Época de Ouro 2

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Época de Ouro II 1929-1945

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O teatro de revista surgiu na França no início do século XIX, chegando à Portugal em 1856 e na sequência, em 1859, ao Brasil...

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Época de Ouro II

1929-1945

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TEATRO DE REVISTA

O teatro de revista surgiu na França no início do século XIX, chegando à Portugal em 1856 e na sequência, em 1859, ao Brasil. Não foi bem recebido a princípio, vindo a alcançar maior popularidade nas duas últimas décadas daquele século.O auge do teatro de revista no Brasil foi de 1922 a 1929. Ele servia de vitrine para nossos compositores e cantores (as). Sinhô, Pixinguinha, Donga, Lamartine Babo e Ary Barroso escreveram muitas músicas para o teatro de revista. Cantores como Vicente Celestino e Francisco Alves,

além de Aracy Cortes estavam sempre em cartaz. O samba-canção “Linda Flor” (Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto), apresentada na famosa revista “Miss Brasil” tornou-se um dos clássicos da música brasileira, tendo se tornado um paradigma do gênero, por ter sido o primeiro samba canção a fazer sucesso.A partir da década de 30, com a popularização do rádio e do cinema falado, o teatro de revista entrou em decadência.

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CANÇÃO ROMÂNTICA NO BRASIL

A canção romântica no Brasil teve grande importância, sendo o seu principal veículo a valsa com letra, que no auge da sua popularidade, nos anos 30 (de 1935-40), correspondia a cerca de um terço de tudo que era gravado (cerca de 16%, ficando atrás do samba e da marchinha).A valsa pode ser dividida em dois subgrupos: 1) a tradicional, piegas, mais próxima da modinha, tendo em Vicente Celestino seu principal compositor/intérprete; 2) a moderna, que trada do amor com uma linguagem mais natural. Seu principal compositor é o letrista Orestes Barbosa, e Sílvio Caldas seu principal intérprete.

O gênero foi adotado por grande parte dos

compositores da época, entre eles Noel Rosa, Lamartine Babo, Ary Barroso e Ataulfo Alves.

O Fox-trot surgiu nos EUA em 1912 e na década de 20 chegou ao Brasil com o nome de Fox-canção. O auge no Brasil se deu nos anos 30 e 40, especialmente com as grandes canções de Custódio Mesquita. Orlando Silva e depois Nélson Gonçalves foram seus grandes intérpretes.A partir da segunda metade da década de 40 a música latina, em especial o bolero chegam com força no Brasil. Com isso o samba-canção, mais parecido com o bolero, toma o lugar da valsa e do Fox-canção no gosto popular em relação às músicas românticas.

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VICENTE CELESTINO (1894-1968)

Cantor de grande importância na fase anterior à Era de Ouro, conhecido como “O Berro”, Vicente Celestino também foi compositor de alguns sucessos, como “Patativa” e “O Ébrio” (durante a Era de Ouro) . A última inspirou uma peça de teatro e uma novela de TV, em 1965. No entanto ele não se adaptou ao sistema elétrico de gravação e acabou perdendo um pouco do seu

prestígio. Mesmo assim continuou na ativa até o fim da vida. Em 1968 Caetano Veloso gravou no disco Tropicália a canção “Coração Materno”, apresentando o cantor para as gerações mais novas. Associado ao brega e cafona, Vicente Celestino não deixa de ter seu lugar na música brasileira, tendo sempre a admiração de uma parte muito grande da população.

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O Ébrio - Vicente Celestino - 1936

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecerAquela ingrata que eu amava e que me abandonou.Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer.Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou...

Só nas tabernas é que encontro meu abrigo.Cada colega de infortúnio é um grande amigo,Que embora tenham, como eu, seus sofrimentos,Me aconselham e aliviam o meu tormento.

Já fui feliz e recebido com nobreza. AtéNadava em ouro e tinha alcova de cetimE a cada passo um grande amigo que depunha fé,E nos parentes... confiava, sim!

E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo

então:O falso lar que amava e que a chorar deixei.Cada parente, cada amigo, era um ladrão;Me abandonaram e roubaram o que amei.

Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar:Quando eu morrer, à minha campa nenhuma inscrição.Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar

Este ébrio triste e este triste coração.Quero somente que na campa em que eu repousarOs ébrios loucos como eu venham depositarOs seus segredos ao meu derradeiro abrigoE suas lágrimas de dor ao peito amigo.

Um dos maiores sucessos de Vicente Celestino, a canção inspirou uma peça de teatro no mesmo ano, um filme de grande sucesso, dirigido por Gilda de Abreu (1946) e uma novela de televisão (1965).

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Patativa - Vicente Celestino - 1937

Acorda, patativa, vem cantarRelembra as madrugadas que lá vãoE faz de tua janela o meu altarEscuta a minha eterna oraçãoEu vivo inutilmente a procurarAlguém que compreenda o meu amorE vejo que é destino meu sofrerE padecer, não encontrarQuem compreenda o trovadorEu tenho n'alma um vendaval sem fimE uma esperança que hás de ter por mim

O mesmo afeto que juravas terPara que acabe este meu sofrerEu sei que juras cruelmente em vãoEu sei que preso tens o coraçãoEu sei que vives tristemente a ocultarQue a outro amas, sem querer amarMulher, o teu capricho venceráE um dia tua loucura findaráA Deus, a Deus, minha alma entregareiSe de outro fores, juro, morrereiAmar, que sonho lindo, encantadorMais lindo por quem leal nos tem amorE tu vens desprezando sem razãoA mim que choro e busco em vãoO teu ingrato coração

“O sucesso desta canção, que também esbarra no grotesco, é mais um exemplo do gosto declarado de uma considerável faixa da população brasileira por um tipo de música, qualificado em épocas posteriores de cafona, brega, ou indevidamente, de popular romântico.”

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Coração Materno -Vicente Celestino -1937

Disse um campônio à sua amada:"Minha idolatrada, diga o que querPor ti vou matar, vou roubarEmbora tristezas me causes mulherProvar quero eu que te queroVenero teus olhos, teu porte, teu serMas diga, tua ordem esperoPor ti não importa matar ou morrer"E ela disse ao campônio, a brincar"Se é verdade tua loucaParte já e pra mim vá buscarDe tua mãe, inteiro o coração"E a correr o campônio partiuComo um raio na estrada sumiuE sua amada qual louca ficouA chorar na estrada tombou

Chega à choupana o campônioEncontra a mãezinha ajoelhada a rezarRasga-lhe o peito o demônioTombando a velhinha aos pés do altarTira do peito sangrandoDa velha mãezinha o pobre coraçãoE volta a correr proclamando"Vitória, vitória, tem minha paixão"Mas em meio da estrada caiuE na queda uma perna partiuE à distância saltou-lhe da mãoSobre a terra o pobre coraçãoNesse instante uma voz ecoou:"Magoou-se, pobre filho meu?Vem buscar-me filho, aqui estou,Vem buscar-me que ainda sou teu!"

Canção baseada numa lenda de 500 anos (segundo o autor), resultou numa das mais “ridículas” canções da nossa música. Numa espécie de culto ao cafona, foi gravada por Caetano com grande repercussão, com um imponente e caricato (além de belo) arranjo de Rogério Duprat.

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OS QUATRO GRANDES Francisco Alves

O barítono Francisco Alves (1898-1952) foi conhecido como “O Rei da Voz”. A princípio influenciado por Vicente Celestino, logo alcançou estilo próprio tornando-se o artista mais popular do meio musical brasileiro. Foi o cantor que mais gravou no Brasil, atingindo a marca de 983 fonogramas!O cantor manteve sua popularidade por toda sua carreira, um quarto de século, e

extremamente versátil gravou com propriedade uma enorme variedade de gêneros. A segunda metade do século 30 é um dos melhores períodos de sua carreira, culminando na gravação de “Aquarela do Brasil” em 1939. Nos últimos 10 anos de vida gravou principalmente composições de Lupicínio Rodrigues e Lamartine Babo.

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Sílvio Caldas (1908-1998)

Um dos “Quatro Grandes” cantores da Era de Ouro, Sílvio Caldas despontou em 1931, após a participação da revista “Brasil de Amor” e o lançamento de “Faceira” (Ari Barroso). Gravou em 1933 “Lenço no Pescoço” (Wilson Batista), que deu início à polêmica Noel x Wilson. Também um bom compositor, é autor do clássico “Chão de Estrelas”, em parceria com Orestes Barbosa.

Com voz menos potente que a dos “rivais” Francisco Alves e Orlando Silva, Sílvio Caldas interpretou de maneira inigualável as canções românticas, tendo sido celebrizado como o grande seresteiro, o cantor sentimental por excelência. Sua melhor fase foi a segunda (1934-44), com ênfase para as valsas.

Outras gravações importantes foram: Pra que Mentir (Noel Rosa- 1939), Da Cor do Pecado (Bororó -1940), Mulher (Custódio Mesquita - 1940) e “Morena Boca de Ouro” (Ari Barroso – 1941)Sílvio Caldas participou nos anos 30 de inúmeras revistas e em seguida de filmes também.

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Chão de Estrelas (Silvio Caldas – Orestes Barbosa) -1937

Minha vida era um palco iluminadoEu vivia vestido de douradoPalhaço das perdidas ilusõesCheio dos guizos falsos da alegriaAndei cantando a minha fantasiaEntre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do SalgueiroTinha o cantar alegre de um viveiroFoste a sonoridade que acabouE hoje, quando do sol, a claridadeForra o meu barracão, sinto saudadeDa mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradasNa corda, qual bandeiras agitadasPareciam estranho festival!

Festa dos nossos trapos coloridosA mostrar que nos morros mal vestidosÉ sempre feriado nacionalA porta do barraco era sem trincoMas a lua, furando o nosso zincoSalpicava de estrelas nosso chãoTu pisavas nos astros, distraída,Sem saber que a ventura desta vidaÉ a cabrocha, o luar e o violão

Composta sobre versos decassílabos, com frases como “o varal das roupas coloridas e as estrelas no chão...” “tu pisavas os astros distraída...”, a canção é a obra-prima dentre as quinze canções da dupla. Foi lançada em 1937 mas só foi fazer sucesso na segunda gravação, de 1950.

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Da Cor do Pecado Bororó – 1939 (Sílvio Caldas)

Esse corpo morenoCheiroso e gostosoQue você temÉ um corpo delgadoDa cor do pecadoQue faz tão bemEsse beijo molhadoEscandalizado que você deuTem sabor diferenteQue a boca da genteJamais esqueceuE quando você me respondeUmas coisas com graça

A vergonha se escondePorque se revelaA maldade da raçaEsse corpo de fatoTem cheiro de matoSaudade, tristezaEssa simples belezaEsse corpo moreno; morena enlouqueceEu não sei bem porqueSó sinto na vidaO que vem de você

Com apenas três composições gravadas, Bororó entrou pra história da música brasileira. Essa samba de 1939 é muito sofisticado para a época e teve inúmeras gravações.

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Orlando Silva (1915-1978)

Orlando Silva (1915-1978) ficou conhecido como “O Cantor das Multidões”, ultrapassando a popularidade de Francisco Alves no período de 1937-42. O cantor foi lançado por Bororó e por Francisco Alves em 1934, ambos impressionados com seu talento. De carreira meteórica, alcançou logo o sucesso em 1937, com “Lábios que Beijei” (J. Cascata-Leonel Azevedo), “Carinhoso” (Pixinguinha-Braguinha) e “Rosa” (Pixinguinha).Por causa de seu abuso de álcool e drogas, sua voz, e consequentemente sua carreira, se deterioraram e ele nunca mais alcançou o mesmo prestigio e qualidade musical de antes.

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Lábios Que Eu Beijei (J. Cascata-Leonel Azevedo)

Lábios que beijeiMãos que afagueiNuma noite de luar, assim,O mar na solidão bramiaE o vento a soluçar, pediaQue fosses sincera para mim.Nada tu ouvisteE logo que partistePara os braços de outro amor.Eu fiquei chorandoMinha mágoa cantandoSou estátua perenal da dor.Passo os dias soluçando com meu pinho

Carpindo a minha dor, sozinhoSem esperanças de vê-la jamaisDeus tem compaixão deste infelizPorque sofrer assimCompadecei-vos dos meus ais.Tua imagem permanece imaculadaEm minha retina cansadaDe chorar por teu amor.Lábios que beijeiMãos que afagueiVolta vem curar a minha dor

Essa foi a canção que colocou Orlando Silva no primeiro escalão dos cantores brasileiros, com apenas 22 anos. O arranjo de Radamés Gnatalli, com ênfase no naipe de cordas, acabou promovendo esse tipo de orquestração, a partir de então padrão no repertório romântico brasileiro.

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Carinhoso (Pixinguinha-João de Barro)

Meu coraçãoNão sei porqueBate feliz, quando te vêE os meus olhos ficam sorrindoE pelas ruas vão te seguindoMas mesmo assim, foges de mimAh! Se tu soubessesComo sou tão carinhosoE muito e muito que te queroE como é sincero o meu amor

Eu sei que tu não fugirias mais de mimVem, vem, vem, vemVem sentir o calorDos lábios meusÀ procura dos teusVem matar esta paixãoQue me devora o coraçãoE só assim entãoSerei feliz, bem feliz

A canção foi composta por Pixinguinha em 1917, tendo sido guardada por 10 anos pelo fato de não seguir a forma tradicional do choro (ABACA), tendo somente duas partes. A letra de Braguinha viria só em 1936, escrita às pressas para que a canção pudesse ser usada em um musical (“Parada das Maravilhas”). Após a recusa de Francisco Alves e Carlos Galhardo (que faltou à sessão de gravação), Orlando Silva a grava, juntamente com “Rosa”, o que contribuiu para o seu sucesso. Foi a música mais gravada de Pixinguinha e Braguinha.

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Em função da recusa de Francisco Alves e Carlos Galhardo em gravar “Carinhoso”, Orlando Silva acabou gravando as duas composições, “Carinhoso” e “Rosa”, ambas clássicos absolutos na música brasileira. A composição de 1917 ganhou letra muito mais tarde (“Evocação” é o nome original). O compositor Otávio de Souza,

um mecânico, ao que consta nunca escreveu mais nada, tendo morrido cedo. Na gravação original há um erro de concordância (“sândalos dolente”). Após a morte da mãe em 1968, Orlando Silva nunca mais cantou a canção, que segundo ele o deixavam em lágrimas.

ROSA

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RosaPixinguinha – Otávio de Souza

Tu és, divina e graciosaEstátua majestosa do amorPor Deus esculturadaE formada com ardorDa alma da mais linda florDe mais ativo olorQue na vida é preferida pelo beija-florSe Deus me fora tão clementeAqui nesse ambiente de luzFormada numa tela deslumbrante e belaTeu coração junto ao meu lanceadoPregado e crucificado sobre a rósea cruzDo arfante peito seuTu és a forma idealEstátua magistral oh alma perenalDo meu primeiro amor, sublime amorTu és de Deus a soberana florTu és de Deus a criaçãoQue em todo coração sepultas um amorO riso, a fé, a dorEm sândalos dolentes cheios de saborEm vozes tão dolentes como um sonho em

florÉs láctea estrelaÉs mãe da realezaÉs tudo enfim que tem de beloEm todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-teEu hei de sempre amar-teOh flor meu peito não resisteOh meu Deus o quanto é tristeA incerteza de um amorQue mais me faz penar em esperarEm conduzir-te um diaAo pé do altarJurar, aos pés do onipotenteEm preces comoventes de dorE receber a unção da tua gratidãoDepois de remir meus desejosEm nuvens de beijosHei de envolver-te até meu padecerDe todo fenecer

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Alá-Lá-Ô (Haroldo Lobo-Nássara) – Carlos Galhardo - 1941

Allah-la-ô, ô ô ô, ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô, ô ô ô (bis)

Atravessamos o deserto do Sahara

O sol estava quente, queimou a nossa cara (ESTRIB.)

Viemos do Egito / E muitas vezes nós tivemos que rezar

Allah-Allah-Allah, meu bom Allah

Mande água pra Ioiô / Mande água pra Iaiá

Allah, meu bom Allah

Sucesso no carnaval de 1941, a canção conta com um ótimo arranjo de Pixinguinha, que criou a introdução e modulação no meio durante a parte instrumental.

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Rosa de Maio(Custódio Mesquita-Evaldo Rui) – 1944 – Carlos Galhardo

Rosa de MaioÉ meu desejoMandar-te um beijo

Nesta canção...Rosa de Maio...Deste poema

Tu és o temaE a inspiraçãoRosa de Maio...

Já não consigoGuardar comigoTanta paixão!Rosa de MaioPor qualquer preçoEu te ofereçoMeu coração!

“Rosa de Maio” é um Fox-canção de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, mestres do gênero. É a canção mais conhecida dupla.

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DORIVAL CAYMMI (1914-2008)

Compositor baiano de forte identidade musical, Dorival surgiu em 1938 com a canção “O que é que a baiana tem”, interpretada por Carmem Miranda para o filme “Banana da Terra” (1939). As canções de Dorival são dividas em três gêneros principais, a saber: canções praieiras, sambas de roda (com a temática baiana) e os sambas urbanos, com inspiração carioca (classificados por alguns como samba-canção).

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O que é que a Baiana Tem (Dorival Caymmi)

Carmen Miranda e Dorival Caymmi – 1938

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O que é que a baiana tem? Que é que a baiana tem?Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro, tem! Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem! Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! Tem graça como ninguém Como ela requebra bem! Quando você se requebrar Caia por cima de mim Caia por cima de mim Caia por cima de mim

O que é que a baiana tem? Que é que a baiana tem? Tem torço de seda, tem! Tem brincos de ouro, tem! Corrente de ouro, tem! Tem pano-da-Costa, tem! Tem bata rendada, tem! Pulseira de ouro, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! Só vai no Bonfim quem tem O que é que a baiana tem?Só vai no Bonfim quem tem Um rosário de ouro, uma bolota assim Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim Um rosário de ouro, uma bolota assim Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim Oi, não vai no Bonfim Oi, não vai no Bonfim Um rosário de ouro, uma bolota assim Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim Oi, não vai no Bonfim Oi, não vai no Bonfim

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Dora (Dorival Caymmi) – 1945

Um dos maiores sucessos de Dorival esse samba é precursor do período seguinte, com preponderância de sambas-canções.

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Dora, rainha do frevo e do maracatu Dora, rainha cafuza de um maracatu

Te conheci no RecifeDos rios cortados de pontes

Dos bairros, das fontes coloniaisDora, chamei

Ò Dora! . . .Ò Dora! Eu vim à cidade

Pra ver você passar Ò Dora ...

Agora no meu pensamento eu te vejo requebrando Pra cá,ora prá lá

Meu bem! ....Os clarins da banda militar, tocam para anunciar

Sua Dora, agora vai passar. Venham ver o que é bom

Ò Dora, rainha do frevo e do maracatu Ninguém requebra, nem dança, melhor que tu!

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É doce morrer no Mar (Dorival Caymmi/Jorge Amado)

1941 (gravação de 1954)

Essa canção é um exemplo da canção praieira onde Dorival narra as agruras e belezas dos pescadores. Dorival compôs a canção sobre um tema do livro “Mar Morto”, de Jorge Amado que em seguida contribuiu com alguns versos.

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É doce morrer no marNas ondas verdes do mar

É doce morrer no marNas ondas verdes do mar

A noite que ele não veio foiFoi de tristeza prá mimSaveiro voltou sozinhoTriste noite foi prá mim

É doce morrer... (2x)Saveiro partiu de noite foi

Madrugada não voltouO marinheiro bonitoSereia do mar levouÉ doce morrer... (2x)

Nas ondas verdes do mar meu bemEle se foi afogar

Fez sua cama de noivoNo colo de IemanjáÉ doce morrer... (2x)

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O Mar – 1941 Essa canção praieira extraída do LP “Canções Praieiras” lançado por Dorival em 1954 surpreende pela sofisticação que remete ao compositor impressionista Debussy. Atente a sublime execução do violão de Caymmi e também incrível harmonia da primeira parte.

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O mar quando quebra na praiaÉ bonito, é bonito

O mar... pescador quando saiNunca sabe se volta, nem sabe se ficaQuanta gente perdeu seus maridos seus filhosNas ondas do mar

O mar quando quebra na praiaÉ bonito, é bonito

Pedro vivia da pescaSaia no barcoSeis horas da tardeSó vinha na hora do sol raiá

Todos gostavam de PedroE mais do que todasRosinha de ChicaA mais bonitinhaE mais bem feitinhaDe todas as mocinha lá do arraiá

Pedro saiu no seu barcoSeis horas da tardePassou toda a noiteNão veio na hora do sol raiáDeram com o corpo de PedroJogado na praiaRoído de peixeSem barco sem nadaNum canto bem longe lá do arraiá

Pobre Rosinha de ChicaQue era bonitaAgora pareceQue endoideceuVive na beira da praiaOlhando pras ondasAndando rondandoDizendo baixinhoMorreu, morreu, morreu, oh...

O mar quando quebra na praia

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Maracangalha (1956)Um dos grandes sucessos de Caymmi, samba composto em 1955.

Eu vou prá MaracangalhaEu vou!

Eu vou de liforme brancoEu vou!

Eu vou de chapeu de palhaEu vou!

Eu vou convidar AnáliaEu vou!

Se Anália não quiser irEu vou só!Eu vou só!Eu vou só!

Se Anália não quiser irEu vou só!Eu vou só!

Eu vou só sem AnáliaMas eu vou!...(3x)

Eu vou só!...(16x)

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Marina (1947)O primeiro samba-canção de Dorival a fazer sucesso. A ideia da composição surgiu do filho Dori, que na época, uma criança falava “to de mal com você” quando ficava bravo com o pai!

A canção foi lançada simultaneamte por outros intérpretes, alcançando seu maior

sucesso com a versão de Dick Farney.

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Marina, morenaMarina, você se pintouMarina, você faça tudoMas faça um favorNão pinte esse rosto que eu gostoQue eu gosto e que é só meuMarina, você já é bonitaCom o que deus lhe deuMe aborreci, me zangueiJá não posso falarE quando eu me zango, marinaNão sei perdoarEu já desculpei muita coisaVocê não arranjava outra igualDesculpe, marina, morenaMas eu tô de mal

Marina, morenaMarina, você se pintouMarina, você faça tudoMas faça um favorNão pinte esse rosto que eu gostoQue eu gosto e que é só meuMarina, você já é bonitaCom o que deus lhe deuMe aborreci, me zangueiJá não posso falarE quando eu me zango, marinaNão sei perdoarEu já desculpei muita coisaVocê não arranjava outra igualDesculpe, marina, morenaMas eu tô de malDe mal com vocêDe mal com você.

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Herivelto Martins (1912-1992)

Compositor carioca teve suas primeiras músicas gravadas em meados dos anos 30 atingido o ápice de sua carreira nos anos 40 com sucessos como “Segredo”, “Caminhemos” e “Ave Maria no Morro”. Foi casado com a cantora Dalva de Oliveira, com quem formou o grupo Trio de Ouro.

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Praça Onze (Herivelto Martins – Grande Otelo)

Sucesso do Trio de Ouro em 1942. A música foi composta em protesto à demolição da Praça Onze, que existiu por mais de 150 anos e era ponto de encontro tradicional dos sambistas. Na gravação Herivelto tentou reproduzir o clima de uma escola de samba

acrescentando o surdo, o tamborim e o apito, que anteriormente era usado apenas como marcação nos desfiles de escola de samba. Esse emprego de percussão passou a ser padrão nas gravações de samba a partir daí.

Page 33: Época de Ouro 2

Vão acabar com a Praça OnzeNão vai haver mais Escola de Samba, não vaiChora o tamborimChora o morro inteiroFavela, SalgueiroMangueira, Estação PrimeiraGuardai os vossos pandeiros, guardaiPorque a Escola de Samba não sai

Adeus, minha Praça Onze, adeusJá sabemos que vais desaparecerLeva contigo a nossa recordaçãoMas ficarás eternamente em nosso coraçãoE algum dia nova praça nós teremosE o teu passado cantaremos

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Segredo (Herivelto Martins – Marino Pinto)

Teu mal é comentar o passadoNinguém precisa saber o que houve entre nós doisO peixe é pro fundo das redes, segredo é pra quatro paredesNão deixe que males pequeninos

Venham transformar os nossos destinosO peixe é pro fundo das redesSegredo é pra quatro paredes

Primeiro é preciso julgarPra depois condenarQuando o infortúnio nos bate à portaO amor nos foge pela janelaA felicidade para nós está mortaE não se pode viver sem elaPara o nosso mal não há remédio coraçãoNinguém tem culpa de nossa desunião

Sucesso nas vozes de Dalva de Oliveira e depois de Nelson Gonçalves em 1947, Marino Pinto escreveu a segunda parte a pedido de Dalva e à revelia de Herivelto, que no fim gostou e aceitou a acréscimo.

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Ave Maria No Morro(Herivelto Martins)

Barracão de zincoSem telhadoSem pintura lá no morroBarracão é bangalôLá não existeFelicidadeDe arranha-céuPois quem mora lá no morroJá vive pertinho do céuTem alvoradaTem passaradaAo alvorecerSinfonia de pardais

Anunciando o anoitecerE o morro inteiroNo fim do diaReza uma preceÀ ave mariaE o morro inteiroNo fim do diaReza uma preceÀ ave mariaAve mariaAve

Ave Maria lançanda em 1942 foi o primeiro sucesso do Trio de Ouro, sendo rejeitada pelo parceiro de Herivelto, Benedito Lacerda. Foi a canção mais gravada de Herivelto. João Gilberto gravou a canção em 1991.

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Caminhemos(Herivelto Martins) Francisco Alves – 1947.

Lançado na sequência de “Segredo”, é um dos grandes sucesso de Herivelto.

Não, eu não posso lembrar que te ameiNão, eu preciso esquecer que sofriFaça de conta que o tempo passouE que tudo entre nós terminouE que a vida não continuou pra nós doisCaminhemos, talvez nos

vejamos depois

Vida comprida, estrada alongadaParto à procura de alguémOu à procura de nada...Vou indo, caminhandoSem saber onde chegarQuem sabe na voltaTe encontre no mesmo lugar

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Custódio Mesquita (1910-1945)

Custódio Mesquita foi um compositor à frente de seu tempo e é considerado por muitos uma espécie de modernizador da música brasileira, numa evolução que culminou na bossa nova. Originalmente baterista, ele viria a tocar piano nas principais rádios da época em princípios dos anos 30 (Mayrink Veiga, Phillips e Rádio Clube). Teve entre seus parceiros Noel Rosa, Mário Lago e principalmente Evaldo Rui e Sadi Cabral.

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Nada além (Custódio Mesquita – Mário Lago) - 1938

Nada alémNada além de uma ilusãoChega bemE é demais para o meu coraçãoAcreditando em tudo que o amorMentindo sempre dizE vou vivendo assim felizNa ilusão de ser felizSe o amor

Só nos causa sofrimento e dorÉ melhorBem melhor a ilusão do amorEu não quero e não peçoPara o meu coraçãoNada além de uma linda ilusão

A canção é um Fox-canção ou fox trote, gênero de influência norte-americana. A canção foi lançada na revista “Rumo ao Catete”, de 1937. A peça foi um sucesso, com mais de 300 apresentações. Orlando Silva decidiu gravar a canção após assisitir ao espetáculo.

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Mulher (Custódio Mesquita – Sadi Cabral) - 1940

Não seiQue intensa magiaTeu corpo irradiaQue me deixa louco assimMulherNão seiTeus olhos castanhosProfundos, estranhosQue mistério ocultarãoMulherNão sei dizer

MulherSó sei que sem almaRoubaste-me a calmaE a teus pés eu fico a implorarO teu amor tem um gosto amargoE eu fico sempre a chorar nesta dorPor teu amorPor teu amorMulher

Outro Fox-canção do compositor. A música, de 1940, foi considerada avançada para época e seria um prenúncio da melhor fase do compositor. Sílvio Caldas foi o primeiro a gravá-la.

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Saia do caminhoCustódio Mesquita – Evaldo Rui

Junte tudo que é seu, seu amor, seus trapinhosJunte tudo o que é seu e saia do meu caminhoNada tenho de meu Mas prefiro viver sozinhoNosso amor já morreuE a saudade se existe é minhaFiz até um projeto, no futuro,

um dia

No nosso mesmo tetoMais uma vida vingariaFracassei novamentePois sonhei, mas sonhei em vãoE você francamente, decididamenteNão tem coração

Esse samba-canção, um dos mais belos do compositor, foi por gravado Araci de Almeida em 46, ou seja após sua morte. Originalmente destinada ao cantor Jorge Goulart, que acabou não gravando-a por causa da morte de Custódio na véspera da gravação.

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Lupicínio Rodrigues (1914-1974)

Compositor gaúcho famoso por músicas sobre traição e dor de cotovelo. Assumidamente boêmio e conquistador, teve cerca de 200 músicas gravadas.

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Se acaso você chegasseLupicínio Rodrigues – Felisberto Martins - 1938

Se acaso você chegasseNo meu chateu encontrasseAquela mulher que você gostou

Será que tinha coragem de trocar a nossa amizade Por ela que já lhe abandonou

Eu falo porque essa dona já mora no meu barraco à beira de um regato e de um bosque em florDe dia me lava a roupa De noite me beija a boca E assim vamos vivendo de amor

Foi a música que lançou nacionalmente Lupícinio e também o cantor Ciro Monteiro. A canção foi escrita para o amigo Heitor Barros, de quem Lupicínio roubara a mulher! O samba foi uma espécie de pedido de desculpas, depois aceito pelo amigo!

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Nervos de Aço - 1947

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?Ter loucura por uma mulherE depois encontrar esse amor, meu senhor,Ao lado de um tipo qualquer?

Você sabe o que é ter um amor, meu senhorE por ele quase morrerE depois encontrá-lo em um braço,Que nem um pedaço do seu pode ser?

Há pessoas de nervos de aço,

Sem sangue nas veias e sem coração,Mas não sei se passando o que eu passoTalvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peitoÉ ciúme, é despeito, amizade ou horror.Eu só sei é que quando a vejoMe dá um desejo de morte ou de dor.

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VingançaLupicínio Rodrigues - 1951

Eu gostei tanto,Tanto quando me contaramQue ihe encontraramBebendo e chorandoNa mesa de um bar,E que quando os amigos do peitoPor mim perguntaramUm soluço cortou sua voz,Não ihe deixou falar.Eu gostei tanto,Tanto, quando me contaramQue tive mesmo de fazer esforçoPrá ninguém notar.O remorso talvez seja a causaDo seu desesperoEla deve estar bem consciente

Do que praticou,Me fazer passar tanta vergonhaCom um companheiroE a vergonhaÉ a herança maior que meu pai me deixou;Mas, enquanto houver força em meu peitoEu nao quero mais nadaSó vingança, vingança, vingançaAos santos clamarEla há de rolar como as pedrasQue rolam na estradaSem ter nunca um cantinho de seuPra poder descansar

Apesar da bela melodia e arranjo, o apelo dramático da letra, reforçada pela interpretação de Linda Batista supostamente levou até algumas pessoas ao suicídio!

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NuncaLupicínio Rodrigues – 1952- Isaurinha Garcia

Nunca!Nem que o mundo caia sobre mim,Nem se Deus mandar,Nem mesmo assim,As pazes contigo eu farei.Nunca!Quando a gente perde a ilusãoDeve sepultar o coraçãoComo eu sepultei.

Saudade,Diga a esse moço, por favor,Como foi sincero o meu amor,Quanto eu te adoreiTempos atrás.Saudade,Não se esqueça também de dizerQue é você quem me faz adormecerPra que eu viva em paz.