Ergonomia Informacional - Abate Frangos

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1 Ergonomia informacional: sistemas de informação e comunicação na gestão de riscos de acidentes numa planta de abate de frangos Fabiano Takeda (UTFPR) [email protected] Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR) [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta um estudo da contribuição da ergonomia informacional na gestão de riscos de um abatedouro de aves localizado na região noroeste do Paraná. O estudo foi realizado com dados de investigações de acidentes fornecidas pelo SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho da empresa em estudo. Nestas investigações foram analisadas as três máquinas que mais ocorreram acidentes de trabalho nos anos de 2005 à 2008. O foco do estudo se deu na elaboração de um programa de gestão centralizado no sistema de informação e comunicação necessários para controle de riscos de acidentes e ajuda na tomada de decisões no ambiente de trabalho. Os resultados demonstrados na pesquisa foram satisfatórios tanto aos empregados e empregadores, visto que os números de acidentes diminuíram após a implantação do programa de gestão de riscos, mantendo um nível satisfatório de conforto, segurança e produtividade. Palavras-chave: Ergonomia informacional; Sistemas de informação e comunicação; Gestão de riscos. 1. Introdução Atualmente as empresas buscam cada vez mais serem competitivas frente ao mercado, procuram acirradamente produzir em alta escala com custos menores, onde, a produtividade, a competitividade e a qualidade são vitais para todos os setores. Com isso, as empresas estão cada vez mais buscando diminuir os riscos existentes nos locais de trabalho através de técnicas de gestão, maximizando a produtividade e o nível de segurança dos trabalhadores. O trabalhador passou a ser peça fundamental nos sistemas produtivos, e, atenção tem dado a adaptação do trabalho ao homem que o executa e quanto maior a adaptação e satisfação do trabalhador, maior serão as chances de alcançar a produtividade pretendida. Com a intensa competição empresarial, com a busca da produtividade, qualidade e eficiência, surgem perturbadoras inquietações dos gestores sobre quais os procedimentos a serem adotados para permitir que a organização sobreviva e possa alcançar seus objetivos. É indiscutível a importância de um ambiente adequado ao desenvolvimento do trabalho, ou seja, um ambiente projetado para se adaptar ao trabalhador de modo a proporcionar conforto e segurança ao mesmo. Um ambiente bem projetado, sob o ponto de vista da ergonomia, não só beneficia o trabalhador, mas traz vantagens às organizações já que eleva o nível de produtividade. O envolvimento dos trabalhadores na elaboração e implementação de medidas prevencionistas é uma maneira simples e prática de dar eficácia às iniciativas no campo da segurança do trabalho, já que deste modo se comprometem os principais interessados com a obtenção de resultados. Nesta ótica, a prevenção não é uma questão que possa ficar na dependência da boa vontade de uns ou do senso de cooperação de outros, pois tem

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Ergonomia informacional: sistemas de informação e comunicação na gestão de riscos de acidentes numa planta de abate de frangos

Fabiano Takeda (UTFPR) [email protected]

Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR) [email protected]

Resumo: Este trabalho apresenta um estudo da contribuição da ergonomia informacional na gestão de riscos de um abatedouro de aves localizado na região noroeste do Paraná. O estudo foi realizado com dados de investigações de acidentes fornecidas pelo SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho da empresa em estudo. Nestas investigações foram analisadas as três máquinas que mais ocorreram acidentes de trabalho nos anos de 2005 à 2008. O foco do estudo se deu na elaboração de um programa de gestão centralizado no sistema de informação e comunicação necessários para controle de riscos de acidentes e ajuda na tomada de decisões no ambiente de trabalho. Os resultados demonstrados na pesquisa foram satisfatórios tanto aos empregados e empregadores, visto que os números de acidentes diminuíram após a implantação do programa de gestão de riscos, mantendo um nível satisfatório de conforto, segurança e produtividade. Palavras-chave: Ergonomia informacional; Sistemas de informação e comunicação; Gestão de riscos.

1. Introdução

Atualmente as empresas buscam cada vez mais serem competitivas frente ao mercado, procuram acirradamente produzir em alta escala com custos menores, onde, a produtividade, a competitividade e a qualidade são vitais para todos os setores. Com isso, as empresas estão cada vez mais buscando diminuir os riscos existentes nos locais de trabalho através de técnicas de gestão, maximizando a produtividade e o nível de segurança dos trabalhadores.

O trabalhador passou a ser peça fundamental nos sistemas produtivos, e, atenção tem dado a adaptação do trabalho ao homem que o executa e quanto maior a adaptação e satisfação do trabalhador, maior serão as chances de alcançar a produtividade pretendida.

Com a intensa competição empresarial, com a busca da produtividade, qualidade e eficiência, surgem perturbadoras inquietações dos gestores sobre quais os procedimentos a serem adotados para permitir que a organização sobreviva e possa alcançar seus objetivos.

É indiscutível a importância de um ambiente adequado ao desenvolvimento do trabalho, ou seja, um ambiente projetado para se adaptar ao trabalhador de modo a proporcionar conforto e segurança ao mesmo. Um ambiente bem projetado, sob o ponto de vista da ergonomia, não só beneficia o trabalhador, mas traz vantagens às organizações já que eleva o nível de produtividade.

O envolvimento dos trabalhadores na elaboração e implementação de medidas prevencionistas é uma maneira simples e prática de dar eficácia às iniciativas no campo da segurança do trabalho, já que deste modo se comprometem os principais interessados com a obtenção de resultados. Nesta ótica, a prevenção não é uma questão que possa ficar na dependência da boa vontade de uns ou do senso de cooperação de outros, pois tem

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implicações econômicas e sociais extremamente relevantes.

Para o empresário, as informações mapeadas em sua planta industrial são de grande interesse para gestão de riscos que contribui na redução de acidentes.

Na era do conhecimento, onde a informação é considerada um dos principais patrimônios de grande parte das organizações, esta deve ser tratada como tal, sendo disponibilizada a todos os níveis envolvidos numa planta industrial.

Assim, neste artigo é apresentado qual a contribuição dos sistemas de informação e comunicação na gestão de riscos de acidentes numa planta de abate de frangos.

As mudanças tecnológicas e as novas técnicas de gestão dos negócios têm causado várias alterações nos métodos e processos de produção e uma das alternativas para acompanhar estas mudanças é proporcionar aos colaboradores condições adequadas para que estes possam exercer suas tarefas e atividades com conforto e segurança. Assim, é necessário projetar o posto de trabalho e organizar o sistema de produção.

O estudo da adaptação confortável e segura entre o trabalhador e as condições do seu trabalho é feito através de um conjunto de disciplinas chamado ergonomia.

A ergonomia contribui para que o trabalho seja fonte de saúde para as pessoas e produtividade para as empresas, pois, ela possibilita que as pessoas desenvolvam suas atividades em condições favoráveis a promoção da sua saúde e prevenção de riscos e doenças do trabalho e ao mesmo tempo possibilita que o local de trabalho seja bem dimensionado.

Trabalhar com saúde e eficácia é fundamental para as pessoas e empresas que buscam participar de um mundo de alta exigência e acirrada competitividade.

A ergonomia contribui para manter um nível de qualidade de vida aos trabalhadores que por sua vez são peças fundamentais para obtenção da produtividade. O objetivo da ergonomia é otimizar o desempenho dos sistemas produtivos e melhorar tanto a eficiência humana quanto a do sistema, a partir da modificação da interface entre os operadores e os maquinários.

2. Ergonomia Informacional

A ergonomia estuda as características dos trabalhadores para em seguida projetar o local de trabalho de acordo com suas necessidades preservando a sua saúde. Moraes & Mont’Alvão (2000) comentam que a ergonomia busca melhorar as condições especificas do trabalho humano, em conjunto com a higiene e segurança do trabalho e que o atendimento aos requisitos ergonômicos possibilita maximizar o conforto, a satisfação e bem estar, garantindo a segurança dos trabalhadores, minimizando constrangimentos, custos humanos e otimizando as tarefas, o rendimento do trabalho e a produtividade do sistema homem-máquina.

De acordo com Grandjean & Kroemer (2005) podemos definir a ergonomia como a adaptação do trabalho ao homem para a realização dos seus objetivos. Neste conceito a ergonomia estuda uma diversidade de fatores relacionados com o homem, a máquina, o ambiente, a informação, a organização, e as conseqüências do trabalho na saúde do trabalhador, sendo uma de suas características a interdisciplinaridade, pois diversas áreas do conhecimento lhe dão sustentação para alcançar seus objetivos.

Existem diversas definições para ergonomia e de acordo com Iida (2005) todas as definições de ergonomia procuram ressaltar o caráter interdisciplinar e o objeto de seu estudo, que é a interação entre o homem e o trabalho, ou seja, as interfaces do sistema onde ocorrem as trocas de informações e energias entre o homem, máquina e ambiente, resultando na

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realização do trabalho.

Partindo destes conceitos o trabalho teve enfoque na ergonomia informacional que de acordo com Melo (2007) é a disciplina envolvida na análise e design da informação com objetivo de instruir os usuários de maneira eficaz e eficiente, os processos e meio de trabalho, tendo como conseqüência a satisfação dos usuários respeitando suas diversidades em termos de habilidades e limitações.

Para Santos & Fialho (1997) a ergonomia informacional é responsável pela: visibilidade, legibilidade, compreensão e quantificação de informação, priorização e ordenação, padronização, compatibilização e consistência, componentes signicos – caracteres alfanuméricos e símbolos iconográficos, de sistemas de sinalização de segurança ou de orientação, de painéis sinópticos, telas de monitores de vídeo e mostradores, de manuais operacionais e apoios instrucionais.

Verifica-se que a vocação principal da ergonomia informacional é recuperar o sentido antropológico do trabalho, gerar conhecimento atuante e reformador que impede a alienação do trabalhador, valorizando o trabalho.

Seja qual for a área da ergonomia, o seu objetivo independentemente da linha de atuação, ou as estratégias e os métodos que utiliza, é o homem trabalhando em seu posto de trabalho, ou seja, realizando sua tarefa cotidiana. O homem deve ser o centro das atenções e que todo o ambiente de trabalho deve-se adaptar as suas necessidades laborais.

Cabe a ergonomia através de suas técnicas proporcionar ao homem o estreito equilíbrio entre si mesmo, o seu trabalho e o ambiente no qual este é realizado, em todas as suas dimensões

A ergonomia quando aplicada e seguida corretamente nas empresas permite ao empregado e empregador saúde, conforto e segurança, ou seja, produtividade, devido a melhoria das condições de trabalho oferecidas aos trabalhadores.

3. Sistemas de Informação e Comunicação em Plantas Industriais

O homem assim como todos os seres vivos, coleta no meio ambiente que está inserido as informações necessárias à sua adaptação ou a sua sobrevivência neste meio. Estas informações se constituem de sinais, regras e símbolos que devem ser detectados pelo homem.

De acordo com Iida (2005) a informação pode ser considerada uma transferência de energia que tenha algum significado em uma dada situação. Como o homem interage continuamente com outras pessoas, máquinas e o ambiente em que ele se encontra, há uma troca contínua de informações entre esses elementos, nos dois sentidos, ou seja, recebendo e transmitindo informações.

Para que a informação e comunicação sejam transmitidas é necessário haver uma fonte, um meio e um receptor. De acordo com Iida (2005) a comunicação só ocorre quando o receptor recebe e interpreta corretamente a mensagem que a fonte deseja transmitir. De posse desta informação o individuo pode tomar uma decisão ou armazenar na memória para uma futura decisão.

Para que o ser humano possa tomar decisões no meio industrial, ele deve receber e processar as informações fornecidas pelos dispositivos de informação e comunicação existentes no ambiente de trabalho. Principal atenção é dada para visão e audição no contexto de trabalho. A visão, em particular, se destaca como o principal órgão para recepção de

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informações no trabalho.

Existem diversos modos de apresentar as informações através de dispositivos, tais como:

a) Menus visuais e auditivos;

b) Palavra escrita;

c) Símbolos;

d) Mostradores;

e) Alarmes.

Segundo Melo (2007), as informações podem ser transmitidas para as seguintes classificações:

a) Mensagem reguladora (informa as regras vigentes no sistema);

b) Mensagem de indicação de condição segura (transmite informações em que o usuário poderá encontrar segurança numa emergência);

c) Mensagem de ação mandatória (ordena que o usuário obedeça às normas de segurança);

d) Mensagem de proibição (informa às ações que não são permitidas);

e) Mensagem de advertência ao risco (adverte os usuários sobre os riscos);

f) Mensagem de identificação de perigo (isolam áreas perigosas).

Cruz (2006), relata que, como formas de comunicação e sinalização a norma estabelece três tipos distintos: a visual – onde se utilizam textos ou figuras, a tátil – por meio de caracteres em relevo (braille ou figuras) e a sonora – onde são usados recursos auditivos.

Os tipos de sinalização podem ser denominados:

a) Permanente – identifica os diferentes espaços ou elementos de um ambiente, da edificação como um todo, ou, no caso do mobiliário, os comandos;

b) Direcional – indica a direção de um determinado percurso ou a distribuição espacial dos diferentes elementos de uma edificação;

c) De emergência – indica as rotas de fuga e saídas de emergência dos ambientes e das edificações como um todo ou ainda para alertar um perigo iminente;

d) Temporária – indicativos de informações provisórias ou que possam ser alertadas periodicamente.

Para o empresário, as informações mapeadas são de grande interesse com vista à manutenção e ao aumento da competitividade, prejudicada pela descontinuidade da produção interrompida por acidentes. Também permite a identificação de pontos vulneráveis na sua planta.

4. A Importância do Sistema de Gestão de Riscos de Acidentes

Toda e qualquer empresa ou atividade empresarial está sujeita a ocorrência de eventos indesejados, previsíveis ou não, danosos quer sobre o homem, os meios materiais, e o meio ambiente durante seu funcionamento.

Santos & Fialho (1997) propõem um modelo onde é capaz de evidenciar as principais condicionantes que afetam o desenvolvimento das atividades do homem no trabalho, sendo:

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a) Uma má concepção dos meios materiais de trabalho: apresentação das informações, coerência entre as modalidades de apresentação destas informações, as modalidades de atividades das funções sensoriais e mentais e os objetivos do trabalho (papel de sua disposição espacial, temporal,...);

b) Características dos objetos, ferramentas, comandos de máquinas sobre os quais o operador deve agir: dimensões, organização espacial, peso, resistência, que determinarão as exigências em termos de trabalho muscular;

c) Características ambientais: ambiente térmico, acústico, luminoso, vibratório e toxicológico;

d) Condicionantes temporais do trabalho: cadência, duração e horário de trabalho;

e) Características da organização do trabalho: hierarquia, turnos, equipes, métodos, comunicação;

f) O ambiente psicossociológico;

g) Condições de vida extra-profissional.

Muitas atividades e processos de trabalho expõem o trabalhador a vários tipos de riscos de acidentes ao mesmo tempo, aumentando os efeitos nocivos a saúde. Deve-se, no entanto, estabelecer instrumentos eficazes que possam controlar ou prevenir estes eventos indesejados.

Segundo Grandejean & Kroemer, o sistema a ser gerenciado com fins de eliminação ou controle de riscos deverá ter cuidados com a limpeza, ordem dos ambientes, máquinas e ferramentas, bem como a estrita observância dos procedimentos para a execução das operações, baseados em critérios que visam assegurar a integridade com a adequação e conservação dos meios de proteção, o estabelecimento de sistemáticas de atuação na ocorrência de sinistros. Todavia, devem-se orientar os funcionários a correta definição das probabilidades de ocorrência de cada sinistro aos quais poderá estar sujeito a organização e de suas dimensões sobre os mais variados aspectos, que determinará uma prioridade de atenções.

Todos os elementos, requisitos e meios que sejam adotados pela empresa para seu sistema de gestão da segurança do trabalho deverão ser devidamente documentados, escritos de maneira ordenada e sistemática em forma de políticas e procedimentos. Tal documentação deverá ser entendido, implementada e mantida em todos os níveis da organização. O sistema de gestão da segurança do trabalho deverá ser concebido para satisfazer as necessidades e expectativas do trabalhador e resguardar os interesses de uma empresa.

Barbosa Filho (2001) comenta que as etapas do gerenciamento de riscos são: a identificação, a mensuração por meio da avaliação qualitativa ou quantitativa e o estabelecimento de um plano de intervenção que buscará, de forma própria, evitar a concretização desses riscos, numa investigação desde as condições de trabalho existentes até as possíveis conseqüências resultantes.

Como toda atividade desenvolvida dentro da empresa exige a participação de pessoas para realizá-las, viu-se na empresa em estudo a necessidade de se gerenciar os possíveis riscos de acidentes a que essas pessoas estão expostas durante a realização de suas atividades. Pois quanto melhor for estruturado o plano de gerenciamento de riscos e melhor preparadas estiverem às pessoas de uma organização, menores serão os custos causados por acidentes.

5. Metodologia

Este capítulo tem como objetivo expor o método a ser utilizado para coleta e análise dos dados para realização do estudo proposto. O trabalho trata-se de uma pesquisa de

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aplicação da ergonomia informacional para gestão de riscos de acidentes.

Segundo Lakatos & Marconi (2007) a pequisa sempre parte de um tipo de problema, de uma interrogação. Partindo deste conceito o trabalho buscou responder de que forma a ergonomia informacional pode auxiliar na redução de riscos de acidentes do trabalho numa planta de abate de frangos?

Para realização da pesquisa foi utilizado o método indutivo que teve como ponto de partida o número de acidentes do trabalho na empresa em estudo, em seguida a aplicação da ergonomia informacional para chegar as conclusões.

Quanto aos métodos e procedimentos, a pesquisa empregou o estudo de caso. Para o levantamento dos dados foram utilizados entrevistas e questionários que foram respondidos pelo SESMT – serviço especializado em engenharia de segurança e medicina do trabalho.

As ferramentas de informação e comunicação avaliadas na pesquisa foram:

a) Programas de segurança e medicina do trabalho;

b) Ordens de serviço de segurança do trabalho;

c) Mapa de riscos;

d) Programa de treinamentos por função;

e) Sinalização de segurança.

Os dispositivos de informação e comunicação utilizados foram:

a) Palavra escrita: enquadram-se neste dispositivo de informação os programas de segurança e medicina do trabalho e ordens de serviço, que são manuais e especificações de como trabalhar seguramente evitando acidentes.

b) Símbolos e Alarmes visuais: enquadram-se neste dispositivo de informação os mapas de riscos e sinalizações de segurança, que servem para indicar uma situação de representação real e uma situação de risco ou perigo nos locais de trabalho.

c) As ferramentas implantadas na gestão de riscos de 2007 foram os símbolos, alarmes visuais e as ordens de serviços, sendo que, as demais já existiam nos anos anteriores na política de segurança do trabalho da empresa.

Para a análise dos resultados foi utilizado o método qualitativo.

6. Resultados e Discussões

A demanda pelo estudo se deu pelo fato de que a empresa analisada apresentava um alto índice de acidentes com afastamento nos anos anteriores ao ano de 2007, e que, com a criação de um sistema de gestão de riscos em 2007 focado na informação e comunicação, apresentou uma diminuição dos índices de acidentes conforme dados apresentados na tabela 1 – Índice de acidentes.

TABELA 1 – Índice de acidentes

Item 2005 2006 2007 2008 Média de funcionários 1478 1436 1614 1621 Número de acidentes no ano 176 138 60 06 Média mensal de acidentes 15 11 5 2

Fonte: Relatórios da empresa.

A finalidade do programa de gestão de riscos implantado no ano de 2007 foi elaborar

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um plano que consiste em informações necessárias à tomada de decisões sobre os riscos a serem aceitos no local de trabalho. Uma das ferramentas mais poderosas desta gestão de riscos é o conhecimento adquirido nos métodos de comunicação, ou seja, não basta identificar os possíveis riscos, mas, devem-se avaliar exaustivamente todas as possibilidades de controle do risco, informando todos os envolvidos para que estes possam ser conhecedores das situações.

6.1 Análise de Acidentes com Enfoque na Ergonomia Informacional

O estudo foi realizado em três máquinas que apresentaram o maior índice de acidentes durante os anos de 2005 a 2007. Foi realizado um questionário com base nos sistemas de informação e comunicação implantados no sistema de gestão de riscos de 2007. As perguntas foram respondidas pelo SESMT – Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho que utilizou arquivos de investigações de 34 acidentes ocorridos nas máquinas em estudo, conforme dados da tabela 2 – Número de acidentes por ano nas máquinas com maior índice de acidentes.

TABELA 2 – Número de acidentes por ano nas máquinas com maior índice de acidentes

Máquinas 2005 2006 2007 2008 Acidentes na máquina 01 8 6 2 0 Acidentes na máquina 02 6 5 1 0 Acidentes na máquina 03 4 2 0 0 Total 18 13 3 0

Fonte: Relatórios da empresa.

As perguntas respondidas com os dados das investigações foram:

P1: O funcionário acidentado recebeu treinamento para operar a máquina?

( ) sim ( ) não

P2: O funcionário acidentado recebeu ordem de serviço para operar a máquina?

( ) sim ( ) não

P3: O risco que provocou o acidente constava nos programas de segurança do trabalho?

( ) sim ( ) não

P4: O risco que provocou o acidente constava no mapa de riscos do setor?

( ) sim ( ) não

P5: Existiam sinalizações advertindo contra o risco que provocou o acidente?

( ) sim ( ) não

Segue abaixo a análise dos resultados obtidos com a aplicação dos questionários.

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Investigação de acidentes

02468

101214161820

P1 P2 P3 P4 P5

Perguntas

Res

post

asSIM

NÃO

Investigação de acidentes

0

2

4

6

8

10

12

14

P1 P2 P3 P4 P5

Perguntas

Res

post

as

SIM

NÃO

Análise do índice de acidentes ocorridos no ano de 2005.

FIGURA 1: Gráfico referente às respostas da investigação de acidentes em 2005.

No gráfico representado pela figura 1 podemos concluir que, entre 18 acidentes nas três máquinas com maior índice de acidentes no ano de 2005:

P1: em apenas dois casos o operador recebeu treinamento;

P2: nenhum operador recebeu a ordem de serviço;

P3: Em dois casos os riscos não foram identificados pelos programas de segurança e medicina do trabalho;

P4: em dois casos os riscos não estavam no mapa de riscos;

P5: em todos os casos não existiam sinalizações advertindo contra o risco.

Em síntese, verifica-se que diante dos resultados obtidos pela análise das investigações de acidentes do ano de 2005, o nível de informação e comunicação apresentou ser deficiente em todos os pontos avaliados.

Análise do índice de acidentes ocorridos no ano de 2006.

FIGURA 2: Gráfico referente às respostas da investigação de acidentes em 2006

No gráfico representado pela figura 2 podemos concluir que, entre 13 acidentes nas três máquinas com maior índice de acidentes no ano de 2006:

P1: em apenas três casos o operador recebeu treinamento;

P2: nenhum operador recebeu a ordem de serviço;

P3: Em oito casos os riscos não foram identificados pelos programas de segurança e medicina do trabalho;

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Investigação de acidentes

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

P1 P2 P3 P4 P5

Perguntas

Res

post

as

SIM

NÃO

P4: em oito casos os riscos não estavam no mapa de riscos;

P5: em todos os casos não existiam sinalizações advertindo contra o risco.

Em síntese, verifica-se que diante dos resultados obtidos pela análise das investigações de acidentes do ano de 2006, o nível de informação e comunicação apresentou ser deficiente em todos os pontos avaliados.

Análise do índice de acidentes ocorridos no ano de 2007.

FIGURA 3: Gráfico referente às respostas da investigação de acidentes em 2007

No gráfico representado pela figura 3 podemos concluir que, entre 03 acidentes nas três máquinas com maior índice de acidentes no ano de 2007.

P1: em todos os casos o operador recebeu treinamento;

P2: em todos os casos o operador recebeu a ordem de serviço;

P3: em todos os casos os riscos foram identificados pelos programas de segurança e medicina do trabalho;

P4: em todos os casos os riscos estavam no mapa de riscos;

P5: em todos os casos existiam sinalizações advertindo contra o risco.

Em síntese, verifica-se que diante dos resultados obtidos pela análise das investigações de acidentes do ano de 2007, o nível de informação e comunicação apresentou ser eficiente em todos os pontos avaliados.

Os acidentes ocorridos no ano de 2007 nas máquinas foram provocados por atos inseguros, ou seja, pelo comportamento inadequado dos funcionários no local de trabalho.

Nos meses decorrentes do ano de 2008 não ocorreram acidentes com as máquinas avaliadas neste estudo.

7. Considerações Finais

Através do estudo realizado na empresa, pode-se afirmar que diante dos resultados apresentados neste trabalho os objetivos foram alcançados.

Os resultados do estudo mostram que nos anos anteriores à implantação dos sistemas de informação e comunicação existia um alto índice de acidentes com funcionários e que o nível de informação e comunicação deste período era insuficiente para a operação adequada das máquinas, tal como falta de treinamentos, ordens de serviço, programas de segurança, mapas de riscos e sinalizações, conforme verificado nos dados fornecidos pelas pesquisas das investigações de acidentes ocorridos nos anos de 2005 e 2006.

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Por outro lado, as análises dos índices de acidentes dos anos de 2007 e 2008, confirmam que, diante do uso de técnicas de gestão de riscos focadas no uso da informação e comunicação contribuem diretamente na redução dos acidentes na empresa. Também podemos verificar que existem outros causadores de acidentes que devem ser estudados pelo SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho da empresa em estudo.

Seja qual for a atividade empresarial, sabe-se que o risco de acidentes está presente. A preocupação da prevenção é de, num primeiro momento, eliminá-lo dos processos e se de fato não houver como minimiza-lo, neutralizar seus efeitos danosos. A segurança do trabalho busca investigar exaustivamente todas as possibilidades de acidentes e de perdas em um ambiente de trabalho, para conhecer suas causas e efeitos e, em seguida, estabelecer os instrumentos eficazes de sua prevenção e controle.

A empresa possui um bom programa de gerenciamento de riscos, através de programas de segurança e medicina do trabalho, ordens de serviço, mapas de riscos, programas de treinamentos por função, sinalização de segurança e investigações de acidentes, com enfoque na informação e comunicação. Quanto melhor for estruturado o plano de gerenciamento de riscos e melhor preparadas estiverem às pessoas, menores serão as chances de ocorrência de perdas de maior significância para esta.

Um bom gerenciamento de riscos emerge de um processo de decisão do qual se obtém a visão de todos aqueles que são afetados pela decisão, de tal forma que diferentes avaliações técnicas, valores públicos, conhecimentos e percepções são considerados.

A implantação de um programa de gerenciamento de riscos com foco na ergonomia informacional não resulta em um trabalho sem riscos, mas permite o conhecimento e a possibilidade de tratar o problema, buscando manter os riscos em níveis aceitáveis e controláveis.

Referências

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CRUZ, H. R. R. S. Avaliação Pós Ocupação e Apreciação Ergonômica do Ambiente Construído: um estudo de caso. UFPE, Recife, 2006.

GRANDEJEAN, E & KROEMER, K.H.E. Manual de Ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. Porto

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IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: editora Edgard Blucher, 2005.

LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1990.

MELO, C. V. A.; CURSINO, R. M. & SANTOS, V. M. V. Estudo da Ergonomia Informacional Sobre o Uso de Mapa de Riscos e Sinalizações Voltados as Rotas de Fuga Existentes Numa Planta de Processamento. XXVII ENEGEP, Foz do Iguaçu, 2007.

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SANTOS, N. & FIALHO, F. Manual de Análise Ergonômica no Trabalho. Curitiba: Gênesis Editora, 2º edição; 1997.