Estrutura conceitual da Ética

5
A ESTRUTURA CONCEPTUAL DA ÉTICA 1 Faustino dos Santos 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO E APROFUNDAMENTO DA TEMÁTICA Com suas raízes enfiadas nos séculos V e VI a.C., em plena fase de transformação da cultura grega nasce a ética ainda interpretada e usada de maneira vulgar por filósofos gregos, mais tarde, com Kant sua significação se tornaria grande problema uma vez que se confunde com a Moral em termos semânticos, e, portanto, se torna difícil sua definição precisa. Somente com Hegel é que essa dificuldade de acentua. É a partir desse problema que o referido capítulo do livro faz menção e esse texto tem objetivo discorrer de maneira interpretativa sobre o que o autor aborda. Por alguns motivos já apresentados acima de maneira sintética, e outros que serão apresentados, a ética é considerada como saber de natureza filosófica. Etimologicamente o termo Ética vem do grego, de ethike, derivado do substantivo ethos, que em meio a duas variações (com iniciais eta e epsilon) será definida como: “(...) realidade histórico-social dos costumes e sua presença no comportamento dos indivíduos cuja vida é designada pelas duas grafias do termo ethos”. (LIMA VAZ, 1999 p. 13) 1 Esse tema na realidade é o título do Capítulo 4, Unidade 1 do livro: Escritos de filosofia IV de Henrique C. Lima Vaz, que será apresentado de maneira interpretativa nesse texto. 2 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Filosofia do Instituto Salesiano de Filosofia (INSAF), 2010.

description

A partir de Lima Vaz.

Transcript of Estrutura conceitual da Ética

Page 1: Estrutura conceitual da Ética

A ESTRUTURA CONCEPTUAL DA ÉTICA1

Faustino dos Santos2

1 CONTEXTUALIZAÇÃO E APROFUNDAMENTO DA TEMÁTICA

Com suas raízes enfiadas nos séculos V e VI a.C., em plena fase de

transformação da cultura grega nasce a ética ainda interpretada e usada de maneira

vulgar por filósofos gregos, mais tarde, com Kant sua significação se tornaria grande

problema uma vez que se confunde com a Moral em termos semânticos, e, portanto,

se torna difícil sua definição precisa. Somente com Hegel é que essa dificuldade de

acentua. É a partir desse problema que o referido capítulo do livro faz menção e

esse texto tem objetivo discorrer de maneira interpretativa sobre o que o autor

aborda.

Por alguns motivos já apresentados acima de maneira sintética, e outros

que serão apresentados, a ética é considerada como saber de natureza filosófica.

Etimologicamente o termo Ética vem do grego, de ethike, derivado do substantivo

ethos, que em meio a duas variações (com iniciais eta e epsilon) será definida como:

“(...) realidade histórico-social dos costumes e sua presença no comportamento dos

indivíduos cuja vida é designada pelas duas grafias do termo ethos”. (LIMA VAZ,

1999 p. 13)

A ética é, portanto designada como a ciência do ethos, em outros termos é

a explicação e justificação a partir da razão dos costumes, que formulem leis que a

ação (praxis) humana atenda.

A experiência da ética mostra que ela deve caminhar como saber de

natureza filosófica, e por isso um saber distinto, que defina como seu objeto formal a

práxis da ética.

Aqui se percebe que a ação do homem e os seus costumes são

importantes para designar e definir a ética, uma vez que sem eles seria difícil atribuir

algum outro objeto de estudo, se assim podemos dizer, para a ética.

O conceito de que o objeto da Ética é o agir humano nos é dado desde a

Idade média quando Tomas de Aquino comenta Aristóteles: “O sujeito (= objeto) da

1 Esse tema na realidade é o título do Capítulo 4, Unidade 1 do livro: Escritos de filosofia IV de Henrique C. Lima Vaz, que será apresentado de maneira interpretativa nesse texto.2 Graduando do curso de Licenciatura Plena em Filosofia do Instituto Salesiano de Filosofia (INSAF), 2010.

Page 2: Estrutura conceitual da Ética

filosofia moral é a operação humana ordenada a um fim ou então o homem

enquanto age voluntariamente em vista de um fim”. (LIMA VAZ, 1999 p. 68)

Além de designar a praxis, ou seja, o ato restrito do ser humano, como

sendo objeto da ética é acrescida a ela ordenação a um fim (telos). Mas vê-se

necessário discorrer sobre a natureza da praxis que a distingue das outras

atividades do homem, e qual a natureza da relação entre a praxis e o telos (fim) que

torna o agir humano ético ou moral.

Quanto à natureza da praxis a discussão começa com a comparação entre

a praxis e a techne, uma vez que são modos do agir humano, conduzidos

racionalmente para na produção de uma obra, regido por regras e tem em vista um

fim. Porém, desde antes já estabelecida por Aristóteles, a grande diferença nos dois

modos do operar humano se dá justamente na finalidade objetiva da operação, ou

seja, enquanto a praxis tem em vista para o seu fim a perfeição do sujeito que opera,

a techne visa a perfeição do objeto produzido. Ou seja, a ação da praxis termina

onde começa: nela mesma, no próprio sujeito que opera (imanência), já na techne

seu ato se completa na exterioridade do que esta sendo produzido (transiente).

Considerando essa definição, que contribuiu para que Aristóteles dividisse

os saberes em teórico, prático e poiético (de poiésis = fabricação), duas concepções

éticas são apresentadas na perspectiva platônica e aristotélica: Platão diz que a

praxis é conseqüência da theoria, ou seja, que a ética é primeiro uma ciência teórica

que passa para a praticidade, já Aristóteles vai dizer que a praxis formula-se dum

saber onde teoria e prática estão articulados, nessa perspectiva, que é a mais

aceitável tradicionalmente na ética ocidental, a ética é uma prática que produz sua

própria teoria.

Sobre a relação entre praxis e telos que torna o agir humano ético ou

moral, o texto começa falando sobre a importância que a concepção de fim

representou para que houvesse uma ciência do ethos, uma vez que a noção de fim

(telos) teve início em plena mudança do pensamento grego por volta do século V só

vai ser estabelecido com Platão quando ele descreve a autobiografia da filosofia

socrática onde a natureza teleológica do agir humano é conseqüência da relação

constitutiva entre psyche (alma) e eide (idéia), ou seja, a alma só pode ter como fim

verdadeiro o Bem (agathon), por estar na origem da concepção Ética, o Bem é o

centro dessa concepção. O pensamento antropológico de Sócrates diz que o

homem é a sua psyche (alma), senso assim o desenvolvimento ético passará a ser a

Page 3: Estrutura conceitual da Ética

busca do fim último do homem. Portanto, a ética que recorre a Metafísica tendo em

vista um fim para a praxis, encontra em Platão a resposta transcendental de que o

Bem é esse fim último. Enquanto a praxis tem pressuposto estabelecido pela

concepção antropológica, a relação do fim como bem tem pela concepção

Metafísica ou transcendental.

O Bem que é o melhor obriga o sujeito a agir racionalmente, não em

contrapartida à liberdade, mas como lei interior, onde a liberdade em contato com

Bem se realiza como liberdade moral. Essa categoria é definida dentro da Ética

como obrigação.

Dado o exposto, a relação entre a praxis e o telos é definida pela

articulação entre a necessidade do fim e a liberdade do agir na aceitação do fim.

Ainda sobre a teleologia da praxis ética há a divisão do fim nas dimensões

de imanência e transcendência.

Se o agir ético é um ato ou perfeição (energeia) que tem em si mesmo sua razão de ser, ele é necessariamente a si mesmo o seu próprio fim, pelo qual se realiza progressivamente, pela repetição dos atos hábitos, a perfeição do sujeito.

(LIMA VAZ, 1999 p.73)

A partir do que o autor descreve percebe-se que a ética é imanente e

transcendente ao mesmo tempo.

Por fim, em síntese, o objeto formal da Ética filosófica é apresentado nos

aspectos estrutural e teleológico.

Estrutural: tem por objeto a praxis de acordo com o ethos.

Teleológico: tem por objeto a praxis ordenada a fins e submetida a

normas que constituem o conteúdo objetivo do ethos.

REFERÊNCIA

Vaz, H. C. Lima Escritos de filosofia IV: Introdução à ética filosófica 1, São Paulo:

Loyola,1999.