Emoções Sufocadas, Imagem Desfocada

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Emoções sufocadas, imagem desfocada: a expressão visível das emoções Marieze Torres (CRH-FFCH/UFBA) O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas? Ainda não existem evidências científicas que forneçam uma resposta conclusiva a essa questão!

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Emoções sufocadas, imagem desfocada: a expressão visível das emoções

Marieze Torres (CRH-FFCH/UFBA)

O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas?

Ainda não existem evidências científicas que forneçam uma resposta conclusiva a essa questão!

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Supondo-se que exista uma correspondência entre as emoções experimentadas por uma pessoa e a sua expressão facial, não seria suficiente olhar para ela para que o seu estado ou disposição interior nos fosse fácil e prontamente relevado?

Na falta de evidências conclusivas, duas respostas são dadas a questão:

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A primeira, está baseada na teoria de Darwin (“A Origem das Espécies” (1859) e “A Expressão das Emoções nos Homens e nos Animais” e em estudos da face desenvolvidos posteriormente por Ekman e outros pesquisadores.

O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas?

Respostas:

Sustenta que as emoções independem do querer do indivíduo ou da sociedade ou da cultura porque faz parte da própria constituição genética da espécie humana e têm um para ela valor de sobrevivência.

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A segunda, baseada em James, Dewey, Goffman e em experimentos realizados por Schachter and Singer (1962), nega a concepção de Darwin e dos neo-darwinianos como Ekman.

O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas?

Respostas:

Sustenta que as emoções, e, conseqüentemente, sua expressão, são culturalmente variáveis, dependem da interpretação da pessoa e estão sujeitas aos seu controle.

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EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES CHARLES DARWIN

1. As emoções humanas são inatas e universais, e em muitos casos semelhantes às de outros animais;

2. As emoções são expressas por gestos visíveis (faciais e corporais);

3. Na período pré-histórico as emoções funcionavam como sinais expressivos de aviso de ataque iminente (para a própria espécie, seus inimigos e suas presas), e como estímulos fisiológicos preparatórios para a ação subseqüente;

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4. Estes gestos sobreviventes do passado como “hábitos úteis associados” transformam-se em “ações falhas”;

5. Isto é, embora a ação seja inibida, por não ser mais necessária no novo contexto, o organismo continua automaticamente a se preparar para a ação e os gestos expressivos correspondentes continuem fazendo-se notar na aparência;

Os gestos não verbais e a expressão facial são considerados ainda hoje como indicativos de estados emocionais mesmo que não estejam mais associados à ação.

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EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES CHARLES DARWIN

Inserindo sua pergunta na problemática mais ampla da evolução das espécies, defende que os principais atos de expressão seriam vestígio de um tempo distante em que teriam tido uma função na sobrevivência propriamente dita. Formula três princípios para explicar as causas ou origem de expressões emocionais, como a da raiva,

da tristeza, da alegria, da surpresa, do nojo, da vergonha. Pelo princípio dos hábitos associados úteis explica que ações, de início voluntárias e executadas com uma finalidade precisa, tornaram-se, pela repetição ao longo das gerações, habituais e hereditárias. Assim, a origem da tosse e do espirro poderia estar no hábito de expelir, das vias aéreas, partículas irritantes e a expressão de nojo poderia ter se originado no ato de cuspir algo perigoso ou venenoso. A repetição desses atos por seguidas gerações teria levado a associar a expressão facial ao estado afetivo concomitante, de modo que em outras situações em que uma associação ou sensação semelhante se verificasse o movimento expressivo tenderia a se produzir.

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Paul Ekman – 1973

Compartilha da tese de Darwin sobre a universalidade de certas expressões faciais;

Busca  provar a existência de expressões faciais universais para as seis emoções básicas: alegria, tristeza, raiva, nojo, surpresa e medo;

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Paul Ekman – 1973

Seus experimentos buscam perceber duas questões:

a) o modo como as emoções se exteriorizam em expressões faciais - os sujeitos são postos em situações potencialmente desencadeadoras de emoções, previamente definidas pelo pesquisador, e se verifica as suas expressões faciais;

b) o reconhecimento de expressões emocionais - os sujeitos são confrontados com expressões faciais específicas (em fotografias, filmes,etc.) e lhes é solicitado que identifiquem as emoções expressas.

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Paul Ekman

Ekman & Friesen (1978) identificam os movimento faciais feitos por cada sujeito (de um total de 5000 adultos) ao expressar uma emoção básica específica (alegria, tristeza, raiva, nojo, surpresa, medo).

Morfologia das Emoções

Estabelecido os músculos, isolados ou em combinação, que são envolvidos em cada uma dessas emoções básicas desenvolvem um sistema de codificação das expressões o FACS - Facial Action Coding System (atualmente usado pelo FBI, outras agências do governo dos EUA e profissionais de diversas áreas).

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Paul EkmanMorfologia das Emoções

Ekman desenvolve, além desse o F.A.C.E (Facial Expression .Awareness. Compassion Emotions.) – programa voltado para o reconhecimento dos sinais da emoção no rosto a partir da leitura das micro-expresões.

A série Lie to me basei-se na pesquisa das micro-expressões de Ekman http://www.youtube.com/watch?v=TVUFErBTVi4

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Não!

O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas?

As Emoções são Social e Culturalmente Construídas!

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A Construção das Emoções

Emoções e expressões variam de uma sociedade para outra e dentro de uma mesma sociedade!

Por que????

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A Construção das Emoções

1. As formas de sentir, a expressão, e a “leitura” da fisionomia e gestual do outro, não são automáticas,

mas dependentes da introspecção e interpretação;

2. Cada sociedade provê “regras de sentimento” que definem a conveniência ou não de sentir e de expressar emoções e socializa os seus membros em conformidade com elas;

Pressupostos:

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A Construção das Emoções

4. Sendo emocionalmente socializados os indivíduos aprendem a agir conforme as regras e os vocabulários prescritos por sua sociedade ou grupo.

3. Além de regras, as sociedades também provêm “vocabulários de sentimentos” que definem e regulam os termos adequados à expressão das emoções.

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Emoções Socializadas

• a identificar se as emoções que sente estão em conformidade com as prescrições que definem o que é “adequado” à situação de interação (se é um funeral, uma festa, etc.);

• a avaliar o comportamento do outro e a reconhecer se ele se porta “adequadamente”

Isso significa que os indivíduos aprendem:

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Emoções Socializadas

• a perceber se convém expressar suas emoções naquela situação específica;

E, o mais importante!

O indivíduo aprende que precisa gerenciar as emoções que sente e que expressa

publicamente!

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Gerenciamento das Emoções

Desconhecer as prescrições sociais de sentimento e de expressão das emoções representa um alto custo pessoal!

Imprime sobre o indivíduo a marca do estigma, e cobre de vergonha e embaraço tanto ele quanto os demais participantes da interação.

E para evitar pagar esse preço o indivíduo age sobre si mesmo!

E o faz obrigado, porque:

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O Trabalho de emoções

1. “atuação de superfície”

2. “atuação profunda”

O trabalho ou a administração de emoções envolve estratégias para tentar reduzir as dissonâncias ou incongruências entre uma emoção que efetivamente se sente e aquela que se “deve” sentir, que se deseja sentir, ou que se quer tentar sentir.

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A “atuação de superfície”

Administração direta das expressões que denunciam o estado interno em desacordo com a definição da situação de interação (suspiro, bocejo, tremor e tonalidade da voz, suor, palidez, gesticulação excessiva, postura, etc.);

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A “atuação de superfície”

Mas também da apresentação de uma imagem melhorada de si mesmo

Envolve preservar-se da vergonha, do embaraço, e do estigma, por uma representação consciente e deliberada, mas apenas aparente, dos sentimentos “adequados”. (Goffman,1961; 1976);

Trata-se da representação de um personagem que se pretende ser convincente para si e para a platéia;

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O “esforço” empreendido nessa atuação não se reduz as iniciativas de controlar ou “eliminar” uma emoção presente ou de manipular a sua expressão externa; diz respeito as tentativas do indivíduo para redefinir os seus sentimentos e emoções de forma profunda, deliberada e consciente

A “atuação profunda”

O trabalho e administração de emoções envolve a capacidade dos indivíduos, tanto de redefinirem ou de modularem a intensidade ou a qualidade dos seus sentimentos, quanto de suprimir ou evocar emoções. (HOCHSCHILD, 1979)

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A “atuação profunda”

• “trabalho corporal” - evitar os sintomas e sensações físicos que expressam a emoção indesejada ( evitar tremer, respirar lenta e profundamente);

O “Esforço” Envolvido na Atuação Profunda Diz Respeito a:

• “trabalho de cognição” - mudar os pensamentos, as representações e as idéias que lembram e reforçam o sentimento que se quer suprimir ou que se quer diminuir a intensidade;

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A “atuação profunda”

O “Esforço” Envolvido na Atuação Profunda Diz Respeito a:

• “trabalho de expressão” - mudar os componentes expressivos da emoção indesejada através da simulação dos sinais externos da emoção que se pretende induzir (por exemplo, procurar sorrir, para mudar o sentimento interno, que é, no caso, de tristeza).

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A “atuação profunda”

O trabalho de emoções entra em cena quando há uma incongruência entre os um ou mais dos três elementos da interação:

1.A situação vivenciada;

2.a moldura convencional à qual a situação está associada;

3.o sentimento demonstrado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Voltemos agora a nossa questão inicial : O que se expressa na face corresponde as emoções experimentadas?

1. as emoções são produto de um conjunto de mobilizações orgânicas padronizadas, claramente distinguidas por neuro-trasmissores produzidos no sistema nervoso; Daí, ser a sua expressão perceptível observando-se as sensações corporais/viscerais (batimento cardíaco ou pulso acelerado, por exemplo) e faciais (pela contração/distensão dos músculos estriados); (TURNER, 2003)

Vimos que existe duas resposta a essa questão:

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tal concepção apresenta três problemas:

• deixa o indivíduo à mercê das suas emoções

• ela ignora a influência da cultura na definição e modulação das emoções;

Reduz o social a condição de um estímulo externo (ao indivíduo) que atua apenas como mobilizador de disposições ou capacidades emocionais inatas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar disso, cremos que os indivíduos das sociedades atuais, ocidentais, sobretudo que desfrutam de posições de poder, empreendem um enorme esforço ou trabalho para adequar as emoções às situações. E fazem de tudo para disfarçá-las quando inadequadas.

• E pela atribuição destacada da cognição no controle, supressão ou evocação das emoções.

A segunda posição peca pela ênfase excessiva na construção social das emoções, em detrimento dos seus componentes fisiológicos e psicológicos;

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

•Sem o referendo do contexto social e situacional de uma interação, sem a interpretação do sujeito as expressões são destituídas de significado!

•Acreditamos que identificar a expressão emocional apenas pela mobilização de um ou mais músculos pouco nos diz;

Não é à toa que na nossa literatura recente livros como “O Poder do Pensamento Positivo”, “Inteligência Emocional” e “O Segredo” viraram best sellers.