Especial algarve, terra de vinhos - 22 MAI 2015

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terra de V inhos Algarve Especial

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Um especial inteiramente dedicado aos vinhos regionais no POSTAL desta semana. Em destaque: > Quinta João Clara, em Alcantarilha: A Paixão em estado líquido > Vinhos do Algarve em concurso esta segunda-feira > Quinta do Barranco Longo, Algoz: Pioneirismo e sucesso > Vinhos do Algarve a caminho de um milhão de litros! > Albufeira, capital nacional do vinho > Algarve põe os vinhos na Rota do Turismo

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Quinta João Clara, em Alcantarilha

A Paixão em estado líquido

quinta resulta de muita dedi-cação e amor, até paixão”. De sorriso nos lábios e olhar tran-quilo, Edite Alves define assim o tremendo sucesso em que se tornou a propriedade adquiri-da pelo sogro, João Maria Al-ves, e onde produz vinho de marcas próprias desde 2006.

Em 1975 João Maria Alves – conhecido como João Cla-

“Esta

ra – comprou a quinta, de 26 hectares, situada em Alcan-tarilha, e nela, muitos anos a fio, produziu vinho para a co-operativa de Lagoa, enquanto a agremiação teve forças para lhe pagar.

O filho, Joaquim Alves, herdaria do pai a tenacida-de e a coragem de lutar e sempre alimentou o sonho de ter produção própria des-de a vinha até à marca. Em 2006 concretiza o sonho, ao produzir as primeiras 6.600 garrafas do vinho João Cla-ra Tinto.

Foi um sucesso, o primeiro de muitos do então marido

de Edite Alves. Dos 8,5 hecta-res da Quinta João Clara (her-daria o nome do seu criador) dedicados à vinha, foram saindo anualmente cada vez mais produção e variedade. Até chegar às 35 mil garrafas e oito marcas atuais.

A CHEGADA DOS PRIMEIROS ROSÉ E BRANCO Em 2007, produz o primeiro rosé e em 2008 o primeiro bran-co, numa homenagem a Jo-aquim Alves, que faleceria nesse ano. Edite Alves ficaria a partir de então à frente dos destinos da quinta, com as duas filhas, Ana e Joana.

Os olhos de Edite Alves brilham mais quando fala da “cereja no topo do bolo” em que se converteu o João Clara Negra Mole, cuja pri-meira edição foi lançada em 2013 (colheita de 2011), com o patrocínio e arte da enóloga Cláudia Favinha e cuja segunda edição será lançada no Natal deste ano,

patrocinada pela enóloga Jo-ana Maçanita, a atual técni-ca da Quinta.

“Fomos os primeiros pro-dutores de negra mole com qualidade de todo o Algar-ve”, orgulha-se Edite Alves. E não ficam por aí os motivos de orgulho: o João Clara Ne-gra Mole recebeu rasgados elogios da crítica, inclusive quando foi apresentado no Hotel Ritz, em Lisboa, em Outubro de 2014.

Elogios também não fal-tam para o grande vinho que é o Homenagem, o “topo de

gama” da Quinta de Alcan-tarilha, elogiado pela pres-tigiada Revista de Vinhos como um dos melhores vi-nhos algarvios da actuali-dade.

Mais de uma dúzia de prémios internacionais de-coram a galeria da Quin-ta, o último dos quais foi para a nova marca “menina dos olhos” da casa, o sua-ve Às Claras, cuja versão Tinto 2013 foi classificado com medalha de bronze no concurso Decanter - World Wine Awards.

Edite Alves, responsável pela Quinta João Clara

CVRA

Melhores serão premiadosî

Cerca de 80 referências de vinhos algarvios participam na próxima segunda-feira, dia 25, no 8º Concurso de Vinhos do Algarve, que de-correrá no Convento de São José, em Lagoa.

Organizado pela Comissão Vitivinícola da Região (CVR) do Algarve, em parceria com a Câmara Municipal de La-goa e a Associação dos Es-canções de Portugal, o con-curso tem como objetivo a atribuição de distinções aos melhores vinhos engarrafa-dos da região.

O evento conta ainda com o apoio da Revista Escanção como Media Partner, a em-presa de Comunicação Best Partners e o fotógrafo Ricar-do Bernardo.

O Concurso de Vinhos do Algarve é aberto a vinhos brancos, rosados e tintos produzidos na Região Vi-tivinícola do Algarve, com direito a Denominação de Origem Protegida Lagos, La-goa, Portimão e Tavira e In-dicação Geográfica Algarve. Está prevista a participação de cerca de 80 referências, avaliadas por um painel de provadores/escanções.

Os produtores podem sub-meter a concurso mais que um vinho de cada categoria. Após o concurso serão atri-buídas as seguintes distin-ções: Medalhas de Ouro, Pra-ta e Bronze e ainda a Grande Medalha de Ouro – O Melhor Vinho do Algarve.

Os vinhos admitidos a concurso são avaliados em prova cega a ser efectuada pelo conjunto de provado-res constituídos em painéis. Cada painel de jurados é constituído por um número mínimo de cinco provadores e um presidente.

Vinhos do Algarve em concurso esta segunda-feira

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Visite-nos em: www.joaoclara.com

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Quinta do Barranco Longo, Algoz

Pioneirismo e sucesso

um desafio em tom de brinca-deira surgiu um projeto sério, um dos mais consistentes da re-

gião. “Tudo começou nos finais da década de 90, quando os meus amigos visitavam a Quinta e per-guntavam porque é que a região não produzia bons vinhos e me desafiavam a fazê-los”, recorda Rui Virgínia, 46 anos, proprietá-rio da Quinta Barranco Longo, em Algoz, concelho de Silves.

O então jovem agricultor aca-bou aceitando o repto e em 2001 dedica uma pequena parte dos 29 hectares que então possuía às primeiras vinificações. Até então, os citrinos tinham o exclusivo.

Como todos os pioneiros, con-tou com uma dificuldade: “Não havia um histórico, nem nada em que me basear, na altura fiz tudo por instinto”.

Nessa altura, a escassa produ-ção algarvia era centralizada na Cooperativa de Lagoa e baseava--se em brancos e tintos. Mas Rui Virgínia queria inovar e, em 2003, produz um rosé, já com rótulo próprio, complementado pelas

De

primeiras edições de Barranco Longo Tinto e Reserva. Um total de sete mil litros.

Em 2004 a produção aumenta para dez mil litros e da Quinta sai o primeiro monocasta: “Barranco Longo Touriga Nacional”.

A produção triplica em 2005, ano em que surgem o primeiro “Barranco Longo Branco” e o mo-

nocasta “Barranco Longo Syrah”. E mais uma inovação, o primeiro espumante rosé da região.

Em 2008 surge o rosé estagia-do e fermentado em madeira (o OakedRose), que se mantém até hoje como único no Algarve e um dos raros do país.

Hoje, dos 15 hectares da Quin-ta dedicados à produção vitiviní-cola, saem anualmente 120 mil garrafas, 65 por cento das quais são brancos e rosés.

A Quinta apresenta dezena e meia de vinhos: os rosés Bar-ranco Longo Rosé, Barranco Longo OakedRose, os brancos Barranco Longo Grande Esco-lha, Barranco Longo Chardonay e Barranco Longo Viognier, os tintos Barranco Longo Arago-nez/Cabernet-Sauvignon, Bar-ranco Longo Colheita Seleccio-nada, Barranco Longo Reserva, Barranco Longo Reserva Manuel Janeiro, Barranco Longo Reserva Syrah, Barranco Longo Reserva

Touriga Nacional, Barranco Lon-go Reserva Cabernet-Sauvignon e Barranco Longo Reserva Ali-cante Bouschet, o espumante Rosé Super Reserva Bruto Quê e os ícones Remexido Branco e Remexido Tinto, bem como o Colheita Tardia KO.

Este ano a Quinta acaba de

lançar o primeiro espumante branco do Algarve, Q1 Reserva Bruto Natural, numa edição limi-tada de 6.600 garrafas.

A distribuição, operada pela própria Quinta, ocorre em toda a região, sobretudo em garrafei-ras e restaurantes.

Com um corpo técnico de

cinco quadros e dois comerciais, Rui Virgínia orgulha-se da tec-nologia de ponta da adega, que sustenta ser a melhor do Algar-ve, e, sobretudo, de a ter posto ao serviço da inovação.

“Somos o produtor que mais contribuiu até hoje para o co-nhecimento dos vinhos da re-

gião”, afiança, recordando que em 2001 havia “meia-dúzia” de produtores de quinta.

Para os próximos anos, o pro-dutor sonha em fazer da Quinta um local de visita: “Chamámos a esse projecto a Nova Adega e ele será a nossa cereja no topo do bolo”.

Rui Virgínia, proprietário da Quinta Barranco Longoî

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Vinhos do Algarve já contam com mais de três dezenas de produtores

A caminho de um milhão de litros!

cerca de 15 anos atrás, quan-do tudo começou, eram qua-tro ou cinco quintas, com uma produção ainda muito ténue e pouco qualificada. A produção concentrava-se essencialmente na região de Lagoa e era finalizada na adega cooperativa do con-celho.

Hoje, os vinhos do Algarve abrangem cerca de 33 quin-tas, em toda a região, com destaque ainda para o bar-lavento, mas também come-çam a despontar nas regiões mais a leste.

Depois do arranque das vinhas das décadas de 80 e início de 90, quando o Tu-rismo e o setor imobiliário ganhavam à agricultura, o Algarve corre atrás do pre-juízo. A qualidade e varie-dade aumentaram, terrenos

outrora dedicados a outros tipos de produção produzem agora vinha.

“O Algarve tem 4.000 hec-tares de vinha, mas pode ter 60 mil, de uma ponta à outra da região”, aponta Hermínio Rebelo, 75 anos, Escanção Mor da Confraria dos Enófilos e Gastronómica do Algarve, para quem “há ainda muito trabalho por fazer, tanto pelos produtores como pelas entidades com-petentes”.

Segundo o enólogo, com-pete às câmaras municipais da região libertar os solos, hoje em grande parte presos numa malha administrativa brutal, mas também “é pre-ciso cativar os investidores, dar-lhes ânimo”.

SUCESSOS ESTIMULANTES NOS ÚLTIMOS ANOS Os sucessos dos últimos anos são estimulan-tes, com a produção a subir paulatinamente, sempre de forma sustentada. “Já ultra-passámos os 500 mil litros e estamos a caminho do

milhão”, prevê Aníbal Neto, coordenador da Rota dos Vi-

nhos do Algarve. Um aumento da produ-

ção que tem dado escala ao vinho algarvio e, consequen-

Vinhos do Algarve abrangem cerca de 33 quintas em toda a regiãoî

temente, preços mais compe-titivos face a outras regiões do país.

É NECESSÁRIA MAIS QUALIDA-DE NOS VINHOS REGIONAIS “Se olharmos para as outras re-giões, já temos preço, mas o produto do Algarve tem que ter mais qualidade para se impor no mercado, por razões de escala, o que quer dizer que o produtor tem que se esforçar muito mais”, sustenta por seu turno o pro-prietário da Quinta Barranco Longo, em Algoz (Silves), Rui Virgínia, um dos pioneiros do vinho de quinta algarvio e um dos principais produ-tores da região.

O e n ó l o g o R u b e n ➙

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Vinhos do Algarve já contam com mais de três dezenas de produtores

Aníbal Netoî

Pôr os vinhos na Rota do TurismoComposta por quatro ro-

teiros de enoturismo, a Rota dos Vinhos do Algarve foi re-lançada oficialmente há um ano, com os patrocínios do Turismo do Algarve e da Co-missão Vitivinícola do Algarve e conta com a participação de oito quintas.

As quintas situadas em Al-bufeira, Lagoa, Portimão e La-gos foram as pioneiras, mas em breve duas novas rotas se-rão adicionadas ao pacote de propostas, em Loulé e Tavira.

“Por enquanto, a promoção é feita aqui, nos agentes turís-ticos da região, mas o objetivo a curto prazo é fazermos essa promoção junto dos merca-dos emissores”, disse ao POS-TAL do ALGARVE o coordena-dor do projecto, Aníbal Neto.

O responsável enunciou as

características únicas do Algar-ve, no contexto nacional, para que haja um bom casamento entre turismo e vinhos: “Te-mos o clima, as praias, os ho-téis, os restaurantes, a gastro-

nomia multifacetada. Não há nenhuma região do país com esta multiplicidade de ofertas”, sublinhou.

“Só precisamos de educar o cliente, fazê-lo interessar-se

por esta proposta”, disse, ad-mitindo que em finais deste ano ou em 2016 a Rota possa dar os seus primeiros passos em cooperação com as agên-cias turísticas e de viagens.

A Rota dos Vinhos do Algarve conta com a participação de oito quintasî

Albufeira, capital nacional do vinhoDurante três dias, nos passa-

dos sábado, domingo e segun-da-feira, mais de um milhar de vinhos portugueses, de 80 produtores, participaram na sétima edição da Grande Mos-tra de Vinhos de Portugal, que teve lugar no Espaço Multiusos de Albufeira.

Iniciativa da Confraria Bac-cus de Albufeira, o evento é tido como uma das mais pres-tigiadas mostras de vinhos a ní-vel nacional. Teve entrada livre, mas quem quisesse fazer a pro-va de vinhos apenas tinha que adquirir um cálice de vidro, no valor de três euros, “passa-porte” para um dia inteiro de provas.

Durante os três dias, os vi-sitantes assistiram a show cookings de dieta mediterrâ-

nica, bar de azeite e conversas sobre o vinho.

Os visitantes tiveram ainda oportunidade de ganhar pré-mios, ouvir Cante Alentejano, ver como se abre uma garrafa a fogo e aprender a preparar uma sangria.

Na noite de sábado, decorreu a cerimónia de entrega das me-dalhas do Concurso de Vinhos Bacchus 2015, durante o jantar inaugural da Mostra.

Fundada em 2007, a Confra-ria Baccus nasceu de um gru-po de amigos e conta já com 75 membros.

Além da Grande Mostra de Vinhos de Portugal, organi-zam um jantar mensal, duran-te o qual divulgam um vinho do Algarve, e têm várias inicia-tivas de cariz solidário. Visitantes aprenderam como se abre uma garrafa a fogoî

Vinhos do Algarve abrangem cerca de 33 quintas em toda a região

Pinto, da Quinta do Can-tor, na Guia (Albufeira), dá uma ideia da dimensão do Algarve no contexto nacio-nal: “Enquanto nós todos, no conjunto, temos 700 ou 800 mil litros de produção

anual, no Alentejo só um dos quatro grandes produtores tem acima de 1 milhão”, compara.

Ainda assim, o apuramen-to da qualidade dos vinhos foi sendo feito ao longo dos anos e “hoje o Algarve não se envergonha em relação às outras regiões do País”, acrescenta o jovem enólo-go, recordando os prémios que, sistematicamente, a re-gião vem conquistando nos últimos anos. No recente In-ternational Wine Challange (Grã Bretanha), por exem-plo, a região arrebatou 15 medalhas.

CLIMA É O GRANDE FACTOR DIS-TINTIVO DA REGIÃO VITIVINÍCO-LA “Não se pode considerar que o Algarve tem um vi-nho, porque há muitas va-riedades e produtos muito diferentes”, salienta Rui Vir-gínia, para quem o grande fator distintivo da região é o clima.

Quanto aos solos, têm ca-racterísticas diversas, com destaque para os arenosos e argilo-calcários, consideram--se pobres, mas suscetíveis de dar vinhos mais encor-pados e mais frescos.

No conjunto, os fatores climáticos e as caraterísti-cas dos solos algarvios ten-dem a produzir vinhos com maiores níveis de açúcar, e consequentemente teores alcoólicos mais acentuados, mas as quintas conseguiram

controlar essa tendência, descendo cerca de um mês e meio na época da vindima, que no Algarve decorre do início de agosto até meados de setembro.

Aproveitando um setor tu-rístico que nos últimos anos

tem batido sucessivos recor-des, uma parte das quintas algarvias promove visitas guiadas aos troços vinhatei-ros e adegas, com explicação de todo o processo de pro-dução, muita alegria e pro-vas de vinhos.

Só a Adega do Cantor, por exemplo (conhecida interna-cionalmente pelo facto de o cantor Cliff Richard ser seu co-proprietário), recebe em média 15 mil turistas por ano, quase todos estrangei-ros, atraídos pela fama da estrela pop.

Na sua propriedade de Alcantarilha, a Quinta João Clara, Edite Alves (ver arti-go neste Especial) promo-ve conhecimento: “O meu segredo é não despachar o visitante. Garantir-lhes, se preciso for, várias horas de usufruto, com a visita à quinta, depois à adega e a prova de vinhos. Fazê-lo passar um dia diferente”, observa.

Por seu turno Rui Vir-gínia, da Quinta Barranco Longo (ver artigo neste Es-pecial), sonha em fazer da sua propriedade e adega um grande espaço de enoturis-mo da região.

Estima-se que o enoturis-mo venha a constituir nos próximos anos uma das principais mais-valias dos vinhos produzidos na prin-cipal região turística portu-guesa, em boa parte devido à ajuda da Rota dos Vinhos (ver caixa).