Estudo comparatvo de desempenho tatico em atletas sub11 e sub13

Estudo comparativo do desempenho tático de jogadore s

de Futebol do escalão Sub-11 em jogos reduzidos 3 vs3 e

5vs5

Dissertação apresentada às provas de Mestrado no ramo de Ciências do Desporto nos termos do Decreto-lei no 216/92 de 13 de Outubro, sob orientação do Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva e co-orientação do Professor Doutor Israel Teoldo Costa.

Daniel Pimenta Castelão

Porto, 2010

Ficha de Catalogação

Castelão, D. (2010). Estudo comparativo do desempenho tático de jogadores

de Futebol do escalão Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5. Porto: D.

Castelão. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto na área de

Treino de Alto Rendimento Desportivo, apresentada à Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: Futebol; Jogos Reduzidos; Princípios Táticos de Jogo;

Metodologia Observacional; "FUT-SAT"; Análise Sequencial

À minha família e amigos, que sempre apoiaram e incentivaram.

Amo todos vocês.

Agradecimentos

V

Agradecimentos

Ao meu orientador Professor Doutor Júlio Garganta, uma pessoa por quem tenho

profunda admiração e respeito por ser um exemplo de professor e pesquisador.

Meus sinceros agradecimentos pelos ensinamentos e orientação.

Ao co-orientador Professor Doutor Israel Costa, uma pessoa de forte personalidade

e extrema competência. Durante essa caminhada tive o prazer de criar fortes laços

de amizade e agradeço pelos incentivos, conselhos e, claro, pelos momentos de

convívio e descontração.

Ao Professor Doutor André Seabra pela ajuda com o tratamento estatístico dos

dados.

Ao Professor Doutor Fernando Tavares pelo ótimo convívio com os integrantes do

CEJD.

A todos os professores da FADEUP pela oportunidade de conhecer, conviver e

receber seus ensinamentos.

Aos funcionários da secretaria e biblioteca da FADEUP que sempre estiveram

disponíveis a ajudar.

Ao meu pai, João Francisco, que infelizmente não se encontra mais presente

fisicamente, mas continua sendo meu exemplo de vida e de caráter. Te amo.

À minha mãe, Filadélfia, pela dedicação, carinho e incentivo, você é fundamental em

minha vida.

À tia Vânia, mais uma vez digo, por ser uma segunda mãe. Obrigado pelo apoio e

descontrações que proporciona.

Aos meus irmãos Guilherme e Fabiana pelo carinho, amizade e preocupação para

comigo.

Ao restante dos familiares pelos momentos marcantes, em especial à Bruninha que

esteve bem próxima durante a estadia em Porto.

Agradecimentos

VI

Aos mais que amigos, um grupo em que todos se tornaram irmãos por escolha.

Sanches, Miranda, Ricardo, Boschi, Luiz, Vitinho, Quaresma, Guilherme, André e

Bedran, que me acompanham, apóiam e incentivam desde a adolescência.

Aos demais amigos do Brasil que apesar da distância me apoiaram durante o

percurso. Dudu, Dupláa, Bruno (Tiziu), Loló, Paula, Silvia, Marina Del Caro,

Gustavo, Sandro, Ju, Joana, Maria Elisa, Cibele, Marina, Sabrina, Mari, Vinícius.

Ao Professor e amigo Cláudio Boschi por incentivar e ajudar desde o início a

candidatura ao mestrado.

Ao Zé Afonso, João Brito e Daniel Barreira pela amizade, projetos paralelos e boa

vontade em ajudar sempre que requisitados.

Ao Paulo e Tiago por sempre disponibilizarem as respectivas equipes para as

recolhas de dados.

Ao Xuxa pela verdadeira amizade e companheirismo. Será sempre um irmão.

À Ligia, não só por estar sempre disponível a ajudar quando solicitada, mas também

pelo carinho, atenção, enfim, por cuidar de mim.

Aos amigos conquistados e que me acompanharam nesta jornada em Porto, em

especial: Bernardo, Dani, Fernanda, Juliana, Alex, Manu, Morango, Ruan, Daiane,

Tio Cless, Carioca, Coquinho, Alan, Robertinho, Marcelão, Guto, Carneirinho,

Caetano, Aurélio, Matheus, Baby, Wendel, Débora, Ingrid, Del, Cyrus, Anderson,

Diego, Renata, Cacá, Thiago, Maurício, Rodrigo (Brazuca), Fred, Ju. Não sei como

seria sem a presença de vocês.

Enfim, a todos aqueles que de alguma forma marcaram minha vida.

Índice Geral

VII

Índice Geral

Agradecimentos ....................................................................................................... V

Índice de Quadros ................................................................................................... IX

Índice de Tabelas .................................................................................................... XI

Índice de Figuras ................................................................................................... XIII

Resumo ................................................................................................................... XV

Abstract ................................................................................................................. XVII

Introdução .................................................................................................................. 1

1.1 Justificativa e Pertinência do Estudo ................................................................. 3

1.2 Problemas e objetivos do estudo ....................................................................... 7

1.3 Estrutura da Dissertação ................................................................................... 8

Referências ............................................................................................................... 10

Estudo da frequência dos comportamentos táticos no Futebol em situação de jogo reduzido 3vs3 e 5vs5 ................................................................. 13

Resumo ..................................................................................................................... 15

Abstract ..................................................................................................................... 16

1. Introdução ............................................................................................................. 17

2. Material e métodos ................................................................................................ 19

3. Resultados ............................................................................................................ 25

4. Discussão .............................................................................................................. 29

5. Conclusões ............................................................................................................ 32

Referências ............................................................................................................... 34

Análise Sequencial de comportamentos táticos no Fut ebol em função dos estatutos de portador e não-portador da bola em sit uação de jogo reduzido 3vs3 e 5vs5 .............................................................................................. 39

Resumo ..................................................................................................................... 41

Abstract ..................................................................................................................... 42

1. Introdução ............................................................................................................. 43

2. Material.................................................................................................................. 45

3. Resultados ............................................................................................................ 50

4. Discussão .............................................................................................................. 56

5. Conclusões ............................................................................................................ 60

Referências ............................................................................................................... 61

Síntese e Considerações Finais ............................................................................. 65

Índice de Quadros

IX

Índice de Quadros

Introdução Geral

Quadro 1: Capítulos da dissertação e seus principais objetivos ................................. 9

Estudo da frequência dos comportamentos táticos no Futebol em

situação de jogo reduzido 3vs3 e 5vs5

Quadro 1 - Componentes e valores considerados para o cálculo do IPT. ................ 23

Índice de Tabelas

XI

Índice de Tabelas



Tabela 1 – Frequência, percentual e variação percentual das variáveis das

categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e

Resultado da Ação no Jogo reduzido 3vs3 e 5vs5. ................................................... 26

Tabela 2 - Médias e desvios padrões das variáveis das categorias IPT, Ação

tática, Percentual de Erros e LARP no jogo reduzido 3vs3 e 5vs5. .......................... 27

Tabela 3 - Índice de performance por jogador........................................................... 29

Análise Sequencial de comportamentos táticos no Fut ebol em função dos

estatutos de portador e não-portador da bola em sit uação de jogo reduzido

3vs3 e 5vs5

Tabela 1 - Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à inter-relação da

realização do comportamento penetração com os comportamentos realizados

pelos demais jogadores. ........................................................................................... 51

Tabela 2 - Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à inter-relação da

realização do comportamento espaço com bola com os comportamentos dos

demais jogadores. ..................................................................................................... 53

Tabela 3 - Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à inter-relação do

comportamento jogador em cobrança com os comportamentos dos demais

jogadores................................................................................................................... 55

Índice de Figuras

XIII

Índice de Figuras

Análise Sequencial de comportamentos táticos no Fut ebol em função dos

estatutos de portador e não-portador da bola em sit uação de jogo reduzido

3vs3 e 5vs5

Figura 1 - Vetores correspondentes à inter-relação da realização do

comportamento penetração com os comportamentos realizados pelos demais

jogadores................................................................................................................... 51

Figura 2 - Vetores correspondentes à inter-relação da realização do

comportamento espaço com bola com os comportamentos realizados pelos

demais jogadores. ..................................................................................................... 53

Figura 3 - Vetores correspondentes à inter-relação do comportamento jogador

em cobrança com os comportamentos realizados pelos demais jogadores. ............ 55

Resumo

XV

Resumo

O presente trabalho teve por objetivos: a) Comparar a frequência dos comportamentos táticos desempenhados por jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5; e b) Comparar as inter-relações dos comportamentos táticos realizados por jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5, para os estatutos de portador e não-portador da bola. No primeiro estudo, foram avaliados 10 jogadores que realizaram um total de 1563 ações táticas, sendo 768 no jogo reduzido 3vs3 e 795 no jogo reduzido 5vs5. O instrumento utilizado no estudo foi o teste "FUT-SAT", que permite avaliar as ações táticas desempenhadas por cada um dos jogadores participantes, de acordo com dez princípios táticos fundamentais do jogo de Futebol. Para a análise dos dados foi utilizado o software PASW (Precdictive Analytics Software for Windows®) versão 18.0. Foram realizadas análises descritivas de freqüência, percentagem, média e desvio-padrão. Para análise estatística inferencial foram também utilizados os testes de Shapiro-Wilk, Qui-quadrado (²א), Teste t para medidas repetidas e Wilcoxon (p<0,05). Para aferir a fiabilidade intra-avaliador recorreu-se ao teste de Kappa de Cohen. Os resultados mostraram que os princípios de jogo "penetração" e "contenção" ocorrem com maior frequência no jogo reduzido 3vs3 e os princípios de jogo "unidade ofensiva" e "equilíbrio" no jogo reduzido 5vs5. No jogo reduzido 3vs3 observou-se a tendência dos jogadores se posicionarem mais próximos do centro de jogo e realizarem trocas de posição enquanto no jogo reduzido 5vs5 constatou-se que os jogadores aumentaram o espaço de jogo efetivo e procuraram manter as posições predefinidas pelos mesmos no campo de jogo. No segundo estudo foram avaliadas 330 sequências de jogo constituídas por 2600 comportamentos. Destas, 175 sequências constituídas por 1050 comportamentos foram realizadas no jogo reduzido 3vs3 e 155 sequências constituídas por 1550 comportamentos foram realizadas no jogo reduzido 5vs5. Os instrumentos utilizados foram o teste "FUT-SAT" e o software SDIS & GSEQ, que permite organizar e analisar as inter-relações existentes nas sequências observadas. A análise dos dados foi realizada a partir da técnica de coordenadas polares, a qual permite estabelecer as diferentes relações de indução ou inibição que se processam entre os comportamentos. Os resultados mostram que no jogo reduzido 3vs3 as ações realizadas pelo portador da bola ativam, nos demais jogadores, maior quantidade de ações diretas e próximas do centro de jogo do que no jogo reduzido 5vs5.

Palavras-chave : Futebol, Jogos reduzidos, Princípios Táticos de Jogo, Metodologia Observacional; "FUT-SAT", Análise Sequencial.

Abstract

XVII

Abstract

The present study aims to: a) compare the frequency of thetactical behaviors performed by players on category under-11 in small-sided-games 3vs3 and 5vs5; b) compare the inter-relations between the tactical behaviors performed by the players on category under-11 in small-sided-games 3vs3 and 5vs5, for the ball possession player with the behaviors performed by the other players in these games. In the first study, there were evaluated 10 players that accomplished a total of 1563 tactical actions, being 768 on small-sided-game 3vs3 and 795 on small-sided-game 5vs5. The instrument used in the study was the “FUT-SAT” test, which allows us to evaluate the behaviors performed by each of the players in accordance with the ten essential tactical principles of the soccer game. For the data analysis, it was used the software PASW (Precdictive Analytics Software for Windows®) version 18.0. There were executed descriptive analysis of frequency, percentage, percentage variation, media and standard deviation. For the statistical analysis it was used the tests Shapiro-Wilk, Chi-squared (χ²), Paired-Samples T Test and Wilcoxon (p<0,05). In order to derive the reliability intra-evaluator, it was used the scores of Kappa. The results showed that the game principles “penetration” and “contention” occurred in greater frequency in the small-sided-game 3vs3 and the game principles “offensive unity” and “balance” occurred in greater frequency in the small-sided-game 5vs5. In the small-sided-game 3vs3, it was observed that there was an inclination of the players to be positioned more closely to the centre of the game and to perform position changes whilst in the small-sided-game 5vs5 it was observed that the players to enlarged the space of the effective game and sought to keep the positions previously set by them in the game field. In the second of the study, there were evaluated 330 game sequences, built from 2600 behaviors. Of these, 175 sequences composed of 1050 behaviors were performed in the small-sided-game 3vs3 and 155 sequences composed of 1550 behaviors were performed in the small-sided-game 5vs5. The instruments used in the study were the “FUT-SAT” test and the software SDIS & GSEQ, which allows us to organize and analyze the existing inter-relations on the observed sequences. The data analysis was based on the polar coordinates technique, which allows us establishing the different relations of induction or inhibition that are processed among the behaviors. The results show that in the small-sided-game 3vs3 the actions performed by the ball possession player activate, in the other players, greater amount of actions and closer to the centre of the game than the ones performed in the small-sided-game 5vs5.

Key-words: Soccer, Small-sided-games, Game Principles, Observational Methodology, “FUT-SAT", Sequential Analysis.

Introdução

Introdução

3

Introdução

1.1 Justificativa e Pertinência do Estudo O Futebol se caracteriza por ser um jogo esportivo coletivo (JEC) no

qual seus praticantes, agrupados em duas equipes distintas, lutam

incessantemente pelo espaço e posse de bola, dentro dos constrangimentos

impostos pelo jogo, com o objetivo de introduzi-la o maior número de vezes no

gol adversário e evitar que o mesmo ocorra no seu gol (Garganta, 1997).

Definido como um esporte coletivo, o Futebol possui seis invariantes

comuns aos JECs: móbil do jogo, espaço de jogo, adversários, companheiros

de equipe, alvo específico a atacar e a defender e regras próprias (Bayer,

1994). Segundo o mesmo autor, percebe-se ainda nos JEC´s a presença dos

princípios operacionais ofensivos (conservação da posse de bola, progressão

em direção ao alvo adversário e finalização) e dos princípios operacionais

defensivos (recuperação da posse de bola, impedimento da progressão da

equipe adversária e proteção do alvo).

Autores como Bota e Colibaba-Evulet (2001) e Balbino (2001) abordam

o Futebol como um sistema que se auto-organiza constantemente dentro de

um movimento cíclico de equilíbrio e desequilíbrio. Nele, os jogadores

pretendem, através de suas ações, estabelecer e privilegiar o padrão de jogo

da sua equipe impondo-o ao adversário.

Neste contexto, observa-se a existência de dois traços elementares para

a prática do Futebol: a cooperação, entendida como a comunicação dentro de

sistemas de referências comuns por uma sintonia nas ações do grupo, em

relação ao objetivo do jogo; e a inteligência, concebida como capacidade de

adaptação às situações-problema que ocorrem também devido à

imprevisibilidade das ações (Garganta, 1995). Diante de tal imprevisibilidade,

fica clara a importância da equipe se guiar por referências de natureza tática e

estratégica.

Introdução

4

Por tática, entende-se a totalidade das ações individuais e coletivas,

condizentes com as regras impostas pelo jogo e realizadas, dentre outros, no

domínio físico, técnico, psicológico e teórico, visando atingir os objetivos

previamente fixados (Teodorescu, 1984).

Assim sendo, pode-se considerar o Futebol como uma modalidade

eminentemente tática (Garganta, 1997), onde importa gerir os

constrangimentos táticos que decorrem das relações que se estabelecem entre

o elevado número de adversários e companheiros de equipe, em resposta a

objetivos opostos (Castelo, 1996). Para Morales e Greco (2007), as

capacidades táticas, assim como os processos cognitivos relacionados com a

tomada de decisão, são de extrema importância para que o indivíduo possa

alcançar a excelência no desempenho esportivo. Visando o seu

desenvolvimento, sugere-se a iniciação dos treinos táticos entre os 10 e 12

anos, o que corresponde ao final da fase universal e início da fase de

orientação (Greco, 1998). Ainda é aconselhável que durante as fases iniciais

do aprendizado o treino seja realizado num espaço de jogo reduzido e com

menores configurações numéricas de jogadores para assim diminuir a

complexidade e facilitar o aprendizado (Garganta, 2002).

Diante de tal fato, tem aumentado o número de estudos que visam

avaliar a dimensão tática e/ou organizacional (Garganta, 1997; Cunha, Binotto,

& Barros, 2001; Barreira, 2006; Ferreira, Paoli, & Costa, 2008; Costa,

Garganta, Greco, & Mesquita, 2009b), o que mostra a importância que lhe é

reconhecida.

Uma das possíveis maneiras de realizar tais avaliações é através dos

jogos reduzidos, uma vez que promovem maior participação dos atletas no jogo

(Castelo, 2002; Ramos, 2003; Bastos, 2004) e permitem induzir a ocorrência de

ações relacionadas com os comportamentos táticos (Holt, Strean, &

Bengoechea, 2002) sem comprometer os princípios fundamentais do jogo.

Para tal, observa-se que, dentre todas as possíveis configurações

numéricas de jogadores, a composição 3vs3 revela-se como a menor estrutura

Introdução

5

que possibilita a ocorrência dos vários princípios táticos fundamentais inerentes

ao jogo formal de Futebol (Garganta, 2002). Maiores configurações numéricas

de jogadores possibilitam o aumento em comprimento e em largura do espaço

de jogo efetivo.

Neste contexto foi concebido o teste "FUT-SAT" (Costa, Garganta,

Greco, & Mesquita, 2009b, 2009a; Costa, Garganta, Greco, Mesquita, & Maia,

in press), o qual consiste na aplicação de um teste em campo reduzido

integrando duas equipes, cada uma das quais com três jogadores de linha e

um goleiro. O "FUT-SAT" permite avaliar as ações relacionadas ao

comportamento tático dos jogadores através dos cinco princípios táticos

ofensivos e cinco princípios táticos defensivos. O instrumento ainda leva em

consideração a localização no campo onde o princípio é realizado e os

resultados dessas ações para determinar a performance de cada um dos

jogadores.

Após a aplicação do teste, é possível extrair informações sobre a

performance dos jogadores e das equipes, sendo que, em estudos dessa

natureza, a literatura sugere o recurso à Metodologia Observacional (Anguera,

Blanco, & Mendo, 2000). Tal metodologia consiste na observação e registro

das ações realizadas, ao que se seguem a organização e análise da

informação. Grande parte dos instrumentos utilizados nestes processos

consiste em softwares que possibilitam o tratamento, armazenamento e

interpretação das informações relevantes, de forma rápida e precisa.

Segundo os mesmos autores, para a utilização da Metodologia

Observacional, é necessário seguir quatro “passos”:

1- Delimitação do problema a estudar e da situação a observar;

2- Recolha e otimização dos dados;

3- Análise dos dados;

4- Interpretação dos resultados.

Introdução

6

A Metodologia Observacional é bastante ampla, permitindo definir

diversos pontos a serem observados. Após a recolha dos dados é possível

realizar vários tipos de análise estatística.

A análise de tais dados diversas vezes implica que seja levada em

consideração a ordem com que os eventos ocorreram (Paulis & Mendo, 2002).

Daí a designação “Análise Sequencial”, procedimento que permite perceber as

relações de indução e/ou inibição entre os comportamentos observados.

Vários estudos, principalmente referentes aos jogos coletivos, já foram

realizados utilizando da Análise Sequencial (Paulis & Mendo, 2000; Caldeira,

2001; Peñas & Anguera, 2003; Amaral, 2004; Barreira, 2006; Paulis, Mendo,

Sanchez, & Anguera, 2007; Afonso, 2008; Bakeman, Quera, & Gnisci, 2009;

Canossa, Garganta, Lloret, Argudo, & Fernandes, 2009).

A Análise Sequencial pode ser realizada através de duas técnicas

diferentes, i.e., a técnica de Retardos (Anguera, 2005) e a técnica de

Coordenadas Polares (Sackett, 1980).

A técnica de Retardos pode ser utilizada em um evento ou em

multieventos e, através de análise estatística inferencial, permite avaliar a

possibilidade de existir alguma associação entre as diversas variáveis

(comportamentos objeto) com uma possível variável específica

(comportamento critério) (Anguera, 2005).

Esta técnica de análise leva em conta uma sucessão de acontecimentos

procurando detectar a existência de um comportamento regular da pessoa ou

equipe observada. Após detectar os padrões, calcula-se as probabilidades

condicionais (dependentes da ordem) e incondicionais (dependentes da

frequência) de realizações dos comportamentos objeto (Anguera, 1990). Para

constatar se há diferença significativa utiliza-se da prova binomial. Sempre que

o valor de prova encontrado nos retardos retrospectivos for igual ou superior a

1,96, existe a probabilidade do comportamento objeto induzir o comportamento

critério e, quando estes valores forem encontrados nos retardos prospectivos,

Introdução

7

existe a probabilidade do comportamento critério induzir o comportamento

objeto. Sempre que nestes casos o valor encontrado for menor ou igual a -1,96,

existe a probabilidade dos comportamentos serem inibidores (Anguera, 1990).

Já a técnica de Coordenadas Polares consiste em uma estratégia de

redução de dados (Sackett, 1980) e visa representar os resultados de indução

e/ou inibição através da representação vetorial.

Nesta técnica o comportamento critério é colocado na interseção dos

eixos x e y, sendo analisado o Zsum dos comportamentos objetos

retrospectivas (coordenada do eixo y) e o Zsum dos comportamentos objetos

prospectivas (coordenada do eixo x). O Zsum é calculado através da soma dos

valores dos resíduos ajustados de cada retardo dividido pela raiz quadrada do

número de retardos utilizados. Ainda utilizando dos Zsum são calculados o

valor da reta originada que se refere à correlação estatística entre o

comportamento critério e objeto, seu ângulo e sua localização referente a um

dos quatro quadrantes possíveis (Peñas & Anguera, 2002).

1.2 Problemas e objetivos do estudo

O presente estudo reflete o interesse pela análise da frequência dos

comportamentos táticos desempenhados por jogadores de Futebol em situação

de jogo reduzido, assim como as inter-relações de tais comportamentos.

Seguindo esta proposta, é possível formular os seguintes problemas de

estudo:

1) Há diferenças significativas nos comportamentos táticos realizados

pelos jogadores de Futebol em diferentes situações de jogos reduzidos?

2) Que padrões de comportamentos podem ser observados em

diferentes situações de jogos reduzidos e quais as diferenças entre os

mesmos?

Procurando responder a estas perguntas, foram definidos os seguintes

objetivos para o estudo:

Introdução

8

1) Comparar a frequência dos comportamentos táticos desempenhados

por dez jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5.

2) Comparar as inter-relações dos comportamentos táticos realizados

por jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 para os estatutos de

portador e não-portador da bola.

1.3 Estrutura da Dissertação Esta dissertação foi norteada pelas normas e orientações da Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP, 2009). A sua estrutura

obedece ao Modelo Escandinavo, que consiste num trabalho composto por

artigos científicos.

Deste modo, a presente dissertação foi dividida em quatro capítulos

(Quadro 1). O capítulo 1 apresenta a introdução, justificativa, problemas e

objetivos do estudo. O capítulo 2 e 3 apresentam os artigos que foram

redigidos seguindo as normas específicas dos periódicos aos quais foram

submetidos. O capítulo 4 apresenta a síntese do estudo e as considerações

finais. As referências bibliográficas são apresentadas no final de cada capítulo.

Introdução

9

Quadro 1: Capítulos da dissertação e seus principais objetivos

Capítulo 1 Apresentar a introdução geral, com justificação, problemas e objetivos do estudo.

Capítulo 2

Análise da frequência dos comportamentos táticos no Futebol: Estudo de caso de dez jogadores em situaçã o de jogo reduzido 3 vs3 e 5vs5.

Objetivo: Comparar a frequência dos comportamentos táticos desempenhados por dez jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5.

Artigo a submeter à Revista Motriz.

Castelão D.; Costa, I.; Garganta, J.

Capítulo 3

Análise das inter-relações dos comportamentos tátic os no Futebol: Estudo dos estatutos de portador e não-por tador da bola em situação de jogo reduzido 3 vs3 e 5vs5.

Objetivo: Comparar as inter-relações dos comportamentos táticos realizados por jogadores Sub-11 em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 para os estatutos de portador e não-portador da bola.

Artigo a submeter à Revista Motricidade da Universidade de Trás dos Montes.

Castelão D.; Costa, I.; Garganta, J.

Capítulo 4 Síntese e Considerações Finais da Dissertação.

Introdução

10

Referências

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Balbino, H. (2001). Jogos desportivos coletivos e os estimulos das inteligências múltiplas. Campinas. Dissertação de Mestrado apresentada à UNICAMP.

Barreira, D. (2006). Transição defesa-ataque em futebol: Análise Sequenêncial de padrões de jogo relativos ao Campeonato Português 2004/05. Porto. Dissertação de Licenciatura em desporto e Educação Física apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física.

Bastos, M. (2004). Análise da Complexidade do Jogo Formal versus Jogo Reduzido em jovens do 3º ciclo do Ensino Básico. Estudo realizado na modalidade de basquetebol a partir da caracterização da intensidade do esforço, análise de tempo e movimento e da tipologia das acções de jogo. Porto. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto.

Bayer, C. (1994). O ensino dos desportos coletivos. Lisboa: Dinalivro. Bota, I., & Colibaba-Evulet, D. (2001). Jogos desportivos coletivos: teoria e

metodologia. Lisboa: Instituto Piaget. Caldeira, N. (2001). Estudo da relevância contextual das situações de 1x1 no

processo ofensivo em futebol, com recurso à Análise Sequencial. Porto. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto

Introdução

11

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Castelão, D.; Costa, I. T.; Garganta, J.

Artigo a submeter à Revista Motriz

Estudo da frequência dos comportamentos táticos no Futebol em situação de jogo reduzido 3 vs3 e 5vs5

15

Resumo

O presente trabalho teve por objetivo comparar os comportamentos

táticos desempenhados por 10 jogadores em jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 a fim

de constatar possíveis diferenças entre a frequência dos comportamentos nos

dois jogos. Foram avaliadas 1563 ações táticas. O instrumento utilizado no

estudo foi o “FUT-SAT”, que permite avaliar os comportamentos

desempenhados pelos jogadores de acordo com dez princípios táticos

fundamentais do jogo de Futebol. A análise dos dados foi efetuada com recurso

ao software PASW for Windows®. Foram realizadas análises descritivas de

frequência, percentual, variação percentual, média e desvio padrão. Para

análise estatística inferencial foram utilizados os testes de Shapiro-Wilk, Qui-

quadrado (χ²), Test t para medidas dependentes e Wilcoxon. Para aferir a

fiabilidade intra-avaliador recorreu-se ao teste de Kappa de Cohen. A partir das

avaliações que compararam os dois jogos reduzidos, verifica-se que os

princípios táticos de jogo "penetração" e "contenção" ocorrem com maior

frequência no jogo reduzido 3vs3 e os princípios táticos de jogo "unidade

ofensiva" e "equilíbrio" no jogo reduzido 5vs5. No jogo reduzido 3vs3 observou-

se que os jogadores se posicionarem mais próximos do centro de jogo e

realizarem trocas de posição enquanto no jogo reduzido 5vs5 constatou-se que

os jogadores aumentaram o espaço de jogo efetivo e procuraram manter as

posições predefinidas pelos mesmos no campo de jogo.

Palavras-chave : Futebol, Jogos reduzidos, Princípios Táticos de Jogo, "FUT-

SAT".


16

Abstract This study aims to compare the tactical behaviors performed by 10

players in small-sided-games 3vs3 and 5vs5 in order to evidence possible

differences among the frequences of the behaviors in these games. For that,

1563 tactical actions were evaluated. The instrument used was the “FUT-SAT”

test, which allows evaluating the behaviors performed by the players in

accordance with ten essential tactical principles of the soccer game. For data

analysis, it was used the software PASW for Windows®. There were executed

descriptive analysis of frequency, percentage, percentage variation, media and

standard deviation. For the statistical analysis it was used the tests Shapiro-

Wilk, Chi-squared (χ²), Paired-Samples T Test and Wilcoxon. In order to derive

the reliability intra-evaluator, it was used the scores of Kappa. From the

evaluations that compare the two small-sided-games, it is verified that the

games principles “penetration” and “contention” occur in greater frequency in

the small-sided-game 3vs3 and the game principles “offensive unity” and

“balance” occur in greater frequency in the small-sided-game 5vs5. In the small-

sided-game 3vs3, it was observed that there was an inclination of the players to

be positioned more closely to the centre of the game and to perform position

changes whilst in the small-sided-game 5vs5, it was observed that there was an

inclination for the players to enlarge the space of the effective game and sought

to keep the positions previously set by them in the game field.

Key-words : Soccer, Small-sided-game, Game Principles, "FUT-SAT".


17

1. Introdução O Futebol pode ser considerado uma modalidade eminentemente tática

durante a qual: (1) a maioria das ações decorrentes do jogo ocorre sem a

posse de bola (Garganta, 1997); (2) os jogadores com limitado domínio das

habilidades técnicas podem praticá-lo se tiverem compreensão tática do jogo

(Oslin et al., 1998) e (3) a falta de conhecimento e raciocínio tático ineficaz são

causas decisivas para a má execução das habilidades técnicas (Teodorescu,

1984).

Portanto, as capacidades táticas são de extrema importância para a

otimização do desempenho esportivo (McPherson, 1994), visto que a

frequência, a ordem dos acontecimentos e a complexidade das ocorrências de

um jogo são imprevisíveis, obrigando os jogadores a se adaptarem

constantemente e de forma organizada (Garganta, 1997).

Com o objetivo de desenvolver a capacidade tática-técnica dos atletas,

treinadores e professores têm utilizado os jogos reduzidos pelo fato destes

facilitarem a organização do treino, promoverem um melhor aprendizado

(Castelo, 2002; Ramos, 2003; Cook e Shoulder, 2006) e favorecerem a

participação dos atletas (Garganta, 1998b; Castelo, 2002; Ramos, 2003;

Bastos, 2004), além de induzirem ações relacionadas com a componente tática

que necessitam ser predominantemente ensinadas ou treinadas (Holt e Strean,

2002). Preparadores físicos também têm utilizado os jogos reduzidos, uma vez

que estudos indicam a indução de diferentes impactos no desenvolvimento da

capacidade física através destes tipos de jogos (Jeffreys, 2004; Reilly e White,


18

2004; Reilly, 2005; Impellizzeri et al., 2006; Dellal et al., 2008; Gabbett e

Mulvey, 2008; Coutts et al., 2009).

No âmbito dos jogos reduzidos, o 3vs3 revela-se como a estrutura

mínima, dentre as possíveis configurações numéricas de jogadores, que

propicia a ocorrência dos vários princípios táticos inerentes ao jogo formal de

Futebol (Garganta, 2002). Configurações com maior número de jogadores

conferem ainda a possibilidade de aumentar o espaço de jogo efetivo, tanto em

largura quanto em profundidade. Segundo Platt et al. (2001), na estrutura 5vs5

já se observam diferenças significativas quanto às exigências físicas e técnicas

em relação à estrutura 3vs3, entretanto, há carência de estudos que comparem

os comportamentos táticos em tais situações.

Devido à importância atribuída à tática para avaliação da performance,

tem-se observado um número crescente de estudos relativos ao assunto

(Garganta, 1998a). Tal crescimento justifica-se pelo interesse de determinar

ações e comportamentos que otimizem a eficácia das equipes. Um dos estudos

realizados neste âmbito consistiu no desenvolvimento do teste "FUT-SAT"

(Costa, I., Garganta et al., 2009b; a).

Procurando extrair as informações necessárias para realizar a análise e

obter as informações pertinentes do desempenho dos jogadores e equipes,

pesquisadores têm também utilizado a Metodologia Observacional (Anguera et

al., 2000), a qual se mostra apropriada para analisar os comportamentos

realizados no contexto dos Jogos Esportivos Coletivos (Peñas et al., 2002).

O presente estudo tem como objetivo destacar possíveis diferenças nos

comportamentos táticos realizados por jogadores de Futebol em diferentes


19

situações de jogos reduzidos. Para tal, comparou-se a frequência dos

comportamentos táticos desempenhados por dez jogadores em situação de

jogo reduzido 3vs3 e 5vs5 com recurso ao teste "FUT-SAT".

2. Material e métodos

2.1 Amostra

Foram avaliados 10 jogadores do escalão Sub-11 de um clube de

Futebol Português. A escolha deste escalão se justifica no interesse de

observar os comportamentos realizados por jogadores que se encontram na

fase de iniciação dos jogos esportivos coletivos (Greco, 1998), fase em que

normalmente se inicia a aprendizagem tática (Garganta, 2002; Costa, L. e

Nascimento, 2004).

Os jogadores executaram 1563 ações táticas, sendo 763 ofensivas e

800 defensivas. Deste total, 768 ações foram realizadas na situação de jogo

reduzido 3vs3 e 795 ações foram realizadas na situação de jogo reduzido 5vs5.

Não foram analisadas nesse estudo as ações relativas à reposição da bola pela

linha lateral, os livres e as situações em que não houve movimentação do

jogador no campo de jogo.

2.2 Procedimentos de Recolha de Dados

A coleta de dados foi realizada em um clube Português de nível

nacional, com autorização dos respectivos pais e dirigentes. Os jogadores

receberam informações relevantes sobre o teste e realizaram 30 segundos de

“familiarização”. Para facilitar a identificação os jogadores utilizaram coletes

numerados.


20

2.3 Instrumento de Recolha e Análise dos Dados

2.3.1 Caracterização do Teste

O instrumento utilizado no estudo foi o teste “FUT-SAT”, desenvolvido no

Centro de Estudos dos Jogos Desportivos da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (Costa, I., Garganta et al., 2009a). O teste permite

avaliar as ações táticas desempenhadas por cada um dos jogadores

participantes, de acordo com dez princípios táticos fundamentais do jogo de

Futebol (Costa, I., Garganta et al., 2009b). O teste leva ainda em conta a

localização de realização da ação tática no campo de jogo e o resultado final

proveniente dessa ação.

O teste “FUT-SAT” possui variáveis distribuídas em sete categorias

precedidas por duas macro-categorias. Na Macro-categoria Observação estão

as variáveis das categorias: Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo

de Jogo, Resultado da Ação; e na Macro-categoria Produto estão as variáveis

das categorias: Índice de Performance Tática - IPT, Percentual de Erros, Ações

Táticas e Localização da Ação Relativa aos Princípios – LARP.

2.3.2 Teste de Campo

O teste “FUT-SAT” é aplicado em um campo com comprimento entre 27

e 36 metros e largura entre 13,5 e 27 metros. Todas essas medidas são válidas

tomando em conta o coeficiente de racionalização de densidade dos jogadores

permitidos pela regra oficial do Futebol (Costa, I., 2010). Em todas essas

medidas o centro de jogo é de 5 metros tendo em conta o intervalo dos valores

das constantes encontrados entre o rácio do menor e do maior valor. Na

aplicação do teste é solicitado aos jogadores que joguem de acordo com as


21

regras oficiais do Futebol, com exceção da regra do “impedimento”. O tempo

de duração é de quatro minutos sem paralisações (Costa, I., Garganta et al.,

2009a)

No presente estudo foram utilizadas as medidas de 36 metros de

comprimento por 27 metros de largura e a duração de sete minutos e vinte

segundos para o jogo reduzido 3vs3, igualando assim o tempo com o jogo

reduzido 5vs5. Esta escolha se justifica no estudo piloto de Costa et al. (2009),

que não encontrou diferenças significativas na utilização de tempos maiores.

No jogo reduzido 5vs5, o teste “FUT-SAT” foi aplicado num campo

reduzido de 60 metros de comprimento por 45 metros de largura. Esta

configuração foi concebida com base na proporção das dimensões máximas

estabelecidas no teste para o jogo reduzido 3vs3. Ao ter em conta essas

medidas, o valor encontrado para o centro de jogo foi de 6 metros de raio.

Seguindo a proporção da quantidade de jogadores avaliados e do tamanho do

campo em relação ao teste original foi determinado uma duração de sete

minutos e vinte segundos sem paralisações.

2.3.3 Materiais para recolha e tratamento das imagens

Para a gravação do desempenho dos jogadores foi utilizada uma câmera

digital PANASONIC modelo NV – DS35EG. O material de vídeo obtido foi

introduzido em formato digital em um computador portátil (marca DELL, modelo

Inspiron 1545, processador Intel T6500) via cabo (IEEE 1394) de modo a ser

convertido em ficheiros “.avi”.

Para processar as imagens, bem como para analisar o jogo, foram

utilizados os softwares Utilius VS® e Soccer Analyser® (Costa, I., 2010). O


22

primeiro destina-se à análise, categorização e arquivo das ações avaliadas. Já

o Soccer Analyser®, construído especificamente para o Teste “FUT-SAT”, é

utilizado para inserir as referências espaciais no vídeo, possibilitando avaliar a

posição e movimentação dos jogadores de forma precisa.

2.3.4 Protocolo do Teste “FUT-SAT”

O primeiro procedimento consiste em observar cada um dos jogadores

durante toda a duração do teste a partir da unidade de observação utilizada no

teste, denominada posse de bola.

A posse de bola é confirmada quando um jogador respeita pelo menos

um dos seguintes pressupostos (Garganta, 1997): (a) executa um passe

positivo (permite a equipe manter a posse de bola); (b) realiza um remate

(finalização); (c) realiza pelo menos “três” contatos consecutivos na bola,

demonstrando assim estar com o controle da mesma.

O segundo procedimento refere-se à análise, avaliação, classificação e

registro das ações táticas. Para realizar as três primeiras ações o avaliador

baseia-se na grelha de observação do teste “FUT-SAT” descrita por Costa et

al. (2009a).

A grelha de observação permite analisar, avaliar e classificar as ações

táticas executadas pelos jogadores com e sem bola em função das variáveis

contidas nas categorias: Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de

Jogo e Resultado da Ação. As variáveis dessas três categorias, a identificação

das ações táticas, as referências espaciais e os indicadores de performance

foram desenvolvidos e validados por Costa et al. (2009a) através da avaliação

de peritos.


23

O terceiro procedimento diz respeito ao cálculo das variáveis das

categorias IPT, Percentual de Erros, Ações Táticas e LARP. Para automatizar

esse procedimento foi construída uma planilha ad hoc no programa Excel for

Windows®. Os IPT´s são calculados a partir do critério de realização do

princípio tático e nas três categorias que compõem a Macro-categoria

Observação. Os valores de ponderação das variáveis utilizadas nos cálculos

dos IPT´s estão expostos no Quadro 1. Calculam-se os IPT´s de jogo, da fase

ofensiva, da fase defensiva e de cada princípio a partir da seguinte fórmula:

Índice de Performance Tática (IPT)= Σ ações táticas(RP x QR x LA x RA) /número de ações táticas

Quadro 1 - Componentes e valores considerados para o cálculo do IPT.

Componentes Valores Valores

1) Realização do Princípio (RP)

Fez 1

Não fez 0

2) Qualidade de Realização do Princípio (QR)

Bem sucedido 10

Mal sucedido 5

3) Localização da Ação no Campo de Jogo (LA)

- Meio Campo Ofensivo - Meio Campo Defensivo

Ações Táticas Ofensivas 2 Ações Táticas Defensivas 2

Ações Táticas Defensivas 1 Ações Táticas Ofensivas 1

4) Resultado da Ação (RA)

- Ofensiva - Defensiva

Realizar finalização à baliza 5 Recuperar a posse de bola 5

Continuar com a posse de bola 4 Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 4

Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 3 Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 3

Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 2 Continuar sem a posse de bola 2

Perder a posse de bola 1 Sofrer finalização à baliza 1

2.4 Procedimentos de Análise dos dados

Nas categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de

Jogo e Resultado da Ação foram realizadas análises de frequência e


24

percentual. Para as variáveis das categorias IPT, Percentual de Erros, Ações

Táticas e LARP efetuou-se análises de média e desvio padrão.

Para análise estatística entre frequências nas categorias Princípios

Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e Resultado da Ação,

recorreu-se ao teste qui-quadrado (χ²), com um nível de significância de

p≤0,05. Nas variáveis das categorias IPT, Percentual de Erros, Ações Táticas e

LARP foi efetuado o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para verificar a

distribuição dos dados. A partir disso, para as variáveis com distribuição

normal, a comparação foi realizada a partir do teste T para medidas repetidas

(p≤0,05). Para os dados não paramétricos recorreu-se ao teste de Wilcoxon

(p≤0,05) a fim de verificar as diferenças significativas. Na análise dos dados

foram utilizados os softwares PASW (Predictive Analytics Software for

Windows®), versão 18.0 e Microsoft Office Excel® 2007.

2.4.1. Análise da Fiabilidade

Na aferição da fiabilidade foram reavaliadas 14,07% da amostra (220

ações táticas), valor superior ao de referência (10%) apontado pela literatura

(Tabachnick e Fidell, 2007). Para estabelecer a fiabilidade intra-avaliador foram

analisadas novamente as ações respeitando um intervalo de 20 dias (Robinson

e O’Donoghue, 2007). Após a aplicação do teste Kappa de Cohen constatou-se

que a fiabilidade intra-avaliador foi de 0,91 com erro padrão de 0,01, sendo

esta classificada como “perfeita” pela literatura (Landis e Koch, 1977).


25

3. Resultados

Os resultados serão expostos primeiramente em função das macro-

categorias que fazem parte do teste. Assim, serão relatados os resultados das

categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e

Resultado da Ação e, posteriormente, os resultados das categorias IPT,

Percentual de Erros, Ações Táticas e LARP. Após estes resultados, serão

apresentados os valores dos índices de performance para cada jogador nos

dois jogos reduzidos.

3.1 Macro-Categoria Observação

A Tabela 1 apresenta as frequências, os percentuais e a variação

percentual das variáveis das categorias Princípios Táticos, Localização da

Ação no Campo de Jogo e Resultado da Ação nos jogos reduzidos 3vs3 e

5vs5. Das 24 variáveis apresentadas na Tabela 1, seis apresentaram

diferenças significativas.

Ao analisar as variáveis da categoria Princípios Táticos contidos na

Tabela 1, observa-se a ocorrência de quatro diferenças estatisticamente

significativas. Das diferenças significativas encontradas, observa-se que as

frequências dos princípios "penetração" e "contenção" foram maiores no jogo

reduzido 3vs3, enquanto as frequências relativas aos princípios "unidade

ofensiva" e "equilíbrio" foram maiores no jogo reduzido 5vs5.

As menores variações percentuais encontradas correspondem aos

princípios "espaço" e "mobilidade" na fase ofensiva e "concentração" e

"unidade defensiva" na fase defensiva.


26

Para as variáveis da categoria Localização da Ação no Campo de Jogo

não foi encontrada qualquer diferença significativa. Verifica-se uma distribuição

de ações no campo de jogo semelhante nos dois jogos reduzidos, o que se

confirma nos baixos valores apresentados na coluna referente à variação

percentual.

Tabela 1 – Frequência, percentual e variação percentual das variáveis das categorias Princípios Táticos, Localização da Ação no Campo de Jogo e Resultado da Ação no Jogo reduzido 3vs3 e 5vs5.

Categorias e Variáveis 3vs3 5vs5 Variação

Percentual** N % N %

PRINCÍPIOS TÁTICOS

Ofensivo

Penetração* 54 7,03 27 3,40 -50,00

Cobertura Ofensiva 103 13,41 117 14,72 13,59

Espaço 130 16,93 134 16,86 3,08

Mobilidade 28 3,65 30 3,77 7,14

Unidade Ofensiva* 58 7,55 82 10,31 41,38

Defensivo

Contenção* 93 12,11 62 7,80 -33,33

Cobertura Defensiva 19 2,47 23 2,89 21,05

Equilíbrio* 42 5,47 68 8,55 61,90

Concentração 58 7,55 58 7,30 0,00

Unidade Defensiva 183 23,83 194 24,40 6,01

LOCALIZAÇÃO DA AÇÃO NO CAMPO DE JOGO

Ofensiva

Meio Campo Ofensivo 203 25,06 217 26,79 6,90

Meio Campo Defensivo 210 25,93 188 23,21 -10,48

Defensiva

Meio Campo Ofensivo 156 19,26 138 17,04 -11,54

Meio Campo Defensivo 241 29,75 267 32,96 10,79

RESULTADO DA AÇÃO

Ofensiva

Realizar finalização ao gol* 52 6,42 30 3,70 -42,31

Continuar com a posse de bola 273 33,70 285 35,19 4,40

Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 21 2,59 25 3,09 19,05

Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 19 2,35 25 3,09 31,58

Perder a posse de bola 48 5,93 40 4,94 -16,67

Defensiva

Recuperar a posse de bola 50 6,17 40 4,94 -20,00

Sofrer falta, ganhar lateral ou escanteio 17 2,10 25 3,09 47,06

Cometer falta, ceder lateral ou escanteio 23 2,84 25 3,09 8,70

Continuar sem a posse de bola 254 31,36 285 35,19 12,20

Sofrer finalização ao gol* 53 6,54 30 3,70 -43,40

TOTAL 768 795

* Existência de diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05). Princípios: Penetração (p=0,03), Unidade Ofensiva (p=0,043), Contenção (p=0,013), Equilíbrio (p=0,013). Resultado da Ação:Realizar finalização ao gol (p=0,015), Sofrer finalização ao gol (p=0,012) ** A variação percentual foi calculada do 3vs3 para o 5vs5.


27

Na categoria Resultado da Ação, constata-se diferenças

estatisticamente significativas para as variáveis "realizar finalização ao gol" e

"sofrer finalização ao gol", sendo nestes dois casos as maiores frequências

encontradas relativas ao jogo reduzido 3vs3.

As menores variações percentuais encontradas correspondem à variável

"continuar com a posse de bola" durante a fase ofensiva e "cometer falta, ceder

lateral ou escanteio" na fase defensiva.

3.2 Macro-Categoria Produto

A Tabela 2 apresenta as médias e os desvios padrões das variáveis das

categorias IPT, Ações Táticas, Percentual de Erros e LARP no jogo reduzido

3vs3 e 5vs5. Das 52 variáveis analisadas, foram encontradas duas diferenças

significativas.

Tabela 2 - Médias e desvios padrões das variáveis das categorias IPT, Ação tática, Percentual de Erros e LARP no jogo reduzido 3vs3 e 5vs5.

IPT Ação Tática Percentual de Erros LARP

3vs3 5vs5 3vs3 5vs5 3vs3 5vs5 3vs3 5vs5

Ofensivos

Penetração 56,68±18,04 50,05±31,38 5,4±1,83 2,7±1,82* 22,3±14,78 7±16,36* 2,2±1,4 1,1±1,19

Cobertura Ofensiva 47,54±13,77 57,45±13,94 10,3±4,94 11,7±4,54 16,77±15,57 5,94±10,57 5±2,8 5,5±5,25

Mobilidade 39,47±29,71 36,03±38,42 2,8±3,15 3±4,29 13,33±32,2 0,9±2,87 0,8±1,4 0,1±0,31

Espaço 39,99±12,03 41,33±9,61 13±6,03 13,4±8,26 22,97±23,77 22,57±16,87 9,3±5,03 8±4,69

Unidade Ofensiva 47,2±25,7 58,82±22,32 5,8±3,76 8,2±6,67 34,12±22,75 19,58±30,75 2,5±2,71 3,4±3,62

Defensivos

Contenção 34,52±11,63 27,95±5,83 9,3±4,11 6,2±3,45 50,98±16,55 61,37±21,31 3,1±2,37 2,5±2,83

Cobertura Defensiva 28,96±23,39 31,6±17,58 1,9±1,79 2,3±1,56 18,33±33,74 22,83±32,35 0,2±0,42 0,4±0,51

Equilíbrio 24,35±10,38 33,46±12,75 4,2±2,29 6,8±1,93 63,12±27,2 41,82±21,55 1,6±0,96 2,2±2,48

Concentração 31,53±14,23 33,2±12,32 5,8±3,19 5,8±1,75 29,49±25,27 16,36±18,35 2,7±2,05 2,5±2,12

Unidade Defensiva 32,55±4,38 34,77±9,65 18,3±2,71 19,4±4,37 26,97±16,3 22,36±22,94 7,9±4,43 6,2±3,55

Fase do jogo

Fase Ofensiva 48,18±9,83 53,11±6,43 37,3±6,46 39±2,3 20,53±11,77 12,52±6,87 19,8±6,03 18,1±7,69

Fase Defensiva 32,08±3,83 34,02±7,93 39,5±6,72 40,5±0,52 35,52±11,1 30,29±16,21 15,5±6,83 13,8±9,53

Jogo 40,05±5,25 43,4±1,81 81±9,48 81±0 28,18±8,92 21,51±9,18 35,3±5,61 31,9±4,12

* Existência de diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05). Ações Táticas: Penetração (p=0,02). Percentual de Erro: Penetração (p=0,042)


28

Estas duas diferenças encontradas se referem à variável "penetração"

das categorias Ação Tática e Percentual de Erro, sendo que nos dois casos o

maior valor se refere ao jogo reduzido 3vs3.

Ao observar as médias relativas às variáveis Fase Ofensiva e Fase

Defensiva, constata-se valores maiores no jogo reduzido 5vs5 no que se refere

às categorias IPT e Ação Tática, enquanto que no jogo reduzido 3vs3 observa-

se valores maiores no que diz respeito às categorias Percentual de Erros e

LARP.

3.3 Índices Individuais

A Tabela 3 mostra os índices de performance por jogador. Estes índices

foram calculados para cada princípio, por fase do jogo (ofensivo e defensivo) e

por jogo. Os valores apresentados mostram que os jogadores apresentam

heterogeneidade em suas performances.

Ao comparar os índices de performance dos princípios táticos no jogo

reduzido 3vs3 e no jogo reduzido 5vs5, observa-se que três jogadores

obtiveram maiores valores de índices no jogo 3vs3, seis jogadores obtiveram

maiores valores de índices no jogo 5vs5 e um jogador obteve a mesma

quantidade nos dois jogos.

Ao analisar os Índices de Performance Tático Ofensivo (IPTO) observa-

se que seis jogadores apresentaram valores maiores no jogo 5vs5. Já nos

Índices de Performance Tático Defensivo (IPTD), dos dez jogadores avaliados,

observa-se que cinco apresentaram valores maiores no jogo 3vs3 e cinco no

jogo 5vs5.


29

Tabela 3 - Índice de performance por jogador

Princípios

Jogadores

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

3vs

3

Penetração 23,57 69,00 47,50 45,00 64,38 88,00 63,57 70,00 43,33 52,50

Cobertura Ofensiva 29,00 36,67 67,86 50,00 67,14 60,00 36,36 42,00 50,00 36,36

Mobilidade - 51,00 - 40,00 - 80,00 50,00 72,00 45,00 56,67

Espaço 21,43 31,11 50,00 62,94 49,29 45,00 30,00 38,24 34,29 37,69

Unidade Ofensiva 38,18 - 48,00 55,00 46,00 54,38 58,00 100,00 50,00 22,50

Ind. Perf. Of. 29,29 44,39 55,00 55,22 59,27 59,48 49,57 50,32 39,71 39,59

Contenção 40,71 28,33 41,25 44,38 39,17 55,00 27,00 27,50 14,44 27,50

Cobertura Defensiva 40,00 48,00 - 45,00 53,33 - 10,00 - 53,33 40,00

Equilíbrio 40,00 17,50 16,00 17,50 10,00 40,00 30,00 25,00 30,00 17,50

Concentração 40,77 27,50 22,22 17,50 40,00 45,00 16,67 60,00 24,00 21,67

Unidade Defensiva 34,00 32,06 28,44 32,50 32,75 28,33 35,00 27,27 42,67 32,50

Ind. Perf. Def. 38,08 29,71 28,03 32,50 35,41 37,57 30,41 28,82 32,57 27,71

Ind. Perf. Jogo 34,54 35,41 42,65 44,82 47,76 47,20 39,72 38,48 36,14 33,82

5vs

5

Penetração - 80,00 62,00 90,00 - 70,00 30,00 70,00 52,50 46,00

Cobertura Ofensiva 53,68 56,67 37,06 65,71 80,00 58,75 41,54 62,73 74,29 44,17

Mobilidade - 73,64 - 66,67 60,00 - - 80,00 80,00 -

Espaço 30,00 52,19 27,50 54,21 45,00 45,77 28,75 47,06 42,83 40,00

Unidade Ofensiva 46,00 10,00 51,43 85,00 72,00 49,38 61,25 80,00 80,00 53,24

Ind. Perf. Of. 46,83 59,62 44,25 63,66 54,47 53,90 46,00 57,43 56,25 48,71

Contenção 30,00 27,50 20,00 22,14 25,00 32,73 25,00 25,56 31,67 40,00

Cobertura Defensiva 35,00 10,00 25,00 20,00 - 53,33 40,00 36,00 50,00 46,67

Equilíbrio 28,33 13,57 56,25 27,50 48,75 25,00 41,11 27,50 26,67 40,00

Concentração 40,00 18,33 53,33 18,00 25,00 31,25 45,00 26,67 27,78 46,67

Unidade Defensiva 46,84 30,22 39,13 21,32 30,65 42,14 36,67 31,05 21,00 48,70

Ind. Perf. Def. 39,50 24,88 42,93 22,25 32,80 36,50 37,56 29,75 27,56 46,50

Ind. Perf. Jogo 43,21 41,81 43,58 43,21 43,23 45,31 41,73 42,67 41,73 47,53

Quanto aos Índices de Performance de jogo, verificou-se que os valores

mais elevados e com menores variações entre os dez jogadores encontram-se

no jogo 5vs5.

4. Discussão

O presente estudo teve como objetivo comparar os comportamentos

táticos desempenhados por dez jogadores em situação de jogo reduzido 3vs3 e

5vs5. Através dos resultados pode-se constatar que os comportamentos táticos

se diferenciaram em oito das 76 variáveis analisadas.

A maior frequência constatada no jogo reduzido 3vs3, relativa aos

princípios "penetração" e "contenção", pode ser atribuída ao fato do número


30

reduzido de jogadores em campo induzir o atleta a realizar o princípio

"penetração". O mesmo motivo, aliado às dimensões do campo, obriga os

jogadores adversários a realizarem uma ação mais direta ao portador da bola,

que consegue se posicionar mais facilmente em locais propícios à finalização.

Tal fato é confirmado nas frequências ocorridas para as variáveis "Realizar

Finalização ao Gol" e "Sofrer Finalização ao Gol". Estes resultados apresentam

semelhança com a literatura que tem indicado maior número de finalizações

em campos de menores dimensões (Jones e Drust, 2007; Katis e Kellis, 2009).

A maior frequência do princípio "unidade ofensiva" no jogo reduzido 5vs5

pode ser justificada pelas dimensões do campo e pelo número de jogadores,

que possibilitam uma quantidade maior de momentos em que o jogador

participa num espaço mais recuado, servindo de apoio ao invés de participar

próximo do centro de jogo ou à frente da linha da bola. A maior frequência do

princípio "equilíbrio" pode ser atribuída à quantidade de jogadores e, por

consequência, uma maior distribuição destes pelo campo de jogo, inclusive nos

corredores adjacentes ao de localização da bola.

Em ambos os tipos de jogo observa-se uma baixa frequência do

princípio "mobilidade", o que mostra uma baixa tendência para efetuar ações

entre o último defensor e o gol adversário.

Pelas categorias Localização da Ação no Campo de Jogo e LARP

constata-se uma distribuição de ações no campo semelhantes entre os dois

jogos reduzidos. Observa-se uma distribuição parecida das ações ofensivas

para as variáveis "Meio Campo Ofensivo" e "Meio Campo Defensivo". Já as


31

ações defensivas apresentam-se superiores na variável "Meio Campo

Defensivo" para os dois jogos.

Estes resultados demonstram que, nos dois jogos efetuados, as equipes

convergiram para realizar um ataque baseado no método de jogo ofensivo

"Ataque Rápido" (Garganta, 1997; Barreira, 2006), valorizando a manutenção

da posse de bola através de poucos passes, que se iniciam no meio campo

defensivo e avançando para o meio campo ofensivo enquanto a equipe

organiza seus jogadores. Isto é reforçado na alta frequência da variável

"Continuar em posse de bola" e na baixa frequência da variável "Recuperar a

posse de bola" apresentadas nos dois jogos. Já as ações defensivas tendem

ser realizadas em bloco baixo, ou seja, recuados em seu campo defensivo.

Resultados semelhantes aos descritos foram encontrados em estudos

passados (Costa, I. et al., 2010a; b).

No jogo reduzido 3vs3 observou-se uma rotação posicional entre os

jogadores enquanto que no jogo reduzido 5vs5 se observou menor

movimentação por parte dos mesmos.

As variáveis "Fase Ofensiva" e "Fase Defensiva" para as categorias IPT

e Ação Tática apresentam maiores valores das médias no jogo reduzido 5vs5.

Isto pode demonstrar uma maior facilidade em executar, e de forma bem

sucedida, os comportamentos táticos em campos com maiores dimensões.

Para as mesmas variáveis observa-se que o valor da média para a categoria

Percentual de Erro é maior no jogo reduzido 3vs3, o que pode representar uma

considerável dificuldade em manter a posse de bola nos campos de dimensões

reduzidas.


32

5. Conclusões

Constata-se que nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 os comportamentos

dos jogadores apresentaram diferenças estatisticamente significativas no que

se referem às ações táticas realizadas no teste "FUT-SAT".

Os jogadores demonstraram efetuar com maior frequência os princípios

"penetração" e "contenção" no jogo reduzido 3vs3 e os princípios "unidade

ofensiva" e "equilíbrio" no jogo reduzido 5vs5.

Verifica-se que no jogo 3vs3 os jogadores demonstram reduzir o espaço

de jogo efetivo priorizando ações mais próximas ao centro de jogo, enquanto

que no jogo 5vs5 demonstram aumentar esse espaço através da distribuição

pelo campo de jogo. Percebe-se também uma maior tendência para realizar

ações individuais no 3vs3 enquanto que, no jogo 5vs5, se percebe a tendência

para realizar ações conjuntas. Tais informações podem ser de grande valia

para a formulação de treinos, uma vez que se deve levar em conta os

comportamentos que se pretende induzir e desenvolver.

A partir dos resultados observa-se que, apesar de apresentarem

distribuição semelhante das ações táticas pelo campo de jogo, no jogo

reduzido 3vs3 os jogadores realizaram várias trocas de posicionamento,

enquanto que no jogo reduzido 5vs5 os jogadores, mesmo sem receberem

instruções, apresentaram uma organização mais parecida com o jogo formal,

diferenciando claramente defensores, armadores e atacantes. As diferenças

das dimensões do campo e a quantidade de jogadores em jogo podem explicar

esses resultados.


33

De uma maneira geral pode-se destacar que os jogadores apresentaram

tendência para obterem valores mais elevados no que diz respeito aos índices

de Jogo e da Fase Ofensiva na situação 5vs5, apresentando índices

semelhantes para a Fase Defensiva. Tal pode ser explicado pelo fato

observado nos dois jogos reduzidos de realizarem marcação em bloco baixo,

permitindo à equipe adversária desempenhar ações ofensivas bem sucedidas

mais facilmente no espaço vazio à frente dos marcadores.


34

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Análise Sequencial de comportamentos táticos no Futebol em função

dos estatutos de portador e não-portador da bola em situação de jogo

reduzido 3vs3 e 5vs5

Castelão, D.; Costa, I. T.; Garganta, J.

Artigo a submeter à Revista Motricidade da Universidade de Trás-os-Montes

Análise Sequencial de comportamentos táticos no Fut ebol em função dos estatutos de portador e não-portador da bola em situação de jogo reduzido 3 vs3 e 5vs5

41

Resumo

O presente trabalho teve por objetivo comparar as inter-relações dos

comportamentos táticos desempenhados pelo jogador portador da bola com os

comportamentos táticos desempenhados pelos demais jogadores, em jogos reduzidos

3vs3 e 5vs5 a fim de constatar os diferentes padrões presentes em cada jogo. Foram

avaliadas 330 sequências de jogo constituídas por 2600 condutas. Os instrumentos

utilizados no estudo foram o “FUT-SAT”, que permite avaliar os comportamentos

desempenhados pelos jogadores de acordo com dez princípios táticos fundamentais do

jogo de Futebol, e o software SDIS & GSEQ, que permite organizar e analisar as inter-

relações existentes nas sequências observadas. A análise dos dados foi realizada a partir

da técnica de coordenadas polares, a qual permite estabelecer as diferentes relações de

indução ou inibição que se processam entre as condutas. Para aferir a fiabilidade intra-

avaliador recorreu-se ao teste de Kappa de Cohen. Os resultados mostram que no jogo

reduzido 3vs3 as ações realizadas pelo portador da bola estimulam nos outros jogadores

mais ações diretas e próximas do centro de jogo do que no jogo reduzido 5vs5.

Palavras-chave: Futebol, Jogos reduzidos, Princípios Táticos de Jogo, Metodologia

Observacional, Análise Sequencial.


42

Abstract

The present study aims to compare inter-relations among the tactical behaviors

performed by the ball possession player with the tactical behaviors performed by the

other players in small-sided-games 3vs3 and 5vs5, in order to evidence different patterns

existing in each game. There were evaluated 330 game sequences built from 2600

behaviors. The instruments used in the study were the “FUT-SAT” test, which allows us

to evaluate the behaviors performed by the players in accordance with the ten essential

tactical behaviors on the soccer game, and the software SDIS & GSEQ, which allows us

to organize and analyze the existing inter-relations on the watched sequence. The data

analysis was accomplished with the polar coordinates technique, which allows us to

establish the different relations of induction or inhibition that are processed among the

behaviors. In order to derive the reliability intra-evaluator, it was used the scores of

Kappa. The results show that in the small-sided-game 3vs3 the actions performed by the

ball possession player stimulate in the other players more direct actions and closer to the

centre of the game than the ones performed in the small-sided-games 5vs5.

Key-words: Soccer, Small-sided-games, Game Principles, Observational Methodology,

Sequential Analysis.


43

1. Introdução

O Futebol é um esporte de colaboração e oposição onde ocorrem as interações

em um espaço comum e com participação simultânea das duas equipes participantes

(Hernández Moreno, 1987); tal característica permite considerá-lo um dos jogos

esportivos coletivos mais imprevisíveis e aleatórios (Costa, et al., 2002).

Como os demais jogos esportivos coletivos, apresenta uma concepção de jogo

baseada na contínua interação entre os regulamentos impostos e as soluções práticas

encontradas pelos jogadores de acordo com suas capacidades táticas, técnicas, físicas e

psicológicas (Deleplace, 1979). Consequentemente, percebe-se uma grande importância

referente ao fator estratégico-tático (Deleplace, 1994).

A tática consiste na totalidade das ações individuais e coletivas no domínio da

preparação técnica, física e psicológica, bem como outras medidas específicas

selecionadas, organizadas e coordenadas objetivando à sua utilização racional e

oportuna no decorrer do jogo (Teodorescu, 1984). Tal perspectiva confere um destaque

especial às movimentações dos jogadores e ao respectivo posicionamento no campo,

que se refletem na capacidade de ocuparem e/ou criarem espaços livres em função dos

princípios táticos mais adequados aos diferentes momentos do jogo (Costa, 2010).

Visando o desenvolvimento dos comportamentos táticos, treinadores e

professores têm alterado a estrutura formal e funcional do jogo de Futebol através dos

jogos reduzidos, facilitando o fluxo de jogo e/ou induzindo a ocorrência de ações

relacionadas a tais comportamentos (Holt & Strean, 2002; Mesquita, et al., 2005).

Segundo Garganta (2002), é aconselhável que durante as fases iniciais de aprendizado o

jogo seja realizado num espaço de jogos reduzidos e com configurações numéricas de

jogadores menores, diminuindo assim a complexidade e facilitando o aprendizado.


44

Ainda segundo o mesmo autor, dentre os jogos reduzidos, a configuração 3vs3 se

apresenta como estrutura mínima que garante a ocorrência de todos os princípios táticos

inerentes ao jogo formal de Futebol. Configurações maiores seriam responsáveis pelo

aumento do espaço de jogo efetivo tanto em largura quanto em profundidade.

Devido à importância reconhecida à tática, observa-se a tendência em considerar

os estudos e discussões científicas voltados para a análise de jogo como fundamentais

para o desenvolvimento do esporte (Garganta & Pinto, 1994). Esta tendência se

confirma em diversos estudos realizados recentemente no âmbito do Futebol (Garganta,

1997; Paulis & Mendo, 2000; Caldeira, 2001; Cunha, et al., 2001; Barreira, 2006;

Ferreira, et al., 2008; Costa,Garganta,Greco,Mesquita, et al., 2009b, 2009a).

Para o desenvolvimento desses tipos de estudos, com o objetivo de obter

informações referentes ao comportamento dos atletas e equipes em contextos de treinos

e competições, os pesquisadores têm utilizado a metodologia observacional. Tal

metodologia consiste na delimitação dos comportamentos a observar, seguido da

construção de um instrumento ad hoc para proceder a codificação dos comportamentos

que interessam, realização da análise dos dados de acordo com os objetivos do estudo e,

por fim, interpretação dos resultados (Anguera, et al., 2000).

Uma das possíveis maneiras de concretizar tal análise é recorrendo à Análise

Sequencial (Paulis & Mendo, 2002), que consiste em averiguar as probabilidades além

do acaso de que um dado comportamento tenha a sua ocorrência em função da prévia

ocorrência de outro(s) (Mendo, 1999). Portanto observa-se a existência do

comportamento critério (CC), que é a categoria a partir da qual se contabilizam as

transações (retardos) de forma prospectiva (para frente) ou retrospectiva (para trás) e do

comportamento objeto (CO), que é a categoria até onde se contabilizam os retardos. A


45

análise pode ser concretizada através da técnica de Retardos (Anguera, 2005) ou através

da técnica de Coordenadas Polares (Sackett, 1980).

O presente estudo tem como objetivo comparar as inter-relações que se

estabelecem entre os comportamentos táticos realizados pelo portador da bola com os

comportamentos táticos realizados pelos demais jogadores nas situações de jogo

reduzido 3vs3 e 5vs5 com recurso à Análise Sequencial pela técnica das Coordenadas

Polares.

2. Material 2.1 Amostra

Para a realização do presente estudo foram avaliados os jogadores do escalão

Sub-11 de um clube de Futebol Português. A escolha por este escalão se justifica no

interesse de investigar os comportamentos realizados por jogadores em fase inicial de

aprendizado tático (Greco, 1998; Garganta, 2002).

A amostra foi formada por 330 sequências de jogo constituídas por 2600

comportamentos. Destas, 175 sequências constituídas por 1050 comportamentos foram

realizadas no jogo reduzido 3vs3, enquanto 155 sequências constituídas por 1550

comportamentos foram realizadas no jogo reduzido 5vs5.

2.2 Procedimentos de Recolha de Dados

A coleta de dados foi realizada em um clube Português de nível nacional, com

autorização dos respectivos pais e dirigentes. Os jogadores receberam informações

relevantes sobre o teste e realizaram 30 segundos de “familiarização”. Para facilitar a

identificação os jogadores utilizaram coletes numerados.


46

2.3 Instrumento de Recolha e Análise dos Dados

2.3.1 Caracterização do Teste "FUT-SAT"

O primeiro instrumento utilizado no estudo foi o teste “FUT-SAT”,

desenvolvido no Centro de Estudos dos Jogos Desportivos da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (Costa,Garganta,Greco,&Mesquita, 2009a). O teste permite

avaliar as ações táticas desempenhadas por cada um dos jogadores participantes, de

acordo com os dez princípios táticos fundamentais do jogo de Futebol

(Costa,Garganta,Greco,&Mesquita, 2009b). Para isto, observa-se cada um dos

jogadores durante toda a duração do teste a partir da unidade de observação denominada

posse de bola.

A posse de bola é confirmada quando um jogador respeita pelo menos um dos

seguintes pressupostos (Garganta, 1997): (a) executa um passe positivo (permite a

equipe manter a posse de bola); (b) realiza um remate (finalização); (c) realiza pelo

menos “três” contatos consecutivos na bola, demonstrando assim estar com o controle

da mesma.

O teste "FUT-SAT" é aplicado em um campo com comprimento entre 27 e 36

metros e largura entre 13,5 e 27 metros. Todas essas medidas são válidas tomando em

conta o coeficiente de racionalização de densidade dos jogadores permitidos pela regra

oficial do Futebol (Costa, 2010). Em todas essas medidas o centro de jogo é de 5 metros

tendo em conta o intervalo dos valores das constantes encontrados entre o rácio do

menor e do maior valor. Na aplicação do teste é solicitado aos jogadores que joguem de

acordo com as regras oficiais do Futebol, com exceção da regra do “impedimento” e o

tempo de duração é de quatro minutos sem paralisações

(Costa,Garganta,Greco,&Mesquita, 2009a).


47

No presente estudo foram aplicados dois jogos reduzidos 3vs3 e, em um segundo

dia de coleta, um jogo reduzido 5vs5. Para o jogo reduzido 3vs3 foram utilizadas as

medidas máximas do campo. No jogo reduzido 5vs5 o teste “FUT-SAT” foi aplicado

num campo reduzido de 60 metros de comprimento por 45 metros de largura. Esta

configuração foi concebida com base na proporção das dimensões máximas

estabelecidas no teste para o jogo reduzido 3vs3. Ao ter em conta essas medidas, o valor

encontrado para o centro de jogo foi de 6 metros de raio. Seguindo a proporção da

quantidade de jogadores avaliados e do tamanho do campo em relação ao teste original,

foi determinada uma duração de sete minutos e vinte segundos sem paralisações.

2.3.2 SDIS & GSEQ

O segundo instrumento utilizado foi o software SDIS (Sequential Data

Interchange Standard) e GSEQ (Generalizade Sequential Querier) for Windows®,

versão 4.1.2 (Bakeman & Quera, 1996). Todos os comportamentos táticos observados

nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 foram codificados em um arquivo com extensão SDS.

Cada unidade de observação "posse de bola" foi considerada como uma sequência de

jogo, sendo transcrita em uma linha, separando os comportamentos referentes aos

jogadores por ponto e terminando em ponto e vírgula, formando assim um multievento.

A última sequência de jogo foi finalizada com barra inclinada (/), indicando o fim da

unidade de análise.

Os comportamentos "jogador em cobrança" (referentes à cobrança de lateral ou

falta), "penetração" e "espaço com bola" (princípios referentes ao portador da bola)

foram considerados CC e os comportamentos referentes aos demais princípios foram

consideradas CO. Na análise diferenciou-se as CC realizadas no meio campo ofensivo e


48

no meio campo defensivo, sendo realizados através da técnica de Coordenadas Polares

englobando cinco retardos retrospectivos e cinco retardos prospectivos.

Para a representação gráfica das coordenadas polares foi utilizado o programa

mathgv 4.0 for Windows®.

2.3.3 Materiais para recolha e tratamento das imagens

Para a gravação foi utilizada uma câmera digital PANASONIC modelo NV –

DS35EG. O material de vídeo obtido foi introduzido em formato digital em um

computador portátil (marca DELL, modelo Inspiron 1545, processador Intel T6500) via

cabo (IEEE 1394) convertendo-os em ficheiros “.avi”.

Para processar as imagens e analisar o jogo foram utilizados os softwares Utilius

VS® e Soccer Analyser®. O primeiro destina-se à análise, categorização e arquivo das

ações avaliadas. Já o Soccer Analyser®, construído especificamente para o Teste “FUT-

SAT”, é utilizado para inserir as referências espaciais no vídeo, possibilitando avaliar a

posição e movimentação dos jogadores de forma precisa.

2.4 Procedimentos de Análise dos dados

2.4.1 Análise de Fiabilidade no teste "FUT-SAT"

Na aferição da fiabilidade no teste "FUT-SAT" foram reavaliadas 14% da

amostra (364 ações táticas), valor superior ao de referência (10%) apontado pela

literatura (Tabachnick & Fidell, 2007). Para estabelecer a fiabilidade intra-avaliador

foram analisadas novamente as ações respeitando um intervalo de 20 dias (Robinson &

O’Donoghue, 2007). Após a aplicação do teste Kappa de Cohen constatou-se que a

fiabilidade intra-avaliador foi de 0,91 com erro padrão de 0,01, sendo esta classificada

como “perfeita” pela literatura (Landis & Koch, 1977).


49

2.4.2 Análise Sequencial com recurso ao SDIS & GSEQ

Para análise dos dados através da prova binomial foi utilizado o software SDIS

(Sequential Data Interchange Standard) e GSEQ (Generalizade Sequential Querier) for

Windows®, versão 4.1.2 (Bakeman & Quera, 1996). A Análise Seqüencial recorre ao

cálculo do Qui-quadrado (χ²) para rejeitar a hipótese nula, com o nível de significância

p≤0,05. Após este cálculo, recorreu-se à estatística z Hipergeométrica (resíduos

ajustados), sendo os valores ≥ |1,96| estatisticamente significativos. Valores positivos

demonstram inter-relação de ativação dos comportamentos enquanto valores negativos

demonstram inter-relação de inibição.

2.4.3 Análise Sequencial pela técnica de Coordenadas Polares

Para a concretização da Análise Sequencial pela técnica de Coordenadas Polares

utiliza-se os valores encontrados para os resíduos ajustados calculando assim o Zsum

retrospectivo e prospectivo (Peñas & Anguera, 2002). O Zsum é calculado através da

soma dos resíduos ajustados dividido pela raiz quadrada do número de retardos

utilizados (Sackett, 1980). O valor encontrado para os retardos retrospectivos refere-se

ao ponto do eixo y (eixo vertical) no gráfico de coordenadas polares e o valor

encontrado para os retardos prospectivos refere-se ao ponto do eixo x (eixo horizontal).

Para obter o valor da distância entre a origem (0,0) e o ponto formado pelos dois

Zsums (raio) utiliza-se o teorema de Pitágoras, onde os Zsums são considerados os dois

catetos. O raio se refere à inter-relação estatística do comportamento critério e o

comportamento objeto em questão. Quando este valor obtido é ≥ 1,96 demonstra que é

estatisticamente significativo para p ≥ 0,05 (Peñas & Anguera, 2002). As possíveis

combinações entre os sinais, positivo e negativo, referentes aos Zsums, determinam a

localização do raio em um dos quatro quadrantes possíveis. Quando se encontra no


50

quadrante I (+,+) mostra inter-relação de dupla ativação, ou seja, retrospectivamente a

CO ativa a CC e prospectivamente é ativado pelo mesmo; no quadrante II (-,+) significa

que a CO retrospectivamente ativa a CC e prospectivamente é inibido pelo mesmo

(ativação/inibição); no quadrante III (-,-) significa inter-relação de dupla inibição; e no

quadrante IV (+,-) significa que retrospectivamente a CO inibi a CC e prospectivamente

é ativada pelo mesmo (inibição/ativação).

O valor encontrado para Zsum retrospectivo dividido pelo valor do raio refere-se

ao ângulo (ℓ) presente na origem em radianos. Após passar este ℓ para graus, tendo o

quadrante referente ao raio em mente, calcula-se o ℓ final em relação ao eixo x (Peñas

& Anguera, 2002). No caso do quadrante I o valor do ℓ final é igual ao próprio ℓ, no

quadrante II é igual a 180o-ℓ, no quadrante III é igual a 180o+ℓ e no quadrante IV é

igual a 360o-ℓ.

3. Resultados

Os resultados referentes às inter-relações estatísticas de ativação ou inibição da

realização do comportamento "penetração" com os comportamentos realizados pelos

demais jogadores nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 são apresentados na Tabela 1 e

representados na Figura 1.

Ao analisar as inter-relações de ativação ou inibição representados na Figura 1,

observa-se a ocorrência de 18 inter-relações estatisticamente significativas. Destas, dez

se referem ao jogo reduzido 3vs3 e oito se referem ao jogo reduzido 5vs5.

Análise Sequencial de comportamentos táticos no Futebolportador e não

Tabela 1 - Módulos e ângulrealização do comportamentodemais jogadores.

Princípio

CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

defe

nsi

vo

Cobertura Ofensiva cb1

Espaço sem Bola es1

Mobilidade mb1

Unidade Ofensiva uo1

Contenção ct1

Cobertura Defensiva cd1

Equilíbrio Defensivo ed1

Equilíbrio de Recuperação er1

Concentração cc1

Unidade Defensiva ud1

CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

ofe

nsi

vo



Mobilidade mb2


Contenção ct2




Concentração cc2


L.= Legenda no gráfico polar, Q. = Quadrante referente ao raio.

Figura 1 - Vetores correspondentes à penetração com os comportamentos

comportamentos táticos no Futebol em função portador e não -portador da bola em situação de jogo reduzido

51

Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à intercomportamento penetração com os comportamentos realizados pelos

3vs3

L. Zsum x Zsum y Q. Raio ℓ Final Zsum x Zsum y

cb1 -0,72 -0,38 III 0,82 207,96 -0,41 0,29

es1 0,96 3,14 I 3,28 73,02 3,26 2,65

mb1 1,90 0,72 I 2,03 20,79 0,07 0,17

uo1 -1,37 -1,68 III 2,16 230,79 -3,39 -2,08

ct1 2,35 -0,21 IV 2,36 354,79 -0,30 -0,33

cd1 -1,27 0,84 II 1,52 146,40 1,10 -0,13

ed1 -0,16 -1,14 III 1,16 262,00 0,25 -0,95

er1 -0,68 -1,02 III 1,22 236,02 1,27 -0,59

cc1 0,34 -0,03 IV 0,34 354,74 1,00 1,86

ud1 -0,97 -0,88 III 1,30 222,22 -0,08 -1,61

cb2 -1,59 1,29 II 2,05 140,85 -0,86 -0,85

es2 -2,27 -0,71 III 2,37 197,31 -2,32 -3,53

mb2 -0,22 0,43 II 0,49 117,27 1,69 1,08

uo2 1,52 0,94 I 1,79 31,70 4,31 2,31

ct2 0,54 2,19 I 2,26 76,24 -0,69 -0,98

cd2 2,55 -1,74 IV 3,09 325,80 0,07 -0,18

ed2 0,13 -0,75 IV 0,76 279,79 -0,72 -0,18

er2 3,58 0,94 I 3,70 14,78 0,93 3,29

cc2 -0,78 -2,63 III 2,75 253,45 -1,92 -0,99

ud2 -0,30 -1,64 III 1,67 259,81 -1,19 0,53


Vetores correspondentes à inter-relação da realização do comportamentocomportamentos realizados pelos demais jogadores.

dos estatutos de reduzido 3vs3 e 5vs5

inter-relação da realizados pelos

5vs5

Zsum y Q. Raio ℓ Final

0,29 II 0,50 144,88

2,65 I 4,20 39,11

0,17 I 0,18 68,46

2,08 III 3,98 211,44

0,33 III 0,45 227,84

0,13 IV 1,10 353,48

0,95 IV 0,98 285,05

0,59 IV 1,40 335,31

1,86 I 2,12 61,76

1,61 III 1,61 267,14

0,85 III 1,21 224,85

3,53 III 4,22 236,66

1,08 I 2,01 32,63

2,31 I 4,89 28,16

0,98 III 1,20 234,89

0,18 IV 0,20 291,32

0,18 III 0,74 194,04

3,29 I 3,42 74,22

0,99 III 2,16 207,26

0,53 II 1,31 156,16

comportamento


52

No jogo reduzido 3vs3, observa-se que as inter-relações referentes aos princípios

"espaço sem bola", "mobilidade", "unidade ofensiva" e "contenção" foram significativas

quando o princípio "penetração" foi realizado no meio campo defensivo. Já as inter-

relações referentes aos princípios "cobertura ofensiva", "espaço sem bola", "contenção",

"cobertura defensiva", "equilíbrio de recuperação" e "concentração" foram

significativos quando o princípio "penetração" foi realizado no meio campo ofensivo.


"espaço sem bola", "unidade ofensiva" e "concentração" foram significativas quando o

princípio "penetração" foi realizado no meio campo defensivo. Já as inter-relações

referentes aos princípios "espaço sem bola", "mobilidade", "unidade ofensiva",

"equilíbrio de recuperação" e "concentração" foram significativos quando o princípio

"penetração" foi realizado no meio campo ofensivo.

Os resultados referentes às inter-relações estatísticas de ativação ou inibição

entre a realização do comportamento "espaço com bola" com os comportamentos

realizados pelos demais jogadores nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 são apresentados na

Tabela 2 e representados na Figura 2.

Ao analisar as inter-relações de ativação ou inibição representados na Figura 2,

observa-se a ocorrência de 11 inter-relações estatisticamente significativas. Destas, três

se referem ao jogo reduzido 3vs3 e oito se referem ao jogo reduzido 5vs5.


"espaço sem bola" e "equilíbrio defensivo" foram significativas quando o princípio

"espaço com bola" foi realizado no meio campo defensivo. Já a inter-relação referente

ao princípio "cobertura defensiva" foi significativo quando o princípio "espaço com

bola" foi realizado no meio campo ofensivo.


Tabela 2 - Módulos e ângulrealização do comportamentojogadores.

Princípio

CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

defe

nsi

vo



Mobilidade mb1


Contenção ct1




Concentração cc1


CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

ofe

nsi

vo



Mobilidade mb2


Contenção ct2




Concentração cc2



Figura 2 - Vetores correspondentes à espaço com bola com os comportamentos


53

Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à intercomportamento espaço com bola com os comportamentos

3vs3


cb1 -0,68 -0,36 III 0,77 207,76 -1,69 0,20

es1 2,32 0,59 I 2,39 14,27 1,93 2,76

mb1 -0,79 -0,05 III 0,79 183,58 0,25 -0,36

uo1 -1,04 -0,42 III 1,13 202,18 -2,57 -2,11

ct1 -0,85 0,14 II 0,86 170,39 0,61 0,68

cd1 -0,02 0,43 II 0,43 92,98 0,45 2,26

ed1 -0,61 1,88 II 1,98 108,07 1,74 -0,89

er1 0,74 -0,32 IV 0,81 336,55 -1,86 -1,65

cc1 -0,11 1,69 II 1,70 93,62 1,96 -1,52

ud1 0,42 -1,44 IV 1,50 286,11 0,63 0,47

cb2 -0,45 -0,06 III 0,46 187,33 1,83 -0,29

es2 0,64 0,03 I 0,64 2,80 0,15 -1,85

mb2 -0,61 -0,03 III 0,61 182,95 -1,30 -0,07

uo2 -0,18 0,22 II 0,29 129,92 0,42 -0,43

ct2 0,91 0,14 I 0,92 8,96 0,58 0,51

cd2 0,94 2,32 I 2,50 67,84 0,12 -0,71

ed2 -0,39 0,58 II 0,70 124,09 -0,91 1,57

er2 1,11 -0,13 IV 1,12 353,58 0,95 0,89

cc2 0,06 -0,71 IV 0,71 275,06 -1,57 -1,39

ud2 -1,17 -1,44 III 1,85 230,97 -1,21 3,62


Vetores correspondentes à inter-relação da realização do comportamentocomportamentos realizados pelos demais jogadores.


inter-relação da comportamentos dos demais

5vs5


0,20 II 1,71 173,38

2,76 I 3,37 55,11

0,36 IV 0,44 304,18

2,11 III 3,32 219,37

0,68 I 0,91 47,78

2,26 I 2,31 78,71

0,89 IV 1,96 332,97

1,65 III 2,49 221,72

1,52 IV 2,48 322,18

0,47 I 0,79 36,67

0,29 IV 1,86 351,13

1,85 IV 1,86 274,56

0,07 III 1,30 182,96

0,43 IV 0,61 314,40

0,51 I 0,77 41,72

0,71 IV 0,72 279,29

1,57 II 1,81 120,04

0,89 I 1,30 43,05

1,39 III 2,09 221,53

3,62 II 3,82 108,43

comportamento realizados pelos demais jogadores.


54


"espaço sem bola", "unidade ofensiva", "cobertura defensiva", "equilíbrio defensivo",

"equilíbrio de recuperação" e "concentração" foram significativas quando o princípio

"espaço com bola" foi realizado no meio campo defensivo. Já as inter-relações

referentes aos princípios "concentração" e "unidade defensiva" foram significativas

quando o princípio "espaço com bola" foi realizado no meio campo ofensivo.

Os resultados referentes às inter-relações estatísticas de ativação ou inibição do

comportamento "jogador em cobrança" com os comportamentos realizados pelos

demais jogadores nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 são apresentados na Tabela 3 e

representados na Figura 3.

Ao analisar as inter-relações de ativação ou inibição representadas na Figura 3,

observa-se a ocorrência de 16 inter-relações estatisticamente significativas. Destas, sete

se referem ao jogo reduzido 3vs3 e nove se referem ao jogo reduzido 5vs5.


"equilíbrio defensivo", "concentração" e "unidade defensiva" foram significativas

quando o "jogador em cobrança" foi realizado no meio campo defensivo. Já as inter-

relações referentes aos princípios "cobertura ofensiva", "contenção", "equilíbrio de

recuperação" e "unidade defensiva" foram significativas quando o "jogador em

cobrança" foi realizado no meio campo ofensivo.


Tabela 3 - Módulos e ângulcomportamento jogador em cobrança com os

Princípio

CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

defe

nsi

vo



Mobilidade mb1


Contenção ct1




Concentração cc1


CC

re

aliz

ado

no

me

io c

am

po

ofe

nsi

vo



Mobilidade mb2


Contenção ct2




Concentração cc2



Figura 3 - Vetores correspondentes à cobrança com os comportamentos


55

Módulos e ângulos dos vetores correspondentes à interjogador em cobrança com os comportamentos dos demais jogadores.

3vs3


cb1 -0,25 -0,33 III 0,42 232,88 1,91 -0,54

es1 0,27 -0,89 IV 0,94 286,96 0,16 1,46

mb1 1,71 0,89 I 1,92 27,40 -0,16 -0,41

uo1 -1,00 -0,88 III 1,33 221,46 -1,41 -2,08

ct1 -0,90 0,00 -1,37 1,64

cd1 -0,17 -0,64 III 0,67 254,85 -0,63 -0,59

ed1 3,20 1,95 I 3,75 31,34 -0,37 1,54

er1 -1,37 -0,64 III 1,51 205,20 -0,38 -1,18

cc1 2,20 1,94 I 2,94 41,36 0,84 1,65

ud1 -2,33 0,47 II 2,38 168,50 0,35 -0,66

cb2 2,67 -0,91 IV 2,83 341,16 -1,04 1,83

es2 -0,27 -1,68 III 1,70 260,76 -2,09 -1,12

mb2 -1,35 -1,02 III 1,69 217,05 -1,33 -0,83

uo2 1,04 1,36 I 1,72 52,62 2,20 4,55

ct2 -2,22 -2,63 III 3,44 229,79 1,95 -1,91

cd2 -1,48 -0,89 III 1,73 211,07 -1,23 -0,76

ed2 -0,98 0,38 II 1,05 158,79 0,34 -1,31

er2 -1,89 -1,12 III 2,19 210,64 -1,45 -1,70

cc2 -0,86 0,48 II 0,99 150,64 0,42 0,54

ud2 3,18 5,08 I 6,00 57,94 2,09 -2,28


Vetores correspondentes à inter-relação do comportamento jogador em comportamentos realizados pelos demais jogadores.


inter-relação do demais jogadores.

5vs5


0,54 IV 1,98 344,14

1,46 I 1,47 83,72

0,41 III 0,44 249,17

2,08 III 2,52 235,86

1,64 II 2,14 129,82

0,59 III 0,86 222,89

1,54 II 1,59 103,37

1,18 III 1,24 251,89

1,65 I 1,85 63,13

0,66 IV 0,75 298,09

1,83 II 2,11 119,67

1,12 III 2,37 208,11

0,83 III 1,57 211,97

4,55 I 5,05 64,25

1,91 IV 2,72 315,60

0,76 III 1,45 211,87

1,31 IV 1,35 284,40

1,70 III 2,24 229,62

0,54 I 0,68 51,63

2,28 IV 3,09 312,54

jogador em


56


"cobertura ofensiva", "unidade ofensiva" e "contenção" foram significativas quando o

"jogador em cobrança" foi realizado no meio campo defensivo. Já as inter-relações

referentes aos princípios "cobertura ofensiva", "espaço sem bola", "unidade ofensiva",

"contenção", "equilíbrio de recuperação" e "unidade defensiva" foram significativas

quando o "jogador em cobrança" foi realizado no meio campo ofensivo.

4. Discussão O presente trabalho teve por objetivo comparar as inter-relações de ativação ou

inibição presentes nos comportamentos táticos realizados pelo portador da bola e os

comportamentos táticos realizados pelos demais jogadores em jogos reduzidos 3vs3 e

5vs5. Através dos resultados pode-se observar 45 inter-relações estatisticamente

significativas das 120 analisadas.

No jogo reduzido 3vs3, ao observar o princípio "penetração" realizado no meio

campo defensivo, pode-se justificar as inter-relações de dupla ativação com os

princípios "espaço sem bola" e "mobilidade" pelo espaço de jogo existente à frente da

linha da bola, provocando maior distribuição dos jogadores pelo campo de jogo. A

dupla inibição com o princípio "unidade ofensiva" justifica-se pelo espaço reduzido

atrás da linha da bola, e a inibição/ativação com o princípio "contenção" devido às

constantes ações diretas dos adversários ao portador da bola, dificultando assim a

condução da mesma. Já ao observar o princípio "penetração" realizado no meio campo

ofensivo, as inter-relações de dupla ativação com os princípios "contenção" e

"equilíbrio de recuperação" justificam-se pelo aglomerado formado entre o portador da

bola e o gol, assim como a necessidade de superá-los a fim de um bom posicionamento

para concretizar a finalização. A dupla inibição com os princípios "espaço sem bola" e


57

"concentração" justifica-se pelo reduzido espaço de jogo à frente do portador da bola. A

ativação/inibição referente ao princípio "cobertura ofensivo", explica-se pelo fato do

apoio próximo encorajá-lo a realizar o princípio "penetração", e a inibição/ativação

referente ao princípio "cobertura defensiva", pela movimentação dos adversários

buscando apoiar o jogador que realiza o princípio "contenção".

No jogo reduzido 5vs5, ao observar o princípio "penetração" realizado no meio

campo defensivo, pode-se justificar as inter-relações de dupla ativação com os

princípios "espaço sem bola" e "concentração" pela distância existente entre o portador

da bola e o gol adversário. A dupla inibição com o princípio "unidade ofensiva",

explica-se pelo espaço reduzido atrás do portador da bola. Já ao observar o princípio

"penetração" realizado no meio campo ofensivo, as inter-relações de dupla ativação com

os princípios "mobilidade" e "equilíbrio de recuperação" podem ser justificadas pelas

dimensões do campo, proporcionando maior distribuição dos jogadores e, com o

princípio "unidade ofensiva", pela quantidade de jogadores, o que possibilita a

realização de ações referentes ao apoio mais recuado. A dupla inibição dos princípios

"espaço sem bola" e "concentração" justifica-se devido o reduzido espaço de jogo à

frente do portador da bola.

No jogo reduzido 3vs3, ao observar o princípio "espaço com bola" realizado no

meio campo defensivo, pode-se justificar a inter-relação de dupla ativação com o

princípio "espaço sem bola" devido ao espaço de jogo existente à frente do portador da

bola, e a ativação/inibição do princípio "equilíbrio defensivo" pelos deslocamentos

realizados pelos jogadores adversários para os corredores adjacentes a fim de igualar as

forças nestas localidades, dificultando assim a continuidade do jogo por este corredor.

Já ao observar o princípio "espaço com bola" realizado no meio campo ofensivo, a


58

inter-relação de dupla ativação com o princípio "cobertura defensiva" se justifica na

tentativa do portador da bola se posicionar em locais propícios para realizar a

finalização e as movimentações dos defensores procurando impedi-lo.

No jogo reduzido 5vs5, ao observar o princípio "espaço com bola" realizado no

meio campo defensivo, pode-se justificar as inter-relações de dupla ativação com os

princípios "espaço sem bola" e "cobertura defensiva" pela dimensão do campo e

quantidade de jogadores, possibilitando momentos em que os marcadores avançam e

obrigam o portador da bola a recuar para reorganizar o ataque. A dupla inibição com os

princípios "unidade ofensiva" e "equilíbrio de recuperação" explica-se pelo reduzido

espaço de jogo atrás do portador da bola, e a inibição/ativação dos princípios "equilíbrio

defensivo" e "concentração" devido às ações realizadas pelos defensores a fim de criar

superioridade numérica à frente da linha da bola. Já ao observar o princípio "espaço

com bola" realizado no meio campo ofensivo, a inter-relação de dupla inibição com o

princípio "concentração" justifica-se pelo reduzido espaço de jogo à frente do portador

da bola, e a ativação/inibição com o princípio "unidade defensiva" na possível

organização defensiva no momento da ação, dificultando o avanço do portador da bola.

No jogo reduzido 3vs3, ao observar o comportamento "jogador em cobrança"

realizado no meio campo defensivo, pode-se justificar a inter-relação de dupla ativação

com os princípios "equilíbrio defensivo" e "concentração" pelo fato de

retrospectivamente a realização destes princípios representarem um balanceamento das

forças ofensivas e defensivas nas zonas próximas ao centro de jogo, o que aumenta a

possibilidade de acontecer faltas ou laterais e, prospectivamente, representarem as

movimentação adversárias objetivando impedir a progressão e retomar a posse de bola.

A ativação/inibição com o princípio "unidade defensiva" justifica-se pela possível


59

organização defensiva no momento da ação. Já ao observar o comportamento "jogador

em cobrança" realizado no meio campo ofensivo, a inter-relação de dupla ativação com

o princípio "unidade defensiva" se justifica pelo recuo dos jogadores na tentativa de

reorganizar a equipe; a dupla inibição com o princípio "contenção" pelo comportamento

dos marcadores, buscando cercar o portador da bola, ao invés de realizar ações diretas e

com o princípio "equilíbrio de recuperação", devido ao possível recuo da equipe

defensora colocando-se à frente da linha da bola. A inibição/ativação com o princípio

"cobertura ofensiva" justifica-se pelo posicionamento próximo ao cobrador por parte

dos demais jogadores da equipe.

No jogo reduzido 5vs5, ao observar o comportamento "jogador em cobrança"

realizado no meio campo defensivo, pode-se justificar a inter-relação de dupla inibição

com o princípio "unidade ofensiva" pela busca de um posicionamento mais próximo por

parte dos demais jogadores da equipe. A ativação/inibição com o princípio "contenção"

justifica-se devido às ações diretas realizadas pelos jogadores adversários mais

adiantados, e a inibição/ativação com o princípio "cobertura ofensiva" devido à

movimentação dos jogadores da equipe objetivando um posicionamento mais próximo

do cobrador. Já ao observar o comportamento "jogador em cobrança" realizado no meio

campo ofensivo, a inter-relação de dupla ativação com o princípio "unidade ofensiva" se

justifica no constante posicionamento de um dos jogadores da equipe recuado, servindo

de apoio. A dupla inibição com o princípio "espaço sem bola" explica-se devido ao

espaço reduzido à frente do cobrador e com o princípio "equilíbrio de recuperação"

devido ao possível recuo dos adversários posicionando-se à frente da linha da bola. A

ativação/inibição com o princípio "cobertura ofensiva" justifica-se devido às

movimentações de desmarcação realizadas pelos demais jogadores da equipe e a


60

inibição/ativação com os princípios "contenção" e "unidade defensiva" devido às

movimentações da equipe adversária buscando anular as ações ofensivas.

Resultados semelhantes aos apresentados nesta discussão foram encontrados em

estudos passados que compararam diferentes configurações de jogos reduzidos (Grant,

et al., 1999; Platt, et al., 2001; Jones & Drust, 2007; Costa, et al., 2010a, 2010b).

5. Conclusões Constata-se que nos jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 as inter-relações de ativação ou

inibição entre os comportamentos táticos realizados pelo atleta portador da bola com os

comportamentos táticos realizados pelos demais jogadores se diferem.

No jogo reduzido 3vs3 constata-se a tendência para os comportamentos

realizados pelo portador da bola estimularem ações táticas diretas e próximas do centro

de jogo por parte dos adversários, independentemente da localização do mesmo no

campo de jogo. Já em relação aos companheiros de equipe, quando os comportamentos

do portador da bola são realizados no meio campo defensivo, estimulam ações buscando

profundidade. Quando realizados no meio campo ofensivo, estimulam ações de apoio

próximas do portador. No jogo reduzido 5vs5 constata-se a tendência dos

comportamentos realizados pelo portador da bola estimularem ações espalhadas pelas

zonas do campo de jogo, tanto para os jogadores da própria equipe quanto para os

adversários. As dimensões dos campos e número de jogadores participantes podem

explicar tais tendências. Essas informações podem auxiliar os técnicos e professores nos

planejamentos dos treinos, uma vez que tais jogos reduzidos apresentam características

tão distintas.


61

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Síntese e Considerações Finais


67

Síntese e considerações finais

O presente estudo pretendeu comparar a frequência dos

comportamentos táticos desempenhados por jogadores de Futebol do escalão

Sub-11 em situações de jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5 e comparar as inter-

relações dos comportamentos realizados pelo jogador portador da bola com os

comportamentos realizados pelos demais jogadores nestas situações de jogo

reduzido. Desta maneira procurou esclarecer se existem diferenças

assinaláveis entre os comportamentos táticos realizados pelos jogadores de

Futebol nos dois jogos reduzidos em questão, detectar os padrões de

comportamentos que podem ser observados neles e as diferenças entre os

mesmos.

Desta maneira, apresentam-se as considerações finais resultantes das

conclusões obtidas dos estudos empíricos previamente expostos:

Jogo reduzido 3vs3:

- Os jogadores efetuam maior quantidade de ações associadas aos princípios

"penetração" e "contenção".

- Ocorrem constantes trocas de posicionamento por parte dos jogadores.

- As ações realizadas pelo jogador portador da bola, independente da

localização, estimulam ações diretas e próximas do centro de jogo por parte

dos adversários.

- As ações realizadas pelo jogador portador da bola no meio campo defensivo

induzem os demais jogadores da equipe a realizarem ações buscando

profundidade.

- As ações realizadas pelo jogador portador da bola no meio campo ofensivo

induzem os demais jogadores da equipe a realizarem ações mais próximas ao

centro de jogo.


68

Jogo reduzido 5vs5:

- Os jogadores efetuam mais ações associadas aos princípios "unidade

ofensiva" e "equilíbrio".

- Os jogadores apresentam posições melhor definidas.

- Percebe-se a tendência dos jogadores em obterem melhores índices de jogo.

- As ações realizadas pelo jogador portador da bola, independente da

localização, estimulam os jogadores da equipe e adversários a realizarem

ações distribuídas pelo campo de jogo.

Em síntese, pode-se constatar que o jogo reduzido 3vs3 proporciona

maiores movimentações dos jogadores, que participam de forma ativa da fase

ofensiva e defensiva, além de priorizar ações individuais ou próximas do centro

de jogo, enquanto que o jogo reduzido 5vs5 proporciona uma maior

organização da equipe, com posicionamentos relativamente predefinidos e

ações coletivas. No entanto, convém realizar estudos utilizando jogadores de

categorias superiores e considerar as metodologias de treino adotadas pelo

treinador.

Os treinadores e professores de equipes que se encontram na fase de

iniciação dos esportes coletivos, entre 10 e 12 anos, podem beneficiar-se dos

estudos apresentados, uma vez que foram constatadas características distintas

entre os jogos reduzidos 3vs3 e 5vs5. Pelos resultados obtidos nos estudos,

utilizar-se-ia o jogo reduzido 3vs3 na necessidade de desenvolver

comportamentos táticos individuais, com participações mais determinantes no

campo de jogo, tanto na fase ofensiva quanto na fase defensiva. Já o jogo

reduzido 5vs5 seria indicado para a necessidade de desenvolver

comportamentos táticos coletivos, com ocupações dos espaços dentro de

campo de acordo com as funções específicas de cada jogador.

Assim, sugere-se novos estudos que investiguem os comportamentos

táticos realizados pelos jogadores em jogos reduzidos, a fim de aumentar os

conhecimentos acerca do jogo de Futebol e dos meios de treino. Para tal,


69

futuros estudos podem utilizar diferentes dimensões de campo, diferentes

configurações numéricas, diferentes categorias e outras análises de inter-

relações dos comportamentos.

Estudo comparatvo de desempenho tatico em atletas sub11 e sub13

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