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REVISTA DE MANGUINHOS | JANEIRO DE 2013 30 ESPECIAL

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Conheça a históriae o trabalhodesenvolvido nasunidades regionaisda Fundação

DRenata Moehlecke

esde a criação doInstituto SoroterápicoFederal, em 1900, noRio de Janeiro, a ideia

de ultrapassar os limites daentão capital federal paraauxiliar o desenvolvimentoda saúde pública brasileira jáestava presente nas linhasde atuação da Fiocruz.Expedições científicasdesbravavam o país com aintenção de realizar estudos eerradicar doenças, como a pestebubônica ou a febre amarela.Hoje, aos 112 anos, a Fundaçãoexibe uma forte trajetória deexpansão para todas as regiõesdo Brasil: além da sede principalno Rio de Janeiro, há unidadesem Minas Gerais, Bahia,Pernambuco, Amazonas, Paranáe no Distrito Federal e em brevemais quatro estarãofuncionando: em Mato Grossodo Sul, Rondônia, Piauí e Ceará.

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A mais recente representação da Fun-dação fora do Estado do Rio de Janeiroé a Fiocruz Piauí. Fruto do programaMais Saúde do governo federal, quevisa melhorar a gestão da saúde públi-ca em localidades que ainda não con-tam com a atenção básica, o projetoda unidade se iniciou em 2007, com acriação de um Grupo de Trabalho (GT)para propor diretrizes e ações a fim de

concretizar sua implantação. Atualmen-te, o projeto arquitetônico e de enge-nharia da unidade (montado pelogoverno do estado do Piauí em 2008)está sendo revisto pelo GT, estando apublicação do edital de licitação paraas obras prevista para o final do anode 2012. A proposta é que o escritóriopiauiense comece a funcionar em 2014,em Teresina.

Com o objetivo de trabalhar deforma integrada e em cooperaçãocom atores estratégicos locais, comoa Universidade Federal do Piauí (UFPI)e os governos municipais e estadual,o projeto da Fiocruz Piauí prevê o de-senvolvimento de estudos sobre bio-mas, doenças infecciosas, saúde dotrabalhador, saúde materno-infantil,entre outros campos, além do de-senvolvimento de programas de for-mação e ensino direcionados àsdemandas locais. Para ano de 2013,

estão previstos a criação de três pro-gramas de pós-graduação: um mes-trado e um doutorado em doençastropicais e um doutorado interinstitu-cional em saúde coletiva, em parce-ria com a UFPI.

Além disso, também será ofere-cido um curso técnico de manuten-ção de equipamentos hospitalares eem informação e registro em saúde.Um dos principais objetivos da Fio-cruz na região é coordenar ações deensino, presenciais ou à distância,ampliando a oferta de oportunidadesnas áreas de gestão de políticas pú-blicas em saúde, biociências, vigilân-cia em saúde do trabalhador e meioambiente, pesquisa clínica, gestão dainformação e comunicação em saú-de. Nas próximas páginas, conheçaum pouco mais do trabalho desen-volvido nas outras unidades ou escri-tórios regionais da Fundação.

Vista aérea docentro de Teresina

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Ricardo Valverde

projeto estratégico de ex-pansão da Fiocruz prevê ainstalação de uma unida-de no Ceará. Em julho, foianunciado que o projeto

básico das futuras instalações da Fio-cruz Ceará, que ficarão no municípiode Eusébio, na Região Metropolitana deFortaleza, está concluído. Ao lado daunidade ficará o primeiro polo de pro-dução de vacinas da Fundação fora doRio de Janeiro, que será coordenado peloInstituto de Tecnologia em Imunobioló-gicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). O co-ordenador da implantação da Fiocruzno Ceará, Carlile Lavor, diz que o Brasilhoje importa muito mais insumos do que

exporta. “Para termos avanços e novosprodutos precisamos de mais pesquisase parcerias, naturalmente a partir daação do Estado brasileiro, tendo comometa atender às necessidades da po-pulação”, afirmou. As obras físicas dafutura unidade terão início no primeirotrimestre de 2013 e conclusão até o fi-nal de 2015. O investimento total seráda ordem de R$ 140 milhões, incluindoo valor dos equipamentos.

A Fiocruz já desenvolve uma sériede ações no Ceará, estado com preva-lência de casos de dengue, leishmanio-se visceral e hanseníase. A Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior (Capes) acaba de aprovar odoutorado interinstitucional (Dinter) doPrograma de Pós-Graduação em Medi-cina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz(IOC/Fiocruz) com a Universidade Fede-ral do Ceará (UFC). Um dos projetos emandamento é o do mestrado profissionalem rede em saúde da família, coorde-nado pela Fiocruz com envolvimento de17 instituições do Ceará, Rio Grande doNorte e Maranhão. Na especialização,há estudos para a oferta de curso de es-pecialização para formar entomologistase de curso de mestrado em vigilânciasanitária. O projeto do mestrado adota omodelo de rede, reunindo instituições deensino de toda a região.

Um novo polo para a saúdeJunto com o Ministério da Saúde a

Fundação também desenvolve na regiãouma pesquisa sobre as condições de nas-cimento, de assistência ao parto e deóbitos em crianças com menos de um ano.A pesquisa, realizada em 75 municípiosdas regiões Norte, Nordeste e no Vale doJequitinhonha, em Minas Gerais, teve iní-cio pelo Ceará. Mais precisamente nosmunicípios de Maranguape, Icó, Itaitingae Pentecoste, selecionados por sorteio. OCeará é o primeiro estado pesquisado por-que também foi o primeiro a concluir oestudo de busca ativa de óbitos infantis,ocorridos no ano 2008. A Escola Politéc-nica da Fiocruz também construiu umaproposta de oferta descentralizada do cur-so de mestrado profissional em educação.

A unidade da Fiocruz no Ceará temcomo objetivos principais fortalecer aatenção primária à saúde e a Estratégiada Saúde da Família; atuar na área depesquisa, desenvolvimento e inovaçãoem fármacos, medicamentos, equipa-mentos e materiais de saúde; e realizarpesquisas científicas direcionadas à rea-lidade ambiental e epidemiológica regi-onal e local, entre outras atividades.Desde fevereiro de 2009 a Fiocruz man-tém um escritório técnico no Ceará e vempromovendo o intercâmbio de profissio-nais e iniciativas para a estruturação desuas ações no estado.

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Antes mesmo da instalação daunidade, a Fiocruz já desenvolveestudos no Ceará

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Renata Moehlecke

escritório regional da Fun-dação em Campo Grande,capital do Mato Grosso doSul, foi inaugurado em2011. Fruto de uma série

de ações para a melhoria dos recursoshumanos, da pesquisa e dos serviços desaúde no Centro-Oeste, já realizadas porpesquisadores da Fiocruz na região desde1978, a unidade também teve origem napolítica de expansão e regionalização dasatividades de ciência e tecnologia peloEstado, aliada a políticas de redução dasdesigualdades regionais.

Porém, o trabalho realizado no MatoGrosso do Sul se iniciou muito antes, comprojetos voltados, principalmente, paratemas singulares e prioritários na região:saúde nas fronteiras (a área abriga mu-nicípios próximos ao Paraguai e à Bolí-via), saúde dos povos indígenas,biodiversidade e agronegócio, e meioambiente e potencialidades do Cerradoe do Pantanal. “Existe uma concepçãoseguida por nossos pesquisadores de queo papel da Fiocruz Mato Grosso do Sulconsiste em servir de articulador e cata-lizador das possibilidades existentes noestado: os projetos de pesquisa, os cur-sos para a melhoria de recursos huma-nos são todos feitos em rede e em parceriacom outras instituições locais, a fim depotencializar e garantir avanços de for-ma concreta na assistência à saúde na

Saúde na fronteira oeste

O

região”, afirma o infectologista RivaldoVenâncio, diretor da unidade. “Hoje,com a Fiocruz inserida nessa área de fron-teira, podemos observar o amadureci-mento de todo um processo quecomeçou lá trás e, ao mesmo tempo,vemos o que parece ser o ponto de par-tida de uma construção coletiva impor-tante para a saúde local”.

Em pouco mais de um ano de atua-ção oficial, o retorno do trabalho desen-volvido na região já demonstra serimenso: desde dezembro de 2011, maisde 750 trabalhadores da Estratégia deSaúde da Família no estado, oriundos detodos os seus 78 municípios, formaram-se em curso de especialização que os tor-naram mais capacitados e qualificadospara a função que exercem. O númerode formados correspondia a 95% dos pro-fissionais envolvidos nessa área de atua-ção no estado, na época de início do curso.

Com relação ao curso de especiali-zação em atenção básica em saúde dafamília, “o sucesso foi tão absoluto quehouve uma recomendação do Ministérioda Saúde para que uma nova turma fos-se formada, com o objetivo de qualificar100% dos trabalhadores da área na loca-lidade”, destacou Venâncio. O desempe-nho positivo fez com que a UNA-SUS, apartir do Projeto de Valorização da Aten-ção Básica (Provab), também estendessea plataforma de estudos para os estadosde Rondônia, Mato Grosso, Mato Grossodo Sul, Bahia e Alagoas.

Em cooperação com o governo doParaguai, a Fiocruz também ajudará aformação dos recursos humanos voltadospara a atenção básica à saúde no país.“Todo o projeto já foi adaptado e traduzi-do para o espanhol, mas estamos aguar-dando a situação política no Paraguai seacalmar para iniciar a implantação”. Nes-se período, também foi ministrado umcurso de mestrado em vigilância em saú-de nas fronteiras do Brasil-Paraguai. Ocurso contou também com a participa-ção de alunos oriundos do Paraguai, daBolívia e do Paraná, tendo sido ministra-do pela Escola Nacional de Saúde Públi-ca da Fiocruz, em parceria com oMinistério da Saúde do Paraguai, a Uni-

versidade Federal do Mato Grosso do Sul(UFMS), a Universidade Federal da Gran-de Dourados (UFGD) e as secretarias mu-nicipais e estadual, com financiamentoda Secretaria de Vigilância em Saúde doMinistério da Saúde

Saúde dospovos indígenas

Tema prioritário no Mato Grosso doSul, já que a região abriga a segundamaior população indígena do Brasil, asaúde indígena constitui uma das princi-pais linhas de pesquisa e assistência de-senvolvidas pela unidade da Fiocruz noestado. Atualmente, o maior número deatendimentos hospitalares a índios dalocalidade tem como causa doenças doaparelho res-piratório, infecciosas e pa-rasitárias. Os indígenas da localidade tam-bém sofrem de pneumonia, diarreia edesnutrição. Chama atenção ainda ogrande número de suicídios entre ado-lescen-tes e jovens e a elevada pre-va-lência de anemia, que atinge mais de50% da população infantil nas aldeias.

“Diversos estudos sobre essas doen-

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ças no âmbito das populações indígenas,assim como o uso de drogas lícitas, comoálcool, e até mesmo ilícitas, encontram-se em fase de elaboração ou em anda-mento. Os pesquisadores da Fundaçãotambém estão realizando um inquéritoepidemiológico sobre a saúde bucal dosindígenas em todo o estado, já tendosido avaliados 80% da população de es-tudo. Um dos objetivos deste projeto éter um diagnóstico das condições de saú-de bucal dos povos indígenas do MatoGrosso do Sul e propor medidas e açõesque possam melhorar os serviços de aten-ção à saúde bucal, oferecidos pelo sub-sistema de saúde a indígenas do SUS àsdiferentes etnias do MS. A questão dasaúde dos povos indígenas tem sido tra-tada com muito carinho e dedicação”,aponta Venâncio.

Saúde públicae agronegócio

Em uma parceria que envolve osministérios da Saúde e da Justiça, aunidade regional da Fiocruz está rea-

lizando um levantamento das condi-ções de saúde da chamada popula-ção privada de liberdade. “Além dessediagnóstico das condições de saúde oprojeto também auxilia na capacita-ção dos recursos humanos que cuidamdiretamente da saúde dos presos”, afir-ma Venâncio.

Dois importantes projetos de pes-quisa foram recentemente aprovados:um avaliará a prevalência das hepati-tes B, C e sífilis na população carcerá-ria de Mato Grosso do Sul, e o outroirá estudar o trajeto terapêutico dosdoentes com tuberculose no estado deMato Grosso do Sul, desde a atençãobásica até uma unidade de referênciaem doenças infecciosas.

Ainda nessa área temática, umterceiro projeto também foi aprovadopela Fundação de Ciência e Tecnolo-gia de Mato Grosso do Sul. IntituladaDengue: avaliação da letalidade ten-do como parâmetros os sinais de alar-me, comorbidades e práticas deassistência, a proposta reúne diversossubprojetos que têm como objetivo prin-cipal desenvolver estudos clínicos e

epidemiológicos que contribuam paraa definição de preditores de evoluçãopara as formas graves da doença, bemcomo para aprimorar os protocolos demanejo clínico dos doentes visando àredução da letalidade.

Outras iniciativas da Fiocruz no es-tado no âmbito da saúde têm ligaçãocom problemas graves e recorrentesna localidade, como os afogamentose a violência urbana e rural. De acor-do com o pesquisador, a região apre-senta um forte apelo ao ecoturismoe, devido a isso, o número de mortespor afogamento tem aumentado. Noúltimo ano, foram registrados cerca de800 óbitos. No que se refere à violên-cia, Venâncio indica que esta devepassar a ser vista sob a ótica da saúdecoletiva na região. “É necessário con-solidar um debate entre os trabalha-dores e gestores de saúde das áreaspública e privada no sentido de forta-lecer concepção de violência não sócomo um problema de segurança,mas de saúde pública, a fim de com-bater problemas no trânsito, depen-dência química e suicídios”, diz.

A saúde dos povos indígenas éuma das prioridades da atuaçãoda Fiocruz no estado

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Danielle Monteiro

erceiro estado mais po-puloso da Região Nortedo Brasil, Rondônia ulti-mamente tem sofridomudanças positivas no

campo econômico. Fatores como aconstrução das hidrelétricas do RioMadeira, que vão gerar uma quanti-dade estratégica de energia para opaís, a consolidação da estrada quefará a ligação com o Oceano Pacíficoe a finalização da BR 319 – a qualligará a capital Porto Velho a Manause, consequentemente, ao Caribe –prometem alavancar a economia doestado. Porém, na área da saúde,Rondônia ainda precisa avançar emalgumas questões: o estado é o ter-ceiro com maior número de casos demalária na Amazônia. A doença não

é a única que, historicamente, assolaa região. Casos de febre hemorrágicaamericana e boliviana, infecções porhantavírus e, ainda, síndromes febrisou respiratórias de origem desconhe-cida não são raras no estado, princi-palmente em Porto Velho, e em áreasonde estão localizadas as usinas hi-drelétricas, em função da alta circula-ção de migrantes.

Foi essa situação vivenciada porRondônia que motivou a Fiocruz a fin-car seus pés na região, iniciando, em2009, a instalação de sua unidade emPorto Velho. “Embora tenha extremarelevância do ponto de vista econômi-co do país, o estado apresenta índicesde qualidade de vida e saúde alarman-tes, além de iniquidades sociais quedevem ser combatidas. A Fundação,com sua tradição de pensar o nacionalatravés do regional, tem papel funda-

TFiocruzincorporaIpepatro

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mental para a melhoria da qualidadede vida e redução das desigualdadeslocais”, argumenta o diretor da unida-de, Rodrigo Stabeli.

A história da Fiocruz Rondônia, noentanto, começa antes de 2009, com osurgimento do Instituto de Pesquisas emPatologias Tropicais (Ipepatro). O anoera 1999. O professor e pesquisador LuizHildebrando, engajado na pesquisa ecombate das doenças tropicais, acaba-ra de trocar Paris, cidade onde por maisde 20 anos atuou no Instituto Pasteur,por Porto Velho. Com o intuito de pres-tar suporte à pesquisa sobre as enfer-midades da região, funda o institutoque, um ano mais tarde, dá início àsatividades. Em 2003, a instituição firmacooperação científica com a Fiocruz e,a partir de então, passa a atuar comuma sede fixa de funcionamento depesquisa, tornando-se mais do que um

órgão de apoio. Seis anos depois, comsua incorporação à Fundação, nasce aFiocruz Rondônia, já com uma missãobem definida: gerar, difundir e induzir aimplementação de soluções científicase tecnológicas para situações de saúdeque afetam as populações locais, focan-do nas iniquidades sociais.

Desde então, a unidade vem atuan-do nos campos de pesquisa das enfermi-dades da região; no desenvolvimentotecnológico de insumos estratégicos paradiagnóstico, controle e cuidado de do-enças negligenciadas, por meio do estu-do da biodiversidade; na formação deprofissionais da saúde em várias áreas;na vigilância epidemiológica de frontei-ra; e na pesquisa e desenvolvimento naatenção à saúde pública. Segundo Sta-beli, a ideia é atuar na investigação depatologias provocadas pelo impacto doacesso do homem ao interior da região.“Além de ser porta para o Oceano Pa-cífico, Rondônia está localizada na mai-or biodiversidade do planeta, comauma diversificada população de vírus,bactérias e parasitas perigosos para ohomem. Não sabemos muito aindasobre as consequências do acesso dohomem ao interior da floresta, daí anecessidade de atuarmos na vigilânciade fronteira”, explica.

Com base nessa perspectiva, a Fio-cruz Rondônia, que atualmente tem 15laboratórios e duas plataformas de ser-viços especializados nas doenças locais,conta com um ambulatório de síndro-mes febris não identificadas, as quaisrepresentam 80% das febres atendi-das no hospital de referência do esta-do. “Trabalharemos na investigação eorigem dos focos infecciosos dessasenfermidades em cooperação com oestado, por meio do Laboratório Cen-tral de Saúde Pública de Rondônia, edo laboratório de fronteira”, adiantaStabeli. Estudos sobre malária, leish-manioses, dengue, além da dinâmicada transmissão e a fisiopatologia dahepatite viral tipo delta, endêmica naregião, também fazem parte do cam-po de atuação da unidade.

Em pouco tempo de existência, aunidade já celebra algumas conquis-tas. O ambulatório das hepatites crôni-cas virais B, C e delta é referência no

tratamento da doença no continentesul-americano e já realizou, entre 2004e 2012, mais de 30 mil atendimentosambulatoriais. O serviço dispõe aindade uma unidade móvel para o trata-mento e monitoramento de populaçõesindígenas e ribeirinhas do Vale do Gua-poré. O ambulatório de malária e fe-bres não identificadas, que durante omesmo período realizou mais de 200mil atendimentos, é outro serviço dedestaque da unidade, sendo o únicode atendimento especializado na pa-tologia no estado. A iniciativa vem sen-do espelho para o recém instaladoescritório da Fiocruz em Moçambique.

No campo da epidemiologia, os re-sultados também são significativos. Pormeio do tratamento dos portadores demalária provocada pelos parasitas vivaxe falciparum, seguidos do tratamentopreventivo das recaídas de malária vi-vax, a unidade conseguiu praticamen-te erradicar a doença em duaslocalidades ribeirinhas do Rio Madeira.“Nessas áreas, até recentemente, osaltos níveis de incidência poderiam tergerado um surto pandêmico com a im-plantação das usinas hidrelétricas naregião”, afirma Stabeli. Segundo ele, otrabalho servirá de orientação para ocombate à doença em outras áreas ri-beirinhas amazônicas. “Estamos plane-jando um novo estudo utilizando asmesmas metodologias, mas ampliandoa área do ensaio a todo um municípiocom alta incidência de malária vivax daregião”, revela.

Para aprimorar seu campo de atua-ção, a Fiocruz Rondônia traçou comometa uma segunda etapa de implanta-ção, que propõe a construção de umasede própria, idealizada pelo arquitetoOscar Niemeyer. A iniciativa, previstapara 2013, será realizada em parceriacom Universidade Federal de Rondônia,o Ministério da Saúde, o governo doestado, a Prefeitura de Porto Velho e,possivelmente, os consórcios de cons-trução das hidrelétricas do Rio Madei-ra. “Daremos continuidade às nossasações seguindo a tradição de OswaldoCruz, com o desafio de cuidar da quali-dade de vida da população que aquireside, por meio da ciência, tecnologiae inovação”, conclui Stabeli.

Populações indígenas eribeirinhas serão atendidaspor uma unidade móvel daFiocruz Rondônia

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Os laboratórios da Fiocruz Paranátrabalham com sequenciamento de DNA,espectrometria de massa, microscopiaconfocal e citometria de fluxo

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Ricardo Valverde

Instituto Carlos Chagas(ICC), unidade da Fiocruzno Paraná, ocupa umaárea de 2,4 mil metrosquadrados, com possibili-

dades de expansão para 4 mil metrosquadrados, no curto a médio prazos. Noespaço funcionam oito laboratórios: Bio-informática; Biologia Celular e Mi-croscopia; Biologia Molecular deTripanossomatídeos; Virologia Mole-cular; Regulação da Expressão Gênica;Genômica Funcional; Células-tronco; ede Desenvolvimento de Insumos. Alémdas facilidades para as atividades de pes-quisa correntes, o ICC conta com umlaboratório de Nível de Biossegurança 3(NB-3), numa escala que vai até 4, erecebeu investimentos para a instalaçãode novas plataformas tecnológicas.

Hoje, à plataforma de microarran-jos somam-se as de sequenciamentode DNA, espectrometria de massa(método para identificar os diferentesátomos que compõe uma substância),microscopia confocal (técnica na qualum pequeno ponto é iluminado e ob-servado de cada vez, de modo queuma imagem é construída por meio davarredura ponto-a-ponto do campo) ecitometria de fluxo (técnica para con-tar, examinar e classificar partículasmicroscópicas suspensas em meio líqui-do em fluxo). Todas essas facilidades

Fiocruz finca bandeira no Sulde pesquisa são aproveitadas em dife-rentes frentes de trabalho do ICC, quecoordena o Instituto Nacional de Ciên-cia e Tecnologia (INCT) em Diagnósti-cos para Saúde Pública, uma rede multie interdisciplinar composta por nove ins-tituições entre universidades e institu-tos de ciência e tecnologia.

Na área de virologia do ICC, porexemplo, destacam-se os projetos sobredengue e hantavírus. Há estudos sobreos mecanismos das doenças, medica-mentos antivirais, a filogenia (relaçõesde parentesco) dos vírus e sua epidemi-ologia molecular, bem como sobre kitsde diagnóstico. No caso do hantavírus,já foi desenvolvido um kit de diagnósticoque está sendo produzido no ICC e dis-tribuído para os Laboratórios Centrais deSaúde (Lacens) de vários estados peloMinistério da Saúde.

Já a pesquisa básica com células-tronco adultas visa elucidar os mecanis-mos de diferenciação destas células emcélulas cardíacas. O Trypanosoma cru-zi, protozoário causador da doença deChagas, também tem sido alvo de vári-os projetos, com o intuito de estudar oprocesso de diferenciação deste parasi-to e seus mecanismos de interação comas células do hospedeiro. Neste caso,utiliza-se uma abordagem de genômi-

O

ca funcional, onde se investiga a ex-pressão temporal de genes do parasitoe do hospedeiro, com o objetivo de iden-tificar novos alvos potenciais para dro-gas contra a doença de Chagas.Também estão nos planos da unidadeparcerias com países do Cone Sul.

Na ocasião de inauguração do ICCtambém foi celebrado um acordo en-tre a Fiocruz e a Secretaria da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior do Para-ná, o Tecpar e seis universidades esta-duais: a Universidade Estadual deLondrina, a Universidade Estadual deMaringá, a Universidade Estadual dePonta Grossa, a Universidade Estadualdo Oeste do Paraná, a UniversidadeEstadual do Centro-Oeste e a Universi-dade Estadual do Norte do Paraná. Oobjetivo central é a cooperação insti-tucional para o desenvolvimento cien-tífico e tecnológico do Paraná, nocampo das biociências e da biotecno-logia em saúde. O acordo abrange aformação de recursos humanos em ní-vel de pós-graduação strictu sensu; odesenvolvimento conjunto de progra-mas de pesquisa em áreas prioritáriasde saúde; o desenvolvimento tecnoló-gico de produtos e insumos de interes-se dos programas de saúde pública; eo intercâmbio de pesquisadores.

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Uma unidade a serviçoda saúde no extremo norte

Ana Paula Gioia

Instituto Leônidas e MariaDeane (ILMD) é a unida-de técnico-científica daFiocruz na Amazônia,com sede em Manaus, e

cuja missão é contribuir para a melho-ria das condições de vida e saúde daspopulações amazônicas e para o desen-volvimento científico regional. O ILMDteve origem no antigo Escritório Técni-co da Amazônia (ETA-Fiocruz), implan-

tado em janeiro de 1994 nas depen-dências do Instituto de Medicina Tropi-cal de Manaus, tendo como primeirodiretor o médico Marcus Barros.

Em novembro de 1999, após umadecisão unânime do Congresso Internoda Fiocruz, o ETA tornou-se uma unida-de técnico-científica e, em 2001, pas-sou a ser chamado, oficialmente, deCentro de Pesquisa Leônidas e MariaDeane (ILMD), assumindo o papel deuma unidade autônoma na Amazôniaque busca consolidar, na região, o pa-pel que a Fundação representa no res-tante do país. Naquela fase, a instituiçãoera dirigida pelo médico e pesquisadorLuciano Toledo, que prosseguiu com asnegociações referentes à cessão do pa-trimônio físico junto à presidência daFiocruz e a adequação do espaço parao desempenho das atividades de ensi-no e pesquisa. Em 2002, foi inaugura-da a sua sede do Centro de Pesquisa erealizado o primeiro concurso públicopara adquirir um quadro de funcionári-os inicial para cumprir a missão de pro-duzir e desenvolver conhecimentocientífico, tecnológico e de inovação emsaúde na Amazônia.

Pesquisa A área de Pesquisa do ILMD tem

trabalhado para produzir conhecimen-to científico, tecnológico e de inovaçãoem saúde, integrados ao conhecimen-to. Tem desenvolvido projetos de cará-ter multidisciplinar e interinstitucional,inseridos nas áreas temáticas estabele-cidas pela Fiocruz, gerando dados es-senciais para a criação de políticaspúblicas que proporcionam a melhoriada qualidade de vida da sociedade emgeral. Sua produção científica é reali-zada por meio de parcerias entre insti-tuições de pesquisa e pela cooperaçãotécnica realizada através da assessoriatécnico-científica desenvolvida junto aoSistema Único de Saúde (SUS) - comfoco especial no conhecimento das re-alidades sócio-sanitárias e epidemioló-gicas da Amazônia - e às instituiçõesnacionais e internacionais de ciência,tecnologia e inovação em saúde(CT&IS). Atua por meio de cinco gru-pos de pesquisa: saúde Indígena: cultu-

O

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ra, condições de vida, vulnerabilidadesocial e epidemiologia de etnias ama-zônica; ecologia de doenças transmissí-veis na Amazônia; doenças Infecciosasna Amazônia, diagnóstico e controle;diversidade microbiana da Amazôniacom importância para a saúde; e histó-ria das ciências na Amazônia.

Coleção biológicaA Coleção Biológica do ILMD (CBIL-

MD) constitui-se em um eixo agregadordas pesquisas do instituto, servindo derecursos estratégicos para o desenvolvi-mento científico, tecnológico e de ino-vação no país. Mantém um acervo derelevante importância composta de linha-gens isoladas de diferentes substratos daAmazônia brasileira, região ainda pou-co explorada quanto à sua riqueza mi-crobiana. Está dividida em Coleção deBactérias da Amazônia (CBAM), com340 bactérias isoladas identificadas, eColeção de Fungos da Amazônia(CFAM), constituída por 834 culturas defungos filamentosos. É filiada a WorldFederation of Culture Collection (WFCC)e dispõe de um total de 1.174 compos-tos, conservados sob óleo mineral, emágua destilada, a -20ºC e liofilização.

CooperaçãoVisando a troca de experiências e

de conhecimento, o apoio para pesqui-sas, o desenvolvimento tecnológico e acapacitação de recursos humanos oILMD também estabelece cooperaçãocom instituições nacionais e internacio-nais de ciência, tecnologia e inovaçãoem saúde (CT&IS), por meio do AcordoMultilateral de Cooperação Técnico-Ci-entífica em Saúde das Instituições daAmazônia e da Rede Pan-Amazônicade CT&IS. As cooperações nacionaisvêm sendo estabelecidas com conselhosde secretários de Saúde (Conass e Co-nasems), com universidades federais eestaduais, com os ministérios da Ciên-cia e Tecnologia e da Saúde, órgãos li-gados à saúde indígena (Funasa e Foirn)e secretarias de Saúde e de Educaçãoe com a Fundação de Amparo à Pes-quisa do Amazonas. Todos os esforçostem resultado em crescimento da pro-

dução científica do ILMD e aumento noreconhecimento da importância de suaspesquisas na região.

EnsinoAtualmente oferece dois cursos stricto

sensu: o mestrado em saúde, sociedadee endemias na Amazônia, realizado pormeio de parceria com a UniversidadeFederal do Amazonas (Ufam) e Univer-sidade Federal do Pará (UFPA); e o dou-torado em saúde pública, oferecido porum consórcio com os programas depós-graduação de três outras unidadesda Fiocruz: Escola Nacional de SaúdePública Sérgio Arouca (Ensp), InstitutoFernandes Figueira (IFF), Centro de Pes-quisa Aggeu Magalhães (CPqAM/Fio-cruz Pernambuco).

Na modalidade lato sensu, atendea diferentes áreas do conhecimento

que tenham relação com a saúde, deacordo com as necessidades e de de-mandas acadêmicas. Na especializa-ção oferece cursos de história da saúdena Amazônia; ecologia de doençastransmissíveis da Amazônia; gestão dotrabalho e da educação em saúde; di-vulgação e jornalismo científico emsaúde na Amazônia; saúde públicapara gestores do SUS – Amazonas;saúde ambiental; vigilância sanitária;processos educativos na gestão regio-nalizada do SUS; educação permanen-te na gestão regionalizada. Tambémoferece formação técnica para nívelmédio, tais como: técnico de agentescomunitários indígenas de saúde; edu-cação permanente na gestão regiona-lizada do Sistema Único de Saúde –SUS; e o curso nacional de qualifica-ção de gestores do SUS – Amazonas.

O ILMD tem gerado dados essenciais para a criação de políticas públicas quemelhorem a qualidade de vida da população

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á um novo movimento deexpansão na região cen-tral do Brasil. Um movi-mento que, desta vez, nãotem o objetivo de fundar

uma cidade, mas o de consolidar a pre-sença da maior instituição de saúdepública da América Latina na capital dopaís. E a responsável pela conduçãodesse movimento é a Fiocruz Brasília,unidade criada em 1976, mas que pro-moveu, nos últimos anos, uma revira-volta no conjunto de suas atividades.

Nos idos de 70, cabia à Fiocruz Bra-sília (ou Direb, como era mais conheci-da) um papel de executora de atividadesadministrativas de apoio à Presidênciada Fundação. Hoje, a unidade desen-volve atividades de ensino, pesquisa,comunicação, eventos, popularizaçãoda ciência e, especialmente, um papelde articulação institucional cujos resul-tados positivos já podem ser observa-dos pelo conjunto da Fiocruz.

E essa revolução se acentuou nosúltimos dois anos, quando a instituiçãoganhou um prédio novo, erguido nocampus da Universidade de Brasília(UnB). Inaugurado em 7 de junho de2010, o prédio foi construído tanto paracomportar as atividades já em desen-volvimento pela Fiocruz Brasília, comopara apoiar o programa Escola de Go-verno em Saúde.

Fiocruz reforça a presençano Planalto Central

UNA-SUSA UNA-SUS resulta de iniciativa do

Ministério da Saúde em parceria comestados, municípios, instituições públi-cas de ensino superior e organismosinternacionais e foi instituída pelo de-creto 7385, de dezembro de 2010. Tem

como um dos objetivos atender as ne-cessidades de capacitação e educaçãopermanentes dos trabalhadores doSUS, sendo administrada por um cole-giado e por um Conselho Administrati-vo nos quais a direção da FiocruzBrasília tem assento e voz.

Integrada por instituições de ensinosuperior espalhadas por 11 estados, sen-do 14 universidades públicas e a EscolaNacional de Saúde Pública Sérgio Arou-ca (Ensp), a UNA-SUS constitui-se emrede de ensino. Sua atuação articuladapossibilita intercâmbio de experiências– metodológicas, tecnológicas ou ope-

HO novo prédio daFiocruz Brasília, sediadono campus da UnB

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racionais –, o que resulta na oferta decursos elaborados para suprir carênciase necessidades específicas de unidadesou programas do SUS.

Escola de Governoem Saúde

Pertencente a todas as unidades daFiocruz, a Escola de Governo em Saúde(EGS), localizada na Fiocruz Brasília, énorteada para atender demandas porassessoria e formação de quadros paraos diferentes níveis do SUS, em especi-

al no que se refere à gestão. A EGStem atuação includente e integradora.Assim, abriga, atualmente, 11 cursos deespecialização e oito mestrados profis-sionais constituídos com unidades do sis-tema Fiocruz ou em parceria cominstituições como a UnB e a Escola Su-perior do Ministério Público Federal.

Na construção de caminhos de in-tegração, a Fiocruz Brasília integra a Se-cretaria Executiva do Comitê deIntegração Estratégica da Fiocruz no Pro-grama Brasil Sem Miséria (BSM). So-bradinho, cidade satélite do DistritoFederal, foi escolhida para sediar proje-

to piloto durante oficinas com todas asunidades integrantes da Fiocruz. A atu-ação da Fiocruz no BSM consiste na qua-lificação de pessoas e em estimularprojetos de pesquisa para a criação deum núcleo de apoio e de identificaçãode problemas que afetam a segurançaepidemiológica local.

Direito sanitárioÉ também no campo do direito sani-

tário que a Fiocruz Brasília empreendevoos altos. O Programa de Direito Sani-tário (Prodisa) tem se tornado referêncianacional e integra a Rede Ibero-Ameri-cana constituída por universidades públi-cas de países como Argentina, Espanha,Portugal, Peru, Cuba e Colômbia. A redeestá em processo de expansão e devereceber a inclusão das universidades deSalerno e Bologna, da Itália.

Com a Universidade de Brasília, oProdisa participa da Rede Direito Acha-do na Rua. A premissa orientadora é ade que o direito deve emergir, ser cons-truído pelos movimentos sociais, pelocidadão, a exemplo do preceito consti-tucional “saúde direito de todos”, re-sultante da 8ª Conferência Nacional deSaúde, realizada na década de 1980.Outro conceito orientador é o da saúdeampliada, ou seja, o de ser a saúde re-sultante de bem estar físico, mental eemocional. Em parceria com o Senadoe a Câmara dos Deputados, a FiocruzBrasília, por meio do Prodisa, criou o Ob-servatório da Saúde no Legislativo, pormeio do qual é possível acompanhar atramitação das proposições sobre saú-de no Congresso Nacional.

Alimentaçãoe nutrição

A Fiocruz Brasília tem uma dedica-ção especial às questões da segurançaalimentar e nutricional no Brasil. Bas-tante sólido, o Programa de Alimenta-ção, Nutrição e Cultura prepara-se parauma iniciativa que será referência paratodo o Centro-Oeste: o Observatório dePolíticas de Segurança Alimentar e Nu-tricional. Este projeto está sendo estru-turado por intermédio de um edital doCNPq, em parceria com a UnB.

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Antonio Brotas

nidade técnico-científicada Fiocruz, o Centro dePesquisa Gonçalo Moniz(CPqGM), também co-nhecido como Fiocruz

Bahia, desenvolve ações no campo dasaúde, com foco voltado para o aumen-to do conhecimento científico, inova-ção, formação de capacitação derecursos humanos para atender as de-mandas do sistema de saúde. “É nos-so objetivo constante buscar meios paraque o conhecimento produzido possaser traduzido em benefícios para a so-ciedade, promovendo inclusão social eredução das desigualdades”, reforça odiretor Mitermayer Galvão dos Reis.

Um dos mais conceituados centrosde pesquisa do estado, com presença emimportantes fóruns públicos nos âmbitos

municipal, estadual e federal, a FiocruzBahia é reconhecida internacionalmen-te pelo estudo de patologias das doen-ças parasitárias e infecciosas, inicialmentecom trabalhos sobre doença de Chagas,esquistossomose, leishmaniose cutâneae visceral humana e experimental, re-trovírus HIV/ HTLV, HCV, hanseníase; tu-berculose humana; diarreia; vírusrespiratórios; meningites bacterianas;leptospirose humana; hepatites; ane-mia falciforme e, mais recentemente,com estudos sobre doenças crônicasdegenerativas e células-tronco. O altocoeficiente de publicação de artigos pu-blicados em revistas nacionais e inter-nacionais é um indicador da excelênciada pesquisa na unidade.

Em termos de linhas de pesquisa,Galvão dos Reis aponta que a epidemi-ologia clínica e molecular constitui-secomo área de forte presença na Funda-ção. “Utilizamos para validar e desen-volver processo e métodos diagnósticosem apoio ao desenvolvimento científi-co e as políticas de saúde pública, alémde produzir informações mais fidedig-nas sobre incidências, prevalências das

Fiocruz Bahia: tradição empesquisa e inovação em saúde

U

Entrada principal da Fiocruz Bahia, um dos mais conceituados centros de pesquisa do Nordeste (foto de Antonio Brotas)

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doenças, caracterização molecular dosagentes”, explica. Estudos relativos asorotipos de bactérias causadoras demeningites em Salvador e a prevalên-cia de indivíduos com anemia falcifor-me, caracterizaram os genótipos dosgrupos das hepatites e os sorotipos dovírus da dengue no estado estão nesteeixo. Estudos semelhantes são realiza-dos com esquistossomose e leishmani-oses, além da avaliação do risco dareemergência da doença de Chagas naBahia e, principalmente, em Salvador.

Duas outras áreas são fortes na Fio-cruz Bahia: imunopatogênese para iden-tificar biomarcadores de risco deadoecimento, progressão de doenças emonitoramento de resposta terapêuti-ca para doenças infecciosas, crônicadegenerativa e câncer e a identificaçãoe produção de antígenos com potencialdiagnóstico e de vacina. O resultadodeste esforço é o desenvolvimento doteste de diagnóstico rápido para leptos-pirose, que já obteve aprovação daAnvisa e será distribuído na rede públi-ca de saúde. Em relação às leishmanio-ses, as pesquisas avançam em direçãoao desenvolvimento de teste diagnósti-co e vacina. A identificação de biofár-macos, de novos compostos compotencial terapêutico, a partir da biodi-versidade (plantas, animais e fungos),é um desafio que os pesquisadores acei-taram na Fiocruz Bahia. A instituiçãotambém destaca-se na avaliação demedicamentos e vacinas (testes clíni-cos). Somem-se os esforços para identi-ficação de moléculas para a produçãode medicamentos com foco inicial embiofármacos e na terapia celular.

Os esforços sistemáticos, no quetange ao desenvolvimento tecnológi-co e inovação em saúde, tem a parti-cipação do Núcleo de InovaçãoTecnológica (NIT), que atua de formaintegrada ao sistema Gestec-NIT da Fio-cruz, e desenvolve ações relativas aproteção do conhecimento científico.Este trabalho é articulado às áreas dequalidade, biossegurança. O resultadofoi o depósito de patentes no Brasil eno exterior, principalmente nos EUA,que ajudam a garantir que o conheci-mento gerado pelas pesquisas sejamconvertidos em tecnologias para o SUS.

Com dez laboratórios, o CPqGMestá situado numa área de aproxima-damente 16 mil metros quadrados, queabriga cinco pavilhões. Além das espe-cificidades dos laboratórios, em relaçãoaos objetos de pesquisa e a procedimen-tos, uma filosofia de trabalho coletivotornou-se hegemônica na instituição,com a implantação de áreas de usocomuns. São atualmente sete platafor-mas tecnológicas multiusuário, além dobiotério: citometria de fluxo; espectro-metria de massas; histotecnologia; mi-croscopia eletrônica; sequenciamentode DNA. E mais recentemente a de bi-oinformática e PCR. Em estágios dife-rentes de funcionamento, ambasdisponibilizam profissionais qualificadose equipamentos de última geração paraa prestação de serviços. “Esta lógica,de otimizar a utilização de equipamen-tos de grande valor agregado, reduzcustos de manutenção e amplia o aces-so a pesquisadores, inclusive de outrasinstituições públicas”, avalia o diretor,que adianta: “Em 2013 entrará em ati-vidade a plataforma de bioinformática”.

As atividades de ensino e formaçãode recursos humanos para o SUS tam-bém são consideradas âncoras do cen-tro. Atualmente, a instituição tem doiscursos de pós-graduação stricto sensu. Ocurso de pós-graduação em patologia(PGPAT), fruto de um convênio com aUniversidade Federal da Bahia (UFBA),é um dos mais importantes do Brasil.Concentra-se nas áreas de patologiahumana e experimental e, nos dois últi-mos triênios, alcançou conceito 6 daCapes. Mais de 190 mestres e 80 douto-res foram formados, nos seus 30 anosde existência. Já a pós-graduação em bi-otecnologia em saúde e medicina inves-tigativa (PGBSMI) concentra-se nas áreasde biotecnologia aplicada à saúde, epi-demiologia molecular e medicina inves-tigativa e biologia celular. “É umdeterminação institucional empreenderesforços para qualificar cada vez maisnossa pós-graduação. Confiamos emprogramas que invistam na multidiscipli-naridade e na transversalidade”, obser-va o diretor, que ressalta também o êxitodo programa de iniciação científica, queofertou mais de 480 bolsas de iniciaçãocientífica a estudantes de graduação.

Jovens do Ensino Médio também fre-quentam a instituição. Deste programajá participaram 60 estudantes.

Integrado à Fiocruz em 22 de maiode 1970, por determinação do decreto66.624, que incorporou o Núcleo de Pes-quisas da Bahia (NEP), a unidade foi olocal de trabalho de pesquisadores comoAluízio Prata. Atualmente, dois dos prin-cipais fundadores da instituição, o casalZilton Andrade e Sonia Andrade, conti-nuam em atividade de pesquisa e orien-tação de estudantes. Ambos foramhomenageados em 2012 com o títulode pesquisadores eméritos da Fiocruz.

A história recente e os feitos con-temporâneos do CPqGM ecoam no es-tado e no Brasil. Os trabalhos depopularização da ciência, divulgação ci-entífica e de disseminação da informa-ção reforçam os laços internos, com acomunidades, com organismos governa-mentais e com a sociedade civil. Por isso,o centro mantêm rotineiramente sessõescientíficas e sessões da cidadania e pro-move cursos, seminários e encontros,entre outros eventos que permitem tro-ca de conhecimentos e experiências,como o Fiocruz pra Você, a Semana Na-cional de Ciência e Tecnologia e as fei-ras de ciência e saúde. “A participaçãoda sociedade não é algo pontual. Nossameta é aproximar sempre a ciência dapopulação, beneficiando-a até mesmodurante a pesquisa”, reforça o diretor.

A colaboração e cooperações inter-nacionais foram aceleradas nos últimosquatro anos. Em praticamente todos oscontinentes, pesquisadores e estudantestêm espaço para pesquisar. Argentina,Chile, Camarões, Japão, Austrália sãoalguns dos países. Na Comunidade Eu-ropeia, França e Espanha têm destaque.Um dos mais importantes convênios ocor-reu em 2011, com a Universidade Yale.“Realizamos intercâmbios institucionaisem níveis de graduação e pós-gradua-ção; pesquisa e/ou ensino colaborativo;simpósios, conferências e cursos de cur-ta duração conjuntos, em áreas de pes-quisa de interesse mútuo. E em 2012promovemos o 1º Colaborativo Courseon Ecological and Social Determinantsof Health, que reuniu pesquisadores eestudantes do Brasil e dos Estados Uni-dos”, recorda Galvão dos Reis.

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Solange Argenta

Centro de Pesquisa AggeuMagalhães (CPqAM/Fio-cruz Pernambuco) comple-tou 62 anos de existênciaem setembro de 2012, de-

senvolvendo um trabalho sistemático depesquisa, ensino e cooperação com oSUS em diversos campos da saúde pú-blica, objetivando a prevenção e o con-trole de enfermidades endêmicasagudas e crônico-degenerativas no Nor-deste. “A cada ano buscamos traba-lhar com mais qualidade, visandoinovações tanto no campo científico,como no tecnológico”, ressalta o dire-

Fiocruz PE: tradição aliada a qualidade e inovaçãotor da unidade, Eduardo Freese.

As equipes à frente dos estudos dis-põem de um Núcleo de PlataformasTecnológicas (NPT), composto por equi-pamentos de última geração, além delaboratório de Nível de Biossegurança3 (NB 3) e um biotério com setores decriação e experimentação, além de uminsetário. E a unidade conta hoje comseis serviços de referência para o Mi-nistério da Saúde, sendo três regionais:doença de Chagas, esquistossomose eleishmaniose e três nacionais: filario-ses, peste e culicídeos vetores. “Inves-timos não apenas em infraestrutura ena manutenção dos acervos biológicose de conhecimento existentes, mas

O

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47R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | J A N E I R O D E 2 0 1 3

também na melhoria das condições detrabalho e na capacitação de nossosprofissionais”, explica Freese.

Esses investimentos têm favorecidoo avanço das pesquisas. Estudos em an-damento utilizam técnicas moleculares(como a PCR em tempo real) para obterum diagnóstico mais preciso e mais rápi-do da tuberculose que os métodos tradi-cionais. E a unidade participa do inquéritonacional sobre a esquistossomose, pro-movido pelo Ministério da Saúde, sendoresponsável por investigar a ocorrênciada doença em Pernambuco, Paraíba, RioGrande do Norte e Alagoas. A coleta dedados em campo tem utilizado a tecno-logia do Global Position System (GPS),ferramenta utilizada para obter dados epi-demiológicos georreferenciados.

Outro estudo, iniciado este ano, vaiacompanhar pacientes com doença deChagas durante dez anos para buscar ummarcador imunológico que sinalize a efi-cácia do tratamento com o Benzonidazol– medicamento utilizado no combate aoparasita. “Esses são apenas alguns exem-plos, entre os mais de 240 projetos emdesenvolvimento na unidade desde2011”, explica a vice-diretora de pesqui-sa da unidade, Yara Gomes. E lembra queo Centro de Pesquisas realiza diversos tra-balhos através de cooperações internaci-onais, com instituições como o Institutode Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD-França) e as universidades americanas Jo-hns Hopkins e de Pittsburg. A parceriamais recente foi firmada com o Swiss Tro-pical and Public Health Institute e vai via-bilizar pesquisas sobre o potencial detransmissão de dengue por populações demosquitos Aedes aegypti e A. albopictusno Brasil e na Suíça.

Na área de ensino, o centro im-plantou este ano um novo programade pós-graduação, em biociências e bi-otecnologia em saúde. Com turmas demestrado acadêmico e doutorado, anova pós tem por objetivo formar do-centes para o ensino superior e pes-quisadores com habilidades paraconduzir pesquisas nas áreas de para-sitologia, imunologia, microbiologia ebiologia celular e molecular, voltadasà inovação tecnológica em saúde.

O outro programa da instituição, ode saúde pública, oferece cursos dedoutorado, mestrado acadêmico e mes-trado profissional com linhas de pes-quisa em epidemiologia, planejamentoe gestão em saúde, avaliação de ser-viços de saúde e ambiente. O centrodesenvolve ainda o programa de Resi-dência Multiprofissional em SaúdeColetiva e ministra cursos não regula-res de especialização em áreas comogestão e política de recursos humanos,vigilância ambiental, entre outros te-mas ligados à saúde pública.

HistóriaA unidade nasceu em 1950, de

uma iniciativa de pesquisadores locaisque tinham como sonho fundar umainstituição que pesquisasse as enfermi-

dades endêmicas que atingiam gran-de parte da população nordestina. Seunome homenageia o sanitarista per-nambucano Aggeu Magalhães, queintegrava esse grupo pioneiro. A esquis-tossomose foi a área de pesquisa prio-ritária da unidade. Na década de 1950,a equipe de pesquisadores do centro,realizou estudos pioneiros sobre a eco-logia do caramujo e o impacto ambi-ental do uso dos molusccidas. Na épocacomeçaram a ser investigadas tambéma filariose e a leishmaniose.

Em 1962, foram realizadas pesqui-sas que mostravam a existência dosinsetos vetores (barbeiros) infestadoscom a doença de Chagas no estado.Os trabalhos realizados no CPqAM fo-ram importantes para a epidemiologiada doença em Pernambuco. No fim dadécada de 1960, o centro de pesquisainstalou o Plano Piloto de Peste (PPP),em parceria com a Organização Mun-dial da Saúde (OMS), a OrganizaçãoPan-Americana de Saúde (Opas) e aSuperintendência de Desenvolvimentodo Nordeste (Sudene). Com sede emExu, no sertão pernambucano, o pro-jeto realizou estudos sobre a transmis-são e o controle da doença, quecontribuíram com a fundamentaçãocientífica do atual programa de con-trole desenvolvido pelo Serviço de Re-ferência em Peste da Fiocruz PE,baseado na vigilância contínua e siste-mática em âmbito nacional.

Em agosto de 1970, o CPqAMpassou a integrar a Fundação Oswal-do Cruz, como unidade técnico-cien-tífica. Nos anos 80 foi implantado oprograma de ensino do centro de pes-quisa e na década de 90 o centro pas-sou a trabalhar em cooperação comos serviços de saúde de âmbito fede-ral, estadual e municipal na implemen-tação do SUS. Nos últimos anos foramincorporadas novas linhas de pesqui-sa sobre doenças crônicas não trans-missíveis (hipertensão e diabetes),violência e ambiente. A instituiçãotambém passou por um processo deexpansão dos serviços de informática,do quadro de funcionários e de suaárea física, incluindo mais laboratóri-os e salas de aula, com espaços infor-matizados e para videoconferência.

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Érica Lopes, Sílvio Bento e Zélia da Luz

Centro de Pesquisa RenéRachou (CPqRR) é umaunidade da Fiocruz loca-lizada em Belo Horizontee foi incorporada à Fun-

dação em 1970. No entanto, os víncu-los do Instituto de Manguinhos, embriãoda Fiocruz e hoje denominado Institu-to Oswaldo Cruz (IOC), com Minas Ge-rais, são mais antigos e datam dosprimeiros anos do século 20. A primei-ra aproximação se deu por meio de pe-cuaristas mineiros que solicitaram aprodução de uma vacina contra a pes-te da manqueira, ou carbúnculo sinto-mático, epizootia que atacava osrebanhos. Em 1909, com a descobertado ciclo da doença de Chagas, o IOCinstalou em Lassance (norte de Minas)um laboratório para estudar a enfer-midade. Com a descoberta de um focoda doença de Chagas em Bambuí, nooeste mineiro, por Amilcar Vianna Mar-tins e Emanuel Dias, o IOC criou, em1944, um centro de estudos na cidadee designou Emanuel Dias para dirigi-lo.A partir de 1966 o Centro de Pesquisade Belo Horizonte do Instituto Nacionalde Endemias Rurais (INERu) passou achamar-se, por determinação do presi-dente da República e do ministro da

Vínculos históricos comMinas Gerais

coleções científicas sendo três creden-ciadas: de triatomíneos, de flebotomí-neos e de malacologia. Uma outra, acoleção de culicídeos, está em proces-so de credenciamento.

Um importante viés do trabalho doCPqRR é desenvolvido pelo ProjetoBambuí – sediado no município homô-nimo –, que é, provavelmente, a coor-te de idosos de base populacional demais longa duração e com baixas per-

O

Saúde, Centro de Pesquisa René Ra-chou e a partir de 1970 foi então incor-porado à Fiocruz.

Nos últimos anos, o CPqRR temampliado as suas atividades e vem tra-balhando para fortalecer a relação en-tre pesquisa, inovação e produção, paraaumentar o acesso da população aosbens e serviços em saúde. Para isso, ocentro de pesquisa mantém colabora-ções e parcerias com diferentes insti-tuições de pesquisa nacionais eestrangeiras, bem como com secreta-rias e outras Instituições no estado.

O CPqRR atua em diferentes áreasdo conhecimento e os seus 20 grupos depesquisa, distribuídos em 14 laboratóriosse dedicam ao estudo de vários aspectosde doenças (como malária, leishmanio-ses, doença de Chagas, esquistossomo-se, outras helmintoses, dengue, doençascrônico-degenerativas), além de temas deimportância para a saúde pública (comoenvelhecimento, avaliação de programas,educação em saúde e ambiente, entreoutros). Pesquisadores do centro atuamcomo lideranças em diferentes iniciativastais como Instituto Nacional de Ciência eTecnologia em Vacinas, Rede Mineira deBioinformática, Biomoléculas e Sequeci-amento Genômico. O CPqRR mantém,numa relação estreita com a pesquisa,seis serviços de referência credenciadosno sistema nacional de laboratórios desaúde pública no âmbito da vigilânciaepidemiológica e ambiental: referêncianacional em leishmanioses, referêncianacional e internacional para estudo dataxonomia dos flebotomíneos america-nos, referência nacional em doença deChagas, referência nacional na identifi-cação de moluscos brasileiros do gêneroBiomphalaria, referência na investigaçãoepidemiológica da presença e competên-cia vetorial de flebotomíneos em áreasendêmicas e referência em diagnósticoda esquistossomose. Conta ainda com umambulatório que é referência para di-agnóstico e tratamento das leishmanio-ses. O CPqRR tem quatro importantes

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das para acompanhamento ao longodo tempo, em um país latino-america-no. A coorte foi implantada em 1997,está no seu 15º ano de acompanha-mento e tem previsão para mais cincoanos de trabalhos. A investigação tempor objetivo examinar a incidência eos determinantes da mortalidade, douso de serviços de saúde, da incapaci-dade funcional, do declínio cognitivo ede outros aspectos relacionados à saú-

de mental e da hipertensão arterial,além de outras doenças e condiçõescomuns em idosos.

EnsinoDesde a sua criação o CPqRR par-

ticipa de processos de capacitação derecursos humanos para o sistema desaúde e de ciência e tecnologia do país.Faz parte da política de formação de

recursos humanos o estímulo constan-te de jovens estudantes a seguirem acarreira científica por meio de progra-mas institucionais de vocação científi-ca, para alunos do Ensino Médio, e deiniciação científica para os universitári-os. Em 2002 foi criado o Programa dePós-Graduação stricto senso em Ciên-cias da Saúde, responsável pela forma-ção de mestres e doutores. Na últimaavaliação da Capes (2007-2009) esta

Fachada do Centro de PesquisaRené Rachou, unidade daFiocruz em Minas Gerais

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pós-graduação obteve conceito 5. Jáforam formados no referido curso 123mestres e 57 doutores.

Em fevereiro de 2012 mais um pro-grama de mestrado acadêmico e dou-torado do CPqRR foi aprovado pelaCapes. Trata-se do Programa em Saú-de Coletiva, com previsão de início dasaulas em 2013. Nos últimos cinco anos,os pesquisadores do centro publicaram847 artigos científicos, 101 capítulos delivros, 80 teses e 93 dissertações. Des-de 2007 foram depositados sete pedi-dos de patentes.

InovaçãoAo longo dos anos de sua existên-

cia o CPqRR foi ampliando a sua inser-ção e vocação no sistema de P,D&I.Em 2009 foram implantados os progra-mas estruturantes da unidade. Estes

programas se constituem em mecanis-mo de apoio a projetos integrados,envolvendo vários grupos de pesquisa,que compartilharão conhecimentos erecursos para responder questões rele-vantes da saúde, aglutinando diversasáreas do conhecimento ou vários as-pectos de uma mesma área. Em 2010e 2011 o CPqRR desenvolveu, por meiode convênio com a Secretaria de Ci-ência, Tecnologia e Ensino Superior deMinas Gerais e Serviço Brasileiro deApoio às Micro e Pequenas Empresas(Sebrae), o Programa de Incentivo Ino-vação (PII), que envolveu pesquisado-res, tecnologistas, técnicos e estudantesdo CPqRR em projetos que visavam ofortalecimento da inovação.

Nos últimos anos e a partir de fi-nanciamento de projetos, especialmen-te pela Cooperação Social da Fiocruz,o centro vem dando maior visibilidade

ao seu papel social, com projetos quevão de organização de comunidadespara o enfrentamento de doenças emregiões de extrema pobreza; combateà fome; e geração de renda em regi-ões urbanas com população jovem emsituação de vulnerabilidade social.

Atualmente o CPqRR enfrenta vári-os problemas de espaço. Assim, umanova sede está em construção no Par-que Tecnológico BHTec. As futuras ins-talações estão sendo pensadas parafacilitar a integração interna e externa edar maior comodidade aos usuários. OCentro de Pesquisa René Rachou mos-tra uma história de grandes contribuiçõesem suas áreas de atuação e a intençãoé fortalecer cada vez mais a unidade,para que de fato possa reforçar o seupapel como referência regional, nacio-nal e internacional na geração de conhe-cimento e inovação para a saúde.

Desde a sua criação o CPqRRparticipa de processos decapacitação de recursos humanospara o sistema de saúde e deciência e tecnologia do país