uma possível ex-plicação: “No Huambo, deuma forma geral, as pessoassão muito púdicas e conser-vadoras. O mínimo deslize,o mínimo insulto, assume

enormes proporções. Nãoencaram bem uma situaçãoque os envergonhe.”

O perigo do preconceitoApesar de poder ameaçarqualquer um, o suicídiocontinua a ser um tema tabue, “pela natureza do acto, aspessoas preferem ignorá-lo”.Muitas vezes, as famíliasnem sequer comunicamque houve um suicídio.Acontece os médicos pedi-rem ajuda no seio familiar eperceberem que ninguémse tinha apercebido da exis-tência do problema. “Mastodos nós, que lidamos comesta situação e no campo dasaúde mental, sabemos quehá repercussões, no futuro,para o resto da família. Umadas primeiras perguntasque fazemos sempre aos pa-cientes são os seus antece-dentes familiares e se houvealgum suicídio, ou tentativa,na família, mas eles escon-dem e ignoram esse facto.Ainda há os que conseguemcontar as situações, mas são

uma minoria”, diz a especia-lista.

Detectar para tratar e prevenirNa esmagadora maioria dassituações a tentativa de sui-cídio é, na verdade, um pe-dido de ajuda. Tal comoacontece em todo o mundo,“podemos dizer que há umapercentagem mínima detentativas que culminamem suicídio”, defende FaustaConceição, alertando para aimportância de denunciarestes casos. “Se forem tenta-tivas que cheguem ao nossoconhecimento consegui-mos trabalhar esses casosde forma a tentar evitar quese repitam. Nestes casos, de-fendo que é mandatário ointernamento, para poder-mos prevenir toda e qual-quer situação.” Defendendo que é possí-

vel tratar casos de depressãoque poderão culminar emsuicídio, Fausta Conceiçãoafirma que quem conhecerbem o que é uma depressão,

os seus vários tipos e sinto-mas, pode tratá-la. “Nós es-tamos aptos a tratar de todoe qualquer transtorno danossa área. Só não trata aquele que

não conhece a real situaçãodo paciente. Mas é precisosaber distinguir as situa-ções”, diz, referindo aindaque “quem faz o bom médi-co é o bom paciente” e expli-cando que, por vezes, é pre-ciso levá-lo a tomar a cons-ciência de que está doentepara que “seja mais fácil tra-tá-lo, porque reconhece quenecessita de ajuda e segue amedicação prescrita”. E foi com o objectivo de

ajudar que as quatro autorasse dedicaram à escrita destaobra. Agora, que chegou aosescaparates, Fausta Concei-ção expressa o seu desejo:“Se conseguirmos, destaforma, evitar um caso desuicídio que seja, já serámuito bom, porque só o fac-to de conseguirmos salvaruma vida é gratificante parao resto da nossa existência.”

Suicídio em AngolaLuanda e Huíla à frente do pelotão

2014 / 2015 (1º semestre)

PROVÍNCIA HOMENS MULHERESCabinda 12 4Zaire 4 0Uíge 11 2Cuanza Norte 22 3Bengo 7 0Luanda 134 25Malange 38 5Lunda Norte 21 3Lunda Sul 44 11Cuanza Sul 42 12Benguela 53 6Huambo 63 10Bié 34 4Moxico 26 11Huila 110 12Namibe 4 2Cunene 37 11Total 662 121

"Na maioria das vezes, a tentativa de suicídio é, na verdade, um pedido de ajuda"

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9Fevereiro/Março 2017 JSA

Casos “exclusivos” de Angola

n Fausta Conceição destaca,entre as causas de suicídio,uma situação muito concretaque ocorre na província daHuíla e que é “uma daquelassituações que encontramosquando exploramos as tradi-ções e a cultura de um paíscom 18 províncias, cada qualcom hábitos, costumes e atélínguas e dialetos, diferentes.Na Huíla existe um ritual quese chama “coi” e que aconte-ce quando existe uma traiçãoamorosa levada a cabo pelamulher. O marido, ao aperce-

ber-se que foi traído, reúne asfamílias, a sua, a da mulher ea do prevaricador. Depois deuma reunião, a que chamam‘amigável’, e em que está pre-sente o soba da região, é de-cidida a multa que o traidorterá de pagar. Por norma, amulta será paga em cabeçasde gado. O marido, sabendoque o rival não conseguirápagar um valor elevado, exi-ge uma multa exorbitante.Tudo isto é determinado,com prazos e regras muitobem estabelecidos. O traidor,sem capacidade para proce-der ao pagamento, à medidaque vê os dias passarem epercebe que não vai ser ca-paz de honrar o castigo, optapor suicidar-se. Escolhe esteacto para não ficar envergo-nhado e para não envergo-nhar o seu povo. É uma ques-tão de honra.”

O que fazern Explorar as outras saídas, além do suicídio

n Ser afectuoso e dar apoio

n Levar a situação a sério e verificar o grau de risco

n Perguntar sobre tentativas anteriores

n Perguntar sobre o plano de suicídio

n Ganhar tempo - fazendo um contrato

n Identificar outras formas de dar apoio emocional

n Remover os meios pelos quais a pessoa possa matar-se

n Tomar atitudes, conseguir ajuda

n Se o risco é grande, ficar com a pessoa. Não ignorar a si-

tuação

O que não fazern Ficar chocado ou envergonhado e em pânico

n Tentar livrar-se do problema acionando outro serviço

e considerar-se livre de qualquer acção

n Dizer que vai ficar tudo bem sem agir para que isso

aconteça

n Desafiar a pessoa a continuar em frente

n Fazer o problema parecer trivial

n Dar falsas garantias

n Jurar segredo

n Deixar a pessoa sozinha.

“Na Huíla existe um ritual que se chama “coi” e que acontece quando existe uma traição amorosa levada a cabopela mulher”

Ao conversarmos com Fausta Conceição transpa-rece a paixão com que fala da sua missão como mé-dica psiquiatra. Confessa que escolheu esta espe-cialidade porque “na altura, não tínhamos psiquia-tras. Havia o Dr. Rui Pires e a Dra. Natália doEspírito Santo. Quem cuidava dos doentes eram osenfermeiros. Era a especialidade com maior estig-ma e continua a ser estigmatizada. Não só os doen-tes o são… a instituição é estigmatizada e o profis-sional da instituição é estigmatizado”. O seu ladohumano, no entanto, terá pesado profundamentenesta escolha. “Os doentes psiquiátricos são muitodesprezados e, se não tiverem alguém que lhes dêcarinho as coisas não melhoram. Um dos motivosque me leva a gostar da psiquiatria é poder defen-der os mais fracos. Adoro isto!”Não baixar os braçosA injustiça a que esta especialidade parece votadaleva-a a não baixar os braços na defesa dos seus pa-cientes: “Ao longo destes anos vimos que todos oshospitais passaram por remodelações e a psiquia-tria foi ficando sempre para trás. Outros hospitaistêm condições, a psiquiatria não tem. Às vezes, há‘guerras’ e há quem pense que vou desistir. Não de-sisto da psiquiatria! Como especialista vou fazer jusàquilo que aprendi, àquilo que estudei. Vou ensinaros outros e continuar a tratar dos meus doentes,que é o que mais adoro”, declara, convicta.Actualmente, trabalha no Pavilhão Masculino doHospital Psiquiátrico deLuanda, onde estão interna-dos mais de 150 pacientes.No Pavilhão Feminino, serãocerca de 70, muitas mais doque é habitual, “isto porqueeste hospital é de tal formaestigmatizado que, se encon-trarem alguém na rua quenão têm para onde levar, tra-zem para aqui. Não interessa tentar perceber o quese passa. Encaminham logo o doente para a psiquia-tria. O mesmo acontece com doentes de outroshospitais que são transferidos sem razão”, refere amédica, defendendo que é preciso “distinguir e des-trinçar situações e não se pode internar sem crité-rio. Temos de observar e medicar os doentes e elesdevem voltar para a unidade de saúde de onde vie-ram. Porque em psiquiatria não devem morrer pa-cientes. Não podemos permitir que venham aqui“morrer” pessoas”.Agora que já tem publicado este projecto, revelaque não vai parar por aqui. Tem planos de novasaventuras literárias quer em termos colectivos,quer a nível pessoal. “Estou a preparar um livro emque retrato o dia-a-dia da minha psiquiatria, a queirei chamar “Psiquiatriando”. É um retrato do meuquotidiano, do dos doentes… Tenho imensos tes-temunhos dos meus pacientes, ‘montes’ de papéis,que eles escrevem muito”, adianta, orgulhosa.

Fausta ConceiçãoPaixão pela psiquiatria

“Um dosmotivos queme leva agostar dapsiquiatria époder defenderos mais fracos”

Como ajudar?As autoras de O Suicídioem Angola defendemque é importante saberouvir o suicida e saber osmotivos que o levam aquerer acabar com a pró-pria vida. Aconselham aquem é confrontado comum potencial suicida anão o criticar nem adop-tar uma postura crítica oumoralista. Após ouvi-lo,deverá analisar com eleas dimensões do proble-ma que o aflige e procurarpossíveis alternativas.

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10 SAÚDE MENTAL Fevereiro/Março 2017 JSA

Lançamento concorridon As antigas instalações daDivisão de Viação e Trânsito,em Luanda, foram o cenárioescolhido para o lançamentode O Suicídio em Angola,uma cerimónia que contou,além da presença das auto-ras (à excepção de Luisa As-sis, ausente por motivos desaúde), com oficiais superio-res e subalternos da PolíciaNacional, instituição que co-laborou na obra através dolevantamento dos dadosexistentes em território na-cional. A apresentação da obra

esteve a cargo de Carlos Pin-

to de Sousa, bastonário daOrdem dos Médicos, quedestacou o seu “interesse pú-blico” e importância para“estudantes, profissionais,docentes e investigadores” eque definiu como “atraente ealtamente didáctica”.Rosária Neto, psicóloga

clínica e uma das autoras, re-cordou como surgiu a opor-tunidade de se envolver nes-te projecto: “A nossa especia-lidade diz tudo. Os casos queforam acontecendo na nossaprática médica, não só desuicídios mas também de in-tenções suicidas, levaram-

nos a amadurecer esta ideia.A partir de 2014 decidimosjuntar-nos e fazer este lindoproduto que, acredito, vai sermuito educativo para as fa-mílias e para a sociedade.”Esta psicóloga clínica afir-mou ter realizado este traba-lho a pensar no público emgeral, já que sente que “a po-pulação está muito fragiliza-da, há muitas doenças psi-quiátricas mascaradas e asfamílias estão muito deses-truturadas. O psiquiatra teráde dar uma ajuda para aju-dar a sociedade a ultrapassareste momento”. Referindo os

casos com crianças comoaqueles que mais a chocam,afirmou que “a carência deafectos leva os jovens paracaminhos de auto-destrui-ção”.Visivelmente orgulhosa

pela edição deste trabalho,disse que a maior recompen-sa foi ter conseguido “dar umcontributo ao país” e, umavez que defende que “a pre-venção fica mais barata quea cura”, espera que o livropossa dar origem a progra-mas que visem melhorar obem-estar psicológico dosangolanos.

Edite Neves, outra das au-toras, relembrou que “a ideiafoi amadurecendo a pouco epouco, sempre com o objec-tivo de ajudar a diminuir oscasos de suicídio em Angola”.Na sua prática profissional, apsicóloga clínica já lidoucom pacientes com antece-dentes familiares de tentati-vas e suicídios consumadose acredita que, caso essas ti-vessem tido acesso a umapublicação do género talveza sua história pudesse ter si-do diferente. “As pessoascom intenção suicida dão si-nais que, muitas vezes, são

ignorados por quem as ro-deia. Quem ler esta obra po-derá passar a estar maisatento”, desejou. Confessando “uma enor-

me felicidade pela publica-ção do livro”, deixou no ar aintenção de continuar a tra-balhar noutros projectos se-melhantes e aproveitou paradeixar um conselho: “Queropedir a quem tenha um ami-go ou familiar a quem tenhanotado mudanças de com-portamento, como a buscapelo isolamento, tristeza echoro, que procure ajuda pa-ra poder ajudar essa pessoa.”

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12 SAÚDE MENTAL Fevereiro/Março 2017 JSA

A cada 40 segundos alguém termina com a própria vida

Prevenção do suicídio

Uma luta global

nDe acordo com dados recolhidos a nívelglobal pela Organização Mundial de Saú-de (OMS), em 2012, a cada 40 segundosuma pessoa terá colocado termo à própriavida. Porém, e de acordo com indícios re-velados no primeiro relatório da organiza-ção sobre suicídio, publicado em 2014, pa-ra cada suicídio consumado podem terexistido mais de 20 tentativas, o que impli-ca que, além das 800 mil vítimas, muitosmilhões de pessoas são afectadas pelos re-sultados de tentativas frustradas ou vivema experiência do luto provocada pela mor-te de um ente querido.Em qualquer dicionário será fácil en-

contrar uma definição de suicídio. A popu-lar Wikipédia, descreve-o como o “acto in-tencional de matar a si mesmo. A sua cau-sa mais comum é um transtorno mentale/ou psicológico que pode incluir depres-são, transtorno bipolar, esquizofrenia, al-

coolismo e abuso de drogas. As dificulda-des financeiras e/ou emocionais tambémdesempenham um factor significativo.”Este “acto intencional de matar a si

mesmo” verifica-se em todas as idades eem todas as regiões do mundo. Em 2012,terá sido a segunda causa de morte no es-calão etário entre os 15-29 anos de idade.Embora, tradicionalmente, as maiores ta-xas de suicídio se registassem entre os ho-mens de idade avançada, as taxas entre osjovens têm vindo a aumentar e, agora, es-tes são o grupo de maior risco em um terçodos países, tanto no mundo desenvolvidocomo no mundo em desenvolvimento.Apesar de ser considerado um fenóme-

no global, a verdade, de acordo com o estu-do da OMS, é que 75% dos casos de suicídioa nível mundial ocorreram em países debaixo e médio rendimento. Nesse ano de2012, o suicídio representou 1,4% do totalde mortes, tornando-se a 15ª causa de mor-te.Numa análise inicial dos resultados ob-

tidos no período entre os anos 2000 e 2012,registou-se, globalmente, uma queda de 9%no número de mortes por suicídio, ao mes-mo tempo que a população mundial au-mentou. A taxa global de mortalidade porsuicídio caiu 21% no mesmo período. Noentanto, depois de controlar o envelheci-mento da população, observaram-se au-

mentos em cerca de 50 países, incluindoem alguns países de alto rendimento, ondese registam algumas das taxas mais eleva-das.A preocupação das autoridades em rela-

ção a estes resultados, levou a que, por todoo lado, se multiplicassem os estudos sobreintervenções, baseadas em evidências, quepodem ser implementadas de forma a pre-venir as tentativas e o próprio suicídio.

Causas variadas dificultam combateO comportamento suicida está associadoà impossibilidade do indivíduo para iden-tificar alternativas viáveis para a solução deseus conflitos, optando pela morte comoresposta de fuga da situação que o aflige.No entanto, estão identificados alguns fac-tores associados ao risco de suicídio, in-cluindo a doença mental, a dependênciade drogas, bem como factores sócio-eco-nómicos. Embora as circunstâncias ex-ternas, como um evento traumático,possam desencadear o suicídio, nãoparecem ser uma causa indepen-dente. É mais provável que ossuicídios ocorram durante osperíodos de crise sócio-económica, crises fami-liares ou uma crise in-dividual.

Em determinado momento, há quem deixe

de encontrar solução para os problemas

que o afligem e opte pela morte como res-

posta à situação que vive. Embora estejam

já identificados alguns factores associados

ao risco de suicídio, o combate a este fenó-

meno, que ocorre em todos os pontos do

globo, revela-se difícil. Mas são cada vez mais

aqueles que se unem para criar estratégias

eficientes para a prevenção do suicídio.

Mais elevadas taxas de mortalidade por suicídio de África

(por 100 000 habitantes)

2012

Moçambique 17.3 Zimbabué 16.6Burundi 16.4Rep. da Tanzânia 15.1Guiné Equatorial 13.9Sudão do Sul 13.6Uganda 11.9Quénia 10.8 Angola 10.6Ilhas Comores 10.5Fonte: Organização Mundial de Saúde

SuSana GonçalveS

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13Fevereiro/Março 2017 JSA

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O suicídio é, assim, umproblema complexo, noqual estão implicados facto-res psicológicos, sociais, bio-lógicos, culturais e ambien-tais. Em pontos do globo on-de o fenómeno tem vindo aser alvo de uma maior aten-ção foram já estabelecidasalgumas causas ligadas àopção de pôr termo à vida.Por exemplo, os transtornosmentais, especialmente adepressão e os transtornospor consumo de álcool, sãoum importante factor de ris-co de suicídio na Europa ena América do Norte. Já nospaíses asiáticos, a condutaimpulsiva assume especialimportância da decisão depôr cobro à própria vida. As desordens mentais as-

sociadas ao suicídio ocor-rem em todas as regiões eculturas do mundo. Destesdistúrbios, os mais preva-lentes serão a ansiedade e adepressão (que, no pior doscasos, pode levar ao suicí-dio), que se estima afecta-rem quase uma em cada 10pessoas. Além destas cau-sas, existem ainda outrosfactores de risco, como ten-tativas anteriores e o acessofácil a meios de suicídio, co-mo pesticidas ou armas.

Metas para 2030O combate à depressão mo-derada e severa está incluídono Plano de Acção de SaúdeMental 2013-2020, do planode Desenvolvimento Susten-tável da Nações Unidas até2030. Até 2020, o objecti-vo passa por aumen-tar a cobertura deserviços para pes-soas com trans-tornos mentaisgraves em20%. Os Esta-dos mem-bros daOMS com-promete-ram-se adesenvol-ver e for-necer ser-viços des a ú d em e n t a labrangentes,através de ser-viços sociaisem ambientes

comunitários.A prevenção do sui-

cídio é outro componenteintegral do Plano de Acção,com o objectivo de reduzir ataxa de suicídio em 10% até2020.

No entanto, para que asrespostas nacionais sejameficazes, é necessária umaestratégia multissectorialabrangente de prevenção dosuicídio, que deve incluir aidentificação precoce e ocontrolo efectivo de compor-tamentos suicidas, bem co-mo o acompanhamento eapoio comunitário paraaqueles que tentam suicídio,reduzindo o uso nocivo doálcool e restringindo o acessoaos meios mais comuns desuicídio (pesticidas, armas ecertos medicamentos). Estaestratégia exige, ainda, queos dados de suicídio-morta-lidade e os dados de tentativade suicídio também façamparte de um sistema de vigi-lância.

Optimismo moderadoNo último meio século, ape-sar do aumento do númerode suicídios, ocorreram algu-mas alterações sociais, so-bretudo nos países mais de-senvolvidos, que lançam al-guma esperança no combatea este flagelo. A descriminali-zação do suicídio em muitospaíses tornou possível, àque-les com pensamentos suici-das, pedirem ajuda, quandodisponível. As estratégias ouplanos de acção nacionaisabrangentes, especialmenteem países de alto rendimen-to, e a restrição em algunspaíses do acesso aos meiosde suicídio tradicionais (co-mo pesticidas ou armas),também contribuíram paraalgumas melhorias. Estão,entretanto, disponíveis no-vos tratamentos para a de-pressão, tanto para episódiosagudos como para a preven-ção de recaídas, com baseem medicamentos e inter-venções psicológicas que sãoeficazes e produzem menosefeitos colaterais.No entanto, as taxas de re-

conhecimento da depressãopermanecem baixas, tantopor aqueles que sofrem doproblema, como pelos pró-prios prestadores de cuida-dos de saúde. De acordo compesquisas mundiais de saú-de mental, mesmo em na-ções de rendimento elevado,apenas cerca de metade daspessoas com depressão rece-be qualquer tratamento, sen-do que cerca de 40% rece-bem tratamento considera-do minimamente adequado.Nos países de baixo rendi-mento a cobertura é muitomenor. Na Nigéria, porexemplo, apenas um quinto

Medidas deprevenção

Embora não seja possívelprevenir todos os suicí-dios, a tomada de uma sé-rie de medidas pode aju-dar a impedir a maioria.Tanto a nível local comonacional, são várias as pro-vidências que se podemexecutar para reduzir es-se risco.- Reduzir o acesso aosmeios de suicídio maisfrequentes (pesticidas,medicamentos, armas defogo, etc.);- Tratar os pacientes comtranstornos mentais, e emparticular quem padecede depressão, alcoolismoou esquizofrenia;- Acompanhar os pacien-tes que cometeram tenta-tivas suicídio;- Fomentar um tratamen-to responsável do temanos meios de comunica-ção;- Formar os profissionaisdos cuidados primáriosde saúde.

daqueles que sofrem um epi-sódio depressivo recebequalquer tratamento e ape-nas um em cada 50 recebeum tratamento minima-mente adequado.

O tabu persisteO estigma que envolve a de-pressão e o suicídio, que im-pede a busca de ajuda e pres-tação de serviços, é exacerba-do para os grupos demarginalizados e discrimina-dos. Além disso, muitas uni-dades de saúde em todo omundo não têm capacidadepara fornecer tratamento bá-sico para a depressão, umavez que os seus profissionaisnão estão treinados em ques-tões de saúde mental e os me-dicamentos não estão dispo-níveis.A nível mundial, a preven-

ção do suicídio é uma neces-sidade que não tem sido abor-dada de forma adequada, ba-sicamente, devido à falta desensibilização sobre a impor-tância deste problema e do ta-bu que rodeia e que impede

que se combata de forma se-gura. De facto, são muito pou-cos os países que incluem aprevenção do suicídio entreas suas prioridades.É esse mesmo estigma

que impede a maioria dospaíses colectarem correcta-mente dados relativos ao fe-nómeno. Dos 194 países daOMS, apenas 60 mantêm in-formações sobre o assunto.A fiabilidade dos sistemas

de certificação e notificaçãodos suicídios requere melho-rias significativas. O registocompleto de mortes por sui-cídio nos sistemas de registode mortes implica uma boaligação entre os sistemas hos-pitalares e policiais, mas po-de ser seriamente compro-metido por estigmas, consi-derações sociais e legais eatrasos na determinação dacausa da morte. Menos demetade dos membros daOMS têm sistemas de registode óbitos que apontam ascausas de morte. Em particu-lar, muito poucos países debaixo rendimento têm estes

sistemas em funcionamento.Embora se saiba que a de-

pressão é uma causa preva-lente, os dados disponíveisnão são adequados para for-necer estimativas fiáveis dastendências globais e regio-nais. Os sistemas nacionaisde informação sobre saúdenão recolhem rotineiramen-te dados sobre um conjuntobásico de indicadores desaúde mental em mais dedois terços dos países e nãoconseguem fornecer infor-mações fiáveis sobre a exten-são da cobertura dos servi-ços, mesmo para os transtor-nos mentais graves.Assim, a prevenção do

suicídio requer a intervençãode sectores diferentes da saú-de e exige um enfoque inova-dor, integral e multi-sectorial,com a participação tanto dosector da saúde como de ou-tros sectores, como porexemplo a educação, o mun-do laboral, a polícia, a justiça,a religião, o direito, a políticae os meios de comunicaçãosocial.

Em 2012, dos 800mil suicídios

ocorridos, cercade 86% foram

concretizados porpessoas com me-nos de 70 anos de

idade

Globalmente, en-tre os jovens de 15a 29 anos, o suicí-dio é responsávelpor 8,5% da mor-talidade. É a se-gunda causa demorte, depois dosacidentes rodo-

viários

Em países de ren-da alta, morrempor suicídio trêsvezes mais ho-

mens do que mu-lheres. Global-

mente, o númerocorrespondente é

de 1,8 vezes

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14 ODONTOLOGIA Fevereiro/Março 2017 JSA

nEstima-se que 80% da po-pulação adulta, potencial-mente, sofra de doença perio-dontal. A doença periodontal– enquanto patologia queafecta os tecidos de suportedentário – é, por vezes, negli-genciada pela ausência de in-formação sobre os sinais e sin-tomas que a acompanham.Sendo nas suas formas menosgraves facilmente tratada,quando em estados avança-dos pode levar à perda dedentes. Sinais como: alteraçãode cor e forma da gengiva, he-morragia espontânea ou aoescovar os dentes, mobilidadedos dentes, alguma supura-ção, são, entre outros, alertasde que podemos estar empresença de uma periodonti-

te uma das causas de perda dedentes em adultos. A perio-dontite tem como particulari-dade a perda de osso de su-porte dos dentes. Para que talaconteça concorrem váriosfactores destacando-se umadeficiente higiene oral, ser fu-mador, doenças tais como adiabetes, stress, alteraçõeshormonais, entre outras. Sen-do uma patologia caracteriza-da pela reabsorção óssea, per-da óssea, só com exames ra-diológicos se consegue umdiagnóstico correcto.

Deficiente higiene oralAssociada, maioritariamente,à deficiente higiene oral, a pe-riodontite resulta da acumu-lação de biofilme que após al-gum tempo pode dar origemao chamado tártaro, placabacteriana mineralizada, que

se situa junto aos dentes suprae subgengivalmente. Este tár-taro acaba por fixar, junto dostecidos gengivais, bactérias eos produtos tóxicos resultan-tes do seu metabolismo. Des-ta interacção desenvolve-se

uma inflamação que não sen-do parada a tempo pode levara consequências graves. Senem todas as gengivites evo-luem para periodontite, mui-tas são as que por falta de tra-tamento acabam por evoluirnesse sentido. Assim, ao pri-meiro sinal de inflamação dagengiva devemos actuar nosentido de evitar que hajauma progressão da doença. Aexistência de hemorragia,sangue aquando da escova-gem é um sinal que deve sertido em conta. A gengiva sau-dável não regista hemorragiaao ser tocada numa escova-gem correcta.

TratamentoO tratamento da periodontite,uma vez diagnosticada, passa

por eliminar os factores queestão na origem da mesma emanutenção no sentido deevitar a evolução da doença. Aremoção do biofilme/tártaro,o controlo adequado da for-mação do biofilme (escova-gem, fio, escovilhão, etc), o re-curso a dentífricos e elixiresespecíficos são, numa primei-ra fase da doença, as medidasconstantes do plano de trata-mento. Se a fase de diagnósti-co e execução do plano de tra-tamentos são importantes, afase de avaliação do plano detratamento e a manutençãosugerida são decisivas. Assim,o paciente deve seguir escru-pulosamente as orientaçõesrecebidas pois, dado o carác-ter de irreversibiliadade daperiodontite, a manutenção

diária da saúde oral dentro deparametros controlados é achave para o sucesso do trata-mento. Em casos que o trata-mento não cirúrgico se revelainsuficiente a cirurgia poderáser necessária embora a op-ção actual seja mais no senti-do de a evitar.

Chave do controloResumindo, um bom diag-nóstico, apoiado em examesauxiliares de diagnóstico, umplano de tratamento adequa-do às necessiades da situaçãoe a colaboração diária do pa-ciente são a chave para o con-trolo de uma patologia que vaiafectando, silenciosamente,um grande número da popu-lação e consequentemente aconduzir à perda de dentes.

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Celso serra

[email protected]

Periodontite: uma das causas de perdade dentes

Sinais como a alteração de

cor e forma da gengiva, he-

morragia espontânea ou

ao escovar os dentes, mo-

bilidade dos dentes, algu-

ma supuração, são, entre

outros, alertas de que po-

demos estar em presença

de uma periodontite, uma

das causas de perda de

dentes em adultos.

Atençãoaos sinais

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