Estresse - Aspectos Fisiológicos e Psicológicos do Estresse

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    Aspectos Fisiolgicos e Psicolgicos do Estresse

    Revista de Psicologia da UnC, vol. 2, n. 2, p. 84-92www.nead.uncnet.br/ revista/psicologia

    Aspectos Fisiolgicos e Psicolgicos do Estresse

    Cel Teresinha Araldi-Favassa1

    Neide Armiliato2

    Iouri Kalinine3

    Resumo

    As exigncias impostas s pessoas pelas mudanas da vida moderna e, conseqentemente, a necessidade deajustar-se tais mudanas, acabaram por expor as pessoas uma freqente situao de conflito, ansiedade,angstia e desestabilizao emocional. O estresse surge como uma conseqncia direta dos persistentes esforosadaptativos da pessoa sua situao existencial. O estresse nem sempre um fator de desgaste emocional e

    fsico, e sim, um mecanismo natural de defesa do organismo. Recebem-se os estmulos internos e externosatravs do sistema nervoso e dependendo da forma com que esses estmulos so enfrentados podero provocaralteraes psicolgicas e biolgicas negativas, podendo levar ao estresse crnico. Este artigo apresentaresultados de uma pesquisa bibliogrfica que teve como objetivo verificar o comportamento fisiolgico epsicolgico do organismo diante do estresse. Esta pesquisa foi desenvolvida como trabalho final da disciplina deAspectos Psicolgicos em Sade Humana.

    Palavras-chave: Estresse; Eustresse; Distresse.

    Physiological and Psychologial Effects of Stress

    Abstract

    The requirements imposed to people by changes of modern life, and consequently, the necessity to adjustthemselves to such changes, had just finished to expose them to a frequent situation of conflict, anxiety, anguishand emotional run-down. The stress appears as a direct consequence of persistent adaptive efforts from theperson to ones existential situation. It is not always an emotional factor and physical consuming, and yet, it isan organism natural mechanism of defense. One receives internal and external stimulations through the nervoussystem and depending on the form that these stimulations are faced, they will be able to provoke psychologicalalterations and biological refusals, and being able to lead to a chronic stress. This article presents results of abibliographical research that had as objective to verify the physiological behavior and psychological of theorganism before stress. This research was developed as final paper of the course Psychological Aspects inHuman Health.

    Keywords: Stress, Eustress, Distress.

    1 Biloga, Especialista em Biologia, Mestre em Cincias da Sade Humana pela UnC - Concrdia-SC. Professora da UnCConcrdia SC. E-mail: [email protected], Especialista em Biologia, Especialista em Melhoramento Gentico Animal, Mestre em Cincias da Sade Humana pela

    UnC - Concrdia-SC. Professora da UnC Concrdia SC. E-mail: [email protected] em Cincias Pedaggicas pelo Instituto Superior de Pedagogia de Kazan, Rssia - Professor da UnC Concrdia SC. E-mail: [email protected]

    Diante da vida agitada da era moderna, o estresse setransformou em vilo, se tornou responsvel pelasgrandes desgraas pessoais e de sade, como as

    lceras, os acidentes de automveis, o baixorendimento de uma equipe esportiva, o baixodesempenho sexual, entre outros.

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    Segundo Rio (1995) o ser humano primitivo, apesarde trabalhar apenas 20 horas por semana, caando,

    pescando e colhendo frutos, tambm sofria estressepelo medo de predadores, tempestades e tribosinimigas, mas de uma forma reduzida em relao ao

    que o homem sofre hoje. Na Idade Mdia, ainda setrabalhava pouco. Os pases europeus tinham odescanso de domingo como princpio sagrado ecinqenta feriados por ano. Durante sculos, a maior

    parte da humanidade dedicou-se apenas a trabalhosbraais, que terminavam ao pr-do-sol e depois vinhao descanso.

    A partir da Revoluo Industrial, a carga horria detrabalho passou para dezesseis horas dirias e aboliu amaioria dos feriados, tambm neste sculo, a maioria

    da populao abandonou o campo para viver noestresse da cidade. Entramos depois na era datecnologia e acreditava-se que o desenvolvimentotecnolgico viria para facilitar a vida do homem, queo mesmo teria mais tempo para o lazer e ser maisfeliz, mas, pelo contrrio, ele passou a ter uma vidasedentria e desgastante (op. cit.).

    Nas ltimas dcadas, a expressiva mudana em todosos nveis da sociedade passou a exigir do ser humanouma grande capacidade de adaptao fsica, mental e

    social. Muitas vezes, a grande exigncia imposta spessoas pelas mudanas da vida moderna e,conseqentemente, a necessidade imperiosa deajustar-se tais mudanas, acabaram por expor as

    pessoas uma freqente situao de conflito,ansiedade, angstia e desestabilizao emocional. Oestresse surge como uma conseqncia direta dos

    persistentes esforos adaptativos da pessoa suasituao existencial (Ballone, 2002).

    O que estresse?

    Segundo Selye (1965) o termo estresse significareao inespecfica do organismo frente a qualquerexigncia. Quando um organismo submetido aestmulos que ameacem a sua homeostasia, ele tendea reagir com um conjunto de respostas especficas,que constituem uma sndrome, desencadeadaindependentemente da natureza do estmulo,caracterizando o estresse.

    Para Rossi (1994) o estresse uma palavraderivada do latim, que foi popularmente usadadurante o sculo XVII para representaradversidade ou aflio. Em fins do sculoXVIII, seu uso evoluiu para denotar fora,

    presso ou esforo, exercida primeiramentepela prpria pessoa, seu organismo e mente.

    Frana & Rodrigues (1997) dizem que o termoestresse vem da fsica, tendo como sentido o graude deformidade que uma estrutura sofre quando submetida a um esforo. Esta deformidade podeser de menor ou maior grau, conforme a durezadeste, e o esforo a que est submetido.

    Para McGrath (1970) o estresse um

    desequilbrio substancial entre a capacidade dedemanda (fsica ou psicolgica) e a capacidade deresposta, condies em que o fracasso e asatisfao de uma certa demanda temconseqncias importantes.

    Tipos de estresse

    Segundo Rio (1995) so vrios os tipos de

    estresse: o estresse fsico; o estresse psquico; oestresse por sobrecarga; o estresse por monotonia;o estresse crnico, que persiste por mais tempo,sem encontrar meios que o desativemeficientemente e o estresse agudo que dura algunsmomentos, horas ou dias e depois se dissipa, esteestresseprepara o organismo para a luta ou fuga,atravs da ativao do sistema endcrino.

    Para Selye (1956), o estmulo estressor podedesencadear diferentes respostas em diferentes

    organismos e dependendo da forma com que oindivduo responde a este estmulo, pode setransformar num estresse positivo ou negativo.

    Se a pessoa reage bem, ou seja, apresenta respostapositiva, aparece o eustresse, por exemplo, ocorao dispara e a respirao fica ofegantequando encontra o namorado, a exploso dealegria ao comemorar um gol, o prazer na relaosexual. Se a resposta for negativa, desencadeiauma resposta adaptativa inadequada, podendo

    gerar derrota, medo, angstia, insegurana, no-

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    criatividade, doena e morte, que chamada dedistresse(Selye, 1956).

    No eustresse, o esforo de adaptao gera sensao derealizao pessoal, bem-estar e satisfao das

    necessidades, mesmo que decorrente de esforosinesperados, um esforo sadio na garantia dasobrevivncia. Se ocorrer o contrrio onde o esforode adaptao no traz realizao pessoal, bem-estar enem satisfao, gera-se um distresse (Frana &Rodrigues, 1997).

    De acordo com Rio (1995), no eustresse, predomina aemoo da alegria, h um aumento da capacidade deconcentrao, da agilidade mental, as emoesmusculares so harmoniosas e bem coordenadas, h

    sentimento de vitalizao de prazer e confiana. J nodistresse, predomina as emoes de ansiedadedestrutiva, do medo, da tristeza, da raiva, acapacidade de concentrao diminuda e ofuncionamento mental se torna confuso, aesmusculares so descoordenadas e desarmnicas,

    predomina o desprazer e a insegurana e aumenta aprobabilidade de acidentes.

    O estressor pode ser um fator externo como, o frio, ocalor, as condies de insalubridade ou ainda do

    ambiente social e interno, o mundo que temos dentrode ns, como os pensamentos e as emoes (Rio,1995).

    Nos extremos fcil distinguir o eustresse dodistresse, por exemplo, uma relao sexual prazerosa claramente diferente da perda de um filho. Mas emmuitas situaes no to fcil essa distino, pois aexperincia vivida pode ser confusa, ambgua,tornando difcil qualquer concluso. Os efeitos variamde indivduo para indivduo, dependendo da forma

    com que enxerga o mundo (Rio, 1995).

    Estresse e o corpo

    Segundo Samulski, Chagas & Nitsch (1996) a reaofisiolgica do estresse est ligada a dois sistemas: Osistema nervoso e o sistema de glndulas endcrinas.

    O caminho neural inicia com os receptores do sentido,abrangendo diversas reas do crebro acopladas umas

    as outras atravs de mecanismos de feedback etermina junto aos efetores da periferia do corpo. Osistema das glndulas endcrinas influencia osrgos efetores, pela corrente sangnea, atravsdos hormnios. A produo hormonal regulada

    e estimulada por reas importantes do crebro,mostrando a dependncia entre o sistema nervosoe sistema endcrino.

    Estes sistemas apresentam formas diferentes deadaptao, o sistema nervoso depende de umarpida e objetiva estimulao e o processohormonal depende de uma ao global e de efeitoduradouro. No centro do mecanismo do estresseaparecem os hormnios, os quais so classificados

    por Mason em Samulski (1996), de acordo com o

    tipo de ao. Estes podem ser de ao catablicaou ao anablica do mecanismo energtico. Emrelao as funes hormonais, destaca-se ohormnio como mensageiro de informaes ecomo regulador dos processos orgnicos.

    Segundo Nitsch em Samulski (1996), existemduas possveis reaes fisiolgicas do estresse noorganismo: eixo hipotlamo-hipfise-crtex dasupra-renal e o eixo hipotlamo medula supra-renal.

    Para Selye (1965), a reao hormonal do estresse acentuada, sobretudo no eixo hipotlamo-hipfise-crtex da supra-renal. Um grupo declulas do hipotlamo libera uma substnciadenominada fator, que um hormnio deliberao ou inibio, este transportado para olobo anterior da hipfise. O fator que ir estimularadeno-hipfise, ser o hormnio de liberao dacorticotropina (CRF). O CRF induzir a adeno-hipfise a liberao do hormnio adrenocortico-

    tropina (ACTH) e este estimula a liberao dehormnios pelo crtex da supra-renal em especialos glicocorticides, dentre esses se acentua ocortisol.

    Segundo Guyton (1988), 95% de toda a atividadeglicocorticide representada pelo cortisol, sendoum indicador de estresse, que pode ser verificadoatravs do sangue ou urina.

    De acordo com estudos realizados por Levi em

    Samulski (1996), a medula supra-renal esta

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    relacionada ao sistema nervoso simptico (SNS) esecreta os hormnios adrenalina e noradrenalina emresposta a estimulao simptica.

    O organismo ao receber um estmulo (estressor),

    reage imediatamente, disparando uma srie de reaesvia sistema nervoso, sistema endcrino e sistemaimunolgico, atravs da estimulao do hipotlamo edo sistema lmbico. Estas estruturas compem osistema nervoso central (SNC) relacionadas com ofuncionamento dos rgos e regulao das emoes(Samulski, 1996). Uma das funes bsicas do SNC a regulao, mantendo a estabilidade do organismo

    por meio de diversas funes, sendo uma delas asfunes vegetativas que asseguram sua organizao efuncionamento (Guyton,1989).

    O estresse por si s no o suficiente paradesencadear uma enfermidade orgnica ou para

    provocar uma disfuno significativa na vida dapessoa. Para que isso ocorra necessrio que outrascondies sejam satisfeitas, como umavulnerabilidade orgnica ou uma forma inadequadade avaliar e enfrentar a situao estressante (Frana &Rodrigues, 1997).

    Segundo os mesmos autores, o conceito de estresse

    deve ser repensado, ele no pode mais ser definidoapenas como estmulo ou resposta e sim como apessoa avalia e enfrenta este estmulo, levando emconsiderao o tipo de pessoa e o tipo de ambiente noqual a mesma se encontra. Desta forma o estresse uma relao particular entre uma pessoa, seuambiente e as circunstncias as quais est submetida,que avaliado como uma ameaa ou algo que exigedela mais que suas prprias habilidades ou recursos eque pe em perigo o seu bem-estar (Frana &Rodrigues, 1997).

    Alteraes biolgicas ligadas ao estresse

    Selye (1965) denominou ao conjunto de reaes noespecficas do estresse de Sndrome da AdaptaoGeral (SAG). A SAG dividida em trs fases: reaode alarme, de resistncia e de exausto.

    Reao de alarme

    Segundo Frana & Rodrigues (1997), a reao dealarme caracterizada pelo aumento dafreqncia cardaca e da presso arterial, para

    permitir que o sangue circule mais rapidamente e,portanto, chegue aos tecidos mais oxignio e mais

    nutrientes; aumento da freqncia respiratria edilatao dos brnquios, para que o organismopossa captar e receber mais oxignio; dilataoda pupila com exoftalmia, para aumentar aeficincia visual; aumento no nmero delinfcitos na corrente sangnea, para reparar

    possveis danos aos tecidos e pela ansiedade.

    Estas alteraes fisiolgicas ocorrem devido aatuao dos hormnios andrenrgicos (adrenalina)da medula supra-renal e do hormnio

    noradrenalina, que atuam em fibras ps-ganglionares do SNS. Conforme alguns estudosrealizados com seres humanos, verificou-se que aadrenalina est ligada a depresso e ansiedade e anoradrenalina est relacionada a raiva dirigida

    para fora (clera) (Funkeistein em Braga, 1999).

    Fase de resistncia

    De acordo com Frana & Rodrigues (1997) estafase ocorre caso o agente estressor mantenha suaao. caracterizada pela reao dehiperatividade do crtex da supra-renal sobimediao diencfalo-hipofisiria. A hipfise temligao direta com os sinais desta fase, pois emexperimentos realizados com animais, onde ahipfise foi retirada, esta fase no ocorreu. Nesteestgio o sangue encontra-se em rarefao(diluio-sedimentao) e ocorre o anabolismo.

    A fase de resistncia caracterizada pelo aumentodo crtex da supra-renal; pela atrofia do timo,bao e todas as estruturas linfticas,hemodiluio, aumento do nmero de glbulos

    brancos, diminuio do nmero de eosinfilos;ulceraes no aparelho digestivo; aumento dasecreo de cloro na corrente sangnea;irritabilidade; insnia; mudanas de humor (comodepresso); diminuio do desejo sexual (Frana& Rodrigues, 1997).

    Fase de exausto

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    Frana & Rodrigues (1997) afirmam que quando osestmulos estressores continuarem a agir ou setornarem crnicos e repetitivos a resposta se mantm.Ocorre o retorno a fase de alarme; falha dosmecanismos de adaptao; esgotamento por

    sobrecarga fisiolgica; morte do organismo.

    De acordo com Selye em Samulski (1996), osestgios da SAG podem ser diferenciados da seguinteforma: na reao de alarme, o organismo mostracaractersticas para a primeira ao do estressor. Aomesmo tempo abaixa a sua resistncia e se o estressorfor suficientemente forte, pode at levar a morte. Oestgio de resistncia aparece se for compatvel aao prolongada do estressor com uma adaptao. Ossinais corporais caractersticos da reao de alarme

    desaparecem totalmente, e a resistncia eleva-seacima das condies normais. O estgio deesgotamento se desenvolve quando a ao doestressor, ao qual o organismo adaptou-se,

    permanecer por um longo perodo at finalmenteesgotar sua energia de adaptao. No necessrioque a fase se desenvolva at o final para que haja oestresse, e somente em situaes mais graves que seatinge a fase de exausto.

    Samulski (1996) faz uma analogia entre as fases da

    SAG aos ciclos da vida, onde a infncia relaciona-secom a fase de alarme, j a idade adulta pode sercomparada com a fase de resistncia e a velhice caracterizada por uma perda da capacidade deadaptao.

    Alteraes psicolgicas ligadas ao estresse

    Segundo Fontana (1994), os efeitos psicolgicos

    podem ser divididos em efeitos cognitivos, ligados aopensamento e ao conhecimento; efeitos emocionais,ligados aos sentimentos, emoes e personalidade;efeitos comportamentais gerais, relacionadosigualmente a fatores cognitivos e afetivos.

    Efeitos cognitivos do excesso de estresse

    De acordo Fontana (1994), os efeitos cognitivos doexcesso de estresse so o decrscimo da concentraoe da extenso da ateno: a mente encontra

    dificuldades para permanecer concentrada, diminuemos poderes de observao; aumenta a desateno: a

    linha do que est sendo ensinado ou dito perdidacom freqncia, mesmo no meio de frases;deteriora-se a memria de curto e longo prazo:reduz-se a amplitude da memria; a lembrana e oreconhecimento diminuem, mesmo a respeito de

    materiais familiares; a velocidade de respostatorna-se imprevisvel: a velocidade real deresposta reduz-se, as tentativas de compensao

    podem levar a decises apressadas; aumenta ondice de erros: como conseqncia de todos ositens anteriores, os erros aumentam em tarefasmanipulativas e cognitivas, as decises tornam-sesuspeitas; deterioram-se os poderes deorganizao e planejamento a longo prazo: amente no pode avaliar com exatido as condiesexistentes nem prever as conseqncias futuras;

    aumentam as iluses e os distrbios depensamento: o teste da realidade torna-se menoseficiente, a objetividade e os poderes de crticaso reduzidos, os padres de pensamento tornam-se confusos e irracionais.

    Efeitos emocionais do excesso de estresse

    Os efeitos emocionais do excesso do estresse

    citados por Fontana (1994) so o aumento dastenses fsicas e psicolgicas: reduz-se acapacidade de relaxamento do tnus muscular, dese sentir bem e de se desligar das preocupaes eansiedades; aumenta a hipocondria: queixasimaginrias acrescentam-se aos males reais doestresse, desaparecem as sensaes de sade e de

    bem-estar; ocorrem mudanas nos traos depersonalidade: pessoas asseadas e cuidadosaspodem se tornar desleixadas e relaxadas, pessoascarinhosas podem ficar indiferentes, as

    democrticas transformam-se em autoritrias;crescem os problemas de personalidadeexistentes: pioram a ansiedade, asupersensibilidade, a defensiva e a hospitalidade

    j existentes; enfraquecem-se as restries deordem moral e emocional: os cdigos decomportamento e de impulso sexual enfraquecem,aumentam as exploses emocionais; aparecem adepresso e a sensao de desamparo: oentusiasmo cai ainda mais, surge um sentimentode impotncia para influenciar os fatos ou os

    prprios sentimentos a respeito deles; a auto-

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    estima diminui de forma aguda: desenvolvem-sesentimentos de incompetncia e de inutilidade.

    Efeitos comportamentais gerais do excesso deestresse

    Os efeitos observados, segundo Fontana (1994) so oaumento dos problemas de articulao verbal:aumentam os problemas j existentes de gagueira ehesitao, podendo surgir em pessoas at ento noafetadas; diminuem os interesses e o entusiasmo: osobjetivos de vida podem ser abandonados,

    passatempos podem ser esquecidos, objetos deestimao vendidos; aumenta a absentesmo: atrasosou falta no trabalho por doenas reais ou imaginriasou por desculpas inventadas tornam-se um problema;

    cresce o uso de drogas: torna-se mais evidente oabuso de lcool, cafena, nicotina e medicamentos oudrogas; abaixam os nveis de energia: os nveis deenergia caem ou podem variar de forma marcante deum dia para outro, sem razo aparente; rompem-se os

    padres de sono: ocorre dificuldade para dormir oupara permanecer adormecido por mais de quatrohoras; aumenta o cinismo a respeito dos clientes ecolegas: desenvolve-se a tendncia de jogar a culpasobre os outros; ignoram-se novas informaes: sorejeitadas at mesmo novas regulamentaes ou

    novos acontecimentos potencialmente teis;responsabilidades transferidas para outros: soadotadas solues paliativas e de curto prazo, eabandonadas as tentativas de aprofundamento e deacompanhamento, em algumas reas, ocorremdesistncias; surgem padres bizarros decomportamento: surgem maneirismos estranhos,imprevisibilidade e comportamentos nocaractersticos, podem ocorrer tentativas de suicdio:surgem frases como acabar com tudo e intilcontinuar.

    Fontana (1994) destaca que e a incidncia dessesefeitos negativos pode variar de um indivduo paraoutro. Poucas pessoas apresentam todos eles e que ograu de severidade tambm varia de pessoa para

    pessoa.

    Estresse e doena

    Para Frana & Rodrigues (1997) as reaes ligadas aoestresse resultam dos esforos de adaptao. Se a

    reao ao estmulo for muito intensa ou se o agente

    estressor for muito potente e/ou prolongado,poder haver, como conseqncia, odesenvolvimento de doena ou uma maior

    predisposio ao desenvolvimento de doena, poisa Sndrome provoca uma srie de reaes no

    organismo e estas situaes podem debilitar edeixar o indivduo mais suscetvel a enfermidades.Levy emFrana & Rodrigues (1997) diz que o serhumano capaz de adaptar-se ao meio ambientedesfavorvel, mas esta adaptao no aconteceimpunemente.

    A sndrome geral de adaptao comprovadanaquelas doenas onde notoriamente h umcomponente de esforo, de adaptao, como porexemplo, nas gastrites e lceras digestivas

    resultantes de estresse, crises de hemorridas,alteraes de presso arterial, artrites reumticas ereumatides, doenas renais, afecesdermatolgicas de cunho inflamatrio,dificuldades emocionais, alteraes metablicas,

    perturbaes sexuais, alergia, infeces, entreoutras (Frana & Rodrigues, 1997).

    O surgimento de determinadas doenas em umapessoa e no em outras, depende das diferenasindividuais que so determinadas pela histria de

    vida da pessoa e de suas vulnerabilidadescondicionadas pela gentica e pela suaconstituio (Frana & Rodrigues, 1997).

    Conforme j mencionado, as reaes de estresseso naturais e necessrias para a prpria vida, mass vezes podem tornar-se prejudiciais aofuncionamento dos sistemas orgnico e

    psicolgico do indivduo.

    Avaliao

    Os estmulos estressores podem ser potentes osuficiente para desencadear o distresseem muitas

    pessoas, e em outras no, depende se o estmuloimplica ou no em ameaa ou em desafio (Nitschem Samulski, 1996; Frana & Rodrigues, 1997).

    Para a avaliao de um estmulo estressor, h umaatividade mental, que em parte racional e em

    parte emocional, onde a pessoa avalia pela suaprpria experincia, o que de fundamental

    importncia, pois baseado nisso que a pessoa

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    ter sua percepo do estresse, como ir enfrent-lo eno tipo e intensidade da resposta a ser produzida(Nitsch em Samulski, 1996; Frana & Rodrigues,1997).

    a avaliao que d ao indivduo o significado domomento que est vivendo, pois um mesmoacontecimento estressante pode ser vivido comalegria por uma pessoa, enquanto est sendo vividocom sofrimento por outra.

    Conforme Frana & Rodrigues (1997), os fatores queinfluenciam nos processos de avaliao so oscompromissos, aquilo que importante para a pessoa;as crenas so as convices, as premissas; fatores doambiente, mudana de rotina, casamento, morte,

    divrcio, demisso, aposentadoria.

    Ainda como processo de interferncia na avaliao,tem o componente situacional, como: novidade desituao, possibilidade de predizer o acontecimento,incerteza do acontecimento, iminncia doacontecimento, durao do episdio estressante,incerteza de quando vai acontecer o evento,ambigidade (Frana & Rodrigues, 1997).

    Enfrentamento

    A partir do momento que se observa o estresse pelaperspectiva relacional, este deixa de ser observadopor apenas um prisma, estmulo externo, mas tambmatravs do significado que este estressor, externo ouinterno, vai ter para a pessoa e como ele vai seravaliado e manejado (Nitsch em Samulski, 1996;Frana & Rodrigues, 1997).

    Segundo Frana & Rodrigues (1997) o enfrentamento o conjunto de esforos que uma pessoa desenvolve

    para manejar ou lidar com as solicitaes externas ouinternas, que so avaliadas por ela como excessivasou acima de suas possibilidades.

    O enfrentamento uma estratgia da pessoa (pode serconsciente ou no), para obter o maior nmero deinformaes sobre o que est acontecendo econdies internas (psquicas) para o processamentode informaes, mantendo-se em condies de agir eassim diminuir a resposta distresse e manter umequilbrio de seu organismo. aquilo que o indivduo

    realmente pensa e sente, o que faz ou faria emdeterminadas condies. Estes processos podem

    mudar a medida que a pessoa avalia e reavalia asituao estressante (Samulski, 1996; Frana &Rodrigues, 1997).

    Cita-se um exemplo de uma pessoa que perde o

    emprego abruptamente, no primeiro momentopode ter um choque, isto no possvel, podeter raiva e/ou buscar freneticamente outraatividade, nos momentos seguintes a pessoa passa

    por um perodo de tristeza, s vezes depresso emais tarde volta ao seu cotidiano. Com outra

    pessoa o enfrentamento poderia ser totalmentediferente, diante das suas caractersticas de

    personalidade e o momento de vida que estopassando (Frana & Rodrigues, 1997).

    Percebe-se que as pessoas necessitam, para a suasobrevivncia, de um certo grau de estresse. Noentanto, se a presso for muito intensa ou aocontrrio, o resultado ser um desempenhoineficiente ou a doena.

    Relao entre estresse e doenas

    Doenas digestivas: Conforme Cabral et al.(1997), o sistema gastrointestinal especialmentesensvel ao estresse geral. A perda de apetite umdos seus primeiros sintomas, devido a paralisaodo trato-gastrointestinal sob ao simptica, e

    pode ser seguido de vmitos, constipao ediarria, no caso de bloqueios emocionais.Estudos realizados por Gray em Cabral (1997),demonstraram que pacientes sob estresse secretamuma quantidade considervel de hormniosdigestivos ppticos na sua urina, isso indica que

    os hormnios do estresse aumentam a produode enzimas ppticas, ou seja, a lcera parece serproduzida com o aumento do fluxo dos sucoscidos causado pelas tenses emocionais, noestmago, que se encontra desprotegido do muco

    protetor secretado em estado de homeostase, sobao do sistema autnomo parassimptico(SNAP).

    Depresso: Braga et al.(1999) diz que a depresso, em geral, classificada como uma doena

    funcional, ou seja, que no tem causas fsicas

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    palpveis, o que leva suposio de ter origempsicolgica. Isto tem sido questionado porque dentrodos limites normais reduziram-na a experinciassubjetivas de desconforto, de sofrimento e devulnerabilidade. Mas a falha desse mecanismo de

    defesa se relaciona principalmente com a elevao daproduo de cortisol. A depresso causada peloestresse prolongado se d devido ativao constanteda supra-renal, levando-a a atingir seu nvel mximode produo de noradrenalina, a partir da qual setorna incapaz de satisfazer a demanda. Ocorre aliberao de adrenalina, que lhe precursora nasntese, e desenvolve sintomas de fuga mais do que deenfrentamento (Funkeinstein em Braga et al., 1999).

    No entanto, o indivduo pode entrar em depressoaguda devido ao estresse de exausto que libera logo

    cortisol (Mendelsem Braga et al., 1999).

    Cncer: Segundo Braga et al. (1999), no cncer h umcolapso da imunidade e resistncia do organismo. Ofato dos tumores crescerem ou no est relacionadocom a eficincia dos processos de imunidade. Ento,se o sistema imunolgico encontra-sedesequilibrado, a probabilidade dodesenvolvimento da doena aumenta. Como o sistemaimunolgico tambm controlado pelo sistemalmbico, pode-se acreditar que o paciente com cncer

    apresenta todo um conjunto de elementospsicossomticos. Pesquisas realizadas constataramque o lado psicolgico da doena to importantequanto o fsico e o biolgico. Segundo os resultadosda pesquisa realizada por Simonton et al. emBraga etal.(1999), sups-se que o cncer de mama tem a vercom a vivncia, pela mulher, de relaes conjugaisempobrecidas e insatisfatrias. O perfil psicolgicodo paciente tambm importante quando se consideraa evoluo da doena. Diante de sua maior ou menorresistncia psquica e ainda por sua maior ou menordisposio de lutar pela vida.

    Impotncia sexual: Braga et al. (1999) diz que emcondies normais, o sistema nervoso autnomo

    parassimptico (SNAP), participa da regulao dasatividades sexuais em ambos os sexos, no homem

    provoca ereo e na mulher entumescimento dagenitlia. Mas, em situao de conflito e estresse, o

    sistema nervoso autnomo simptico (SNAS)sobrepe-se ao SNAP e o resultado , dentreoutros, a vasoconstrio sangnea, o queimpossibilita a atividade sexual em ambos ossexos devido diminuio da irrigao dos rgos

    genitais. Estudos com animais demonstram que asglndulas sexuais ingurgitam-se e tornam-semenos ativas em relao dilatao e aumentodas supra-renais. A pituitria produz grandequantidade do hormnio adrenocorticotrfico(ACTH) para manter a vida, ativando as supra-renais e, ao mesmo tempo, reduzindo a produode outros hormnios que so menos urgentes emcondies de emergncia, como osgonadotrficos. Outros estudos confirmam nosseres humanos que estas reaes produzem a

    impotncia sexual.

    Crescimento: Conforme Cabral et al. (1997), osdenominados hormnios de adaptao ouhormnios do estresse, so tambm importantesreguladores do crescimento em geral. ACTH eCOL so poderosos inibidores de crescimento e oSTH ativador que realmente denominadohormnio do crescimento. Estes hormnios tmefeitos opostos poderosos. Portanto se umacriana exposta a estresse excessivo, seu

    crescimento prejudicado, sendo tal inibio,pelo menos em parte, conseqncia do excesso desecreo de ACTH.

    Consideraes finais

    Baseado nas reflexes apresentadas, foi verificadoque o estresse nem sempre um fator de desgasteemocional e fsico, e sim, um mecanismonatural de defesa do organismo. Recebem-se osestmulos internos e externos atravs do sistema

    nervoso e dependendo da forma com que essesestmulos so enfrentados podero provocaralteraes psicolgicas e biolgicas negativas,

    podendo levar ao estresse crnico. Nesse caso,ocorrem alteraes fisiolgicas que poderodesencadear vrios tipos de doenas

    psicossomticas.

    Referncias Bibliogrficas

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    Aspectos Fisiolgicos e Psicolgicos do Estresse

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    Recebido em: 5/10/2004

    Aceito em: 15/6/2005

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