Emanuel Swedenborg - O Céu e o Inferno

download Emanuel Swedenborg - O Céu e o Inferno

of 297

description

asasas

Transcript of Emanuel Swedenborg - O Céu e o Inferno

  • O CuE As Suas Maravilhas

    e o InfernoSegundo O Que Foi Ouvido E Visto

    PorEmanuel Swedenborg

    Traduzido do original latim peloProf. Levindo Castro de La Fayette

    Em 1920

    Segunda Edio

    Sociedade Religiosa A Nova JerusalmRua das Graas, 45 Bairro de Ftima

    20.240-030 Rio de Janeiro, RJ1987

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 2 de 297

    Prefcio1. O Senhor, falando, na presena de Seus discpulos, sobre a

    consumao do sculo, que o ltimo tempo da Igreja, diz, no fim das predies que se referem aos estados sucessivos dela quanto ao amor e f: Logo depois da aflio daqueles dias, o sol escurecer, e a lua no dar a sua luz, e as estrelas cairo do cu, e as potncias do cu sero abaladas. Ento aparecer o sinal do Filho do homem no cu, e todas as tribos da terra choraro e vero o Filho do homem, que vir sobre as nuvens do cu com poder e grande glria. E enviar os Seus anjos com trombetas e grande voz, e ajuntaro os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma a outra extremidade dos cus (Mateus 24:29 a 31). Aqueles que entendem essas palavras segundo o sentido da letra crem simplesmente que todas essas coisas devem ocorrer como esto descritas naquele sentido, no ltimo tempo que chamado Juzo Final, isto , que no apenas o sol e a lua escurecero e as estrelas cairo do cu, mas que o sinal do Senhor aparecer no cu e Ele Prprio ser visto nas nuvens, acompanhado de anjos com trombetas. Ainda, de acordo com aquelas previses, todo o universo visvel haver de perecer e, depois disso, haver de surgir um novo cu e uma nova terra. Desta opinio a maioria das pessoas da atual Igreja (Primeira Igreja Crist). Mas os que tm essa crena no conhecem os arcanos que se escondem em cada uma das particularidades da Palavra. Com efeito, nas particularidades da Palavra est o sentido interno, no qual so compreendidas no as coisas naturais e do mundo, que so tratadas no sentido da letra, mas as coisas espirituais e celestes. Isto se d no s com a significao geral de muitas expresses, mas tambm com cada uma dessas expresses. Pois a Palavra escrita inteiramente por correspondncias, para que em cada uma de suas particularidades esteja o sentido interno. Qual vem a ser esse sentido o que se pode depreender de tudo o que, sobre o assunto, dito e mostrado no livro ARCANOS CELESTES e, ainda, nas citaes que, ali, aparecem reunidas na explicao contida no opsculo SOBRE O CAVALO BRANCO, de que se fala no Apocalipse. segundo esse sentido que tero de ser entendidas as coisas de que fala o Senhor, nas palavras acima citadas, sobre Sua vinda nas nuvens do cu. Assim, pelo sol que deve ficar escurecido significado o Senhor quanto ao amor. Pela lua significado o Senhor quanto f. As estrelas significam os conhecimentos do bem e da verdade ou do amor e da f. O sinal do Filho do

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 3 de 297

    homem no cu significa a manifestao da verdade Divina. Pelas tribos da terra que choraro significado tudo o que pertence verdade e ao bem, ou f e ao amor. A vinda do Senhor nas nuvens do cu com poder e grande glria significa Sua presena na Palavra e a revelao. Por glria significado o sentido interno da Palavra. Os anjos com trombeta e grande voz significam o cu, que a fonte da Divina verdade. Por causa da significao dessas palavras do Senhor, deve-se entender que, no fim daquela Igreja, quando no mais houver o amor e a f, o Senhor abrir o sentido interno da Palavra e revelar os arcanos do cu. Os arcanos revelados no que se segue referem-se ao cu e ao inferno e tambm vida do homem depois da morte. O homem da Igreja atual dificilmente conhece alguma coisa sobre o cu e o inferno ou sobre a sua vida depois da morte e, entretanto, essas coisas so mencionadas na Palavra. E h ainda mais: muitos dos que nasceram nas comunidades da Igreja as negam, dizendo em seus coraes Quem veio de l e nos contou? Assim, para que tal esprito negativo, que, especialmente, impera entre os que sabem muitas coisas mundanas, no infecte e corrompa os simples de corao e de f, foi-me dado estar com os anjos e conversar com eles como um homem conversa com outro homem, e tambm ver o que est nos cus e o que est nos infernos, e isso durante treze anos. E foi-me dado descrever, agora, o que vi e ouvi, esperando desse modo esclarecer a ignorncia e dissipar a incredulidade. Se hoje concedida uma tal revelao imediata porque ela o que entendido pelo Advento do Senhor.

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 4 de 297

    i. O Senhor o Deus do cu

    2. A primeira coisa que se deve saber quem o Deus do cu, porque tudo o mais disso depende. Em todo o cu no se reconhece outro Deus seno o Senhor, s, e l se diz como Ele Prprio ensinou: Que Ele um com o Pai, que o Pai est n'Ele e Ele no Pai, que quem O v tambm v o Pai e que tudo que santo procede d'Ele (Joo 10:30 e 38; 14:9 a 11; 16:13 a 15). Falei com os anjos muitas vezes sobre esse assunto e eles se manifestaram firmemente, dizendo que no cu no podiam distinguir o Divino em trs, porque sabem e percebem que o Divino Um e que este Um est no Senhor. Disseram, ainda, que os da igreja que vm do mundo e tm a idia de trs seres Divinos no podem ser admitidos no cu, pois que o pensamento deles vagueia de um Ser Divino a outro, e l no permitido pensar trs e dizer um, porque cada um no cu fala pelo pensamento, pois a linguagem l o produto imediato do pensamento, ou o pensamento que fala. Assim, os que, no mundo, distinguiram o Divino em trs e aceitaram uma idia diferente de cada um, e no fizeram e concentraram uma idia una no Senhor, no podem ser recebidos no cu, pois l h a comunicao de todos os pensamentos; portanto, se para o cu viesse algum que pensasse em trs e falasse um, seria logo conhecido e rejeitado. Deve-se saber, porm, que todos os que no separaram a verdade do bem ou a f do amor, quando so instrudos na outra vida, recebem e aceitam a idia celeste do Senhor de que Ele o Deus do universo. Na verdade, de outro modo ocorre com os que separaram a f da vida, isto , com os que no viveram os preceitos de uma verdadeira f.

    3. Aqueles que na igreja negaram o Senhor e reconheceram s o Pai, e se confirmaram nessa f, esto fora do cu. E, como no podem receber influxo algum do cu, onde s o Senhor adorado, eles perdem gradualmente a capacidade de pensar a verdade sobre qualquer assunto e finalmente se tornam como se fossem mudos, perdem o poder de falar, ou falam estupidamente. Eles caminham sem rumo e seus braos balanam e apresentam vibraes, porque carecem de fora nas juntas. Aqueles que, como os socinianos, negaram o Divino do Senhor e reconheceram somente o Seu Humano, semelhantemente esto fora do cu. Eles so levados para uma caverna um pouco direita e precipitam-se na profundidade; so, assim, separados inteiramente dos demais

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 5 de 297

    que vm do mundo cristo. Finalmente, aqueles que diziam crer em um Divino invisvel, que eles chamam Ente do universo, pelo qual tudo existe, e rejeitam toda a f no Senhor, esses so notoriamente descrentes, porque no acreditam em nenhum Deus, uma vez que o Divino invisvel, para eles, pertence natureza nos seus primrdios, no que no incide f nem amor, porque no pode ser um objeto do pensamento; eles so relegados entre os que so chamados naturalistas. No sucede o mesmo com os que nascem fora da igreja, os quais se chamam gentios; destes se tratar depois.

    4. Todas as crianas, que constituem a tera parte do cu, so iniciadas no conhecimento e na f que o Senhor seu Pai e, alm disso, que Ele o Senhor de todos, assim o Deus do cu e da terra. Em pginas posteriores, ver-se- que as crianas crescem no cu e se aperfeioam por meio dos conhecimentos, at alcanarem a inteligncia e a sabedoria anglicas.

    5. Aqueles que so da igreja no podem duvidar que o Senhor o Deus do cu. Ele Prprio ensinou que todas as coisas do Pai so d'Ele (Mateus 11:27; Joo 16:15 e 17:12) e que Ele tem todo o poder no cu e na terra (Mateus 28:18). Ele diz no cu e na terra, porque Aquele que governa o cu governa tambm a terra, pois um depende do outro. Governar o cu e a terra significa receber do Senhor todo o bem que pertence ao amor e toda a verdade que pertence f, assim receber toda a inteligncia e sabedoria e, desse modo, toda a felicidade; em resumo, a vida eterna. Isto o Senhor ensinou, dizendo: Aquele que cr no Filho tem a vida eterna; quem, todavia, no cr no Filho no ver a vida (Joo 3:36). E mais: Eu sou a ressurreio e a vida; quem cr em Mim ainda que morra viver, e qualquer que vive e cr em Mim no morrer na eternidade (Joo 11:25 e 26). E ainda: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Joo 14:6).

    6. Havia certos espritos que, enquanto viviam no mundo, professavam crer no Pai, mas a respeito do Senhor eles tinham tido a mesma idia como de qualquer outro homem e, por isso, no creram que Ele fosse o Deus do cu. Por isso, lhes foi permitido que andassem por toda a parte e perguntassem onde quisessem se havia outro cu alm do cu do Senhor. Procuraram por muitos dias, mas em nenhuma parte encontraram outro. Tais espritos so os que pem a felicidade na glria e no domnio. E, como foram incapazes de alcanar o que eles desejavam, quando lhes foi dito que o cu no consiste em tais coisas, eles se indignaram e desejaram um cu onde pudessem dominar os outros e

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 6 de 297

    pudessem ser eminentes em glria como no mundo.

    ii. o Divino do Senhor que faz o cu

    7. Os anjos, considerados em conjunto, chamam-se cu. Mas o que faz o cu em geral e em particular o Divino procedente do Senhor, que influi nos anjos e recebido por eles. O Divino procedente do Senhor o bem do amor e a verdade da f; os anjos so anjos e so o cu na proporo em que eles recebem os bens e as verdades do Senhor.

    8. Cada um nos cus sabe e cr, e at percebe, que nada quer e faz de bem por si mesmo, e que nada pensa e cr de verdade por si mesmo, mas somente pelo Divino e, portanto, pelo Senhor; e tambm que o bem e a verdade que procedem deles prprios no so bem e verdade, porque estes no tm em si vida alguma do Divino. Os anjos do cu ntimo tambm percebem claramente e sentem o influxo, e quanto mais o recebem mais lhes parece estarem no cu, porque mais esto no amor e na f e na luz da inteligncia e da sabedoria, portanto, no gozo celeste. [Isto] porque todas as coisas procedem do Divino do Senhor e nelas consiste o cu dos anjos, pois evidente que o Divino do Senhor Quem faz o cu e no os anjos ou qualquer coisa que pertena a seu prprio. Da que o cu, na Palavra, se chama habitao do Senhor e Seu Trono, e aos que esto l se diz que eles esto no Senhor. De que modo o Divino procede do Senhor e enche o cu o que se dir depois.

    9. Os anjos progridem sempre em sua sabedoria. Dizem eles que no somente todo o bem e toda a verdade procedem do Senhor, mas tambm o todo da vida. Eles confirmam isso dizendo que nada pode existir por si, mas de alguma coisa anterior a si. Por isso, todas as coisas procedem de um Primeiro, que eles chamam o Ser Mesmo da vida de todas as coisas. E igualmente, todas as coisas continuam a existir, porque subsistir existir perpetuamente, e tudo o que no estiver em nexo contnuo com o Primeiro perece imediatamente e inteiramente dissipado. Eles dizem tambm que h unicamente uma Fonte de Vida e que a vida do homem um rio dela derivado, que, se no continuar a subsistir de sua fonte, imediatamente desaparecer. Do mesmo modo, eles dizem que dessa nica Fonte de Vida, que o Senhor, s procedem o Divino Bem e a

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 7 de 297

    Divina Verdade, e que cada um afetado por estes, de acordo com a recepo deles. Os que os recebem na f e na vida acham o cu neles, enquanto aqueles que os rejeitam ou os sufocam mudam-nos em inferno, porque convertem o bem em mal e a verdade em falsidade e, assim, a vida em morte. Ainda mais, eles dizem que o todo da vida procede do Senhor e o confirmam do seguinte modo: que todas as coisas do universo se referem ao bem e verdade - a vida da vontade do homem, que a vida de seu amor, ao bem, e a vida de seu entendimento, que a vida de sua f, verdade. E, se todo o bem e toda a verdade procedem de cima, segue-se que tudo da vida deve vir de cima. E como tal a crena dos anjos, por isso eles recusam todos os agradecimentos pelo bem que fazem, e se indignam e se retiram se algum lhes atribui o bem. Eles se admiram de que haja algum que possa crer que sbio por si mesmo ou possa fazer o bem por si mesmo. [Quando algum julga] fazer o bem por causa de si, no chamam a isso bem, porque feito por amor de si; mas fazer o bem por causa do bem do a isso o nome de bem do Divino. E eles dizem que este bem que faz o cu, porque este bem o Senhor.

    10. Os espritos que, durante a sua vida no mundo, se confirmaram na crena de que o bem que fazem ou a verdade em que crem procedem de si prprios ou lhes so apropriados como sendo deles - crena em que esto todos os que atribuem a seu mrito as boas aes e a justia que praticam - no so recebidos no cu. Os anjos se afastam deles e os consideram estpidos e ladres: estpidos porque eles continuamente tm em vista sua pessoa e no o Divino, e ladres porque furtam ao Senhor o que Lhe pertence. Eles so contrrios crena existente no cu de que o Divino do Senhor nos anjos que faz o cu.

    11. O Senhor ensina que aqueles que esto no cu e na igreja esto no Senhor e o Senhor est neles, quando Ele diz: Permanecei em Mim e Eu em vs; assim como a vara no pode dar fruto por si mesma, a no ser que permanea na videira, assim nem vs o podeis dar se no permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vs as varas. Quem permanece em Mim e Eu nele, este d muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer (Joo 15: 4 e 5).

    12. Da se v, agora, que o Senhor habita nos anjos do cu naquilo que Seu, e assim o Senhor o todo em todas as coisas do cu. E isso porque o bem oriundo do Senhor o Senhor nos anjos, porque aquilo que dimana do Senhor o Senhor; por conseguinte, o bem procedente do Senhor para os anjos seu cu, e no coisa alguma do prprio deles.

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 8 de 297

    iii. No cu, o Divino do Senhor o amor a Ele e a caridade para com o prximo

    13. O Divino procedente do Senhor chama-se, no cu, a Divina Verdade; a razo disso ser apresentada a seguir. Esta Divina Verdade flui do Senhor no cu da parte de Seu Divino Amor. O Divino e, por conseguinte, a Divina Verdade esto em relao entre si como o fogo do sol e a luz dele no mundo; o amor como o fogo do sol e a verdade como a luz do sol. Da, pela correspondncia, o fogo significa o amor e a luz a verdade procedente do amor. Da, se pode ver qual a Divina Verdade procedente do Divino Amor do Senhor, e que , em sua essncia, o Divino Bem conjunto Divina Verdade; e, porque ele foi conjunto, ele vivifica todas as coisas do cu, como o calor do sol unido luz, no mundo, como se d nas estaes da primavera e do vero; no sucede o mesmo quando o calor no foi unido luz, assim quando a luz fria: tudo ento entorpece e se extingue. Esse Divino Bem, que foi comparado ao calor, o bem do amor nos anjos; e a Divina Verdade, que foi comparada luz, a verdade pela qual e da qual h o bem do amor.

    14. No cu, o Divino que o constitui o amor, porque o amor a conjuno espiritual. Ele conjunge os anjos ao Senhor e os conjunge mutuamente entre si; e os conjunge de tal modo que eles todos so como um em presena do Senhor. Alm disso, o amor para cada um o ser mesmo da vida, porque pelo amor que o anjo tem vida e que tambm o homem tem vida. Que do amor venha o vital ntimo do homem o que percebe quem refletir, porque pela presena do amor o homem se aquece, por sua ausncia ele se esfria, e por sua privao ele morre. Mas cumpre saber que, para cada um, a vida tal qual a qualidade de seu amor.

    15. H no cu dois amores distintos: o amor para com o Senhor e o amor para com o prximo. No cu ntimo, ou terceiro cu, o amor para com o Senhor, e no cu mdio ou segundo cu, o amor pelo prximo; um e outro procedem do Senhor e um e outro fazem o cu. De que modo esses dois amores se distinguem, e de que modo eles se conjungem, o que se v com grande

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 9 de 297

    evidncia no cu, mas somente de um modo obscuro no mundo. No cu, por amar o Senhor entende-se no O amar quanto pessoa, mas amar o bem que procede d'Ele, e amar o bem querer e fazer o bem por amor. E por amar o prximo entende-se no amar seu semelhante quanto pessoa, mas amar a verdade que procede da Palavra, e amar a verdade querer e fazer o que verdadeiro. Da evidente que esses dois amores se distinguem como o bem e a verdade. Mas isso entra dificilmente na idia do homem que no sabe o que o amor, o que o bem e o que o prximo.

    16. Algumas vezes conversei sobre esse assunto com os anjos. Eles disseram que se admiram de que os homens da igreja no saibam que amar ao Senhor e amar ao prximo amar o bem e amar a verdade e, pelo querer, fazer um e outro; quando, entretanto, eles podem saber que cada um testemunha seu amor a um outro querendo e fazendo o que Ele quer, e que, assim, por sua vez, se amado e conjunto a ele, e no pelo fato de am-lo sem, contudo, fazer a sua vontade, o que em si no amar. E que, alm disso, eles podem saber que o bem que procede do Senhor a semelhana do Senhor, pois que Ele Mesmo est nesse bem; e que os que fazem que o bem e a verdade pertenam sua vida, pelo querer e o fazer, tornam-se semelhanas do Senhor e so conjuntos a Ele. Querer tambm gostar de fazer. Que isso seja assim o que o Senhor ensina tambm na Palavra, quando diz: Quem tem os Meus preceitos e os cumpre, este Me ama. e Eu o amarei. e nele farei morada (Joo 14:21 e 23). E em outra passagem: Se cumprirdes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor (Joo 15:10).

    17. Que o Divino Procedente do Senhor, que afeta os anjos e faz o cu, seja o amor, o que prova toda experincia no cu. Com efeito, todos os que esto no cu so formas do amor e da caridade. Eles aparecem em uma beleza inexprimvel, e o amor se mostra com brilho em sua face, em sua linguagem, em cada particularidade de sua vida. Alm disso, h esferas espirituais de vida que procedem de cada anjo e de cada esprito e se propagam ao redor deles. Por elas se conhece, s vezes, a uma grande distncia, quais eles so quanto s afeies que pertencem ao amor, porque essas esferas efluem da vida da afeio e da vida do pensamento, ou da vida do amor e, portanto, da vida da f de cada um deles. As esferas que dimanam dos anjos esto to cheias de amor que eles afetam os ntimos da vida daqueles em quem eles esto; eu prprio as percebi algumas vezes, e elas me afetaram desse modo. Que seja do amor que os anjos derivam sua vida ainda o que para mim foi evidente em virtude do fato de que, na outra

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 10 de 297

    vida, cada um se volta segundo seu amor. Os que esto no amor para com o Senhor e no amor ao prximo voltam-se constantemente para o Senhor; ao contrrio, os que esto no amor de si voltam-se constantemente para o lado oposto ao Senhor. Isso se efetua seja qual for o sentido em que eles virem seu corpo, porque, na outra vida, os espaos esto em relao com os estados dos interiores dos habitantes. D-se o mesmo com as plagas [pontos cardeais], que l no foram, como no mundo, invariavelmente fixas, mas so determinadas segundo o aspecto da face dos habitantes. Contudo, no so os anjos que se voltam para o Senhor, mas o Senhor que volta para Ele aqueles cujo amor consiste em fazer o que vem d'Ele. Sobre este assunto, pormenores mais amplos sero dados quando se tratar das plagas [pontos cardeais] na outra vida.

    18. O Divino do Senhor no cu o amor, porque o amor o receptculo de tudo no cu, que paz, inteligncia, sabedoria e felicidade. O amor recebe todas e cada das coisas que lhe convm. Ele as deseja, procura, emprega como por vontade sua, pois quer continuamente se fartar e se aperfeioar por elas. Isto tambm conhecido pelo homem, pois o amor, nele, examina e retira de sua memria todas as coisas para concordncia, rene-as e as dispe em si e sob si; em si para que sejam suas e sob si para que possam servi-lo. As outras coisas, entretanto, que no concordam, ele rejeita e extermina. No amor reside toda a faculdade de receber as verdades que lhe so convenientes e conjungi-las a si. Isto se tornou patente a mim pelo que vi claramente nos que foram elevados ao cu, naqueles que, ainda que simples no mundo, alcanaram a sabedoria anglica e as felicidades do cu quando se acharam entre os anjos. O motivo por que foi assim porque amaram o bem e a verdade e implantaram essas coisas na sua vida, e por esse modo tornaram-se capazes de receber o cu com tudo de inexprimvel que ele tem. Os que, entretanto, esto no amor de si e do mundo, estes no so capazes de receber o bem e a verdade; eles os repelem, rejeitam e, ao primeiro contato e influxo, escapolem e se associam no inferno com os que tm amores semelhantes aos seus. Havia espritos que duvidavam que tais coisas existissem no amor celeste e desejavam saber se assim era. Por isso, foram postos no estado do amor celeste, tendo, ento, sido afastado, nesse intervalo, tudo o que constitusse obstculo para tal. Foram tais espritos levados a uma certa distncia, frente, onde est o cu anglico e dali falaram comigo, dizendo que percebiam uma felicidade interior que no podiam exprimir por palavras, sofrendo muito por terem de voltar ao seu antigo estado. Outros, tambm, foram elevados ao cu, e quanto mais foram elevados interiormente ou para

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 11 de 297

    cima, mais eles entraram na inteligncia e na sabedoria, a fim de que pudessem entender as coisas que antes lhes eram incompreensveis. Da evidente que o amor procedente do Senhor o receptculo do cu e de tudo que est no cu.

    19. Que o amor ao Senhor e o amor ao prximo compreendam em si todas as verdades Divinas, pode-se ver pelas palavras que o prprio Senhor proferiu sobre esses dois amores, dizendo: Amars. teu Deus de todo o teu corao e de toda a tua alma. Este o grande e primeiro mandamento. O segundo, que lhe semelhante, : amars o teu prximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mateus 22:37 a 40). A Lei e os Profetas so toda a Palavra, assim, toda a verdade Divina.

    iv. O cu dividido em dois reinos

    20. Como no cu h variedades infinitas e l no h uma s sociedade que seja perfeitamente semelhante a uma outra, nem mesmo um s anjo igual a um outro anjo, por isso o cu distinto no comum, na espcie e na parte. No comum, em dois reinos; na espcie, em trs cus; e na parte, em inmeras sociedades. De cada uma dessas distines tratar-se- em particular daqui por diante. So ditos reinos porque o cu chamado o reino de Deus.

    21. H anjos que recebem mais interiormente o Divino procedente do Senhor e outros que o recebem menos interiormente. Os que o recebem mais interiormente chamam-se anjos celestiais, e os que o recebem menos interiormente so chamados anjos espirituais. Por isso, o cu se divide em dois reinos, dos quais um tem o nome de reino celestial e o outro de reino espiritual.

    22. Os anjos que constituem o reino celestial, recebendo mais interiormente o Divino do Senhor, chamam-se anjos interiores e os cus que eles constituem so chamados cus interiores e cus superiores.

    23. O amor em que esto os [anjos] do reino celestial chama-se amor celeste, e o amor em que esto os do reino espiritual chama-se amor espiritual. O amor celeste o amor para com o Senhor, e o amor espiritual o amor para com o prximo. E, como todo o bem pertence ao amor, porque o que algum ama para ele o bem, por isso que o bem do primeiro reino se chama bem celeste e o bem do segundo reino se chama bem espiritual. Da se v claramente

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 12 de 297

    em que se distinguem esses dois reinos, isto , que eles esto entre si como o bem do amor para com o Senhor e o bem da caridade para com o prximo; e, uma vez que o bem do amor para com o Senhor o bem interior, e esse o amor interior, os anjos celestiais so anjos interiores e so chamados anjos superiores.

    24. O reino celestial tambm chamado reino sacerdotal do Senhor e, na Palavra, Seu habitculo; e o reino espiritual chamado Seu reino rgio e, na Palavra, Seu trono. Segundo o Divino celeste, tambm o Senhor, no mundo, foi chamado Jesus, e segundo o Divino espiritual foi chamado Cristo.

    25. Os anjos no reino celeste do Senhor excedem muito em sabedoria e em glria os anjos que esto no reino espiritual; assim porque eles recebem mais interiormente o Divino do Senhor, pois esto no amor para com Ele e se encontram mais prximos e em maior conjuno com Ele. Esses anjos celestiais so assim porque receberam e recebem as verdades Divinas imediatamente na vida, e no como os espirituais, que as recebem previamente pela memria e pelo pensamento. Por isso, os anjos celestiais tm essas verdades Divinas gravadas em seus coraes, as percebem e como que as vem em si mesmos. Jamais raciocinam a respeito delas sobre se so ou no verdades. Assim so eles descritos em Jeremias: Porei a Minha Lei na mente deles e a inscreverei no corao deles. No ensinaro mais, cada um ao seu amigo e cada um a seu irmo, dizendo: Conhecei JEHOVAH.; conhecero a Mim do menor ao maior deles (31:33 e 34). E so chamados em Isaas os ensinados de JEHOVAH (54:13). Os ensinados de JEHOVAH so os que o Senhor ensina. E isto assim dito pelo prprio Senhor em Joo 6:45 e 46.

    26. Foi dito que os anjos celestiais se avantajam aos outros em sabedoria e em glria, porque eles receberam e recebem as Divinas verdades imediatamente na vida, pois, desde que as ouvem, eles as querem e fazem, sem p-las primeiro em sua memria e sem pensarem depois se so realmente verdades. Os que so tais sabem logo, pelo influxo do Senhor, se verdadeira a verdade que ouvem, porque o Senhor influi imediatamente no querer do homem e, mediatamente pelo querer, em seu pensar. Ou, o que a mesma coisa, o Senhor influi imediatamente no bem e, mediatamente pelo bem, na verdade, porque se chama bem quilo que pertence vontade e, por conseguinte, obra, e se chama verdade quilo que pertence memria e, por conseguinte, ao pensamento. Toda verdade at mudada em bem e implantada no amor desde

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 13 de 297

    que ela primeiramente entra na vontade. Mas, enquanto a verdade estiver na memria e, por conseguinte, no pensamento, ela no se torna um bem, no vive, e no apropriada ao homem, porque o homem homem pela vontade e, por conseguinte, pelo entendimento, e no pelo entendimento separado da vontade.

    27. Como h uma tal diferena entre os anjos do reino celeste e os anjos do reino espiritual, eles no esto juntos nem se apresentam em comunidade. H apenas uma comunicao por sociedades anglicas intermedirias, que so chamadas celestes-espirituais. Por elas, o reino celestial influi no reino espiritual. Da vem que o cu, posto que haja sido dividido em dois reinos, faz entretanto um. O Senhor suscita sempre anjos intermedirios, pelos quais h comunicao e conjuno.

    28. Como se tratar muito, a seguir, dos anjos de um e de outro reino, por esta razo os aspectos especficos aqui so deixados parte.

    V. H trs cus

    29. H trs cus e eles so entre si distintssimos: o ntimo ou terceiro, o mdio ou segundo e o ltimo ou primeiro. Eles esto em seqncia um ao outro, e subsistem entre si, como a parte superior do homem, que se chama cabea, seu meio, que se chama corpo, e o ltimo, que chamado ps, tais como as partes mais alta, mdia e mais baixa de uma casa. Em uma tal ordem se acha tambm o Divino que procede e desce do Senhor. Da, por necessidade de ordem, o cu dividido em trs partes.

    30. Os interiores do homem, que pertencem sua mente e ao seu nimo, tambm esto em uma ordem semelhante. Ele tem um ntimo, um mdio e um ltimo, porque no homem, quando ele foi criado, foram reunidas todas as coisas da ordem Divina, a tal ponto que ele foi a ordem Divina em forma e, por conseguinte, um cu na menor efgie. tambm por isso que o homem se comunica com os cus quanto a seus interiores e tambm porque ele fica entre os anjos depois da morte - entre os anjos do cu ntimo, ou do cu mdio, ou do ltimo cu, segundo a recepo, durante sua vida no mundo, do Divino bem e da Divina verdade que procedem do Senhor.

    31. O Divino que eflui do Senhor e que recebido no terceiro cu ou cu

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 14 de 297

    ntimo chama-se celeste e, por conseguinte, os anjos desse cu chamam-se anjos celestes. O Divino que eflui do Senhor e que recebido no segundo cu ou cu mdio chama-se espiritual e, por conseguinte, os anjos desse cu chamam-se anjos espirituais. O Divino que eflui do Senhor e que recebido no ltimo ou primeiro cu chamado natural. Contudo, o natural desse cu no sendo como o natural do mundo, mas tendo em si o espiritual e o celeste, chamado espiritual-natural e celeste-natural e, por isso, os anjos que o habitam chamam-se espirituais-naturais e celestes-naturais. So chamados espirituais-naturais os que recebem o influxo do mdio ou segundo cu, que o cu espiritual, e so chamados celestes-naturais os que recebem o influxo do cu ntimo ou terceiro cu, que o cu celeste. Os anjos espirituais-naturais e os anjos celestiais-naturais so distintos entre si, mas sempre constituem um mesmo cu, porque esto no mesmo grau.

    32. H em cada cu um interno e um externo. Os anjos que l esto no interno so chamados anjos internos e os que esto no externo so chamados anjos externos. O externo e o interno nos cus, ou em cada cu, so l como o voluntrio e o intelectual do voluntrio no homem, o interno como voluntrio e o externo com intelectual do voluntrio. Todo voluntrio tem seu intelectual, pois um no existe sem o outro. O voluntrio pode ser comparado chama e o intelectual luz que procede da chama.

    33. Cumpre bem saber que os interiores dos anjos fazem com que eles estejam em um cu ou em outro, pois, quanto mais os interiores so abertos para o Senhor, tanto mais eles esto em um cu interior. H trs graus de interiores, tanto em cada anjo como em cada esprito e tambm em cada homem. Aqueles nos quais o terceiro grau foi aberto esto no cu ntimo. Aqueles que tiveram aberto o segundo grau esto no cu mdio, e os que tiveram aberto o primeiro grau esto no ltimo cu. Os interiores so abertos pela recepo do Divino bem e da Divina verdade. Aqueles que so afetados pelas Divinas verdades e as admitem logo na vida, por conseguinte na vontade e, por este fato, no ato, esto no cu ntimo ou terceiro cu, e l esto segundo a recepo do bem pela afeio da verdade. Aqueles que, entretanto, as admitem, no imediatamente na vontade, mas na memria e, portanto, no entendimento, e depois as querem e fazem, esto no cu mdio ou segundo cu. Aqueles que vivem em s moral e crem no Divino, e no se importam tanto em serem instrudos, esto no ltimo ou primeiro cu. Da se pode ver que os estados dos interiores fazem o cu e que o cu est dentro e no fora de cada um. tambm o que o Senhor ensina,

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 15 de 297

    dizendo: No vem o reino de Deus visivelmente, nem diro: Ei-lo aqui ou ei-lo ali, porque o reino de Deus est dentro de vs (Lucas 17:20 e 21).

    34. Toda perfeio tambm cresce para os interiores e decresce para os exteriores, pois os interiores esto mais perto do Divino e so em si mesmos mais puros, e os exteriores so mais afastados do Divino e em si mesmos mais densos. A perfeio anglica consiste na inteligncia, na sabedoria, no amor, em todo bem e, por conseguinte, na felicidade, mas no na felicidade sem essas coisas, porque sem elas a felicidade externa e no interna. Como os interiores dos anjos do cu intimo foram abertos no terceiro grau, a sua perfeio excede em muito perfeio dos anjos do cu mdio, cujos interiores foram abertos no segundo grau. Do mesmo modo, a perfeio dos anjos do cu mdio excede em muito perfeio dos anjos do ltimo cu.

    35. Porque h uma tal diferena, o anjo de um cu no pode vir entre os anjos de um outro cu, isto , o de um cu inferior no pode subir, nem o de um cu superior pode descer. Aquele que sobe de um cu inferior acometido por uma ansiedade que vai at a dor, e no pode ver os que esto no cu superior ao seu, nem, com mais forte razo, conversar com eles. E aquele que desce de um cu superior privado de sua sabedoria, balbucia e chega ao desespero. Alguns habitantes do ltimo cu, no tendo ainda sido instrudos que o cu consiste nos interiores do anjo, acreditavam que chegariam a uma felicidade celeste superior, se entrassem no cu onde esto os anjos que gozam essa felicidade. Foi-lhes ento permitido entrar l, mas, quando l estiveram, eles no viram pessoa alguma, em qualquer lugar que eles procurassem - apesar de haver l uma grande multido de anjos -, porque os interiores desses estranhos no haviam sido abertos no mesmo grau que o dos anjos desse cu nem, por conseguinte, sua vista. Pouco depois, foram acometidos por uma angstia de corao a tal ponto que dificilmente podiam saber se estavam ou no com vida. Por isso, trataram logo de voltar para o cu de onde tinham sado, regozijando-se por se acharem de novo entre os seus, e prometendo nunca mais desejar coisas mais elevadas do que as que concordavam com a sua vida. Vi tambm anjos que desceram de um cu superior e foram privados de sua sabedoria a tal ponto que no sabiam qual era o seu cu. No sucede o mesmo quando o Senhor eleva anjos de um cu inferior a um cu superior, para que eles vejam a Sua glria, o que ocorre freqentes vezes. Para isso, esses anjos so primeiro preparados e, depois, acompanhados por anjos intermedirios, pelos quais h comunicao. Pelo que precede, evidente que esses trs cus so muito distintos entre si.

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 16 de 297

    36. Em um mesmo cu, cada um pode ser consorciado com qualquer um que lhe apraz, mas os prazeres da consociao esto em relao com afinidades do bem em que se est. Este assunto ser desenvolvido nos pargrafos seguintes.

    37. Ainda que os cus sejam de tal modo distintos que os anjos de um cu no possam ter relacionamento com os anjos de um outro, a verdade que o Senhor conjunge todos os cus por influxo imediato e por influxo mediato - pelo influxo imediato que procede d'Ele em todos os cus, e pelo influxo mediato de um cu em um outro cu- e por esse modo faz com que os trs cus sejam um e que todos sejam ligados do primeiro ao ltimo, de modo que nada existe que no seja ligado. O que no ligado por intermedirios com um Primeiro no subsiste, mas dissipado e se torna nulo.

    38. Quem no sabe de que modo os graus esto relacionados com a ordem Divina no pode compreender como os cus so distintos, nem mesmo o que seja o homem interno e o homem externo. No mundo, a maior parte dos homens no tem noo dos interiores e dos exteriores, ou dos superiores e dos inferiores, mas somente do que contnuo ou coerente por continuidade, desde o mais puro at o mais espesso. Entretanto, os interiores e os exteriores esto entre si em uma relao no contnua, mas discreta. Os graus so de dois gneros: h graus contnuos e h graus no contnuos. Os graus contnuos so como os graus do decrscimo da luz, desde a chama at a escurido, ou como os graus de decrscimo da vista, que da luz passam para a sombra, ou como os graus de pureza da atmosfera, desde sua profundidade at a sua parte mais elevada. As distncias determinaram esse grau. Ao contrrio, os graus no contnuos, mas discretos, foram diferenciados como anteriores e posteriores, como a causa e o efeito, e como o que produz e o que produzido. Quem examinar a questo ver que em todas as coisas do mundo, tanto em geral como em particular, h graus de produo e de composio, isto , que de uma coisa procede uma outra e desta uma terceira, e assim por diante. Quem no adquirir para si a percepo desses graus no pode, de modo algum, saber a diferena dos cus, conhecer as distines das faculdades interiores e exteriores do homem, nem a distino entre o mundo espiritual e o mundo natural, nem a distino entre o esprito e o corpo do homem e, por conseguinte, no pode compreender o que so e onde esto as correspondncias e as representaes, nem de onde elas vm, nem qual o influxo. Os homens sensuais no percebem essas distines, porque os crescimentos e os decrscimos, segundo esses graus,

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 17 de 297

    so por eles considerados contnuos. Por esse motivo, eles s podem conceber o espiritual como um natural mais puro. Por isso que eles ficam tambm do lado de fora e longe da inteligncia.

    39. -me permitido, em ltima lugar, referir, a respeito dos anjos dos trs cus, um arcano que at aqui no ocorreu mente de pessoa alguma, porque os graus no foram compreendidos. o seguinte: em cada anjo e tambm em cada homem h um grau ntimo ou supremo, ou um certo ntimo e supremo, no qual o Divino do Senhor influi primeiro ou de mais perto e segundo o qual Ele dispe os outros interiores que vm depois, segundo os graus da ordem no anjo e no homem. Esse ntimo ou supremo pode ser chamado a entrada do Senhor no anjo e no homem, e Seu domiclio mesmo neles. por esse ntimo ou supremo que o homem homem e se distingue dos animais brutos, porque os brutos no o tm. Da vem que o homem, diferentemente dos animais, pode, quanto a todos os interiores que pertencem sua mente e ao seu nimo, ser elevado pelo Senhor para o Senhor Mesmo, crer n'Ele, ser afetado pelo amor para com Ele e, assim, ver o Senhor Mesmo e poder receber a inteligncia e a sabedoria, e falar segundo a razo. Da vem tambm que ele vive eternamente. Contudo, o que disposto e provido pelo Senhor nesse ntimo no influi manifestamente na percepo de anjo algum, porque est acima de seu pensamento e excede sua sabedoria.

    40. So essas as coisas comuns aos trs cus; no que vai seguir se tratar de cada cu em particular.

    vi. Os cus consistem em sociedades inmeras

    41. Os anjos de cada cu no esto juntos em um lugar, mas reunidos em sociedades maiores ou menores, segundo as diferenas do bem do amor e da f em que eles esto. Os que esto em um semelhante bem formam uma mesma sociedade. Os bens no cu so de uma variedade infinita e cada anjo tal qual o seu bem.

    42. As sociedades anglicas nos cus so tambm afastadas umas das

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 18 de 297

    outras, conforme diferem os bens no gnero e na espcie, porque as distncias, no mundo espiritual, no tm outra origem que no seja a diferena do estado dos interiores; por conseguinte, nos cus, elas no tm outra origem seno a diferena dos estados de amor. Os que diferem muito esto a uma grande distncia uns dos outros, e os que diferem pouco esto a uma pequena distncia. A semelhana faz que eles estejam juntos.

    43. Em uma mesma sociedade, todos so igualmente distintos entre si. Os que so mais perfeitos, isto , que excedem em bem, por conseguinte em amor, em sabedoria e em inteligncia, esto no meio, e os que excedem menos esto ao redor, a uma distncia proporcional diminuio de perfeio. o mesmo que se d com a luz, que decresce do centro para a periferia. Os que esto no meio tambm esto em maior luz e os que esto na periferia esto em uma luz cada vez menor.

    44. Os anjos so como que levados por si prprios para aqueles que se lhes assemelham, porque eles esto com os seus semelhantes como com os seus e como em sua casa, ao passo que com os no semelhantes esto como com estrangeiros e como fora de suas casas. Quando esto em casa de seus semelhantes, eles esto em sua liberdade e, por conseguinte, em todo o prazer da vida.

    45. Da evidente que o bem que consorcia todos os anjos nos cus, e que os anjos se distinguem segundo a qualidade do bem. Todavia, no so eles que formam assim essas associaes: o Senhor, de Quem procede o bem. Ele Mesmo os conduz, conjunge, distingue e mantm na liberdade como no bem, cada um na vida do seu amor, da sua f, da sua inteligncia e da sua sabedoria e, por isso mesmo, na sua felicidade.

    46. Todos os que esto em um semelhante bem se conhecem absolutamente como os homens no mundo conhecem seus parentes, aliados e amigos. Eles se conhecem mesmo quando nunca se tenham visto antes. Isso porque, na outra vida, no h parentesco, afinidades e amizades que no sejam espirituais, as quais, portanto, pertencem ao amor e f. o que, s vezes, me foi dado ver, quando eu estava em esprito, por conseguinte desligado do corpo, e assim em sociedade com os anjos. Ento vi alguns deles que me pareciam conhecidos de infncia, enquanto outros eram-me absolutamente desconhecidos. Os que me pareciam conhecidos desde a infncia eram os que se achavam em um estado semelhante ao de meu esprito, e os que a mim pareciam

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 19 de 297

    desconhecidos se achavam em um estado diferente.47. Todos os que formam uma mesma sociedade anglica so de uma

    face semelhante no comum, mas no semelhante no particular. Pode-se, de algum modo, apreender alguma coisa sobre o que so essas semelhanas no comum e essas variedades no particular pelas semelhanas e variedades que existem no mundo. Sabe-se que cada nao traz na face e nos olhos uma sorte de semelhana comum, que a torna conhecida e distinta de uma outra nao, e mais ainda uma famlia de uma outra famlia. No cu, porm, tal fato se efetua mais distintamente, porque l todas as afeies interiores se mostram e brilham na face, visto que l a face a forma externa e representativa das afeies; ter uma face diferente da de suas afeies no possvel no cu. Foi-me mostrado como a semelhana comum particularmente variada nos indivduos que esto em uma mesma sociedade: havia uma face como uma face anglica, que me aparecia, e ela variava segundo as afeies do bem e da verdade, como so as que esto nos que constituem uma mesma sociedade. Essas variaes duravam muito tempo e eu observava que, apesar disso, a mesma face comum ficava como um plano, e todas as outras eram somente derivaes e propagaes daquela. Desse modo, por essa face tambm me foram mostradas as afeies de toda uma sociedade, afeies pelas quais so variadas as faces dos que a compem, porque, como acima se disse, as faces anglicas so as formas dos interiores dos anjos, assim como as formas das afeies que pertencem ao amor e f.

    48. Da resulta tambm que um anjo que excede em sabedoria v instantaneamente pela face a qualidade de um outro anjo. L ningum pode pelo rosto ocultar os interiores nem dissimular, e absolutamente impossvel mentir e enganar por astcia e por hipocrisia. Sucede, s vezes, que nas sociedades se insinuam hipcritas, que aprenderam a ocultar os seus interiores, de modo que aparecem na forma do bem, no qual esto os que compem a sociedade, e assim se apresentam como anjos de luz. Mas eles no podem ficar l por muito tempo, porque comeam a ficar sufocados interiormente, afligem-se, a face se torna lvida e ficam como privados de respirao. Eles so assim mudados pela vida oposta que influi e opera. Por isso eles, de repente, se precipitam no inferno, onde esto seus semelhantes, e no mais se arriscam a subir pela segunda vez. Esses espritos so representados pelo homem que foi encontrado mesa entre os convidados sem estar vestido com o traje nupcial, e que foi lanado nas trevas exteriores (Mateus 22:11 e seguintes).

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 20 de 297

    49. Todas as sociedades do cu se comunicam entre si, no por um contato aberto - porque poucos anjos saem de sua sociedade para irem a uma outra, pois sair de sua sociedade como sair de si prprio ou de sua vida e passar para uma outra vida que no convm- mas porque todas as sociedades se comunicam pela extenso da esfera que procede da vida de cada um. A esfera da vida a esfera das afeies que pertencem ao amor e f. Essa esfera se estende nas sociedades de todos os lados, em comprimento e largura, quanto mais as afeies forem interiores e mais perfeitas. em razo dessa extenso que os anjos tm a inteligncia e a sabedoria. Os que esto no cu ntimo - e no meio desse cu- tm uma extenso do cu inteiro. Da h comunicao de todos os anjos do cu com cada um, e de cada um com todos. Mas se tratar dessa extenso com mais pormenores posteriormente, quando se falar da forma celeste segundo a qual as sociedades anglicas foram dispostas, e tambm da sabedoria e da inteligncia dos anjos, porque toda a extenso das afeies e dos pensamentos se faz segundo essa forma.

    50. Acima se disse que h nos cus sociedades grandes e pequenas: as grandes so compostas de mirades de anjos, as pequenas de alguns milhares e as menores de algumas centenas. H, tambm, anjos que vivem solitrios, como por casa e casa, por famlia e famlia. Esses anjos, apesar de viverem assim dispersos, foram contudo dispostos em uma ordem semelhante quela que reina nas sociedades, isto , os mais sbios dentre eles esto no meio e os mais simples nos limites. Os que vivem assim esto mais perto do Divino auspcio do Senhor e so os melhores dos anjos.

    vii. Cada sociedade anglica o cu na menor forma e cada anjo o na mnima forma

    51. Cada sociedade o cu na menor forma e cada anjo o na mnima forma, porque o bem do amor e da f que faz o cu, e esse bem est em toda sociedade do cu e em cada anjo de uma sociedade. Pouco importa que esse bem seja em toda parte diferente e variado: sempre um bem do cu. A diferena consiste somente em que o cu aqui de tal modo e acol de outro

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 21 de 297

    modo. Por isso que se diz, quando algum elevado a uma das sociedades do cu, que ele vai para o cu; e dos que l esto se diz que eles esto no cu, e cada um no seu. o que sabem todos os que esto na outra vida. Por isso os que esto fora ou abaixo do cu, e que olham de longe para onde h reunio de anjos, dizem que l est o cu e tambm aqui e ali. D-se isso, por comparao, como com os governadores, oficiais e servidores, no mesmo palcio de um rei, ou em uma mesma corte. Apesar de habitarem separadamente, em seus aposentos ou em seus quartos, um em cima, outro em baixo, contudo eles esto em um mesmo palcio ou em uma mesma corte, cada um exercendo, ali, sua funo para o servio do rei. V-se claramente, por esse fato, o que se entende por estas palavras do Senhor: Na casa de Meu Pai h muitas moradas (Joo 14:2), e o que se entende pelos Habitculos do cu e pelos cus dos cus de que falam os Profetas.

    52. Cada sociedade o cu na menor forma. tambm o que se pode ver no fato de, em cada sociedade, a forma celeste ser semelhante do cu inteiro. No cu inteiro, no meio, esto os que excedem os outros em usos, e ao redor, at os limites, esto aqueles que, em ordem decrescente, prestem menos usos, como foi explicado no pargrafo 43. Pode-se, tambm, ter uma prova no fato de que o Senhor governa todos os que esto no cu inteiro como se fossem um s anjo, e igualmente os que esto em cada sociedade. Assim, uma sociedade anglica inteira aparece s vezes como um s, na forma de anjo; foi o que o Senhor me concedeu ver. Quando o Senhor aparece, no meio dos anjos, Ele aparece, tambm, no cercado de muitos, mas como Um s em forma anglica. por isso que o Senhor, na Palavra, chamado Anjo, e que uma sociedade inteira chamada anjo. Miguel, Gabriel e Rafael so meramente sociedades anglicas que foram assim chamadas por causa de suas funes.

    53. Como uma sociedade inteira o cu em uma menor forma, do mesmo modo o anjo tambm o cu na mnima forma, porque o cu no est fora do anjo, mas dentro dele. Com efeito, os interiores do anjo, que pertencem sua mente, foram dispostos na forma do cu, assim para a recepo de todas as coisa do cu que esto fora dele. Eles as recebem tambm segundo a qualidade do bem que est neles pelo Senhor. Por isso que o anjo tambm o cu.

    54. No se pode dizer, de modo algum, que o cu est fora de algum, mas se deve dizer que o cu est dentro dele, porque todo o anjo, segundo o cu

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 22 de 297

    que est dentro dele, recebe o cu que est fora dele. Isso mostra como se engana aquele que cr que vir ao cu somente ser elevado entre os anjos, seja qual for a sua vida interior, e que, assim, o cu seja dado a cada um por imediata misericrdia, quando o fato que, se o cu no estiver dentro de algum, nada do cu que est fora dele influi nem recebido. H muitos que, por isso mesmo, foram, em virtude de sua f, transportados ao cu. Mas, quando eles l se achavam, uma vez que sua vida interior era oposta vida em que estavam os anjos, comearam, quanto aos seus intelectuais, a ficar cegos de tal modo que se tornaram idiotas e, quanto aos seus voluntrios, a ficar atormentados de tal modo que procediam como insensatos. Em uma palavra, os que vivem mal e entram no cu l no respiram e so atormentados como peixes fora dgua e como animais dentro de mquinas pneumticos no ter, depois que o ar foi delas extrado. Assim, pode ver-se que o cu est dentro e no fora de algum.

    55. Como todos recebem o cu que est fora deles segundo a qualidade do cu que est dentro deles, todos recebem, pois, igualmente o Senhor, porque o Divino do Senhor faz o cu. Da que o Senhor, quando se torna presente em alguma sociedade, nela aparece segundo a qualidade do bem em que est a sociedade. Assim, no aparece do mesmo modo em uma sociedade como aparece em outra. No que essa diferena esteja no Senhor, mas porque est nos que O vem segundo seu bem. A diferena segundo o bem dos que O vem. Eles so afetados vista do Senhor segundo a qualidade do seu amor. Os que O amam intimamente so intimamente afetados, os que O amam menos so menos afetados, e os maus, que esto fora do cu, ficam atormentados na presena do Senhor. Quando o Senhor aparece em alguma sociedade, a aparece como um Anjo, mas Ele se distingue dos outros anjos pelo Divino que transluz.

    56. O cu tambm est onde Senhor reconhecido, acreditado e amado. A variedade de Seu culto, segundo a variedade do bem em tal ou qual sociedade, no prejudicial: vantajosa, porque a perfeio do cu vem da. Que a perfeio do cu venha da o que seria difcil fazer compreender sem se recorrer aos termos consagrados e usados na sociedade culta e pelos quais se explica como a unidade que perfeita formada de coisas variadas. Toda unidade se compe de coisas variadas, porque a unidade que no for composta de coisas variadas no , no tem forma e, por conseguinte, no tem qualidade. Mas, quando a unidade composta de coisas variadas, e essas coisas esto em uma forma perfeita - na qual cada uma se junta a uma outra como amiga, harmonizando-se na srie- ento a unidade tem uma qualidade perfeita. O cu

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 23 de 297

    tambm uma unidade composta de coisas variadas, postas em ordem na forma mais perfeita, porque a forma celeste a mais perfeita de todas as formas. Que toda a perfeio venha da o que se v claramente por toda a beleza, todo o encanto e todo o deleite que afetam tanto os sentidos como os nimos. Essas qualidades, com efeito, no vm e no emanam de outra parte seno do concerto e da harmonia de muitas coisas que se unem e concordam, quer elas coexistam em ordem, quer se sigam em ordem. Mas no so, de forma alguma, o produto de uma unidade sem variedade das partes. Por isso se diz que a variedade agrada e se sabe que o prazer que da resulta est em relao com a qualidade dessa variedade. Pode-se, portanto, ver, como em um espelho, como a perfeio provm de coisas variadas, at mesmo no cu. E, pelas coisas que existem no mundo natural, pode-se ver, como num espelho, as que esto no mundo espiritual.

    57. O que se disse a respeito do cu pode ser aplicado igreja, porque a igreja o cu do Senhor na terra. H, tambm, muitas igrejas e, contudo, cada uma chama-se igreja, e tambm igreja enquanto nela reinar o bem do amor e da f. A tambm o Senhor compe uma unidade de coisas variadas e faz de muitas igrejas uma s. O que se diz da igreja no geral pode tambm ser aplicado ao homem no particular, a saber, que a igreja est dentro do homem e no fora dele e que cada homem, em quem o Senhor est presente no bem do amor e da f, a igreja. O que se disse do anjo, em quem est o cu, pode tambm ser aplicado ao homem em quem est a igreja, a saber, que o homem a igreja na mnima forma, como o anjo o cu na mnima forma. E mais ainda: o homem em quem est a igreja igualmente um cu, do mesmo modo que o anjo, porque o homem foi criado para ir para o cu e para se tornar anjo. Por isso, aquele em quem est o bem procedente do Senhor um anjo-homem. Cumpre dizer aqui que o homem tem de comum com o anjo e o que ele tem mais que os anjos. O que o homem tem de comum com o anjo que os seus interiores foram igualmente formados imagem do cu e se torna tambm uma imagem do cu enquanto estiver no bem do amor e da f. O que o homem tem mais que os anjos que seus exteriores foram formados imagem do mundo e, enquanto ele estiver no bem, o mundo nele est subordinado ao cu e est a servio do cu. E, ento, o Senhor est presente nele, em um e no outro, como em seu cu. O homem est, com efeito, na ordem Divina de um e de outro lado, porque Deus a ordem.

    58. Cumpre lembrar, em ltimo lugar, que aquele que tem o cu em si

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 24 de 297

    tem no s o cu em seus mximos ou gerais, mas tambm em seus mnimos ou singulares, e os mnimos nele representam, em imagem, os mximos. Isso provm de que cada um seu amor e tal qual seu amor reinante... Nos cus, o amor para com o Senhor o amor reinante, porque l o Senhor amado acima de tudo. Por isso que o Senhor l tudo em todos. Ele influi em todos e em cada um, os dispe e os reveste com Sua semelhana e faz que o cu esteja onde Ele Mesmo est. Da, o anjo o cu na mnima forma, a sociedade o cu em maior forma e todos, conjuntamente, so o cu na mxima forma. Que o Divino do Senhor faa o cu e que Ele seja tudo em todos foi explicado anteriormente.

    viii. Todo o cu em um s complexo representa um s homem

    59. Que o cu em todo o complexo representa um s homem um arcano ainda no conhecido no mundo, porm nos cus muito conhecido. A inteligncia dos anjos, l, consiste principalmente em sab-lo e em conhecer as suas coisas especficas e singulares. Da tambm dependem muitas coisas que, sem o conhecimento desse arcano como princpio comum, no entrariam distinta nem claramente nas idias da sua mente. Como eles sabem que todos os cus, com suas sociedades, representam um s homem, por isso tambm eles chamam o cu de o Mximo e Divino Homem, Divino porque o Divino do Senhor faz o cu.

    60. Que as coisas celestes e as coisas espirituais hajam sido dispostas e conjuntas nessa forma e nessa imagem o que no podem perceber aqueles que no tm uma idia justa dos espirituais nem dos celestiais. Eles pensam que as coisas terrestres e materiais, que compem o ltimo grau do homem, fazem o homem e que, sem elas, o homem no homem. Saibam, porm, que o homem homem no pelas coisas terrestres e materiais, mas porque ele pode compreender a verdade e querer o bem; nisso que consistem as coisas espirituais e celestes que fazem o homem. O homem sabe at que um indivduo tal qual ele quanto ao entendimento e vontade, e alm disso o homem pode saber que o seu corpo terrestre foi formado para estar ao servio do seu entendimento e da sua vontade no mundo e para prestar convenientemente, por

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 25 de 297

    eles, usos na ltima esfera da natureza. at por isso que o corpo nada faz por si prprio, mas age com uma inteira submisso ao capricho do entendimento e da vontade, a tal ponto que tudo o que o homem pensa, ele o pronuncia pela lngua e pela boca, e tudo o que ele quer, ele o faz pelo corpo e pelos membros, de sorte que o entendimento e a vontade que fazem, e o corpo nada faz por si prprio. Assim, evidente que as coisas intelectuais e voluntrias fazem o homem, e como atuam nas menores partes do corpo como o interno atua no externo, por isso por elas que um homem chamado homem interno e espiritual. O cu um tal homem na maior e na mais perfeita forma.

    61. Tal a idia dos anjos a respeito do homem. Por isso, eles nunca se detm nas coisas que o homem faz pelo corpo, mas sim nas que faz pela vontade, segundo a qual o corpo atua. Essa vontade por eles chamada o homem mesmo, e ao entendimento chamam homem enquanto o entendimento fizer um com a vontade.

    62. Os anjos vem, na verdade, o cu em todo o complexo sob uma tal forma, porque o cu inteiro no vem ao alcance de anjo algum, mas eles vem, s vezes, como fazendo um sob essa forma, sociedades afastadas que so compostas de muitos milhares de anjos. E, por uma sociedade como parte, eles concluem, em relao ao geral, o que o cu. Porque, desde que se trata de uma forma perfeitssima, se d com os gerais o mesmo que com as partes, e com as partes o mesmo que com os gerais. H somente a diferena que existe entre duas coisas semelhantes, das quais uma maior e a outra menor. Sendo assim, eles dizem que o cu inteiro est sob uma tal forma na presena do Senhor, porque o Divino v todas as coisas pelo ntimo e o supremo.

    63. Por ser o cu tal, resulta tambm que ele governado pelo Senhor como um s homem e, por conseguinte, como sendo um. Sabe-se, com efeito, que apesar de o homem ser constitudo de uma quantidade imensa de coisas variadas, tanto no todo como na parte - no todo, de membros, rgos e vsceras, e na parte, de sries de fibras, nervos e vasos sangneos; assim, de membros por dentro de membros e de partes por dentro de partes - a verdade que, apesar disso, o homem, quando age, age como um. Tal o cu sob o auspcio e a direo do Senhor.

    64. Se no homem tantas coisas variadas fazem um, porque no h nele uma s coisa que no opere para a coisa geral e no preencha um uso. O geral preenche o uso para as suas partes, e as partes preenchem o uso para o geral,

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 26 de 297

    porque o geral existe pelas partes e as partes constituem o geral. Por isso, elas se consideram reciprocamente, se olham mutuamente e so conjuntas em uma forma tal, que todas as coisas em geral e em particular, se referem ao geral e ao bem geral. Da vem que elas fazem um. As consociaes so semelhantes nos cus. L, eles (os anjos) so unidos segundo os usos em uma semelhante forma. Por isso, os que no fazem uso para o bem comum so rejeitados do cu, porque so partes heterogneas. Preencher um uso querer bem aos outros para o bem comum, e no preencher um uso no querer bem aos outros, mas somente para si prprio. So os que no preenchem usos que se amam acima de todas as coisas, enquanto aqueles que os preenchem so os que amam o Senhor acima de tudo. Aqueles que fazem um no cu, no o fazem por si mesmos, mas pelo Senhor, porque eles O consideram como o nico a Quo (origem de tudo). isso que significado pelas palavras do Senhor: Buscai primeiro o reino de Deus e Sua justia e todas as coisas vos sero acrescentadas (Mateus 6:33). Buscar a justia do reino de Deus significa procurar o Seu bem. Aqueles que, no mundo, amam o bem da ptria mais do que o seu prprio bem e amam o bem do prximo como o seu prprio bem so os que, na outra vida, amam e buscam o reino do Senhor, porque l o reino do Senhor substitui a ptria. E os que amam fazer o bem aos outros, no por causa de si prprios, mas por causa do bem, esses amam o prximo.

    65. Como todo o cu representa um s homem e, alm disso, ele o Homem Divino Espiritual na maior forma, tambm em efgie, resulta que o cu , como o homem, disposto em membros e em partes, que tambm tm os mesmos nomes. Os anjos sabem at em que membro se acha tal sociedade e em que membro tal outra, e eles dizem de uma sociedade que ela est em tal membro ou em tal provncia da cabea; de uma outra, que ela est em tal membro ou em tal provncia do peito; e ainda de uma outra que ela est em tal membro ou em tal provncia dos lombos; e assim por diante. Em geral, o cu supremo, ou terceiro cu, forma a cabea at o pescoo; o cu mdio ou segundo cu, forma os peitos at os lombos e os joelhos; e o ltimo cu, ou primeiro, forma os ps at as solas, e tambm os braos at os dedos, porque os braos e as mos so os ltimos do homem, ainda que estejam nos lados. Da, se v ainda a razo por que h trs cus.

    66. Os espritos que esto por baixo do cu ficam muito admirados quando ouvem ou vem que o cu est tanto por baixo como por cima. Com efeito, do mesmo modo que os homens do mundo, eles esto na crena e na

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 27 de 297

    opinio de que o cu somente se acha em cima, porque no sabem que a situao dos cus como a situao dos membros, dos rgos e das vsceras no homem, os quais esto alguns acima e alguns abaixo, e que como a situao das partes em cada membro, em cada rgo e em cada vscera, das quais algumas esto por dentro e algumas esto por fora. Da a confuso das idias a respeito do cu.

    67. Tais coisas, a respeito do cu como Mximo Homem, foram referidas porque, sem esse conhecimento prvio, seria impossvel compreender de algum modo o que se vai dizer sobre o cu e no se formaria idia alguma distinta da forma do cu, da conjuno do Senhor com o cu, da conjuno do cu com o homem, nem do influxo do mundo espiritual no mundo natural e, finalmente, no se teria idia alguma da correspondncia. Entretanto, so esses assuntos que devem ser tratados pela ordem nos pargrafos seguintes. Por isso que, para lanar luz sobre esses assuntos, tais preliminares foram dadas.

    ix. Cada sociedade nos cus representa um s homem

    68. Cada sociedade do cu representa tambm um s homem, e a semelhana de um homem, como me foi permitido ver algumas vezes. Havia uma sociedade em que se insinuaram muitos espritos que tinham sabido simular os anjos de luz, espritos que eram hipcritas. Enquanto eles eram separados de junto dos anjos, eu vi que a sociedade inteira aparecia a princpio como um todo obscuro, depois gradualmente em forma humana, tambm de um modo obscuro, e, finalmente, na luz, como um homem. Aqueles que estavam no homem e o compunham eram os que estavam no bem dessa sociedade; os outros que no estavam no homem e no o compunham eram os hipcritas. Estes foram expulsos e aqueles retidos, e assim se fez a separao. Hipcritas so os que falam bem e tambm agem bem, mas em todas as coisas eles s tm em vista a si prprios. Eles se exprimem como fazem os anjos sobre o Senhor, sobre o cu, sobre o amor, sobre a vida celeste, e tambm procedem bem, a fim de se apresentarem tal qual se mostram em sua linguagem. Mas eles pensam de modo diferente. No tm crena alguma e querem bem somente a si prprios. O que

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 28 de 297

    eles fazem de bem para si prprios e, se o fazem para outros, com o fim de serem notados e, por conseguinte, para si prprios igualmente.

    69. Foi-me permitido ver, tambm, que uma sociedade inteira aparece como um em uma forma humana, quando o Senhor Se apresenta. Aparecia no alto, para o oriente, como uma nuvem de um branco avermelhado com estrelinhas ao redor. Essa nuvem descia e, gradualmente, proporo que descia, tornou-se mais luminosa, e finalmente eu a vi em uma forma perfeitamente humana. As estrelinhas ao redor da nuvem eram anjos, que apareciam assim pela luz dimanando do Senhor.

    70. Cumpre saber que, ainda que todos os que estejam em uma mesma sociedade do cu apaream, quando esto juntos, com a semelhana de um homem, contudo o homem apresentado por uma sociedade no semelhante ao homem apresentado por uma outra sociedade. Eles se distinguem entre si como as faces humanas de uma estirpe. E isso por um motivo semelhante ao que foi mencionado anteriormente (pargrafo 47), isto , porque eles so diversificados, segundo as variedades do bem em que eles esto e ao qual devem a sua forma. As sociedades que esto no cu ntimo ou supremo, e no centro desse cu, aparecem na forma humana mais perfeita e bela.

    71. coisa digna de se lembrar que, quanto mais anjos h formando uma sociedade do cu fazendo um, mais a forma humana dessa sociedade perfeita, porque a variedade disposta em forma celeste faz a perfeio, como foi mostrado anteriormente (nmero 56), e a variedade maior ali onde houver um maior nmero. Cada sociedade do cu aumenta em nmero cada dia e, proporo que aumenta, torna-se mais perfeita. Assim, no s a sociedade aperfeioada, mais ainda o cu em geral, porque as sociedades constituem o cu. Por isso o cu aperfeioado por uma multido crescente, e se pode ver quanto se enganam aqueles que crem que o cu est fechado por plenitude, quando, todavia, acontece o contrrio: ele nunca fechado por plenitude e uma plenitude cada vez maior o aperfeioa. por essa razo que os anjos no tm maior desejo seno o de verem anjos que vm juntar-se a eles como novos hspedes.

    72. Se cada sociedade a efgie de um homem, quando ela aparece como um, porque o cu inteiro tem essa efgie, como foi exposto nos pargrafos 59 a 67; e na forma mais perfeita, qual a forma do cu, h semelhana das partes com o todo e das coisas menores com a que maior. As coisas menores e as partes do cu so as sociedades de que ele se compe e que at so cus em

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 29 de 297

    uma forma menor (ver os pargrafos 51 a 58 ). H uma tal semelhana perptua porque nos cus os bens de todos dimanam de um s amor, por conseguinte de uma s origem. O amor nico, de onde procede a origem de todos os bens que esto l, o amor para com o Senhor e que procede d'Ele Mesmo. Da que o cu inteiro a semelhana do Senhor no geral, cada sociedade o no menos geral, e cada anjo no particular, como foi mostrado no n. 58.

    x. Portanto, cada anjo uma perfeita forma humana

    73. Nos dois artigos precedentes mostrou-se que o cu em todo o complexo representa um s homem, e que o mesmo sucede a cada sociedade no cu. Da srie de razes apresentadas segue-se que cada anjo representa igualmente um homem. Como o cu Homem na maior forma, e uma sociedade do cu o na menor forma, do mesmo modo o anjo o cu na mnima forma, porque na forma mais perfeita, qual a forma do cu, h semelhana do todo na parte e da parte no todo. Se tal sucede porque o cu uma comunho, porquanto comunica a cada um tudo o que ele tem e cada um recebe dessa comunho tudo o que possui. O anjo um receptculo e, por conseguinte, o cu na mnima forma, como foi mostrado anteriormente. Do mesmo modo, o homem [ um receptculo]. Quanto mais ele receber o cu e quanto mais ele for tambm receptculo, mais ele o cu e mais ele anjo (ver n. 57). Isso assim descrito no Apocalipse: Mediu o muro da santa Jerusalm cento e quarenta e quatro cvados, medida de homem que medida de anjo (21:17). A, Jerusalm a igreja do Senhor e, em um sentido mais elevado, o cu; o muro a verdade que protege contra o ataque dos falsos e dos males; o nmero cento e quarenta e quatro so todas as verdades e todos os bens no complexo; a medida a sua qualidade; o homem aquele em que esto todas essas verdades e todos esses bens no geral e na parte, por conseguinte, aquele em quem est o cu. E, como o anjo tambm homem segundo essas verdades e esses bens, por isso dito medida de homem que a do anjo. Tal o sentido espiritual dessas palavras. Quem poderia, sem esse sentido, compreender que o muro da santa Jerusalm era medida do homem, que a do anjo?

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 30 de 297

    74. Mas volto agora experincia. Que os anjos so formas humanas ou homens o que vi muitas vezes, pois conversei com eles como um indivduo conversa com outro, ora com um s, ora com muitos em conjunto, e nada vi neles que diferisse do homem quanto forma. Fiquei at admirado algumas vezes que assim fosse. E, para que no se diga que era falcia ou viso de fantasia, foi-me dado v-los em plena viglia, ou quando eu estava em todo o sentido do corpo e em estado de clara percepo. Eu tambm contei-lhes muitas vezes que, no mundo cristo, os homens se acham em to cega ignorncia a respeito dos anjos e dos espritos, que eles crem que so mentes sem forma e puros pensamentos de que eles no tm idia alguma, seno como de alguma coisa etrea, tendo em si o vital. E como no lhes atribuem coisa alguma do que pertence ao homem, exceto o cogitativo, eles crem que os anjos no vem, porque no tm olhos, no ouvem porque no tm ouvidos e no falam porque no tm boca nem lngua. Disseram-me os anjos a esse respeito que eles sabiam que tal crena existe entre um grande nmero no mundo e que ela reina entre os eruditos e tambm - coisa de que se admiravam - entre os sacerdotes. Eles deram-me tambm a causa disso. que os eruditos, que foram os promotores e, a princpio, emitiram tal idia sobre os anjos e os espritos, pensaram a respeito deles segundo os sensuais do homem externo e no segundo uma luz interior nem segundo a idia comum que foi gravada em cada homem. Assim, no podem deixar de imaginar tais coisas, pois os sensuais do homem externo percebem somente as coisas que esto na natureza, mas no as que esto acima dela nem, por conseguinte, coisa alguma do que diz respeito ao mundo espiritual. A falsidade do pensamento a respeito dos anjos passou desses promotores, como chefes, a outros que pensaram no por si prprios, mas segundo tais chefes. E os que primeiro pensam segundo os outros e assim formam a sua f, e que depois consideram por seu entendimento as coisas que eles creram, dificilmente podem desprender-se delas. Por isso que a maior parte as aceita, confirmando-as. Disseram-me depois que os simples de f e de corao no tm tal idia sobre os anjos, mas tm a idia de que os anjos so homens do cu, e isso porque eles no apagaram pela erudio aquilo que neles fora gravado do cu, e porque eles nada concebem sem uma forma. Da que, nos templos, os anjos, quer na escultura, quer na pintura, foram sempre representados como homens. Quanto a esse conhecimento interno que procede do cu, eles me disseram que o Divino influindo nos que esto no bem da f e da vida.

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 31 de 297

    75. De toda a minha experincia, que agora de muitos anos, posso dizer e afirmar que os anjos, quanto sua forma, so absolutamente homens, tendo uma face, olhos, orelhas, peito, braos, mos e ps. Eles se vem mutuamente, ouvem, conversam entre si. Em uma palavra, nada lhes falta absolutamente daquilo que constitui o homem, exceto que eles no so revestidos de um corpo material. Eu os vi em sua luz, que excede em muitos graus a luz do mundo ao meio-dia, e, nessa luz, eu discernia toda as suas feies mais distinta e claramente do que vejo as faces dos homens na terra. Foi-me tambm concedido ver o anjo do cu ntimo: ele tinha a face mais brilhante e mais resplandecente do que os anjos dos cus inferiores. Eu o examinei e ele tinha a forma humana em toda a perfeio.

    76. Mas cumpre saber que os anjos no podem ser vistos pelos olhos do corpo do homem, mas pelos olhos de seu esprito, porque o esprito do homem est no mundo espiritual e todas as partes de seu corpo esto no mundo material. O semelhante v o semelhante em razo da similitude. Alm disso, o rgo da vista do corpo, que o olho, to grosseiro que ele certamente no v as coisas menores da natureza sem ser com o auxlio de instrumentos de tica, como todos sabem. E, com mais forte razo, no pode ver as coisas que esto acima da esfera da natureza, como todas aquelas do mundo espiritual. Mas a verdade que essas coisas so vistas pelo homem quando ele desligado da vista do corpo e a vista de seu esprito aberta, o que se faz em um momento, se o Senhor deseja que tais coisas sejam vistas. E ento o homem no sabe outra coisa seno que ele as v pelos prprios olhos do corpo. Assim foram vistos os anjos por Abraho, por Loth, Mano e pelos profetas. Assim foi visto o Senhor, depois da ressurreio, pelos discpulos, e foi tambm desse modo que os anjos foram vistos por mim. Como os profetas assim viram, por isso que eles foram chamados videntes e homens de olhos abertos (I Samuel 9:9, Nmeros 24:3). Fazer ver assim foi chamado abrir os olhos, como se deu com o moo de Eliseu, a cujo respeito se l: Eliseu disse: JEHOVAH, abre, peo, os olhos dele para que veja. E abrindo JEHOVAH os olhos do moo, este viu, e eis aquele monte cheio de cavalos e de carros de fogo ao redor de Eliseu (II Reis 6:17).

    77. Espritos probos, com os quais tambm conversei a respeito disso, lastimaram de corao que tal ignorncia existisse na Igreja sobre o estado do cu e sobre os espritos e os anjos e, indignados, diziam que eu devia positivamente declarar que os espritos e os anjos no so mentes sem forma

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 32 de 297

    nem sopros etreos, mas homens em forma humana, e que eles vem, ouvem e sentem do mesmo modo que os que esto no mundo.

    xi. pelo Divino Humano do Senhor que o cu, no todo e na parte, representa um s homem

    78. Que seja pelo Divino Humano do Senhor que o cu, no todo e na parte, representa um s Homem o que se conclui de tudo o que foi dito e mostrado precedentemente. Nos pargrafos precedentes, mostrou-se: [nos ns 2 a 6] que o Senhor o Deus do cu; [nos ns 7 a 12] que o Divino do Senhor que faz o cu; [nos ns 41 a 50] que os cus consistem em sociedades inmeras; [nos ns 51 a 58] que cada sociedade o cu na menor forma; [nos ns 59 a 67] que todo o cu em um s complexo representa um s Homem; [nos ns 68 a 72] que cada sociedade nos cus representa um s homem; [nos ns 73 a 77] que portanto, cada anjo uma perfeita forma humana. Todas essas proposies levam concluso de que o Divino, porque faz o cu, Humano na forma. Que seja o Divino Humano do Senhor o que pode ser visto ainda mais claramente nos extratos do livro ARCANOS CELESTES, que foram reunidos como sumrio e sero publicados no fim. Que o Humano do Senhor seja Divino, e no como se cr na Igreja que o Seu Humano no seja Divino, tambm o que se pode ver por esses extratos, e tambm na obra DOUTRINA CELESTE DA NOVA JERUSALM, no fim, onde se trata do Senhor.

    79. Que assim seja o que me foi provado por um grande nmero de experincias, de que se dir alguma coisa. Todos os anjos que esto nos cus no percebem o Divino sob outra forma seno a forma Humana. E, o que admirvel, os que esto nos cus superiores no podem pensar de outra forma a respeito do Divino. O que os leva a essa necessidade de pensamento o Divino Mesmo que influi, e tambm a forma do cu, segundo a qual seus pensamentos se estendem ao redor deles, porque todos os pensamentos que pertencem aos anjos tm uma extenso no cu. E, segundo essa extenso, eles tm a inteligncia e a sabedoria. Por isso que l todos reconhecem o Senhor, porque o Divino Humano s existe no Senhor. Essas coisas no somente me foram ditas

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 33 de 297

    pelos anjos, mas tambm me foi concedido perceb-las, quando eu era elevado na esfera interior do cu. Assim, evidente que, quanto mais os anjos so sbios, mais eles percebem isso com clareza. Da vem que o Senhor lhes aparece em uma forma Divina anglica, que a forma Humana, aos que reconhecem e crem no Divino visvel, mas no aparece aos que crem que Ele invisvel. Os primeiros podem, com efeito, ver o Seu Divino, enquanto os ltimos no o podem.

    80. Como os anjos percebem no um Divino invisvel, que eles chamam Divino sem a forma, mas o Divino visvel em forma Humana, para eles comum dizerem que s o Senhor Homem, e que eles prprios so homens por Ele, e que cada um homem na proporo que recebe o Senhor. Receber o Senhor , para os anjos, receber o bem e a verdade que procedem d'Ele, pois que o Senhor est em Seu Bem e em Sua Verdade. A isso eles tambm chamam de sabedoria e inteligncia, pois eles dizem que cada um sabe que a inteligncia e a sabedoria fazem o homem e que, sem elas, no h face. Que isso seja assim ainda o que se torna patente pelos anjos dos cus interiores. Tais anjos, estando pelo Senhor no bem e na verdade e, por conseguinte, na sabedoria e na inteligncia, esto na mais bela e na mais perfeita forma humana. Os anjos dos cus inferiores esto em uma forma menos perfeita e menos bela. Porm, no inferno tudo oposto. Os que l esto aparecem luz do cu dificilmente como homens, mas como monstros. Com efeito, eles esto no mal e no falso e no no bem e na verdade. Eles esto, por conseguinte, nos opostos da sabedoria e da inteligncia; e at por isso que a sua vida se chama no vida, mas morte espiritual.

    81. Como o cu no todo e na parte representa um homem pelo Divino Humano do Senhor, por isso os anjos dizem que eles esto no Senhor, e alguns acrescentam que eles esto no corpo d'Ele, o que significa que eles esto no bem do Seu amor. E tambm o que o Senhor Mesmo ensina, dizendo: Permanecei em Mim e Eu em vs. Como a vara no pode dar fruto de si mesma, se no estiver na videira, assim nem vs o podeis dar, se no permanecerdes em Mim. pois sem Mim nada podeis fazer. Permanecei no Meu amor. Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor. (Joo 15:4 a 10).

    82. Como tal no cu a percepo a respeito do Divino, por isso que foi gravado em cada homem que recebe algum influxo do cu pensar em Deus sob uma aparncia humana. o que fizeram os antigos, o que fazem tambm os homens de hoje, tanto fora como dentro da igreja. Os simples O vem pelo

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 34 de 297

    pensamento como um ancio, em um esplendor brilhante. Mas todos aqueles que afastaram o influxo do cu pela prpria inteligncia e pela vida do mal extinguiram esse nsito (conhecimento interno). Os que o extinguiram pela prpria inteligncia querem um Deus invisvel, e os que o extinguiram pela vida do mal no querem nenhum Deus: uns e outros no sabem que existe um tal nsito, porque [esse conhecimento interno] no existe neles. Entretanto, este nsito o prprio Divino celeste, o primeiro a influir do cu no homem, porque o homem nasceu para o cu, e ningum vem ao cu sem a idia do Divino.

    83. Por isso que aquele que no est na idia do cu, isto , na idia do Divino do qual o cu procede, no pode ser elevado primeira entrada do cu; desde que ele l chega, encontra resistncia e uma forte repulso. A causa disso que nele os interiores, que deveriam receber o cu, foram fechados, porque eles no esto na forma do cu. E at quanto mais ele se aproxima do cu, tanto mais esses interiores so estreitamente fechados. Tal a sorte dos que dentro da igreja negam o Senhor e, como os socinianos, negam o Seu Divino. Quanto sorte dos que nasceram fora da igreja e no conhecem o Senhor, porque no tm a Palavra, tratar-se- deles mais tarde.

    84. Que os antigos hajam tido a idia do Humano a respeito do Divino, isso evidente pelas aparies do Divino diante de Abraho, Lot, Josu, Gedeo, Mano, sua esposa e outros, que, ainda que hajam visto Deus como Homem, entretanto O adoraram como Deus do universo, chamando-O Deus do cu e da terra e JEHOVAH. Que foi o Senhor que foi visto por Abraho, Ele prprio nos ensina em Joo 8:56. Que tambm os outros O viram, isso evidente, segundo essas palavras do Senhor: Ningum jamais viu a Deus: o Deus unignito, que est no seio do Pai, Quem o revelou. o Pai que Me enviou. Jamais tendes ouvido a Sua voz nem visto a Sua forma (Joo 1:18; 5:37).

    85. Mas que Deus Homem o que dificilmente pode ser entendido pelos que julgam todas as coisas pelos sensuais do homem externo. O homem sensual no pode, com efeito, pensar a respeito do Divino a no ser pelo mundo e pelas coisas que nele esto. Assim, ele no pode pensar do Divino e do homem espiritual a no ser como de um homem corporal e natural. Ele conclui da que, se Deus fosse homem, Ele seria em tamanho como o universo e, se governasse o cu e a terra, seria por meio de muitos, segundo o modo dos reis do mundo. E, se lhe fosse dito que no cu no h extenso nem espao como no mundo, tal

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 35 de 297

    coisa seria absolutamente incompreensvel para ele, porque quem pensa segundo a natureza e unicamente pela luz da natureza no pode deixar de pensar segundo uma extenso tal qual se apresenta a seus olhos. Mas quanto se enganam os que assim pensam a respeito do cu! A extenso que existe no cu no como a extenso no mundo. No mundo, a extenso determinada e, por conseguinte, mensurvel; no cu, ao contrrio, a extenso no determinada e, por conseguinte, no mensurvel. Mas tratar-se- da extenso do cu nos pargrafos seguintes, onde se falar do espao e do tempo no mundo espiritual. Alm disso, todos sabem a que ponto se estende a vista dos olhos, porque ela vai at ao sol e at s estrelas, que esto a uma to grande distncia. Aquele que pensa mais profundamente sabe tambm que a vista interna, que pertence ao pensamento, tem uma extenso ainda mais ampla e, por conseguinte, uma vista ainda mais interior. Qual deve ser, pois, a vista Divina, que a vista mais ntima de todas e a vista suprema? Como os pensamentos so de uma tal extenso, da resulta que a cada um no cu so comunicadas todas as coisas do cu e, por conseguinte, todas as coisas do Divino que faz o cu e o enche, como foi exposto nos pargrafos precedentes.

    86. Os que esto no cu admiram-se de que os homens, que pensam em Deus, pensem em um ser invisvel, isto , incompreensvel sob alguma forma, e que se julguem inteligentes e que chamem de falhos de inteligncia e at simples aos que pensam de outro modo, quando a verdade justamente o contrrio. Os anjos dizem aos que se julgam assim inteligentes: Examinem-se e observem se em vez de Deus no esto vendo a natureza?. [Perguntam tambm] se no esto cegos de tal modo que no saibam o que Deus, o que um anjo, o que um esprito, o que vem a ser sua alma que deve viver depois da morte, o que a vida do cu no homem? Assim tambm muitas outras coisas que pertencem inteligncia. Entretanto, todas essas coisas so conhecidas a seu modo por aqueles a quem eles chamam simples. Os simples tm de seu Deus a idia de que Ele Divino em forma humana; do anjo, a idia de que um homem celeste; de sua alma, a idia de que ela deve viver depois da morte, e, assim, a idia de que ela como um anjo; e da vida do cu, a idia de que ela consiste em viver segundo os preceitos de Deus. Por isso, os anjos chamam a esses de inteligentes e preparados para o cu, mas aos outros, entretanto, eles chamam de no inteligentes.

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 36 de 297

    xii. H correspondncia de todas as coisas do cu com todas as coisas do homem

    87. Hoje no se sabe o que a correspondncia. H muitas razes para essa ignorncia, e a principal que o homem se afastou do cu pelo amor de si e do mundo. Com efeito, quem ama a si e ao mundo acima de todas as coisas s considera os objetos mundanos, porque eles lisonjeiam os seus sentidos externos e so agradveis s suas inclinaes. No presta ateno alguma aos espirituais, porque estes lisonjeiam somente os sentidos internos e s alegram a mente. Por isso, os homens os rejeitam para longe de si, dizendo que eles so por demais elevados para serem do domnio do pensamento. Os antigos procederam de outro modo. A cincia das correspondncias foi para eles a principal de todas as cincias. Por ela eles receberam a inteligncia e a sabedoria, e por ela os que eram da igreja tiveram comunicao com o cu. Porque a cincia das correspondncias a cincia anglica. Os antiqssimos, que eram homens celestes, pensavam como os anjos, segundo a correspondncia mesma. Por isso, eles conversavam com os anjos e o Senhor Se mostrava a eles freqentemente, e os instrua. Mas hoje essa cincia est to completamente perdida, que no se sabe o que uma correspondncia.

    88. Ora, como sem a percepo do que uma correspondncia no se pode ter idia alguma, clara, do mundo espiritual, nem do seu influxo no mundo natural, nem, at, do que o espiritual respectivamente ao natural, nem noo alguma, clara, do esprito do homem depois da morte, cumpre dizer, portanto, o que a correspondncia e qual ela . Ser, por conseguinte, preparar tambm o caminho para o que deve seguir.

    89. Primeiramente se dir o que uma correspondncia. Todo o mundo natural corresponde ao mundo espiritual, e no s o mundo natural no geral, como tambm em cada uma das coisas que o compem. por isso que cada coisa que existe no mundo natural existe por uma coisa espiritual, e diz-se correspondente. Portanto, cumpre saber que o mundo natural existe e subsiste pelo mundo espiritual, absolutamente como o efeito segundo sua causa eficiente. Chama-se mundo natural toda essa extenso que est debaixo de um sol e

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 37 de 297

    recebe dele o calor e a luz, e a esse mundo pertencem todas as coisas que da subsistem; mas o mundo espiritual o cu, e a este mundo pertence tudo que est nos cus.

    90. Como o homem o cu e tambm o mundo na mnima forma, imagem do Mximo (ver pargrafo 57), h, por conseguinte, nele um mundo espiritual e um mundo natural. Os interiores, que pertencem sua mente e se referem ao entendimento e vontade, fazem o seu mundo espiritual, e os exteriores, que pertencem ao seu corpo e se referem aos sentidos e s aes do corpo, fazem o seu mundo natural. Tudo, pois, que em seu mundo natural, em seu corpo e nos sentidos, bem como nas aes do corpo, existe pelo mundo espiritual, isto , por sua mente e pelo entendimento e a vontade da mente, chama-se correspondente.

    91. O que a correspondncia, pode-se ver no homem pela sua face. Em uma face que no foi instruda para dissimular, todas as afeies da mente se apresentam vista em uma forma natural como em seu tipo. Da a face tida como o ndice da mente, como o mundo espiritual do homem em seu mundo natural, do mesmo modo que o que pertence ao entendimento se manifesta na linguagem, e o que pertence vontade se manifesta nos gestos do corpo. As coisas, pois, que se operam no corpo, quer seja na face ou na linguagem, quer nos gestos, chamam-se correspondncias.

    92. Por a pode-se ver tambm o que o homem interno e o que o homem externo, isto , que o homem interno aquele que chamado homem espiritual, e o homem externo aquele que chamado homem natural. Pode-se ver ainda que um distinto do outro, como o cu distinto do mundo, e que todas as coisas que se fazem e existem no homem externo ou natural se fazem e existem pelo homem interno ou espiritual.

    93. Isto se disse a respeito da correspondncia do homem interno ou espiritual com seu homem externo ou natural; mas no que vai seguir se falar da correspondncia de todo o cu com todas as partes do homem.

    94. Mostrou-se que o cu no geral representa um s homem, que um homem em imagem e que, em conseqncia, chamado Mximo Homem. Mostrou-se tambm que, por isso, as sociedades anglicas, de que se compe o cu, foram dispostas como o so no homem os membros, os rgos e as vsceras. que, assim, as sociedades esto, umas na cabea, outras no peito,

  • O CU E O INFERNO - E. Swedenborg Pg. 38 de 297

    outras nos braos, e outras em cada uma das outras partes (ver pargrafos 59 a 72). As sociedades que esto em um determinado membro do Mximo Homem correspondem, pois, ao membro semelhante no homem. Por exemplo, as que l esto na cabea correspondem cabea no homem; as que l esto no peito correspondem ao peito no homem; as que l esto nos braos correspondem aos braos ; e assim as outras. por essa correspondncia que o homem subsiste, porque o homem somente subsiste pelo cu.

    95. Que o cu seja dividido em dois reinos, dos quais um se chama reino celeste e o outro reino espiritual, o que se viu nos nmeros 20 a 28. O reino celeste corresponde em geral ao corao e a tudo o que depende do corao em todo o