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ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS DAS ARMAS
2º Sgt Com Rogério Maronese
2º Sgt Eng Raimundo Nonato Lopes Salazar Junior
2º Sgt Art Carlos Rissardo Pinto de Castro
2º Sgt Cav Moisés de Freitas Sacerdote
2º Sgt Inf Hercules Batista de Souza
2º Sgt Inf Fábio Bernardo Verpel
2º Sgt Inf Elpídio Rufino de Paiva Neto
ATUAÇÃO DA FEB NA TOMADA DE MONTE CASTELO
Projeto Interdisciplinar
CRUZ ALTA-RS
2015
2º Sgt Com Rogério Maronese
2º Sgt Eng Raimundo Nonato Lopes Salazar Junior
2º Sgt Art Carlos Rissardo Pinto de Castro
2º Sgt Cav Moisés de Freitas Sacerdote
2º Sgt Inf Hercules Batista de Souza
2º Sgt Inf Fábio Bernardo Verpel
2º Sgt Inf Elpídio Rufino de Paiva Neto
ATUAÇÃO DA FEB NA TOMADA DE MONTE CASTELO
Projeto Interdisciplinar apresentado por término decurso na Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos dasArmas.
Orientador: Cap Art Rodrigo da Silva Collares
CRUZ ALTA-RS
2015
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Gráfico Da Produção Industrial Alemã............................................................................................06
FIGURA 2 Presidente Getúlio Vargas................................................................................................................08
FIGURA 3 Oswaldo Aranha...............................................................................................................................09
FIGURA 4 Reunião de Getúlio Vargas e seu novo ministério...........................................................................10
FIGURA 5 Ambiente Operacional.....................................................................................................................14
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................05
2 DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................05
2.1 Antecedentes Históricos da batalha de Monte Castelo..................................................05
2.2 A participação do Brasil na guerra..................................................................................07
2.3 A Batalha de Monte Castelo.............................................................................................12
2.4 A elevação de Monte Castelo............................................................................................12
2.5 O primeiro ataque a Monte Castelo................................................................................14
2.6 O segundo ataque a Monte Castelo.................................................................................16
2.7 O terceiro ataque a Monte Castelo..................................................................................18
2.8 O último ataque a Monte Castelo....................................................................................21
3 CONCLUSÃO......................................................................................................................23
REFERÊNCIAS......................................................................................................................24
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1. INTRODUÇÃO
Segundo Motta (2001), em setembro de 1939 os Alemães invadiram a Polônia
desejando dominar o mundo e impor sua ideologia nazista, que acreditava na supremacia da
raça alemã sobre toda a humanidade, assim, dando início à II Guerra mundial. Nesse contexto,
o continente americano declarou-se neutro, mas criou uma zona de segurança marítima
continental. Os alemães não concordaram com essa medida. Já em 1940, os americanos
declararam que “todo atentado de um Estado não-americano contra a integridade ou
inviolabilidade do território e contra a soberania ou independência de qualquer Estado
americano, será considerado como ato de agressão”.
Ainda segundo Carvalho (1953), a conquista da França pelos nazistas consolidou seu
domínio sobre a Europa e a aliança feita com os fascistas italianos, projetou seu poder sobre a
África do Norte e criou condições para invasão da América através do nordeste brasileiro, o
que levou sua militarização, com a instalação de diversas bases aeronavais naquela região. O
ataque Japonês aos americanos, em Pearl Harbour, em dezembro de 1941, e o afundamento de
31 navios de transporte brasileiros, ocasionando a perda de 971 vidas, levaram o Brasil a
declarar guerra aos países do eixo Alemanha, Japão e Itália em agosto de 1942.
De acordo com Paes (1991), umas das missões brasileiras era a de conquistar a região
de Monte Castelo, e a atuação da FEB na tomada de Monte Castelo é um marco histórico do
Exército Brasileiro, pois naquela oportunidade os brasileiros tiveram de enfrentar a maior
máquina de guerra do mundo, o Exército Alemão, a fim de garantirem sua soberania contra os
ideais totalitários e expansionistas das nações do Eixo.
Seu estudo é relevante para o meio militar, pode-se tirar ensinamentos com as atuações
do passado e ver as decisões que deram certo ou errado, podendo assim refletir para que se
possa sempre aperfeiçoar a técnicas e doutrinas militares. Afinal, sem o estudo de erros e
acertos nas Guerras passadas, futuras batalhas terão um destino incerto, devido ao
desconhecimento de atitudes já tomadas em outras ocasiões.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Antecedentes Históricos da batalha de Monte Castelo
Ao término da Primeira Guerra Mundial, Inglaterra, França e Estados Unidos, que
saíram vitoriosos, fizeram com que os países perdedores assinassem o Tratado de Versalhes.
Entre esses países perdedores encontrava-se a Alemanha que foi obrigada a pagar uma alta
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quantia em dinheiro aos vencedores, além de sofrer outras consequências como: a limitação
de cem mil homens no efetivo do seu exército e sofrer um grande desarmamento no seu
poderio bélico.
Todas essas sanções que a Alemanha foi obrigada a sofrer fizeram com que o país
entrasse numa grave crise econômica, logicamente refletida em sua população, que passou a
ter um alto índice de desempregados, aumentando assim o nível de miséria e fome no país.
Estes fatores fizeram com que o país tivesse um grande sentimento de vergonha.
Em meio à crise germânica, um homem assumiu o governo do país com plenos
poderes, num partido político novo criado por ele mesmo, seu nome: Adolf Hitler.
Aproveitando-se do sentimento de vergonha pelo que o povo alemão passava e
sabendo trabalhar muito bem os sentimentos do povo, conseguiu colocar em prática seus
ideais pregava a supremacia da raça ariana, uma das bases étnicas do povo alemão. Com isto
introduziu o nazismo, ideologia que se disseminou rapidamente em todas as classes da
população.
FIGURA 1 – Gráfico da produção industrial alemã Fonte: http:// www.scielo.br
Segundo um trabalho editado pelo Estado Maior Alemão, em 1941, a Alemanha,tendo tido os seus efetivos limitados pelo Tratado de Paz posteriormente assinado,ficou com as mãos livres para se dedicar aos seus planos futuros, pois não foisubmetida a qualquer fiscalização efetiva por parte das potências aliadas, quanto aocumprimento dos termos do Tratado, na sua parte militar. (CABRAL, 1987, p.23)
O nazismo trouxe grande desenvolvimento para a Alemanha, acabando com sua
crise econômica e sua miséria. Baseada numa ideologia de grande militarização do país
começou a investir pesadamente em suas forças armadas e em pesquisas armamentistas. Com
tudo isto os alemães ganhavam ainda mais autoconfiança e começaram com seus planos de
expansão da ideologia nazista com a conquista de territórios e perseguição a indivíduos de
outras culturas, como israelita.
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Ao mesmo tempo surge na Itália, Benito Mussolini, ditador fascista, que viria a
aliar-se a Hitler no grande conflito que estava por vir. Possuía uma política imperialista e
colonialista, com grandes interesses em territórios mediterrâneos e africanos. Tais intenções
foram de encontro com os interesses de nações como Inglaterra e França. Isto ocasionou um
problema diplomático entre os países. Além disso, no continente asiático surge o Japão
imperialista como grande potência, com interesses também em outros territórios, como a
Indochina.
Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invade de surpresa a Polônia com sua
máquina de guerra nazista, com extrema violência, surpreendendo o mundo com seu grande
poderio bélico e estratégico, pois colocou em prática a blitzkrieg, tática com a qual conquistou
rapidamente as terras polonesas.
Essa invasão fez com que ingleses e franceses entrassem em estado de guerra
contra os alemães.
Começava-se a formar o esboço da guerra no qual o mundo se dividiria em duas
grandes alianças. Tínhamos de um lado o Eixo, constituído basicamente pela Alemanha
nazista, Itália fascista e o Japão imperialista. Do outro lado os Aliados, formado
principalmente pelos Estados Unidos da América, Inglaterra e França. O Brasil após certo
tempo de neutralidade entra do lado Aliado.
2.2 A participação do Brasil na guerra
Desde o início da Segunda Guerra Mundial, a ideologia do Estado Novo, implantado
por Getúlio Vargas, apontava para um provável alinhamento do Brasil com os países do Pacto
de Aço - Alemanha e Itália. Em 1937 Vargas havia instalado no País uma ditadura, apoiada em
uma Constituição centralizadora e autoritária, que guardava muitos pontos em comum com a
ditadura fascista. A própria declaração de Vargas ao comentar a invasão da Polônia pelo
exército nazista, em 1° de setembro de 1939, revelava certa simpatia pelo nazismo ao prever
um futuro melhor: "Marchamos para um futuro diverso de tudo quanto conhecemos em
matéria de organização econômica, política e social. Passou a época dos liberalismos
imprevidentes, das demagogias estéreis, dos personalismos inúteis e semeadores da
desordem". (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=40, 13 abr. 2015,
20h 30min)
O Estado Novo, decretado em 10 de novembro de 1937, fechou o Congresso, impôs a
censura à imprensa, prendeu líderes políticos e sindicais e colocou interventores nos governo
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estaduais. Com um estilo populista, Getúlio Vargas montou um poderoso esquema de
propaganda pessoal ao criar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), claramente
inspirado no aparelho nazista de propaganda idealizado por Joseph Goebbels. A Hora do
Brasil, introduzida nas rádios brasileiras e chamada ironicamente pela intelectualidade de
"Fala Sozinho", mostrava os feitos do governo, escondendo a repressão política praticada
contra uma sociedade pouco organizada na época. Vargas criou o salário mínimo e instituiu a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), entre outros benefícios sociais, o que o levou a ser
aclamado como "pai dos pobres" pela população de baixa renda.
(http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=40, 13 abr. 2015, 20h 30min)
FIGURA 2 – Presidente Getúlio Vargas Fonte: http:// www.historianet.com.br/
Em 1940, um ano após eclodir na Europa, a guerra ainda não ameaçava diretamente o
Brasil. A ideologia nazista, contudo, fascinava os homens que operavam o Estado Novo a tal
ponto que Francisco Campos, o autor da Constituição de 1937, chegou a propor à embaixada
alemã no Brasil a realização de uma "exposição anticomintern", com a qual pretendia
demonstrar a falência do modelo político comunista. Mais tarde, o chefe da polícia (um órgão
de atuação similar à da Polícia Federal de hoje), Filinto Muller, enviou policiais brasileiros
para um "estágio" na Gestapo. Góes Monteiro, o chefe do Estado Maior do Exército, foi mais
longe. Participou de manobras do exército alemão e ameaçou romper com a Inglaterra quando
os britânicos apreenderam o navio Siqueira Campos, que trazia ao Brasil armas compradas
dos alemães. (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=40, 13 abr. 2015,
20h 30min)
Existem divergentes interpretações sobre a postura de Vargas frente à eclosão da II
Guerra. A visão tradicional considera o presidente como um político habilidoso, que protelou
o quanto pôde a formalização de uma posição diante do conflito, na medida em que poderia
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obter ganhos, do ponto de vista econômico, dos dois lados. O grande sonho do presidente era
a industrialização do Brasil e, nesse sentido, pretendia obter recursos externos. Em 1940 o
ministro Souza Costa publicou um Plano Quinquenal, que previa o reequipamento das
ferrovias, a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, a instalação de uma indústria
aeronáutica e a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, reforçando o nacionalismo
econômico. (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=40, 13 abr. 2015,
20h 30min)
Outra visão considera a posição de Vargas frente à Guerra como expressão de uma
contradição, na medida em que o país dependia de forma mais acentuada da economia norte-
americana e ao mesmo tempo possui uma estrutura política semelhante à dos países do Eixo.
A posição favorável à Alemanha poderia comprometer o desenvolvimento econômico
do país, uma vez que os nazistas, apesar de avançarem na Europa, tinham na América do Sul
um interesse secundário. Ao contrário, a defesa dos interesses dos EUA, quer dizer, das
"democracias" contra o nazifascismo, poderia comprometer a política interna de Vargas.
No entanto, as pressões norte-americanas foram intensas, contaram com o apoio de
outros países latino-americanos e utilizou-se de diversos mecanismos, desde aquele que foi
considerado o mais eficiente - a liberação de recursos para a construção da Usina de Volta
Redonda - até um novo modelo de relação, batizado de "política de boa vizinhança", pelo
presidente F. Roosevelt dos EUA. Intelectuais brasileiros visitaram os EUA, e mesmo o
general Góis Monteiro - germanófilo - ficou encantado em conhecer os estúdios Disney.
FIGURA 3 – Oswaldo Aranha
Fonte: http:// www.historianet.com.br/
Veja a opinião do tradicional historiador Hélio Silva: a América estava dividida e as
posições pareciam irredutíveis. "E quando o chanceler brasileiro [Oswaldo Aranha] se
agiganta à estatura dos grandes estadistas do século. Ele consegue salvar a partida perdida,
dando ganho aparentemente ao adversário. Com uma lucidez absoluta, sente que a fórmula
inicial não poderia mais ser atingida com unanimidade. As pressões dos países do Eixo - que
conhecia e repelira - atuavam na Conferência. Mas, importante que era a ruptura imediata, (...)
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não era o princípio em causa, o principal. Este era a unidade continental, a solidariedade entre
as nações americanas, a reação unânime à agressão. Porque, firmado esse princípio, tudo o
mais seria atraído por ele. Oswaldo Aranha é a grande figura da III Reunião de Consulta. Sem
ele, teria perecido, naquela ocasião, a unidade continental. (...) A Europa ocupada, a Inglaterra
subjugada, a Rússia invadida, não .precisariam os Exércitos nazistas atravessar os oceanos. As
quintas-colunas se aprestariam em tomar conta dos governos americanos. A Nova Ordem
nazista teria, afinal, triunfado no mundo. (...) A Conferência do Rio de Janeiro teve uma
importância decisiva nos destinos da humanidade. Pela primeira vez, em face de um caso
concreto, positivo e definido, foi posta à prova a estrutura do pan-americanismo. Pela
primeira vez todo um continente se deparou unido para uma ação comum, em defesa de um
ideal comum, a Liberdade". (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=40,
13 abr. 2015, 20h 30min)
FIGURA 4 – Reunião de Getúlio Vargas e seu novo ministérioFonte: http:// www.historianet.com.br/
Em 22 de agosto de 1942, Vargas reúne-se com seu novo ministério: "diante da
comprovação dos atos de guerra contra a nossa soberania, foi reconhecida a situação de
beligerância entre o Brasil e as nações agressoras - Alemanha e Itália". Em 31 de agosto foi
declarado o estado de guerra em todo o território nacional.
Após a declaração do estado de guerra, o Brasil cede aos norte-americanos bases navais
em Salvador e Recife, permitiu a instalação de bases aéreas em Natal e Recife, além da
utilização do arquipélago de Fernando de Noronha para o mesmo fim.
Contudo a principal participação brasileira na guerra estava ainda por vir, pois o
Brasil pretendia enviar para os teatros de operações europeus três divisões de infantaria do
Exército Brasileiro, junto com a Força Aérea e outros destacamentos não divisionários
necessários à condução das batalhas. Porém o Brasil envia apenas uma divisão de infantaria,
abaixo explicitado.
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Segundo Carvalho (1953), os elementos constitutivos da FEB, eram a 1ª DIE com os
seguintes integrantes: seu comandante, 1 Quartel-General, 1 Infantaria Divisionária com 3
Regimentos de Infantaria, 1 Artilharia Divisionária com 4 grupos, 1 Esquadrilha de Aviação, 1
Batalhão de Engenharia, 1 Batalhão de Saúde, 1 Esquadrão de Reconhecimento e 1
Companhia de Comunicações. Além da 1ª DIE existiam os Órgãos Não-divisionários, com a
seguinte composição: comandante da EB, o inspetor-geral da FEB, o Serviço de Saúde da
FEB, agência do Banco do Brasil, pagadoria fixa, Seção Brasileira de Base, Depósito de
Intendência, Serviço Postal, Serviço de Justiça e Depósito do Pessoal.
O Brasil começa a se preparar para as batalhas treinando seus efetivos em solo
pátrio. Milhares de homens são convocados para defender a soberania e os interesses
nacionais. Começa assim a se formar a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, que seria
enviada a Itália, para que lá pudesse enfrentar a poderosa máquina de guerra germânica, um
exército já experimentado, altamente profissional, capacitado e aguerrido.
A FEB era bem um resumo do povo do Brasil, não só porque tinha soldados detodos os seus estados e de todas as classes sociais e níveis de cultura, como porquelevava todos os defeitos e improvisações, todas as incoerências e mitos, todas asfalas e virtudes desse povo. Mas estava convencido de que, dentro da moléstia denossas forças, p Pracinha brasileiro deu o seu recado, cumpriu sua missão.(BRAGA, Rubens – Crônicas da Guerra na Itália, Rio de Janeiro: BIBLIEx, 1956).
A Divisão seria enviada em algumas levas de navios mais precisamente cinco escalões
de embarque, escoltados pela marinha de guerra até solo italiano.
“A FEB deslocou-se para o TO do Mediterrâneo dividido em cinco escalões,utilizando navios de guerra NA (General Mann e General Meigs), já que o Brasilnão possuía navios apropriados para realizar esse deslocamento”. (Centro deComunicação Social do Exército, 2014, p. 25)
Chegando à Europa, os homens começaram a adaptação à diferença climática. Além
disso, receberam também novos equipamentos dos E.U.A e por isso, necessitou-se da
realização de instruções de aprendizado para oficiais e sargentos para que pudessem transferir
as formas de manejo do novo material para soldados e cabos, que nunca tinham tido contato
com o novo tipo de armamento. Uma nova mudança que recebe igual destaque é o
recebimento de novo fardamento, já que o uniforme original era muito semelhante ao dos
alemães e isto confundiria os brasileiros com os germânicos.
Os combatentes brasileiros após o recebimento de todo material, adequação ao clima e
recebimento de instruções de manejo dos novos armamentos, começaram a treinar as formas
de manobra, das pequenas frações da tropa, utilizadas pelos americanos.
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Os pelotões eram constituídos pelos grupos de combate, constituídos por nove homens
cada um. Este tipo de formação demonstrou grande eficiência na batalha contra os alemães.
De acordo com Carvalho (1953), terminados todos os preparativos, os brasileiros
estavam prontos para passar pelo batismo de fogo. Após este batismo, os brasileiros seguiram
em diversas batalhas, que ceifaram dezenas de vidas brasileiras. Entre essas batalhas,
podemos destacar: Montese, Fornovo, Castelnuovo, Collechio, Zocca e Monte Castelo, esta
última objeto de estudo deste Projeto Interdisciplinar.
2.3 A Batalha de Monte Castelo
Será comentada agora neste capítulo a batalha propriamente dita. Porém antes de
abordar a batalha, necessita-se conhecer o baluarte de Monte Castelo.
2.4 A elevação de Monte Castelo
Segundo Gigolotti (2003), após a retomada da cidade de Roma, pelos Aliados, os
germânicos começaram a retrair constantemente, sendo obrigados a realizar operações
defensivas, na tentativa de manter o terreno, construindo assim diversas fortificações pelo
caminho. Tais posições defensivas se constituíam em grandes obstáculos para os Aliados, que
perdiam muito tempo tentando contorná-los ou superá-los. Entre essas elevações encontrava-
se a elevação de Monte Castelo, que viria a ser um dos desafios mais difíceis dos brasileiros
durante a Segunda Guerra Mundial, pois a FEB precisou de muitas jornadas e vidas brasileiras
para conquistar esse objetivo.
No dispositivo militar aliado, atuando na frente italiana, onde operavam o 5º Exército
norte-americano e o 8º Exército Britânico, a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, ou Força
Expedicionária Brasileira, estava incorporada ao 4º Corpo de Exército americano, o qual, por
sua vez, além da Divisão brasileira, compunha-se de uma Divisão Blindada norte-americana,
uma Divisão sul-africana e outra inglesa, e ainda da 10ª Divisão de Montanha norte-
americana, que lutou junto aos brasileiros, em 1945, quando da tomada de Monte Castelo.
Segundo De Moraes (2014), uma das elevações, mais que as outras, atraía a atenção dos
homens e do Comando Brasileiro, Monte Castelo. Sua conquista pela tropa Brasileira era
indeclinável ponto de honra.
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Monte Castelo se caracterizava por ser uma elevação que tinha certa dominância sobre a
região, além de fazer vistas para a rodovia 64, estrada esta que era um importante eixo de
suprimento aliado. Ela ligava as cidades de Bolonha e Florença, ambas localidades muito
importantes do solo italiano, pois possuíam grande infraestrutura para época. Cabe ressaltar
que o monte se localizava no Vale do Reno, região escolhida pelos alemães para fixarem suas
posições defensivas, quando no retraimento, tendo em vista suas peculiaridades devido a
grande quantidade de elevações que dominavam o local. O Vale do Reno se caracterizava por
ser uma região bastante sinuosa e montanhosa, com encostas bem escarpadas, as quais
constituíam um grande obstáculo às tropas que tentavam progredir a pé, ou seja, a infantaria.
Devido a essas peculiaridades do terreno, este local era ideal para a construção de
posições retardadoras por parte dos alemães, na tentativa de frear o avanço Aliado para o
norte.
Segundo Gigolotti (2003), no Vale do Reno encontravam-se diversos acidentes
capitais, dentre eles, obviamente, Monte Castelo, que possuía seu cume a 887 m de altitude.
Um quilômetro a sudoeste tinha-se o Monte Mazzancana, com o pico a 952 m de altitude
acima do nível do mar, e à sua esquerda tínhamos o Monte Belvedere, a 3 quilômetros e 1140
m de cota. Além dessas elevações, que tinham uma importância maior devido a proteção e um
flanqueamento direto sobre Castelo, existiam outras elevações menores, com uma média de
700 m de cota, porém não menos importantes, pois serviam como primeira linha de defesa de
Monte Castelo, por constituírem postos avançados de vigilância e até mesmo retardamento.
Ainda segundo Gigolotti (2003), não se pode deixar de mencionar as elevações à
retaguarda de Castelo que possuíam fundamental importância para a força oponente por
guarnecerem também essa elevação. Existiam o Monte da Capela dos Ronchidos com 1053 m
e o Monte Della Torraccia com 1093m, além de a nordeste ter os Montes Senevato e La Serra,
ambos com 956 m. Pode-se perceber que o próprio monte e vizinhança já se caracterizavam
por ser um grande obstáculo a ser superado, porém para dificultar ainda mais a progressão dos
escalões de infantaria, os nazistas ao prepararem suas posições defensivas neste baluarte,
estudaram muito bem o terreno e colocaram à frente do monte voltada para FEB, campos e
mais campos de minas, que causavam pesadas baixas entre os aliados.
Existiam também observatórios e posições de metralhadoras, todos sofisticados, com
grande visibilidade num ângulo de 270 graus, facilitando assim o trabalho por parte dos
alemães em cobrir uma área maior e ajustar os fogos de maneira correta sobre qualquer tropa
que viesse a progredir a pé em frente da elevação. Esses obstáculos facilitavam também a
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vigilância diurna e noturna sobre a rodovia 64, impedindo assim o suprimento por parte dos
aliados.
FIGURA 5 – Ambiente Operacional Fonte: http://www.defesanet.com.br
De acordo com Lima Junior (1982), à retaguarda da elevação existiam alojamentos
muito bem construídos, que se caracterizavam por fornecer grande conforto a tropa defensora,
sendo assim mais uma dificuldade, pois elevava o moral da tropa que viria a enfrentar os
brasileiros. Outro fator que dificultava também a maneabilidade infante era a grande
quantidade de lama que havia no local, que atolava muitas vezes até a altura dos joelhos,
retardando assim muito a progressão e impedindo o emprego de viaturas que viriam a
transportar armas e suprimentos para a tropa atacante que se encontrava disposta pelo terreno.
2.5 O primeiro ataque a Monte Castelo
Antes de falar do primeiro ataque dos pelotões da 1ª DIE, sob comando brasileiro, é
importante citar que forças brasileiras anteriormente, recém-chegadas a região de Monte
Castelo, realizaram ataques de grande elevação em conjunto com as forças norte-americanas
da “Task Force 45”, tropa americana especializada em área de montanha, que por duas vezes
lançou-se à conquista de Monte Castelo, isto ocorreu em dois dias sucessivos, 24 e 25 de
novembro. A FEB não foi empregada no ataque do dia 24 de novembro enquanto Divisão,
participando apenas o 3º Batalhão do 6º Regimento de Infantaria e o 1º Esquadrão de
Reconhecimento, integrados a Task Force 45, sob comando americano comandada pelo
General Paul Rutledge. Um batalhão brasileiro, o III/6º RI, e o Esquadrão de
Reconhecimento, também brasileiro, postos à disposição do Task Force 45, participaram
desses ataques. Sendo o comandante da FEB contrário ao emprego fragmentado da tropa
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brasileira, aceitou, as ponderações apresentadas pelo comandante do IV Corpo, que mostrava
exuberante confiança no êxito da operação.
Como exposto acima a FEB participou do ataque a Monte Castelo junto com os
norte-americanos, porém infelizmente não vieram a lograr êxito. A evidente desproporção
entre os meios empregados e os objetivos a conquistar, agravada pela falta de coordenação
entre unidades diferenciadas, permitiu que o inimigo impedisse o seu desalojamento do
baluarte por parte das forças aliadas.
Quem o afirma é o chefe da seção, que estava no PC do comandante do grupamento.Era a desarticulação prematura do ataque. O general comandante do DIE confirma,em seu relatório de campanha: “em consequência da precipitação da abertura dofogo pela artilharia americana, às 6 horas, o III Batalhão ultrapassou a base departida e desembocou, atingindo às 6, 30 (seis e trinta) a linha Le Roncole-casa deGuanella. O II Batalhão, atrasado, começou a deslocar-se às 8 horas, sendo logocolhido por barragens de artiharia e morteiros, na baixada Casa Guanella-La Cá-C,Viteline”. (CABRAL, 1987, p. 54)
Em face do objetivo de desinstalar os alemães da famosa Linha Gótica, que era balizada
por Garfagnana – Monte Belvedere – Monte Castelo – Castelnuovo, ou seja, do vale do
Serchio até o vale do Reno, depois seguindo na direção leste, até o Adriático, os brasileiros
junto aos americanos se lançaram ao ataque contra a verdadeira fortaleza de Monte Castelo.
Entretanto, em virtude da ofensiva aliada vieram a sofrer pesadas baixas em todos os
pelotões de ambas as forças aliadas, causado pelo intenso bombardeio de artilharia e morteiro
que caiam certeiramente, levando, assim, um generalizado desânimo ao ataque. Por este
motivo, os comandantes das pequenas frações tiveram que se desdobrar para manter o
controle de seus homens, que eram constantemente afetados em sua moral num curto espaço
de tempo. Além de tudo, ocorria também o espalhamento dos homens no terreno de forma
muito irregular como consequência das circunstancias vividas durante o ataque, necessitando,
assim, ainda mais dos esforços dos comandantes para manter a impulsão da progressão. Outro
fator decisivo que provocou o fracasso, como já explicitado a priori, foi à falta de
coordenação entre as forças atacantes. Tudo isto causado pela grande pressa dos norte-
americanos em ganhar ligeiramente terreno, fazendo com que não realizassem um
planejamento adequado em conjunto com os brasileiros que os apoiariam. Graças a isto,
surgiram diversas complicações na realização do ataque, pois era difícil a coordenação entre
as tropas atacantes. Entretanto, não se pode esquecer da diferença de línguas que na frente de
combate dificultava a comunicação e a integração entre uma tropa com a outra, afinal não
eram todos que sabiam falar um idioma de ambos. Todos estes problemas levaram os
brasileiros ao primeiro revés.
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O único trunfo que se teve do primeiro ataque foi à permanência dos pelotões
americanos em Monte Belvedere, pois o ataque ao Monte Castelo só poderia ser efetivamente
iniciado se houvesse certa neutralização dos montes vizinhos, já que apresentavam um grande
poder de defesa de flanco do Monte Castelo.
2.6 O segundo ataque a Monte Castelo
Após o ataque fracassado da tropa estadunidense junto à brasileira sobre comando
do General Paul Rutledge, norte-americano, o Brasil realizaria verdadeiramente seu primeiro
ataque sobre o comando do Marechal Mascarenhas de Moraes.
Com as novas ordens do 4º Corpo de Exército um novo ataque as posições alemãs
se iniciaria no dia 29 de novembro, exatos cinco dias após o último ataque. Novamente, a
ofensiva foi planejada com o objetivo de retirar os nazistas de suas posições para que eles
perdessem a dominância sobre a estrada 64 e os aliados pudessem prosseguir no rompimento
da linha de defesa Gótica.
Aliás, esse ataque considerado muito prematuro, pois era recente em relação ao
ataque anterior, fez com que os brasileiros tivessem que realizar grandes esforços para
conseguir agrupar os meios necessários à segunda investida, graças ao curto intervalo de
tempo.
Outro fator a considerar foi o emprego dos pelotões de fuzileiros de batalhões
novatos naquela área de operações, caracterizando assim mais um obstáculo que a FEB
enfrentaria em virtude da inexperiência e ao desconhecimento minucioso do terreno por parte
dos novos soldados que investiriam sobre o monte.
Não obstante, a segunda investida inicia-se após a penosa marcha dos pelotões de
fuzileiros dos batalhões da Força Expedicionária Brasileira até a linha de partida. Há de se
considerar que a longa duração do deslocamento e as condições do terreno, seriam fatores que
provocariam já algum desgaste prévio na tropa.
Como não podia deixar de ser, esses erros tiveram como consequência o sacrifícioda Infantaria. Novamente, tropas estranhas ao terreno foram lançadas ao ataque apósmarcharem horas por terreno encharcado de chuva e lama, e igualmente malalimentados, o que, nas condições climáticas locais, com o inverno se aproximando,aumentava a dificuldade da missão.(CABRAL, 1987, p. 49)
Após a transposição em horário previamente estabelecido da linha de partida, é iniciado
o ataque dos pelotões das companhias.
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Fato que não pode deixar de ser comentado é que antes mesmo da ultrapassagem
da Linha de Partida, os alemães conseguem expulsar os pelotões americanos de Monte
Belvedere com um excelente contra-ataque sobre as posições. Isto consistiria em mais um
fator que viria a dificultar os brasileiros no segundo ataque, antes mesmo da ultrapassagem da
linha de partida somado ao desgaste físico da marcha de deslocamento como dito no
parágrafo imediatamente acima deste.
De acordo com Lima Júnior (1982), inicia-se o ataque em horário estabelecido sobre a
posição de Monte Castelo. Entretanto os alemães que já haviam melhorado as posições em
decorrência do primeiro ataque, além de efetuarem maior preparo na amarração dos tiros tanto
de artilharia, como de morteiros e metralhadoras. Estes ajustes nos armamentos fizeram com
que mais uma vez os alemães impusessem pesadas baixas aos brasileiros que, conforme
ocorriam baixas na batalha, aos poucos o moral dos combatentes enfraquecia, pois assistiam
seus amigos caindo em virtude dos bens ajustados tiros das armas nazistas. Tiros estes que
vinham de todos os lados, deixando assim desnorteados os atacantes. Estes ataques
dificultavam o comando dos pelotões, pois a cada granada que caia, ocorria certa
desorganização no dispositivo. Esta desorganização era decorrente da busca dos homens por
cobertas e abrigos. Sem a posse dos montes Mazzancana e Belvedere, ficou ainda mais difícil
a conquista de Monte Castelo que era flanqueado diretamente por eles.
O que também contribuiu para o insucesso foi a carência de meios proporcionais
necessários à missão recebida, tal como equipamentos e armamentos específicos.
As chuvas, nevoeiro e outras adversidades naturais que diminuem a visibilidade,
prejudicaram o ataque à medida que a Força Aérea e a artilharia foram impossibilitadas de
atuar.
Dever-se-ia empregar ainda o efetivo mínimo de duas divisões sobre Belvedere
Castelo Torraccia, para assegurar o domínio de todos os acidentes capitais da região, cuja
posse era de vital importância para o prosseguimento tanto para o nordeste como para o leste,
pois o domínio das elevações assegurava o tráfego Aliado na estrada 64, rodovia fundamental
no transporte de apoio logístico, constituindo o melhor eixo de comunicações e abastecimento
do IV Corpo na direção de Bolonha.
Tem-se como importante ocorrência, além do terreno escarpado que fazia com que os
brasileiros realizassem verdadeiras proezas durante a execução das escaladas de Monte
Castelo, o fator meteorológico que se revezava entre chuva e neve e tinha como característica
principal e muito marcante o excessivo frio, com o qual os soldados brasileiros, acostumados
com o clima tropical, viriam a sofrer. Essa chuva e neve constantes que caíam acabavam
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influenciando no terreno, pois só vinham a piorar o lamaçal já existente, além de deixar
escorregadias as escarpas da elevação.
Segundo Moraes (1947), apesar de tudo faltou bem pouco para que se fosse conquistado
Monte Castelo, a tal ponto que alguns homens, mesmo com todas as dificuldades impostas,
chegaram a atingir o topo da elevação. Demonstrando com isto o grande poder combativo do
pracinha brasileiro que vencia as dificuldades como o terreno e as agruras do tempo. Porém,
infelizmente, aqueles que alcançaram o cume vieram a morrer. Além da grande precariedade
das comunicações, existia também a falta de posições adequadas que permitiam a instalação
de morteiros. Porém, um dos principais fatores, eram os flancos que se encontravam expostos
como já foi relatado. Mas, se a FEB conseguisse se apossar da elevação naquele momento não
estaria preparada nem com meios necessários para repelir o contra-ataque alemão que, com
certeza, se desencadearia num curto espaço de tempo, ataque esse que provavelmente viria de
Monte Della Torraccia.
É verdade que mais uma vez os pelotões de FEB viriam a ser repelidos daquela posição.
Contudo cabe ressaltar que a base de partida continuava sendo mantida, o que favorecia assim
outras ofensivas por parte dos aliados.
Embora os pelotões brasileiros tivessem adquirido bastante experiência, mais uma vez o
ataque malograva e os brasileiros tiveram um número considerável de baixas.
2.7 O terceiro ataque a Monte Castelo
Apesar do último revés, o Estado-Maior do IV Corpo de Exército Aliado, mantinha
como principal objetivo a conquista da elevação de Monte Castelo antes da chegada oficial do
inverno, que mesmo apesar do frio que já ocorria, o frio mais severo ainda não havia
começado, Monte Castelo possuía comandamento sobre todas as elevações em seu entorno e
era de vital importância para o controle da via de acesso, estrada nº 64, que dava acesso a
Bolonha, viabilizando a logística da tropa.
Pouco faltou para que conquistássemos Monte Castelo: alguns de nossos homenschegaram a atingir o topo da elevação. Mas, se conseguíssemos nos apossar dessaelevação, nossas condições seriam tão precárias que não teríamos meios de repeliros vigorosos contra-ataques que o inimigo, em curto prazo, teria possibilidade dedesencadear do Monte Della Torraccia. Dali fomos repelidos duas vezes, é verdade,mas sempre conservando nossas bases de partida.(DE MORAES, 2014, p.259)
Com isto foi planejado que o dia 12 de dezembro de 1944 seria o dia em que se
desencadearia o ataque mais uma vez a suntuosa elevação. E, sobre condições atmosféricas
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muito piores que a das investidas anteriores, ocorre a progressão. Porém, desta vez, no dia
anterior, graças ao intervalo maior de tempo com relação ao último ataque, a artilharia aliada
teve a chance de realizar fogos sobre a frente das posições alemãs, destruindo assim grande
parte dos campos de minas que vinham impondo valorosas baixas e retardamento durante a
progressão para elevação. Com isto, houve uma preparação melhor do terreno por parte dos
brasileiros.
De acordo com Moraes (1947), outro fator de relevante importância foi a coordenação
brasileira com as tropas estadunidenses, no qual a artilharia americana não desencadearia
fogos durante o ataque, buscando, deste modo, o máximo de surpresa possível. Entretanto,
não foi isto que ocorreu, a artilharia aliada, precisamente por parte dos americanos,
desencadeiam uma barragem sobre o Monte Belvedere, quebrando totalmente o sigilo do
terceiro ataque sobre Monte Castelo. Isto viria a ser uma falha imperdoável durante o
transcorrer das ações dos pequenos escalões de infantaria. Antes da quebra de sigilo tudo
transcorria favoravelmente as tropas brasileiras, pois, havia uma chuva bastante fina com a
presença de um nevoeiro que ocultava as vistas nazistas caracterizando assim, uma excelente
cobertura para o sigilo da ação, que levaria a surpresa.
Ainda de acordo com Mores (1947), com a quebra do sigilo por parte dos americanos,
os pelotões brasileiros se viram obrigados a iniciar o seu ataque sobre a posição inimiga,
ataque prematuro que já indicava um possível e novo fracasso. Porém os brasileiros assim o
fizeram com grande determinação e partiram com bastante agressividade para cima dos
alemães. Contudo, os problemas que já haviam sido destacados em ataques anteriores vieram
mais uma vez a aparecer, complicações estas como por exemplo, grandes dificuldades das
comunicações entre os pequenos escalões, que dificultavam muito a coordenação e controle
das frações por parte dos comandantes. Caíam também sobre as cabeças brasileiras, mais uma
vez, ajustados fogos de morteiro da pesada artilharia nazista. Não se pode esquecer também,
que as metralhadoras alemãs varriam toda a frente da elevação, retardando muito o
desenvolver da progressão dos pelotões brasileiros.
A impossibilidade de apoio de fogo da Força Aérea era outro descrédito das
tropas aliadas, pois não havia boa visibilidade, devido às péssimas condições meteorológicas
para tal fim. Havia também uma grande quantidade de fogos no flanco da tropa do Exército
Brasileiro, que vinham diretamente mais uma vez dos Montes Belvedere e Monte
Mazzancana, ambas elevações que se encontravam nos flancos de Monte Castelo, que muito
afetavam a progressão dos pelotões que avançavam.
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Apesar de tudo, novamente, graças ao grande destemor do combatente brasileiro,
alguns pelotões conseguiram passar pelas barragens inimigas e pelas posições de
metralhadoras que atingiam toda frente e os flancos com sua grande quantidade de fogos,
quase ininterruptos.
Entretanto grande parte da tropa atacante ficou detida, impedindo assim que
os pelotões que já haviam ultrapassado e se aproximado consideravelmente do cume da
elevação, prosseguissem no avanço contínuo. Tiveram eles que retornar para a Linha de
Partida para evitar que fossem capturados pelos alemães após o recuo das tropas brasileiras
detidas.
Mais uma vez graças à falha de planejamento dos escalões superiores, os pelotões
não conseguiram realizar suas ações de forma eficiente, sendo mais um ataque tido como
fracassado.
Vale destacar que foram as condições meteorológicas que, de início estavam
ajudando os aliados durante o deslocamento em direção a Monte Castelo, quando quebraram
o sigilo, ficaram contra os aliados, pois, da mesma forma que os alemães possuíam
dificuldades para enxergar, os brasileiros também a tinham e o frio, como sempre, se fazia
presente, dificultando assim as ações dos homens.
Fato que não pode ser omitido é a extensa frente com a qual os brasileiros já
vinham combatendo a um tempo, ocorrendo assim um grande uso de efetivos à frente,
desgastando cada vez mais a tropa. Após o malogro, da terceira investida, ocorre a
Conferência de Taviano, no qual se apreciaria as causas do insucesso da missão. Apreciadas as
causas, decide-se, por falta de meios adequados, que se afiguravam irremovíveis à época, que
as operações ofensivas ficariam suspensas temporariamente. Iniciar-se-ia assim uma nova
fase, a estabilização.
Esta estabilização se dava graças, também, ao poderoso inverno que havia
chegado que deixou toda linha defensiva alemã coberta de neve, o que impedia também uma
operação de grande envergadura sobre o inimigo alemão. Este poderoso inverno italiano,
quando chegou ao seu ápice, veio mostrar aos brasileiros que suas armas tinham mais algumas
limitações além das conhecidas. Uma dessas limitações era o congelamento dos mecanismos
do Thompson, fuzil utilizado pelos pracinhas.
Fato este que obrigava, quando de serviço e na hora, que um soldado vigiasse e outro
ficasse atritando o armamento na tentativa de descongelá-lo.
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As únicas operações realizadas durante esse penoso inverno, com objetivo de
busca de informações do inimigo nazifascista, foram os lançamentos de patrulhas agressivas
de reconhecimento.
Com este cessar fogo intenso temporário, os combatentes brasileiros souberam se
adaptar muito bem durante todo o inverno, que quase toda totalidade jamais tinha passado,
tendo em vista que a tropa era originária de um país tropical.
2.8 O último ataque a Monte Castelo
Segundo Moraes (1947), no dia 21 de fevereiro de 1945, após relativa tranquilidade na
área de batalha provocada pelo inverno, começaria a jornada da ofensiva decisiva sobre
Monte Castelo. Muitos foram os ensinamentos tidos durante todos os ataques anteriores às
posições defensivas alemãs tanto de Monte Castelo como às elevações vizinhas como
Belvedere e Mazzancana, que realizavam fogos bem ajustados sobre os pelotões que
guarneciam os flancos.
Dentre as lições aprendidas durante os insucessos anteriores tivemos, a necessidade de
duas divisões atacando e não só uma, grande necessidade de apoio de fogo de artilharia e
aéreo, para facilitar a progressão.
Os insucessos dos ataques a Monte Castelo foram decorrentes de diversos fatores,
relacionados à falta de apoio de carros de combate e de apoio aéreo aproximado, de erros na
execução do apoio de fogo de artilharia, mas, sobretudo na insistência do Gen Crittemberg em
determinar ataques frontais a uma posição fortemente organizada, com efetivo insuficiente e
em terreno impraticável a ataques dessa natureza.
Foi durante o inverno, tendo pleno conhecimento dos erros, que os comandantes
brasileiros realizaram um excelente planejamento e tiveram tempo para conseguir adquirir
novos materiais, para que não viessem a faltar meios durante o ataque.
Segundo De Moraes (2014), os brasileiros já recuperados dos insucessos do outono de
1944, ansiavam ardorosamente por nova oportunidade de atacar esse baluarte alemão, tão
logo cessasse o rigor da estação hibernal.
A ofensiva se inicia com o ataque dos pelotões da 10ª Divisão de Montanha
Americana atacando e procurando neutralizar as posições defensivas nazistas que se
encontravam na encosta de Monte Belvedere. Tudo isto para evitar o conhecido ataque de
flanco dos defensores.
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Ocorria durante o mesmo tempo sobre a elevação de Mazzancana, um grande
ataque da Força Aérea sobre os nazistas que lá se encontravam guarnecendo a elevação. A
Força Aérea assim deu o apoio de fogo eficaz a Força Expedicionária Brasileira arrasando a
elevação em questão. Com as duas elevações que flanqueavam Monte Castelo neutralizadas,
os pelotões brasileiros puderam progredir sem receberem fogos ajustados de morteiros e
metralhadoras em seus flancos que diversas vezes ocorreram em taques anteriores.
Os pracinhas brasileiros avançavam com grande destemor para cima dos germânicos e,
ao contrário do ocorrido nas ofensivas que sucederam este ataque, a artilharia aliada não
falhou em sua missão, realizando fogos altamente ajustados e eficazes sobre a verdadeira
fortaleza que se constituía Monte Castelo, facilitando, assim, a manobra dos pelotões
brasileiros durante a progressão pelo terreno que não deixara de ser difícil devido a grande
quantidade de lama e encostas escarpadas da elevação. Obviamente, os combatentes
brasileiros, ao verem o bombardeamento das elevações vizinhas e de Monte Castelo
funcionando e surtindo efeito, além de verem os aviões da Força Aérea atuando, se animaram,
pois eles começavam a confiar cada vez mais na vitória que estava por vir, empolgando os
brasileiros a avançarem em direção ao baluarte com grande entusiasmo. Com isso, duas
divisões, a 10ª de Montanha e a brasileira em grande ação combinada, altamente apoiadas
pela artilharia aliada e a aviação, conseguiram obter toda a necessária vantagem pessoal e
material, indispensável a quem ataca uma posição defensiva muito bem organizada, tanto que
resistiram a três ataques posteriores. Com os meios necessários e em superioridade, a manobra
planejada permitiu que a tropa brasileira se desdobrasse pelo flanco direito de Monte Castelo,
evitando assim o desgaste de ataques frontais realizadas nas tentativas anteriores, infelizmente
todas frustradas. Após doze horas de excessivo combate, o inimigo enfraquece e a tropa
consegue desalojá-lo definitivamente das suas posições do já temido e sinistro Monte Castelo.
Segundo Silveira (1993), às 17h50min a voz do Major Franklin vem, forte, pelo rádio:
‘Estou no cume de Monte Castelo’. E pede fogo da artilharia sobre posições inimigas além do
monte. ‘Castelo é nosso’, me diz o General Cordeiro.
Findo o ataque e a conquista do baluarte, as frações tomaram novos dispositivos
na elevação, tudo com a finalidade de consolidar o objetivo conquistado a muito tempo
almejado, ficando assim em condições de destruir qualquer contra-ataque alemão que
estivesse por vir.
A conquista de Monte Castelo, pelos brasileiros, que se caracterizou por ser um
sumidouro de dezenas de vidas brasileiras, constituiu um enorme dever de consciência e
imperativo de dignidade militar. Foi uma vitória militar e um triunfo moral.
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Com a vitória, a Força Expedicionária Brasileira escreveu o capítulo mais emocionante e
sensacional de sua história.
Monte Castelo representou a preliminar gloriosa das vitórias brasileiras no Vale do
Reno, exaltando a honra, a dignidade e a força das armas brasileiras para a conquista de
outros triunfos que estavam por vir.
Os soldados brasileiros tiveram uma das mais difíceis experiências do Teatro de
Operações durante a batalha de Monte Castelo, local onde se podem tirar muitos
ensinamentos sobre a forma como se devem progredir as pequenas frações em combate. Pois,
são com essas pequenas frações conquistando terreno, que as grandes frações, no caso a
divisão da Força Expedicionária Brasileira, conquista terreno logicamente.
Esta vitória demonstrou também a bravura e a forma heroica com que os pracinhas
brasileiros se portaram durante toda a duração da batalha.
3. CONCLUSÃO
Diante do exposto acima, pode-se constatar que as tropas da Força Expedicionária
Brasileira, que atuaram na Batalha de Monte Castelo, passaram por diversas dificuldades,
desde seu preparo até o seu emprego, rumo à conquista do grande baluarte que era Castelo. O
embate entre brasileiros e alemães acabou tornando-se uma grande epopeia, que recebe
delicados estudos, atualmente, sobre a atuação e o emprego das tropas brasileiras durante a
batalha. Vários foram os feitos da Força Expedicionária Brasileira na tomada de Monte
Castelo, lá dificuldades com a adaptação ao frio, ao novo armamento e ao terreno foram
superadas por nossos “pracinhas”, para que pudéssemos hoje desfrutar dos direitos e valores
democráticos em nossa Nação.
O Brasil emergente da ilusória coalizão que derrotou o totalitarismo nazifascista não era
mais o mesmo, ganhou dimensão estratégica e importância geopolítica continental e mundial.
Na área militar, como os meios empregados não eram proporcionais às missões recebidas e
em razão do mau tempo não dispunha de suficiente apoio de artilharia e aviação, várias lições
e ensinamentos foram incorporados a nossa doutrina. Diante do exposto acima, o cenário de
Monte Castelo foi capitulado com reveses e a merecida vitória que exaltou a honra e a
dignidade da Força Expedicionária Brasileira, para conquista de outros triunfos.
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