Entrevista - Gonçalves Dias

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ENTREVISTA Na edio deste ms da Revista Nosso Brasil, entrevistaremos um dos pioneiros da Literatura Brasileira, um dos mais expressivos autores, aquele que criou o famoso poema Cano do Exlio... O nosso querido Gonalves Dias. Nascido em Caxias, Gonalves Dias era filho de uma unio no oficializada entre um comerciante portugus com uma mestia cafuza brasileira (o que muito o orgulhava de ter o sangue das trs raas formadoras do povo brasileiro: branca, indgena e negra). Estudou durante muitos anos na Europa, mas, como todo bom patriota, voltou ao Brasil. Sua obra pode ser enquadrada no Romantismo. Procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura nacional. Ao lado de Jos de Alencar, desenvolveu o Indianismo. Por sua importncia na histria da literatura brasileira, podemos dizer que Gonalves Dias incorporou uma ideia de Brasil literatura nacional. E na nossa entrevista procuramos saber o que h por trs de algumas obras do nosso querido escritor: Nosso Brasil: um prazer enorme t-lo em nossa redao, senhor Gonalves Dias. Gonalves Dias: O prazer todo meu, minha cara. Nosso Brasil: Quando o senhor comeou a escrever? Gonalves Dias: Estudei em Coimbra, onde era bem valorizada a obra literria, e sob esta influncia escrevi meus primeiros versos. NB: Quais so seus objetivos ao compor suas poesias? GD: Eu as escrevi para mim, e no para os outros; Contentar-me-ei se agradarem; e se no... sempre certo que tive o prazer de t-las composto." NB: Para que servem suas poesias, ento, se elas so escritas para o senhor mesmo? GD: Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena poltica para ler em minha alma, reduzindo linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso. NB: Suas poesias tm ligao entre si? GD: No, no tm. NB: Mas porqu? GD: Porque foram compostas em pocas diversas - debaixo de cus diversos - e sob a influncia de impresses momentneas. NB: E por que o senhor no costuma obedecer aos padres de mtrica e rima? GD: Porque menosprezo regras de mera conveno; adotei todos os ritmos da metrificao portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que pretendia exprimir.

NB: Como definir suas obras lricas? GD: Minhas obras so como casar o pensamento com o sentimento - o corao com o entendimento - e a idia com a paixo - cobrir tudo isto com a imaginao, fundir tudo isto coma vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da religio e da divindade, eis a Poesia - a Poesia grande e santa - a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir. NB: E o senhor acha que produz verdadeiras poesias? GD: O esforo - ainda vo - para chegar verdadeira Poesia sempre digno de louvor; talvez seja este s o merecimento meu. NB: Ns, e todos os brasileiros gostaramos de saber qual foi a sua inspirao para escrever a sua mais famosa poesia, a Cano do Exlio. GD: Escrevi-a pois estava inconformado com o lugar que vivia, j estava l h mais de dez anos e o meu maior desejo era voltar para a minha ptria amada, terra de minhas origens, terra que h palmeiras, aonde canta o sabi... Foi o mais sincero sentimento. NB: Para encerrar, uma pergunta pessoal: O senhor sente raiva dos pais de Ana Amlia Ferreira Vale (uma de suas maiores inspiraes romnticas) que no aprovaram o casamento de vocs? GD: Sim, minha cara, pois, na poca, no nos casamos por nada alm de preconceito. Preconceito das minhas origens. Ana Amlia estava disposta a fugir comigo para Portugal, mas acabamos no o fazendo, e, algum tempo depois, recebi a notcia que ela se casara com um comerciante da mesma origem que a minha. Isso partiu o meu corao, mas a vida no perfeita para todos. Ainda tive que dizer uma vez mais, adeus, aps todo o ocorrido. NB: Muito obrigada pela entrevista, sr. Gonalves Dias. Esperamos ter agradado os leitores! GD: No h de qu agradecer. Agora, voltar-me-ei minha casa, aonde h palmeiras e que canta o sabi!