Essencialismo e anti essencialismo e pragmatismo

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Essencialismo e Anti Essencialismo de um ponto de vista pragmático Faz algum sentido falar em “abismo gnosiológico depois da virada linguística?” Hilton leal da Cruz Professor de Filosofia IFBA Valença Doutorando em Filosofia UFBA [email protected]

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Essencialismo e Anti Essencialismo de um ponto de vista pragmáticoFaz algum sentido falar em “abismo gnosiológico depois da virada linguística?”

Hilton leal da CruzProfessor de Filosofia IFBA ValençaDoutorando em Filosofia UFBA

[email protected]

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O que é o essencialismo?

• Em caráter preliminar podemos definir o essencialismo comoa doutrina que afirma existir uma diferênca qualitativa entreas coisas como são em si mesma e o modo como nós falamosdelas, as percebemos ou como o senso comum as descreve.

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Essencialismo Antigo: metafísico ou ontológico.

• Em linhas gerais, podemos afirmar que o essencialismo antigose caracterizava, entre outras coisas, pela afirmação de que ascoisas ou a realidade possuíam uma natureza intrínseca, ummodo de ser, que era similar a própria natureza da razão – ouda alma – humana.

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Essencialismo Antigo: metafísico ou ontológico.

• Para os antigos essa “essência” encontrava-se no “mundo”, na “realidade” e só poderia ser apreendida através da adoção de uma atitude relativamente neutra e desinteressada da parte do sujeito. Essa atitude permitiria a atuação livre daquela parte de nossa natureza que se assemelharia à própria essência do real.

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• O Essencialismo moderno, costuma-se dizer, inicia-se comDescartes, e –superficialmente falando – podemos chamaresse essencialismo de “representacionista” e“correspondentista”.

• Para Descartes a essência da realidade está na representaçãoque temos dela. As nossas representações – quando claras edistintas – manifestam a essência do real, ou seja,correspondem a essa essência.

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• Não nos deteremos na análise do essencialismo antigo,passando imediatamente para a crítica do essencialismomoderno que é desenvolvida pelo filósofo americano RichardRorty (1937-2007)

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• O essencialismo moderno para Rorty teria como principalponto de partida a tentativa de analisar e explicar as nossassupostas intuições dualistas que separariam a realidade emduas metades.

• Essas intuições afirmam que a nossa experiência do mundotem dois lados: um lado “externo”, no qual experimentamosos objetos sensíveis, e um lado “interno” no qualexperimentamos a nós mesmos (nossos pensamentos,sentimentos e desejos)

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• O primeiro problema desse tipo de convicção é que o lado“interno” da nossa experiência do mundo não seria acessível auma investigação objetiva. Desse modo o essencialismorepresentacionista sempre estaria sob risco de redundar emfranco solipsismo, comprometendo as possibilidades defundamentação do conhecimento científico.

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• a ideia de que toda a filosofia repousa sobre bases que nãopodem ser investigadas levam alguns filósofos a tornarem-selinguistas e substituírem “intuições” – representações internas- por “descrições alternativas.”

• Essa saída, contudo, leva a um novo impasse pois descrições,espera-se, são descrições de alguma coisa e nesse caso (dadoque tudo tomba sob descrições) como falar desse algo semdizer que nós o percebemos como uma representação que,somente depois, traduzimos em uma descrição?

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• Esse impasse originam-se, segundo Rorty, da adoção de compreensões dualistas e essencialistas da realidade.

• Essas compreensões é que nos fazem considerar óbvio que a realidade só pode ser explicada de utilizarmos a ideia de mente –como algo interno onde ocorrem representações - e a ideia de Matéria, como algo externo que nos oferece sensações e estímulos.

• Em sua análise do dualismo Mente x Matéria Rorty procura mostrar que a própria ideia de mente – e todas as outras intuições correspondentistas que dela decorrem – são o resultado da utilização de um vocabulário desenvolvido em um certo período histórico visando lidar com questões de ordem político-cultural.

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Ou seja, ele procura mostrar que inconscientemente os filósofos adotaram o jargão, ou o vocabulário, inventado por René Descartes para justificar a visão de mundo da ciência. Essa adoção inconsciente, por sua vez, deu origem a toda uma tradição calcada em distinções que mantêm a filosofia presa a discussões inócuas, pois não tem relevância para o resto da cultura.

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A crítica da ideia de “mente”

• A crítica da ideia de mente em Rorty segue o seguinte caminho:

• O que siginifica a expressão “abismo ontológico?” conhecemos algum outro exemplo de Abismo ontológico?”

• O que é a mente? O que diferencia a mente da matéria?

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O mental reúne dores e pensamentos: Mas o que ambos tem em comum?

Mental – dores, pensamentos,

convicções.

Não espacial (mas as dores são

espaciais)Temporal

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Imaterial –metafísico (leis,

universais)

Não espacialNão temporal

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Físico -material

espacialTemporal

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Relação dos vários candidatos à mentalidade

Com Propriedades Fenomenais

Sem propriedades Fenomenais

Intencional -Representacional

Pensamentos ocorrentes, imagens mentais

Convicções, Desejos Intenções

Não Intencional – Não representacional

Sentimentos Crus – p ex.às dores e as sensações que os bebês tem quando veem objetos coloridos

O “meramente Físico”

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• Rorty indica que, dada as evidentes diferenças existentes entre todos os “candidatos à mentalidade” apenas duas coisas as mantêm unidas:

• A imaterialidade.

• A indubitabilidade.

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• A imaterialidade não seria uma noção explicativa, pois éapenas um termo negativo, utilizamos essa expressão apenaspara nos referir a tudo que não sabemos como explicar emtermos materiais.

• A indubitabilidade, por outro lado, é um termo epistêmico,uma característica de crenças, e não há um motivo óbvio parapensar que ela deveria constituir-se a partir de algo que não éuma crença. Ou seja, não há motivo para supor que umaspecto epistêmico de nossa linguagem tenha que serdecorrente do aspecto ontológico da “subjetividade”.

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• Como esses argumentos Rorty procura mostrar, em umprimeiro momento, que a definição do mental é confusa. Elatoma imaterialidade, não espacialidade e não temporalidadecomo noções explicativas mas, ele tenta mostrar, essas noçõesnão explicam, não ajudam a identificar o que é a mente.

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• No entendimento rortyano a utilização da ideia de “mente” como um lugar onde ocorrem “representações” que correspondem a um mundo externo a elas é decorrente da importância de Descartes para a mudança cultural que ocorreu na Modernidade.

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• A partir uma narrativa histórica Rorty desenvolve o panorama no interior do qual as nossas intuições essencialistas e fundamentalistas se desenvolveram. Três etapas são fundamentais nessa narrativa:

• Invenção da Mente: Rene Descartes (1596-1650)

• Confusão entre causas e razões: John Locke (1632-1704)

• Invenção da filosofia como investigação de fundamentos: Immanuel Kant. (1724-1804)

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• As críticas aos pressupostos da filosofia Kantiana, portanto, deveriam ser consideradas como críticas à própria ideia de “fundamentos do conhecimento.

• Algumas das mais importantes críticas ao representacionalismo foram desenvolvidas a partir da virada linguística que ocorreu no início do século XX.

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• A virada linguística caracterizou-se, entre outras coisas, peloabandono da ideia de “representação” como um fenômenosubjetivo inacessível à investigação. Com o abandono dessaideia, a própria noção de um “abismo ontológico” entremundo e mente perderia o sentido.

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• Contudo, no período pós-virada linguística, alguns filósofosprocurariam substituir as velhas questões cartesianas sobre arelação entre o pensamento e o mundo por questõeslinguísticas sobre a relação necessária entre a linguagem e omundo.

• É contra essa tentação de dar continuidade às velhas questõesessencialistas sob uma chave linguística que Rorty se opõe.

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• Para Rorty, filósofos como L. Wittgenstein, D. Davidson,Quine, Selars e Dewey e nos oferecem caminhos para explicarcomo nós interagimos através da linguagem sem ter queoferecer qualquer descrição alternativa da ideia defundamentos do conhecimento.

• Para o filósofo americano esses pensadores nos permitemcompreender a linguagem meramente como uma “práticasocial”.

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• Baseando em uma leitura das ideias desses pensadores Rortypropõe que deveriamos compreender os processos dejustificação das nossas crenças como práticas sociais:

• “Compreendemos o conhecimento quando compreendemos ajustificação social da convicção, e não necessitamos, porconseguinte, o encarar como exatidão da representação.” (AFilosofia e o Espelho da Natureza, p.157)

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Holismo

• Como alternativa ao representacionismo essencialista, Rortypropõe uma compreensão Holista da justificação e anti-essencialista do conhecimento.

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Holismo

Vocabulários

Indivíduo

Mundo

Sociedade

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A individualidade de um ponto de vista holista. O indivíduo: a individualidade é constituida por crenças e todacrenças é expressa em um vocabulário específico. As crenças, porsua vez, deveriam ser compreendidas como “hábitos de ação.”Ou seja, todo enunciado de uma crença indicaria uma disposiçãopara agir de uma determinada maneira. Um vacabulário seriauma conjunto de comportamentos linguísticos associados a umconjunto de práticas que esse comportamento antecipa. Essevocabulário, por um lado, permite ao indivíduo colocar-se emuma certa relação com o mundo e, por outro lado, lhe permiteuma relação com o resto da sociedade. As relações do indivíduocom o mundo não são “representacionais”, mas sim reativas. Ascrenças não são um “reflexo” da realidade, mas um modo dereagir a ela, de se afirmar em relação ao mundo.

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A Sociedade de um ponto de vista Holista• A sociedade, para Rorty, é antes de tudo uma comunidade

linguística e comportamental. Ou seja, o que identifica umacomunidade são as crenças e comportamentos que essacomunidade compartilha. Essa crenças, por sua vez, visampermitir uma maior eficiência em relação a capacidade decolaborar e sobreviver. Pode-se dizer que o holismo de Rorty éum holismo “naturalista” ou “darwiniano”.

• Os vocabulário são locais e, por isso, decorrentes de processoshistóricos diversos. Rorty renuncia, portanto, a qualquer tipode universalidade em relação às práticas comunicativas. Averdade e o conhecimento são “contingentes.”

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O Mundo de um ponto de vista Holista.• Para Rorty tudo que nós sabemos do mundo é dependente de

um vocabulário. Portanto, tudo que envolve predicação é umaquestão linguística e, por isso mesmo, social. O mundo, a“natureza nua” como ele as vezes chama, interfere em nossasvidas do ponto de vista “causal” mas ele não determina quaisas respostas gnosiológicas que devemos dar a essasinterferência. Ou seja, estímulos fisicos são questões causais,mas o modo com os descrevemos são questões epistêmicas e,portanto, sociais.

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• Para Rorty essa compreensão holista da linguagem poderia conduzir a um novo tipo de cultura e de sociedade.

• Ele acreditava que tal sociedade se caracterizaria por uma maior cooperação entre as diferentes disciplinas e pela substituição da verdade pela solidariedade.