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Sérgio Figueiredo Ferretti** ENSINO E PESQUISA DE ANT~OPOLOGIA NO MARANHÂO* 1 - ENSINO DE ANTROPOLOGIA NO MARANHÂO O ensino de Antropol~ gia no Maranhão é precário. Ini ciou-se timidamente em 1952 com a fundação da Faculdade de Filo sofia pela Arquidiocese. Em 1967 criou-se a Universidade Federal do Maranhão e, com a implant~ ção do ciclo básico em 1970, seu ensino tornou-se obrigatQ rio para os cursos da área huma nística. Até então, era minis trado apenas aos alunos de Geo gráfia, História e Filosofia. Na Faculdade de Filosofia seu ensino foi iniciado peJ,omédico maranhense Dr. João Braulino de Carvalho, membro da Academia Ma ranhens~ de Letras, interessado em estudos indígenas. Dr. Brau lino possuia uma coleção pess~ aI de objetos artesanais e ar queológicos de índios maranhen ses e não ternosnotícias de que tenha publicado trabalhos neste campo. Foi assistido e continu~ do pelo médico maranhense Dr. Olavo Correa Lima, do Instituto * Histórico e Geográfico do Mara nhão, que ainda leciona Antrop~ logia, principalmente para o curso de Geografia. Dr. Olavo e interessado em estud~ de arque~ logia e comunidades negras, so bre os quais tem publicado arti gos e folhetos. A partir de 1970, com a obrigatoriedade da Antropol~ gia no básico da area humanísti ca, reuniu-se na UFMA certo nu mero de jovens profissionais de ciências sociais, a maioria pr~ cedente do sul e que aos poucos foi se capacitando em cursos de extensão, de pós-graduação e em atividades de ensino e pesquisa. Hoje, quase todos estão conclu indo ou iniciando cursos de dou toramento. Desde 1972, foi ela borado um primeiro pz oj et.opara a criação de curso de graduação em Ciências Sociais, com habil! tação em Sociologia e Antropol~ gia. Por contingências diversas, Trabalho apresentado na I Reunião Regional de Antopólogos do Nordeste. fe, 12 a 14/11/85. ** Professor Adjunto do Depto. de Sociologia e Antropologia da Universidade Fede ral do Maranhão. Mestre em Antropologia pela UFRN. Reei Cad. Pesq. são Luís, 5(2): 161 - 180, jul./dez. 1989 161

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Sérgio Figueiredo Ferretti**

ENSINO E PESQUISA DE ANT~OPOLOGIA NO MARANHÂO*

1 - ENSINO DE ANTROPOLOGIA NO MARANHÂO

O ensino de Antropol~gia no Maranhão é precário. Iniciou-se timidamente em 1952 coma fundação da Faculdade de Filosofia pela Arquidiocese. Em 1967criou-se a Universidade Federaldo Maranhão e, com a implant~ção do ciclo básico em 1970,seu ensino tornou-se obrigatQrio para os cursos da área humanística. Até então, era ministrado apenas aos alunos de Geográfia, História e Filosofia.Na Faculdade de Filosofia seuensino foi iniciado peJ,omédicomaranhense Dr. João Braulino deCarvalho, membro da Academia Maranhens~ de Letras, interessadoem estudos indígenas. Dr. Braulino possuia uma coleção pess~aI de objetos artesanais e arqueológicos de índios maranhenses e não ternosnotícias de quetenha publicado trabalhos nestecampo. Foi assistido e continu~do pelo médico maranhense Dr.Olavo Correa Lima, do Instituto

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Histórico e Geográfico do Maranhão, que ainda leciona Antrop~logia, principalmente para ocurso de Geografia. Dr. Olavo einteressado em estud~ de arque~logia e comunidades negras, sobre os quais tem publicado artigos e folhetos.

A partir de 1970, coma obrigatoriedade da Antropol~gia no básico da area humanística, reuniu-se na UFMA certo numero de jovens profissionais deciências sociais, a maioria pr~cedente do sul e que aos poucosfoi se capacitando em cursos deextensão, de pós-graduação e ematividades de ensino e pesquisa.Hoje, quase todos estão concluindo ou iniciando cursos de doutoramento. Desde 1972, foi elaborado um primeiro pz ojet.oparaa criação de curso de graduaçãoem Ciências Sociais, com habil!tação em Sociologia e Antropol~gia. Por contingências diversas,

Trabalho apresentado na I Reunião Regional de Antopólogos do Nordeste.fe, 12 a 14/11/85.

** Professor Adjunto do Depto. de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão. Mestre em Antropologia pela UFRN.

Reei

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este projeto não foi adiante,está sendo reformulado mais umavez e reencaminhado aos canaiscompetentes. Os entraves administrativos e burocráticos saograndes e ainda não houve decisão,mas tem-se a esperança de implantá-lo em 1987 constatando-se que já funciona na maioriadas Universidades do Nordeste.Em 1983, teve início um cursode especialização em Sociologia,destinado a graduados em áreasafins, já oferecido a duas turmas, com mais de dez alunos cada uma, estando previsto o início da terceira turma no próx!mo semestre.

NA UMFA, Antropologia,Sociologia e Estudos de Plobl~mas Brasileiros constituem umúnico Departamento vinculado aoCentro de Estudos Básicos. O Departamento conta com cerca de30 professores, cinco dos quaisestão ligados à coordenação deE.P.B. Dos professores de Soci~logia e Antropologia, 6 possuemnível de graduac;ão, 4 de esp~cializac;ão, um cursa mestrado,11 possuem mestrado concluíndo,sendo 3 em Antropologia e os d~

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mais em Sociologia e Educação,4 estão cursando doutorado e ume doutor em Antropologia, leci~nando como professor visitante.Este quadro deverá sofrer brevemente algumas al:erac;ões, com afutura encampação da Universid~de Estadual do Maranhão, no momento em estudo. Existem 16 pr~fissionais de Antropologia rad!cados atualmente no Maranhão, amaioria vinculados à UFMA. Destes, quatro possuem graduac;ão ,especializac;ão ou estão freque~tando mestrado, 4 possuem mestrado concluído, 6 estão cursando doutorado, em fase de elaborac;ãode tese e 2 são doutores.

A Antropologia além deser ministrada na UFMA como disciplina introdutória, atualmente em todos os cursos, é ofer~cida na graduac;ão aos alunos deHistória, Geográfia, Filosofia,Educac;ão Artística e Comunicac;ões,como Etnologia ou Antrop~logia Nacional, Cultura. Brasileira ou Folclore e, na especi~lizac;ãoem disciplinas como Cultura Popular, Campesinato,Antr~pologia Urbana e Metodologia daPesquisa.

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A biblioteca da UFMA,embora pequena, tem sido razoavelmente ampliada com obras deAntropologia, nem sempre devid~mente consultadas pelos alunos.Os estudantes são estimuladosa realizar trabalhos introdutórios de pesquisa de campo sobrea realidade local, além da pesquisa bibliográfica. Até hoje,não há publicações periódicasem Sociologia e Antropologi~ e~bora a Gráfica da UFMA já esteja publicando alguns trabalhosde seus pós-graduados na area.

Apesar de inúmeras deficiências, o ensino de Antropol~gia deu possibilidades de fixarno Maranhão, certo numero deprofissionais em Antropologiae Ciências Sociais, permitindo-lhe condições de sobrevivênciae a realização de atividades deensino e pesquisa e, ainda, po~sibilitando sua participação emprogramas de pós-graduação. Embora sejam em número reduzido,sobretudo os que possuem pós-graduação completa, a maioriarealiza pesquisase está vinculada à pós-graduação. Os antrop~logos são muito ativos e requi

sitados no Maranhão. Geralmente participam de encontros daS.B.P.C., A.B.A., A.N.P.O. C.S. e outras associações pr~fissionais, apresentando tralhos e relatórios de pesquisaEm são Luís, com frequência <?!"

ganizam-se seminários, curso~conferências, simpósios e debates, convidando profission~is de outros Estados. são também convidados, localmente,para entrevistas, debate~ co~ferências, cursos e seminários diversos. Participam eorganizam regularmente, eventos semelhantes sobre temas relacionados com o negro, o indio, religiosidade, culturapopular, campesinato, sindicalismo, ideologia, minorias,invasões, formas de resistencia e de organização populare outros.

Entre os principaisproblemas do ensino, podemosassinalar, a nao implantaçãoaté hoje de um curso regularde graduação em Ciências Sociais no Maranhão. Por issomesmo, a Antropologia é lecionada quase exclusivamente em

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disciplinas gerais, de introducâo , ministradasem áreas muitodiversificadas, sendo hoje abrigatória em todos os cursos, contra a opinião da maioria dos prQfessores. Parece-nos excessivo edesnecessária a disciplina AntrQpologia em cursos como Matemática, Física, Química, EngenhariaElétrica, Contabilidade e outros.Devido a isso, os professorestêm geralmente que assumir cargahorária de aulas excessiva, restando pouco tempo para a pesquisa. Muitas vêzes, é difícil conciliar o ensino com certffietapasdo trabalho de pesquis~ como trabalho de campo ou redação de relatórios e nem sempre há flexibilidade para estes problemas. Osprofessores ficam por muito tempo repetindo os mesmos cursos g~rais e introdutórios. Torna-secomplexo lecionar a disciplina comenfoques específicos para cadacurso. Seria interessante dispo~mos de manuais mais adequados àrealidade brasileira e nordestina, bem como textos de leitura oumaterial audio-visual acessível.

2 - A PESQUISA ANTES DE 1940

O Maranhão conheceu

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período de expansão econômica ede urbanização de sua capital entre 1750 e 1850, que se refleteentre outros aspectos na sua arquitetura civil até hoje. Os senhores mandavam, então, os filhosestudar na Europa. Entre 1772 e1872, apenas na Universidade deCoimbra, há registros da pass~gem de cem maranhenses que retornaram como engenheiros, matemáticos, filósofos, literatos eintelectuais em geral. são Luísvangloriava-se no Século XIX deser a "Atenas Brasileira". Osque não podiam ir à Europa. pa~saram depois, alternativamente ~a estudar na Faculdade de Direi.:to do Recife ou na Faculdade deMedicina da Bahia, até meadosdeste século.

Devido a isto houve noséculo passado, grande expansãoda literatura no Maranhão. A Medicina, o Direito, a História,a Geografia, a Filosofia e a Literatura, foram as principaisareas de conhecimento em que cedo se manifestou o interessela reflexão sobre o homem.

p~Pode

ummos indicar a partir de meadosdo século passado, entre outros,

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os seguintes intelectuais maranhenses, interessados em estudos sobre o homem: GonçalvesDias (1823-1864), Bacharel emCoimbra, poeta, indigenista, comicionado pelo I.H.G.B.para re~lizar estudos em arquivos brasileiros, e portugueses: Aluísiode Azevedo (1857-1913), escritor e jornalista, preocupadocom preconceitos raciais, autordo romance naturalista "O Mulato" (1881): Celso de Magalha~s(1849-1879), advogado, poetaabolicionista, publicou em Recife em inícios da década de 1870,artigos sobre poesia popularbrasileira, considerano porSilvio Romero como precursor dosestudos sobre Folclore e PoesiaPopular no Brasil; Cesar Marques (1823-1900), médico e historiador, publicou em 1870 o"Dicionário Histórico e Geogr~fico da Província do Maranhão".No fim do século, o médico NinaRodrigues (1862-1906) publicouestudos sobre o negr~ religiõesafro-brasileira e questões raciais, sendo considerado comjustiça cornopioneiro da Antropologia no Brasil. Nina Rodrigues, entretanto, radicou-se na

Bahia, mas em diversas pass~gens de suas obras, faz referências a negros que conheceu emsua infância e juventude no Maranhão.

No século XX, o intere~se pelos estudos sobre o homemnão vai produzir resultados maisfecundos no Maranhão, antes dasdécadas de 1930 e 1940. Uma dasáreas que cedo atraiu o interesse de estudiosos foi a pesquisahistórica sobre as guerras daBalaiada (1836-1841),do-se a influência deda Cunha. Entre seus

destacanEuclides

primeirose quase que únicos estudiososantes de 1950, encontramos os s~guintes escritores maranhenses:Carlota Carvalho, "O Sertão",1924; Ribeiro do Amaral, "A Balaiada": Padre Astolfo Serra, " ABalaiada", (2ª ed. 1946). O p~litico e intelectual MaranhenseDunshee de Abranches (1867-1941), publicou, "O Cativeiro",(1941), bem elaborado livro de

memóriffisobre condições de vidado escravo no Maranhão até aabolição. Na primeira metade doséculo XX, os irmãos Lopes, primos de Celso de Magalhães, p~

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blicaram vários estudos sobre ohomem no Maranhão. Raimundo Lopes (1894-1941) realizou estudos em Geografia, Etnologia, A~queologia e História. Publicouentre outros: "O Torrão Maranhense" (1916), "Civilização L~custre no Brasil" (1924~, estudo arqueológico sobre esteariase palafitas no Lago Cajari; "OsTupis do Gurupi" (1934) e "UmaRegião Tropical" (1936-38). A.mi:.go de Roquete Pinto, trabalhouno Museu Nacional onde prestouconcurso para a cadeira de Antropologia, tendo representadoa instituição em diversos congressosinternacionais. Seu irmão Antônio Lopes Ü889-l950)formado em Direito no Recife,radicou-se no Maranhão. Professor de Literatura e Direito,jo~nalista e historiador, membroda Academia Maranhense de Letras, como a maioria dos anteri:.ormente citados, fundador doInstituto Histórico e Geográfi:.co do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore. Realizouestudos não publicados, com vistas a atualizar até meados doséculo XX, o Dicionário de Ce

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sar Marques. Diversos contemp~raneos afirmam que, com a intenção de publicar uma história donegro no M~ranhão, reuniu notável documentação sobre o negro eoschltos "fetic~istas",infeliimentehojé perdida.

Muito intelectuais e estudiosos maranhenses viverampouco tempo,alguns apera:;ultrapa~sando a faixa dos trintas anosou mal chegando à dos cinque~ta. Entre estes podemos incluirGonçalves Dias, Celso de Mag~lhães, Nina Rodrigues, Raimundoe Antônio Lopes e mais perto denós o folclorista Domingos Viei:.ra Filho. Notável e fecunda excessao foi o etnógrafo Nunes Pereira, falecido em 1985 aos noventa e dois anos de idade. Talvez o pouco estímulo e as gra~des dificuldades para o estudodo homem no Maranhão,tenham contribuído para a vida curta detantos intelectuais.

Em 1938 passou pelo Maranhão e por outros Estados doNorte e Nordeste, a Missão Folclórica da Prefeitura Municipal

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de são Paulo, sob a orientaçãode Mário de Andrade. Coletou emsão Luís valiosa documentaçãomusical sobre Tambor de Mina eTambor de Crioula, publicada em1948, com organização e comentários da etnomusicóloga OneydaAlvarenga.

As década:;de 1940 e 1950

foram das mais fecundas para osestudos de Antropologia no Maranhão em algumas áreas, e sobretudo ricas em publicações de tr~balhos de nível nacional e internacional. Depois deste perí~do, parece ter havido até os anosde 1970, certo desinteresse oudesestímulo pelos estudos sobreo homem no Maranhão, como reflexo evidente da falta de apoiooficial para pesquis$antropolQgicas nesta região do país. Esperamos que esta situação se modifique muito breve, com a p~blicação de resultadffidepesquisas realizadas por pesquisad~res atuais, a partir de 1970.

Com raras excessoes nocampo do indigenismo,dos antropológicos noanteriores à década

os estuMaranhão,de 1940,

salvo melhor juizo, tiveram carater mais literário do que pr~priamente científico. A maioriados trabalhos foram publicadospor escritores e jornalistas,ligados à Academia Maranhense deLetras ou ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.Pe~quis$da Etnografia e de Antropologia científica, com raras e~cessões, só começam a ser realizadas no Maranhão a partir dadécada de 1940, a maioria feitas por pesquisadores não maranhenses natos e formados fora,que vinham realizar pesquisa decampo no Maranhão. O negro, oindígena e o folclore foram inicialmente os principais temasestudados.

3 - PESQUISA SOBRE O NEGRO NOMARANHÃO

Em trabalho anterior(Ferretti, 1985: 19-40), fizemosuma análise dos estudos sobre onegro e suas manifestaçõ~s religiosas no Maranhão. Desde 193tl,

o historiador, linguista e etnomu s í có Loqo português então radicado na Bahia, Edmundo Correia

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Lopes, realizou viagens de estudos ao Norte do Brasil e publ!cou alguns trabalhos em que ch~ma atenção para a importânciade comunidades religiosas afro-brasileiras do Maranhão, espec!almente a Casa das Minas. Arthur Ramos em alguns trabalhoscomo em "As Culturas Negras"(orig. 1943), informa que sug~riu ao professor Herskovits em1941, o plano de uma viagem deestudos ao Maranhão, que ambosinfelizmente não puderam realizar.

o veterinário e etnólogo maranhense M. Nunes pereira (1893-1985), realizou em1942 importante pesquisa na Casa das Minas de são LuIs, apr~sentada na Sociedade Brasileirade Antropologia e Etnologia doRio de Janeiro, em 1944, e p~blicada em 1947 (liA Casa das Minas"), com valioso prefácio deArthur Ramos, cuja segunda edição ampliada só foi tardiamentepublicada em 1979. Entre 1943/44, o jovem antropólogo pauli~ta Octávio da Costa Eduard~ realizou trabalho de campo por noVQ meses no Maranhão, coletando

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material para sua monografia depós-graduação, redigida sob aorientação de M.J. Herskovits.Seu importante estudo "The N,!gro In Northern Brazil" foi p~blicado em Nova 'ork em 1948 ereeditado em 1966 em Londres eWashington, mas infelizmentenunca foi autorizado para serpublicado no Brasil. Estes doistrabalhos são os mais importantes estudos sobre religiõesafro-maranhenses conhecidos atéhoje e constituem a principalfonte de informações sobre oMaranhão nos escritos de RogerBastide e de outros autores.

Nunes Pereira, filho esobrinho de importantes iniciados no culto da Casadas Minas ,onde conviveu na infãncia, realizou pesquisa que demonstragrande sensibilidade e profundaempatia com o tema e que qual!fica modestamente de "um depo!mento". Com apenas 65 páginas,seu estudo até hoje é um dos m2delos da etnografia religiosaafro-brasileira. Nunes Pereirarealizou, ainda, diversas outras pesquisa~ e pUblicou trabalhos sobre o negro e o Indio

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fora do Maranhão, que referiremos a seguir. Octávio da CostaEduardo filia-se à teoria culturalista, então dominante naAntropologia Norte Americana.Realizando estudos de aculturação, compara tradições religi~sesno meio urbano e rural do Maranhão e da Africa, modos de vida e organização familiar deorigens yorubanas e daomeanasaqui localizados. Publicou trêsoutros trabalhos sobre o tema,um deles apresentando contosfolclóricos de origem africanacoletados no interior do Maranhão. Sua tese, lamentavelmentede dificil acesso, constitui aprincipal tentativa de abordagem científica dos cultos afro-maranhenses, com informações v~liosas, interpretadas segundo oreferencial teórico então disp~nível.

A rápida passagem porsão Luís, em 1948, do etnofotógrafo Pierre Verger, e sua po~terior estadia no Daomé, possibilitaram sua intuição e investigações sobre a origem da Casadas Minas. Segundo Verger, oculto dos voduns foi trazido

por Nan Agontimé, mae do reiGhezo, vendida como escrava ju~to com outros membros da família real por Adandanzam que reinou entre 1797 e 1818. Esta hipótese foi publicada em Dakarem 1953 sem que então tivesse c~nhecimento, conforme nos afirmou Verger, das informações p~blicadas cinco anos antes porCosta Eduardo (1948:77), sobreo culto de ancestrais da família real do Daomé, encontradosno Maranhão.

Roger Bastide, em inicios da década de 1950, realizoutambém breve viagem de estudosao Maranhão. Em diversos trabalhos, especialmente em "O candornbléda Bahia" (1958), "As r~ligiões africanas no Brasil"(1960) e em "As Américas Negras" (1967), desenvolve comentários e reflexões sobre religiões afro-maranhenses, basead$ em informações de Nunes Pereira e Costa Eduardo.José Jorge de Carvalho, em monografiaapresentada em Belfast "Studiesof Afro-Brazilian Cults" (1978:95), a ser brevemente publicadano Brasil, critica esta persp~

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ctiva de Bastide, yue denominade etnografia congelante, porsupor que dados originados depesquisas realizadas em décadasanteriores, permaneçam sempreválidos. Seu profundo conhecimento e autoridade no assunto,possibilitam que Bastide apr~sente entretanto, brilhantes ebem redigidas reflexões sobre r~ligiões afro-maranhenses.

Só a partir de meadosda década de 1970, voltam a serrealizados e publicados estudossobre religiões afro- maranhenses. Em 1977 a Fundação Cultural do Maranhão publicou monografia de mestrado apresentadana Escola de Sociologia e Política de são Paulo no mesmo ano,pela professora paulista MariaAmália Pereira Barreto "Os Voduns do Maranhão". Baseada nabibliografia disponível e em rapidas viagens de pesquisa, a autara apresenta dados e reflexoes sobre a Casa das Minas esobre duas outras comunidadesde culto. Referências ao negroe religiões afro - maranhensessão tâmbém encontradas, corno anteriormente, em escritos e estu

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dos de história, folclore, sobre o campesinato e em obras literárias, como em "Os Tamboresde são Luís", de Josué Montello(1976) e ainda em recentes depoimentos public~os ou em Vlasde publicação por pais-de-santomaranhenses como Euclides Menezes Ferreira.

Atualmente o Centro deCultura Negra tem realizado debates, conferências, estudos dedocumentos em arquivos, relativos a comunidades negras do meiorural e sobre o negro no Maranhão. A jornalista Maria Raimunda Arafijo tem coordenado partedestes trabalhos. O professorde antropologia da UFMA, CarlosBenedito Silva tem realizado estudos sobre comunidades ruraisnegras e preconceitos de cor noMaranhão. A jovem assistente social Silvia C. Costa Leite realiza pesquisas sobre mulher negra e discriminação. Pesquisasobre religiões afro- maranhenses estão sendo realizadas atualmente pela bacharel em História, Maria do Rosário rarvalhoSantos (realizando levantamentode casas de culto de são Luís )

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e pelos antropólogos da UFMA,professora Mundicarmo M. R. Ferretti (valores em casa de cultoe o caboclo na mina maranhense)e Sérgio Ferretti (religião p~pular e ideologia).

A realização em junhode 1985 de um seminário de estudos para debater Religião e Negritude: Identidade e Resistência Cultural do Negro Brasileiro, reunindo cientistas sociai~líderes religiosos e militantesnegros, promovido pelo Núcleode Estudos Afro-Brasileiros, emorganização na UFMA, foi um acontecimento de grande interesse.Foi realizado como preparação aocolóquio internacional promovido a seguir pela UNESCO em sãoLuís, com objetivo de debatersobrevivências das tradições r~ligiosas africanas na AméricaLatina e Caribe. Tais eventosreuniram, pela primeira vez noMaranhão, grande número de "experts" brasileiros e estrangeiros de alto nível, contribuindopara despertar a atenção e apr~fundar os debates na Universidade e na comunidade local, mostrando a relevância de tal area

de pesquisa.

4 - PESQUISA SOBREMARANHÂO

íNDIOS NO

Estamos menos capacit~dos a transmitir informações s~bre a importante área dos estudos indigenistas no Maranhão. Oíndio em toda parte despertouIDteresse dos estudiosos desde aépoca do descobrimento até hoje.No período colonial, destacam-se no Maranhão os trabalho clássicos de Yves d' Evreux (1570-1630) e Claude D'Abeville(1614Lbásicos para o estudo dos Tupi,como informa Baldus (1954). Hánumerosos escritos de missionários, viajante~ administradorese cronistas do período colonialaté o século XX, fornecendo su~sídios mais ou menos importa~tes para os estudos sobre indígenas do Maranhão. Além dos járeferidos, temos na primeira metade deste século, diversos tr~balhos realizados por Curt Nimuendaju sobre a maioria das tribos do Maranhão, com informações sobre língua, organizaçãosocial e mitologia dos índiosTimbiras, Tembé, Guajá, Canela,

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Gamela, Guajá e outros gruposexterminados. Seus trabalhos referentes ao Maranhão publicadosde 1914 a fins da década de1930, são infelizmente de difícil acesso.

Nas décadas de 1940 e1950, importantes pesquisas sobre indígenas do Maranhão, foram ~ealizadas e publicadaspelos antropólogos Charles Wagley, Eduardo Galvão (1921-1976)e Darcy Ribeiro. Destacam-se entre outros os trabalhos deWagley e Galvão "Os índios Tenetehara" (Orig. N.Y. 1949), monografia sobre os Guajajara.Darcy e Berta Ribeiropublicaram estudos sobre os Urubu-Kaapor, destacando-se: "Asartes plumárias dos índios Kaapor" (1957) e "Uirá sai a procura de Deus" (orig. 1957).

Entre meados da décadade 1950 e 1980 o antropólogonorteamericano William H. Croker, realizou estudos entre osíndios Canela sobre os quais p~blicou artigos em periódicos especializados, proferindo ocasi~nalmente palestras em são Luís.

O etnólogo Nunes Pereira acimareferido, publicou vários estudos sobre índios da Amazônia, e~tre os qua í s podemos indicar aeus

livros, "Os índios Maués" (1954),"Panorama da Alirrentação Indíg~na" (orig. 1964) e " Morongu~tá:um Decameron indígena" (1967), Osertanista maranhense Olimpio

.Cruz tem publicado na década de1970 alguns trabalhos sobreindig~nas do Maranhão nas áreas de pe~quisa histórica, lendas, poesiae vocabulário.

A Universidade Federaldo Maranhão, a Secretaria de Cu!tura do Estado, a FUNAI, o CIMEe outras instituiçôes costumamorganizar anualmente eveútos emsão Luís sobre problemas dos índios do Maranhão, convidando antropólogos especializados. periodicamente, antropólogos do sulv~em realizar trabalho de campoentre tribos do Maranhão. No momento temos notícias dos segui~tes especialistas com pesquisasna área indígena, de passagem ouradicados no Maranhão: Mercio Gomes (UNICAMP e FUNAI) com pesqu!sa sobre os grupos de caçadores

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e coletores dos Tembés e Guajás,Etienne G. Samain (UFRN;UNICAMP),sobre mitologia dos Urubus, Darrel Posey (professor visitanteda UFMA desde 1982), realizandopesquisas sobre os índios Caiapó do Gorotide no Pará, nasareas de etnobiologia e ecologiae Maria Elizabete Bezerra Coelho, (professora da UFMA) , compesquisas sobre problemas deterras indígenas e política indigenista. Os estudos indigeni~tas constituem área que atraiuao Maranhão grande número de pe~quisadores de alto nível. periodieamente há dificuldades de relacionamento entre pesquisadQres e a FUNAI, criando obstáculos ã realização de pesquisas.

5 - PESQUIS1'6SOBRE FOLCLORE ECULTURA POPULAR

Este constitui outro dominio nos estudos sobre o homemque tradicionalmente chamou aatenção de vários pesquisadores,muitos deles auto-didatas. Neste campo há muitos trabalhos denível variado. Além dos maranhenses já indicados, destaca-se o folclorista Domingos /Vieira Filho (1924-1981), advogado,

professor, dirigiu por muito tempo o Departamento de Cultura daSecretaria de Educação, presidiua Fundação Cultural do Maranhão,foi membro da A.M.L. do I.H.G.M.e presidente da Comissão Maranhense de Folclore. Publicou diversos artigos e entre outros osseguintes livros:"A linguagem PQpular do Maranhão" (2ª ed.1958),"Folclore do Maranhão" (1976)"índios do Maranhão-bibliografia"(1977),"Negros do Maranhão-biblb_grafia" (1978), "Populário Maranhense" (póstumo-1982). Entre diversos folcloristas maranhens~Sque têm publicado resultado desuas pesquisas, podemos destacar:Nascimento Moraes Filho "O que éo que é?-enigmas populares"(1972), "O cancioneiro geral doMaranhão" (1976),"pé de conversa"(1957); Américo Azevedo Neto"Bumba-Meu-Boi no Maranhão (1983);Pe. Jocy N. Rodrigues "Ritos Fúnebres Populares do Maranhão"(1981) i Roldão r,ima"Vidate de Nhozinho" (1979);

e arSérgio

Ferretti e outros "A dança doLelê" (1977) eCrioula" (1979),

Tambor detrabalhos de

pesquisa em equipe.

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Algumas teses de mestrado em Antropologia ou em outros campos, têem sido prepar~das por pesquisadores maranhenses ou de passagem pelo Maranhão, produzindo alguns excelente estudos sobre cultura pop~lar, a maioria infelizmente ai~da inéditos. Entre estes pod~mos indicar: Regina de paulados Santos Prado "Todo ano Tem:as festas na estrutura socialcamponesa" Museu Nacional1977), sobre o bumba-meu boi nolitoral norte maranhense, monografia orientada por Roberto daMatta; Maria Elizabeth Rondellide Oliveira - "O Narrado e o Vivid~, aspectos comunicativos eantropológicos da literatura p~pular oral" (UNICAMP 1982) orientada por Antônio Arantes, analisando estórias de Trancoso numpovoado de pescadores de sãoLuís; Maria do Socorro Araújo-"Tu cantas eu conto" (PUC-SP,1984), mestrado em Serviço Social sobre o bumba-meu-boi comolazer em são Luís; Mundicarmo M.R. Ferretti: "Na batida dobaião, no balanço do forró(UFRN,1983)I mestrado em Ciên

cias Sociais orientado por Kabengele Munanga, analisando amúsica de Luiz Gonzaga e zé Dantas no contexto de produção esua atualização. A maranhenseMichol de CarvaLho está prep~rando monografia de mestrado emComunicações no IUPERJ sobrebumba-meu-boi. A estudante francesa Silvie Fougeray, realizoupesquisas em 1983/84, sobre bumba-meu-boi em vários Estados eno Maranhão, para monografia depós-graduação, orientada porJean Duvignaud, na perspectivada Sociologia do Imaginário.

Diversos estudiosos deoutros Estados e do exterior,fr~quentemente passam pelo Maranhão, interessados em coletarmaterial de pesquisa sobre folclore e cultura popular. Em1981 a Secretaria de Cultura doMaranhão organizou um Centro deCultura Popular que possui razoável biblioteca e um bom museu de folclore. Atualment~ desde 1974, vem sendo organizadasno Estado, semanas de folclorecom exposições, cursos, concursos e publicações de monografias

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sobre o folclore, visando estimular na juventude o interessepela cultura popular e pelastradições maranhenses. O bumba-meu-boi, danças como o tamborde crioula, e a festa do Divino Espírito Santo, têm sido ostemas mais pesquisados. Mas hákodo um vasto campo de pesqu!sas de cultura popular a ser empreendido no Maranhão, com metodologia científica da AntropolQgia. Nos últimos anos, tem sidouma das áreas que têm despert~do interesse e em que o ensinoe a pesquisa encontram-se razoávelmente difundidos no Maranhã~

6- PESQUISAS SOBRE CAMPESINATO

Na década de 1960, Manoel Correa de Andrade realizouestudos importantes sobre camp~sinato no Maranhão. A partir de1970, o campesinato é a areaque tem atraído a atenção domaior número de antropólogos aoMaranhão, interessados em prQblemas relacionados com frentesde expansão de fronteira agricolas, conflitos relacionadoscom posse da terra, situação depequenos produtores e de posse!

ros em terras devolutas, em terras de santo ou em terras de negroEa problemas de grilagem,transformações econõmicas e sociais no campo e outros temascorrelatos.

Antropóloqos ligados aoMuseu Nacional da UFRJ e a prQgramas de pós-graduação de outras Universidades, têm realizado pesquisas no Maranhão, muitaspublicadas no sul do país. otávio Guilherm~ Velho em vários artigos e livros, discute asp~ctos do campesinato no Maranhãoe Pará, destacando-se: " Frentesde expansão e estrutura agrária"(1972) e "Capitalismo autoritário e campesinato" (1976). Roberto da Matta coordenou em 1971trabalhos de pesquisas de equ!pe de mestrandos, na Prelazia dePinheiro, dos quais resultarammonografias como a de Laís Mourão sã "O pão da terra, propr i.e

dade comuna1 e campesinato livre na Baixada Ocidental Maranhense" (Museu Nacional 1975) •Roberto da Matta coordenou a p~blicação "Aspectos Antropo1óg!cos, pesquisa po1idisciplinar da

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"Prelazia de pinheiro" (1974), comtrabalhos sobre religiosidadepopular em comunidades rurais,de Laís Mourão e Regina Prado.Alfredo Breno de Almeida, do M~seu Nacional, publicou diversostrabalhos como:"Questões agr~rias no Maranhão contemporãneo"(com Laís Mourão, 1976). "Conflitos e lutas dos trabalhadores rurais no Maranhão" (1982),"A ideologia da decad~ncia. Leitura antropológica de uma história da agricultura do Maranhão"(1983), "Passamento" (com Muri10 Santos, 1983), uma iconogr~fia funerária sobre o assassinato de líderes rurais no Maranhão. Luís Eduardo Soares também do Museu Nacional, publicou"Campesinato e Ideologia"(1981), estudando comunidade rural de negros. Em 1980/1981, Ma~rício Vinhas de Queiroz coordenou pesquisa sobre a economiado babaçu no Maranhão. MaristeIa Andrade apresentou "Os ga~chos descobrem o Brasil; pequ~nos produtores agrícolas do sertão maranhenses" Mestrado em C.S. USP 1982). Regina Luna, prQfessora da UFMA apresentou "A

terra era liberta - estudo daluta dos posseiros pela terra noVale do Pindaré/Ma" (Mestrado emC.S. UFRN 1983). A professorada UFMA Regina Stella Viana, apresentou à UFCI em 1985 monografia de mestrado em Sociol0gia sobre produtores do babaçu.O professor da UFMA José CarlosSaboia~ realiza pesquisa paratese de doutorado na USP, sobreformas de resist~ncia e de org~nização dos camponeses na lutapela terra.

O cineasta e et no fo t.óq rafo Murilo Santos publicou também "Bandeiras Verdes" (1981 ),da pesquisa da C.P.T., transformações econômicas e sociais nocampo maranhense, sobre recentesocupações de terra. O líder rural Manuel da Conceiçãocou "Essa terra é nossa -

publidepoilutasmento sobre a vida e as

de camponeses no Estado do Maranhão" (1980 - entrevista e ed.de A. Maria Galeno). Pe. VictorAsselin publicou "Grilagem, co!:rupçao e v Lo Lêric í.a em terras doCarajás" (1982).

Nesta área diversos tra

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balhus têem sido realizados emequipe reunindo antropólogos eoutros profissionais, publica~do-se grande número de trabalhosem periódicos especializados eem editoras do Sul. Na área há ointeresse de profissionais vinc,!!lados a algumas instituições gQvernamentais, religiosas e particulares como o I.P.E. 5.,a C. P.T.,Cári tas Brasileira, Sociedade M~ranhense de Defesa dos DireitosHumanos e Federação dos 'lrabalh~dores na Agricultura do Maranhão. Periodicamente sao realizados vários eventos e sempresurgem outros pesquisadores interessados, demonstrando o din~mismo dos estudos sobre campesinato no Maranhão.

7- OUTRAS ÂREAS DE PESQUISAS RE.- '.

CENTES

Razoável número de prQfessores do Estado e da UFMA, vinculados principalmente aos Departamentos de Sociologi~ Hist~ria e Educação,realizaram rece~temente, cursos de Mestrado emEducação na Fundação GetulioVargas ou em outras instituições, tendo apresentado monogr~fias sobre diversos aspectos daeducação no Maranhã~ alguns dos

quais recentemente publicados.Entre os professores de Socio1Q'gia e Antropologia deste grupo t~mos Arno Kreutz, Claudete Ribeiro, Regina Nina e Mercês Farias.

A partir dos anos de1980, alguns novos setores têmatraido diversos pesquisadoresao Maranhão sobretudo nas áreasde Antropologia Urban~ SociolQgia Poli tica, Sociologia Econômica e do Desenvolvimento. Atualmente (1985) há três doutorandosrealizando pe squ í sesde AntropolQgia Urbana em são Luis: Daniel T.Linger da Universidade da California, estudando violência urbana en tre popu La çôe s marginais; ospr o Eessores da UFMA José Man t.ov an i ('Lúc ia Saboia, vinculados à

USP, estudam invasões e forma deorganização de populações marginais na periferia de são Lui~ ASociologa sulista Lucila Scavone, que lecionou alguns anos naUFMA,realizou pesquisas sobresaúde e mulher no Maranhão. Oscientistas sociais maranhenses

José Ribamar Caldeira, professor

da UFMA e Rossine Correa do IPES,realizam pesquisa para doutora

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mento na USP e UNB em Sociologia política e Sociologia do De$envolvimento, com estudos sobre operariado no Maranhão noséculo xx.

Devido a recente impla~tação de grandes projetos econõmicos relacionados com a exportação por são Luís de minérios da Serra de Carajás, há diversos projetos de pesquisasatuais preocupados com esta situação, envolvendo profission~is de Antropologia, Sociologia,Economia, Administração e Serviço Social, vinculados à UFMA eoutras instituições. Tais pe~quisas relacionam-se, entre outros, com problemas como: identificação de formas de expansãodo capitalismo, projetos de colonização, utilização da ciência e da tecnologia, alteraçõesrecentes decorrentes de transferências de populações, formasde resistência e de organizaçãode populações atingidas, ocup~ção de terras indígenas, problemas ecológicos e ambientais decorrentes da poluição face à implantação de indústria de alumínio em são Luís e outras. Diver

sos profissionais da area humanística radicados no Maranhãq eque atualmente realizam pesqulsas vinculadas a programas depós-graduação, desenvolvem trabalhos com esta ~reocupação. E~tre estes indicamos o doutorando em Antropologia da Universidade de Oxford, no momento depassagem pela UFMA, David Cleary, que realiza pesquisa sobrecampesinato e garimpagem do ouro no Maranhão e Parã.

8 - ALGUNS PROBLEMAS DA PESQUISA EM ANTROPOLOGIA NO MARANHÂO

Brevemente podemos indlcar alguns problemas da pesqulsa em Antropologia atualmenteno Maranhão. A maioria dos trabalhos permanece inédita ou,quando muito, é publicada em p~quenas edições locais ou em p~riódicos de circulação restrita. Sua divulgação tem que serfeita pelo próprio autor entreamigos. Excetuam-se poucos pesquisadores melhor vinculados aomovimento editorial do Sul. Nãohá um movimento editorial quepermita a circulação de pesqul

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sas entre os Estados do Nordeste, a nao ser através do Sul doPaís. Muitos trabalhos de bomnível e de interesse estadualou regional ficam desconhecidosdo público, sendo acessíveis

iniciados.idéias

apenas a uns poucosO debate e a troca decom especialistas do mesmo setor, é difícil para os que residem ou estão trabalhando no Maranhão e, praticamente só ocorre, quando se participa de encontros de profissionais naárea, que infelizmente nao saomuito frequentes, comparativ~mente a outras profissões, comopor exemplo os diversos setoresda área médica.

Na Universidade Federaldo Maranhão, apesar de avançosrecentes, a pesquisa ainda épouco valorizada em relação aoensino. Isto se reflete na carga horária excessiva de aulasexigida dos professores, sendoa pesquisa considerada como umaforma de lazer individual que deveser realizada normalment~ 'semprejuizo das atividades docentes". Tal mentalidade começa amudar aos poucos, porem os en

traves administrativos e burocráticos constituem uma fontede desestímulos à pesquisa. N 0E.malmente um projeto demora maisde ano para ser aprovado emtodos os trãmites dentro da Universidade, para que o pesquis~dor tenha direito a ser formalmente reconhecido como realizando pesquisa. Muitas vezes nãose recebe em tempo hábil, infoE.

.mações sobre prazos de institu!ções que dão apoio e financiamprojetos. Quando estes financi~mentos são incorporados à Universidade, os entraves burocráticos são quase incontornáveise perde-se mais tempo com a burocracia do que o disponívelpara a pesquisa.

Torna-se fundamental aparticipação periódica dos pe~quisadores em encontros de prQfissionais de sua área e de seusetor específico. Na AntropolQgia tais reuniões de pesquisadQres por áreas de especialização,sao ainda pouco frequentes. Suarealização certamente contribu!rá, para que os antropólogos setornem urnacorporação profissiQnal mais atuante, tendo seus tra

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balhos melhor divulgados nas diferentes regiões do país.

9 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADAalém dos trabalhos indicados

no texto)

BALDUS, Herbet. Bibliografiacrítica da Etnologia Brasileira. são Paulo, Comissão do IVCentenário da cidade de sãoPaulo, S.P. 1954.

CARVALHO, José Jorge da Studiesof afro-brazilian cults: Acritical review of the maintrends of thought. Belfast,The Queen's University, 1978.Mimeo.

COSTA EDUARDO, Octávio da. TheNegro in Northern Brazil. Astudy in acculturation. NewYork, JJ Augustin Publisher,1948.

FERRETTI, Sergio Figueirédo.Querebentam de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas. sãoLuís, UFMA/PPPG/EDUFMA, 1985.

ENDEREÇO DO AUTOR

S~RGIO FIGUEIREDO FERRETTI

MELATTI, J.C.et aL . A Antro Departamento de PsicologiaCentro de Ciências SociaisUniversidade Federal do MaranhãoCampus Universitário do Bacanga65.000 - são Luís - MA.

pologia no Brasil. IN: Anuário Antropológico/82. Rio deJaneiro, U.F.Ce/Tempo Brasileiro, 1984. p. 227-282.

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