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ESCUTE O DO SEU POVO PAPA FRANCISCO CLAMOR Jorge M. Bergoglio

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ESCUTE O

DO SEU POVO

PAPA FRANCISCO

CLAMOR

Jorge M. Bergoglio

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Prefácio

O livro “Escute o clamor de seu povo”, escrito pelo Papa Francisco quando ele ainda era arcebispo de Buenos Aires, expressa a atenção e o respeito que o nosso Papa tem pela devoção popular. O livro reú-ne sete homilias escritas e proferidas por Francisco na ocasião da festa de São Caetano.

Embora a devoção a São Caetano não seja tão difundida no Brasil, assim como é na Argentina, po-demos desfrutar das reflexões de Bergoglio, com os olhos atentos na ação pastoral de nosso Papa, que nos ensina a atualizarmos, em nossa vida, o amor que os santos tinham pelo Reino e pelo anúncio da Pala-vra. No caso específico de São Caetano, na humildade de buscar em tudo a centralidade de Cristo.

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Escute o clamor de seu povo

São Caetano nasceu na cidade de Vicência (Itá-lia) no ano de 1480 e morreu em Nápoles no dia 7 de agosto de 1547. Fundou, com alguns compa-nheiros, a Ordem dos Teatinos Regulares, que tinha como objetivo a renovação do clero. Talvez por isso o Papa Francisco escreva com tanta paixão sobre São Caetano. A renovação do clero é um tema sempre presente em suas mensagens, é uma necessidade. O sacerdócio não é status, é serviço e, por isso, deve ser vivenciado no despojamento.

Uma frase bastante singular de São Caetano, que foi canonizado em 1671, nos dá uma dimensão de sua espiritualidade. Vemos no trecho a seguir sua reflexão sobre abandonar a advocacia, profissão que exercia há anos, para tornar-se padre:

Sinto que dia a dia minha vida suspira por amar a Deus. Meus anos de advogado me en-sinaram que o povo necessita apalpar a Deus através das obras dos cristãos, de sua ação, de seus ensinamentos, de sua entrega. Eu quero fazer sempre a vontade de Deus: isto desejo, e aspiro. Agora vou dar outro rumo a minha vida. Meu caminho é deixar tudo sem olhar para trás. Unirei minha própria vida à cruz de Cristo. Serei sacerdote.

Pe. Luís ErlinEditor

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Apresentação

“A humanidade abriga uma esperança:ver-se libertada da escravidãoe alcançar a liberdade dos filhos de Deus.Enquanto isso, lança gritos de dor de parto.”

Estávamos acostumados a que nosso cardeal, hoje Papa Francisco, nos ajudasse a pensar e com sua palavra lúcida, aguda e perspicaz, nos impulsionasse a contem-plar e rezar sobre alguns acontecimentos pontuais. Os temas mundiais em vigor na época das homilias foram os pontos de partida para todas as suas reflexões.

No fundo, como perspectiva, sempre encon-trávamos temas como a fé, o mundo e a Igreja. Esta última de maneira especial, porque é o lugar de en-

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Escute o clamor de seu povo

contro – ou muitas vezes de desencontro – entre as duas primeiras realidades.

Nestas mensagens, a intenção do autor era dei-xar-nos pequeninas pérolas para que pensássemos, dialogássemos e vivêssemos solidários uns com os outros, como ele o era, por exemplo, no dia de São Caetano, quando todo o povo visitava o santo patro-no do trabalho para agradecer-lhe ou pedir-lhe ajuda.

Somos pessoas a caminho, cristãos empenhados em nos libertar da escravidão do sistema econômico que deixa fora do mercado tantas irmãs e tantos irmãos, inclusive nós mesmos. Estes também eram seus temas frequentes nas datas patrióticas, nas quais a justiça, a liberdade e a solidariedade eram palavras constantes.

E ele nos disse várias vezes, formal e informal-mente: Nosso Pai escuta os sentimentos que nos comovem ao recordarmos de nossos seres queri-dos, ao vermos a fé dos outros e suas necessidades, ao relembrarmos de coisas alegres e tristes que nos aconteceram neste ano. Deus nos escuta.

Aproveitemos a oportunidade de revitalizar estas mensagens em nosso coração, pois continuam vigen-tes. Que a esperança do Pai quando pede “Escutem meu Filho”, e de Jesus, que nos diz que “Quando escutamos nossos irmãos mais pequeninos, escu-tamos a Ele”, nos faça sentir mais vizinhos, mais irmãos e necessitados uns dos outros.

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“O Pai sabe bem do que necessitamos,e não é necessário falar-lhe muito!”

A leitura do Êxodo nos diz algo muito simples e ao mesmo tempo muito belo e consolador: que Deus nos escuta; que Deus, nosso Pai, “escuta o clamor de seu povo”. Este é o clamor silencioso da fila intermi-nável que passa diante de São Caetano. Nosso Pai do Céu escuta o rumor de nossos passos, a oração que vamos murmurando em nosso coração, à medida que nos aproximamos.

Nosso Pai escuta os sentimentos que nos co-movem ao recordarmos de nossos seres queridos, ao vermos a fé dos outros e suas necessidades, ao

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relembramos de coisas alegres e tristes que nos aconteceram neste ano. Deus nos escuta.

Ele não é como os ídolos, que têm ouvidos, mas não escutam. Não é como os poderosos, que escu-tam aquilo que lhes convém. Ele escuta tudo, até mesmo as queixas e as angústias de seus filhos. E não só escuta, mas gosta de escutar. Gosta de estar atento, ouvir bem, ouvir tudo o que nos acontece.

Por isso, Jesus nos diz “O Pai sabe bem do que necessitamos, e não é necessário falar-lhe muito”. Basta rezar o Pai-Nosso, porque Ele escuta até nos-sos pensamentos mais íntimos. O Evangelho diz que nem um passarinho cai em terra sem que o Pai sai-ba. E poderia até dizer “sem que o Pai escute cair”.

Hoje viemos pedir duas graças: a graça de “sen-tir-nos escutados” e a graça de “estar dispostos a escutar”. Com Jesus e São Caetano, queremos apren-der a escutar e a ajudar nossos irmãos. Este é o tema que manteremos no coração.

Escutemos agora, atentamente, como nosso Deus nos fala na Sagrada Escritura.

Diz: “Eu sou – ajuntou ele – o Deus de teu pai [...] eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço muito seus sofrimentos” (Êxodo 3,6-7). Nosso Pai escuta todos os nossos gritos de dor, mas

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escuta de maneira especial os gritos de dor provo-cados pela injustiça: provocados, segundo Ele, pelos capatazes dos faraós deste mundo. Existem dores e dores – as do salário não pago, as da falta de trabalho – e são dores que clamam ao Céu. O Apóstolo Tiago já afirmou: “Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos” (Tiago 5,4). As dores que se produzem com a injustiça clamam ao céu, por-que são dores que se podem evitar simplesmente se formos justos, privilegiando os mais necessitados, criando trabalho, e não roubando, mentindo, co-brando a mais ou tirando vantagens.

No Evangelho do Juízo Final, também se fala de uma escuta de Jesus, quando Ele separa as ovelhas das cabritas e diz às ovelhinhas: “Venham, benditos de meu Pai, recebam o reino em herança, porque tive fome e vocês me deram de comer[...] Os justos lhe per-guntam: Mas quando, Senhor, o vimos faminto[...]? E o Senhor lhes responde: Cada vez que ajudaram o menor de meus irmãos estavam ajudando a mim”.

A parábola do Juízo Final é a maneira de Jesus nos dizer que Deus esteve atento a toda a histó-ria da humanidade, que Ele escutou cada vez que alguma pobre criatura pediu algo. Cada vez que al-guém, mesmo que fosse em voz baixa, como a voz

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das pessoas mais humildes, que pedem e quase não é possível ouvi-las. Cada vez que algum de seus fi-lhinhos pediu ajuda, Ele esteve escutando. E o que Jesus vai cobrar de nós, humanos, é se temos estado atentos como Ele, se lhe pedimos permissão para escutar com seu ouvido, se sabemos bem o que está acontecendo com nossos irmãos para poder ajudá--los; ou se, em vez disso, estamos nos fazendo de surdos, tapando os ouvidos com o fone de ouvido a fim de não escutar ninguém. Ele escuta e, quando encontra alguém com o ouvido atento como o seu e que responde bem, essa pessoa é abençoada e Jesus lhe oferece o Reino dos Céus.

O dom da escuta é uma graça muito grande, e hoje pedimos a São Caetano que conceda essa gra-ça a nosso povo, a todos nós: que saibamos escutar. Para ajudar alguém, primeiro é preciso escutá-lo: escutar o que está acontecendo com essa pessoa e as suas necessidades; deixar que ela mesma fale e nos explique o que deseja. Por isso, não basta ver. Às vezes, as aparências enganam. Saber escutar é uma graça muito grande. Vejam que nosso Pai do Céu nos recomenda vivamente uma só coisa: que escutemos Jesus, seu Filho. Esta é a esperança do Pai: “Escutarão meu Filho”. E Jesus nos diz que, quando escutamos nossos irmãos menores, é a Ele que estamos escutando.

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Como pode haver quem diga que Deus não fala e não entende bem o que queremos dizer? Obvia-mente, são pessoas que não escutam os pobres, os pequenos, os que necessitam. Alguém que só escuta as vozes enfadonhas da propaganda e das estatís-ticas e não tem ouvidos para escutar o que o povo simples diz.

Escutar não é ouvir simplesmente. Escutar é atender, querer entender, valorizar, respeitar, salvar o pedido alheio. É preciso empregar os meios para escutar bem, para que todos possam falar, para que se leve em consideração o que cada um quer dizer.

A novena de São Caetano é um exemplo de escuta. Durante todo o ano é feito um trabalho em que se pergunta às pessoas o que mais querem pedir neste ano, o que mais necessitam. E então se reza e se faz uma triagem de todos os pedidos. É assim que vai se formando o tema da novena.

Nesse caso, o santo é como se fosse um ouvidor especial de nosso Pai de um pedido particular de seu povo: o do pão e o do trabalho. Os santos são como os ouvidos de Deus, um para cada necessidade de seu povo. Também podemos ser esse tipo de santo, sendo o ouvido de Deus em nossa família, em nosso bairro, nos lugares em que vivemos, por onde anda-mos e onde trabalhamos. Ser uma pessoa que escuta

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o que o povo necessita, mas não com o intuito de nos afligir ou de contar aos outros, mas para juntar todos esses pedidos e contá-los ao Senhor. Muitos já o fazem trazendo os papeizinhos com os pedidos de seus familiares aos pés do santo. Além dos próprios pedidos, cada um vem com os pedidos de outro que não pôde vir pessoalmente. Pois bem, esta é a escuta que São Caetano nos ensina e que apren-demos: que estejamos dispostos a escutar como o santo escuta, como nosso Deus Pai escuta; que es-cutemos para assim poder ajudar: intercedendo e estendendo a mão.

Que a Virgem, nossa Mãe, que é a predileta de Deus e de seu povo para escutar e levar adiante men-sagens de boas-novas, receba nossos rogos e nos dê a graça de saber escutar uns aos outros.

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“Ao amanhecer, Jesus estava na margem,embora os discípulos não soubessem que era Ele.Jesus lhes disse: Homens, têm algo para comer?Eles responderam: Não. Ele lhes disse: Atirem a redeà direita da barca e encontrarão.Eles a atiraram e se encheu tanto de peixesque não podiam arrastá-la. O discípulo que Jesusamava disse a Pedro: É o Senhor!”

1. A São Caetano, como família, lhe pedimos paz, reconhecimento de nossa dignidade e trabalho. O lema central deste ano está fundamentado na palavra “dignidade”. Pronunciamos essa palavra com vene-ração e respeito porque é uma palavra formosa e de valor absoluto. Os ossos secos que Deus faz reviver

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com seu Espírito são uma bela imagem da dignidade; e, quando nós mesmos reconhecemos nossa digni-dade, é como se renascêssemos. Basta reconhecer a dignidade de alguém para que ele reviva caso esteja caído por terra. Isso é o que fazia e faz Jesus com cada pessoa, especialmente com os pecadores e também com os excluídos da sociedade: olhava-os de tal ma-neira que se sentiam reconhecidos em sua dignidade e se convertiam, se curavam, sentiam-se incluídos e se transformavam em seus discípulos. Como eles:

“Os cristãos necessitam recomeçar desde

Cristo, desde a contemplação de quem nos

revelou em seu mistério a plenitude do cum-

primento da vocação humana e de seu sentido.

Necessitamos tornar-nos discípulos dóceis

para aprender dele, em seu seguimento, a dig-

nidade e plenitude da vida”. (Documento de

Aparecida, no 41)

2. Se um homem ou um povo cuida e cultiva sua dignidade, tudo o que lhe acontece, tudo o que faz e produz, inclusive tudo o que padece e sofre, tem sentido. Entretanto, quando uma pessoa ou um povo vende sua dignidade, ou a negocia, ou permite que seja desprezada, tudo o mais perde consistência, dei-xa de ter valor. A dignidade é algo que se diz das coisas absolutas, porque dignidade significa que alguém ou

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algo é valioso por si só, para além de suas funções ou de sua utilidade para outras coisas. Daí valorizarmos a dignidade da pessoa, de cada pessoa, ainda que sua vida física seja apenas um frágil começo ou esteja a ponto de apagar-se como a chama de uma pequena vela. Por isso, abordamos a dignidade da pessoa em todas as etapas e dimensões de sua vida. Quanto mais frágil e vulnerável for a condição de vida da pessoa, mais digna ela é de ser reconhecida como valiosa. E tem de ser ajudada, querida, defendida e promovida em sua dignidade. E isso não tem preço.

A dignidade de ter um valor absoluto como pes-soa nos foi dada por Deus com nossa vida. Por isso, não é preciso pedir a Ele que nos dê dignidade – já fomos feitos dignos pelo Sangue de Cristo –, mas é preciso que “bendizemos a Deus, porque nos criou à sua imagem e semelhança e nos fez filhos em seu Fi-lho. E lhe pedimos, isso sim, a graça de que esse dom se converta em tarefa: a tarefa de todos de “proteger, cultivar e promover” a dignidade que nosso Pai nos ofertou (cf. Documento de Aparecida, no 104).

3. A dignidade da pessoa é o mesmo que sua vida plena: é por isso que a sentimos tão unida à fa-mília, à paz e ao trabalho.

A família é a condição necessária para que uma pessoa tome consciência e valorize sua dignidade:

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nossa família nos trouxe à vida, nos aceitou como valiosos da forma que somos, nos aceita como so-mos, valoriza nossa felicidade e vocação pessoal independentemente de qualquer interesse. Sem a família, que reconhece a dignidade da pessoa da forma como ela é, a sociedade não consegue perce-ber esse valor nas situações adversas. Só uma mãe e um pai podem dizer com alegria, com orgulho e res-ponsabilidade: “Vamos ser pais, concebemos nosso filho!”. A ciência vê isso sob outro ângulo e faz distin-ções a respeito das pessoas que não estão associadas ao seu interior: à sua dignidade. O olhar cristão, por sua vez, enxerga o coração das coisas.

4. A paz também constrói a dignidade, porque supõe que a unidade é superior ao conflito. Manter--se em paz e manter a paz em meio a situações tensas e problemáticas da vida significa acreditar nas pes-soas independentemente da situação e de qualquer coisa. Só quem reconhece a infinita dignidade do outro é capaz de dar a vida em vez de tirá-la. Este é o Evangelho de Jesus, a boa-nova da dignidade huma-na. Somos tão valiosos aos olhos de Deus que Ele foi capaz de enviar seu Filho para que desse sua vida a fim de salvar a nossa. Por isso, bendizemos a Deus.

“Bendizemo-lo por fazer-nos filhas e filhos seus em Cristo, por ter-nos redimido com o preço de seu sangue e pela relação permanente que estabelece

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conosco, que é fonte de nossa dignidade absoluta, inegociável e inviolável. Se o pecado deteriorou a imagem de Deus no homem e feriu sua condição, a boa-nova, que é Cristo, o redimiu e o restabeleceu na graça (cf. Romanos 5,12-21)” (Documento de Apare-cida, no 104).

5. O trabalho, como afirma João Paulo II, garan-te a dignidade e a liberdade do homem, e por isso é a chave essencial de toda a questão social� (Labo-rem exercens, no 3). O trabalho é o que nos permite realizar-nos como pessoas e ganhar a vida, manter--nos dignamente e manter nossa família. Quando uma sociedade baseia a repartição dos bens não no trabalho, mas na dádiva ou nos privilégios, perde o sentido de sua dignidade e rapidamente torna--se injusta a distribuição dos bens, e as pessoas são transformadas em escravos ou em clientes.

6. O Evangelho que acabamos de escutar é uma cena de trabalho. De trabalho conjunto entre Jesus e os Apóstolos. Essa aparição do Senhor ressuscita-do acontece no ambiente de trabalho. Assim, sem o dizer, o Senhor dignifica o mundo do trabalho, tor-nando-se presente e colaborando com seus amigos, compartilhando a pesca e o pão com eles.

A ceia é reconfortante. Fala-nos de um grupo de amigos que, tendo experimentado a mais elevada

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dignidade a que pode aspirar um ser humano – ser discípulos de Cristo, o Caminho verdadeiro que nos leva à vida –, voltam para o cotidiano do trabalho, no lago de Tiberíades, onde o Senhor os chamou e com eles navegou em suas barcas.

O Evangelho nos fala também da fadiga do trabalho, do suor e do desprazer quando os esfor-ços parecem inúteis, nos fala do companheirismo que se cria nesses momentos de compartilhamento de dificuldades.

A intuição de corresponder a essa voz amiga que lhes diz aonde lançar as redes e esse olhar que sabe reconhecer o Senhor como valioso e digno de amor e seguimento incondicional, no meio da pesca milagrosa, revelam-nos também o que esses pescadores haviam aprendido a valorizar com o Mestre. A pessoa de Jesus, acima de todas as coisas, é quem os une e motiva. E, tanto no trabalho como na refeição fraterna que goza de seus frutos, os olhos dos discípulos estão fixos em Jesus, o “Cristo, Senhor da Vida, em quem se realiza a mais elevada dignidade de nossa vocação humana” (Documento de Aparecida, no 43).

Na imagem de São Caetano, no olhar cruzado entre o Menino e o Santo, vemos expressos os valo-res a respeito dos quais refletimos hoje: o carinho

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da família, a espiga nas mãos do Menino, fruto do trabalho, a paz do amor que ambos demonstram um ao outro. Como povo fiel de Deus, sentimo-nos representados nessa imagem bendita. Também nós, como nosso Santo Padroeiro, queremos ter Jesus em nossos braços, queremos reconhecê-lo e que Ele nos reconheça, queremos que Ele tenha em suas mãos a espiga, o fruto de nosso trabalho. Nesse ato de ter Jesus nos braços, pedimos a nossa Mãe que nos en-sine e nos ajude a tê-lo bem firme e a não soltarmos sua mão. A ela, que “contribuiu para tornar-nos mais conscientes de nossa comum condição de filhos de Deus e de nossa comum dignidade diante de seus olhos, não obstante nossas diferenças” (Documento de Aparecida, no 37), pedimos que com São Caetano, como família, nos conceda de seu Filho a paz, o re-conhecimento de nossa dignidade e o trabalho.

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