Espaço Público e Criatividade Urbana

18
ESpaÇo pÚBLiCo E CRiaTiViDaDE URBaNa o CaSo Do MARAIS EM paRiS aquiLino MacHaDo 1 isaBeL anDré 2 Resumo – a inovação sócio-territorial das cidades contemporâneas forja-se, em boa medida, nos seus espaços públicos. É sobretudo aí que se produzem os meios urbanos cria- tivos. este artigo debate a criatividade urbana ancorada no espaço público, quer enquanto recurso simbólico da identidade local, quer como lugar de encontro, de debate, de confron- to de ideias e de práticas. a metáfora clássica da porta, que deverá estar sempre aberta para que seja permitida a comunicação e a interação, assume particular significado no quadro parisiense do bairro do Marais, onde o espaço público se apresenta efetivamente como a porta aberta, ou seja, como a essência do meio criativo que aí se desenvolveu. Propomos aqui uma leitura do Marais, que salienta a diversidade sociocultural e a tolerância enquanto fatores chave da produção de capital relacional e de dinamização local. falamos das inten- sas relações de vizinhança, estimuladas pelas caraterísticas do espaço público, pelas ativi- dades criativas que nele se desenvolvem e pelos modos de governança que o vão configu- rando. Mas, referimo-nos também ao importante papel das redes sociais virtuais no fortalecimento, reconhecimento e coesão da comunidade local. Palavras-chave: espaço público, meios socialmente criativos, inovação sócio-terri- torial, capital relacional, Paris-Marais. abstract puBLic space anD urBan creativity. tHe case oF Marais, paris. the socio-territorial innovation of contemporary cities is forged, to a large extent, in its public spaces. it is mainly there that urban creative milieus are produced. this article discusses the urban creativity generated in urban public space, seen as symbolic resource of local identity as well as a place for meeting, debate, confrontation of ideas and practices. the classic metaphor of the door, which should always be open to allow communication and interaction, is of particular significance in the context of the Parisian Marais neighbourhood, where the public space actually seems to have the door opened, ie, to be the essence of creative milieus developed there. We propose a reading of Marais that emphasizes the sociocultural diversity recebido: Janeiro 2012. aceite: setembro 2012. 1 escola superior de Hotelaria e turismo do estoril (esHte). e-mail: aquilino.M[email protected] 2 instituto de Geografia e Ordenamento do território da Universidade de Lisboa (iGOt-UL). e-mail: isab[email protected] Finisterra, XLVii, 94, 2012, pp. 119-136

description

Espaço Público e Criatividade Urbana

Transcript of Espaço Público e Criatividade Urbana

119ESpao pBLiCo E CRiaTiViDaDE URBaNa o CaSo Do MARAIS EM paRiSaquiLino MacHaDo1 isaBeL anDr2Resumo a inovao scio-territorial das cidades contemporneas forja-se, em boa medida, nos seus espaos pblicos. sobretudo a que se produzem os meios urbanos cria-tivos. este artigo debate a criatividade urbana ancorada no espao pblico, quer enquanto recurso simblico da identidade local, quer como lugar de encontro, de debate, de confron-to de ideias e de prticas. a metfora clssica da porta, que dever estar sempre aberta para que seja permitida a comunicao e a interao, assume particular significado no quadro parisiense do bairro do Marais, onde o espao pblico se apresenta efetivamente como a porta aberta, ou seja, como a essncia do meio criativo que a se desenvolveu. Propomos aqui uma leitura do Marais, que salienta a diversidade sociocultural e a tolerncia enquanto fatores chave da produo de capital relacional e de dinamizao local. falamos das inten-sas relaes de vizinhana, estimuladas pelas caratersticas do espao pblico, pelas ativi-dades criativas que nele se desenvolvem e pelos modos de governana que o vo configu-rando.Mas,referimo-nostambmaoimportantepapeldasredessociaisvirtuaisno fortalecimento, reconhecimento e coeso da comunidade local.Palavras-chave: espao pblico, meios socialmente criativos, inovao scio-terri-torial, capital relacional, Paris-Marais.abstract puBLic space anD urBan creativity. tHe case oF Marais, paris. the socio-territorial innovation of contemporary cities is forged, to a large extent, in its public spaces. it is mainly there that urban creative milieus are produced. this article discusses the urban creativity generated in urban public space, seen as symbolic resource of local identity aswellasaplaceformeeting,debate,confrontationofideasandpractices.theclassic metaphor of the door, which should always be open to allow communication and interaction, is of particular significance in the context of the Parisian Marais neighbourhood, where the public space actually seems to have the door opened, ie, to be the essence of creative milieus developed there. We propose a reading of Marais that emphasizes the sociocultural diversity recebido: Janeiro 2012. aceite: setembro 2012. 1escola superior de Hotelaria e turismo do estoril (esHte). e-mail: [email protected] 2instituto de Geografia e Ordenamento do territrio da Universidade de Lisboa (iGOt-UL). e-mail: [email protected], XLVii, 94, 2012, pp. 119-136120and tolerance as key factors in the production of relational capital and local socioeconomic dynamics. We stress the intense neighbourly relationships, stimulated by the characteristics of public space, by the creative activities that take place in it and by the modes of governance configuringtheneighbourhood.Wefurtherunderlinetheimportantroleofvirtualsocial networks in empowerment, recognition and cohesion of the local community.Keywords: Public space, socially creative milieus, socio-territorial innovation, rela-tional capital, Paris-Marais.Rsum espace puBLic et crativit urBaine. Le cas Du Marais, paris. Dans les villes contemporaines linnovation nait surtout dans les espaces publics. On considre celle-ci comme tant une source didentit locale, dans la mesure o elle correspond des lieux de rencontre, de dbats, de confrontation dides et de pratiques. La mtaphore clas-sique selon laquelle il faut quune porte soit ouverte pour permettre la communication et linteraction,sappliqueparticulirementbienauquartierduMarais,olespacepublic constitueunmilieuvritablementcratif.Onproposeunelecturedecequartierquimet laccent sur sa diversit socio-culturelle tolrante, laquelle y permet un dveloppement dy-namique des relations sociales, avec dintenses relations de voisinage et le dveloppement dactivit cratrices. On considre aussi les formes de gouvernance qui modlent ce quar-tier et on montre limportance des rseaux sociaux virtuels qui assurent le dveloppement, la reconnaissance et la cohsion de la communaut locale. Mots-cls: espace public, milieux socialement cratifs, innovation socio-territoriale, capital relationnel, Paris-Marais.i.intrODUO aproduodemeioscriativosdependedeumconjuntocomplexodecondi-es, associadas aos recursos, agncia, regulao, s atitudes, valores e compor-tamentos, mas tambm s prprias caratersticas da paisagem, especialmente quando o foco da criatividade se encontra na cultura e nas artes.O presente artigo apresenta e discute a criatividade urbana no bairro do Marais em Paris e, em particular, o papel do espao pblico que parece funcionar a como umfatordeproduoedeamplificaodomeiocriativoquequesetemvindoa desenvolver. Discute-se o espao pblico, quer enquanto recurso simblico da iden-tidade local, produzido ao longo do tempo atravs da sobreposio e conjugao de diversos layers socioculturais, quer enquanto local de encontro, de debate, de con-fronto de ideias e de prticas, ou seja de valorizao e densificao do capital rela-cional sistema interescalar de redes sociais, individuais e coletivas.noMarais,foi-secriandoumcaldomulticulturalpropcioconjugao mais ou menos harmoniosa ou conflituosa de diversos capitais relacionais. a diver-sidade do bairro do Marais manifesta-se, desde logo, atravs de uma grande hetero-geneidadesocial,espelhadaquernoscomportamentosquernasmanifestaes culturais, que conduz a uma percepo territorial de grande cosmopolitismo.ahistriadobairrofez-sedesucessivasvagasderesidentescommatrizes socioculturaisdiversas,comosevermaisadiante,masadiversidadeassumida como fator de desenvolvimento associa-se sobretudo a um processo de gentrificao Aquilino Machado e Isabel Andr121iniciadonadcadadesessentaeconsolidadonadcadadeoitentadosculoXX. numa fase inicial, a comunidade gay assumiu um papel de destaque, ao mobilizar um conjunto de agentes, de atividades e de eventos que emprestaram novo dinamis-mo cultural ao bairro. este processo foi acompanhado pelo aparecimento de outros protagonistas fortemente empenhados em aes de participao cvica. esta dinmica no afastou algumas das comunidades mais antigas, que acom-panharam este dinamismo contribuindo assim para ampliar a diversidade, nomeada-mente uma comunidade judaica localizada num espao demarcado do Marais, onde a Rue des Rosiers se projeta como coluna vertebral, uma comunidade chinesa prove-niente da provncia de Zhejiang representando aproximadamente 10% da populao do 3e Arrondissement/Alto Marais, e ainda uma comunidade magrebina que, embora perdendo peso populacional, continua a ter uma presena marcante. a forma como este conjunto social to heterogneo se foi constituindo e convi-ve, atravs de redes de proximidade bem estruturadas, mostra como as circunstn-cias do meio podem propiciar a constituio de novos coletivos que inclusivamente agregam comunidades pr-existentes. isto parece ser especialmente estimulado por viadacriatividadeurbana,ousejaatravsdeiniciativasartsticaseculturaisque facilitam o dilogo e a expresso das diferentes culturas.tanto mais que esta trajetria incorpora algumas prticas claramente transgres-sivasnocontextodacidade,designadamenteomodocomoacomunidadegayse apropriou do espao pblico, sem receio de afirmar os seus valores, comportamentos e prticas. H que salientar tambm, neste processo, o papel da cidadania ativa na negociao e na procura de consensos suscetveis de responder s necessidades da comunidade. fazendo uso de uma ideia de Joo ferro (2002), os princpios da de-mocracia deliberativa, como fonte de deciso e de ao tm sido amplamente aplica-dos no territrio do Marais, nomeadamente, atravs do projeto Maison des Associa-tions,agregadodeentidadesassociativasdoterceirosectorque,nestebairro, adquiriuumadimensosimblicamuitosignificativamedianteumamobilizao derecursoscomnotriacapacidadecriativa.Oacervodeentidadesassociativas reforou a coeso e o sentimento de identidade no bairro, nomeadamente por via do estabelecimento de redes sociais locais de apoio e capacitao das comunidades em situao de maior vulnerabilidade social. Disto exemplo o intenso trabalho dirigido scrianasdacomunidadechinesadoaltoMarais,adefesaativadaigualdade dedireitosdasminoriassexuais,oudodireitogovernaodoprprioterritrio, por intermdio das vrias associaes que integram os rgos consultivos do poder municipal/ (Conseils de Quartier)i. ii.CriatiViDaDe UrBanaVeculodeidentidade,atravsdopatrimnio,deexpressoecomunicao, atravs das artes, a cultura constri os cdigos e as linguagens simblicas em que radicam os sentimentos de pertena a um coletivo de base territorial.Espao pblico e criatividade urbana122O conceito de patrimnio coletivo corresponde precisamente valorizao do bem comum e do sentido de comunidade para alm das fronteiras sociais e cultu-rais. Por outro lado, a herana cultural promove a coeso porque facilita o estabele-cimentodepontes,baseadonostraoscomunsqueahistriavaideixando(por exemplo,namargemnorteenamargemsuldoMediterrneo). assingularidades culturais afirmam-se como fator de distino (Jacobs e fincher 1998) dos coletivos locais num mundo globalizado, como contraponto normalizao e frequentemente como meio de resistncia integrao.este contudo um quadro ambguo, dado que a cultura tanto surge associada singularidade dos lugares e dos coletivos como emergncia de valores e prticas globais. Com bastante frequncia e sem especial surpresa assistimos coexistncia de expresses culturais locais e globais ou passagem rpida de um ritmo musical de uma aldeia africana para uma banda hip-hop internacional. esta ligao estreita entre o local e o global confere expresso artstica e aos bens culturais um valor estratgico nas sociedades atuais. Um exemplo interessante pode ser um dos ltimos filmes de Woody allen (Meia noite em Paris, 2011) onde os espaos mais distintivos de Paris, incluindo a rue des rosiers no Marais (Le March Paul Bert), associados bomia parisiense dos meios artsticos vanguardistas do incio do sculo XX, bem comoaoslocaisdecharmedaatualidade,passamparaumblockbusterfinanciado pelo municpio de Paris para ampliar a notoriedade da cidade. a singularidade pare-cetransformar-senumdosprincipaistrunfosdaafirmaointernacional,mesmo quando se associa a representaes de melancolia e decadncia como , por exem-plo, o caso de alguns espaos do centro histrico de Lisboa. tambm importante salientar que essa projeo externa de espaos singulares contribui muito para transformar a sua matriz identitria. se, por um lado, se corre o risco de ser absorvido pelos circuitos globais, por outro, os coletivos locais no dei-xam de sentir reforada a sua autoestima ao verem-se projetados no espao global o que conduz normalmente valorizao do seu patrimnio coletivo.apesar da importncia do patrimnio local como veculo de identidade e afir-mao dos lugares, no certamente menos importante para o desenvolvimento lo-cal, o papel das expresses culturais e artsticas enquanto meios de comunicao de ideias, emoes e sentimentos que encontram na linguagem das artes um modo ade-quado de transmisso (schaffer-Bacon, Yuen, Korza, 1999).as sociedades ps-industriais conferiram cultura e s artes uma posio bas-tante central na vida das pessoas e dos coletivos territoriais. especialmente valori-zado the creative element of our existence expressions of who we are, where we come from, and where we wish to (Jeannotte e stanley, 2002:136). a certeza asso-ciadasmeta-narrativas ideolgicasdosculoXXfoidandolugarincerteza e inconstncia, matriz que marca atualmente o quotidiano do mundo ocidental, asso-ciada tambm progressiva dissoluo das vrias formas de transcendncia, e sobre-tudo da crena religiosa, que se pode ser, de algum modo, superada atravs das artes (ruby, 2002). De facto, as diversas expresses culturais e artsticas tm ajudado a construir representaes do futuro ou mesmo antecipaes do futuro. some artists Aquilino Machado e Isabel Andr123express in their work feelings or codes that forecast the future or that indicate sym-bolically that the present is no longer viable (smiers, 2005: 9). Por outro lado, a cultura e as artes so tambm o elemento central da estetizao do quotidiano (smiers, 2005; Ley, 2003), cada vez mais intensa nas sociedades atuais. Ocorpo,acasa,oautomvel,oespaopblicoouacidadeso,emlargamedida, alvos privilegiados de intervenes guiadas mais pelos critrios da esttica do que pela funcionalidade,pelautilidadeoupelaeficcia(Ley,2003). aidentidade,pessoale coletiva, usa um grande nmero de referncias estticas. a well developed cultural identity includes the strong feeling that specific artistic expressions make us the peo-ple we want to be, and, at the same time, that other expressions disturb our lives, dont belong to who we are, or make us feel less comfortable (smiers, 2005: 121).as expresses simblicas traduzem bem as tenses e os conflitos entre comu-nidadesounoseuinterior. aculturaeasartesassociam-se,porisso,comgrande frequncia inovao social, ou seja, emergncia de novas respostas originais para problemas sociais no resolvidos, visando a incluso e implicando uma transforma-o das relaes sociais no sentido da autonomia (andr e abreu, 2006). neste pro-cesso,conjugam-seafacilidadedecomunicao,aatitudecrtica,aparticipao cvica, a dialtica entre o individual e o coletivo, a capacidade de regenerao dos lugares e ainda a dinamizao econmica e a criao de emprego (Moulaert et al., 2004: 231-232).Contudo, a cultura e as artes no so apenas relevantes no plano social, consti-tuindo-se tambm como trunfos importante no mbito do desenvolvimento econ-mico. Muitas cidades da europa e da amrica do norte tm assistido ao desapareci-mento das atividades produtivas tradicionais e dissoluo dos valores e das prticas sociais que, em conjunto, configuravam o tecido socioeconmico. as ameaas asso-ciadas a essas transformaes tm sido, em muitos casos, ultrapassadas por via de uma aposta forte na produo cultural e artstica. Cities of the future are creative communities in the sense that they recognize that art and culture are vital not only to a regions liveability, but also to the preparedness of its work force. they under-stand that art-infused education is critical to producing the next generation of leaders and workers for the knowledge economy. (eger, 2010: 8).estabasicamenteaideiaprincipaldosamplamentereconhecidoslivros de richard florida (2002, 2005, 2008): os meios criativos so cruciais para a com-petitividade das cidades, no s porque estimulam a inovao mas tambm porque o ambiente bomio criado pelos artistas muito favorvel atrao de profissio- naisaltamentequalificadosquelevadospelaimportnciadaesttica,daorigi- nalidadeedoespetculogostamderespiraroardosartistas. aindasegundo florida, atrs da classe criativa vm para a cidade os investimentos estratgicos. asatividadesculturaiseartsticasemergemassimatualmenteemmuitoslugares comoogolpedemgicacapazdetransformaradegeneraoemregenerao. David Ley (2003: 2542) sugere que the redemptive eye of the artist could turn junk into art, mas no deixa de acrescentar que the calculating eye of others would turn artintocommodity.nopodemoscontudodeixardesalientarqueomodeloda Espao pblico e criatividade urbana124cidade criativa preconizado por florida e por outros autores de referncia (Landry, 2000,2006;Hall,2000)noconduzinovaoscio-territorial(inovaosocial associada transformao dos lugares), na medida em que o seu grande foco o reforo da competitividade e no a transformao dos coletivos locais no sentido da equidade e da justia social. Pelo contrrio, este modelo conduz a uma cidade dual, fragmentada e exclusiva (scott, 2006; Gertler, 2004; Miles, 1997).as ligaes entre a cultura, as artes e a transformao scio-territorial dos luga-resquenospareceexistirnoMaraiscorrespondemaumamatrizbemdiferente, prxima, por exemplo, da cidade socialmente criativa defendida por Gertler (2004) einspiradoradapolticaurbanadoCanadqueprocuracombinar,porumlado,o dinamismo econmico e antecipar a mudana e, por outro, estimular a transformao socialeaproduodecapitalsocial(coletivoepartilhado)especialmentenas comunidades mais vulnerveis (Klein e Harrison, 2007; Moulaert et al., 2009).iii.CiDaDania e esPaO PBLiCOantesdediscutirmosacriatividadeurbananoMaraisimportaapresentar algunspontosessenciaissobreopapeldoespaopbliconoaprofundamentoda cidadania atravs de novas formas de governana. neste quadro que a criatividade e as artes, em particular, podem contribuir significativamente para a transformao scio-territorial.interessanteaideiadesenvolvidaporferro(2006)quandosereportas redes de instituies leves locais de encontro como os cafs, os espaos verdes ou estdios, redes informais, associaes, etc. [que] constituem ns importantes de revelaoedetransformaodascidades.estasredesso,defacto,camposde interaoondeprticasfragmentadasseinterligam,ultrapassandoaslgicasde proximidade,organicamenteconstitudasporcomunidadesdevizinhana.seme-lhantes comunidades incorporam tempos-espaos muito diversos, desde a autarcia dos excludos mobilidade dos que participam de forma ativa em redes transnacio-nais (ferro, 2006: 4) e abrem uma perspectiva mais alargada no que respeita ao alcance da governana urbana. Mas, essas prticas no se resumem experincia de novas formas de adminis-trao urbana, particularmente no que Guerra (2003) designa como um jogo estrat-gicodeatores.nanossacontemporaneidade,oespaopblicoadquire,cadavez mais,umaexpressoativadacidadania,querpelaemergnciademovimentos de protesto, quer pelo tom de viva festividade e celebrao que algumas iniciativas assumem em diversos cenrios urbanos. tejerina(2005)reforaestaideia,salientandoaimportnciaqueosnovos movimentossociaiseosprocessospluraisdeconstruodecidadaniaadquirem, atravs da reapropriao e atribuio de novos significados aos espaos pblicos.Ocarteralternativoeporvezesradicaldealgumasiniciativaspromovidas pelosnovosatoressociais,OnGemovimentosquesetornaramparceirose Aquilino Machado e Isabel Andr125adversriosincontornveisdospoderespblicos(Cefaii,2005)colide,repetidas vezes, com as prticas polticas de mobilizao, que se apresentam como normati-vas. Convir, por conseguinte, compreender se a inveno de outros repertrios de ao poltica choca e enfraquece as prticas poltico-partidrias institucionais desen-volvidasnoespaopblico,ouseelasrepresentamnovasaescomplementares enriquecedoras de um espao pblico plural, mau grado a transgressividade de que se revestem. Mas a projeo de celebraes transgressivas j adquiriu dimenso global em certas mobilizaes levadas a efeito nos espaos pblicos urbanos. Cefaii sublinha que o gay pride se tornou num acontecimento to incontornvel como as manifesta-es do primeiro de Maio (2005: 141), levando a assumi-los como espaos de con-testaoondeseexpressamconflitosetenseseaomesmotempodetolernciae dilogo. Deste entendimento procede a ideia de repensar a governana urbana procuran-do na pluralidade dos diversos atores econmicos e sociais a validao e implemen-tao de novas polticas de desenvolvimento que pressuponham trajectrias territo-riais de inovao (ferro, 2002). Merece assim especial enfoque a afirmao dos espaos pblicos urbanos e a mobilizaodasnovasprticasdecidadaniaedosnovosmodelosdeparticipao cvicaepolticacomofatoresdeinovaosocialeconstruodemeioscriativos, tantonoplanoeconmicocomonosocial.nestesentido,relevam-seasdiversas estratgias que pretendem reforar a qualificao social em torno da socializao da urbanidadeedacidadaniaurbana.nestecontexto,Cynthia-Ghorra-Gobin(2000) considera os espaos pblicos como lugares privilegiados de mise-en-scne da socie-dade civil, onde indivduos annimos esto em situao de copresena e sob o efeito dos cdigos necessrios a um reforo do sentimento de pertena. Um meio socialmente criativo impulsionador de inovao scio-territorial deve ser suficientemente flexvel para permitir a mudana e razoavelmente organi-zado para manter a sua identidade e coeso (andr e abreu, 2006). ainda segundo os mesmos autores, esta ideia assenta na existncia de trs condies essenciais para a consecuo de um meio socialmente criativo: diversidade, tolerncia e participa-o dos cidados.Ouseja,noconjuntodeprticasdegovernana,sobressaiapreocupaode defender determinados espaos urbanos, mediante um reforo das relaes de reci-procidade e de cooperao entre os cidados da comunidade local. O que pressupe o reforo quotidiano da sua conscincia cvica e das vrias modalidades de partici-pao. Mas, o que sobressai particularmente deste tipo de plataformas cvicas a sua capacidade para gerar diversas redes sociais de cooperao e de confiana, promoto-ras de stocks de capital social que facilitam a tolerncia e enriquecem a diversidade e a participao cvica. areflexosobreopapeldacidadaniaedoespaopbliconaconstruode meios urbanos criativos, coesos e inclusivos remete para as seguintes questes que estaropresentesaseguirnadiscussodocasodoMarais:(i)estarumaviso Espao pblico e criatividade urbana126otimista do espao pblico (promotor de inovao scio-territorial) associada ao ro-teirodenovasestratgiasqueapontamparaumavisoculturalepluraldacidade associada identidade local e ancorada nas atividades culturais e artsticas? (ii) Qual o significado simblico que os novos movimentos sociais assumem na reconstruo desse espao pblico? iV.MARAIS: UM PerCUrsO sinGULar agrupando grande parte do 3e e 4e Arrondissements de Paris, o bairro do Marais particulariza-se como um tecido urbano com alguma homogeneidade face s reas envolventesii. tal situao derivou da grande robustez histrica criada ao longo dos sculos, que dotou este territrio com um caldo multicultural e arquitectnico singu-larmente fecundo. a designao de Marais associa-se rea inundvel do sena que desde cedo foi usada para pastagens e para o cultivo agrcola.Cest une verdure ternelle dans ce marais, o les salades de toutes les saisons mon-trent successivement leurs tiges. (Louis sbastien Mercier in Chadych, 2005: 6-7). Mas o primeiro surto urbano do Marais d-se com o priorado institudo pelos templrios em 1240 (do qual resta uma marca toponmica a rue du temple) que atraiu inmeros comerciantes e artesos que assim procuravam escapar aos regula-mentosrgidosdascorporaes(faure,2007).curiosoestagnesedoMarais ancorada num dinamismo econmico, social e cultural surpreendente para a poca que a Ordem do templo desenvolvia. a extino desta ordem, no incio do sc. XiV, provocou certamente algum abandono e decadncia no Marais. ContudoagrandeprosperidaderetomadanosculoXVii(leMaraisdu grand sicle ou lge dor) perodo que correspondeu no bairro do Marais grande opulnciadacortedoreiHenriIV,emqueaperpetuaodasuamagnificncia passava pela edificao de peas arquitetnicas de grande escala, onde a ostentao simbolizava poder e riqueza. O trao impressivo da Place Royale, atualmente de-signada de Place des Vosges, verdadeira jia da arquitetura renascentista parisien-se,configurou,apardoPalciodoLouvreedasTuileries,umamarcaterritorial assinalvel que sublinhava o contraste entre o este e o oeste de Paris, ou seja, entre a expanso urbana associada ao da corte, por um lado, e a cidade plebeia, por outro, com as suas inerentes carncias, sobreocupaes e insalubridade dos espa-os pblicos. esta dinmica manteve-se e at se acentuou no reinado de Louis XIII, j que o governo deste monarca empreendeu a construo de inmeros palcios que viriam a albergar a aristocracia que acompanhava a presena do poder real no Marais. Com a constituio de uma rede de cariz palaciano, o Marais ficou marcado pelo fausto do poder real e aristocrtico. Aquilino Machado e Isabel Andr127Consolidada a malha urbana no final do sculo XVii, este territrio proporcio-nava uma ocupao scio-territorial diacrnica, parafraseada por Chadych ao dizer que o remate norte do Marais conformava um meio social fechado e homogneo onde dominavam as altas personagens da Corte, do governo e da nobreza, e a sul era menos homogneo e mais popular (2005: 15). au temps mme de sa splendeur aristocratique, le Marais, comme tous les quartiers de Paris mme et surtout peut tre les plus nobles prsentait, au voisinage ou au rez- -de-chausse des htels, boutiques de toutes sortes et ateliers, composant un paysage la fois bourgeois, artisanal et industriel (Benedetti, citado por Djirikian 2004: 48) O reinado de Louis XVI revestiu-se de consequncias importantes para a evolu-o do Marais. a transferncia da corte para o palcio de Versailles constituiu, igual-mente, um fenmeno de deslocalizao do poder poltico e econmico, com naturais reflexosnavivnciadobairro.aqueladerivaoriginouoabandonoeoinciodo declniodobairro.Defacto,umaacentuadadegradaourbanarepercutia-se,na primeirametadedosculoXiX,emquasetodaacidadedeParis,constitudapor umarededensaeconfusa,semumaverdadeiraestrutura(Lain,2005:7).em 1830, o plano Vasserot antecipa, de algum modo, as grandes intervenes que vm a ter lugar duas dcadas mais tarde. no Marais, a construo da Rue Rambuteau e da Rue du Pont Louis-Philippe permitiram mieux irriguer un quartier artisanal et commerant dans lequel sinstallent les manufactures iii.Masaincapacidadederesolverproblemasdeinsalubridadeedemisriados bairros centrais da capital s viria a ser atenuada pela ao de Haussmann, visionrio modernista, para uns, burocrata e responsvel por uma linguagem urbana redutora quesuprimiaavivnciaquotidianadosbairrospopulares,segundooutros.seos problemas da insalubridade e da degradao dos bairros foram mitigados e um novo paradigma urbano moderno germinou na capital francesa, a haussmanizao pro-vocou contudo a destruio de um conjunto vasto de bairros medievos de inegvel qualidade arquitetnica e onde as sociabilidades locais ancoradas em redes sociais densaseconsolidadasgarantiamasobrevivnciadosmaisdesfavorecidos.no entender de Benvolo (1994: 197), com Haussmann nasceu uma retrica tenden-ciosa que exagera a runa, a insalubridade, a misria das partes antigas da cidade e que chega mesmo a penetrar na linguagem burocrtica e comemorativa, dando-se inicio cidade moderna, limpa e segura.neste quadro de contradies, onde a construo da cidade moderna destrua os vnculos do passado (Benjamin, 1997; ascher e Giard, 1975), o bairro do Marais foi relativamentepoupado,jqueoprojetoquelevariaaodesaparecimentodocasco medievalfoivotadoaofracasso,quandooBaroHaussmann,Prefeitodosenae senador, foi acusado de m utilizao do dinheiro pblico e seguidamente exonera-do.Mesmoassim,aindafoiabertaaRuedeRivoli,umagrandeartriaqueveio separargrandepartedoMaraisdamargemdosena.Contudo,apermannciado Marais antigo certamente um fator decisivo para compreender o Marais atual onde Espao pblico e criatividade urbana128se cruzam diferentes culturas mas tambm diferentes espaos que a histria foi mo-delando e conjugando.em meados do sculo XX, o Bairro do Marais apresentava problemas sociais e urbansticos comuns a muitos bairros da capital francesa: albergava uma populao predominantemente operria e pouco reivindicativa, com diferentes origens geogr-ficas, sendo evidente a deteriorao das infraestruturas e a desqualificao do espao pblicourbano,apesardealgunsestudospontuaiseaesparaasalvaguardado patrimnio realizados nos anos 30.troisprincipalesraisonspeuventexpliquerlapoursuitedudclin:larrive dimmigrants pauvres, en provenance deurope de lest et souvent de confession juive (finXiXe secondeguerremondiale)puisdafriquedunord(juifsetmusulmans, 1945-1975); le classement de certain secteurs comme lots insalubres avant la seconde guerre mondiale; le manque dintrt de lopinion, des mdias, et linaboutissement des projets des pouvoirs publics (Djirikian, 2004: 50) sustentadoporumapolticafocadanaalteraodasmentalidadesqueemer- gia nas sociedades ocidentais, e era acompanhada pelo desgnio de proteger a heran-apatrimonialeculturaldopassado,obairrodoMaraisfoiobjetodeumaao estruturantederestauraodosedifcioshistricos,nasequnciadapromulgao daLeidesalvaguardadaProteodoPatrimnio,publicadaem1962peloento ministro da cultura, andr Malraux.asmedidasdesalvaguardaedevalorizaodesencadeadasnobairrodo Marais (o primeiro plano a ser realizado em frana no sequncia da Lei Malraux), escudaram-senaconstituiodaAssociationdeSauvegardeetMiseenValeurdu ParisHistorique(1963)eforamdespoletadasposteriormenteatravsdoPlande Sauvergarde et de Mise en Valeur du Marais (PsMV, 1964), que veio a beneficiar posteriormente com a construo do Centro George Pompidou em 1977. este plano teve uma particularidade importante que ter permitido seguramente travar even- tuais projetos de regenerao, uma vez que inclua explicitamente a preservao do interior dos imveis, sendo o nico instrumento de planeamento a contemplar esse aspecto, mais relevante do que partida pode parecer.no entender de Bourdin, citado por Mela (1999: 149), este polo cultural propi-ciou uma tentativa constantemente renovada de reinveno do patrimnio simblico urbano O impacto e a replicabilidade desta nova marca cultural foram refletidos no bairro do Marais com a abertura de inmeras galerias de arte e lojas especializadas e com a chegada de novos grupos, que Bovone (2004) designou de novos intermedi-riosculturais,isto,quepodemserconsideradoscomoelosdeterminantesduma cadeia de criao-manipulao-transmisso de bens com elevado contedo de infor-mao, onde o valor simblico preponderante (Bovone, 2004: 105). esta mudana correspondeu, em larga medida, chegada de novos protagonis-tasvivamenteempenhadosnadinamizaodavidalocal,apelidadosdebobosou bourgeoisbohmes,eramportadoresdeumcapitalculturalesocialimportante Aquilino Machado e Isabel Andr129(...) e de novas ideias fundadas na ecologia e no empenho na deciso de questes da governabilidade da cidade (Calbrac, 2005: s/p). partida, poder-se-ia estar peran-te um processo de gentrificao, ou seja da expulso dos grupos sociais mais vulne-rveis, cujas casas seriam reabilitadas entrando num segmento do mercado imobili-rio muito valorizado, dada no s a localizao central mas tambm devido ao valor patrimonial dos edifcios. Contudo, o percurso recente do Marais no foi este.apresenamuitoexpressivadacomunidadegayentreosnovosresidentes doMaraisteveumpapeldestacadonaconfiguraodessepercurso,aoconseguir mobilizarumsignificativoconjuntodeagentesurbanosqueimplementaramum renovado dinamismo cultural no bairro, onde a florescncia de restaurantes e bares foi acompanhada pelo aparecimento de galerias de arte, lojas de antiguidades, livra-rias,etc.Masondesemantiveramosantigoscomrcios,oficinaseassociaes. Constitui-se assim uma comunidade local mais diversificada, tolerante e empenhada na participao cvica, na medida em que tem conscincia das vrias formas de dis-criminao social e tem tambm recursos para as combater. a par da miscigenao social e cultural, a presena duma secular comunidade judaica,instaladanoterritriodoMarais,contribuiutambmparaemprestaruma identidade prpria ao bairro e para fazer surgir, numa primeira fase, uma barreira de resistncia gentrificao (Djirikian, 2004). O bairro judeu no Marais designado em yidddsidh pletz corresponde a um territrio geograficamente delimitado que se cen-tra na Rue des Rosiers e vias adjacentes. na atualidade no tem j a dimenso de que se revestiu entre as duas grandes guerras, quando era constitudo essencialmente por judeus asquenazes provenientes da Polnia, romnia e rssia. ali viria a instalar- -se posteriormente uma segunda grande vaga de imigrantes judeus, oriundos do nor-te de frica (judeus sefarditas), regra geral dotados de fracos recursos econmicos. Porm,globalmenteestacomunidadedetmelevadosnveisdecapitalcultural,o que facilitou certamente a sua resistncia s dinmicas da gentrificao. numa orla mais perifrica, a comunidade chinesa ganhou peso e importncia, particularmente no sector norte do Marais (3e Arrondissement) ancorado na Rue du Temple, onde prevalece a atividade comercial, constituda por um leque diversifica-do de pequenas lojas. simultaneamente e numa franja ainda mais perifrica surge a comunidade magrebina, cujo o nmero decaiu nas ltimas dcadas, e que correspon-de efetivamente a grupo pobre e em constante risco de excluso.elle symbolisait le Marais comme terre daccueil, le Marais ouvrier dantan, le Marais et ses logements dgrads (Djirikian, 2004: 50). a convivncia destas comunidades, com todas as suas singularidades e contra-dies, gerou neste territrio um sentimento de tolerncia que permitiu estabelecer econsolidarumconjuntosignificativoderedessociaisdebaselocal.Daadvie- ram benefcios bvios j que estas redes umas de proximidade e outras de longa distncia, associadas aos fluxos migratrios emprestam grande parte da sua quali-dade e atratividade ao territrio do Marais. Por exemplo, o conjunto expressivo de Espao pblico e criatividade urbana130iniciativas de ndole cultural que so desenvolvidas neste bairro: desde a celebrao em Maio do Marais solidrio, ao Gay Pride em 25 de Junho, at s jornadas da cul-turaJudaica,numapanpliavastssimadeiniciativasrealizadasnaesferapblica que refora e interliga os diversos contextos relacionais do Marais. a mobilizao da cultura e das expresses artsticas parece assumir neste bairro um papel crucial, reforando a autoestima dos diversos grupos que constituem a comunidade local e facilitando,atravsdasviasmencionadasanteriormentenosegundopontodeste artigo, a comunicao e o dilogo.V.O esPaO PBLiCO DO MARAISnoquadrosocioculturaldescritonopontoanteriordesenvolveram-seum conjunto de iniciativas que privilegiam o espao pblico e que em muito tm contri-budo para a constituio no Marais de um meio socialmente criativo.Para o Bairro do Marais, foi preparado um conjunto de estratgias inovado-ras, desenvolvidas pela municipalidade parisiense e por outros agentes da sociedade civil,estratgiasessasproduzidasemespaosjuridicamenteprivados,masque funcionamsimbolicamentecomoumaprojeodoespaopblico,equiparvela um palco sobre o qual todo o teatro da vida comum se processa (stephen, 1992). nestecontexto,hquerelevaraMaisondesAssociations,agregadodeentidades sem fins lucrativos, cuja finalidade criar uma dinmica econmica e social no bair-roassentenamobilizaodaspotencialidadeslocaissuscetveisdeproduzire desenvolver uma identidade prpria do Marais, evidenciando os seus traos distinti-vos no contexto urbano onde se insere. sendoumprojetodesenvolvidopelamunicipalidadeiv,edistinguindo-se,por isso mesmo, daquilo que considerado por andr e abreu (2006) quando discutem o conceito de inovao social como um processo que emerge fora das instituies e frequentemente contra elas, sendo o resultado de uma mobilizao em torno de um objetivo,protagonizadainformalmenteporummovimentosocialou,comuma matrizmaisestruturada,porumaorganizao(2006:129),oprojetodoMarais no deixa de refletir o firme propsito de recriar a cidade de forma mais tolerante, diversificada e democrtica e de estimular a inovao scio-territorial. estebairroparisiensetemconstrudo,nasltimasdcadas,umfortesentido coletivoeumagrandecapacidadedeapropriaodoespaopblico.Oqueneste domnio se revela profundamente inovador a capacidade para tornar alguns territ-rios de cariz privado ou semiprivado em extenses do espao pblico. ali a densida-de e a proliferao de espaos culturais e artsticos alternativos e de entidades asso-ciativas constituem a fora motriz do processo.aplica-se aqui especialmente bem a metfora clssica da porta, entendida como imagem alegrica mais sensvel de relacionamento social (fortuna, 1999: 141) a qual dever estar sempre aberta para que seja permitida a comunicao, situao que adquire particular significado no bairro do Marais. Por via desta dinmica de desen-Aquilino Machado e Isabel Andr131volvimentolocal,queincluiumfortecapitalsimblico,consegue-se,mediantea mobilizao de recursos com notria capacidade criativa, fomentar nos cidados um sentimentodepertenaaolugar.Comefeito,querasassociaesquerosateliers egaleriasfuncionamcomoprolongamentodoespaopblico,criandopequenos fruns de debate e tertlia.O processo que tem vindo a ser desenvolvido no mbito da reviso do Plano de salvaguarda e Valorizao do Marais (a ser aprovado em 2013) traduz muito bem a preocupao com os aspectos anteriormente referidos, assim como a inteno clara de eleger o espao pblico, o patrimnio e a economia local como elementos cruciais do futuro Marais. O quadro i sintetiza o essencial da proposta de reviso do plano.Quadro i sinopse da Proposta de reviso do Plano de salvaguarda e de Valorizao do Marais.Table I Synopsis of the Revision Proposal of the Plan for the Safeguard and Valorization of Marais.Um perodo longo de reflexo, debate e concertao2008-2009 identificao dos objetivos (resultantes de um primeiro levantamento e reflexo):Manter o mix socialasseguraradiversidadedefunesurbanas,protegendoahabitao,oartesanatoeocomrciode proximidadeintegrar os objetivos do plano climasalvaguardar e desenvolver o bitopoOrganizar a circulao e o estacionamento responder s novas necessidade em termos de equipamentosrenovar a proteo do patrimnio2009 2011 Concertao: 4 grupos de trabalho:atelier 1 Coerncia entre o PsMV e os outros instrumentos de planeamento urbanoatelier 2 espaos pblicosatelier 3 Desenvolvimento sustentvelatelier 4 Ptios interiores2011 elaborao do projeto2012-2013 Discusso pblica e aprovaoUma ateno especial com o patrimnio e com a dinamizao da economia localincluir o patrimnio recenteter em conta os usos atuais no museificar o Maraisintegrar os elementos de desenvolvimento sustentvelCriar um conservatrio e uma oficina de turismoDinamizar e diversificar o comrcio alimentarCriar alojamento para artistasUm papel crucial atribudo ao espao pblicoDesenvolver a vegetalizao dos espaosabrir os ptios e caminhos interioresexpor arte contempornea nos espaos pblicosinstituir os curadores do Marais responsveis pela supra-coproprit escala do quarteiro.fonte: Mairie de ParisEspao pblico e criatividade urbana132Merecemtambmumaatenoespecialasredessociaisdascomunidades mais expostas excluso social, ou as que se constituram para defender o direito participao nas diversas associaes que integram os rgos consultivos do poder municipal (Conseils de Quartier).vLes associations du Marais se sont constitues en vritable rseau, leurs prsidents se connaissent tous, organisent des runions inter-associatives, nhsitent pas entrer en contact avec le Maire de larrondissement (Djirikian, 2004: 229). Para alm das j referidas portas abertas, as redes sociais virtuais surgem tam-bm como um potente meio de ampliao do espao pblico. estas redes, servindo deveculosparaaimplementaodeprojetoscoletivosinovadoresreforam,por conseguinte, a identificao dos cidados com os respetivos territrios e emprestam scomunidadesmaisvulnerveisnovasaptidesecapacidadesparaquepossam efetivamente resolver os seus problemas. isto sugere que as redes virtuais no anu-lam as relaes pessoais de vizinhana, tornando-as at mais fortes por via da sua ligao ao exterior e dos recursos que por essa via so mobilizados.exemplodisso,peloseucarterinovadoraAssociationfranco-chinoise PierreDucerf,quedirigidaporgentemuitonovaequeconstituiummodelode incluso e de inovao social no contexto da formao de uma identidade coletiva de bairroplural. atravsdelasodesenvolvidasdiversasatividadesdirecionadasaos jovens , entre as quais se destacam a construo e distribuio de pequenos roteiros culturaisparaadescobertadobairro.Grandepartedestetrabalhodesenvolvido com base nas redes sociais virtuais.na mesma tica de reforar as redes locais associando-as s redes sociais vir- tuais, destacam-se tambm outros projetos particularmente inovadores de intercm-bio entre as diferentes comunidades, no campo das competncias lingusticas, desen-volvidosnabasedovoluntariado.Oqueemanadesteexemplo,degrande simplicidade, supera a prpria prtica de voluntariado, j que acima de tudo reproduz a consolidao de um capital relacional entre as vrias comunidades do bairro, e a integrao de um conjunto de atores que se encontram em situaes de maior vulne-rabilidade. OutroaspectorelevanteobservadonoMarais,naticadomeiosocialmente criativo, reporta-se ao conjunto das associaes que abrangem um leque aprecivel dasociedadecivilecujoobjetivoodeinfluenciardecisespolticas,quedireta ou indiretamente, se refletiro na vida quotidiana do bairro. a forma como algumas associaes se mobilizam no sentido de defender o patrimnio e o espao pblico coletivo, entendidos como fatores simblicos essenciais do cenrio citadino, contri-bui significativamente para a afirmao das foras identitrias do territrio. a conscincia cvica de salvaguarda patrimonial, radicada numa ampla plata-formadecidados,impulsionaadinmicadedesenvolvimentolocal,econtribui decisivamenteparaaimplementaodeumespaopblicoabertoedemocrtico. essamobilizaoassociativaconvergeparaoestabelecimentodeconsensosno Aquilino Machado e Isabel Andr133mbito de uma proteo patrimonial, que no incio dos anos 2000 parecia votada ao esquecimento. il faut dire que le quartier du temple est le meilleur exemple de dmocratie locale qui puisse exister Paris et peut-tre en france (Djirikian, 2004: 50)Djirikian (2004) refere que o consenso associativo que se formou para proteger o Carreau du Temple (mercado do final do sculo XiX, constitudo por uma estrutu-ra de ferro) e tambm o March des Enfants Rouges (o mais antigo de Paris) provo-cou mesmo a queda do candidato de direita e a vitria de uma plataforma de esquer-da nas eleies municipais de 2001, que defendia a salvaguarda dos dois edifcios. Mas este esprito reflete-se igualmente no debate em torno da discusso pblica das propostas de transformao urbana do quartier des Halles, e mais recentemente na Place de la Repblique, que embora j no circunscritos ao Marais se situam na sua periferia. Qualquer destes exemplos, reflete o lado positivo e estimulante de uma democracia deliberativa, fundamentais para a concretizao deste meio criativo. as vrias associaes e o prprio stio internet da Mairie 3e convocam os resi-dentes a refletir sobre algumas questes que fazem parte do seu quotidiano, e emitem umsinalaosrgosdopoderinstitudodequantoimportanteumamodalidade ativa do exerccio da cidadania, a que Verba (1992), citado por Mela (1999), define como citizenry (vocbulo que sugere a ideia de uma cidadania em ao), para dis-tinguirdotermomaishabitualdecitizenship,queapontaparaarelaojurdica entre o cidado e o estado (121). apesar das caratersticas do coletivo local, favorveis tolerncia e luta con-tra diversos estigmas sociais, bem como das polticas e iniciativas que tm procurado promover no Marais um meio socialmente criativo, a fragmentao scio-espacial no deixa de marcar este bairro. Conforme assinala Djirikian (2004) existe um en-volvimento distinto das associaes que atuam no alto Marais e das que pertencem ao Marais meridional. as primeiras mostram um associativismo mais ativo e formas de mobilizao mais eficazes e mais reconhecidas pelos poderes pblicos. isto reve-la a diferena entre um Marais turstico e gentrificado, administrativamente corres-pondenteao4e Arrondissement,eumMaraisdemixsocioculturalquesesituano 3e Arrondissement. Uma comunidade diversificada, assim como uma maior exposi-oadversidade,tendeasuportarumaestratgiadedesenvolvimentoassentena cidadania participativa e na defesa de uma identidade coletiva, de algum modo pro-tetora para os diferentes grupos que formam o coletivo. Vi.COnCLUsOPara alm da classificao estabelecida pela Unesco, que atribui ao bairro do Marais o ttulo de Patrimnio Mundial da Cultura, o que mais sobressai neste espao a sua capacidade de valorizar e conjugar diversos capitais relacionais que alimen-Espao pblico e criatividade urbana134tamummeiosocialmentecriativo. algunsdessescapitaissotransportadospelas pessoas e pelos grupos que se foram instalando no Marais, outros surgiram da sua interao. Uns ligam-se s relaes pessoais de vizinhana, outros s redes sociais virtuais.estadinmicafoipotenciada,nasltimasdcadas,porumaconjugao forte e eficaz entre as iniciativas top-down, desenvolvidas pelas autoridades pblicas municipais, e as aes bottom-up levadas a cabo pelos diversos grupos da comunida-de local.enuncimosduasquestesnofinaldoterceiropontodesteartigo:(i)estar uma viso otimista do espao pblico (promotor de inovao scio-territorial) asso-ciada ao roteiro de novas estratgias que apontam para uma viso cultural e plural da cidade associada identidade local e ancorada nas atividades culturais e artsticas? (ii) Qual o significado simblico que os novos movimentos sociais assumem na re-construodesseespaopblico? aleituraquefazemosdoMaraispermitem-nos responder afirmativamente.a diversidade no bairro do Marais manifesta-se na grande heterogeneidade de comportamentos pessoais e sociais dos seus residentes, incluindo claramente a trans-gresso e a contestao (viso plural da cidade). esta situao geradora de tenses e de conflitos que parecem ser ultrapassados com alguma facilidade e mesmo trans-formados em inovaes scio-territoriais. a forte presena de atividades e eventos culturais e artsticos no espao pblico surge como um fator decisivo na medida em que cada grupo comunica com os outros nas linguagens que lhe so mais confort-veis e melhor adequadas ao contedo da mensagem que pretende expressar (viso cultural da cidade).Mas estas atividades e eventos tm uma particularidade importante no Marais que importa sublinhar: a porta aberta. isto significa a ampliao do espao pblico e mesmo a interceo de diferentes espaos privados que assim se passam a relacionar. esteprocessoporventuraotraomaisoriginaldainovaoscio-territorialno Marais,surgindo,em grandemedidacomoum resultado da mobilizao dosresi-dentes focada em objetivos concretos. Por outro lado, as redes virtuais permitiram, de certo modo, entrar no espao privado sem o invadir. Ou seja facilitaram o dilogo e o conhecimento mtuo dos grupos que vivem no Marais.a boa relao com o outro prximo ou distante est indissociavelmente ligada s dinmicas sociais e culturais do Marais e inovao scio-territorial que a se tem produzido.BiBLiOGrafia andri,abreua(2006)Dimenseseespaosde inovaosocial.FinisterraRevistaPortu-guesa de Geografia, XLi (81): 121 141.ascherf,GiardJ(1975)Demain,laville?Urba-nisme et politique, ditions sociales, Paris.Benjamin W (1997) Paris, capitale du XIXe sicle : Le Livre des passages. 3e dition. editions du Cerf, Paris.Bovone L (2004) Os novos intermedirios culturais. Consideraessobreaculturaps-moderna. In fortuna C (ed.) Cidade, cultura e globali-zao. editora Celta, Oeiras: 105-120.Aquilino Machado e Isabel Andr135CalbracY(2005)LavagueBobo.CafsGo-graphiques, doc. 565 [acedido em 30 de Ju-nho de 2011] www.caf-geo.net/cafe2/article.php3?id_ article=565Carr s, francis M, rivlin L, stone a (1993) Public space.CambridgeUniversityPress,new York.CefaD(2005)Osnovosmovimentosdeprotesto emfrana:aarticulaodenovasarenas pblicas. Revista Crtica de Cincias Sociais, 72: 129-160.ChadynD(2005)LeMarais,volutiondunpay-sageurbain.Parigramme/CompagniePari-sienne du Livre, Paris.Colin G (2009) Les commerces gays et le processus de gentrification. Mtropoles, 5 [acedido em 14junhode2012]http://metropoles.revues.org/3858Djirikiana(2004)LaGentrificationduMarais: quarante ans devolution de la population et deslogenments.UniversitParisi,Matrise deGographiesousladirectiondeMartine Berger e dYvan Chauvire, Paris.eger J (2010) The creative community. Forging the links between art, culture, commerce & com-munity. Grin Verlag oHG, Munchen.faure J (2007) Le Marais: promenade dans le temps. LHarmattan, Paris.ferro J (2004) a cidade como agitao social: pedi-dodeajudadeumgegrafoaoscolegasdas cincias sociais. Cidade, 8: 111-117. ferroJ(2003)intervirnacidade:complexidade, visoerumo.InPortasn,Dominguesa, Cabral J (eds.) Polticas urbanas: tendncias, estratgiaseoportunidades.fundaoCa-louste Gulbenkian, Lisboa: 219-225.florida r (2008) Whos your city? How the creative economyismakingwheretolivethemost important decision of your life. Basic Books, new York.florida r (2005) The flight of the creative class: the newglobalcompetitionfortalent.Harper& Collins, new York.floridar(2002)Theriseofthecreativeclass:and how its transforming work, leisure, communi-ty, and everyday life. Basic Books, new York.Gertler M (2004) Creative cities: what are they for, how do they work, and how do we build them? Canadian Policy research networks, Ottawa.Ghorra-GobinC(2000)LesEspacesdelaMdia-tion.ReinventerlesEspacesPublicscom-me symbole de la mdiation. UNESCO [ace-didoem21deMaiode2011]http://www.unesco.org/most/cyghorra.htmGuerrai(2003)tensesdourbanismoquotidiano. InPortasn,Dominguesa,CabralJ(eds.) Polticasurbanas:tendncias,estratgiase oportunidades.fundaoCalousteGul-benkian, Lisboa: 236-251.Hall P (2000) Creative cities and economic develop-ment. Urban Studies, 37(4): 639-649.Jacobs J, fincher r (1998) Cities of difference. Guil-ford Press, new York.JeannotteM,stanleyD(2000)Howwillwelive together?CanadianJournalofCommunica-tion, 27: 133-139.Klein J-L, Harrison D (2007) LInnovation sociale, mmergenceeteffetssurlatransformation des societies. Presses de lUniversit du Qu-bec, Qubec.Lain C (2005) Histoire architecturale et urbaine de Paris[acedidoem16dejunhode2011] www.forumdesimages.net/fr/alacate/htm/etUDe/arQUiCHeCtUre Landry C (2006) The art of city making. earthscan, London.LandryC(2000)Thecreativecity:atoolkitfor urban innovators. earthscan, London.Le texier e (2005) Minorits et espace public dans laville.LeChicanoParksanDiego (Californie).EspacesetSocits,Dossier Ville,actioncitoyenneetdbatpublic, 123(3): 10-28.LeyD(2003) artists,aestheticisationandthefield ofgentrification.UrbanStudies,40(12): 2527-2544.Mela a(1999)Asociologiadascidades.editorial estampa, Lisboa.Miles M (1997) Arts, space and the city. Public art and urban futures. routledge, London.Monot a (2003) La Ville et le communautarisme: le cas du Marais, un gueto gay Paris. Cafs Gographiques, doc. 270 [acedido em 30 de Junho de 2011]. http://www.cafe-geo.net/arti-cle.php3?id_article=270&var_recherche= alexandra+MonotMoulaertf,DemuynckH,nussbaumerJ(2004) Urban renaissance: from physical beautifica-tiontosocialempowerment.Lessonsfrom BrugesCulturalCapitalofeurope2002. City, 8(2): 229-235.Moulaert f, Maccallum D, Hillier J, Vicari s (2009) Socialinnovationandterritorialdevelop-ment. ashgate, farnham.Espao pblico e criatividade urbana136Putnam r (2002) Democracies in flux: the evolution of social capital in contemporary society. Ox-ford University Press, Oxford.rhein C (coord.), Blidon M, fleury a, Gurin-Pace f, Humain-Lamoure a-L (2008) Regards sur lesquartiersparisiens.Contextesspatiaux, usagespolitiquesetpratiquescitadines. Contrat VilledeParisnDasCO/2004-168, UMr. Gographie cits, Cnrs, Universits de Paris 1 et Paris 7: 234rubyC(2002)Larsistancedanslesarts contemporains.EspacesTemps.net,textuel, 01.05.2002[acedidoem10deoutubro de2008]http://espacestemps.net/document 341.htmlschaffer-Bacon B, Yuen C, Korza P (1999) Animat-ing democracy: the artistic imagination as a forceincivicdialogue.americansforthe arts, Washington.scott a (2006) Creative cities: conceptual issues and policyquestions.JournalofUrbanAffairs, 28(1): 1-17.smiers J (2005) Arts under pressure: promoting cul-turaldiversityintheAgeofGlobalization, Zed Books, London.tejerinaB(2005)Movimientossociales,espacio pblicoyciudadana.RevistaCrticade Cincias Sociais, 72: 67-97.tomasf(2001)Lespacepublic,unconceptmori-bondouenexpansion?Gocarrefour,revue de Gographie de Lyon, 76(1): 75-94.Os autores deste texto escrevem segundo o novo acordo ortogrfico.ino quadro do novo Plan Local dUrbanisme foram criados os Conseils des Quartier. no 4e Arrondissementexistem4(sant-Merri,saint-Gervais, arsenal,iles)eno3eexistemtrs(raumur, temple, rambuteau-franc-Bourgeois). Cada Conseil de Quartier constitudo por 33 membros, repar-tidos por 4 colgios: um colgio de habitantes (24); um colgio de associaes (4 presidentes de asso-ciaes); um colgio de pessoas qualificadas (2) e um colgio de eleitos (3).iiDanielleChadychcitandoLon-PaulfarguedefineobairrodoMaraiscomoovritable muse de vieux htels plus tincelants, plus distingus les uns que les autres et aussi de seul quartier qui runit les spcimens de toutes les poques francaises (2005: 6).iiiCitao retirada da apresentao pblica da reviso do Plan de de sauvegarde et de Mise en Valeur du Marais efetuada no 4e arrondissement pelo atelier darchitecture et dUrbanisme elisabeth Blanc Daniel Duche, 30 de setembro de 2009.ivO projeto foi lanado em 2001, durante o mandato de Bertrand Delano que propunha criar uma Maison des association (MDa) em cada arrondissement da cidade de Paris. nessas MDa esto disponveis recursos muito variados, como o apoio jurdico, os espaos de reunio, utilizao gratuita de redes informticas e apoio s iniciativas de participao cvica e poltica mediante o estabelecimen-to de projetos interassociativos.vConseils de Quartier um dos aspetos mais relevantes da lei n 2002-276, de 27 fevereiro, assenta na criao de um conjunto de estratgias inovadoras, visando criar uma dinmica operativa de democracia de proximidade, baseada na mobilizao das potencialidades locais susceptveis de produ-zirumaidentidadedebairro.Quadrolegalobrigatrioemcomunascommaisde80.000habitantes, conduziu criao de 121 Conseils de Quartiers em Paris, e a uma dinmica de descentralizao como via preferencial para resolver os problemas da gesto territorial. as solues, assim arquitetadas visam permitir a elaborao e o acompanhamento de projetos de interesse coletivo, atravs da reciprocidade e cooperao de redes associativas. estas aes tomam especial relevncia no trabalho dirigido s comu-nidades mais desfavorecidas, graas ao capital relacional a que passam a ter acesso.Aquilino Machado e Isabel Andr