Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos...

7

Transcript of Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos...

Page 1: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.
Page 2: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

Em Carne e Bronze

Page 3: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

parte l

Perfilam-se homens na orlaem tensa espera.Testas vincadas.Pequenos leques de rugas,em torno de olhos que espreitam,abrem igarapés na pele trigueira.

Os dorsos nus, salpicados de suor,temperam-se na água de rios e mares.No peito, o pulsar da vidaem carne e bronze.Ao calafrio das águas,brilham simultâneos olhos morenos.

Page 4: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

O boto aponta o céu- E a comunhão se dá:arredondadas redes sobem ao ar,em sincronia de corpo de baile,ensaiado de sol a sol.Encrespam-se as águas.

Redes estremecem, prenhes de sustento.Risadas ecoam no clarão da tarde.No cesto, o peixe.No riso, o canto.No olhar do pescador, o brilho de inconsciente gratidãoe reverência.

Page 5: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

Na outra margem,chapéus de palha coroam cabeças de irmãos de luta pelo pão do dia.

Parte II

Na pele, o mesmo bronze pulsante, cheirando a maresiaAos pés, cestos, inúteis,desde o amanhecer.

Page 6: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

Ouve-se, então, um convite estranho e solitário “-Boto, boto, boto,Vem comer farinha seca, boto!”Os sulcos nas águas mudam de direçãoe o bailado recomeça do outro lado...Outra vez o canto. De novo, o riso.

Cestos estremecem, plenos,prenunciando mesa farta.De um lado e outro, olhares agradecidos miram a velha barbatana dobrada, entre outras que a seguem,cortando a prata do rio,em linha reta, rumo ao mar.

Page 7: Em Carne e Bronze parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem.

Cestos estremecem, plenos,prenunciando mesa farta.De um lado e outro, olhares agradecidos miram a velha barbatana dobrada, entre outras que a seguem,cortando a prata do rio,em linha reta, rumo ao mar.

Mãos bronzeadas guardam para amanhão boleio das tarrafas. O dia fecha as cortinas... Rosane Freitas