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EM ESPIRAIS UM LIVRO DE CONTOS

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Em Espirais

Um livro dE contos

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São Paulo, 2011

ivEttE GomEs morEira

Em Espirais

Um livro dE contos

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Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorControle editorialManuela OliveiraCapaFotografia-Pedro MoreiraCapaDesign Pedro Moreira/Nina NedelykofRevisãoMariana Oliveira

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2011, São Paulo, SPImpresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser

criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

M838cMoreira, Ivette Gomes Em espirais / Ivette Gomes Moreira. -- São Paulo: Livronovo, 2011.

184 p.; 21 cmISBN 978-85-8068-073-7Inclui Bibliografia

1. Contos - Sentimentos - Amor. 2. Poética. I. Título.

CDD –B869.1

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores, ilustradores, reviso res, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você.

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Sumário

APrESENTAçãO .....................................................................7

DEDICATórIA .........................................................................9

A LArEIrA...............................................................................11

A GESTANTE FrANCESA .....................................................17

PArA SEMPrE ........................................................................23

NO CrEO EN FANTASMAS .................................................35

C A B A r É ..............................................................................41

O DENTISTA ..........................................................................48

O TESTAMENTO ...................................................................54

DANOS E PErDAS .................................................................62

A GUErrA DO AMOr ..........................................................69

SEU FEZINHA ........................................................................82

EPITÁFIO .................................................................................88

O ESPELHO DE DOIS LADOS .............................................90

O DESTINO NAS CArTAS ....................................................98

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CONFETES E SErPENTINAS.............................................108

O PESCADOr E O SUrFISTA ............................................112

rETrATOS PINTADOS .......................................................117

VELórIO ON-LINE .............................................................123

AFINAL É PrIMAVErA .......................................................129

SONATA .................................................................................134

COMO SABEr SE O AMOr CHEGOU? ............................136

A MENINA E O PrISIONEIrO ..........................................146

O BrACELETE DE OUrO ..................................................154

JOGO DE AZAr ....................................................................159

A M U D A..............................................................................164

TrISTE FIM DE UMA SErENATA .....................................170

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ApreSentAção

Ivette Gomes Moreira percorreu um longo caminho antes de chegar ao livro EM ESPIrAIS - Um livro de Contos. Teve uma forma-ção escolar irregular, cursando inclusive o antigo Curso de Madureza.

Posteriormente cursou Pedagogia e deixou sua carreira pro-fissional de Secretária para se tornar Professora, mister em que se aposentou. Desde que se alfabetizou tomou o gosto pela leitura e ao longo de sua vida pessoal foi uma leitora ávida, lendo autores de renome, nacionais ou estrangeiros, clássicos dos mais diferentes perí-odos e escolas, histórias em quadrinhos, romances de juventude, etc.

Em 1976 escreveu seu primeiro conto – A Lareira. Por motivos que ela mesma desconhece não voltou a escrever. Tudo indicava que seria autora de um único texto. Em 2007, incentivada por seu filho, tomou conhecimento do site www. saopaulominhacidade.com.br, da Secretaria de Turismo da Prefeitura de São Paulo, onde as pessoas escrevem suas memórias e vivências com a cidade. Assim, ela voltou a escrever, agora, suas memórias e sua relação com a cidade.

Em 2008, o site literário do escritor e jornalista maranhense Carlos Alberto Lima Coelho, www.limacoelho.jor.br, publicou uma

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dessas memórias de sua autoria, o que a levou a confirmar o poder desta nova ferramenta de divulgação da literatura. Passou a escrever sistematicamente crônicas, que o site publicava e os leitores comen-tavam de forma favorável, o que a incentivou publicar o conto “A Lareira”, como um teste, para saber que reação provocaria. A reação positiva levou-a, desde então, a escrever crônicas e contos, que tem sido publicadas no site, com boa aceitação dos leitores. Em maio de 2011 teve sua crônica “ O amor está sempre no ar” publicada pela revista TUDO, de circulação regional.

No livro Em Espirais - Um livro de contos são apresentados contos diversos que focalizam temas e situações diferentes, escritos com beleza, sensibilidade, criatividade, imaginação e humor frequen-te. O livro é fruto dos anos de seu interesse pela literatura e atenta observação do cotidiano,como é o caso do conto “O Pescador e o Surfista”, que retrata passagens da vida de seu saudoso pai.

Como esposo e companheiro, há quase 50 anos, sou suspeito para elogiar mais este texto, mas não tenho dúvida em dizer que é uma legítima expressão de “talento da maturidade”, de alguém que sempre cultivou o gosto pelas letras, em suas muitas variantes.

Aos leitores, manifesto meus cumprimentos pelo interesse em Em Espirais - Um livro de contos e lhes auguro bom proveito em sua leitura.

roberto Moreira

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DeDicAtóriA

Para

Roberto Moreira (meu marido)

Pedro Eduardo (meu filho)

Luciana e Roberta (minhas filhas)

Daniel, Pedro e Marcos (meus netos)

Isabella e Marcia (minhas netas)

Nina ( minha nora)

Marcelo (meu genro)

A todos, meu imenso amor

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A LAreirA

Este foi o meu primeiro conto, escrito em 1º de outubro de 1976. Somente voltei a escrever no final de 2007 e desde então tenho feito da literatura o meu prazer.

É engraçado como as pessoas metem coisas na cabeça que às vezes não fazem nenhum sentido. E, no entanto, uma força interna as obriga a lutar por elas. Acho que isto acontece com todas as pessoas e não deixou de acontecer comigo também.

Penso nessas coisas sentada aqui, ao pé de minha lareira, olhando os pequenos troncos de lenha, cortadinhos todos do mesmo tamanho, iguaizinhos – por que será que as pessoas perdem tanto tempo com coisas inúteis? Por que estes pedaços de lenha cortados tão iguaizinhos? Que desperdício de tempo quando ele é tão pouco, tão precioso e nos escorrega pelas mãos sem que o percebamos.

Acho que o pintor espanhol, Salvador Dali, tinha muita preo-cupação com o tempo. Em muitas de suas obras o tempo se apresenta na figura de um relógio, às vezes mais de um, e algumas vezes até se

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desfazendo, derretendo. Contudo, estes troncos crepitam um fogo vermelho alaranjado – que imagem bonita é esta –, crepitam fagu-lhas, amornando o ar que está tão frio lá fora e aqui dentro também. Será que está mesmo tão frio? Sempre sinto muito, muito frio! Será a solidão? Será a tristeza?

Sonhei tanto! Lutei tanto para ter esta lareira! Uma coisa tão simples, tão boba! Acho que é porque eu pressentia que precisaria muito dela, um dia sentiria muito frio. Thomaz sempre se riu de minha obsessão em possuir uma lareira. Quando estávamos para casar e fazíamos nossos projetos, eu lhe dizia que o meu sonho era ter uma lareira na sala de estar. Sempre achei tão bonito os postais de Natal em que se vê uma lareira e junto dela a árvore de Natal, as meias vermelhas e compridas dependuradas, à espera dos presentes.

Ele então me dizia que estes cartões mostravam os Natais eu-ropeus; que os nossos Natais são tão quentes que a lareira não fazia o menor sentido. Em seguida, abraçava-me com ternura e dizia: “meu amor a aquecerá sempre e você não precisará nunca de uma lareira”.

Dois anos depois de casados nasceu Flávio, nosso primeiro filho, e apesar de todo o calor que o amor de Thomaz me proporcio-nava desejei ardentemente embalar meu filho junto a uma lareira. Thomaz trabalhava incansavelmente para nos dar todo conforto, ao mesmo tempo em que nos dava seu imenso amor. Amamo-nos sempre com loucura, o que não impedia que brigássemos e discutíssemos; no momento em que fazíamos as pazes eu pensava em como seria bom ter uma lareira, e ao pé dela nos reconciliarmos.

Com grande alegria víamos nossos filhos crescerem fortes, alegres, barulhentos e aconchegados em nosso carinho e dedicação.

Thomaz comprou um terreno e mandou projetar nossa futura residência. Chegou uma tarde trazendo a planta embaixo do braço e sorria alegre, seu sorriso ao mesmo tempo tímido, meigo e por vezes

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enigmático. Desenrolou solenemente a planta sobre a mesa de jantar e apontou o maior detalhe de nossa casa: a minha lareira!

Dei pulos de alegria, abracei-o e beijei-o mil vezes, como uma criança que acaba de ganhar um presente tão longamente cobiçado na vitrine.

Meus filhos também pularam de contentamento, pois de tanto me ouvirem falar na lareira, tinham em suas cabecinhas a ideia de que casa sem lareira era como uma casa sem telhado.

Levamos quase três anos construindo nossa casa com imen-sos sacrifícios, já que nossos recursos não eram muitos. Pusemos nessa tarefa um grande esforço e um imenso carinho. Não tive-mos pressa porque queríamos entrar nela completamente pronta, inclusive decorada.

Finalmente chegou o grande dia, tão ansiosamente esperado! Thomaz quis fazer toda a mudança sem que eu participasse dela, porque desejava que eu entrasse na casa quando tudo já estivesse nos seus lugares: “Você fará as modificações que desejar”, disse-me, deixando-me à vontade para arrumá-la a meu bel-prazer, mas naquele momento ele também queria viver um momento especial.

Durante os preparativos para a mudança eu podia apenas presenciar aquela movimentação característica – gente empacotando minhas coisas e eu morrendo de medo que as quebrassem, gente car-regando móveis e eu com medo que os riscassem. Como eu era zelosa de minhas coisas, já que elas haviam sido compradas com carinho, aos poucos, sempre pensando na casa nova.

Por fim, Thomaz e as crianças se foram atrás do caminhão e eu permaneci, esperando que viessem me buscar.

Para passar o tempo fui varrendo a casa e enquanto a deixava em ordem para a entrega das chaves ao seu proprietário, ia também me lembrando das muitas noites em que nós quatro, debruçados sobre a planta da nova residência e dos muitos catálogos que Thomaz

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trazia, escolhíamos os acabamentos, os detalhes, os metais, as cores do interior e do exterior da casa e por fim os detalhes da decoração. Os meninos muitas vezes brigavam pelos detalhes de seus quartos: o que colocariam ou não, as roupas de cama, as colchas e tantas coisas.

E a lareira? Ah a lareira! Esta foi deixada inteiramente por minha conta para que eu pudesse realizar minha fantasia. Escolhi e “desescolhi”, como dizia o Alexandre, tantos materiais diferentes que o Thomas dizia que ela acabaria como uma obra do Gaudí.

Por fim, havia chegado o momento em que eu seria levada à nova casa por aqueles três cavalheiros, muito sérios e compenetrados.

Convidaram-me a entrar no carro cerimoniosamente. Levaram--me pelas ruas da cidade até chegarmos ao novo local, onde passarí-amos o resto de nossas vidas. Quando o carro estacionou em frente à casa pude perceber de imediato que estava tudo muito limpo e em ordem, e até o jardim, onde as novas mudas de árvores e flores já cresciam, acabara de ser regado.

Então os três se entreolharam com aquele olhar cúmplice dos que compartilham um grande segredo. Thomaz correu para a porta principal, abriu-a e os três perfilaram-se ante ela, fizeram uma solene reverência e convidaram-me a entrar, dizendo: “alteza!”

Entrei emocionada. Minhas pernas tremiam e meu coração parecia descompassado. De um relance pude perceber que pelo menos os móveis estavam colocados nos seus lugares, dando a impressão de tudo arrumado. E era mesmo só impressão já que nos dias que se sucederam precisei trabalhar bastante para recolocar tudo nos devidos lugares, mas lembro-me muito bem com que satisfação o fiz.

Mas a arrumação principal estava na lareira! Ah, a tão sonhada lareira!

Estava acesa e nela crepitava um fogo fraco, saindo de troncos muito bem ordenados. Sobre ela havia um vaso de cristal – este que ainda aí está – com um grande buquê de rosas amarelas, as minhas

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preferidas! Um pé de meia, vermelho e comprido, pendia da beirada e ostentava a pontinha de um cartão, que imediatamente peguei. Era um cartão de Natal, em que se via a gravura de uma lareira, tendo ao lado uma árvore de Natal e as tradicionais meias vermelhas cheias de presentes, nas quais pude ler: “Estamos felizes em poder oferecer-lhe este presente”.

Não pude conter uma exclamação de surpresa, de alegria, de prazer, de felicidade e sei lá quantos outros sentimentos. Abracei-os, abraçamo-nos e choramos de emoção. E nem era Natal! Era o mês de setembro.

Nos anos seguintes foram muitos os Natais em que tivemos uma árvore e meias vermelhas dependuradas na lareira. É claro que apagada, sem fogo, mas eu colocava um ninho de luzes dentro dela para dar a impressão de que estava acesa.

Tomando este chá quente que acabo de fazer, sentada em frente à lareira, ocorreu-me quantas vezes Thomaz e eu fizemos isto juntos, aqui, ao pé da lareira – nem sempre ao pé do fogo – trocando ideias sobre nossos filhos que cresciam e se transformavam de meninos em homens, diante de nossos olhares maravilhados.

Foi aqui que decidimos fazer o gosto de Flávio e deixá-lo seguir livremente a carreira que o apaixonava, de arqueólogo que, como su-púnhamos, não lhe dá muito dinheiro para viver com abastança, mas lhe dá as alegrias com as descobertas que faz ou das quais participa.

Naquele tempo ainda não havia sobre a minha lareira tantas pequenas coisas, como hoje as há. Flávio mandava-me, de início, a réplica dos muitos pequenos achados arqueológicos.

Aqui também, ao pé desta lareira,nos despedimos de Alexandre, quando partiu em viagem de estudos para especializar-se engenheiro naval. Ao pé desta lareira, Thomaz e eu choramos abraçados, quando recebemos o comunicado de que Alexandre havia morrido em um acidente nos estaleiros. Sobre a lareira ficou como sua lembrança o