VIÉS ou VÍCIO ou TENDENCIOSIDADE ou ERRO SISTEMÁTICO ou “BIAS”
ESCAIOLA OU
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MANUAL DE EXECUÇÃO DA ESCAIOLA
“ESCAIOL”
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ESCAIOLA OU “ESCAIOL”
No intuito de ajudar a preservar uma técnica tradicional em vias de se perder,
existente em todo o país, mas com maior incidência na região Algarvia, resolvemos
criar este manual de apoio à execução.
A escaiola ou “escaiol”, como é referido pelos algarvios, é um acabamento usado em
paredes exteriores e interiores. Insere-se nos acabamentos à base de cal, pois este é o
único ligante empregue.
O seu emprego, hoje em dia, é muito limitado devido à falta de operários que o saibam
executar. Os que o sabiam fazer já se encontram em avançada idade e é através deles
que conseguimos recolher as informações técnicas para a execução deste tipo de
acabamento, que é uma pena vir a perder-se.
Esta forma de expressão já existe há muitos anos, desde a ocupação romana, na
península ibérica. A sua execução visa o isolamento dos paramentos e a decoração dos
mesmos. Os temas dessa decoração são em geral a imitação do fingido de pedras de
mármore e de arenitos.
A sua técnica de execução é muito similar à técnica da escaiola e dos fingidos de
mármore. A diferença prende-se essencialmente com os materiais empregues, pois na
sua execução são apenas utilizadas areia e terras naturais, cal apagada por imersão e
pigmentos naturais.
As suas principais anomalias são as infiltrações de águas na base (paredes) quer por
capilaridade subindo dos solos, quer por infiltrações, por deficiências das coberturas.
Encontram-se ainda bastantes exemplos em perfeito estado de conservação. Cremos
que os proprietários e as autarquias deviam tudo fazer para os manter e incentivar a
sua prática, como testemunha da arquitectura e da cultura regional.
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Ilustração 1 (Casa algarvia) - Paderne
Ilustração 2 (Casa algarvia) - Faro
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Os materiais
Os materiais empregues são:
A areia- deve ser limpa, isenta de matérias orgânicas, pedaços de árvores ou carvão. A
areia destinada às camadas finais da escaiola deve ser crivada muito fina peneiro de
0,5mm.
As terras- obtidas nas proximidades da obra devem ter alguma argila e crivadas muito
finas, com um crivo que permita apenas a passagem de grânulos de 0,5mm
(apresentar-se em estado de quase pó). É difícil descrever qual a mais indicada pois só
os muitos anos de experiencia nos permitem perceber se é a indicada ao trabalho a
realizar. É importante que a terra a empregar contenha uma quantidade de
aproximadamente 70% de argilas. Estas terras têm ainda influência na textura da base,
pois toma a cor da rocha de que estas provêm.
A cal- cal branca apagada e crivada com uma antecedência de alguns meses (quanto
mais tempo, melhor o desempenho). De preferência cal em pedra em vez de cal
micronizada.
Ilustração 3 (Apagar a cal)
Definição
A cal virgem, na verdade o óxido de cálcio, também conhecida como cal viva, quando
em contacto com água torna-se o que chamamos de cal hidratada, na reacção
CaO+H2O+Ca(OH)2. Este processo de transformação liberta muito calor, conhecido
popularmente como caldeamento.
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A cal é um material de baixo custo, disponível no mercado, e de larga utilização na
construção civil, sobretudo na pintura barata para produção de argamassa de
revestimento, assentamento de tijolos ou pintura.
Características
As características da cal são:
•Estado físico – sólido;
•Forma- pó fino;
•Cor- branca;
•Odor- Inodora;
•P e s o- 74,1 g/molécula;
•PH a 25ºC- 12,4;
•Densidade- 2,34 g/cm3;
•Solubilidade água, glicerol;
•Pureza- 90 %;
Em função de algumas propriedades que possui, devemos ter em conta algumas
características importantes para sua utilização:
•Endurece facilmente em contacto com o ar;
•Quando utilizada em argamassa de revestimento, não deve receber outra camada
superior antes de alguns dias para que endureça;
•Em geral encontrada no mercado em sacos de 5, 20, 25 e 40Kg;
•Deve ser apagada em bidões de chapa e crivada, de preferência, logo após o seu
caldeamento;
•A cal reduz a permeabilidade da argamassa, aumenta a sua plasticidade e a
trabalhabilidade;
•Diminui o custo da argamassa.
Ilustração 4 (Apagar a cal)
70%
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Para apagar a cal deve:
- Deitar água limpa no bidão até cerca de 70% da capacidade do mesmo;
- Deve escolher as pedras de maior dimensão e se necessário parti-las com um martelo
ou com um maço;
- Deve mexer continuamente e ir adicionando mais pedras de cal, até obter uma massa
homogénea.
Nota: Um bidão de 200 litros leva aproximadamente 4 a 5 arrobas de cal.
Ilustração 5 (Passar a cal)
CABAÇO
PASSADOR PREVIAMENTE MOLHADO
TABUINHAS
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Pigmentos- de preferência obtidos de terras naturais. São empregues as cores que se
podem obter e a sua combinação de acordo com o tipo de padrão a executar.
Ilustração 6 (Exemplos de alguns pigmentos)
Actualmente pode-se comprar-se na maior parte das drogarias especializadas.
Existem pigmentos naturais (orgânicos e inorgânicos) e sintéticos.
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O pó de jaspe (talco) industrial, obtido igualmente em drogarias, que serve para o
polimento final dos paramentos
As ferramentas
Ilustração 7 (Colher de folha)
Ilustração 8 (Colher de pedreiro de bico)
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Ilustração 9 (Talocha plástica)
Talocha de madeira
Ilustração 10 (Lisosa)
Ilustração 11( Colher de afagar)
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Ilustração 12 (Colher de brunir)
Ilustração 13 (Pinceletas)
Ilustração 14 (Esponjas naturais)
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Ilustração 15 (Lápis de carvão)
Ilustração 16 (Régua)
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Ilustração 17 (Baldes)
Ilustração 18 (Crivo)
A Técnica de execução da escaiola.
A escaiola é aplicada sobre um reboco previamente executado em argamassa à base
de cal. Não se deve utilizar sobre rebocos de cimento.
O reboco deve ter apenas o acabamento resultante do desempeno com a régua e já
estar suficientemente firme para que possa receber os barramentos.
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Ilustração 19 (Parede desempenada em reboco de cal)
Antes de iniciar a escaiola, deve prepara a massa de barramento da 1ª camada que
deve ser constituida por uma argamassa de cal e terra previamente testada e crivada,
por crivo de 0,5mm, nas proporções de um volume de cal para um volume de terra.
Esta massa deve ser calculada em função da área a revestir, para não ter de voltar a
fazer mais massa.
A sua aplicação pode ser efectuada com a talocha ou com a lisosa metálica, apertando
bem a massa e o seu desempeno feito com a talocha ou com a desempenadeira, para
que não tenha uma espessura superior a 1mm/2mm.
De seguida e após verificar que a camada já se encontra em fase de presa, preparar a
massa para a 2ª camada que deve ser constituida por um traço nas proporções de 60%
de cal e 40% de terra. Esta camada tem a finalidade de aproximar mais a massa da
base da fase do afagamento, ficando com o menor número de poros possível.
Esta camada não deve ser superior a aproximadamente 0,8mm, o que é possível visto
a densidade da pasta.
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Ilustração 20 (Exemplo de padrão possível)
Após a estabilização desta camada, deve aplicar um barramento utilizando apenas a
pasta de cal devidamente crivada e afagá-la com a lisosa ou com a colher de afagar de
estucador de forma a preencher todos os poros, que possam restar da camada
anterior, puxando-a muito bem.
Se esta camada não ficar devidamente compacta e lisa, pode aplicar nova passagem de
forma a regularizar a superfície.
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Ilustração 21 (Padrões possíveis)
Após a regularização de toda a superfície, com a ajuda de uma régua e de um nível,
deve marcar as imitações das juntas das pedras com um lápis de carvão.
De seguida, começa por preparar os pigmentos que escolheu para decorar o painel e
aplica-os sobre a superfície já regularizada com a ajuda de uma esponja natural, de um
pincel fino, de uma pena ou até com a espátula, em função do elemento decorativo.
Após esta primeira composição, e se pretender imitar veios da pedra ou limites de
placas, marca-os com um pincel fininho com a configuração que entender.
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Ilustração 22 (Exemplo de desenho possível)
Com uma boneca de pano, cheia de pó de jaspe e aplicando-a sobre a superfície,
polvilha a mesma e, com a ajuda da colher de brunir, afaga toda a superfície em
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movimento circulares apertando bem, até que toda a superfície fique suficientemente
polida e com a textura que imaginou.
Ilustração 23 (Padrões possíveis)
No desenvolvimento do revestimento é possível interromper o desenho da decoração
recorrendo-se ao traçado da imitação de placas de pedra, com a marcação no
paramento dos limites com o lápis de carvão e não deixando remates visíveis na
continuação no dia seguinte.
Há que ter em atenção as selecções das terras e manutenção dos traços das massas de
barramento, para que todo o paramento fique com a mesma textura de acabamento.
Seleccionando para o efeito as quantidades necessárias à execução do paramento, o
que não é muito difícil visto não serem necessárias grandes quantidades.
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Ilustração 24 (Padrões possíveis)
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Ilustração 25 (Padrões possíveis)
Ilustração 26 (Exemplo de imitação de mármores)