ESPECIAL DIA DO PROFESSOR Fabio Venturini DOCENTES EM · Para o professor André Almeida, autor do...

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ESPECIAL DIA DO PROFESSOR Fabio Venturini

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ESPECIAL DIA DO PROFESSOR

DOCENTES EM

Como o curso superior pouco trata do uso de tecnologias digitais, formação continuada é o caminho para reduzir a distância entre o domínio que docentes e alunos têm das TICs. No mês em que se comemora o Dia do Professor,

confira o panorama atual da profissão

UPGRADE

Uma pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas

escolas brasileiras, publicada em agosto do ano passado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br), apontou que 81% das escolas urbanas no Brasil possuem labo-ratório de Informática, dos quais 51% contam com profissionais pa-ra monitoramento. Também foi ve-rificado que 80% das atividades com TICs acontecem nos laboratórios de Informática.

No entanto, 64% dos professores admitiram ter menos domínio so-bre as tecnologias do que seus alu-nos. Apenas 10% dos estudantes aprenderam a manusear algum ti-po de TIC com docentes ou outros educadores nas instituições de en-

sino, e 48% dos professores já tive-ram que recorrer a cursos específi-cos para se atualizar, enquanto 38% aprenderam sozinhos, 27% com ou-tras pessoas, 7% com outro educa-dor e 2% declararam ter aprendido com os seus próprios alunos.

A falta de afinidade com as tecno-logias pode ser consequência de um dado levantado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco): segundo o estu-do Professores no Brasil: impasses e desa-fios, publicado pelo órgão, “os currícu-los [dos cursos de formação docente] não se voltam para as questões ligadas ao campo da prática profissional, seus fundamentos metodológicos e formas de trabalhar em sala de aula. Não se observa relação efetiva entre teorias e práticas na formação docente”.

Poucos cursos de licenciatura e Pedagogia tratam da informática aplicada à educação. Por outro lado, a expansão do acesso aos meios di-gitais deu ao aluno uma fartura de informações facilmente confundi-das com conhecimento, que compe-tem com o trabalho estruturado em sala de aula.

Ângelo Edval Roman, que é mes-tre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e professor das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), de Curitiba (PR), defende que é neces-sário ao docente dominar a leitura e a escrita de novas linguagens. “O docente deste século deve ser um orientador e indicar onde colher, tratar e utilizar a informação. O

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das tecnologias em geral em benefí-cio da aprendizagem.

“Em 2025, os empregos atuais serão obsoletos. Será comum as pes-soas mudarem radicalmente o per-fil profissional durante a carreira. Atualmente, há necessidade de en-gajamento na aprendizagem com a aceleração do desenvolvimento dos talentos das pessoas. Estamos nu-ma transição para um momento de ‘alta educação’ [high education, em inglês], no qual a pessoa terá a ne-cessidade de aprender durante toda a vida”, afirma Punie.

Para o pesquisador, as institui-ções de ensino, assim como as esco-las de formação de professores, de-vem identificar os potenciais e os tipos de tecnologias usadas social-mente, centrar o ensino individual-mente no aluno e promover uma implantação holística, com altera-ção de formas de liderança, currí-culos, métodos de avaliação, práti-cas pedagógicas e a habilitação dos professores para uso das TICs e de meios de comunicação.

“Devem-se aproveitar todas as possibilidades da tecnologia na edu-cação para que alunos e professores aprendam a aprender, durante to-das as suas vidas fora da sala de au-la [lifelong learning] e em todos os lugares que circulam [lifewide learning]”, acredita.

A quem ou ao que recorrerComo a formação inicial não dá con-ta de preparar o professor para o uso das TICs, os programas de formação continuada das secretarias e siste-mas de ensino podem ser uma alter-nativa, mas há poucas opções além dos tradicionais cursos de Informá-tica e o autodidatismo para o apri-moramento individual do docente.

A Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) acaba de criar uma licenciatu-ra em Educomunicação (para mais

professor, com um giz ou um mou-se, necessita estar sintonizado com os desafios de seu tempo”, afirma.

O principal desafio, para Roman, é desenvolver uma compe-tência crítica ainda desconhecida pela maioria dos docentes, no sen-tido de seleção e decodificação da informação, com a necessidade de um novo tipo de treinamento edu-cacional mediante a informatização e a consequente transformação das instituições de ensino.

Na análise de Roman, a função principal do docente não é mais di-fusão do conhecimento – já que as mídias digitais podem fazê-lo –, mas mediação e orientação para que os alunos dominem as TICs e possam transformar a informação em conhecimento, e não serem do-minados pela tecnologia.

Desafio internacionalSegundo o cientista sênior do Instituto de Estudos para Perspectiva Tecnológica (IPTS) da União Europeia, professor Yves Punie, naquele bloco econômico quase todos os professores concor-dam que o computador é impor-tante para as instituições de ensino, mas cerca de 54% dos docentes são contra o uso de celulares na apren-dizagem, por exemplo.

Dados como esses revelam a re-sistência em associar tecnologias digitais com os ambientes tradicio-nais de aprendizagem, o que deixa esses recursos de fora da formação profissional do professor. De acordo com Punie, aproximadamente 90% dos docentes europeus preparam suas aulas com pesquisas na inter-net, mas em salas de aula, mesmo com recursos de conectividade, os meios mais usados são os audiovi-suais, consolidados como recursos aceitáveis na educação formal. O desafio hoje é desenvolver métodos para formar e engajar todos no uso

Arquivo pssoal

Yves Punie: “Estamos numa transição para um momento de alta educação, no qual a pessoa terá a necessidade de aprender durante toda a vida”

Professor André Meller, do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo, usa blog para atingir toda a comuni-dade escolar

Fabio VenturiniD

ivulgação Intedidática

Para Silvia Dotta, canais digitais são um espaço colaborativo entre profes-sores e alunos que podem ser explo-rados por professores e escolas

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detalhes, acesse: www5.usp.br). Há também na ECA/USP especializa-ções nessa área, que apesar de bas-tante pertinentes têm limitação geográfica, pois as turmas são ape-nas em São Paulo (SP).

Já o European Pedagogical ICT (EPICT Brasil: www.epictbrasil.com.br) é um sistema de forma-ção de docentes para uso de tec-nologias digitais criado há 11 anos pelo Ministério da Educação na Dinamarca que se espalhou interna-cionalmente, chegando ao Brasil es-te ano. O EPICT oferece um curso a distância de certificação de docentes do ensino básico para uso das TICs na gestão e mediação dos processos educacionais. Para a inscrição, além de nível superior completo, é neces-sário ter “alguma fluência tecnoló-gica”, computador próprio e conexão rápida com a internet.

O curso, desenvolvido em par-ceria com a Federação Nacional das Escolas Particulares, é dividido em dois níveis (128 e 144 horas), for-mados por módulos que abordam navegadores e ferramentas de bus-ca, formas de integrar a internet no ensino-aprendizagem, redação e edição de textos, ambientes cola-borativos, redes sociais, comparti-lhamento de conhecimento, meios de publicação na web, ferramentas de apresentação de trabalhos, pro-dução audiovisual, software educa-cional, leitura e produção de ima-gens, jogos digitais, configuração de computadores, gráficos, fórmulas, diagramas e coleta e registro de da-dos – entre outros. O custo da ma-trícula é de R$ 135, e as nove men-salidades são do mesmo valor.

Também há outros cursos e programas de formação destinados aos professores que visam a educa-ção e o uso das novas tecnologias. O próprio Ministério da Educação (MEC) disponibiliza aos docen-tes o curso Linux Educacional, que

pode ser acessado pelo endereço http://linuxeducacional.c3sl.ufpr.br/. Integrado ao programa de for-mação continuada de professores da rede pública, o curso tem o in-tuito de fazer com que o professor, a partir do uso das tecnologias di-gitais como ferramenta pedagógi-ca, tenha suas ações otimizadas e valorizadas no contexto escolar.

Implantação de canais digitaisDe acordo com Silvia Dotta, consul-tora em Ensino a Distância de São Paulo/SP, muitos professores criam canais digitais e perfis em redes so-ciais para tratar dos assuntos que eles mesmos lecionam, como um es-paço colaborativo ou para postar ati-vidades de aula. “Há professores com blogs de sucesso entre seus alunos e até fora da escola”, afirma.

Além de se mostrar antenado, o docente pode usar os recursos para a formação continuada e aperfeiçoa-mento profissional, como um gru-po de professores do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo (SP), que mantém blogs para apoio ao traba-lho pedagógico: o Saber na Rede (http://sabernarede.wordpress.com), por exemplo, trata de internet e as tecnologias digitais como locais de aprendizagem; já o Prefácio Cultural (http://prefaciocultural.wordpress.com) aborda assuntos como cinema, literatura e outras artes, enquanto o 12ª Dimensão (http://12dimensao.wordpress.com) lida com temas atuais de Ciência e Tecnologia.

Para o professor André Almeida, autor do Prefácio Cultural, o blog é uma área de extravasamento no qual se pode falar de assuntos que se tornam inviáveis em aula por con-ta das cargas horárias de cursos re-gulares – como as literaturas france-sa e russa, o cinema e a estética, por exemplo. “O meu público é maior do que os alunos da escola, envolve pais, amigos e ex-alunos”, conta.

Os canais são parte do projeto Blogs do Oswald e contam com apoio da instituição de ensino. Segundo André Meller, coorde-nador de Comunicação e Projetos do colégio – e também autor do blog Saber na Rede –, além de manter a escola atualizada com o uso da tecnologia que está no dia a dia dos seus alunos, a ideia ini-cial era usar as ferramentas de interação com um público mais geral, e não só alunos, ex-alu-nos, funcionários, pais e docen-tes, para melhorar tanto a divul-gação quanto a produção.

Após estabelecer o perfil de-sejado dos canais, foram defini-dos os temas e os responsáveis pela sua manutenção, de modo que as páginas tivessem identi-dade própria e a marca dos seus autores, sem vinculação a disci-plinas específicas. “Usamos uma plataforma gratuita de publica-ção, o Wordpress. Os custos não são problema. A concepção do projeto é mais marcante”, avalia Meller.

• 64% dos professores admitiram ter menos domínio sobre as tecnolo-gias do que seus alunos;

• 10% dos estudantes aprenderam a manusear algum tipo de TIC com docentes ou outros educadores nas instituições de ensino;

• 48% dos professores recorreram a cursos específicos para se atualizar;

• 38% dos professores aprenderam sozinhos;

• 27% dos professores aprenderam com outras pessoas;

• 7% dos professores aprenderam com outro educador;

• 2% dos professores aprenderam com os seus próprios alunos. Fonte: Pesquisa sobre o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas escolas bra-sileiras, publicada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br)

O uso das TICs na educação

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Pedagogia multimídia Com fundamentação e criatividade, to-dos os meios podem ser usados para ensino e aprendizagem, como jogos, fil-mes, músicas, fotografias, ilustrações e, claro, as mídias digitais, que podem ser tanto um objeto educacional quanto um canal de comunicação com o aluno e re-positório de materiais didáticos diversos.

Local e finalidade A concepção do uso dos meios é crucial no seu processo de criação, pois disso dependem sua aceitação, eficiência e vida útil. Também deve--se considerar que a internet é públi-ca. Portanto, é necessário saber que o conteúdo pode ser lido por qual-quer pessoa, não apenas pelos alu-nos ou pela comunidade escolar.

Mediação Há um excesso de informações, po-rém transformá-las em conhecimento é outra história, cabendo ao profes-sor mediar e orientar esse processo. O estudante pode concluir sozinho que o Google ou qualquer outro bus-cador seja uma fonte de pesquisa, mas a mediação do docente pode ajudá-lo a perceber que esses sites são uma ferramenta de ajuda para encontrar os atalhos para as fontes.

Criatividade Os alunos podem ser estimulados a usar todos os recursos possíveis pa-

ra apresentarem um trabalho síntese (ensino por projetos), uma vez que há fácil acesso a ferramentas digitais pa-ra produção e edição de conteúdo em diversas mídias.

Direitos autorais Não é porque está na internet que não tem dono. Respeitar os direitos autorais é também uma forma de en-sinar os estudantes a não usarem de-liberadamente os comandos “copiar e colar”, beneficiando a criatividade. Há uma infinidade de recursos educacio-nais disponíveis na internet com licen-ça livre para uso, transformação, re-produção e compartilhamento.

Buscadores Motores de busca oferecem muitas ferramentas que raramente são ex-ploradas. Quando se abre a primei-ra página do Google ou do Bing, por exemplo, uma caixa de texto facilita a busca, que normalmente apresenta bons resultados nas primeiras linhas. Mas é possível encontrar material acadêmico, imagens e comunidades. Além disso, há buscadores especializa-dos, como o www.creativecommons.org, que apresenta materiais de licen-ça livre, e repositórios ricos que não são necessariamente listados na primeira página de uma pesquisa em buscado-res. Também é interessante montar lis-tas de sites favoritos no navegador de internet de sua preferência.

Repositórios O compartilhamento de conteúdo é uma forma de usar bem as TICs e ainda contribuir com colegas de profissão que seguem o mesmo caminho. Com algu-ma pesquisa e ferramentas gratuitas é possível criar os próprios blogs, sites, ambientes virtuais de aprendizagem ou simplesmente perfis em serviços de compartilhamento de arquivos como Youtube, Google Docs e 4Shared. Para quem ainda não tem muita afinidade com essa tecnologia, pode-se apenas consultar e usar material de repositórios como o site www.dominiopublico.gov.br.

Redes sociais Projetados para ter a interação como fundamento principal, blogs e perfis em redes sociais auxiliam a divulgar o conteúdo e as próprias aulas, e a esta-belecer a interação com um vasto pú-blico para, de forma rápida, abordar os assuntos que não demandam mui-to aprofundamento, além de serem adequados para realizar debates e aproximar alunos de turmas diferentes. Interação planejada Todo canal de comunicação tem emissor e receptor. Ao utilizar recursos de publi-cação digital é interessante deixar dis-ponível a interação, mas também de-ve haver todo um cuidado para evitar uma demanda por respostas e uma necessidade de mediação de comen-tários impossível de administrar.

SAIBA COMO ENTRAR NA ERA DAS NOVAS TECNOLOGIASConheça algumas dicas que podem ajudar o professor a se atua-lizar e a usar as TICs como ferramenta condutora do processo de aprendizagem com seus alunos:

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