Ensino de gramática - Reflexões sobre a língua portuguesa na escola
Ensino da gramática na escola
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Letraslicenciatura língua portuguesa
ensino dagramáticanaescolaprofº responsável
Lucimardantas
*graduação adistância 2° Período
LETRAS/PORTUGUÊS
4º PERÍODO
ENSINO DA GRAMÁTICANA ESCOLA
Ana Caroline Barreto Neves
Érica Karine Ramos Queiroz
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira
ENSINO DA GRAMÁTICANA ESCOLA
Ana Caroline Barreto Neves
Érica Karine Ramos Queiroz
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira
Montes Claros - MG, 2010
2010Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTESCampus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)Caixa Postal: 126 - CEP: 39041-089
Correio eletrônico: [email protected] - Telefone: (38) 3229-8214
REITORPaulo César Gonçalves de Almeida
VICE-REITORJoão dos Reis Canela
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕESGiulliano Vieira Mota
Andréia Santos DiasBárbara Cardoso AlbuquerqueClésio Robert Almeida CaldeiraDébora Tôrres Corrêa Lafetá de AlmeidaDiego Wander Pereira NobreFernando Freire Madureira
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Gisele Lopes SoaresCarla Roselma Athayde Moraes Jéssica Luiza de Albuquerque
Karina Carvalho de AlmeidaREVISÃO TÉCNICA Rogério Santos BrantKátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira
IMPRESSÃO, MONTAGEM E ACABAMENTOGráfica Yago
PROJETO GRÁFICO E CAPAAlcino Franco de Moura JúniorAndréia Santos Dias
EDITORAÇÃO E PRODUÇÃOAlcino Franco de Moura Júnior - Coordenação
CONSELHO EDITORIALMaria Cleonice Souto de FreitasRosivaldo Antônio GonçalvesSílvio Fernando Guimarães de CarvalhoWanderlino Arruda
Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
Ficha Catalográfica:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES
Ministro da EducaçãoFernando Haddad
Secretário de Educação a DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky
Coordenador Geral da Universidade Aberta do BrasilCelso José da Costa
Governador do Estado de Minas GeraisAntônio Augusto Junho Anastasia
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorAlberto Duque Portugal
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - UnimontesPaulo César Gonçalves de Almeida
Vice-Reitor da UnimontesJoão dos Reis Canela
Pró-Reitora de EnsinoMaria Ivete Soares de Almeida
Coordenadora da UAB/UnimontesFábia Magali Santos Vieira
Coordenadora Adjunta da UAB/UnimontesBetânia Maria Araújo Passos
Diretor de Documentação e InformaçõesGiulliano Vieira Mota
Chefe do Departamento de Comunicação e LetrasCoordenadora do Curso de Letras/Português a Distância
Ana Cristina Santos Peixoto
AUTORAS
Ana Caroline Barreto Neves
Mestranda em Literatura pela UFMG, Belo Horizonte - MG Especialista em Letras:
Português e Literatura pelo Instituto Signorelli de Gestão Educacional. Graduada em
Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte - MG.
Érica Karine Ramos Queiroz
Doutora em Linguística (UNICAMP). Mestre em Linguística (UNICAMP). Especialista
em Ensino de Língua Materna/Formação do Professor (UFV),Professora de Linguística,
Linguística Aplicada, Sintaxe, Morfossintaxe e Prática de Formação do Departamento
de Comunicação e Letras da Unimontes.
Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho
Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pelo Doutorado Interinstitucional
PUC/UNIMONTES. Mestre em Letras: Estudos Linguísticos pela Universidade Federal
de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, Ano de obtenção: 2000. Graduada em Letras
pelas Faculdades Santo Tomás de Aquino de Uberaba - MG e em Pedagogia pela
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES – MG. Professora do
Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros.
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira
Doutoranda em Linguística e Língua Portuguesa pelo Doutorado Interinstitucional
PUC/UNIMONTES. Mestre em Educação pela Universidade de Itaúna, UIT, Itaúna,
Ano de obtenção: 2009. Graduada em Pedagogia e em Letras Português e Inglês pela
Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES – MG Professora do
Departamento de Comunicação e Letras da Universidade Estadual de Montes Claros.
SUMÁRIODA DISCIPLINA
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Unidade I: O ensino de gramática na escola: algumas perspectivas. . 11
1.1 Para que ensinar a gramática da língua materna? . . . . . . . . . 15
1.2 Concepções de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3 Tipos de gramática e finalidades do ensino . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Unidade II: Tipos de ensino de Língua e a realidade do ensino de
gramática no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.1 Ensino prescritivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2 Ensino produtivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Ensino descritivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4 A realidade do ensino de gramática no Brasil . . . . . . . . . . . . 26
2.5 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Unidade III: Métodos e procedimentos didáticos para o ensino de
gramática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.1 Importância do planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2 O ensino da gramática e os documentos oficiais . . . . . . . . . . 34
3.3 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Unidade IV: Tópicos de aplicação do ensino de gramática.. . . . . . . . 58
4.1 A gramática nos livros didáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2 Especificidades do Livro Didático de Português – LDP . . . . . 61
4.3 Possibilidades de ensino de gramática baseado nos PCNs . . . 68
4.4. Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Referências básica e complementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
APRESENTAÇÃO
07
Prezado (a) Acadêmico (a),
Sabemos que a Língua Portuguesa é nossa língua natural e,
portanto, a empregamos, sem maiores dificuldades, a partir do momento
em que iniciamos nossoprocesso comunicacional.
Como você pode observar nessa charge, o uso dos recursos
gramaticais também é naturalmente feito, entretanto, cabe à escola
sistematizar os conhecimentos, com vistas a contribuir para a formação de
sujeitos de fala e de escrita, verdadeiramente conscientes, inseridos política
e culturalmente na sociedade.
Por assim ser, é que nós, as professoras conteudistas, Érica Karine
Ramos Queiroz, Maria de Lourdes Guimarães de Carvalho, Ana Caroline
Barreto Neves e Ramony Maria da Silva Reis Oliveira, apresentamos-lhes a
disciplina Ensino de Gramática na Escola.
Informamos que temos como propósito nesta escrita despertar o olhar
para o ensino de gramática na escola, questão amplamente discutida por
autores e professores, mas, ainda, com muitas lacunas na prática docente.
Figura 1Fonte: http://www.freewebs.com/cef02/CHARGE%201.bmp
08
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Para tanto, teceremos reflexões sobre o ensino de gramática na
escola: métodos e procedimentos, sobre gramática tradicional x gramática
contextualizada, abordaremos os princípios norteadores do ensino previstos
nos documentos oficiais, visando explicitar problemas e possibilidades de
ensino da língua materna.
Para que você possa fixar o que aprendeu, o livro traz atividades
abertas e exercícios, e também sugestões de leituras, as quais ilustram os
debates e podem ajudá-lo a perceber a aplicação dos conceitos aprendidos
na prática.
A discussao feita nesta disciplina se ancora, principalmente, nos
seguintes autores: Travaglia (1996), Neves (1990), Possenti (1996), Bagno
(2001) e os documentos oficiais de parametrização do ensino de Português
nas escolas brasileiras: Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN, Conteúdos
básicos Comuns de Língua Portuguesa – CBC/LP.
Nosso propósito é preparar para formar TODOS, sem a
possibilidade, portanto, de exclusão de ALGUNS.
Informações sobre a disciplina
A disciplina “Ensino de Gramática na Escola” será ministrada no
Curso de Letras - Português com uma carga horária de 90 horas. Ela está
diretamente relacionada com as demais disciplinas do curso,
principalmente, com Introdução à Leitura, Leitura e Produção de Textos e
Didática.
A grande especificidade dessa disciplina é que ela contribui para a
formação de um profissional/docente da área de Letras que prioriza a
reflexão crítica sobre o ensino de Língua Portuguesa nas escolas.
Vale lembrar que “Ensino de Gramática na Escola” fundamentará a
Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado, disciplina/atividade que
ocorrerá a partir do 5º período.
Ementa
De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Letras Português
será desenvolvida a ementa: Ensino de Gramática na escola: métodos e
procedimentos. Gramática tradicional X Gramática contextualizada.
Objetivos
Geral: Proporcionar aos acadêmicos do Curso de Letras - Português
uma visão teórica e prática sobre o ensino de gramática na escola.
09
Apresentação UAB/Unimontes
Específicos:
� Familiarizar-se com algumas perspectivas sobre o ensino de
gramática na escola.
� Entender as especificidades dos tipos de ensino de Língua e a
realidade do ensino de gramática no Brasil.
� Inteirar-se das propostas de ensino de Língua de Portuguesa,
identificando o papel do professor e familiarizando-se métodos e procedi-
mentos didáticos.
� Analisar os princípios norteadores do planejamento e das ações
de ensino presentes nos documentos oficiais que parametrizam o ensino
de Língua Portuguesa nas escolas brasileiras e em livros didáticos dessa
disciplina.
� Analisar práticas de ensino de gramática na escola.
Para o alcance desses objetivos a disciplina está organizada em
quatro unidades:
Unidade I: O ensino de gramática na escola: algumas perspectivas.
Unidade II: Tipos de ensino de Língua e a realidade do ensino de
gramática no Brasil.
Unidade III: Métodos e procedimentos didáticos para o ensino de
gramática.
Unidade IV : Tópicos de aplicação do ensino de gramática.
Cada uma das unidades está organizada de forma a facilitar os seus
estudos e estruturada de acordo com as orientações de elaboração dos
cadernos didáticos dos cursos da UAB: NOME DA UNIDADE seguido de sua
APRESENTAÇÃO com especial ênfase para seus OBJETIVOS. Atente-se a
esses objetivos e desenvolva os estudos com vistas a alcançá-los. Na sequên-
cia, segue-se o desenvolvimento do conteúdo, subdividido em tópicos, de
forma ilustrada, em linguagem clara e acessível.
Alguns termos que possam dificultar a sua compreensão estão
explicitados ao lado do texto na forma de GLOSSÁRIO. Você pode também
recorrer a um dicionário caso seja necessário. Paralelamente, vão sendo
inseridas ATIVIDADES a serem realizadas antes ou após a discussão do
conteúdo. Algumas delas estão no próprio Caderno, outras pressupõem
pesquisa no ambiente virtual, e/ou em equipes de estudo. Elas podem ser
feitas individualmente ou em grupos e há algumas para as quais sugerimos,
inclusive, o envolvimento de seus familiares.
O importante é que você não deixe de fazê-las, pois elas, ora
funcionam como levantamento do seu conhecimento prévio, ora como
auto-avaliação para confirmação do seu entendimento e consequente
alcance dos objetivos.
10
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
As SUGESTÕES e DICAS PARA ESTUDOS e para PESQUISAS
COMPLEMENTARES estão localizadas junto aos textos. Elas são oportunida-
des para você se tornar um aprendiz autônomo, qualidade que hoje se faz
cada vez mais necessária em todas as áreas.
Após cada unidade estão as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e, ao
final da disciplina, você encontrará um breve RESUMO com os principais
pontos abordados.
Lembre-se de que a realização das atividades avaliativas é obrigatória.
Sucesso!
11
1UNIDADE 1O ENSINO DE GRAMÁTICA NA ESCOLA: ALGUMAS PERSPECTIVAS
(...) a gramática é na verdade o estudo e o trabalho com a
variedade dos recursos lingüísticos colocados à disposição
do produtor e receptor de textos para a construção do
sentido. Gramática é o estudo das condições lingüísticas da
significação. (TRAVAGLIA, 1996, p. 235)
Apresentação da unidade
Para tecer a discussão das unidades I e II nos ancoramos, central-
mente, no texto de Travaglia (1996) e de Possenti (1996) porque entende-
mos que não podemos tratar do
ensino de gramática sem recorrer a
estes autores que abordam a
questão de modo amplo e objetivo.
Então, se vocês já conhecerem a
proposta dos autores supracitados,
não será inútil uma releitura porque
a interpretação sempre pode ser
outra, dado que a leitura sempre
suscita novas reflexões.
Objetivo
� Discutir o ensino de gramática na escola, concepções de
linguagem e tipos de ensino na língua.
As pesquisas realizadas no Brasil, a partir dos anos 80, evidenciaram
a necessidade de discutir, repensar questões sobre ensino-aprendizagem da
língua portuguesa. A partir de então, o ensino de gramática normativa foi
cada vez mais questionado, os profissionais ficavam muito confusos com as
críticas de linguistas sobre a questão. Houve momentos em que os professo-
res abandonaram completamente o ensino de gramática. Vale ressaltar que a
linguística não propôs um abandono da gramática e, sim, um novo modo de
(re) pensar a questão. Hoje, acreditamos que são menores as dúvidas sobre
ensinar ou não gramáticas na escola. As perspectivas teóricas pressupõem
que o aluno chega à escola com um conhecimento prévio da língua, pois já
se comunica. Então, cabe à escola usar o saber do aluno aprimorar as
capacidades linguísticas destes falantes. Porém, ainda é questionável o
modo com que os conteúdos da língua padrão são ensinados.
Figura 2: Capa de Livro Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da gramáticaFonte: http//:www.images.google.com
DICAS
Veja no site: ideb.Inep.gov.br a consolidação dos dados do
IDEB: Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica.
12
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Nessa perspectiva, o ensino de gramática normativa (ou tradicio-
nal), nas aulas de Língua Portuguesa, nas escolas do Brasil, é assunto polêmi-
co que vai e volta em diferentes décadas, principalmente, depois dos anos
80. Fato é que a questão não é abordada com consenso entre os profissionais
da área e, por isso, mais uma vez retomamos a controvérsia: deve-se ou não
ensinar, na escola, a gramática da língua materna?
Os professores não sabem o que fazer ao sentirem-se frustrados
com o fracasso escolar, no que diz respeito ao desenvolvimento das compe-
tências lingüísticas, responsabilidade imputada aos professores de língua
portuguesa. Este fato é comprovado quando observamos os baixos resulta-
dos de provas como ENEM, ENADE, Prova Brasil, SAEB, etc, ano após ano.
Também é o que o IDEB registra (http://portal.mec.gov.br). Isso se deve a
muitos fatores, sendo um o que se segue: enquanto professores de
Português, afastamos os nossos alunos da linguagem real, ou da linguagem
do uso, ao utilizarmos práticas equivocadas, artificiais, no ensino de
gramática, leitura e interpretação. Especificamente, é preciso saber que
gramáticas existem não para ensinar línguas e sim para explicar línguas. Se
fosse para ensinar, pais e mães teriam que dar aulas de gramática a seus filhos
de colo, afirma (POSSENTI, 2007). Mas, o que vemos nas práticas docentes é
que a gramática normativa é utilizada para ensinar línguas e isso acarreta
uma série de problemas, equívocos que discutiremos ao longo deste texto.
Figura 3: Quadro comparativoFonte: http://mmaialds.blogspot.com/2009/08/outra-lingua-por-marcio-maia.html
Leia o livro de POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP, Mercado de Letras, 1996.Qualquer profissional que trabalha com o ensino de língua portuguesa tem, neste livro, uma referência segura para (re)definir sua prática docente.
DICAS
No famoso e polêmico artigo “Por
que (não) ensinar gramática na escola”,
POSSENTI (1996) apresenta uma proposta de
mudança radical para o ensino de Língua
Portuguesa e argumenta que não adianta
mudar os programas de ensino, se não houver
mudanças nas escolas e nos professores. Para
este autor, ensinar língua e ensinar gramática
são coisas diferentes, por isso propõe o ensino da língua atual, usual e não
de regras gramaticais descontextualizadas. Tal como a charge a seguir
demonstra:
Nesse sentido, (ibid, p.53- 54) afirma que “o domínio competente
da língua não requer o ensino de seus termos técnicos”. E, para tanto, o autor
acima propõe metodologias de ensino tais como:
� valorização da leitura e da escrita;
� mudança do padrão de língua a ser seguido, isto é, trocar a
Literatura Antiga que é o modelo, pela linguagem jornalística ou dos textos
científicos, tendo em vista que esses apresentam uma linguagem muito mais
próxima do que falamos atualmente;
� uma nova visão acerca do que o educador deve considerar
como erros de escrita, ressaltando que existem muito mais acertos do que
erros, pois mesmo os erros são regulares uma vez que há quem diga “os
livro”, “os boi”, “os amigo” e aqui não estamos diante de três erros, mas
apenas um (regra de concordância). Não ouvimos os livros, os bois, os
amigos. Então, vejam que mesmo os erros são regulares, isto é, obedecem a
13
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Figura 4: Sírio Possenti Fonte: ciberduvidas.com
Figura 5: Aula de gramática - Humor Fonte: http://risosponto.blogspot.com/2009/05/vicios-linguisticos.html
14
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
uma lógica morfossintática própria;
� ensinar o que os alunos não sabem, ou quando eles erram. Nesta
perspectiva, (Ibid) acredita que o domínio efetivo e ativo de uma língua
dispensa o domínio de uma metalinguagem técnica. O que está em diálogo
com a proposta logo acima;
� as aulas de gramática sejam abolidas, ou, pelo menos, abolidas
nas séries iniciais.
Sobre a proposta acima, vale retomar Ilari (1997, p 3) quando
esclarece que Possenti não propõe,
o abandono da língua padrão pela escola o que seria
sociolinguisticamente absurdo e politicamente reacionário
porque, desde que os lingüistas começaram a criticar o
ensino puramente gramatical, muita gente sinceramente
interessada num ensino de boa qualidade (pais, professores
e autoridades educacionais) entendeu que estava sendo
preconizado o abandono da língua padrão na escola, e que
havia começado uma espécie de "vale tudo". Muitos
professores de escola média, por desinformação, acusam a
lingüística de ter instaurado o caos no ensino de português,
ao declarar equivalentes as variedades não-padrão e a
variedade culta. Os linguistas nunca preconizaram a
substituição do português padrão por qualquer forma de
português não-padrão como língua-alvo da escola:
defenderam, o que é muito diferente. 1) que as variedades
não-padrão são línguas de pleno direito, no plano estrutural
e até mesmo estético (afinal, há literaturas populares que se
exprimem em português não-padrão); 2) que as variedades
não-padrão podem ser utilizadas como um fator positivo no
ensino, e até por esse motivo devem ser tratadas com
respeito e 3) que a representação do português padrão que
se pode retirar das gramáticas normativas é extremamente
pobre. A língua portuguesa não é o que está nas gramáticas
normativas, e isso permite ao professor Possenti defender,
sem contradição, que a escola deve ensiná-la sem ensinar
gramática, ou sem ensinar principalmente gramática.
Enfim, na primeira parte do livro o autor faz uma reflexão que ora
nomeia opções com que se defronta o professor de língua portuguesa, ora
denuncia os preconceitos existentes sobre o ensino de língua portuguesa,
sobre a gramática e sobre o professor.
Ainda, Travaglia (1996) diz que a gramática não é desnecessária,
mas também não deve ser o foco primeiro das aulas de português, uma vez
que é mais importante que os falantes saibam usar a língua, de modo
adequado, nas diversas situações de interação comunicativa.
Nessa perspectiva, educadores ainda questionam se devem, ou
como devem ensinar gramática. Para encontrar a resposta para tal questão, o
professor deve ter embasamento teórico, deve evitar modismos linguísticos
e práticas pedagógicas equivocadas. Pois, como bem coloca (Ibid), não há
15
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
como propiciar um bom ensino sem conhecimento do objeto de análise, no
caso aqui em discussão, a Língua Portuguesa e suas regras gramaticais.
Acreditamos que muitos de vocês já se questionaram sobre para quê e
porque estudar gramática da língua materna se já falam este idioma. Ou, lá
nas séries iniciais, vocês observaram que, na maioria das vezes, a língua que
estudavam na escola era diferente da que usavam no seu cotidiano, embora
o idioma seja o mesmo. Essas indagações derivam, muitas vezes, de uma
visão reducionista, inocente do que seja ensino de gramática. Visto isso, a
seguir iniciamos a discussão dessa disciplina com a seguinte questão: Para
que ensinar a gramática da língua materna.
1.1 PARA QUE ENSINAR A GRAMÁTICA DA LÍNGUA MATERNA?
Travaglia (1996, p. 17-20) responde a questão através de quatro
respostas:
A primeira é que o ensino da língua materna justifica-se pela
necessidade de desenvolver a competência comunicativa. Sendo esta a
capacidade de o falante usar a língua, de modo adequado, nas diversas
práticas sociais.
A competência comunicativa implica duas outras: a gramática
(linguística) e a textual.
A competência gramatical é a capacidade que todo falante de uma
língua tem de criar um número infinito de frases gramaticais a partir de um
número finito de regras. É o que alguns autores definiram como criatividade
linguística. Essas frases são consideradas gramaticais porque qualquer falante
da língua irá considerá-las como sendo típicas, próprias do uso.
A competência textual é a capacidade que todo falante da mesma
língua tem de produzir e compreender textos bem formados.
E o que é um texto bem formado? Autores como: Koch (1989),
Costa Val (1991) definem um texto bem formado como aquele que atende a
fatores de textualidade tais como: coerência; coesão; intencionalidade;
aceitabilidade; situacionalidade e informatividade.
Charolles (1979, apud Travaglia, 1996) afirma que um texto bem
formado vale-se de capacidades textuais básicas:
� Capacidade formativa: permite ao falante de uma língua avaliar
a formação de um texto, ou seja, permite ao falante avaliar se uma sequência
linguística é ou não um texto.
� Capacidade transformativa: possibilita ao falante de uma língua
reformular, reproduzir, resumir, resenhar um texto para diferentes finalidades.
� Capacidade Qualificativa: permite distinguir as tipologias de um
texto, por exemplo, se um texto é uma narração, dissertação, descrição,
sermão, ata, etc.
Enfim, a partir das colocações acima, Travaglia (1996) diz que, para
Idioma: refere-se a um conjunto de palavras e
expressões usadas por um povo, por uma nação.
Interação linguísitca: é a comunicação. Isto é, as pessoas se comunicam quando há uma
mútua compreensão entre os falantes.
Enunciação: é uma unidade de base da língua, uma
atividade social, ideológica e contextual.
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
16
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
desenvolver a capacidade formativa, é preciso que o professor propicie o
contato do aluno com variedade de situações comunicativas interativas
através da interpretação e produção de textos em situações de enunciação
reais. A este propósito os PCNs propõem um trabalho docente com gêneros
e tipos variados de textos.
Uma das explicações para o para o fracasso no aprendizado da
língua portuguesa é a falta de leitura e da atividade de escrita ao longo da
vida escolar. Tendo em vista isso, aqui retomamos, rapidamente, Bakhtin
quando propõe compreender a língua como uma atividade social (e não
individual) em que sua existência se justifica pelas necessidades da comuni-
cação. Para essa concepção, o importante é compreender a língua como
enunciação, ou seja, como uma unidade de base da língua, uma atividade
social, ideológica e contextual. Então, para Baktin (1986), a língua é dialógo.
é interação social. Sendo assim, a língua é essencialmente dialógica. Esta
concepção de língua justifica, reforça, a necessidade de ensinar gramática a
partir de textos reais, isto é, de situções comunicativas de interação.
Possenti (1996) afirma que ler e escrever não são tarefas extras
pedidas como lição de casa, mas atividades essenciais ao ensino da língua
portuguesa. Portanto, seu lugar privilegiado, embora exclusivo, é a própria
sala de aula. Nesse sentido, é que interpretamos a imagem a seguir:
Figura 6: Texto infantilFonte: http://bancodeatividades.blogspot.com/2009_09_13_archive.html
17
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Vejam que a importância do ensino de língua a partir de textos
explicita a necessidade do conhecimento de teorias que tratam o texto como
unidade de interação comunicativa. Nesta perspectiva, ainda, de acordo
com Travaglia (1996, p.19), o segundo objetivo do ensino de Português é:
1. Levar o aluno a dominar a norma culta.
2. Ensinar a variedade escrita da língua.
Os objetivos acima pressupõem que, quando o aluno vai para a
escola, domina a variedade coloquial. Estas também são as justificativas,
frequentes, de professores para ensinar a gramática normativa. O problema
é que estes não são os únicos e nem os mais importantes objetivos do ensino
de Português e sim alguns. Ainda, não é uma questão de rotular o grau de
importância, pois, como veremos, o ensino de Português se justifica por
quatro respostas e não somente pela segunda resposta.
Na terceira resposta Travaglia (Ibid, p. 20) diz que “um dos objetivos
do ensino de língua materna é levar o aluno ao conhecimento da instituição
linguística, da instituição social que a língua é”. Ou seja, é necessário
permitir que o educando compreenda o estudo de metalinguagem como
meio para o conhecimento da estrutura e do funcionamento da língua.
A última resposta propõe ensinar o aluno a pensar de modo
científico, o que pressupõe o desenvolvimento das habilidades de observa-
ção e argumentação da linguagem.
A partir das razões para ensinar gramática, explicitadas acima,
retomaremos Ilari (1997) quando diz que o domínio da língua e o domínio
da gramática são coisas diferentes. Segundo este autor (Ibid), o domínio de
uma língua excede o domínio de qualquer das terminologias hoje disponíve-
is para sua descrição (a gramática normativa é, entre outras coisas, uma
grande grade terminológica). Isso quer dizer que dominar a língua é algo
muito mais complexo do que o domínio da gramática porque exige desen-
volvimento das habilidades linguísticas. E o desenvolvimento destas
habilidades, nas aulas de português, está atrelado às concepções de lingua-
gem que o professor domina e que interferem em sua metodologia de
ensino como veremos a seguir.
1. 2 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Para atingir os objetivos do ensino de Português acima, é preciso
apresentar e acolher uma ou algumas concepções de linguagem. Em outras
palavras, é o modo como o educador compreende a língua e a linguagem
que define a sua prática de ensino de gramática.
Travaglia (Ibid, 21-23) apresenta três possibilidades de compreen-
der a linguagem:
Metalinguagem: refere-se a qualquer linguagem usada para descrever uma linguagem em si
mesma, por exemplo, uma descrição gramatical, ou um
discussão sobre o uso de uma linguagem.
Diferença entre língua e linguagem: a linguagem está
relacionada com a capacidade de comunicar. Já a língua, ou
idioma, refere-se a um conjunto de palavras e
expressões usadas por um povo, por uma nação, é
munido de regras próprias, de sua. Também, a linguagem é
uma função cerebral que permite ao ser humano
adquirir e utilizar uma língua particular.
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
18
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
1. A linguagem como expressão do pensamento de modo
que a linguagem é construída na mente e a fala ou escrita é a
sua tradução. Nessa perspectiva, as pessoas que não se
expressam bem é porque não pensam. Ainda, expressar bem
está relacionado com adequação às regras da linguagem
(prescritas na gramatica tradicional) que devem ser seguidas
para a adequação lógica do pensamento e da linguagem.
2. A linguagem como instrumento de comunicação, ou
seja, como fonte para transmitir uma mensagem. É um fato
social e convencional, compartilhado pelos interlocutores.
Essa definição é adotada pelos estruturalistas e pelos
gerativistas.
3. A linguagem constitui um processo de interação
humana, comunicativa. Nessa perspectiva, a linguagem,
além de expressar os pensamentos ou transmitir informa-
ções, também age, atua sobre o ouvinte/leitor, levando em
consideração o contexto sócio-histórico e ideológico. Sendo
assim, o que caracteriza a linguagem é a sua propriedade
dialógica.
Enfim, vejam que as definições de linguagem apresentadas acima
apresentam diferentes tipos de ensino que retomaremos na Unidade II, mas
para tratar desta questão antes precisamos definir alguns tipos de gramática.
1.3 TIPOS DE GRAMÁTICA
A seguir apresentamos, a partir das definições propostas por
Travaglia (1996), os tipos de gramática mais conhecidos ou que interferem
de modo direto no ensino com o objetivo de explicitar que cada prática de
ensino de linguagem está vinculada a um tipo e a uma concepção de
linguagem.
1.3.1 Gramática normativa
A primeira concepção de gramática, a gramática normativa, tem
como objetivo prescrever normas ou ditar regras de correção para o “bom”
uso da língua. Tem uma preocupação de não deixar a língua ser “corrompi-
da”pela não adequação às normas ditas na gramática tradicional. Segundo
Travaglia (1996), essa gramática é um manual de regras que devem ser
seguidas para o bem falar. Este tem como modelo o uso consagrado pelos
bons escritores e, portanto, ignora as características da língua oral.
Nesse sentido, a língua é a variedade culta de modo que todas as
outras formas de uso da língua são desvios, erros, degenerações e, por isso, a
variedade culta deve ser seguida.
19
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
1.3.2 Gramática descritiva
A segunda concepção de gramática, a gramática descritiva, faz
uma descrição da estrutura e do funcionamento da língua em uso, separan-
do o que é gramatical do que não é. (Ibid, p. 27) diz que o critério para o
estudo da língua nessa concepção gramatical é linguístico e objetivo, já que
“não se diz que não pertecem à língua formas e usos presentes no dizer dos
usuários da língua e aceitas por estes como próprias da língua que estão
usando” .
1.3.3 Gramática internalizada
A terceira concepção de gramática é chamada de gramática
internalizada porque o “saber gramatical” não depende da escolarização,
mas da ativação e do amadurecimento dos princípios da linguagem e de suas
regras. Então, essa perspectiva, a gramática é um conjunto de regras que o
falante de fato aprendeu e a língua é “um conjunto de variedades usadas
pela sociedade de acordo com o exigido pela situação de interação comuni-
cativa em que o usuário está engajado”. Ressaltamos que essa concepção
não considera o erro linguístico e sim a inadequação da variedade linguística
usada em uma determinada situação comunicativa porque não houve um
atendimento das normas sociais de uso da língua.
Além dos três tipos de gramática citados acima, gramática normati-
va, descritiva e internalizada, Travaglia (1996, p. 30-37) fala de outros tipos
que citaremos a seguir, de acordo com o que este autor apresenta.
1.3.4 A gramática implícita
A gramática implícita é a gramática internalizada. O falante não
tem consciência dela, apesar de ela estar na sua mente. Esse tipo de gramáti-
ca. Esse tipo de gramática, por permitir usar a língua automaticamente, é
chamada no contexto escolar de gramática de uso.
1.3.5 Gramática explícita ou teórica
A gramática explícita ou teórica é uma explicitação do mecanismo
linguístico (regras e princípios que regem a estruturação da língua) domina-
do pelo falante e que lhe possibilita usar a língua. É usada pelos estudiosos,
de modo metalinguístico, para explicar a estrutura, a constituição e funcio-
namento da língua.
20
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
1.3.6 Gramática histórica
Gramática histórica é aquela que estuda a evolução de um idioma,
preocupando-se com a origem e a evolução de uma língua até o momento
atual. Na gramática normativa, observamos a contribuição da gramática
histórica quando apresenta a origem do Português no Latim vulgar, a
evolução dos elementos fonológicos, morfológicos e sintáticos e sobre a
formação do vocabulário.
Vejam que há muitos tipos de gramática, os mais conhecidos são a
gramática normativa e a gramática internalizada. Mas os outros tipos (alguns
não foram citados acima para evitar repetição de conteúdo) também
apresentam contribuições importantes para uma discussão sobre o ensino
de gramática.
Ilari (1997) ao apresentar o texto de Possenti (1996), retoma este
autor quando trata sobre tipos de gramática opondo em primeiro lugar uma
concepção descritiva à concepção normativa.
Para Possenti (1996), a gramática normativa se caracteriza por
objetivar uma língua ideal que consiste em um conjunto de normas que
dizem como a língua deve(ria) ser.
A concepção descritiva de gramática consiste em descrever a língua
tal como ela é, apresentando as estruturas que os falantes de uma determina-
da língua têm à sua disposição, sem atribuir valor positivo ou negativo à
escolha entre essas formas.
Uma terceira concepção é a gramática internalizada, segundo a
qual todo falante de uma língua, durante a fase de aquisição, "internaliza"
princípios e regras que lhe permitem produzir enunciados que serão reconhe-
cidos como bem formados pelos demais falantes de sua comunidade.
Logo, diferentes conceitos de regra, erro e língua são compatíveis
com uma dessas concepções de gramática. Possenti ainda afirma que a
gramática mais rica de todas é a gramática internalizada. Visto isso, o autor
afirma que é responsabilidade do professor de língua portuguesa proporcio-
nar ao aluno dados novos que serão internalizados ao fecharem o livro e
trabalhar com fatos de linguagem reais, isto é, usados pelos alunos.
21
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP,
Mercado de Letras, 1996.
TRAVAGLIA, L. Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino
de gramáticas. São Paulo: Cortez, 1996.
BAKHTIN. M.; Voloshinov, V. N. Marxismo e filosofia da Linguagem. São
Paulo, Hucitec, 1986.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 19o ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1991.
ILARI, Rodolfo. Resenha: Por que (não) ensinar gramática na escola. In:
Educação & Sociedade. Vol.18, nº. 60, Campinas, Dez, 1997. Disponível
em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em 20 de janeiro de 2010.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 7a ed. São Paulo:
Contexto, 1997.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo:
Contexto, 1990.
POSSENTI, S í r io. Ler Gramáticas , 2007. Disponível em
http://terramagazine.terra.com.br/interna. Acesso em 21-01-2010.
Disponível em http://portal.mec.gov.br. Acesso em 29-04-2010.
22
2UNIDADE 2TIPOS DE ENSINO DE LÍNGUA E A REALIDADE DO ENSINO DE
GRAMÁTICA NO BRASIL
O ensino de gramática constitui um dos mais fortes pilares
das aulas de português e chega a ser, em alguns casos, a
preocupação quase exclusiva dessas aulas. Nas últimas duas
décadas, entretanto, vem se firmando um movimento de
revisão crítica dessa prática, ou seja, vem-se questionando a
validade desse “modelo” de ensino, o que faz emergir a
proposta da prática de análise linguística (AL) ao invés de
aulas de português. (MENDONÇA, 2000, p. 11)
Apresentação da unidade
Depois de apresentar alguns motivos para o ensino de língua
materna para falantes da língua em questão, algumas concepções de
linguagem e tipos de gramática, nesta unidade, temos como objetivos:
abordar o ensino de gramática de modo direto ao apresentar alguns tipos e
finalidades do ensino e apresentar algumas questões relativas ao ensino de
gramática no Brasil.
2.1 ENSINO PRESCRITIVO
A prática de ensino que desconsidera a modalidade falada pelo
aluno e visa substituí-la pelos modelos nomeados de “corretos” e impostos
pela gramática normativa é chamado de prescritivo. Vejam que este é um
tipo de ensino que interfere nas habilidades linguísticas do falante, pois o
“faça isto” equivale ao “não faça aquilo”. Logo, o ensino prescritivo está
relacionado à primeira concepção de linguagem (linguagem como expres-
são do pensamento) e só privilegia o padrão culto da língua visando à
correção formal da linguagem (TRAVAGLIA, 1996, p. 38).
2.2 ENSINO PRODUTIVO
Assim como o ensino descritivo, o ensino produtivo não objetiva
alterar as habilidades linguísticas adquiridas pelo aluno, mas sim explicitar
novas habilidades, novos recursos de linguagem de modo que o falante
tenha ao seu dispor um leque maior de possibilidades linguageiras e assim
possa adequá-las às diversas situações de interação comunicativas.
Vale ressaltar que este tipo de ensino é o mais adequado para
realização do primeiro objetivo de ensinar gramática para falantes de língua
materna: desenvolver a competência comunicativa, esta é a capacidade de
o falante usar a língua, de modo adequado, nas diversas situações de
interação comunicativa. Ou seja, o ensino produtivo objetiva desenvolver
23
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
novas habilidades linguísticas e o desenvolvimento da competência
comunicativa objetiva a aquisição de novas habilidades de uso da língua.
2.3 ENSINO DESCRITIVO
O ensino descritivo não objetiva alterar, substituir as habilidades
linguísticas já adquiridas e sim mostrar como a linguagem funciona e como
pode ser utilizada.
Neste tipo de ensino o professor objetiva:
� proporcionar ao aluno o conhecimento da estrutura, do
funcionamento, da forma e da função da língua;
� proporcionar o desenvolvimento pensamento, do raciocínio, da
capacidade de análise sistemática dos fatos sociais e fenômenos da natureza.
O ensino descritivo, diferente do prescritivo, leva em consideração
todos os tipos de variedades linguísticas que são as variações que uma língua
sofre a partir de condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é
utilizada.
Aqui, cabe falar um pouco sobre o conceito variação linguística
porque está, intimamente, relacionado ao modo como se compreende o
ensino de gramática na escola e qual abordagem é mais adequada.
A língua evolui tanto quanto a humanidade evolui e, sendo assim, a
língua está sujeita às transformações, no tempo e no espaço. Segundo Bagno
(2001), existem quatro modalidades que explicam as variantes linguísticas:
1.variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso
com o passar do tempo);
2.variação geográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de
sons e construções sintáticas em regiões falantes do mesmo idioma);
3.variação social (a capacidade linguística do falante provém do
meio em que vive, sua classe social, faixa etária, sexo e grau de escolaridade);
4.variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de
falar próprio, adequando-o de acordo com a situação em que se encontra).
Vejam que as variantes supracitadas explicam as variações linguísti-
cas. Sabe-se que o fato de utilizar essas variações não deve ser motivo de
preconceito em nossa sociedade. Cabe, contudo, ao professor de Língua
Portuguesa proporcionar atividades de pesquisa para que seus alunos
conheçam as variedades e entrem em contato com a norma padrão.
Como afirmamos anteriormente, o ensino de gramática (regras) não
é o objetivo primeiro das aulas de Português e sim é consequência do
desenvolvimento das habildiades comunicativas. E o professor não pode
dispensar a compreensão de língua da sociolinguística variacionista.
Os pressupostos teóricos desta disciplina já foram vistos por vocês
na disciplina: Linguística Geral e, para recordar, retomamos algumas
colocações de Bagno (autor conhecido de vocês).
24
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
“A Sociolingüística tem por objeto de estudo os padrões de
comportamento lingüístico observáveis dentro de uma comunidade de
fala e os formaliza analiticamente através de um sistema heterogêneo,
constituído por unidades e regras variáveis. Esse modelo visa a respon-
der a questão central da mudança lingüística a partir de dois princípios
teóricos fundamentais: (i) o sistema lingüístico que serve a uma
comunidade heterogênea e plural deve ser também heterogêneo e
plural para desempenhar plenamente as suas funções; rompendo-se
assim a tradicional identificação entre funcionalidade e homogeneida-
de; (ii) os processos de mudança que se verificam em uma comunidade
de fala se atualizam na variação observada em cada momento nos
padrões de comportamento lingüístico observados nessa comunidade,
sendo que, se a mudança implica necessariamente variação, a variação
não implica necessariamente mudança em curso”. (DANTE e ARAÚJO)
Disponível em http://www.vertentes.ufba.br/socio.htm
Acesso em 05 de fev de 2010.
Para Bagno (2001) preconceito linguísticoé atitude que discrimina
uma pessoa devido ao seu modo de falar. Este preconceito é exercido por
aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade, à “norma padrão de
prestígio”, que ocupam as classes sociais dominantes e acreditam que o falar
daqueles sem instrução formal e comk pouca escolarização é “feio” ou
”errado”. O preconceito linguístico pode ser visto como preconceito
“social”, pois não é o modo de falar que sofre preconceito e sim a identidade
social e individual do falante.
Nessa perspectiva, a norma culta, ditada pela gramática tradicional,
caracteriza o português correto e tudo o que foge à norma é considerado
errado. E Bagno (Ibid) chama atenção para o fato de que não existe portu-
guês certo ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que
correspondem ao meio e ao falante, pois o papel fundamental de uma língua
é o de permitir a interação verbal entre as pessoas, isto é, a comunicação.
Certamente, vocês acadêmicos do curso de Letras, enquanto
alunos, já ouviram o professor falar que uma determinada construção
linguística estava errada ou, enquanto professores, alguns reproduzem esta
afirmação durante a correção de produção de seus alunos ou durante a
correção de exercícios de classificação gramatical. E o que aqui está em
discussão é que não existe certo e errado e sim adequado ou inadequado
para determinada situação comunicativa (contexto linguístico).
Reflita sobre Variação Linguística e o conceito de certo e errado x adequado e inadequado presente na charge abaixo. Discuta suas conclusões com o tutor presencial.
ATIVIDADES
25
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Figura 7: Cerrado em QuadrinhosFonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/imagens/cerrado.jpg
O professor deve ter em mente que ao ingressar na escola, toda
criança já se comunica, já domina uma modalidade de linguagem própria do
meio social onde desenvolveu a comunicação. Sendo assim, o modo de falar
que cada um traz, não deve se abandonado com a justificativa de que
domina o padrão informal da língua e que a escola o ensinará a substituir este
padrão pelo padrão formal, culto. Nesta perspectiva, o aluno perderá a sua
identidade social e individual e não encontrará estímulo para frequentar as
aulas de Português.
O que o professor de língua materna deve deixar claro para o aluno
é que a escola ensinará o padrão culto visando à promoção social, ao acesso
aos instrumentos culturais de prestígio e que em cada situação de comunica-
çao um nível de linguagem será adequado. Nesse sentido é que é importante
conhecer todos os níveis e dominá-los.
Gêneros textuais: são os textos produzidos, materializados
encontrados em nosso cotidiano. Eles apresentam
características sócio-comunicativas definidas por
seu estilo, Função, composição, conteúdo e canal.
Ex: Carta pessoal, comercial, bilhete, diário pessoal, agenda, anotações, romance, resenha, e-mail, fórum, aula expositiva,
lista de compras, horóscopo, instruções de uso, etc.
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
Para saber mais sobre os gêneros textuais leiam:
DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO; Anna Rachel;
BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais &
ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
MARCUSHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.).
Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
DICAS
26
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
2.4 A REALIDADE DO ENSINO DE GRAMÁTICA NO BRASIL
Quando questionamos sobre a realidade do ensino de gramática no
Brasil, temos uma resposta pronta: é um fracasso. Precisamos refletir acerca
desse fato. Por que é consenso que os alunos, normalmente, detestam as
aulas de Português? Por que os resultados das provas que medem a qualida-
de do ensino no Brasil evidenciam, sobretudo, notas baixas nas provas de
língua portuguesa?
Travaglia (1996), ao discutir sobre o assunto acima, coloca as
seguintes questões: para que se ensina, o que se ensina e o como se ensina?
Para responder o autor baseia-se no estudo de Neves (1990) e na sua
experiência com o ensino de gramática.
Travaglia (Ibid) logo informa que o ensino nas escolas do Brasil é, de
modo geral, prescritivo, apegado a regras da gramática normativa. Diante
disso, o desenvolvimento das habilidades de leitura e produção de texto é
relegado a um segundo plano.
Vocês já viram que, sendo o desenvolvimento das habilidades
comunicativas o primeiro objetivo do ensino de Português para falantes
desta língua, é uma incoerência priorizar o ensino de uma só modalidade da
língua: a modalidade culta.
Para ancorar sua pesquisa, Travaglia (Ibid, p. 102) retoma o estudo
de Neves (1990) que explicita a realidade do ensino no Brasil. Vejam que
esta pesquisa foi feita há 20 anos, mas ainda é muito atual e, para comprovar,
basta observarmos a realidade mais próxima que nos circunda. Neves (Ibid)
entrevista 170 professores do ensino básico e médio do Estado de São Paulo.
A maioria destes professores entendia que o ensino de gramática serve para
falar e escrever melhor, para aprovar candidatos em concurso, para o bom
desempenho social e profissional, para cumprir o programa da escola e,
consequentemente, levar os alunos a acertar os exercícios. Em resumo,
vemos que o ensino de gramática significa algo inútil, ou que os professores
não veem uma necessidade real para o ensino de gramática. Logo, o ensino
de gramática permanece por comodismo, desconhecimento de alternativas
de ensino, exigência do currículo, pais, sociedade, concursos (TRAVAGLIA,
Ibid). A charge a seguir nos faz refletir sobre essa realidade.
27
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Figura 8: Charge ilustrativa de regras de ortografiaFonte: http://ensinodeportuguesparasurdos.blogspot.com/
Em relação ao que é ensinado, Neves (Ibid, p. 103) informou que os
exercícios de “classificação de classes de palavras e funções sintáticas
correspondem a 70% (75,56%) das atividades de ensino de gramática”. Esses
tópicos são repetidos anos após ano, até a conclusão do Ensino Médio e, por
isso, os alunos não encontram sentido, motivação para as aulas de
Português. Não há consenso quanto ao que ensinar. Há escolas que enfati-
zam o ensino de tópicos gramaticais. Há professores que não ensinam
gramática. Há outros que equilibram o ensino com tópicos de linguagem e
outras atividades, que ensinam o uso de linguagem. Estas posições devem-se às:
� Diferentes formações teóricas - ênfase estruturalista ou funcio-
nalista - etc.
� Orientações das secretarias e superintendências de ensino.
� Orientações dos livros didáticos que, na maioria das vezes,
aparecem como única fonte de consulta sobre a língua. portuguesa.
Quanto ao como a gramática é ensinada, esta é uma questão
polêmica e que será tratada aqui de acordo com o que explicita Travaglia
(Ibid) a partir da pesquisa de Neves (1990). Sobre o como ensinar, Neves
(Ibid) observou que mais de 50% dos professores retiram dos textos exem-
plos para análise e 40% dizem partir da teoria para realização de exercícios
gramaticais. Aqui, vale chamar atenção para o fato de que não é produtivo
28
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
dissimular o ensino de regras gramaticais através de exemplos retirados de
textos, mas sem relacioná-los com situações reais de uso da língua. O ensino
de gramática através de exemplos contextualizados com as situações de
comunicação torna as aulas de língua portuguesa significativas, atuais, não
enfadonhas.
Ao fazer uma observação geral sobre a questão, Neves (1990),
Apud Travaglia (1996, p.105-106) afirma que os professores:
a) “em geral acreditam que a função do ensino da gramática é levar
a escrever melhor”;
b) “foram despertados para uma crítica da gramática tradicional”;
c) “têm procurado não dar aulas de gramática normativa”;
d) “verificam que esta gramática não está servindo para nada”;
e) “apesar disso, matem as aulas sistemáticas de gramática como um
ritual imprescindível à legitimação de seu papel”.
As colocações acima levam à conclusão de que os professores
reconhecem os problemas básicos do fato de se gastar 80% do tempo das
aulas com ensino de gramática, mas não conseguem ter uma prática
produtiva, diferente. Talvez por falta de capacitação, conhecimento de
alternativas de ensino ou dificuldade de mudar o seu papel diante do que a
sociedade espera do professor de língua materna e, consequentemente, da
necessidade desse profissional de assegurar o seu lugar de poder (domínio
da língua culta).
Possenti (1996) também faz uma afirmação referente à realidade do
ensino de gramática no Brasil. Este autor chama a atenção para o fato de que
crianças e adultos “normais” utilizam diferentes códigos e variedades da
língua e, portanto, parece impossível que alunos “normais” não consigam
alcançar um bom domínio da modalidade culta, após muitos anos de
escolarização. A conclusão à qual Possenti (ibid) chega sobre esse fato é de
que as potencialidades dos educandos não são exploradas de modo
adequado.
Vejam que é a você, estudante do curso de Letras e futuro professor,
que cabe a responsabilidade de criar uma escola em que esse aprendizado
possa ocorrer de maneira espontânea, real. Assim, permitirá um ensino de
língua mais eficaz e democrático. Para tanto, é necessário que o professor se
liberte de preconceitos linguísticos, difundidos socialmente tais como: o
português é difícil, não é para todos; o uso de uma variedade não-padrão
corresponde automaticamente a uma limitação mental, ensinar português é
ensinar regra gramatical. (ILARI, 1997).
29
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Figura 9: Charge ilustrativa de ensino de verbosFonte: http://umcadimditudu.blogspot.com/2007/12/aulas-de-portugues
Ainda, Ilari (Ibid, p. 5) diz que Possenti (1996),
[...] lembra que a indefectível cobrança de conhecimentos
inúteis de nomenclatura e ortografia que assola as provas de
concurso como uma verdadeira praga nacional parte, afinal,
dos elaboradores dessas provas, que são, normalmente,
professores de português, bem intencionados. Por fim, para
proporcionar aos seus alunos práticas pedagógicas
efetivamente enriquecedoras, o professor deve perguntar o
que os alunos já sabem, planejando seu ensino em função
desse conhecimento, mas não é isso que acontece
normalmente: o ensino de língua materna, tal como vem
sendo praticado, mostra, ao contrário, que se gasta um
tempo enorme etiquetando fora de contexto coisas que o
aluno já domina (pense no tempo gasto com assuntos não
problemáticos como o gênero e o número dos substantivos),
em prejuízo de atividades mais provocativas como ler, expor
e descobrir a variabilidade da língua a partir das amostras
disponíveis em classe.
Por fim, Ilari (Ibid, p.3), ao resenhar o livro de Possenti (ibid), diz que,
[...] a questão não é mais decidir pela gramática normativa
ou contra ela, mas sim criar condições para que a espontane-
idade com que os alunos fazem da linguagem uma parte de
suas vidas, sua assombrosa capacidade de intuir as estruturas
e de atualizá-la num desempenho gramaticalmente correto
30
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
na variedade que praticam, o natural desembaraço com que
circulam entre diferentes níveis e registros sem confundi-los,
não sejam sacrificados a qualquer rotina de ensinar que
tenha como único argumento a inércia do sistema escolar.
Diante da citação acima, vimos que o papel da escola e do professor
é complexo e que as mudanças na prática de ensino de português, depen-
dem não mais de teorias que deem o suporte teórico, didático-
metodológico e sim de mudanças entre os sujeitos do contexto escolar e da
sociedade. É nesse sentido que a ilustração abaixo dialoga com as coloca-
ções acima.
Por fim, na unidade IV, veremos algumas propostas de ensino de
gramática que dialogam com as questões críticas, feitas até então.
Figura 10: Movimento escola comunidadeFonte: http://educacaodialogica.blodspot.com/2008
31
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
REFERÊNCIAS
MENDONÇA, Márcia. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar,
um outro objeto. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (orgs.).
Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo, 2006.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP,
Mercado deLetras, 1996.
TRAVAGLIA, L. Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino
de gramáticas. São Paulo: Cortez, 1996.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Edições Loyola,
2001.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência Textuais. São Paulo. Editora
Ática, 2003.
KOCH. I.G. V. A coesão textual. São Paulo; Contexto, 1992.
____ & TRAVAGLIA, L.C. Texto e coerência. São Paulo, Cortez, 1989.
____. A coerência Textual. São Paulo, Contexto, 1990.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática na escola. São Paulo:
Contexto, 1990.
32
3UNIDADE 3MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO
DE GRAMÁTICA.
O modo como representamos e concebemos a linguagem, o
que consideramos “domínio das linguagens e suas
tecnologias”, os motivos que orientam esse domínio trazem
implícitos nossos horizontes filosóficos e éticos, políticos e
sociais, culturais e estéticos. Torna-se, pois, essencial
explicitar nossa compreensão do que seja linguagem e de
seu lugar na vida humana e, conseqüentemente, o sentido
do ensino da disciplina. (CBC/LP, 2007, p.11).
Apresentação da unidade
Nesta unidade, abordamos a importância do planejamento e
apresentamos uma discussão em torno dos documentos oficiais que balizam
o planejamento da disciplina Língua Portuguesa.
Esperamos que você tire bastante proveito dessa unidade que,
ancorada apelos documentos oficiais de parametrização do ensino de
Língua Portuguesa, proporciona conhecimentos para a formação de um
profissional consciente dos modos de agir e do por que agir ao trabalhar, em
sala de aula, do ensino fundamental e médio com a disciplina Língua
Portuguesa.
Boa leitura.
Objetivos
� Identificar o papel do professor no planejamento em ação do
processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa.
� Inteirar-se das propostas de ensino de Língua Portuguesa,
particularmente dos conteúdos gramaticais, nas escolas de ensino funda-
mental e médio.
� Familiarizar-se com as competências, os conteúdos e a metodo-
logia de atividades referentes ao ensino de Língua Portuguesa.
3.1 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
Em sua trajetória histórica o homem sempre sonhou, pensou
refletidamente e planejou suas ações. Inclusive, o homem primitivo, do seu
modo e utilizando sua habilidade de pensar, planejou como deveria agir
para vencer os obstáculos que se interpunham em sua vida tais como caçar,
pescar, colher frutas, que estratégias utilizar para vencer seus inimigos e para
conquistar territórios.
33
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Segundo Vasconcellos (2009), o planejamento é inerente ao ser
humano. Todos, em seu dia-a-dia, têm algum plano, “mesmo que não esteja
sistematizado por escrito”.
Informações sobre o autor: * “Celso dos Santos Vasconcellos já
foi professor, coordenador pedagógico e gestor escolar. Ao longo de sua
extensa carreira de educador, participou de inúmeros processos de
planejamento nas escolas e gosta de dizer que aprendeu muitas lições.
'Às vezes, há uma tentação enorme de ficar gastando tempo com
problemas menores, quase sempre da esfera administrativa ou burocrá-
tica. Justamente por isso é tão importante planejar o planejamento',
afirma. Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, mestre
em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e autor de diversos livros sobre esse assunto, o
especialista fala na entrevista a seguir a respeito dos meandros do
processo de elaboração das diretrizes do trabalho da escola.”
Menegolla e Sant´Anna (1998, p. 17) afirmam que “planejar é uma
exigência do ser humano; é um ato de pensar sobre um possível e viável
fazer. E, como o homem pensa sobre o seu “o quê fazer”, o planejamento se
justifica por si mesmo. A sua necessidade é a sua própria evidência e
justificativa”.
Em se tratando do processo de ensino e aprendizagem, o planeja-
mento é algo muito sério que deve ser elaborado com qualidade e intencio-
nalidade. Logo, pensar em qualidade pressupõe que você pense em inteirar-
se do que é importante, necessário, significativo, prazeroso, etc., para o nível
dos alunos. Já a intencionalidade, envolve perguntar: para que ensinar o que
se vai ensinar? Com quais objetivos?
Pode-se afirmar que o planejamento educacional é a previsão
antecipada de ações educativas para atingir certos objetivos, que vêm de
necessidades criadas por uma determinada realidade. É, sobretudo, traçar
modos de agir de acordo com essa realidade, admitindo, contudo, a
possibilidade de mudanças ou de alterações de percurso. O planejamento
educacional é, portanto, flexível.
Zabala (1996, p. 157), seguindo os critérios propostos por Raths,
enumera doze princípios para guiar o professor no planejamento de
atividades de ensino. Para este autor, uma atividade didática é preferível à
outra se:
Planejar o planejamento: é o mesmo que criar a
oportunidade PARA FAZER O PLANEJAMENTO.
Normalmente as escolas reservam, no início de cada
período letivo, dentro do calendário escolar, o momento
do planejamento conjunto.
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
Esperamos que você tenha percebido que o planejamento é algo inerente ao ser humano.
Perguntamos:Você planeja suas atividades
cotidianas?
Experimente planejar a sua semana. Pare e pense quais são
as atividades que você tem a desempenhar. Estabeleça um
objetivo para cada uma delas, faça um cronograma de ações
diárias, liste os recursos de que você vai precisar. Não se
esqueça de incluir as atividades de estudo. Compare o seu
planejamento com o planejamento de um colega.
Sucesso!
ATIVIDADES
34
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
a) permite que o aluno tome decisões razoáveis sobre como desenvol-
vê-la e veja as consequências de sua escolha;
b) atribui ao aluno papel ativo em sua realização;
c) exige do aluno uma pesquisa de idéias, processos intelectuais,
acontecimentos ou fenômenos de ordem pessoal ou social e o estimula
a se envolver nela;
d) obriga o aluno a interagir com sua realidade;
e) pode ser realizada por alunos de diversos níveis de capacidade e
interesses diferentes;
f) obriga o aluno a examinar, em um novo contexto, uma idéia, um
conceito, lei etc., que já conhece;
g) obriga o aluno a examinar idéias ou acontecimentos normalmente
aceitos sem questionamento pela sociedade;
h) coloca o aluno e o educador em uma posição de êxito, fracasso ou
crítica;
i) obriga o aluno a reconsiderar e rever seus esforços iniciais;
j) obriga a aplicar e dominar regras significativas, normas ou disciplinas;
k) oferece ao aluno a possibilidade de planejá-la com outros, participar
do seu desenvolvimento e comparar os resultados obtidos;
l) for relevante para os propósitos e interesses explícitos dos alunos.
Ao falar sobre planejamento, Madalena Freire (1997:56) afirma que,
[...] o planejamento alicerça a ação criadora, pois permite
que haja um controle do que está ocorrendo em sala de aula.
Nesta perspectiva, o planejamento não anula a criatividade
nem a dinâmica do trabalho, pelo contrário, permite que a
criatividade vá em direção aos objetivos desejados.
3.2 O ENSINO DA GRAMÁTICA E OS DOCUMENTOS OFICIAIS
Não há como abordar as questões de ensino sem fazer referência à
lei maior que o regula, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDB nº. 9.394/96.
O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo amplo da
educação que é propiciar a todos a formação básica para a cidadania, a
partir da criação, na escola, de condições de aprendizagem para o que
propõe no art. 32:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como
meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
Analise cada um dos princípios enumerados por Zabala. Reflita sobre a importância e a pertinência de se considerar cada um deles no momento de planejar as suas aulas.Agora, faça comentários, no fórum destinado à discussão das atividades, sobre o valor desses princípios para o bom andamento das atividades de ensino de Língua Portuguesa.
ATIVIDADES
Recomendamos para a complementação dos seus estudos a respeito de Planejamento a leitura dos livros:
1- FREIRE, Madalena. (Org.). Observação registro reflexão: Instrumentos Metodológicos I. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996. Em parceria com Juliana Davini, Fátima Camargo e Mirian Celeste Martins. O livro resgata importantes ferramentas para a construção do conhecimento e da consciência, na aventura de ensinar e aprender com criatividade e autoria.Na primeira parte as autoras enfocam a observação, o como aprendemos a olhar, a importância de dar direção e intenção a este ato. Elas afirmam que o olhar cuidadoso que envolve generosidade, cuidado, planejamento, atenção e presença e que a sensibilidade é um recurso a ser desvelado, para podermos ver além e a importância do exercício estético para a formação do educador atento.
Na segunda, as autoras discutem sobre a importância
DICAS
35
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
do registro para a obtenção de um pensamento reflexivo. A
escrita como exercício básico do estudo da teoria e da
própria prática pedagógica, é que vai possibilitar o
clareamento do que já sabemos e do que precisamos
ainda tentar, conhecer, criar, olhar. Este movimento é
gerador de reflexão que, por sua vez, incentiva o ato
consciente, ato fundamental para constituir a subjetividade,
o sentido de um fazer, na busca de recuperar valores
imprescindíveis para a formação de sujeitos
pensantes, criadores e sensíveis.
2- FREIRE, Madalena. (Org.). Avaliação e planejamento: a
prática educativa em questão: Instrumentos Metodológicos II. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997. Na primeira parte desta
obra as autoras resgatam o sentido dramático do ensinar e aprender, defendendo o pensar
como ingrediente básico. Afirmam que o pensar que se
dá nas mais variadas linguagens é mola propulsora da
consciência, que por sua vez dá força para as transformações
do sujeito em sua realidade interna ou externa.
Na segunda parte enumeram os instrumentos com os quais os educadores contam, para
enriquecer e sistematizar seu pensar, transformando-o em
fazer.“Neste livro priorizamos a
discussão de duas ferramentas básicas: a avaliação e o
planejamento” afirmam. As ferramentas são antigas
conhecidas do público de pedagogos, porém as autoras recriaram ao inseri-las dentro
de uma nova proposta em educação: a concepção democrática. “Com elas
podemos ir e vir, em nosso difícil trabalho de recriar,
inventar, refazer o nosso sonho pedagógico”.
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em
vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidarie-
dade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (art.
32).
Sendo assim, a organização curricular e a abordagem dos conteú-
dos devem ocorrer primeiramente no sentido de conferir ao aluno a
efetivação dos objetivos da educação democrática.
Para garantir essas proposições, a estrutura federativa autoriza os
órgãos governamentais a tomarem as providências necessárias. Assim é que,
na esteira dessa possibilidade, a Secretaria de Estado de Educação de Minas
Gerais criou, em 2000, para as escolas da rede estadual de Minas Gerais, o
Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública – SIMAVE
Entre os programas que integram o SIMAVE, há o Programa de
Avaliação da Aprendizagem Escolar – PAAE, planejado para avaliar a
aprendizagem dos alunos ao longo do ano letivo e identificar, a partir dos
resultados de desempenho, as necessidades imediatas de intervenção
pedagógica no cotidiano escolar.
Assim, os resultados de suas avaliações devem fundamentar o
planejamento educacional, do ensino e as intervenções pedagógicas,
fornecendo subsídios para a melhoria da aprendizagem dos alunos e da
prática docente, contribuindo para o sucesso escolar do aluno.
3.2.1 O planejamento da disciplina língua portuguesa
Para subsidiar o Planejamento das aulas de Língua Portuguesa, O
SIMAVE oferece uma Matriz de Referência composta por um conjunto de
descritores que explicitam dois pontos básicos do que se pretende avaliar:
1- o conteúdo programático a ser avaliado em cada período de
escolarização e
2- o nível de operação mental necessário para a realização de
determinadas tarefas.
Os descritores são selecionados para compor a matriz, consideran-
do-se aquilo que pode ser avaliado por meio de um teste de múltipla
escolha, cujos itens implicam a seleção de uma resposta em um conjunto
dado de respostas possíveis. De posse dos resultados da avaliação, cada
escola volta aos descritores para o novo planejamento.
Vejam, na íntegra, as matrizes de referência do ensino fundamental
e do ensino médio:
36
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
MATRIZ DE REFERÊNCIA – SIMAVE –PROEB
LINGUA PORTUGUESA – 4ª SÉRIE / 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
TÓPICOS E SEUS DESCRITORES
I - PROCEDIMENTOS DE LEITURA
D0 Compreender frases ou partes que compõem um texto.
D1 Identificar um tema ou o sentido global de um texto.
D2 Localizar informações explícitas em um texto.
D3 Inferir informações implícitas em um texto.
D5 Inferir o sentido de palavra ou expressão.
D10 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
II – IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO
D6 Identificar o gênero de um texto.
D7 Identificar a função de textos de diferentes gêneros.
D8 Interpretar texto que conjuga linguagem verbal e não verbal.
III - COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO
D11 Reconhecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
D12 Estabelecer a relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
D15 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando
repetições ou substituições que contribuem para sua continuidade.
D19 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que compõem a narrativa.
IV – RELAÇÕES ENTRE RECURSOS EXPRESSIVOS E EFEITOS DE SENTIDO
D23 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos.
D21 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de pontuação e outras notações.
V – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
D13 Identificar marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
37
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
IMPORTANTE
Como você pode observar, os descritores previstos para a 4ª série /
5º ano do ensino fundamental, abordam com maior ênfase as competências
de leitura. Apenas o D21 e o D13 sugerem questões que poderiam se
aproximar do conteúdo gramatical. Isso porque, conforme veremos mais
adiante, o ensino da língua, no ensino fundamental, deve priorizar a leitura,
a compreensão, a interpretação e a escrita de textos. As questões gramaticais
devem ocorrer basicamente em função do aperfeiçoamento dos textos
escritos pelos alunos.
MATRIZ DE REFERÊNCIA – SIMAVE –PROEBLINGUA PORTUGUESA – 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL E 3º
ANO DO ENSINO MÉDIO
TÓPICOS E SEUS DESCRITORES
I -
PROCEDIMENTOS DE LEITURA
D1
Identificar um tema ou o sentido global de um texto.
D2
Localizar informações explícitas em um texto.
D3
Inferir informações implícitas em um texto.
D5
Inferir o sentido de palavra ou expressão.
D10
Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato.
II –
IMPLICAÇÕES DO SUPORTE, DO GÊNERO E/OU DO ENUNCIADOR NA COMPREENSÃO DO TEXTO
D6
Identificar o gênero de um texto.
D7
Identificar a função de textos de diferentes gêneros.
D8
Interpretar texto que conjuga linguagem verbal e não verbal.
III –
RELAÇÃO ENTRE TEXTOS
D18
Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.
D20
Reconhecer diferentes formas de abordar uma informação ao abordar textos que tratam do mesmo tema.
IV - COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO
D11
Reconhecer relações lógico -discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
D12
Estabelecer
a relação causa/consequência entre partes e elementos do texto.
38
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
D15
Estabelecer relações entre partes de um
texto, identificando
repetições ou substituições que contribuem para sua continuidade.
D16 Estabelecer relações entre partes de um texto a partir de mecanismos de concordância nominal.
D19 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que compõem a narrativa.
D14 Identificar a tese de um texto.
D26 Estabelecer relações entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
IMPORTANTE
Observe que, também para o 9º ano do ensino fundamental e 3º
ano do ensino médio, a grande ênfase continua sendo a mesma. Apenas os
descritores D21, D 25 e D13 fazem referência mais diretamente a aspectos
gramaticais.
É importante salientar que o Programa de Avaliação da
Aprendizagem Escolar (PAAE) baseia-se, também, nos Conteúdos Básicos
Comuns – CBC - documento curricular elaborado a partir da releitura dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
O CBC de Língua Portuguesa – CBC/LP, para os anos finais do
ensino fundamental e para o ensino médio, norteia o planejamento dessa
disciplina.
Muito embora não esgote todos os conteúdos a serem abordados
na escola, o CBC/LP expressa os aspectos fundamentais, que não podem
deixar de ser ensinados e que os alunos devem aprender.
Ao mesmo tempo, esse documento indica as habilidades e compe-
tências que os alunos não podem deixar de adquirir e desenvolver.
No ensino médio, o CBC/LP foi estruturado em dois níveis para
permitir uma primeira abordagem mais geral e semiquantitativa no primeiro
ano, e um tratamento mais quantitativo e aprofundado no segundo ano.
3.2.2 Diretrizes para o ensino de língua portuguesa
Em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
que consideram o ensino de Língua Portuguesa preparatório para a vida,
qualificando o aluno para o aprendizado permanente e para o exercício da
cidadania, o CBC/LP considera que,”a linguagem é atividade interativa em
que nos constituímos como sujeitos sociais”.
Acesse o sítio da Secretaria de Educação (http://www.educacao.mg.gov.br) e conheça o Centro de Referência Virtual do Professor (CRV). No CRV, encontra-se sempre a versão mais atualizada dos CBCs, orientações didáticas, sugestões de planejamento de aulas, roteiros de atividades e fórum de discussões, textos didáticos, experiências simuladas, vídeos educacionais, etc. Por meio do CRV, os professores de todas as escolas mineiras têm a possibilidade de ter acesso a recursos didáticos de qualidade para a organização do seu trabalho docente, o que possibilitará reduzir as grandes diferenças que existem entre as várias regiões do Estado. Discuta com seus colegas e com os tutores as novidades que você DESCOBRIU no Portal acima sugerido e poste suas impressões no Fórum aberto pelo Professor Formador.
ATIVIDADES
39
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Podemos assim afirmar que, ao elaborar o planejamento para as
aulas, faz-se necessário se faz ter em mente que o aluno já utiliza a Língua
Portuguesa cotidianamente. Esse fato indica que ele já domina pelo menos
uma das variedades dessa língua e que podemos e devemos, não só elaborar
o planejamento de ensino, mas também propor ações de ensino a partir de
seus conhecimentos intuitivos de falante.
Desse modo, a atribuição da escola é proporcionar a expansão das
capacidades de uso, estimulando o desenvolvimento das habilidades de se
comunicar em diferentes gêneros de discursos, sobretudo naqueles do
domínio público que exigem o uso do registro formal e da norma padrão.
Considera-se que o domínio das variedades cultas é fundamental ao
exercício crítico frente aos discursos da ciência, da política, da religião, etc.
Para corroborar essas ideias, o CBC/LP (2007, p. 13 – 14) considera:
Os conteúdos dos currículos e programas, assim como as
práticas de ensino, devem ser selecionados em função da
aquisição e desenvolvimento das competências e habilida-
des de uso da língua e da reflexão sobre esse uso, e não em
função do domínio de conceitos e classificações como fins
em si mesmos. Assim, devem compor o currículo da
disciplina aqueles conteúdos considerados essenciais à vida
em sociedade, especialmente aqueles cuja aprendizagem
exige intervenção e mediação sistemáticas da escola, como é
caso da leitura e da escrita. Em relação a essas duas
competências, é preciso lembrar que não basta que o aluno
seja capaz de decodificar e codificar textos escritos. É
preciso que ele:
� “reconheça a leitura e a escrita como atividades
interativas de produção de sentido, que colocam em jogo
diferentes fatores, como a situação comunicativa, o
horizonte social dos interlocutores, o objetivo de interlocu-
ção, as imagens que os interlocutores fazem um do outro, os
usos e práticas de linguagem”;
� “atinja um nível de letramento que o capacite a
compreender e produzir, com autonomia, diferentes
gêneros de textos, com distintos objetivos e motivações”;
� “tenha acesso aos usos literários da língua e a obras de
autores representativos da literatura brasileira”
As considerações acima, referentes ao currículo, programas e às
práticas do ensino de Língua Portuguesa, levam-nos a concluir que as ações
de ensino de gramática não podem ocorrer de forma desvinculada dessas
intenções. Há que se considerar também:
Reflita e responda:a) O que é preparar para a vida em termos do ensino de língua
materna?
b) Como se comporta linguísticamente um sujeito
preparado para a vida?
Compare suas respostas com o que diz o CBC/LP (2007, pág.
13),
“Se a linguagem é atividade interativa em que nos
constituímos como sujeitos sociais, preparar para a vida
significa formar locutores/autores e
interlocutores capazes de usar a língua materna para
compreender o que ouvem e leem e para se expressar em
variedades e registros de linguagem pertinentes e adequados a diferentes
situações comunicativas. Tal propósito implica o acesso à
diversidade de usos da língua, em especial às variedades
cultas e aos gêneros de discurso do domínio público,
que as exigem, condição necessária ao aprendizado
permanente e à inserção social”.
ATIVIDADES
40
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
c) O que é preparar para o exercício da cidadania?
d) Como procede, linguísticamente, um cidadão?
Agora compare suas respostas com esta afirmação, segundo o CBC/LP (2007, pág.13),
“Qualificar para o exercício da cidadania implica compreender a dimensão ética e política da linguagem, ou seja, ser capaz de refletir criticamente sobre a língua como atividade social capaz de regular - incluir ou excluir - o acesso dos indivíduos ao patrimônio cultural e ao poder político. Nesse sentido, os conteúdos e as práticas de ensino, selecionados, devem favorecer a formação de cidadãos capazes de participação social e política, funcionando, portanto, como caminho para a democratização e para a superação de desigualdades sociais e econômicas”.
CONCLUSÃO: elabore um parágrafo conclusivo completando suas ideias com as afirmações do CBC/LP. Exercite seus conhecimentos contando para alguém suas concepções. Vá ao fórum e poste suas considerações.
ATIVIDADES� Que a língua é uma atividade viva;
� Que ela se modifica pela ação dos falantes nos processos de
interlocução.
� É, pois, por “natureza, heterogênea, variada, “sensível” ao
contexto de uso e à ação dos usuários”.
� Que a comunicação se dá, não por meio de frases ou estruturas
isoladas, mas por meio de discursos e de suas manifestações, os textos.
Implicando que o seu ensino “prevê o trabalho linguístico dos
interlocutores no processo de produção de sentido”, cabendo ao professor
fazer circular na sala de aula uma variada gama de textos de todos os gêneros
e tipos, juntamente com seus suportes, e proporcionar a reflexão sobre os
aspectos gramaticais inerentes à eficiente leitura e escrita.
Então, concluímos que:
1. Só se justifica o estudo da língua por meio de textos orais e
escritos. Nessa perspectiva, a reflexão sobre os processos de textualização
deve ser o objeto de estudo central da disciplina, o que segundo o CBC/LP
(2007 pág.14), “[...] exige novos níveis de análise e novos procedimentos
metodológicos - a começar pelo reconhecimento de que estudar língua é
mais que analisar a gramática da forma ou o significado de palavras”.
2. Não se justifica o ensino de língua privilegiando o estudo da
forma em detrimento do sentido e da função sociocomunicativa. Segundo o
CBC/LP(2007 PÁG.14):
A tradição de ensino de língua sempre privilegiou o estudo
da forma em detrimento do sentido e da função sociocomu-
nicativa. As análises fonética, morfológica e sintática
pretendiam descrever a língua como um sistema de regras
que, uma vez aprendido, habilitaria automaticamente o
aluno a ler e a escrever bem. Essa concepção reduziu, com
freqüência, a aula de Língua Portuguesa a uma aula de
gramática normativa e, conseqüentemente, contribuiu para
sedimentar uma visão preconceituosa acerca das variedades
lingüísticas, visão que opõe o “certo” e o “errado” e supõe,
enganosamente, a existência de um padrão lingüístico
homogêneo.
3. O texto deve ser, portanto, o assunto “expresso por determinada
forma, em determinada circunstância”. Afirma o CBC/LP (2007 pág. 15)
que:
41
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Privilegiar o texto como objeto de estudo da disciplina não
significa transformar a aula de Língua Portuguesa num
plenário de discussão de variados temas. De maneira
alguma. Um texto não é só assunto; é assunto expresso por
determinada forma, em determinada circunstância. Estudar
o texto implica considerá-lo em sua materialidade
lingüística, seu vocabulário e sua gramática. Implica analisar
as inter-relações entre as condições de produção e a
configuração semântica e formal dos diversos tipos de textos.
Pode-se, então, sim, dizer mais sobre uma frase do que
simplesmente afirmar que ela se estrutura em sujeito e
predicado e que inclui substantivos e verbo: podem-se
constatar e explicar termos elípticos e relações anafóricas ou
dêiticas que a interligam com outros elementos do texto ou
do contexto em que aparece; pode-se indagar sobre seu
papel na progressão temática e na articulação do texto; sobre
os objetivos comunicativos do autor, manifestos pelas
escolhas lexicais e sintáticas que ele processou; sobre os
efeitos de sentido que essas escolhas podem provocar.
Torna-se importante ressaltar que, de modo algum, a gramática fica
abolida da aula de Língua Portuguesa, mas precisa ser realocada e redimen-
sionada.
O ponto de partida para seu ensino deve ser o que os alunos
escrevem, as dificuldades que eles apresentam. Há que se levar em conta as
diferenças decorrentes dos diferentes fatores que fazem com que cada um
tenha um desempenho linguístico e diferentes níveis de conhecimento.
Nesse contexto, a ilustração tem sentido muito mais humorístico. As
diferenças a que nos referimos no parágrafo anterior são aquelas apresenta-
das pelos alunos, em sala de aula, nos momentos de escrita e de oralidade e
que normalmente são decorrentes de suas diferenças sociais, culturais,
enfim, da variedade de conhecimentos prévios, linguísticos, que cada um
tem.
42
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Figura 11: Humor - Tipos de alunosFonte: tirinhasamao.blogspot.com
3.2.3 O planejamento da disciplina língua portuguesa.
O CBC/LP sugere que as situações de ensino da língua Portuguesa
devem ser planejadas de modo a levar o aluno a rever o conceito de gramáti-
ca, considerando as várias significações desse termo.
De acordo com esse documento, há que se considerar também
que:
� A Língua Portuguesa não é uma só: existem diferentes práticas
discursivas orais e escritas, variedades diversas de língua (dialetos e registros),
cada qual com sua gramática e com suas situações de uso.
Carlos Drummond de Andrade em seu poema “Aula de Português”
destaca no último verso “O português são dois; o outro, mistério”.
O texto a seguir ilustra diferentes práticas discursivas decorrentes de
diferentes situações de uso da Língua Portuguesa. Observem que o que
determina o enfoque são as características dos veículos de circulação de um
mesmo fato.
43
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Conheça mais sobre a vida e a obra de Carlos Drummond de
Andrade, autor que proclamau a liberdade das palavras e uma libertação do idioma de modo
a autorizar a modelação poética à margem das
convenções usuais e fala, aos nossos corações, sobre o amor.
Não deixe o amor passar
“Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns
segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais
importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo
brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o
dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último
pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te
mandou um presente: O Amor. Por isso, preste atenção nos
sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o amor”.
VISITE:http://www.releituras.com/dru
mmond_bio.asp
DICASJORNAL NACIONAL: (William Bonner): 'Boa noite. Uma menina
chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...'. (Fátima
Bernardes): '... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.
PROGRAMA DA HEBE: '... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar,
mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é
mesmo?'
CIDADE ALERTA: (Datena): '... onde é que a gente vai parar, cadê as
autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da avozinha
a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi
devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo
mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'
REVISTA VEJA: Lula sabia das intenções do lobo.
REVISTA CLÁUDIA: Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar
enganar pelos lobos no caminho.
REVISTA NOVA: Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.
FOLHA DE S. PAULO: Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta
a mão de seu salvador'. Na matéria, box com um zoólogo explicando os
hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como
Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.
O ESTADO DE SÃO PAULO: Lobo que devorou Chapeuzinho seria
filiado ao PT.: Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou
um lobo pra salvar menor de idade carente.
ZERO HORA: Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.
AQUI: Sangue e tragédia na casa da vovó.
REVISTA CARAS: (Ensaio fotográfico com chapeuzinho na semana
seguinte) Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS:
'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou
outra pessoa'`.
PLAYBOY: (Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu..
REVISTA ISTO É: Gravações revelam que lobo foi assessor de político
influente.
G MAGAZINE: (Ensaio fotográfico com lenhador) Lenhador mostra o
machado.
SUPER INTERESSANTE: Lobo mau! Mito ou verdade?
http://recantodasletras.uol.com.br (autor desconhecido - recebido por
e-mail)
44
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
� A tarefa da escola é ensinar o português padrão, já que esse,
geralmente, o aluno não domina.
Veja no texto “Os patos de Rui Barbosa” um exagero no uso de
uma linguagem altamente elaborada que prejudica o entendimento da
mensagem por parte de uma pessoa menos letrada.
Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um
barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver
um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosa-
mente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com
seus amados patos, disse-lhe:
____Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor
intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de
profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à
sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para
zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado,
dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o
farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o
vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
____ Dotô, eu levo ou deixo os pato?
http://www.pensador.info/autor/Ruy_Barbosa/
Atenção! Não há que se chegar ao exagero de trabalhar uma
linguagem altamente técnica ou com variações específicas decorrentes da
profissão, por exemplo.
� A língua é um fator de interação social e a sala de aula deve ser
um ambiente sem preconceitos
Faça uma visita, no Google, aos links que fazem referência a Rui Barbosa. Você vai se deliciar com seus escritos.
DICAS
Empregue a vírgula:
SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.
1)Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.Assim, conseguiu o entendimento de que a mulher tem muito valor e que se o homem soubesse disso, andaria de quatro à procura dela (da mulher).
2)Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.Conseguiu o entendimento de que se o homem sabe seu valor, vai conseguir que a mulher ande de quatro à sua procura.
ATIVIDADES
45
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Figura 12: Sala de AulaFonte: http://meusregistros.pbworks.com/f/grav_criancas_sala_de_aula2.jpg
O espaço escolar, para ser coerente com a sua função social, deve
preservar a diversidade e possibilitar o aprendizado sistematizado e a
ascensão profissional e pessoal de todos os que usufruem os seus serviços.
A escola e seus agentes devem zelar pelo bem-estar de todos,
evitando a discriminação e o preconceito com as diferentes formas de
linguagem.
� A sala de aula é um laboratório verdadeiramente científico.
Sendo um laboratório, o professor deve-se abrir espaço para a
pesquisa e proporcionar o questionamento, a análise e a reflexão sobre os
fatos linguísticos.
OBS: O que queremos deixar claro é que não adianta saber todas as
regras de colocação da vírgula se não houver compreensão do sentido das
expressões a partir da sua colocação. Para haver a compreensão há que se
refletir e analisar os efeitos de sentido produzidos.
� A língua varia nas dimensões dos dialetos — do [+ culto] ao [-
culto] — e dos registros — do [+ formal] ao [- formal].
Figura 13: Variação linguísticaFonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/dicas_monica_06.jpg
46
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Dada a diversidade de situações comunicativas e a diversidade
econômica e social que a sala de aula acolhe há que se levar em conta essa
variação.
� A língua oral e a língua escrita são interdependentes.
Isso equivale a dizer que “Uma interfere na outra, em maior ou
menor grau, dependendo das circunstâncias”. Esse fato indica que o
professor de Português deve levar o aluno a ter contato com outras gramáti-
cas, além daquela da língua padrão.
Carlos Drummond de Andrade afirmou em seu poema “Aula de
Português” que “A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de
entender. A linguagem na superfície estrelada de estrelas, sabe-se lá o que
ela quer dizer?”.
A verdade é que há uma grande diferença entre fala e escrita e esse
fato acontece em todas as línguas. As duas modalidades exigem conheci-
mentos diferentes. É comum, por exemplo, ouvirmos: /Eli si comportô muito
bem/, enquanto na variante padrão, escrita, temos: “Ele se comportou muito
bem”. Essas diferenças podem gerar conflitos. Daí a importância de trabalhar
a gramática contextualizada.
� O contato do aluno com outras gramáticas será mais produtivo
se ele tiver a oportunidade de observar os fatos linguísticos ocorrendo em
situações concretas de comunicação.
O texto abaixo ilustra a interferência da língua oral na escrita em
uma situação concreta de comunicação.
Um conhecido pesquisador fez um levantamento, em toda
Minas Gerais, para saber qual seria o objeto de desejo do homem
mineiro...
Em todos os rincões das Gerais, os homens respondiam de bate
pronto:
— Dinheiro e mulher.Não dava outra, a resposta era sempre a
mesma. Quase ao final da pesquisa, ele encontrou em "Óis d'Água" um
mineirinho de uns setenta anos, franzino, sentado de cócoras no
pondions*, à beira da estrada, pitando um cigarrim de palha.
— Bom dia!
O mineirinho deu uma tragada, cuspiu de lado e, sem olhar,
respondeu:
— Diiia, sô!
— Estou fazendo uma pesquisa para saber quais as coisas que o
homem mineiro mais gosta... O senhor pode me responder quais são as
coisas do seu agrado?
O mineirim deu mais uma pitada, mais uma cuspida de banda e
disse:
47
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
— Uai, sô! As coiss qui eu mais apreceio é 'o dinheiru, as muié
e... o bicho di pé!'.
O pesquisador,muito circunspecto, estranhou a inclusão do
item "bicho de pé" na resposta e perguntou:
— Olha, todos respondem "dinheiro e mulher". Mas, e o bicho
de pé?
Mais uma pitada e mais uma cuspida, o mineirinho retruca:
— Uai, sô! Pra que qui serve nóis tê dinheiru e muié, se o
"bicho" num fica di pé?
� Em mineirês quer dizer ponto de ônibus.
Fonte: http://www.triplosentido.com/2009/04/pesquisa-em-minas-
gerais.html
Vejamos que o contato se efetiva principalmente nas atividades de
compreensão, produção, refacção e retextualização de seus próprios textos.
O texto abaixo ilustra bem a discussão aqui posta.
Violência nas Ruas
Hoje em dia a violência toma conta das ruas de grandes
cidades, na calada da noite. Adultos, jovens e adolescentes que se
drogam, para praticar os atos diabólicos.
Por volta das 10 horas, da noite de ontem no bairro Auvorada
de Belo Horizonte um jovem conhecido por magrão, foi preso pela
polícia militar, ao tentar estrupar uma estudante quando voutava para
casa.
O policial falou que. Pelo comportamento que, o elemento
estava apresentando, olha: tudo indica, que ele, ele estava drogado.
Texto produzido por um aluno de 5ª série.
Vejam que, muito embora o aluno escreva palavras como volta e
policial, ainda escreve /Auvorada/ para Alvorada e /voutava/ para voltava.
No último parágrafo ele teve a pretensão de escrever em discurso direto
inserindo diálogo, mas não conseguiu. Não se sabe se ele quis dizer o nome
do bairro ou dizer que o bairro fica na cidade de Belo Horizonte. Há
problemas com a pontuação.
Esse texto merece ser discutido com o aluno no sentido de que ele
refaça os aspectos de linguagem. É uma boa oportunidade para discutir
determinadas convenções da língua escrita, pois a constituição de conceitos
acontece num movimento crescente, partindo de conceitos menos comple-
xos para os mais complexos, refinados e abstratos.
48
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Assim preconiza o CBC/LP (2007, p. 16):
Primeiramente, os alunos devem usar a língua; depois,
refletir sobre o uso, intuir regularidades, levantar hipóteses
explicativas; em seguida, podem fazer generalizações,
nomear fenômenos e fatos da língua, ou seja, usar a língua
para descrever o funcionamento da própria língua e, então,
voltar a usar a língua de forma mais consciente. Os objetos de
conhecimento receberão um tratamento metalingüístico de
acordo com o nível de aprofundamento possível e desejável,
considerando o desenvolvimento cognitivo dos alunos e as
características específicas do tema trabalhado.
Fica evidente que a gramática ganha outro tratamento nas aulas de
Língua Portuguesa. Quanto aos conceitos, o CBC/LP (2007, p.16) afirma
também que,
[...] o aluno deve ter oportunidade de compreender o caráter
histórico e dinâmico dos conceitos. Os conceitos de texto,
gramática, erro lingüístico com que se opera hoje na
disciplina, por exemplo, sofreram significativas modificações
nas últimas décadas, e essas mudanças devem ser focaliza-
das e discutidas criticamente em sala de aula com o aluno, na
medida de sua capacidade de compreensão e abstração.
Para favorecer o planejamento das aulas, o CBC/LP aloca os
conteúdos linguísticos e suas respectivas habilidades no Eixo Temático II:
Linguagem e Língua. CBC/LP (2007, p. 55).
Eixo Temático II: Linguagem e Língua
Competências:
� Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico,
social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
� Reconhecer a língua como instrumento de construção da
identidade de seus usuários e da comunidade a que pertencem.
� Compreender a escrita como simbolização da fala.
� Compreender a necessidade da existência de convenções na
língua escrita.
� Valorizar a escrita como um bem cultural de transformação da
sociedade.
� Usar variedades do português, produtiva e autonomamente.
� Posicionar-se criticamente contra preconceitos linguísticos.
� Mostrar uma atitude crítica e ética no que diz respeito ao uso da
língua como instrumento de comunicação social.
Transcrevemos, na íntegra, os tópicos e subtópicos, habilidades e
detalhamento das habilidades previstas no Eixo Temático II: Linguagem e
Língua do CBC/LP (2007, p. 55 - 63).
Visite o documento CBC/LP na íntegra no link:
www.educacao.mg.gov.br
DICAS
49
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
TÓPICOS E SUBTÓPICOS DE
CONTEÚDO
HABILIDADES E DETALHAMENTO DAS HABILIDADES
19. A linguagem verbal: modalidades, variedades, registros.
• Modalidades lingüísticas:
− o contínuo oral–escrito;
− condições de
produção, usos, funções sociais e estratégias de textualização da fala e da escrita;
− convenções da língua escrita: grafia de
palavras (ortografia, acentuação gráfica, notações gráficas); parágrafo gráfico; pontuação;
− diferenças entre o
sistema fonológico e o sistema ortográfico.
• Variação lingüística e estilística:
• fatores históricos (o passado e o presente), geográficos (o contínuo
rural—urbano), sociológicos (gênero, geração, classe social) e técnicos (diferentes domínios da ciência e da tecnologia);
19.0. Compreender a língua como fenômeno histórico, cultural, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
19.1. Reconhecer seme lhanças e diferenças entre a fala e a escrita quanto a condições de produção, usos, funções sociais e estratégias de textualização.19.2. Reconhecer funções da fala e da escrita em
diferentes suportes e gêneros.
19.3. Usar as convenções da língua escrita produtiva e autonomamente, entendendo as diferenças entre o sistema fonológico e o sistema ortográfico.
19.4. Identificar fatores relacionados às variedades lingüísticas e estilísticas de textos apresentados.
19.5. Avaliar o uso de variedades lingüísticas eestilísticas em um texto, considerando a situação comunicativa e o gênero textual.
19.6. Adequar a variedade lingüística e/ou estilística de um texto à situação comunicativa e ao gênero do texto.
19.7. Mostrar uma atitude crítica e não
preconceituosa em r elação ao uso de variedades lingüísticas e estilísticas.
19.8. Reconhecer a manifestação de preconceitos lingüísticos como estratégia de discriminação e dominação.
50
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
• manifestações
fonéticas, lexicais, morfológicas e sintáticas;
• o contínuo da monitoração estilística: registros menos ou
mais monitorados.
• Prestígio e preconceito lingüístico
20. Neologia de palavras
• Neologia semântica: a criação de novos sentidos para palavras, expressões e frases, e
seus efeitos de sentido.
• Neologia lexical: os processos mais produtivos no português brasileiro atual e seus efeitos de
sentido.
• Neologia por empréstimo: os estrangeirismos e seus efeitos de sentido.
• Derivação: diferenças entre o
português padrão (PP) e não padrão (PNP).
20.0. Reconhecer a neologia semântica, a lexical e o empréstimo como proce ssos de criação lingüística.
20.1. Identificar a origem de neologismos em circulação no português brasileiro.
20.2. Identificar o processo de formação de neologismos em circulação no português brasileiro.
20.3. Interpretar neologismos em diferentes situações de interlocução.
21. Uso de pronomes pessoais no português padrão (PP) e não padrão (PNP)
• Sistemas pronominais do PP e do PNP: diferenças quanto
− ao preenchimento da posição de sujeito;
− à extensão do emprego de pronomes pessoais tônicos como
objeto;
− ao desaparecimento de clíticos junto ao verbo;
− ao emprego de pronomes reflexivos;
− ao emprego de dêiticos e anafóricos.
21.0. Reconhecer e usar o pron ome pessoal, produtiva e autonomamente.
21.1. Reconhecer diferenças de uso do pronome pessoal entre o português padrão (PP) e o português não padrão (PNP).
21.2. Avaliar a adequação do uso padrão ou não padrão do pronome pessoal em um texto ou
seqüência te xtual, considerando a situação comunicativa e o gênero do texto.
21.3. Corrigir um texto ou seqüência textual, considerando a necessidade de uso da norma padrão de emprego do pronome pessoal.
21.4. Usar a norma padrão do pronome pessoal em situações comunicativas e gêneros textuais que
a exijam.
51
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
22. Flexão verbal no português padrão (PP) e não padrão (PNP) • Sistemas de flexão verbal no PP e no
PNP:
− manutenção /
redução do paradigma das pessoas verbais;
− [− ou +] emprego
de formas verbais compostas no futuro e no pretérito mais-que-perfeito;
− [− ou +] uso do pretérito imperfeito pelo futuro do
pretérito (condicional);
− [− ou +] predominância do modo indicativo.
• Concordância verbal no PP e no PNP:
− concordância verbal
e coesão;
− casos gerais de concordância verbal.
22.0. Reconhecer e usar mecanismos de flexão verbal, produtiva e autonomamente. 22.1. Reconhecer diferenças de flexão verbal entre o português padrão (PP) e o português não padrão (PNP). 22.2. Avaliar adequação da
flexão verbal padrão
ou não padrão em um texto ou seqüência textual, considerando a situação comunicativa e o gênero do texto.
22.3. Corrigir um texto ou seqüência textual, considerando a necessidade de uso da norma
padrão de flexão verbal. 22.4. Usar a norma padrão de flexão verbal em
situações comunicativas e gêneros textuais que a exijam.
23. Flexão nominal no português padrão (PP) e não padrão (PNP) • Sistemas de flexão verbal no PP e no
PNP: diferenças de
− gênero e número do
substantivo; − gênero
e número do
adjetivo, quantificadores e determinantes variáveis
do substantivo.
• Concordância nominal no PP e no PNP:
− concordância nominal e coesão;
− casos gerais de concordância nominal.
23.0. Reconhecer e usar mecanismos de flexão nominal, produtiva e autonomamente. 23.1. Reconhecer diferenças de flexão nominal entre o português padrão (PP) e o português não
padrão (PNP). 23.2. Avaliar adequação da flexão nominal padrão ou não padrão em um texto ou seqüência textual, considerando a situação comunicativa e o gênero do texto.
23.3. Corrigir um texto ou seqüência textual, considerando a necessidad e de uso da norma
padrão de flexão nominal. 23.4. Usar a norma padrão de flexão nominal em
situações comunicativas e gêneros textuais que a exijam.
52
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
24. A frase na norma padrão
• Frase: estruturação, delimitação e
articulação
• Frase oracional e frase não oracional
• Marcas do relacionamento das palavras na frase:
− sinais de pontuação;
− ordem de colocação;
− concordância;
− articuladores (preposições e conjunções);
− natureza dos
sintagmas;
− operadores argumentativos;
− entoação / pontuação.
• A frase e seus sintagmas:
− sintagma nominal, sintagma adjetivo, sintagma adverbial;
− ordem canônica e não canônica dos
sintagmas na frase e seus efeitos de sentido.
24.0. Reconhecer e usar, produtiva e autonomamente, a frase padrão em contextos que a exijam.
24.1. Reconh ecer, em um texto ou seqüência textual, os diferentes tipos de frases: não oracional, oracional simples (período simples), oracional
complexa (período composto).
24.2. Reconhecer marcas do relacionamento entre as palavras de uma frase.
24.3. Manipular marc as do relacionamento entre as palavras de uma frase, de forma a produzir diferentes efeitos de sentido.
24.4. Relacionar mudanças de sentido, focalização
e intencionalidade a mudanças formais operadas em uma frase: alterações de sinais de pontuação, ordem de colocação, concordância, transformação de sintagmas, substituição ou eliminação de articuladores e operadores argumentativos.
24.5. Reconhecer sintagmas substantivos, adjetivos
e adverbiais em uma frase.
24.6. Identificar o núcleo ou os núcleos de sintagmas nominais, adjetivos e adverbiais apresentados em frases ou seqüências textuais.
24.7. Reconhecer
os processos sintáticos de organização e hierarquização dos sintagmas
(coordenação e/ou subordinação), em frases
apresentadas.
24.8. Interpretar, em frase s apresentadas, o valor semântico e/ou argumentativo de sintagmas nominais, adjetivos e adverbiais.
24.9. Interpretar, em frases apresentadas, o valor semântico e/ou argumentativo de sintagmas adverbiais que funcionam como modalizadores do
discurso.
24.10.
Interpretar, em frases apresentadas, o valor semântico de constituintes de sintagmas nominais, adjetivos e adverbiais.
24.11. Reconhecer a necessidade de se preposicionar ou não, em uma frase, um
determinado sintagma.
24.12. Reconhecer diferenças sintátic as de estruturação de frases entre o português padrão e o português não padrão.
24.13. Avaliar a adequação de uma estrutura frasal padrão ou não padrão a um texto ou seqüência textual, considerando a situação comunicativa e o
gênero do texto.
24.14. Produz ir frases com estrutura adequada à situação comunicativa e ao gênero textual.
53
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
25. A frase na norma padrão: período
simples
25.0. Reconhecer e usar, produtiva e autonomamente, o período simples padrão em contextos que o exijam.
• Os sintagmas
nominal, adjetivo e adverbial na estrutura oracional.
• O verbo e seus argumentos.
• Pontuação: segmentação e
articulação de sintagmas.
25.1. Reconhecer sintagmas que funcionem como
constituintes imediatos de um período simples.
25.2. Reconhecer, em um período simples ou oração, sintagmas que funcionem como constituintes de outros sintagmas.
25.3. Distinguir os argumentos semânticos de verbos (sujeito, objeto direto, objeto indireto, agente da passiva, adjunto adverbial) em frases
apresentadas.
25.4. Explicar as relações entre o significado de um verbo e a ausência, presença e forma de apresentação de seus argumentos semânticos.
25.5. Relacionar vozes verbais, formas de apresentação
dos argumentos semânticos de um
verbo e efeitos de sentido.
25.6. Distinguir os usos padrão e não padrão
de vozes verbais e seus efeitos de sentido, em
uma frase ou seqüência textual apresentada.
25.7. Distinguir os usos padrão e não padrão
de
verbos denominados impessoais, em uma
frase ou seqüência textual apresentada.
25.8. Distinguir efeitos de sentido de adjuntos
e predicativos, em frase ou seqüência textual
apresentada.
25.9. Distinguir efeitos de sentido de complementos
e adjuntos em uma frase ou seqüência
textual apresentada.
25.10. Reconhecer valores semânticos e
argumentativos
do aposto, em uma frase ou seqüência
textual apresentada.
25.11. Reconhecer o efeito de sentido de sintagmas adverbiais modalizadores, em uma frase ou seqüência textual apresentada.
25.12. Avaliar a adequação de uso de um período simples em um texto ou seqüência textual, considerando a progressão textual, a situação comunicativa e o gênero do texto.
25.13. Avaliar a correção de um período simples usado em um texto ou seqüência textual, considerando a norma padrão.
25.14. Corrigir problemas de estruturação de períodos simples, considerando a norma padrão.
25.15. Produzir períodos simples estruturalmente adequados à situação comunicativa, à seqüência e ao gênero textual.
54
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
26. A frase na norma padrão: o períodocomposto
• Conexão sintática (coordenação e/ ou subordinação),
semântica (relações lógicas) e discursiva (instruções de progressão temática).
• O período composto e suas orações.
• Orações
coordenadas:
− tipologia;
− relações lógicas e discursivas;
− pontuação.
• Orações
subordinadas:
− tipologia;
− relações temporais, lógicas e discursivas;
− pontuação.
26.0. Reconhecer e usar, produtiva e autonomamente, o período composto padrão em contextos que o exijam.
26.1. Reconhecer e usar a oração não subordinada como unidade fundamental da frase oracional
padrão simples ou complexa.
26.2. Reconhecer o papel sintático, semântico e discursivo de articuladores de orações em um período composto.
26.3. Reconhecer relações de adição, oposição adversativa, alternância, explicação e conclusão entre orações coordenadas de um período
composto.
26.4. Identificar efeitos de sentido do uso de orações coordenadas aditivas, adversativas, alternativas, explicativas e conclusivas em um período composto.
26.5. Reconhecer relações de causa,
conseqüência, concessão, condição, finalidade, tempo, comparação, proporção, conformidade, modo e lugar entre orações subordinadas e principais de um período composto.
26.6. Identificar efeitos de sentido do uso de orações causais, consecutivas, concessivas, condicionais, finais, temporais, comparativas,
proporcionais, conformativas, modais e locativas em um período composto.
26.7. Reconhecer relações de restrição e explicação entre orações adjetivas e principais de um período composto.
26.8. Identificar efeitos de sentido do uso de orações adjetivas restritivas e explicativas em um
período composto.
26.9. Reconhecer, em um período composto, a função modalizadora, focalizadora ou enunciativa de uma oração principal em relação a uma subordinada substantiva.
26.10. Identificar efeitos de sentido do uso de
orações principais acompanhadas de substantivas em um período composto.
26.11. Estabelecer, entre orações de um período composto, relações sintáticas, semânticas e discursivas adequadas ao efeito de sentido pretendido.
26.12. Manter ou alterar o sentido e/ou o efeito
argumentativo de um período composto, incluindo, substituindo, omitindo ou deslocando articuladores, orações e sinais de pontuação.
26.13. Reestruturar informações simples ou complexas em períodos compostos, estabelecendo relações sintáticas, semânticas e discursivas adequadas aos efeitos de sentido pretendidos.
55
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
26.14. Pontuar, produtiva e autonomamente,
orações de um período composto.
26.15. Corrigir impropriedades de estruturação sintática, semântica e discursiva em um período composto.
26.16. Reconhecer diferenças sintáticas de estruturação de frases entre o português padrão e o português não padrão.
26-17. Avaliar a adequação
de uma estrutura frasal padrão ou não padrão a um texto ou seqüência textual, considerando a situação comunicativa e o gênero do texto.
26.18. Produzir períodos compostos estruturalmente adequados à situação
comunicativa, à seqüência e ao gênero textual.
As recomendações para se trabalhar com o Eixo II: Linguagem e
Língua estão expressas no CBC/LP (2007, p. 30), da seguinte forma: “O Eixo
II pode ser trabalhado, pelo menos, de duas maneiras”:
Recomendação 1: “Fazer de seus tópicos expansões de outros
tópicos do Eixo I, inserindo-os nos momentos em que a situação o permitir”.
E “... ver, detalhadamente, os tópicos, subtópicos, competências e habilida-
des relativas ao Eixo III.
Sabendo-se que o Eixo temático I é: Compreensão e Produção de
Textos e que o Eixo temático III é: A Literatura e outras Manifestações
Culturais, a recomendação 1 oferece o entendimento de que não se deve
trabalhar o eixo temático II: Linguagem e Língua, onde estão alocados os
conteúdos gramaticais, de forma isolada do texto.
O próprio CBC/LP (2007, p.30) oferece o seguinte exemplo, “O
trabalho com a significação de palavras de um determinado texto (tópico 4,
Eixo I: Seleção lexical e efeitos de sentido) pode requerer a identificação de
neologismos, o que, por sua vez, pode levar ao estudo do tópico 20, no Eixo
II, se o professor assim o planejar”.
Aliás, se bem pensarmos, haveremos de concordar que “Pratica-
mente todos os tópicos de Linguagem e Língua encontram ganchos em
tópicos do tema Gêneros do Eixo I, de modo a permitir inserções”.
Recomendação 2: Outra forma de desenvolver o Eixo II consiste
em organizar unidades temáticas em torno de seus tópicos. Elaboradas pelo
professor, que deve levar em conta os conhecimentos prévios e as necessida-
des de seus alunos, elas deverão permitir a reflexão sobre os usos da língua
de forma mais crítica e contextualizada e requerer o planejamento de um
momento específico para serem estudadas.
Conclusões importantes:
� O estudo dos conteúdos gramaticais deverá se dar de forma
integrada às demais dimensões dos textos.
� Isso não significa que o professor, ao selecionar textos para
estudo, pense nos tópicos gramaticais que poderão ser estudados, paralela-
56
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
mente ao estudo dos textos ou à vista das produções dos próprios alunos.
� IMPORTANTÍSSIMO: Qualquer proposta requer um planeja-
mento.
Assim preconizam o CBC/LP (1997), “o professor deve ter clareza
do que pretende ensinar e do nível de dificuldade da tarefa proposta”. Para
tal ele precisa participar dos planejamentos grupais, realizados normalmente
no início dos períodos letivos e, ainda, planejar individualmente, selecio-
nando recursos e se organizando para a sala de aula.
Finalmente, concordamos que “cabe à escola e ao professor a tarefa
de selecionar e sequenciar os conteúdos considerando o que for, de um
lado, possível a seus alunos e, de outro, necessário, em função dos objetivos
do projeto educativo da escola”.
Havemos de concordar que os documentos oficiais de parametriza-
ção do ensino de Língua Portuguesa são norteadores da ação de planejar que
deve ser executada por todo professor que queira ter sucesso em sua
atividade profissional.
Conheça também as competências, os tópicos e subtópicos, habilidades e detalhamento das habilidades, previstos no Eixo Temático II: Linguagem e Língua para o Ensino Médio do CBC/LP (2007, p. 119). Acesse: www.educacao.mg.gov.br
DICAS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDBEN. Lei nº 9394/96. Brasília, 1996.
FREIRE, Madalena. (Org.). Avaliação e planejamento: a prática educativa
em questão. Instrumentos metodológicos II São Paulo: Espaço Pedagógico,
1997.
MENEGOLLA, Maximiliano; SANT´ANNA, Ilza Martins. Por que planejar?
Como planejar?: currículo, área e aula. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
MINAS GERAIS. SEE-MG. Proposta Curricular – CBC – Língua Portuguesa:
Ensino Fundamental e Médio. 1997. Disponível em 5), acessado em 30 de
janeiro de 2010.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejar ações para atingir certos
objetivos . In: http:/ /educarparacrescer.abri l .com.br/gestao-
escolar/entrevista-celso-vasconcellos-415759.shtml. Acessado em 3 de
fevereiro de 2010.
ZABALA, A. Os enfoques didáticos. In: COLL, C. O construtivismo em sala
de aula. São Paulo: Ática, 1996.
57
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Sites consultados
http://www.triplosentido.com/2009/04/pesquisa-em-minas-gerais.html.
Acessado em 12-01-2010.
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/dicas_monica
_06.jpg. Acessado em 12-01-2010.
http://meusregistros.pbworks.com/f/grav_criancas_sala_de_aula2.
Acessado em 18-02-2010.
http://www.pensador.info/autor/Ruy_Barbosa/. Acessado em 18-01-2010.
http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1446117 desconhecido -
Acessado em 18-01-2010.
http://www.releituras.com/drummond_bio.asp. Acessado em 12-01-2010.
http://img242.imageshack.us/img242/6597/25337516.jpg. Acessado em
19-01-2010.
http://www.educacao.mg.gov.br - Acessado em 12-01-2010.
58
4UNIDADE 4TÓPICOS DE APLICAÇÃO DO ENSINO DE GRAMÁTICA
Só compreendemos as regras do jogo discursivo quando
observamos a língua viva, em funcionamento na comunica-
ção. Essa se dá, não por meio de frases ou estruturas isoladas,
mas por meio de discursos e de suas manifestações, os textos.
Assim, a compreensão e a produção de textos orais e escritos
e a reflexão sobre os processos de textualização devem ser
vistos como objeto de estudo central da disciplina, o que
exige novos níveis de análise e novos procedimentos
metodológicos - a começar pelo reconhecimento de que
estudar língua é mais que analisar a gramática da forma ou o
significado de palavras. (CBC/LP, 2007, p.11)
APRESENTAÇÃO DA UNIDADE
Apresentamos a Unidade IV, última deste Caderno. Portanto, se
você chegou até aqui, parabéns! Está prestes a concluir os estudos da
disciplina Ensino de Gramática na Escola.
Prepare-se para se deliciar com uma unidade recheada de ativida-
des práticas que vão prepará-lo para analisar e ajudar na escolha do Livro
Didático de Português para sua escola.
Você estudará os princípios teóricos e metodológicos do Guia do
livro Didático de Língua Portuguesa e, principalmente, analisará os reflexos
das diretrizes teórico-metodológicas para a abordagem gramatical, reco-
mendadas por documentos oficiais concernentes ao ensino de Língua
Portuguesa, em propostas didático-pedagógicas de coleções de LDP.
OBETIVOS
� Inteirar-se dos princípios teóricos e metodológicos do Guia do
Livro Didático de Língua Portuguesa disponibilizado pelo Ministério da
Educação por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE).
� Analisar os reflexos das diretrizes teórico-metodológicas para a
abordagem gramatical, recomendadas por documentos oficiais concernen-
tes ao ensino de Língua Portuguesa, em propostas didático-pedagógicas de
coleções de LDP.
� Capacitar-se para a análise e escolha do livro mais adequado
para o ensino de Português.
59
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
4.1 A GRAMÁTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS
4.1.1 O Guia e o Livro Didático de Língua Portuguesa
O Ministério da Educação por meio do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) disponibiliza versão eletrônica e
impressa, para todas as escolas públicas, o Guia do Livro Didático e convida
professores e diretores das escolas para analisar e escolher os livros mais
adequados para seus alunos.
O Guia com a resenha, a estrutura e uma análise crítica dos aspectos
conceituais, metodológicos e éticos de cada uma das obras selecionadas
para comporem o Programa Nacional do Livro Didático – PNLD é resultado
de um criterioso processo de avaliação das obras inscritas pelas editoras e
sugere caminhos para práticas pedagógicas.
Sabe-se que o principal interlocutor do Guia de livros didáticos –
Língua Portuguesa é o professor dessa disciplina, já que ele norteia a seleção
de materiais a serem utilizados por um triênio.
Para balizar o trabalho do professor, o Guia elucida os critérios de
avaliação das coleções:
� Critérios eliminatórios: correção de conceitos e informações,
adequação metodológica e respeito aos preceitos éticos.
� Critérios classificatórios: baseados nos princípios gerais referen-
tes aos quatro grandes conteúdos curriculares básicos da área – leitura,
produção de textos, linguagem oral e reflexão sobre a língua e a linguagem.
Vamos entender os princípios gerais do Guia através da exposição
dos objetivos centrais do ensino de Língua Portuguesa:
1. O processo de apropriação e de desenvolvimento, pelo
aluno, da linguagem escrita e da linguagem oral (especial-
mente das formas da linguagem oral que circulam em
espaços públicos e formais de comunicação) em situações as
mais complexas e variadas possíveis;
2. A fruição estética e a apreciação crítica da produção
literária associada à língua portuguesa, em especial a da
literatura brasileira;
3. O desenvolvimento de atitudes, competências e
habilidades envolvidas na compreensão da variação
linguística e no convívio com a diversidade dialetal, de forma
a evitar o preconceito e a valorizar as diferentes possibilida-
des de expressão linguística;
4. O domínio das normas urbanas de prestígio, especialmen-
te em sua modalidade escrita monitorada, mas também nas
situações orais públicas formais em que seu uso é socialmen-
te requerido;
5. A prática de análise e reflexão sobre a língua e a lingua-
gem, na medida em que se fizer necessária ao desenvolvi-
mento da linguagem oral e escrita, em compreensão e
produção de textos. (BRASIL, 2009, p. 11-12).
Acesse o sítio eletrônico do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) e conheça, na íntegra, o Guia do Livro Didático, com
o resumo das obras selecionadas para o ensino
fundamental a partir de 2010.
DICAS
O Guia (BRASIL, 2009, p. 12) esclarece que: “Em substituição
à expressão 'norma culta', normas urbanas de prestígio é
um termo técnico recente, introduzido para designar os
falares urbanos que, numa comunidade linguística como a
dos falantes de português do Brasil, desfrutam de maior prestígio político, social e
cultural e, por isso mesmo, estão mais associados à escrita,
à tradição literária e a instituições como o Estado, a
Escola, as Igrejas e a Imprensa”.
DICAS
60
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
A partir de tais critérios, a orientação no “Roteiro para Análise e
Escolha de Livros Didáticos de Português (LDP)” sugere que o professor
analise nas coleções remetidas às escolas para análise, e também nas
resenhas do Guia, se as atividades concernentes aos conhecimentos
lingüísticos:
1. relacionam-se às situações de uso, auxiliando-as direta ou
indiretamente;
2. são menos empreendidas do que as atividades relativas aos usos
linguísticos;
3. ponderam as variedades linguísticas regionais e sociais, respeitan-
do-as;
4. promovem a reflexão e a edificação em relação aos conceitos
abordados.
O Guia delineia, também, o perfil das coleções com base no
tratamento metodológico que se dá a cada eixo de ensino – leitura, oralida-
de, produção escrita e conhecimentos linguísticos – e a partir da maneira
como cada coleção arquiteta seu projeto didático-pedagógico.
No que concerne ao tratamento metodológico, o Guia (BRASIL,
2009) destaca quatro convergências recorrentes:
1 - Vivência (V): incentiva o “aprender fazendo”, por entender que
o aluno aprende certo conteúdo curricular vivenciando situações em que
este esteja envolvido. Como exemplo, enfatiza a tese “é lendo que se
aprende a ler”. Como tal metodologia não emprega nem a transmissão e
nem a construção dos conhecimentos, há o alerta para que professores e
alunos delineiem qual o objeto de ensino proposto em cada atividade
didática, caso contrário ela será ineficaz.
2 - Transmissão (T): acredita que a aprendizagem do aluno se dá por
meio da assimilação de definições, normas e explicações sobre determinado
conteúdo dadas pelo professor ou pelo material didático. Este é o caso do
ensino de gramática que se dá pela definição de conceitos e regras, seguida
de exemplos e exercícios de aplicação. Segundo o Guia, resultados satisfató-
rios, nesse tipo de abordagem, ordenam uma organização rigorosamente
lógica da matéria e, especialmente, uma adequada transposição didática de
informações, noções e conceitos, que levem em conta o patamar de
conhecimentos e as possibilidades dos alunos.
3. Uso situado (US): apregoa que o ensino de determinado conteú-
do deve partir de usos socialmente contextualizados, ou seja, autênticos.
Comumente se relaciona aos gêneros, suas formas composicionais, estilos e
contextos de produção e circulação. É o que acontece, por exemplo,
quando se aprende a escrever um relato de viagem adotando como referên-
cia situações sociais na qual faz sentido escrever um texto desse gênero. De
acordo com o Guia, a eficácia de uma abordagem metodológica como esta
implica que os “usos” eleitos como referência sejam socialmente autênticos
e adequadamente “situados”.
61
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
4. Construção/reflexão (CR): leva o aluno à análise e reflexão sobre
determinados dados para, depois, esboçar conclusões e sistematizações
referentes ao objeto em estudo, sempre orientadas pelo professor e pelo
material didático. A eficácia desta alternativa demanda uma organização,
tanto de cada atividade ponderada isoladamente, quanto da sequência
proposta, que espelhe o movimento “natural” da aprendizagem. Conforme
o Guia, o processo deve permitir que o próprio aluno seja capaz de sistemati-
zar os conhecimentos edificados, evidenciando que sabe o que aprendeu.
Assim, se ponderarmos que a aprendizagem da escrita decorre da apreensão
das funções sociais e do plano sequencial de um gênero para o domínio de
alguns mecanismos típicos de coesão e coerência, este deverá ser, também,
o percurso de ensino proposto.
De que maneira os livros didáticos de Português (LDP) atuais,
elaborados após a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) e mediante os resultados das
avaliações do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e do Programa
de Avaliação da Aprendizagem Escolar – PAAE propõem o ensino de
gramática?
Não há uma única resposta contundente para essa pergunta.
Mesmo porque ela ainda gera várias discussões e dúvidas na comunidade
acadêmico-científica.
4.2 ESPECIFICIDADES DO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS – LDP
Nesse tópico, vamos averiguar a maneira como as diretrizes
teórico-metodológicas para a abordagem gramatical, recomendadas por
documentos oficiais concernentes ao ensino de Língua Portuguesa, refle-
tem-se nas propostas didático-pedagógicas de duas coleções de LDP. Esse é
um tema importante, sobretudo no presente momento, em que têm se
avivado as políticas públicas de avaliação e distribuição de materiais
didáticos, alocadas em uma conjuntura mais ampla, que propende* a
melhorar a formação dos alunos nas diversas práticas e situações de letra-
mento.
É relevante fazermos essa abordagem por termos uma dificuldade
estabelecida – a concepção sobre ensino de gramática – com a qual os
professores de Língua Portuguesa lidam no contexto escolar, onde estão em
jogo práticas e saberes apontados, também, pelo LDP.
Para isso, focalizaremos o LDP como um material certamente
presente na escola, que documenta propostas de ensino e, por conseguinte,
pode advertir sobre o que se espera da prática docente em relação ao ensino
de gramática.
Como vimos na Unidade III, O CBC/LP, com base nos PCNs,
recomenda, como procedimento para lidar com os objetos de ensino de
Língua Portuguesa:
Tente responder essa questão. Para tal, retome analiticamente
a parte introdutória da Unidade III deste caderno. Registre, por escrito, a sua
resposta.ATENÇÃO: Se você respondeu
que os livros didáticos propõem atividades que
priorizam o ensino da língua de modo a valorizar a leitura, a
compreensão, a interpretação e a escrita de textos,
abordando as questões gramaticais basicamente em função do aperfeiçoamento
dos textos escritos pelos alunos, você fez uma ótima
análise.Você pode ter dito também
que os livros didáticos abordam o ensino de acordo
com a matriz curricular do SIMAVE/PROEB, ou de acordo
com as competências, os conteúdos e as habilidades de
ensino em consonância com Eixo Temático II: Linguagem e
Língua, dos CBC/LP, e ainda, outras inferências mais, sobre
as considerações referentes ao ensino de língua.
ATIVIDADES
Propende: Verbo transitivo indireto
1 pender ou inclinar-se para (a frente ou para um dos lados).
Verbo transitivo indireto:2 Derivação: sentido figurado.
Ter tendência, pendor ou gosto para (algo); inclinar-se, tender.
Exs.: ele propende mais para as artes do que para a ciência. Os jurados propendiam a absolver
o réu.Ex: “... que propende* a melhorar a formação dos
alunos nas diversas práticas e situações de letramento.”
Poderia ser substituído por (que tende...).
Houaiss (2009).
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
62
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
� Partir de atividades que abarquem o uso da língua, como
produção e compreensão de textos orais e escritos em diversos gêneros
discursivo/textuais, acompanhadas de atividades de reflexão sobre a língua e
a linguagem com o intuito de melhorar as possibilidades de uso.
De acordo com esses documentos, a metodologia para o ensino de
Língua Portuguesa pode ser assim esquematizada:
Figura 14: Metodologia para o Ensino da Língua I
No eixo do uso estão as práticas de leitura, escrita, fala e escuta de
textos. No eixo da reflexão, está a prática de análise linguística:
Figura 15: Metodologia para o Ensino da Língua II
O professor deve entender que o LDP não é um conjunto de
atividades didáticas, mas um plano de ensino-aprendizagem que deve ser
adequado aos fins do ensino de Língua Portuguesa, propostos nos PCNs e
nas diretrizes curriculares estaduais e municipais, no caso de Minas Gerais,
no CBC/LP.
63
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
De posse desse entendimento e em análise aos princípios previstos
no projeto pedagógico da escola, o professor precisa fazer a seleção do livro
e utilizá-lo na elaboração do seu planejamento de ensino, o que não significa
utilizar o LDP como única fonte de recursos e informações.
Há que se levar em conta, também, os temas transversais* propos-
tos pelos PCNs e que são de responsabilidade dos professores de todos os
conteúdos.
Agora vejamos uma coleção de LDP: Ensino Fundamental
(PNLD/2010).
Ensino Fundamental: Português – Uma Proposta para o Letramento.
Autoria: Magda Soares. Editora: Moderna
A coleção é organizada por
unidades temáticas e é descrita como uma
coleção que faz um trabalho inovador com
os conhecimentos linguísticos. De acordo
com o Guia, a obra não opta pela tradição
gramatical, pois a metodologia de ensino
adotada mescla o uso situado e a constru-
ção/reflexão no trabalho com tal eixo; nos
demais, a única metodologia presente é a
construção/reflexão.
A resenha nos informa que há uma
boa articulação entre os eixos de ensino,
que privilegia o trabalho reflexivo sobre os
usos da língua e que a obra opta pela gramática em uso, visando "a importân-
cia, para a produção de sentidos, da compreensão dos recursos linguísticos e
estilísticos utilizados nos textos" (BRASIL, 2009, p. 276). Afirma ainda que
"no lugar de explicitar os conteúdos gramaticais e ortográficos, a coleção
propõe questões que encaminham o próprio aluno a inferir suas conclusões
a propósito de conceitos e regras." (BRASIL, 2009, p. 276).
Para realizar a análise das atividades didáticas referentes aos
conhecimentos linguísticos, ressaltaremos, tomado como referência a
análise feita por Aparício (2006):
1. Como se apresentam as atividades relativas aos conhecimentos
linguísticos no projeto pedagógico? Há uma seção específica para essas
atividades? Os tópicos referentes a esse eixo são abordados em seções
variadas?
2. Quais os objetos de ensino privilegiados por essas atividades?
Sobrelevam aqueles próprios da gramática tradicional ou os propostos pela
avaliação do PNLD?
Temas transversais* SÃO OS TEMAS: Ética, Meio ambiente,
Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual que constam
no Documento Introdutório dos PCNs.
São por excelência conceitos e valores
fundamentais à democracia e à cidadania e correspondentes a
questões importantes e urgentes para a sociedade
brasileira de hoje. Estão presentes na vida cotidiana e, por serem amplos, traduzem preocupações do País como
um todo. Ao serem debatidos na sociedade, normalmente,
geram o dissenso e o confronto de opiniões.
Segundo os PCNs, os Temas Transversais são de
responsabilidade dos professores de todos os
conteúdos.
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
Conheça mais sobre os Temas Transversais lendo o
Documento Introdutório dos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCNs. Acesse http://portal.mec.gov.br/seb/arq
uivos/pdf/livro01.pdf
DICASFigura 16: SumárioFonte: SOARES, 2002. Sumário
64
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
3. Os objetos de ensino são dispostos de acordo com as necessida-
des do texto/gênero, como propõem os PCN e o PNLD, ou adotam a
sequência clássica dos manuais de gramática tradicional?
4. Há articulação entre as atividades sobre os conhecimentos
linguísticos e os outros eixos de ensino?
Com quais? Que tipo de articulação?
5. Qual a metodologia de ensino
adotada: transmissão, uso situado,
vivência ou construção?
6. Qual o procedimento exigido
pelas atividades? Há nomenclatu-
ras/definições sobre o que está sendo
abordado com o intuito de definir
categorias e conceitos pertinentes apenas
ao sistema linguístico e não voltados para
o uso? Isto é, há privilégio da metalingua-
gem? Ou há o privilégio de aspectos
metodológico-cognitivos como: observa-
ção e reflexão, para eventuais atividades
de identificação e classificação, ou seja,
das atividades epilinguísticas?
7. Qual a abordagem teórica para o tratamento dado aos conheci-
mentos linguísticos: tradicional, funcional ou enunciativa?
Ao longo das atividades didáticas que compõem o livro, a coleção
apresenta direções aos professores, bem como no Manual do Professor
(MP), dividido em duas partes. Na primeira parte, encontramos os “Funda-
mentos da Coleção”, que apresenta a fundamentação teórica que pauta a
produção do material, seguida de bibliografia. A coleção afirma que, apesar
de se organizar de forma seriada, preocupou-se em manter uma unidade
teórico-metodológica que cria “condições para que o aluno desenvolva e
aperfeiçoe, de forma progressiva, contínua e integrada, o uso da língua, ao
longo de todo o ensino fundamental, seja ele organizado em séries, ciclos ou
períodos de aprendizagem” (SOARES, 2002, p. 03).
O letramento é definido por Soares (2002, p. 04), como “uso
competente da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua
escrita, conjugando-as adequadamente com as práticas sociais de interação
oral”. Tornar o sujeito letrado deve ser o intento e o embasamento do ensino
de Língua Portuguesa, estabelece-se a concepção de língua como um
método de interação entre os sujeitos para a composição dos discursos.
Ao ponderar sobre o texto como unidade de ensino, a coleção
expõe seu princípio organizador, que é o de agrupar textos, de diferentes
tipos e gêneros, a respeito de um mesmo tema para a elaboração das
unidades didáticas (são quatro em cada volume, de modo que o professor
possa trabalhar uma por bimestre).
Figura 17: SumárioFonte: SOARES, 2002. Sumário
65
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
As “áreas e atividades
de aprendizagem”, as subdivi-
sões didáticas que fazem parte
da coleção são apresentadas na
segunda parte do MP. São elas:
“leitura” (preparação para a
leitura, leitura oral, leitura
silenciosa, interpretação oral,
interpretação escrita, sugestões
de leitura), “produção de
texto”, “linguagem oral”,
“língua oral – língua escrita”,
“vocabulário” e “reflexão sobre
a língua.”.
A ordem e a ocorrên-
cia das subdivisões não são
fixas: o que as delibera são as
aptidões linguísticas que se
espera ampliar a partir dos textos – em compatibilidade com as orientações
dos PCNs. Os delineamentos sobre os conhecimentos linguísticos, nos quais
se insere a gramática, são designadamente alocados na seção “reflexão
sobre a língua”, mas também os encontramos em outras seções. Por exem-
plo, encontramos o estudo dos conhecimentos linguísticos nas seções
pautadas nas atividades de leitura, como: “interpretação”, “vocabulário”,
“linguagem oral”, “língua oral – língua escrita” e, especificamente, “reflexão
sobre a língua”. Isso implica que a reflexão sobre o uso permeia todas as
atividades didáticas.
De acordo com o MP, os conhecimentos linguísticos estão implica-
dos no desenvolvimento de três tópicos: “as variedades da língua portugue-
sa, determinadas por fatores geográficos, socioeconômicos, de sexo, de
idade; os fatores responsáveis pela textualidade e pelo discurso; o sistema
linguístico, sua morfologia e sintaxe” (SOARES, 2002, p. 26). E que nos leva a
perceber que são os mesmos tópicos recomendados pelos PCNs, embora a
coleção não faça alusão alguma aos referenciais.
Analisando o volume do 5ª ano, podemos averiguar que a coleção
apresenta o trabalho com os conhecimentos linguísticos em articulação com
os demais eixos. O encadeamento com as atividades de leitura sobreleva, já
que a maior parte das atividades didáticas segue-se à leitura de um texto
pertinente ao tema específico da unidade. Isso implica que os objetos de
ensino são abordados segundo as necessidades do texto/gênero em questão,
em concordância com as propostas dos PCN e da avaliação do PNLD.
Muitos dos exercícios relacionados aos conhecimentos linguísticos
tomam um aspecto linguístico apresentado como relevante em determinado
texto e estendem para análise e sistematização do que é a generalidade do
Figura 18Fonte: SOARES, 2002.
66
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
objeto linguístico que está sendo trabalhado. Sendo assim, podemos dizer
que a abordagem predominante é a teórica funcional. Para exemplificar tal
orientação teórico-metodológica, elegemos a sequência didática do volume
5, que parte da análise da escolha lexical feita pela autora da reportagem
“Quem são eles?”. O tema é a transição da infância para a adolescência.
Após o texto, decorre a análise da palavra “pré-adolescente”, elucidando o
sentido do prefixo “pré-”. Depois pondera sobre a acepção do prefixo “pós-
”, arrematando com atividades gerais, que não se pautam diretamente no
texto propulsor, mas que induzem à conclusão de como alguns prefixos
funcionam na língua.
Essa metodologia de ensino é a construção, que, a partir da
inferência sobre a seleção lexical, encaminha para a análise e produção de
palavras com prefixos, cruzando a leitura do verbete no dicionário. O objeto
de ensino – função dos prefixos, com foco nos prefixos pré- e pós- é mencio-
nado e as possibilidades de produção de efeito de sentido a partir dos
prefixos são testadas pelos alunos.
A metodologia do uso situado incide em grande parte das ativida-
des de produção oral e escrita, que comumente propõem a produção de
textos com temas atinentes aos adolescentes e ao universo escolar e convi-
dam à divulgação dessas produções, além de focalizarem seus aspectos
linguístico-estruturais. A maioria dessas atividades pode ser considerada
como adotando a abordagem teórica enunciativa, pois, além de abordar as
propostas sob o ponto de vista procedimental de planejamento, elaboração,
revisão/avaliação, toma os textos em seus usos sociais, ou seja, ressalva quem
diz o quê, para quem, onde, quando e por quê.
Agora vamos ver uma sequência de atividades da coleção nas quais
os conhecimentos linguísticos associam-se à leitura, à escrita e à oralidade
(SOARES, 2002, volume 5, pp. 191-193), na seção “vocabulário”, tendo
como objeto de ensino as onomatopeias:
67
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Qualificamos os exercícios 1, 2 e 4 como atividade de condução
metalinguística porquanto, mesmo que partam de um texto, centram-se na
demarcação do que é “onomatopeia", tendo a focalização no funcionamen-
to do sistema linguístico fechado. Consideram, por exemplo, a localização
de verbos e substantivos onomatopaicos. Embora a metodologia de ensino
seja a Construção, a condução desses exercícios é metalinguística, visto que
se prioriza a construção de categorias e a sistematização de conhecimentos.
Por outro lado, os exercícios 3, 5 e 6 optam por uma leitura oraliza-
da e pela identificação de sons reentrantes no poema. Priorizam a reflexão, a
observação e a construção de hipóteses sobre a língua em uso, sendo assim,
podemos classificá-los como atividades de condução epilinguística.
Para encerrar a análise, enfatizamos que os objetos de ensino mais
abordados estão voltados para:
·reflexões sobre o léxico e as redes semânticas, ampliando para a
inferência sobre pressupostos e subentendidos; recursos estilísticos para a
construção de poemas (metáforas, comparações, aliteração, metonímia,
rima, ritmo);
� variação linguística;
� elementos coesivos;
� estrutura textual da argumentação;
� elementos da narrativa;
� características das histórias em quadrinhos e do texto descritivo;
� discursos direto e indireto;
� flexão verbal; concordância verbo-nominal;
� diferenças entre notícia e reportagem;
� pontuação;
� prosódia;
� relação entre fala e escrita;
� ortografia, na maioria das vezes partindo do aspecto morfossin-
tático para considerações semânticas; dêiticos;
� gírias; conjunções adversativas.
Portanto, tópicos que não adotam a sequência dos tradicionais
manuais de gramática e quase não se utilizam da nomenclatura peculiar à
GNT. Sendo assim, concluímos que a coleção caracteriza-se como uma obra
que consolida a inovação em relação ao ensino dos conhecimentos linguísti-
co-gramaticais. Não obstante, seu princípio organizador não se converge
68
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
para novas propostas, como a disposição por projetos, tópicos linguísticos ou
tema associado a gênero, pois mantém a tradição dos LDP, organizando-se
por temas.
4.3 POSSIBILIDADES DE ENSINO DE GRAMÁTICA BASEADO NOS PCNS
À primeira vista, os PCNs podem parecer um material idealista e
utópico. Entretanto, o documento reúne resultados e pressupostos teóricos
de pesquisas realizadas no Brasil, desde a década de 1970, abarcando
perspectivas linguísticas das mais variadas, fazendo uso da Sociolinguística à
Análise do Discurso.
No que concerne às ideias a respeito de pedagogia de leitura, desde
Paulo Freire, na década de 1960, abordava-se a indigência de proporcionar
ao aluno tornar-se um atuante do ato de ler, reconhecendo-se também
como um produtor de textos diligente. E no que diz respeito às recomenda-
ções da Linguística Textual e da Análise do Discurso, várias pesquisas são
realizadas e divulgadas, desde a década de 1980.
Destarte, não se pode denegar o valor dos PCNs-LP como material
de orientação, divulgação e incentivo nos estudos da linguagem. O ensino
de língua portuguesa, de acordo com o documento, é decorrente do texto e
apoia-se nas atividades de leitura/escuta – análise linguística – produção
textual. E é justamente a análise linguística, que gera mais dúvidas e incom-
preensão.
A metodologia para o exercício de análise linguística indicada pelos
PCNs é a mesma indicada por Franchi (1988) e Geraldi (1991) para o ensino
de gramática, numa compreensão distinta da tradicional: tomar como ponto
de partida as atividades linguísticas, constituídas no conhecimento intuitivo
que todo falante tem sobre a língua; passar para as atividades epilinguísticas,
que podem ser definidas como uma atitude reflexiva sobre a organização e o
funcionamento da língua e da linguagem, sem o objetivo de fixar conceitos;
e, então, para os exercícios metalinguísticos, a constatação de uma teoria
gramatical.
Em conformidade com Franchi (1988) e Geraldi (1991), os PCNs
asseveram que a referência para o ensino não pode ser a gramática tradicio-
nal, pois a metodologia não deve reproduzir o clássico percurso de defini-
ção, classificação e exercitação, centrado na análise de unidades menores
como fonemas, palavras e frases.
O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica
metodologia de definição, classificação e exercitação, mas
corresponde a uma prática que parte da reflexão produzida
pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia
simples e se aproxima, progressivamente, pela mediação do
professor, do conhecimento gramatical produzido. Isso
implica, muitas vezes, chegar a resultados diferentes
69
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja descrição,
em muitos aspectos, não corresponde aos usos atuais da
linguagem, o que coloca a necessidade de busca de apoio
em outros materiais e fontes. (BRASIL - MEC/SEF, 1998, p.
29).
A partir dessa afirmação, apreendemos que a indicação dos PCNs é
de que a prática didática se sustente nos subsídios dos estudos linguísticos e
amplieexpanda a visão sobre a língua e a linguagem, por meio, especialmen-
te, de uma ação reflexivo-investigativa de professores e alunos. Nessa
acepção os referenciais dissociam da prática de análise linguística da
gramática tradicional, já que, tomando o texto como unidade de ensino, não
só os aspectos fono-ortográficos e morfossintáticos serão considerados, mas
também os aspectos semânticos, pragmáticos, textuais e discursivos que o
texto de tal gênero discursivo/textual apresenta.
As sugestões de atividades que se seguem tratam de elementos da
grade curricular do ensino fundamental e médio, a partir de textos.
Corroborando, assim, para a ideia de que é possível elaborar atividades com
base nos princípios dos PCNs, através de leitura/escrita, produção e análise
linguística, com a finalidade de levar o aluno a refletir sobre a língua.
4.3.1 Prática de aplicação no ensino fundamental
Para abordar análise linguísti-
ca, gêneros do discurso e desenvolvi-
mento da competência discursiva, os
professores Tanara Zingano Kuhn e
Valdir do Nascimento Flores (2008), no
artigo Enunciação e ensino: a prática
de análise lingüística na sala de aula,
trazem sugestões de como efetivar, na
prática, as opções teóricas assumidas
pelo PCNs. A atividade que se segue é
livremente transcrita das sugestões feita
por eles.
1º) Mostre para o grupo uma
revista Cláudia. Pergunte se eles a
conhecem, se já leram algum exemplar.
Faça circular alguns exemplares e peça
que os alunos os folheiem.
Discuta oralmente:
� Para que público a revista está voltada?
Leia o artigo inteiro em http://caioba.pucrs.br/fass/ojs/index.php/fale/article/viewFile/28
73/2169
DICAS
Figura 19: Capa da revistaFonte: marcatto.com.br/web/upload/fotos
70
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Figura 20: Fernanda YoungFonte: estadao.com.br/estado de hoje20071128/img2.10.imagemfemandayoung.jpq
2º) Mostre uma foto de
Fernanda Young, acima, e diga que
ela é colunista da revista Cláudia.
Discuta oralmente:
� Sobre o que você acha
que ela escreve?
3º) Distribua a primeira
parte do texto (abaixo), proposital-
mente, sem o título. Leia, em
conjunto, as perguntas que devem
ser respondidas a partir da leitura:
� Que texto você acha
que é esse? Uma crônica, um
conto, uma receita?
� Quais são os elementos do texto que fazem você chegar a essa
conclusão?
� Quem escreveu o texto?
� O que esta pessoa faz? Se você não a conhece, o que acha que
ela faz?
� Quais são os elementos do texto que fazem você chegar a essa
conclusão?
� Para quem é o texto?
� Quais são os elementos do texto que fazem você chegar a essa
conclusão?
� Qual é o tipo de relação que há entre quem escreveu e o
destinatário?
� Como você pode perceber isto?
� O que você poderia escrever nas lacunas para completar o
texto? Por quê?
Peça que procedam com a leitura individual e silenciosa do excerto
a fim de responder às questões. Use o quadro para anotar as respostas da
turma.
Ontem, mais uma vez, esperei horas e você não veio. Hoje,
passei a manhã inteira irritada por causa disso. Aí, você me chega depois
do almoço, sem a menor explicação, como se isso fosse normal. Eu cheia
de coisas para fazer e você querendo me levar para tomar um café. Está
querendo acabar comigo, é isso?
Uma amiga minha me abriu os olhos: nós dois estamos vivendo
uma relação doentia. Eu estou me sujeitando aos seus horários e você
está desrespeitando os limites. Não é porque eu vou para a cama com
você que eu deixei de chefiar o órgão onde você exerce a sua função.
71
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Você tem faltado muito e estou cansada disso. Quando não
falta, demora para chegar e vem disperso, agitado, não ajudando em
nada. Eu preciso de você tranqüilo, cumprindo seu dever, todos os dias,
oito horas por dia, igual a todo mundo. Ou não posso garantir o bom
funcionamento da nossa unidade.
__________, sinceramente, qualquer probleminha que surge,
você some. Tudo serve de desculpa para você não aparecer: uma conta
para pagar, uma viagem de negócios, um caso de doença na família. Por
mais que eu não queira te prejudicar, não posso agüentar um
___________ assim, tão inconstante.
[...]
Atenciosamente, Fernanda
http://brunarangel Wordpress.com/category/fernanda-young/
4°) Distribua a parte final do texto. Peça que os alunos respondam às
seguintes questões, sobre o texto inteiro:
� Como ela descreve o destinatário?
� Quais são seus aspectos positivos e negativos?
� O que a narradora diz sobre sua vida em relação às irregularida-
des de seu destinatário?
Use o quadro para anotar as respostas.
.............................................................
A partir desta noite, não quero mais nenhuma irregularidade
sua. Não estou exigindo que você seja perfeito, mas, na próxima vez que
eu tiver de remediar alguma ausência de sua parte, vou tomar medidas
extremamente fortes. E não me importam as reações. Desejo uma
convivência leve e sadia entre nós, mas prefiro ter você sempre pesado
do que sofrer as conseqüências da atual situação.
Não posso entender por que você mudou tanto. Lembro das
agradáveis noites que passamos juntos – você eventualmente profundo,
muitas vezes superficial, mas sempre presente em minha vida. Mesmo
durante o dia, você dava um jeito de estar ao meu lado quando eu ficava
deprimida, de cuidar de mim quando eu ficava com febre, de aliviar
meu stress quando eu trabalhava demais.
Agora, quase nunca posso contar com você. Você só aparece
quando bem quer e quando eu menos preciso: num cinema, numa
festa, num restaurante.
Sua presença, antes tão gratificante, ultimamente só serve para
me atrapalhar. Você jamais consegue estar comigo nas horas importan-
72
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
tes, tem sempre algo complicado impedindo-o de chegar; mas sei de
outras mulheres que dormem com você sem a menor dificuldade. Liguei
para uma colega minha, noite dessas, para reclamar de mais uma das
suas fugidas, e ela teve o desplante de dizer que não podia falar comigo
porque estava na cama com você.
Enfim, estou com olheiras, e é por sua culpa. Mas sei que
necessito dos seus serviços, então lhe dou este ultimato. Ou você toma
jeito e volta a me deixar em paz ou você afunda junto comigo.
Atenciosamente, Fernanda
http://brunarangel.wordpress.com/category/fernanda-young/
5°) Acima das respostas, na parte superior do quadro, escreva o
título do texto: Ao sono.
Discuta oralmente:
� O texto continua fazendo sentido? Por quê?
4.3.2Prática de aplicação no ensino médio
Para ilustrar a aplicação no ensino médio do tópico análise
fonológica, morfológica, sintática e semântica, veja o proposto a partir do
poema “Caso Pluvioso”, de Carlos Drummond de Andrade, (Atividade
livremente baseada em aula elaborada pelos professores do Nobel Sistema
de Ensino – Maringá/PR).
Ao iniciar a atividade, antes de propor a leitura do texto, é interes-
sante aventar hipóteses sobre qual o tema do poema. Então proponha
algumas questões:
1. Quais os possíveis sentidos para a palavra caso e para a palavra
pluvioso?
2. A junção das duas palavras pode pressupor o quê?
3. É possível, na sua realidade, apreender nesse título um contexto,
uma história?
Esse levantamento corresponde à teoria de esquemas elaborada
por Tagliaber & Pereira (1997), já que é necessário acionar o conhecimento
de mundo, o qual é partilhado durante o arrolamento das hipóteses. Nesse
momento inicial, pondera-se sobre os fatores pragmáticos do jogo comuni-
cativo, como contexto de situação, interação e interlocução, características
e crenças do produtor e recebedor do texto, entre outros. Desta forma, nessa
pré-leitura, evidencia-se a situacionalidade, um dos fatores pragmáticos
que, segundo Koch e Travaglia (2000) faz com que um texto seja relevante
para dada situação de comunicação. Destarte, favorece-se a ponte entre
texto – conhecimento de mundo.
Vale um comentário geral: a atividade proposta acima parte da formulação/explicitação de uma ambigüidade. É por isso que o título, fornecido somente no fim da atividade, é inicialmente omitido. A grande indagação diz respeito ao interlocutor constituído, quando o título do texto é suprimido. É essa estratégia que impele o leitor a uma leitura mais atenta, como forma de fundamentar os sentidos por ele atribuídos.
DICAS
73
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
É nesse momento, também, que ocorre outro fator pragmático: a
informatividade, que, de acordo com Koch e Travaglia (2000) leva em
consideração o modo como a informação é esperada/não-esperada,
previsível/imprevisível. Na pré-leitura, o que vai mediar o nível de informati-
vidade são as hipóteses arroladas, pois está sujeito ao conhecimento prévio
dos alunos, o qual poderá ser expandido ao ser partilhado em grupo.
É importante que, nessa fase, as hipóteses levantadas pelos alunos
sejam listadas, para que se verifique, na medida em que a leitura progride, se
serão confirmadas ou não.
Faça então a leitura do texto de forma colaborativa com os alunos,
para depois confrontar as hipóteses levantadas por eles com o tema proposto
no poema, por meio, a princípio, de uma discussão oral, e, em seguida, de
um trabalho com perguntas e respostas.
CASO PLUVIOSO
(Carlos Drummond de Andrade)
1. A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
2. A chuva era maria. E cada pingo de
maria ensopava o meu Domingo.
3. E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
4. Eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!
5. Ela chovia em mim, em cada
gesto, pensamento, desejo sono, e o resto.
6. Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa... Nossa!
7. Não me chovas, maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas o susto.
8. Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!
9. Eu lhe dizia – em vão – pois que maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.
10. E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,
11. que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.
12. Chuvadeira maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!
13. Eu lhe gritava: Pára! E ela, chovendo,
74
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
poças d´água gelada ia tecendo.
14. Choveu tanto maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa
15. e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.
16. E quanto mais ondas me levavam,
as fontes de maria mais chuvavam,
17. De sorte que com pouco, e sem recurso
as coisas se lançaram no seu curso,
18. e era o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.
19. Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando
20. contra essa chuva, estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).
21. Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d´água mais deliram,
22. e maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.
23. Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,
24. E maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,
25. E a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,
26. E Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, maria! – e ela parou.
(ANDRADE, 1979)
Acesse a internet e ouça o poema de Carlos Drummond de Andrade na voz de Paulo Autran:
http://www.youtube.com/watch?v=fPPKb8oShqc
DICAS
TRABALHANDO O TEXTO
1. Ao ler o poema minuciosamente, percebemos que há a repre-
sentação de uma história, nomeada no título de “Caso Pluvioso”.
Principiemos, assim, com a identificação das “personagens”. Quem são
eles?
2. O sujeito do poema valoriza, ao longo do texto, o trabalho com
uma palavra. Identifique-a, e perceba: como ele a explora em sua forma,
sonoridade e sentido? Justifique e comprove o seu entendimento.
3. Existe alguma intencionalidade no uso dessa palavra? Se houver,
ela está relacionada ao título do texto? Justifique e comprove sua argumenta-
ção.
75
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
4. No poema Caso Pluvioso, percebemos que há maior uso de
adjetivos. Analise a seguinte estrofe:
“Chuvadeira maria, chuvadonha, chuvinhenta, chuvil, pluvimedo-
nha!”
Tendo o conhecimento de que existem termos caracterizados e
outros caracterizadores, identifique-os nesses versos, além de justificar e
comprovar o sentido e a função que eles mantêm entre si e qual a contribui-
ção de seu uso para o entendimento do texto.
5. Ao longo do poema, constatamos que o sujeito caracteriza
“maria” usando também processos de formação de palavras. Nesses
processos, há a “criação” de termos diferentes, não encontrados corrente-
mente nos dicionários? Se houver, selecione alguns para a exemplificação e
esclareça qual o efeito de construção de sentido obtém-se por meio dessa
descrição de “maria” .
6. Observe o uso do substantivo maria, que se refere ao persona-
gem provavelmente causador do conflito do sujeito no poema. Se prestar-
mos atenção, perceberemos que ele é grafado com a letra minúscula em
todos os versos em que aparece. Qual será a intencionalidade ao utilizar-se
essa marcação diferenciada do substantivo? Justifique e comprove a sua
resposta.
7. Como falamos anteriormente, o poema de Drummond apresen-
ta uma estrutura narrativa, pois fica clara a existência de uma complicação
na história de vida do sujeito. Conjecturando* sobre a idéia central do texto
e considerando o aspecto semântico das palavras, construa uma crônica
com o mesmo tema e fazendo uso de substantivos concretos e abstratos,
bem como acontece nos versos, de modo que essa escolha contribua para o
desenvolvimento do conflito.
Através desse tipo de atividade, notamos a possibilidade de
fundamentar o estudo do texto nos mecanismos intra- e interdiscursivos de
constituição do sentido, partindo do uso de uma gramática reflexiva. E é de
fundamental importância a tarefa do professor que, dentre outras, deve
buscar o desenvolvimento das habilidades dos alunos para a leitura e
produção de textos por meio de estratégias consideradas por muitos como
inconscientes, mas que na realidade são adquiridas, tornando explícitos
mecanismos conhecidos implicitamente.
Travaglia (1996, p. 142), afirma que um notável trabalho com a
gramática reflexiva "é aquele que propõe atividades as quais focalizam
essencialmente os efeitos de sentido que os elementos lingüísticos podem
produzir na interlocução, a fim de desenvolver nos alunos a capacidade de
compreensão e expressão." O autor considera, ainda, que a gramática
reflexiva, “preocupa-se mais com a forma de atuar usando a língua do que
com uma classificação dos elementos lingüísticos e o ensino de nomenclatu-
ra que consubstancia essa classificação”. TRAVAGLIA (1996, p. 142).
Conjecturar
1 afirmar (algo) por conjectura; fazer conjectura(s)
Exs.: você conjecturou essas conclusões?
pode ser que não resolva, mas ninguém os proíbe de
conjecturar. transitivo direto
2 considerar (algo) como provável, com base em
indícios; supor, presumir, deduzir
Ex.: conjecturou que o aumento deverá sair no mês
que vem. transitivo direto e transitivo
indireto
3 ver antes; observar com antecedência; prever, antever,
pressagiarExs.: conjecturou a derrota do
seu candidato.
Conjecturando: considerando
HOUAISS (2009)
C
FE
A
B GGLOSSÁRIO
76
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Portanto, é de extrema importância que o professor tenha conheci-
mento de uma teoria do discurso e do texto que estruturem o ensino de
gramática.
REFERÊNCIAS
APARÍCIO, A. S. M.. A produção da inovação em aulas de gramática do
ensino fundamental II da escola pública estadual paulista. Tese de
doutorado apresentada ao Departamento de Linguística Aplicada.
IEL/UNICAMP, 2006.
BRASIL (2009). Guia de livros didáticos: PNLD 2010: Letramento e
Alfabetização/Língua Portuguesa. – Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2009.
BRASIL (1999). Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio.
Brasília: MEC/SEM, 1999.
BRASIL/MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: 1998.
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. Campinas, SP. ASSOEST/UNICAMP,
1998.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São
Paulo: Contexto, 2000.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o
ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. 5.ed. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1997.
FRANCHI, C. Criatividade e gramática. Fonte do texto: São Paulo: Secretaria
da Educação/ Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP,
1988. In: C. FRANCHI, E. V. NEGRÃO & A. L. Muller. Mas o que é mesmo a
gramática? São Paulo: Parábola Editorial, 2006, pp. 34-101.
GERALDI, J. W. Construção de um novo modo de ensinar/aprender a língua
portuguesa. In: J. W. GERALDI. Linguagem e ensino: exercícios de militân-
cia e divulgação. Campinas/SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do
Brasil, 1996, pp. 65-77.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. DICIONÁRIO HOUAISS DE
LÍNGUA PORTUGUESA. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
77
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
KUHN, Tanara Zingano & FLORES, Valdir do Nascimento. Enunciação e
ensino: a prática de análise lingüística na sala de aula. Letras de Hoje, Porto
Alegre, v. 43, n. 1, p. 69-76, jan./mar. 2008. Disponível em:
http://caioba.pucrs.br/fass/ojs/index.php/fale/article/viewFile/2873/2169
(Acesso em 05. fev. 2010).
SOARES, Magda. Português: uma proposta para o letramento. São Paulo:
Moderna, 2002.
TAGLIABER, L.K.; OEREIRA, C.M. Atividades de pré-leitura. Gragoatá, v.
92, p. 73 92, 1997.
RESUMO
79
A seguir apresentamos o resumo de toda a discussão tecida neste
caderno didático para ajudá-los a sistematizar o conhecimento aqui
proposto.
Na Unidade I vocês foram abordados alguns tipos de ensino de
gramática: ensino prescritivo; ensino produtivo; ensino descritivo. Foi
abordado também o que é preconceito linguístico e ilustrados alguns tipos
de preconceito linguístico. Da mesma forma foi abordado o que é variação
linguística alguns tipos de variação tais como: variação histórica; variação
geográfica; variação social; variação estilística.
Seguiu-se um explanação sobre o conceito de certo e errado versus
adequado e inadequado, questões relativas à realidade do ensino no Brasil.
Procurou-se responder para que se ensina, o que se ensina e o
como se ensina gramática em escolas brasileiras, qual é o tipo de ensino de
gramática predominante no Brasil e, finalmente, qual é a visão de professo-
res sobre o ensino de gramática, a partir do estudo de Neves (1990).
Na Unidade II, abordamos o ensino de gramática de modo direto
ao apresentar alguns tipos de gramática e finalidades do ensino. Ainda,
apresentamos algumas questões relativas ao ensino de gramática no Brasil.
Como tipos de gramática, temos:
2.1 ENSINO PRESCRITIVO
2.2 ENSINO PRODUTIVO
2.3 ENSINO DESCRITIVO
A respeito da finalidade de ensino de língua portuguesa para
falantes de língua materna aprendemos que o ensino de gramática (regras)
não é o objetivo primeiro das aulas de Português e sim é consequência do
desenvolvimento das habilidiades comunicativas. Sendo assim, o professor
não pode dispensar a compreensão de língua da sociolinguística variacionis-
ta.
No item 2.4 A REALIDADE DO ENSINO DE GRAMÁTICA NO
BRASIL aprendemos que o papel da escola, do professor é complexo e que
as mudanças de uma prática de ensino de português produtiva significativa,
depende não mais de teorias que deem o suporte teórico, didático-
metodológico e sim de mudanças entre os sujeitos do contexto escolar e da
sociedade.
Na Unidade III abordamos a importância do planejamento e
apresentamos uma discussão em torno dos documentos oficiais que balizam
80
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
o planejamento da disciplina Língua Portuguesa. E para tanto estruturamos
esta unidade nas seguintes subunidades:
3.1 IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO
Aqui, falamos da importância do planejamento que é inerente ao
ser humano, pois todos, em seu dia-a-dia, têm algum plano. E, em se
tratando do processo de ensino e aprendizagem, o planejamento é algo
muito sério que deve ser elaborado com qualidade e intencionalidade.
Logo, pensar em qualidade pressupõe que você pense em inteirar-se do que
é importante, necessário, significativo, prazeroso etc., para o nível dos
alunos.
Ainda vocês estudam doze princípios para guiar o professor no
planejamento de atividades de ensino. Nesta perspectiva, uma atividade
didática é preferível à outra se:
a) permite que o aluno tome decisões razoáveis sobre como
desenvolvê-la e veja as consequências de sua escolha;
b) atribui ao aluno papel ativo em sua realização;
c) exige do aluno uma pesquisa de ideias, processos intelectua-
is, acontecimentos ou fenômenos de ordem pessoal ou social e o
estimula a se envolver nela;
d) obriga o aluno a interagir com sua realidade;
e) pode ser realizada por alunos de diversos níveis de capacida-
de e interesses diferentes;
f) obriga o aluno a examinar, em um novo contexto, uma ideia,
um conceito, lei etc., que já conhece;
g) obriga o aluno a examinar ideias ou acontecimentos normal-
mente aceitos sem questionamento pela sociedade;
h) coloca o aluno e o educador em uma posição de êxito,
fracasso ou crítica;
i) obriga o aluno a reconsiderar e rever seus esforços iniciais;
j) obriga a aplicar e dominar regras significativas, normas ou
disciplinas;
k) oferece ao aluno a possibilidade de planejá-la com outros,
participar do seu desenvolvimento e comparar os resultados obtidos;
l) for relevante para os propósitos e interesses explícitos dos
alunos.
Na subunidade 3.2 O ENSINO DA GRAMÁTICA E OS
DOCUMENTOS OFICIAIS temos uma referência à lei maior que o regula, a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº. 9.394/96. Vocês
viram que o ensino proposto pela LDB está em função do objetivo amplo da
educação que é propiciar a formação básica para a cidadania, a partir da
criação, na escola, de condições de aprendizagem para o que propõe no art.
32.
81
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Logo, a organização curricular e a abordagem dos conteúdos
devem ocorrer primeiramente no sentido de conferir ao aluno a efetivação
dos objetivos da educação democrática.
3.2.1 O planejamento da disciplina língua portuguesa
Neste momento da discussão, aprendemos que, para subsidiar o
Planejamento das aulas de Língua Portuguesa, o SIMAVE oferece uma Matriz
de Referência composta por um conjunto de descritores que explicitam dois
pontos básicos do que se pretende avaliar:
1. o conteúdo programático a ser avaliado em cada período de
escolarização e
2. o nível de operação mental necessário para a realização de
determinadas tarefas.
Os descritores são selecionados para compor a matriz, consideran-
do-se aquilo que pode ser avaliado por meio de um teste de múltipla
escolha, cujos itens implicam a seleção de uma resposta em um conjunto
dado de respostas possíveis. De posse dos resultados da avaliação, cada
escola volta aos descritores para o novo planejamento. E ainda, vocês viram,
na íntegra, as matrizes de referência do ensino fundamental e do ensino
médio.
Também, aprenderam que o Programa de Avaliação da
Aprendizagem Escolar (PAAE) baseia-se, também, nos Conteúdos Básicos
Comuns – CBC - documento curricular elaborado a partir da releitura dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Sendo assim, o CBC de Língua
Portuguesa – CBC/LP, para os anos finais do ensino fundamental e para o
ensino médio, norteia o planejamento dessa disciplina.
3.2.2 Diretrizes para o ensino de língua portuguesa
Nesta subunidade vimos que, em consonância com os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), que consideram o ensino de Língua
Portuguesa preparatório para a vida, qualificando o aluno para o aprendiza-
do permanente e para o exercício da cidadania, o CBC/LP considera a
linguagem como uma atividade interativa em que nos constituímos enquan-
to sujeitos sociais. Logo, as considerações referentes ao currículo, programas
e às práticas do ensino de Língua Portuguesa levam-nos a concluir que as
ações de ensino de gramática não podem ocorrer de forma desvinculada
dessas intenções. Há que se considerar também:
� Que a língua é uma atividade viva.
� Que ela se modifica pela ação dos falantes nos processos de
interlocução.
� É, pois, por “natureza, heterogênea, variada, “sensível” ao
contexto de uso e à ação dos usuários”.
� Que a comunicação se dá, não por meio de frases ou estruturas
isoladas, mas por meio de discursos e de suas manifestações, os textos.
82
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Então, concluímos que:
1. Só se justifica o estudo da língua por meio de textos orais e
escritos. Nessa perspectiva, a reflexão sobre os processos de textualização
deve ser o objeto de estudo central da disciplina, o que segundo o CBC/LP
(2007 pag. 14), “[...] exige novos níveis de análise e novos procedimentos
metodológicos - a começar pelo reconhecimento de que estudar língua é
mais que analisar a gramática da forma ou o significado de palavras”.
2. Não se justifica o ensino de língua privilegiando o estudo da
forma em detrimento do sentido e da função sociocomunicativa. Segundo o
CBC/LP (2007 PÁG.14):
3. O texto deve ser, portanto, o assunto “expresso por determinada
forma, em determinada circunstância”. Afirma o CBC/LP (2007 pág. 15)
que:
3.2.3 O planejamento da disciplina língua portuguesa.
Nesta subunidade, propomos uma familiarização com as compe-
tências, os conteúdos e a metodologia de atividades referentes ao ensino de
Língua Portuguesa. Para tanto, consultamos o CBC/LP quando sugere que as
situações de ensino da Língua Portuguesa devem ser planejadas de modo a
levar o aluno a rever o conceito de gramática, considerando as várias
significações desse termo. De acordo com esse documento, há que se
considerar também que: a Língua Portuguesa não é uma só: existem
diferentes práticas discursivas orais e escritas, variedades diversas de língua
(dialetos e registros), cada qual com sua gramática e com suas situações de
uso.
Assim, o professor deve ter clareza do que pretende ensinar e do
nível de dificuldade da tarefa proposta. Para tal ele precisa participar dos
planejamentos grupais, realizados normalmente no início dos períodos
letivos e, ainda, planejar individualmente, selecionando recursos e se
organizando para a sala de aula.
Enfim, vocês puderam ver que documentos oficiais de parametriza-
ção do ensino de Língua Portuguesa são norteadores da ação de planejar que
deve ser executada por todo professor que queira ter sucesso em sua
atividade profissional.
UNIDADE IV
Nesta unidade vocês estudaram os princípios teóricos e metodoló-
gicos do Guia do Livro Didático de Língua Portuguesa e os reflexos das
diretrizes teórico-metodológicas para a abordagem gramatical, recomenda-
das por documentos oficiais concernentes ao ensino de Língua Portuguesa,
em propostas didático-pedagógicas de coleções de LDP.
Analisaram também os reflexos das diretrizes teórico-
metodológicas para a abordagem gramatical, recomendadas por documen-
tos oficiais concernentes ao ensino de Língua Portuguesa, em propostas
didático-pedagógicas de coleções de LDP e viram algumas discussões sobre
a análise e escolha do livro mais adequado para o ensino de Português.
83
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
Na subunidade 4.1.1 O Guia e o Livro Didático de Língua
Portuguesa inteiraram-se dos princípios teóricos e metodológicos do Guia
do Livro Didático de Língua Portuguesa disponibilizado pelo Ministério da
Educação por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE).
Ainda nesta unidade procuramos responder de que maneira o
ensino de gramática é proposto nos livros didáticos de Português (LDP)
atuais, elaborados após a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) e mediante os resultados das
avaliações do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e do Programa
de Avaliação da Aprendizagem Escolar – PAAE.
Por fim, vocês compreenderam que o principal interlocutor do
Guia de livros didáticos – Língua Portuguesa é o professor dessa disciplina, já
que ele norteia a seleção de materiais a serem utilizados por um triênio. E,
para balizar o trabalho do professor, o Guia elucida os critérios de avaliação
das coleções:
·Critérios eliminatórios
·Critérios classificatórios
No que concerne ao tratamento metodológico, o Guia (BRASIL,
2009) destaca quatro convergências recorrentes:
1 - Vivência (V)
2 - Transmissão (T)
3. Uso situado (US)
4. Construção/reflexão (CR)
4.2 Especificidades do Livro Didático de Português – LDP
Nesse tópico, vocês averiguaram que a maneira como as diretrizes
teórico-metodológicas para a abordagem gramatical, recomendadas por
documentos oficiais concernentes ao ensino de Língua Portuguesa refletem
nas propostas didático-pedagógicas de duas coleções de LDP. Viram que no
presente momento têm se avivado as políticas públicas de avaliação e
distribuição de materiais didáticos, alocadas em uma conjuntura mais
ampla, que propende a melhorar a formação dos alunos nas diversas práticas
e situações de letramento. Para contextualizar essa questão, analisamos uma
coleção de LDP: Ensino Fundamental e fizemos algumas propostas de
trabalho com o ensino de Língua Portuguesa.
4.3 Possibilidades de ensino de gramática baseado nos PCNs
Neste momento, ressaltamos a importância dos PCNs porque este
documento reúne resultados e pressupostos teóricos de pesquisas realizadas
no Brasil, desde a década de 1970, abarcando perspectivas linguísticas das
mais variadas, fazendo uso da sociolinguística à Análise do Discurso. Logo,
perceberam que não se pode denegar o valor dos PCNs-LP como material
de orientação, divulgação e incentivo nos estudos da linguagem.
84
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
Vimos que o ensino de língua portuguesa, de acordo com o PCN, é
decorrente do texto e apoia-se nas atividades de leitura/escrita – análise
linguística – produção textual. E vale salientar que a metodologia para o
exercício de análise linguística indicada pelos PCNs é a mesma discutida nas
Unidades I e II. Ou seja, o ensino de gramática deve se dar numa compreen-
são distinta da tradicional: tomar como ponto de partida as atividades
linguísticas, constituídas no conhecimento intuitivo que todo falante tem
sobre a língua; passar para as atividades epilinguísticas, que podem ser
definidas como uma atitude reflexiva sobre a organização e o funcionamen-
to da língua e da linguagem, sem o objetivo de fixar conceitos; e, então, para
os exercícios metalinguísticos, a constatação de uma teoria gramatical.
Por fim, em diálogo com as unidades anteriores, as subunidades no
item 4.3.1 abordamos a Prática de aplicação no ensino fundamental que
aborda a análise linguística, gêneros do discurso e desenvolvimento da
competência discursiva. Aqui vocês têm sugestões de como efetivar, na
prática, as opções teóricas assumidas pelos PCNs.
Já no item 4. 3. 2, a Prática de aplicação no ensino médio para
ilustrar a aplicação no ensino fundamental e médio do tópico análise
fonológica, morfológica, sintática e semântica.
Esperamos ter oferecido subsídios para o alcance dos objetivos
propostos com a disciplina.
Desejamos um bom proveito. Afinal, o conhecimento não tem
sentido se não for para ser partilhado, formulado e reformulado.
REFERÊNCIAS
85
BÁSICAS
APARÍCIO, A. S. M.. A produção da inovação em aulas de gramática do
ensino fundamental II da escola pública estadual paulista. Tese de
doutorado apresentada ao Departamento de Linguística Aplicada.
IEL/UNICAMP, 2006.
BRASIL (1999). Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio.
Brasília: MEC/SEM, 1999.
BRASIL (2009). Guia de livros didáticos: PNLD 2010: Letramento e
Alfabetização/Língua Portuguesa. – Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Básica, 2009.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDBEN. Lei nº 9394/96. Brasília, 1996.
BRASIL/MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: 1998.
FREIRE, Madalena. (Org.). Avaliação e planejamento: a prática educativa
em questão. Instrumentos metodológicos II São Paulo: Espaço Pedagógico,
1997.
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. Campinas, SP. ASSOEST/UNICAMP,
1998.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São
Paulo: Contexto, 2000.
MENDONÇA, Márcia. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar,
um outro objeto. In: BUNZEN, Clecio; MENDONÇA, Márcia (orgs.).
Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo, 2006.
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Como planejar? currículo, área e aula. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
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89
ATIVIDADES DEAPRENDIZAGEM
- AA
1) O que a linguística propôs para o ensino de língua materna a partir dos
anos 80?
2) Qual o papel da escola no ensino de gramática?
3) De acordo com Travaglia (1996), deve-se ou não ensinar, na escola, a
gramática da língua materna? E qual o tipo de ensino de língua materna mais
adequado, segundo este autor?
4) Qual é a proposta de ensino de Possenti (1996)? Ainda, para este autor,
qual a diferença entre ensinar “língua” e ensinar “gramática”?
90
Letras/Português Caderno Didático - 4º Período
5) Qual é a realidade do ensino de gramática nas escolas, de acordo com os
dados da pesquisa de Neves (1990)?
6) Analise cada um dos princípios enumerados por Zabala. Reflita sobre a
importância e a pertinência de se considerar cada um deles no momento do
planejamento. Escreva aqui suas principais conclusões a respeito do valor e
da importância desses princípios no momento do planejamento das aulas de
Língua Portuguesa.
7) Leia novamente o item 3.2 O ensino da gramática e os documentos
oficiais, reflita e responda por que os resultados das avaliações sistêmicas
(SIMAVE/PAAE) devem fundamentar o planejamento educacional, do
ensino e as intervenções pedagógicas?
8) Comente a afirmativa: “A atribuição da escola é proporcionar a expansão
das capacidades de uso da língua, estimulando o desenvolvimento das
habilidades de se comunicar em diferentes gêneros de discursos, sobretudo
naqueles do domínio público que exigem o uso do registro formal e da
norma padrão. Considera-se que o domínio das variedades cultas é funda-
mental ao exercício crítico frente aos discursos da ciência, da política, da
religião”, etc.
91
Ensino da Gramática na Escola UAB/Unimontes
9) Considere que a língua é uma atividade viva que se modifica pela ação
dos falantes nos processos de interlocução, é por “natureza, heterogênea,
variada, “sensível” ao contexto de uso e à ação dos usuários” e a comunica-
ção se dá, não por meio de frases ou estruturas isoladas, mas por meio de
discursos e de suas manifestações, os textos. COMENTE essas considerações
respondendo: Como a gramática deve ser ensinada? Que implicações
devem ser consideradas em seu ensino? O que compete ao professor? Em
caso de dúvidas, consulte em seu caderno, o item: Diretrizes para o Ensino
de Gramática.
10) Segundo os PCNs,
“O modo de ensinar (...) não reproduz a clássica metodologia de definição,
classificação e exercitação, mas corresponde a uma prática que parte da
reflexão produzida pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia
simples e se aproxima, progressivamente, pela mediação do professor, do
conhecimento gramatical produzido.” (BRASIL - MEC/SEF, 1998, p. 29).
Com base na citação e na Unidade IV do caderno didático, responda: Qual é
a metodologia para o exercício de análise linguística indicada pelos PCNs, e
que é a mesma indicada por Franchi (1988) e Geraldi (1991) para o ensino
de gramática?