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Em busca da conformidade entre o Modelo de
jogo do treinador e a performance da equipa em
Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de
Portugal
Nuno Alexandre Soares de Almeida
Porto, 2009
Em busca da conformidade entre o Modelo de
jogo do treinador e a performance da equipa em
Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de
Portugal
Monografia realizada no âmbito da disciplina
de Seminário do 5º ano da Licenciatura em
Desporto e Educação Física, na opção de
Futebol, na Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto
Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva
Autor: Nuno Alexandre Soares de Almeida
Porto, 2009
Almeida, N. (2009). Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do
treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting
Clube de Portugal. Porto: N. Almeida. Dissertação de Licenciatura apresentada à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-Chave: FUTEBOL; MODELO DE JOGO; PRINCÍPIOS DE JOGO; SISTEMA DE
JOGO; ESPECIFICIDADE.
V
Dedicatória
Sucesso, reconhecimento, fama, glória, … Muitos de nós lutamos por motivos assim.
Mas não se constrói um bom nome da noite para o dia. É preciso trabalhar muito. Ainda que haja
tropeções e quedas, é necessário superar obstáculos. É preciso ter motivação, perseverar,
insistir, … A vida é uma sucessão de batalhas. Emprego, família, amigos: todos nós temos um
status actual. “Todo o que fazemos na vida, ecoa na eternidade.” E temos também expectativas
em relação ao futuro. “Em três semanas estarei a fazer a minha colheita. Imaginem onde
estarão, e assim será.” No entanto, as reviravoltas do destino surpreendem-nos. “A grandeza é
uma visão.” Nem sempre dá para se fazer só o que gostamos. Mas aquele que gosta do que faz,
sente orgulho em fazer melhor. A cada dia vai mais longe. Há momentos de acalmaria e há
momentos agitados, decisivos, em que a boa intenção não basta. É nesses momentos que a
vida nos cobra coragem, arrojo, criatividade e um inabalável espírito de luta. A verdade é que os
problemas e reveses ocorrem com maior frequência do que gostaríamos. Os tempos mudam,
surgem desafios e novos objectivos. Os guerreiros olham nos olhos do futuro sem medo e sem
arrogância mas com confiança de quem está pronto para o combate. Viver é também estar
preparado para situações difíceis. O modo como encaramos as dificuldades é que faz a
diferença. Às vezes perguntamos: como enfrentar as mudanças radicais que se apresentam
diante de nós? Como actuar num novo cenário, onde as coisas que fazíamos tão bem precisam
ser reaprendidas? Como lutar sem deixar para trás valores fundamentais? E mais: como saber a
medida exacta a ser tomada no momento exacto? O incrível é que justamente diante de
situações adversas, muitos redescobrem o que tem de melhor. A ética, a amizade, a capacidade
de criar novas estratégias fundamentadas na experiência e o talento para promover alianças
positivas. O espírito de liderança, a consciência da força que reside no verdadeiro trabalho em
equipa. Tudo isto aflora quando as circunstâncias exigem, quando se sabe que existe um
objectivo maior a ser alcançado. Claro que não é fácil abandonar, hábitos, costumes, … Não é
fácil adaptar-se a novos ambientes, ou usar recursos com os quais não estávamos
familiarizados. Mas todo o guerreiro sabe que o pessimismo e a insegurança nessa hora só
atrapalham. Ainda que ameaça venha de vários lados, com agilidade, força e determinação,
podemos alcançar o resultado. A combinação de energia e inteligência, assim como o equilíbrio
entre a razão e a emoção são fundamentais para o sucesso. É uma sensação extremamente
agradável chegar ao fim de uma etapa com consciência do dever cumprido. E obter a
consagração, o respeito de todos, o reconhecimento de dos colegas, a admiração das pessoas
que amamos, … Ouvir o próprio nome com orgulho. Aquele orgulho de quem viu nos obstáculos
VI
a oportunidade de crescer. O orgulho de quem soube enfrentar as turbulências da vida e
vencer… O orgulho de ser um vencedor que não abriu mão dos seus valores fundamentais.
Para todos aqueles que participaram e participam activamente na minha vida, o MEU
SÍNCERO E PROFUNDO OBRIGADO por tudo o que me tem proporcionado ao longo de todo
este curto momento que é a nossa vida. Como nunca é demais agradecer tudo o que esta vida
me tem proporcionado através das pessoas maravilhosas que por mim tem pensado e por
processo de osmose tem penetrado no meu SER, só as seguintes palavras podem demonstrar
tudo o que eu sou e tem construído ao longo desta vida, ou seja:
Em cada minuto, uma escolha,
Em cada escolha, um resultado,
Em cada resultado, uma experiência
Experimentar é viver.
No emaranhado das sensações, o
Reconhecimento do poder de criar
Nossas próprias vivências, nos limites
Das leis da vida.
Para uns é um jogo, para outros é
Carregar a espada da luta no fio do destino.
Zíbia M. Gasparetto
VII
VIII
IX
Agradecimentos
Num momento em que termina uma etapa importante da minha formação pessoal e
profissional, existem várias pessoas às quais tenho de prestar o meu reconhecimento pelo papel
que têm assumido na minha vida:
Aos meus Pais, Armando Almeida e Adília Soares, pela perfeição com que têm
executado todo este percurso a meu lado, sendo que o amor, a dedicação, o respeito e a
compreensão funcionam como equilíbrio e harmonia desta tríade, a qual tem o seu ponto alto
com o brilhar do olhar destes dois progenitores.
À minha Madrinha, Maria do Carmo, por fazer-me sentir um sobrinho e afilhado amado
como de um filho se tratasse, agradecendo-lhe pelos pequenos grandes gestos que comigo tem
e pela enorme sintonia que nos acompanha.
Aos meus queridos amigos, Anabela Dias e Senhor Góis, pela extrema sensibilidade que
vos acompanha e vos torna o espelho da minha alma quando fixamos os nossos olhares,
fazendo sentir o fio condutor que liga a terra e o céu. Questiono-me muitas vezes porque razão
fazem parte da minha vida mas mais do que me questionar, só tenho de agradecer a quem vos
enviou.
Ao Zé Manel e Ana Soares, dois expoentes máximos de singularidade, amizade,
solidariedade, genuinidade, inteligência, coerência e conhecimento profundo, os quais aguçam a
minha essência enquanto Ser Humano ao longo de todo este percurso que vamos cumprindo
juntos. Mais próximos ou mais distantes, a realidade é que o nosso pensamento está sempre
interconectado.
Ao meu avô, Joaquim Soares, aos meus tios e primos, o meu obrigado por me verem
como um exemplo de dedicação, perseverança, coragem e atitude perante a vida e pelo
percurso escolhido por mim, fazendo-me sentir, através do vosso olhar, a confiança e o desejo
que eu alcance tudo o que pretendo, uma vez que será o prolongamento de todos aqueles que
convosco contribuem para este sucesso colectivo.
À Família Gonçalves, Tia Gininha, Tio Toninho, Belocas, Rutocas e Madalena, por
serem o meu grande exemplo de equilíbrio, harmonia, compreensão, dedicação, talento e
inteligência emocional, as quais foi absorvendo de forma atento e reflexiva ao longo de todos os
momentos felizes que temos vivido.
Ao Capu, Maia, Barão, PP, Violas, Tó Zé, Serginho, Mizuno, Pinhel, Isa e Biscoito, o
meu obrigado por todos os momentos de elevado prazer, satisfação, compreensão, desfrute ao
X
longo destes cinco anos do nosso curso, nunca esquecendo a grande paixão e loucura que nos
une, ou seja, o fenómeno Futebol.
Ao Professor Marco Bastos, pelo fabuloso ano de Estágio Pedagógico que me
proporcionou, tornando-me num profissional mas, acima de tudo, numa pessoa com mais
qualidade e capacidade, fazendo-me compreender com enorme profundidade a ligação da
dimensão profissional com a dimensão humana. Todo o sucesso que alcançámos juntos, foi fruto
da liberdade de agir sem agir livremente que me concedeu.
Aos Professores da Faculdade de Desporto, José Soares, Olímpio Bento, Vítor Frade,
José Guilherme, André Seabra, Susana Soares, Manuel Botelho, Olga Vasconcelos, Teresa
Lacerda, António Cunha, Ramiro Rolim, José António Silva, António Marques, André Barreiros,
António Fonseca, Rui Garganta, José Maia, Ana Luísa e Rui Garganta, por me terem tornado no
profissional que hoje sou, fruto da compreensão em reflexão de todos os conteúdos por vós
transmitidos mas, principalmente, por compreender que mais do que professores, em primeiro
lugar são pessoas.
Aos funcionários do bar, Sr. Jorge, Menina Carla, Menina Teresa e Meninas Manuelas,
pelo bem servir, pelo bem receber, pelo bem-estar e pelo sorriso com que sempre me
receberam, existindo mais do que uma troca de serviços, ou seja, uma troca de emoções.
Ao Professor Júlio Garganta, por ter a capacidade de transformar todos os momentos de
conversar e troca de experiências, em autênticas formações de enriquecimentos pessoal e
profissional, tendo a invariável qualidade de saber conduzir, alinhar e respeitar o modo como
cada um executa os projectos a que se destina.
Ao Paulo Bento, Ricardo Peres, João Aroso, Sr. Aurélio Pereira, Pedro Marques e Pedro
Barbosa, pela experiência única e memorável que me proporcionaram ao longo de oito longos e
exaustivos dias passados na Academia de Alcochete.
Ao Paulo Bento, pela confiança depositada em mim ao contribuir neste trabalho de forma
tão exemplar, cordial e racional, não demonstrando qualquer receio em exprimir todos os
conhecimentos que possui mas, acima de tudo, as ideias que possui e pelas quais se rege,
revelando ser mais do que uma Valioso Profissional, ou seja, um Grande Ser Humano.
Ao Ricardo Peres, pela força, coragem e crédito que demonstrou possuir ao conceder
esta oportunidade a quatro jovens estudantes e apaixonados pelo fenómeno Futebol, permitindo-
nos entrar no seu mundo pessoal.
Ao Pedro Marques, um dos responsáveis pelo Scouting do Sporting, o meu muito
obrigado pelo facto de semanalmente me enviar os jogos do Sporting Clube de Portugal, fazendo
com que o meu trabalho atingisse uma dimensão que nem eu próprio expectava.
XI
A vocês e a todos aqueles que não estão aqui mas cuja importância é por mim
reconhecida, um MUITO OBRIGADO!
XII
XIII
Índice Geral Dedicatória V
Agradecimentos IX
Índice Geral XIII
Índice de Figuras XVII
Índice de Anexos XXI
Lista de Abreviaturas XXIII
Resumo XXVII
Abstract XXIX
Résumé XXXI
1. Introdução 1
2. Revisão de Literatura 9
2.1. O Método como construção de uma Cultura de referência 9
2.2. Modelo de Jogo: A Teoria que vê o seu Sentido na Prática 14
2.2.1. Das ideias à profundidade das imagens em si contidas, vivenciadas
na realidade que é o jogo! 17
2.3. O papel do Modelo de Jogo … 21
2.3.1. … na tomada de decisão do Treinador 21
2.3.2. … na intervenção do Treinador na construção do processo. 23
2.4. O papel do Modelo de Jogo na tomada de decisão dos Jogadores 26
2.4.1. A Cultura da equipa que se verifica no entendimento e interpretação
comum do jogo 28
2.4.2. Da Cultura da Percepção à Cultura Comportamental 32
2.5. A Inteligência de Jogo que se vê na interpretação Táctica 36
3. Metodologia 43
3.1. Metodologia de Pesquisa 43
3.2. Caracterização da Amostra 43
3.3. Procedimentos Metodológicos 44
3.3.1. Recolha dos Dados 44
3.3.2. Instrumento 44
3.4. Descrição do Instrumento 46
XIV
3.4.1. Conceptualização e Explicitação das variáveis em observação 46
4. Análise e Discussão do Conteúdo da Entrevista 66
4.1. Análise da Entrevista a Paulo Bento 66
4.1.1. Motivação para o exercício da profissão 66
4.1.2. Modelo de Jogo a partir da concepção do treinador 71
4.1.2.1. Relações e congruências entre o pretendido e o sucedido 95
4.1.3. Organização posta em prática 114
5. Conclusão 129
6. Sugestões para o futuro 135
7. Bibliografia 137
8. Anexos 147
XV
XVI
XVII
Índice de Figuras
Figura 1. Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de Futebol 54
Figura 1.1. A Transição-Estado Ataque/Defesa no modelo de organização da dinâmica
do jogo de Futebol da presente investigação 56
Figura 1.2. Campograma da Espacialização do terreno de jogo em doze zonas/categorias 58
Figura 1.3. A Transição-Estado Defesa/Ataque no modelo de organização da dinâmica
do jogo de Futebol da presente investigação 60
Figura 2. Sistema de Jogo Base do Sporting Clube de Portugal (Época 2008-2009) 88
Figura 3. Percurso da Equipa em termos Quantitativos 96
Figura 4. Alteração na constituição da Equipa 97
Figura 5. Sistemas Utilizados nas várias jornadas 97
Figura 6. Desenvolvimento da Posse de Bola 99
Figura 7. Zonas de Perda da Posse de Bola 101
Figura 8. Métodos de Jogo Ofensivo 102
Figura 9. Golos Obtidos e respectivos Métodos de Jogo Ofensivo 103
Figura 10. Final da Organização Ofensiva com Eficácia 104
Figura 11. Relação entre os Remates Fora mais os Remates Contra-adversário
versus os Remates Dentro mais os Remates com obtenção de Golo 105
Figura 12. Final da Organização Ofensiva sem Eficácia 106
Figura 13. Zonas de Perda da Posse de Bola 107
Figura 14. Zonas de Recuperação da Posse de Bola 107
Figura 15. Relação entre a Pressão Imediata e a Temporização 109
XVIII
Figura 16. Número de Jogadores na Zona de Perda da Posse de Bola 110
Figura 17. Número de Jogadores na Zona de Pressão sobre a bola 110
Figura 18. Número de Jogadores deliberadamente em Organização Defensiva 112
Figura 19. Meios utilizados para o Início da Transição Defesa-Ataque / Recuperação
da Posse de Bola 113
Figura 20. – Meios utilizados para o Desenvolvimento da Transição Defesa-Ataque 114
Figura 21. A reentrada da informação como chave da coerência (Edelman,
2008, LES DOSSIERS DE La Recherche) 120
XIX
XX
XXI
Índice de Anexos
Anexo 1 – Entrevista a Paulo Bento I
Anexo 2 – Folha de Registos dos Jogos Observados XXV
Anexo 3 – Jogos Observados e respectivos resultados XXVIII
XXII
XXIII
Lista de Abreviaturas
DTEDA – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque
DTEDApc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe curto
DTEDApl – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe longo
DTEDAcd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por condução
DTEDArc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por recepção/controle
DTEDAd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por drible
DTEDAdu – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por duelo
DTEDAgr – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque pelo guarda-redes
FOOf – Final da Organização Ofensiva
FOOfrf – Final da Organização Ofensiva por remate fora
FOOfrd – Final da Organização Ofensiva por remate dentro
FOOfrad – Final da Organização Ofensiva por remate contra o adversário
FOOfgl – Final da Organização Ofensiva por golo
FOOfof – Atingir o terço ofensivo de forma controlada
FOOfbad – Recuperação da Posse de Bola pelo Adversário
ITEAD – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa
ITEADime – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa por pressão imediata
ITEADprpb – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de jogadores que se
encontram na zona perda da posse de bola
ITEADpress – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de jogadores na
zona de pressão
ITEADtemp – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa executando a temporização
XXIV
ITEDA – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque
ITEDAi – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por intercepção
ITEDAd – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por desarme
ITEDAgr – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por acção do guarda-redes
ITEDAp – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque seguida de passe
OD – Organização Defensiva
ODnj – Número de Jogadores em Organização Defensiva
OOf – Organização Ofensiva
OOfpc – Organização Ofensiva por passe curto
OOfpl – Organização Ofensiva por passe longo
OOfcd – Organização Ofensiva por condução
OOfrc – Organização Ofensiva por recepção/controle
OOfd – Organização Ofensiva por drible
OOfdu – Organização Ofensiva por duelo
OOfgr – Organização Ofensiva pelo guarda-redes
OOfca – Método de Jogo Ofensivo por Contra-Ataque
OOfar – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Rápido
OOfap – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Posicional
SD – Sector Defensivo
SMD – Sector Médio-Defensivo
SMO – Sector Médio-Ofensivo
SO – Sector Ofensivo
ZITEAD – Zona de Perda da Posse de Bola / Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa
XXV
ZITEDA – Zona de Recuperação da Posse de Bola / Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque
XXVI
XXVII
Resumo
No Futebol, o processo de construção de um jogar de referência, revela-se um projecto
de elevada complexidade, uma vez que decorre de uma íntima relação entre os conhecimentos
multidisciplinares e a concepção de jogo do treinador, a cultura do Clube que representa e as
competências de compreensão e execução por parte dos jogadores. O modelo de referência
preconizado pelo treinador, existe para promover a aquisição de intenções comportamentais de
um determinado modo de jogar, a relação entre as ideias e a forma de as operacionalizar,
incluindo um conjunto de princípios de acção que sejam Específicos desse mesmo processo.
Para o presente estudo foram delineados os seguintes objectivos: (1) Aferir a influência
que as experiências do entrevistado foram tendo ao longo da sua formação desportiva, na
construção de uma visão sobre o jogo de Futebol, sobre o Modelo de Referências e sobre a
operacionalização desse modelo em treino; (2) Definir, caracterizar e saber construir um Modelo
de Jogo, verificando qual a sua lógica de concepção para posterior operacionalização; (3)
Estudar e definir um Modelo de Jogo Específico, tendo conhecimento das ideias mestras que o
Treinador da Equipa em estudo preconiza para a mesma, compreendendo a interacção entre as
ideias expressas pelo Modelo do Jogo como também, o modo como o mesmo pode evoluir; (4)
Verificar as relações e congruências entre o pretendido e o decorrido, constatando a interacção
entre o defendido e preconizado pelo Treinador e o realizado pelos jogadores, manifestando-se a
interpretação do Modelo de Jogo (os grandes princípios tácticos da equipa), nos vários
momentos do jogo, tendo em conta os jogos observados e analisados.
Na obtenção destes objectivos, procedemos a uma entrevista ao treinador do Sporting
Clube Portugal, Paulo Bento, analisando posteriormente oito jogos da mesma equipa.
Após a análise e discussão da entrevista e da observação dos jogos da equipa em
estudo, foi possível extrair algumas conclusões, das quais se destacam as seguintes: ter sido
jogador profissional, não é uma condição essencial para se ser treinador; contudo, ter vivenciado
um elevado número de experiências como jogador, revela-se uma vantagem substancial na
construção do significado pessoal; o Modelo de Jogo é a projecção de duas culturas, a do
treinador e a do Clube, em Especificidade, numa íntima relação entre a concepção e
operacionalização do mesmo; a dinâmica do competir manifesta-se parte integrante da dinâmica
do treinar, sendo que os princípios comportamentais demonstrados pela Equipa em jogo,
revelam a coerência, congruência e cumplicidade entre o pretendido e o ocorrido.
Palavras-Chave: FUTEBOL; MODELO DE JOGO; PRINCÍPIOS DE JOGO; SISTEMA DE
JOGO; ESPECIFICIDADE.
XXVIII
XXIX
Abstract
Building a Game Conception in Soccer is a complex assignment, since it holds a straight
connexion, between the multidisciplinary knowledge and the game thought of the coach, the
culture of the club and the players knowledge and competences to perform. The reference model
defined by the coach, must guide the right achievement of behaviours regarding game principles
according a specific playing style. So, it is plausible to wait a straight relationship between the
ideas of the coach and the way to make it factual to the players and the team.
According to these evidences, the present study aims: (1) To check the influence of the
experiences that our interviewed had in his sport context during these years, in constructing the
vision of a Football game by a Model of References and by the materialization of this Model in
training sessions; (2) To define, to characterize and to be able to build a Model of Game, verifying
its logic of conception for future enbodiment; (3) To study and to define a Specific Game Model
having knowledge of the leading ideas that the trainer of the team in study outlines for it,
understanding the interaction between the ideas expressed by the Model of Game as well as the
way it can perform evolutions; (4) To verify the relationship and congruences between what was
intended to and what really happened , ascertaining the interaction between the defended and
the defined by the trainer and the realized by the players, showed the interpretation of the Model
of Game (the biggest tactics principles of game), in the many moments of it having in
consideration the games observed and analyzed.
To reach these goals, we have done an interview to the Soccer Coach of Sporting Club
de Portugal, Paulo Bento, and analyzing, later, eight games of this team.
After the analysis and discussion of the interviews, we highlight the following conclusions: have
been a professional player, is not a prerequisite to be a coach; however, have experienced a high
number of experiences as a player, it is a substantial advantage in the construction of personal
meaning; the Game Model is the projection of two cultures, the coach and the Club, Specificity in
an intimate relationship between the design and operation of same; the dynamics of the compete
manifests itself part of the dynamics of the train, and the behavioral principles demonstrated by
the team in the game, show consistency, congruence and complicity between the desired and the
actual facts.
Key Words: SOCCER; GAME MODEL; PRINCIPLES OF GAME; GAME SYSTEM;
SPECIFICITY.
XXX
XXXI
Resumé
Dans le foot, le processus de construction d’une technique de jeu spéciale se révèle un
projet de grande complexité, une fois qu’il possède une liaison profonde entre les connaissances
multidisciplinaires et la conception de jeu de l’entraîneur, la culture du Club qu’il représente et la
compréhension d’exécution du côté des joueurs. En considérant le modèle de référence
préconisé par l’entraîneur, celui-ci existe pour mettre en train l’acquisition d’intentions de
comportement d’une certaine technique, le rapport entre les idées et la forme de les accomplir, y
compris un ensemble de principes d’action spécifiques de ce même processus.
D’après tout ce qu’on a dit, on présente les objectifs suivants: (1) Déterminer l’influence
des expériences de l’interviewé tout au long da sa formation sportive vis-à-vis la construction du
match sur le Modèle de Références et encore sur l’accomplissement de ce modèle en
entraînement; (2) Définir, caractériser et savoir construire un Modèle de Jeu, vérifiant toujours sa
logique de conception pour opérationnaliser après; (3) Étudier et définir sur un Modèle de Jeu
Spécifique, en tenant compte de la connaissance des idées principales que l’entraîneur de
l’équipe en étude préconise pour la même, en comprenant l’interaction parmi les idées exprimés
par le modèle de jeu ainsi que, la manière comment il peut être développé; (4) Vérifier les
rapports et les convenances entre le prétendu et le fait, en observant l’interaction entre le
soutenu et déterminé par l’ entraîneur et celui pratiqué par les joueurs, en manifestant
l’interprétation du Modèle de jeu (les grands principes tactiques de l’équipe), dans les plusieurs
moments du jeu, en tenant compte les jeux observés et analysés.
Pour obtenir ces objectifs, on a réalisé une interview à l’entraîneur du Sporting Clube de
Portugal, Paulo Bento, et analysé, ensuite, huit jeux de la même équipe.
Après l’analyse et discussion de l’interview et de l’observation des jeux de l’équipe en étude, on a
eu la possibilité d’obtenir certaines conclusions, dont on détache les suivantes: avoir été un
joueur professionnel, n'est pas une condition sine qua non pour être un coach; cependant, ont
connu un nombre élevé d'expériences en tant que joueur, c'est un avantage substantiel dans la
construction de la signification personnelle; le Modèle du Jeu est la projection de deux cultures,
l'entraîneur et le club, spécificité dans une relation intime entre la conception et l'exploitation de
même, la dynamique de la race se manifeste lui-même partie de la dynamique du train, et les
principes de comportement démontré par l'équipe dans le jeu, preuve de cohérence, congruence
et de complicité entre le désiré et la réalité des faits.
Mots – Clés : FOOT; MODÈLE DE JEU; PRINCIPES DE JEU; SYSTÈME DE JEU;
SPÉCIFICITÉ.
XXXII
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 1
1. Introdução
“O mundo é inseparável do sujeito, mas de um sujeito que se limita a ser um projecto de mundo, e o sujeito é
inseparável do mundo, mas de um mundo que é projectado pelo próprio sujeito.”
Merleau-Ponty (1999:430)
Com o decorrer destes cincos anos da Licenciatura de Desporto, muitas foram as
experiências vividas, muitas aulas assistidas e respectivos conteúdos discutidos, muitos
congressos, colóquios, artigos lidos e trabalhos realizados. Por intermédio de todos eles e tendo
em conta toda a minha experiência anterior, fui-me apercebendo em constante reflexão e
compreensão, que o fenómeno Futebol carece de argumentação, de sustentabilidade, de
coerência, de metodologias alicerçadas em bases seguras que lhe confiram uma credibilidade
crescente, permitindo que o mesmo não seja aplaudido pelas massas, somente pelo espectáculo
que promove mas que seja admirado pela complexidade, profissionalismo, inteligência, emoção,
qualidade e objectividade com que o Futebol imana mas que poucos vêem e aplicam.
Deste modo, o transformar uma visão em acção, o projectar de um futuro a que se
aspira, faz com que os lideres de uma determinada equipa, aproveitem todas oportunidades para
mostrar em que consiste a sua visão, a sua filosofia, quais os sentimentos que esta pode
provocar e como é que os elementos impulsionadores da mesma podem vivê-la tanto hoje como
no futuro.
Para tal, utilizam-se a si próprios como instrumentos de descoberta e de mudança,
mantendo relações de proximidade com o processo e organização onde estão inseridos, não
afrouxando esforços para atingirem os seus objectivos. Apela-se a que todos os elementos
dessa organização vivam de acordo com os seus próprios valores e com os da primeira,
transformando as estruturas organizacionais e as funções da equipa, mudando normas de
relacionamento emergentes, remodelando sistemas e as expectativas de desempenho de acordo
com a visão da organização preconizada pelo líder, ajustando cada vez melhor as tarefas
individuais à missão da organização.
De acordo com Merleau-Ponty (1999), devemos "reconhecer a consciência como
projecto do mundo que ela não abarca nem possui, mas em direcção ao qual ela não cessa de
se dirigir", uma vez que “a intenção tem uma relação causal com o emprego de uma
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 2
determinada expressão e constitui aquilo que confere significado ao uso dessa expressão. Falar,
comunicar, é, portanto, uma forma de agir racional e intencionalmente” (Soares, 2005).
Como tal, no fenómeno Futebol, exacerba-se a urgência na compreensão do mesmo
como um meio complexo e com um potencial de crescimento que poucos percepcionam e o
sufocam, sendo crucial que o modelo de mundo que cada um dos treinadores em si encerra,
possua a capacidade de atribuir maior grandeza a um fenómeno que necessita ser pensado,
construído e vivido de foram séria e credível.
Assim, Saussure (1909, cit. por Belo, 1991:29/30) afirma que “a cada uma das coisas
que considerámos como uma verdade, chegámos por tantas vias diferentes que confessámos
não saber qual a que se deve preferir. Seria necessário, para apresentar convenientemente o
conjunto das nossas proposições, adoptar um ponto de vista fixo e bem definido”, ou seja, o
Modelo de Jogo.
De tal forma que, para o mesmo autor (1954, cit. por Belo, 1991:30) “o laço que se
estabelece entre as coisas pré-existe, neste domínio (Modelo de Jogo), às próprias coisas, e
serve para as determinar”, sendo que “só se pode atribuir crenças, desejos ou intenções a uma
criatura capaz de usar uma linguagem, um modelo de expressão, um modelo de significado,
através do qual se institui uma cultura de percepção, de compreensão”, de todo o grupo de
trabalho, alicerçado e sustentado pelos mesmos objectivos (Soares, 2005).
No que concerne ao Modelo de Jogo, este funciona como a via de acesso de referência
para a construção do processo, sendo a linguagem que o mesmo preconiza na esfera das ideias,
filosofia e visão, a ponte entre o pensamento e o mundo, permitindo-nos interligar esse plano
mediador com um modo de perceber e pensar que a linguagem põe em marcha, a constituição
de uma Cultura Específica, de uma Linguagem Própria e Identificadora de determinada equipa.
Por intermédio do supracitado, a compreensão em construção do Modelo de Jogo,
revela a sua importância ao estar alicerçado a um axioma fundamental, o qual nos demonstra
que a única via para análise do pensamento passa pela análise da linguagem, sendo já essa
“fabricação” da linguagem, uma compreensão do pensamento ao qual esta subordinada toda a
visão/filosofia defendida e concebido pelo treinador dentro do Modelo de Jogo. Caracterizando o
mesmo não por ser apenas um evento que se dá no sujeito, ou algo que este faz instintivamente,
mas algo que revela um fim visado e está por isso direccionado para um objectivo. A acção do
Modelo, em sentido próprio, é uma actualização e condensação da racionalidade (Soares, 2005),
fazendo com que o mesmo seja “tanto mais rico, quanto mais criar possibilidades aos indivíduos
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 3
para poder acrescentar qualquer coisa às suas funções, mas nunca à revelia das suas funções”
(Frade, 2003).
Segundo esta lógica de percepção, podemos verificar que os acontecimentos mais
complexos, conduzem os seres humanos de excelência nas mais diversas áreas, à execução da
tarefas “aparentemente” simples, sendo dotados de uma extrema sensibilidade para algo que só
quem foi ou é estimulado para e na acção, possui a capacidade de reconhecer tais informações.
Mas, tudo isto acontece porque jogador “ é considerado como um manipulador de símbolos tal
como um computador: ambos usam símbolos e realizam operações baseadas nesses mesmos
símbolos” (Gibson, 1988).
De acordo com Frade (1985), “ a aprendizagem consiste, num sentido, em fazer
significar acontecimentos, em transformar o acontecimento-ruído em acontecimento-sinal, ou
mesmo em acontecimento-signo: o ruído é transformado pela aprendizagem em sinal”, tendo
toda a informação que se transmite, estar subordinada a uma sólida raiz de ideias, ao Modelo de
Jogo que pretendemos operacionalizar conjuntamente com os jogadores, para que a mesma
seja assimilada e acomodada por pelos impulsionadores do Modelo.
O Modelo de Jogo é uma Cultura do jogo e do treino que pretendemos para a nossa
organização, para a nossa equipa, e na procura de compreender as ideias do mesmo, Morin
(1987) refere que a “Cultura não é um mero suplemento de que usufruem as sociedades
humanas em contraste com as sociedades animais. É ela que institui as regras – normas que
organizam a sociedade e governam os comportamentos dos indivíduos; constitui o capital
colectivo dos conhecimentos adquiridos, dos saberes práticos apreendidos, das experiências
vividas, da memória histórico-mítica, da própria identidade de uma sociedade.”
Consubstanciada com a afirmação de Edgar Morin, Lourenço & Ilharco (2007) afirmam
que “ (...) a forma como os outros se vêem através de quem os rodeia, é um aspecto central do
processo de formação e desenvolvimento da identidade de cada um”, uma vez que a ênfase
dada ao indivíduo deve sempre ter um referencial colectivo.
A par do anterior, Frade (2004:XXVII) destaca que “não há treino mais individualizado ou
repercussões do treino mais individualizadas do que aquelas que permite a Periodização
Táctica. Porque a primeira preocupação que tem é eleger os princípios e os princípios são
levados a efeito pelos jogadores, os jogadores em determinadas posições e determinadas
funções. Portanto se são posições e funções diversas, embora complementares, o que se
repercute em cada uma dessas posições ou funções é diverso das demais portanto é
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 4
individualizado”, sendo que a sua diversidade é necessária à sua unidade e a sua unidade é
necessária à sua diversidade, uma vez que esta última ao ser exigida, mantida, criada e
desenvolvida na e pela unidade sistémica que é a Equipa, que por sua vez a potencia, faz com
que esta relação complexa convirja num processo em que a diversidade organiza a unidade que
organiza a diversidade.
Como prolongamento da ideia anterior, para Gomes (2006) o Modelo de Jogo é “ (...) a
Finalidade do sistema ou seja, o Modelo de Jogo confere um determinado Sentido ao
desenvolvimento do processo face a um conjunto de regularidades que se pretendem observar.
Deste modo, o modelo permite responder à questão: para onde vamos?” Para a mesma autora,
a questão anterior é “ fundamental para desenvolver um processo direccionado para um
determinado «jogar» ou seja, para um processo Intencional. A partir dele criam-se um conjunto
de referências que definem a organização da equipa e jogadores nos vários momentos do jogo.
Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos princípios
colectivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido, trata-se desenvolver um
jogar Específico e não um jogar qualquer”.
Evidenciando a importância deste Modelo de jogo, Vítor Frade (2004) afirma que o jogar
é uma organização construída pelo processo de treino, face a um futuro que se pretende atingir.
Deste modo, esclarece que o processo configura o jogo fazendo emergir determinadas
regularidades no comportamento da equipa e jogadores.
Reforçando esta lógica, Guilherme Oliveira (2006) refere que é através dos princípios do
modelo que se desenvolve a Organização colectiva e individual dos jogadores e que se expressa
num padrão de comportamentos que o treinador objectiva para a equipa.
Neste entendimento, o modelo envolve a operacionalização dos princípios de acção dos
jogadores nos vários momentos do jogo. Por isso, este conceito de modelo de jogo não se reduz
a uma ideia geral, tratando-se sobretudo de configurar as interacções dos jogadores. Reforçando
este lado pragmático do processo, Vítor Frade (2003:III) afirma que “mais importante que a
própria noção de modelo, são os princípios do próprio modelo” uma vez que nem todos
assumem a mesma importância nem são operacionalizados da mesma forma.
Por isso, a configuração do modelo resulta da articulação e desenvolvimento dos
princípios para que o jogo adquira uma dada identidade. Desta forma define uma qualidade
comportamental promovida pelos princípios de acção sobre os quais o treinador e jogadores
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 5
analisam e interpretam os factos do jogo e de desenvolvimento do processo. Assim, é através do
modelo que se concebem e avaliam as intenções e os acontecimentos de todo o processo face
ao que se pretende.
Alicerçado com o Modelo de Jogo e respectivos princípios de acção, surge como
continuum dos anteriores um conceito crucial para o desenvolvimento e operacionalização das
ideias do «jogar» que se pretende atingir, a Táctica. No Futebol assume importância capital o
que Barth (1994) designa por saber estratégico-táctico, e que consiste, não apenas no
conhecimento das regras da competição e das regras de gestão e organização do jogo
(estratégico-tácticas), mas também no conhecimento das condições de regulação situacional.
Deste modo, a dimensão estratégico-táctica emerge simultaneamente como pólo de
atracção, campo de configuração e território de sentido das tarefas dos jogadores no decurso do
jogo.
Ao longo dos tempos, o conceito de táctica foi-se estendendo a áreas diversas, sendo
actualmente conotado como a gestão inteligente do comportamento face a situações que
impliquem conflitualidade de interesses, ou concorrência entre objectivos, de que o desporto é
uma das expressões mais representativas (Garganta, 1997). Deste modo, a táctica não traduz
apenas uma organização das variáveis físicas (tempo e espaço) do jogo mas implica também, e
sobretudo, uma organização informacional.
Assim sendo, a organização informacional gerada pelos jogadores e equipa não devem
ser apenas consideradas as distâncias métricas, mas também o espaço de interacção e a
componente decisional (Moreno, 1994), sendo que os jogadores devem eleger os espaços de
jogo que permitam um intercâmbio de funções entre os companheiros (Garganta, 1997),
estabelecendo-se, para além de hipóteses possíveis, relações de preferência que garantam uma
maior eficácia. Isto conduz a uma correcta estruturação do espaço de acção de cada jogador
gerando um determinado sistema de interacção (Menaut, 1982, cit. por Sousa, 2000), ou seja,
um complexo de relações mútuas que se estabelece entre os jogadores, de acordo com as
finalidades das respectivas acções de jogo.
Assim, são as situações de jogo com a variabilidade, imprevisibilidade, alternância e
aleatoriedade que lhes é inerente, que determinam a direcção dos comportamentos a adoptar
pelos jogadores, pelo que a estes é reclamada uma atitude táctica permanente (Garganta, 1995).
Segundo o mesmo autor, a ocorrência de determinados comportamentos, mesmo os mais
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 6
elementares como uma corrida ou salto, num dado momento ou numa dada zona do terreno de
jogo, é mais ou menos pertinente em função das configurações que o jogo apresenta.
Segundo Tavares (cit. por Garganta, 1997:35), o desempenho dos jogadores depende
em primeira análise dos aspectos relacionados com o processamento da informação (leitura do
jogo) e as decisões, confluindo esta ideia com o conceito de excelência cognitiva, o qual se
subdivide em capacidades tácticas e habilidades de tomada de decisão (Starkes & Ericsson,
2003).
Centrando-me no conhecimento táctico e estratégico, segundo McPherson (1994) e
Starkes (1993), o conhecimento táctico não envolve apenas a habilidade para determinar qual é
a estratégia mais apropriada numa dada situação mas também, se a estratégia pode ser
executada com sucesso dentro dos constrangimentos dos movimentos requeridos. Assim, a
perícia táctica no desporto é completamente diferente dos domínios de desempenho não motor
sendo que as limitações fisiológicas e técnicas, obrigam as opções estratégicas disponíveis para
sustentar o desempenho.
Após o “explanar” anterior das ideias e conceitos sobre os quais pretendemos que o
trabalho seja desenvolvido e se sustente, determinámos como palavras-chave do mesmo:
Futebol, Modelo de Jogo, Princípios de Jogo, Sistema de Jogo, Especificidade, Inteligência
Criativa.
Na realização deste trabalho, tenho como objectivos:
• Aferir a influência que as experiências do entrevistado foram tendo ao longo da sua
formação desportiva, na construção de uma visão sobre o jogo de Futebol, sobre o
Modelo de Referências e sobre a operacionalização desse modelo em treino;
• Definir, caracterizar e saber construir um Modelo de Jogo, verificando qual a sua lógica
de concepção para posterior operacionalização;
• Estudar e definir um Modelo de Jogo Específico, tendo conhecimento das ideias mestras
que o Treinador da Equipa em estudo preconiza para a mesma, compreendendo a
interacção entre as ideias expressas pelo Modelo do Jogo como também, o modo como
o mesmo pode evoluir;
• Verificar a relação e congruência entre o pretendido e o ocorrido, constatando a
interacção entre o defendido e preconizado pelo Treinador e o realizado pelos
jogadores, manifestando-se a interpretação do Modelo de Jogo (os grandes princípios
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 7
tácticos da equipa), nos vários momentos do jogo, tendo em conta os jogos observados
e analisados.
Na tentativa de concretizar as nossas intenções, entrevistamos um treinador de futebol
conceituado e com uma carreira como profissional curta mas de elevado nível, o qual trabalha,
actualmente, num dos melhores clubes nacionais: Paulo Bento. A partir daquilo que o
entrevistado nos revelou, fizemos a relação entre as experiências que passou, com as ideias que
apresenta e que procura exponenciar e a forma como concretiza no plano prático, aquilo que
pensa sobre o seu Modelo de Jogo e o modo como o operacionaliza.
Partindo destes pressupostos, estruturamos a dissertação em sete pontos. No primeiro,
a “Introdução”, no qual expomos o problema, delimitamos o tema, apresentamos a sua
pertinência e procedemos à enunciação dos nossos objectivos.
No segundo ponto, fazemos a revisão de literatura, começando por uma
contextualização das ideias chaves por que se deve reger um Modelo de Referência,
enveredando na construção de um Cultura e Linguagem próprias, culminando na pesquisa em
que deverá consistir o processo de construção do Modelo de Jogo e como se faz emergir o
mesmo.
No terceiro ponto, explicamos a metodologia aplicada neste trabalho, bem como a
justificação para as categorias de análise construídas, percepcionadas e registadas, não so
através da entrevista mas também, por meio dos oitos jogos analisados.
No quarto ponto, apresentamos e discutimos a nossa entrevista, confrontando aquilo que
é dito pelo entrevistado com aquilo que encontramos na nossa revisão de literatura e procurando
perceber os porquês da forma como pensa e operacionaliza o seu Modelo de Jogo,
consubstanciando a mesma com a analisada vídeo dos jogos da respectiva equipa.
No quinto ponto evidenciamos aquelas que nos parecem ser as conclusões mais
importantes e que revelam o alcançar dos objectivos propostos.
O sexto ponto reporta-se às referências bibliográficas que foram consultadas para a
realização deste estudo.
No sétimo ponto e último ponto está transcrita de forma integral a entrevista que
realizamos, de acordo com o guião utilizado na consecução da mesma.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
1.Introdução 8
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 9
2. Revisão de Literatura
2.1. O Método como construção de uma Cultura de Referência
“ Não há real para lá do que o diz, porque o real espera ser dito, ou seja pensado, para começar a existir.”
Vergílio Ferreira (1978)
Num mundo em que “Tudo tem lugar onde Nada existe” e onde esse nada caminha para
o tudo inalcançável, o qual nos permite percorrer um caminho, caminho esse que “se hace al
andar” (Machado, cit. por Marques, 2000), há que dizer que o futuro começa hoje, não
esperando pelo que faremos num longínquo amanhã. Como tal, Bento afirma (1998) que a sua
função de formador de opinião e de pessoas, firma-se na construção e projecção desse futuro
através de sonhos e ideias, estimulando a realização das mesmas nesse futuro que é semeado
no aqui e agora, para ser colhido no amanhã.
Para Marques (2000), “distanciámo-nos dos outros seres pela inteligência, pela
linguagem, nas construções com que edificámos a nossa cultura. Foi graças a esta, e pela
educação, que superámos a nossa condição animal. Elevando-nos a uma outra condição. A
cultura é, então, a verdadeira criação do Homem. A coisa imperecível por ele criada.” Por
intermédio da comunicação existente entre os caracteres complexos e profundos que interligam
o longo caminho que vai dá inteligência à linguagem, sendo que tais conceitos estão
intimamente relacionados com a origem da Humanidade, fazem com que o caminho entre ambas
seja extremamente complexo mas passível de ser decifrado, culminando no reconhecimento do
mesmo como Cultura.
Como afirma Soares (2005:42), o interesse filosófico pela linguagem não se limita ao
facto de esta ser uma via de acesso ao pensamento, é também uma fenómeno revelador da
peculiaridade do ser humano enquanto tal, sendo este constitutivamente um animal symbolicum,
não só por revelar as competências linguísticas próprias, mas porque toda a praxis linguística
constitui o seu habitat natural. Apesar desse habitat natural ser um local inacessível, complexo e
labiríntico, o qual é uma construção e/ou reconstrução sucessiva de muitas passagens ou
divisões, dispostas tão confusamente que com dificuldade se lhe acha a saída, o ser humano
permite que a entrada nesse mundo se dê através da linguagem. A mesma autora menciona que
(2005:40), “ocorre pensar num outro aspecto da linguagem, o da sua relação com o mundo: ela
surge-nos como um plano mediador, uma via de acesso entre o pensamento e mundo, um
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 10
espelho no qual se reflectem as coisas.” Continua dizendo que “se pudermos confiar neste
isomorfismo entre as palavras e as coisas, a estrutura da linguagem parece poder servir como
uma pauta adequada para reflexão metafísica e ontológica.”
A via de acesso que a autora faz referência, sendo a linguagem a ponte entre o
pensamento e o mundo, permite-nos interligar esse plano mediador com um modo de perceber e
pensar que a linguagem põe em marcha. Assim sendo, a linguagem põe em marcha processos
cognitivos básicos como os da identificação, reconhecimento, memória e imaginação.
Concomitantemente com o nascimento da linguagem, surgiu o nascimento da consciência
central por intermédio da compreensão da relação processual entre o organismo e o objecto, isto
é, “a consciência central ocorre quando os mecanismos cerebrais de representação geram um
relato imagético, não verbal, de como o próprio estado do organismo é afetado pelo
processamento de um objeto pelo organismo, e quando esse processo realça a imagem do
objeto causativo, destacando-o assim em um contexto espacial e temporal.” (Damásio, 2000).
A formação desse contexto espacial e temporal prende-se com o bem mais precioso do
homem, ou seja, as suas ideias (Karl Popper, cit. por Bento, 1995). O mesmo autor destaca que
o Homem vê o que as teorias e os conhecimentos permitem ver, funcionando como instrumentos
idênticos aos nossos olhos e ouvidos, os quais utilizamos para nos orientarmos e afirmarmos no
mundo. São as ideias, as perspectivas e as teorias que permitem exaltar o sentir, o perceber, o
entender da nossa realidade. Através das primeiras, Bento (1995:73) afirma que “saímos com
elas pelo mundo, vemos e extraímos dele uma informação à medida dos nossos conhecimentos.
A uma diferença de ideias, de teorias e conhecimentos, corresponde uma diferença na captação
e no entendimento das coisas.” A par da opinião anterior, Cunha e Silva (1999) menciona que “o
sujeito do conhecimento constrói-se a si próprio no acto de conhecer. Serve-se do outro para se
edificar.”
Todas as ideias, consubstanciadas ou não pelas teorias, desenvolvem conhecimento, o
qual é específico da realidade que percepcionámos e vivenciámos, sendo que as três dimensões
anteriores são desenvolvidas por intermédio das palavras, as quais são a causa do real porque
provocam e produzem factos, isto é, participam na produção do mundo (Bento, 1995).
“Cada pessoa trás dentro da sua cabeça um modelo mental do mundo, uma
representação subjectiva da realidade externa... assim, à medida que a experiência e a
investigação científica insuflam na sociedade conhecimentos mais refinados e exactos, novos
conceitos e novos modos de pensar ultrapassam, contradizem e tornam obsoletas anteriores
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 11
ideias e opiniões acerca do mundo” (Tofler, 1970). Por intermédio da afirmação de Alvin Tofler e
reportando-nos ao futebol, podemos depreender que a existência de um referencial de acção
constituído por um conjunto de orientações e princípios que coordenam as acções e os
comportamentos da equipa, definindo-se assim um modelo de organização do mundo, ou seja,
um modelo de organização do seu jogo. Corroborando com a afirmação acima, Bento (1995)
afirma que “ (…) o treinador transporta para as situações de treino e competição não uma
qualquer competência técnica ou táctica, mas sim uma versão individual da formação requerida
para o desempenho das respectivas funções.”
Para o efeito, Alves & Araújo (1996) consideram que a qualidade de tomada de decisão
do jogador em situação desportiva depende do seu conhecimento declarativo e processual
específicos, das suas capacidades cognitivas, da capacidade (competências) no uso das
capacidades cognitivas, das preferências pessoais e dos factores motivacionais, sendo que o
treinador tem um papel fulcral na orientação da percepção dos mesmos. Ou seja, só é possível
antecipar, projectar ou problematizar determinadas situações em função dos conhecimentos que
se possui e dos meios que se conhece e do que se dispõe para agir (Graça & Oliveira, 1995).
No caso concreto do Futebol, Garganta (2005) menciona que o mesmo se trata de uma
modalidade situacional, na qual as competências dos jogadores e das equipas de Futebol
reportam-se a grandes categorias de problemas, atravessando diferentes níveis de organização,
em resposta aos sinais do envolvimento. A problematização do jogo exige que existam pessoas
com formação teórica e prática sustentada, coerente e de elevado nível, possibilitando que exista
uma estreita ligação entre ambas, ou seja, é através da formação, a qual é objectivada em
competências sociais, culturais, pedagógicas (perceptivas, construtivas, didácticas, expressivas,
comunicativa, organizativas) e metodológicas, que o treinador se apresenta em face dos outros
sujeitos intervenientes no seu campo profissional” (Bento, 1995 e 1999).
Assim, a base fundamental do trabalho de cada gestor está na equipa. Ela constitui a
sua unidade de acção, a sua ferramenta de trabalho. Com ela o gestor alcança metas e produz
resultados. Para tanto, precisa de saber como escolher a sua equipa, como desenhar o trabalho
para aplicar as competências dela, como liderar e impulsionar a equipa, como motivá-la, como
avaliar o seu desempenho para melhorá-lo cada vez mais e como recompensá-la para reforçar e
reconhecer o seu valor (Chiavenato, 2004)
Araújo (1997) define o treinador como um gestor de pessoas, onde lhe cumpre ter uma
acção decisiva em tudo o que diga respeito ao rendimento e à qualidade de intervenção dos
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 12
componentes que a integram, decorrendo num ambiente em constante mutação e a que tem de
se adaptar permanentemente, antecipando o futuro na medida do possível, aqui e agora e no
espaço e no tempo.
É inegável a influência que o treinador exerce sobre as atitudes e comportamentos,
sobre os princípios, valores, orientações e sentido de vida dos atletas. Nenhum treinador é igual,
como tal o modelo que transporta para os contextos de treino e competição, possuem a sua
impressão digital (Campos, 2007). Assim, treinar é modelar através de um projecto (Marina,
1995), ou seja, “para o treino ser treino, e não apenas exercitação, impõe-se uma carta de
intenções, um caderno de compromissos que funcione como representação dos aspectos”
(Garganta, 2000), sendo que a interligação dos mesmos, conferem sentido ao processo,
rumando intencionalmente na direcção objectivada pelo treinador.
É por demais evidente que “Ser Treinador” exige um conhecimento multidisciplinar, uma
vez que o treinador deve ter uma acção decisiva em todo o processo evolutivo da equipa,
aplicando directamente um conjunto de conhecimentos que vai adquirindo, fruto da evolução, do
treino, da competição, das ciências que os apoiam e da sociedade (Frade, 2007).
Csikszentmihalyi et al. (1993) salienta o facto dos treinadores que perduram nas mentes
dos jogadores, são aqueles que demonstram entusiasmo e paixão na transmissão dos
conhecimentos que outro treinador qualquer o faria sem qualquer emocionalidade. Quando o
prazer na profissão é demonstrado, isso fica gravado na memória de quem é ensinado. Os
traços que tornam os treinadores influentes estão relacionados com a capacidade que eles
demonstram em encorajar a integração promovendo suporte e harmonia e, simultaneamente, em
estimular a diferenciação ao tornar o envolvimento e a liberdade possíveis.
Segundo Horn (2002), o treinador é visto como um poderoso agente socializador junto
dos jovens atletas, o qual, para além de ser um gestor, um motivador, um potenciador, um
condutor, é, acima de tudo, um organizador, estando todas as dimensões que o mesmo
manipula, ao serviço de um plano superior, o plano organizativo. Assim, a palavra organização
está contaminada por um sem número de circunstâncias que têm a ver com a própria vida pelo
que é considerada uma palavra polissémica, quer dizer, pode assumir diversos sentidos (Pires,
2005). Segundo o mesmo autor, “ A organização, faz a organização da organização”, a qual
significa:
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 13
• A organização – conjunto de princípios que governam a actividade de um clube ou
qualquer outro organismo desportivo. • Faz a organização – acto de organizar (gerir), ou esforço dirigido à prossecução de
determinados objectivos desportivos; • Da organização – organismo criado, por exemplo, um clube.
Desta forma, podemos depreender que a organização que o modelo de jogo do treinador
possui (o plano das ideias), dirige, conduz e constrói uma equipa, dentro de determinados
princípios, valores, regras e sentido, culminando numa morfogénese da equipa, não só através
do jogo que pratica, mas também, através das dinâmicas interactivas entre as ideias que os
jogadores põem em prática e as defendidas pelo treinador. Trata-se da construção de um corpo,
de uma “forma de formas” (morfogénese), de uma equipa, sendo que o corpo (equipa) e a
imagem se fundem até ao corpo (equipa) ser só imagem, e por isso uma matéria plástica
modelizável através da utilização das potencialidades videográficas (Fargier, 1993, cit. por
Cunha e Silva, 1999). “ O corpo como lugar de inscrição, torna-se só inscrição, perde-se e
dissolve-se nas sucessivas cadeias de signos que lhe são atribuídas. De tanto o vermos,
perdemo-lo de vista; de tanto o tornarmos símbolo dos mais fenómenos e acontecimentos,
perdemos-lhe os contornos. E uma cultura sem corpo é uma cultura incontornável” (Carlos,
1991, cit. por Cunha e Silva, 1999).
Perante o Modelo de Jogo o qual é um organizador de ideias, possibilitando que se crie
um caminho de desenvolvimento das mesmas, cada sujeito percebe o jogo, as suas
configurações, em função das aquisições anteriores e do estado presente. Perante o fenómeno
jogo, o observador constrói uma paisagem de observação, entendida como um conjunto de
estímulos organizados face ao “ponto de vista” que ele possui sobre o fenómeno. Ou seja, retém
o que se lhe afigura pertinente, interpreta os dados dispersos e organiza-os conferindo-lhes um
sentido próprio, o que quer dizer que o sentido do jogo é construído e depende de um modelo de
referência (Garganta, 1997).
Para Temprado (1991, cit. por Garganta, 1997) os conhecimentos que estão na base do
pensamento táctico estão organizados sob a forma de cenários, de acordo com um conjunto de
indicadores (referências), de objectivos a alcançar e de efeitos a produzir. Deste modo, os
conhecimentos de que um jogador dispõe permitem-lhe orientar-se, prioritariamente, para certas
sequências de acção, em detrimento de outras. Assim, os conceitos de ordem (sequências de
acção) e de auto-organização (o modo como são organizadas essas sequências), obviamente
que estão estritamente relacionados um ao outro. Após tudo isto, quando dizemos que um
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2.Revisão de Literatura 14
objecto ou um sistema é organizado, nós dizemos que este está ordenado com um determinado
sentido (Shiner, 1997).
2.2. Modelo de Jogo: A Teoria que vê o seu Sentido na Prática
“O Modelo de Jogo é essencialmente mental, porque são os jogadores que jogam e os jogadores têm interpretações e essas interpretações quando eles começam a relacionar-se uns com os outros, dão-se de forma independente”.
Guilherme Oliveira (2003)
Ao longo dos tempos, todas as dimensões da nossa sociedade tem sofrido mudanças
constantes, mudanças essas que se devem essencialmente ao principal desafio de quem gere
uma Organização com o objectivo de que a mesma atinja o sucesso pelo seu meio mais
complexo, ou seja, o Ser Humano, culminando no facto dessas pessoas comuns terem a
capacidade de realizar coisas extraordinárias (Chiavenato, 2002:4).
Para tal, é necessário que essa mesma organização considere “ as pessoas como seres
humanos, profundamente diferentes entre si, dotados de personalidade própria, com uma
história pessoal particular e diferenciada, possuidores de habilidades e conhecimentos,
destrezas e capacidades indispensáveis à adequada gestão dos recursos organizacionais”
(Chiavenato, 2000:20). Assim, as organizações pretendem que a mesma seja constituída por
elementos impulsionadores da organização e capazes de dotá-la da inteligência, do talento e da
aprendizagem indispensáveis à sua constante renovação e competitividade num mundo pleno de
mudanças e desafios (idem, 2000:21). Ou seja, pretendem-se que a organização possua
pessoas com capacidade de impulso próprio, que invistam na organização por intermédio do seu
esforço, dedicação, responsabilidade, comprometimento, entre outras, havendo retorno através
do sucesso colectivo das organizações.
Para que tudo isto possa ser viável, é imperial que a organização possua um líder – o
treinador – que albergue dentro da sua cabeça um modelo mental do mundo, fazendo com que o
mesmo possa afigurar-se mais pertinente através da “sua adequação à personalidade do
treinador e dos jogadores, bem como à cultura específica do clube onde o trabalho se
desenvolve” (Garganta, 2004). Isto é, o treinador deve possuir um modelo (de Jogo) como algo
que incorpora uma determinada realidade confinada a cada contexto específico (Clube). É
simultaneamente algo de tão concreto pois é orientador e permite determinar a direcção e o
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 15
sentido em que pretende ir, e também é algo de utópico porque por mais que se procure nunca
se vai encontrar. É sempre algo que se procura, nunca está acabado e nunca tem fim. O futuro é
sempre o elemento estruturante do processo porque o treinador tem de ver sempre “mais à
frente”, tem de no momento da operacionalização, saber aquilo que pretende para verificar se
tudo está a decorrer exactamente conforme planeado e nesse sentido, o feedback deve ser o
mais congruente possível. Tudo isto tendo o Modelo de Jogo como “pano de fundo”.
A Concepção/Modelo de Jogo são dois conceitos que se encontram intimamente
relacionados, e segundo Guilherme Oliveira (2003:XXII/XXIII) “A Concepção de Jogo e o Modelo
de Jogo são coisas muito semelhantes, provavelmente a mesma coisa relativamente às ideias”,
sendo que “a única diferença é que a primeira centra-se no plano das ideias enquanto que a
segunda centra-se na operacionalização dessas ideias.” A intimidade existente entre os dois
conceitos verifica-se num continuum existente entre as ideias de jogo e a operacionalização das
mesmas, isto é, um processo de visualização criado pelo treinador, processo esse que permite
que as imagens contidas no modo como se concebe o jogo, se tornem realidade por intermédio
das acções dos jogadores, ao operacionalizarem essas mesmas intenções (princípios de acção)
em reciprocidade com o treinador.
Das ideias à operacionalização das mesmas, do treinador ao jogador, existe um fio
condutor que está assente numa base sólida na qual se encontra o processo intencional, ou
seja, as traves mestras que servirão de bússola para a construção do caminho interminável a
percorrer pelo colectivo, pela equipa. Assim sendo, “ (...) a Finalidade do sistema ou seja, o
Modelo de Jogo confere um determinado Sentido ao desenvolvimento do processo face a um
conjunto de regularidades que se pretendem observar.” (Gomes, 2006:28). Dessa forma, cria-se
um processo intencional, sendo que o mesmo alicerça um “conjunto de referências que definem
a organização da equipa e jogadores nos vários momentos do jogo” orientando “ (...) o processo
para um jogar concreto através dos princípios colectivos e individuais em função do que é
pretendido” (idem, 2006:29).
Evidenciando a importância do Modelo de jogo, Vítor Frade (2007) afirma que o jogar é
uma organização construída pelo processo de treino, face a um futuro que se pretende atingir.
Deste modo, esclarece que o processo configura o jogo fazendo emergir determinadas
regularidades no comportamento da equipa e jogadores. Em consonância com a ideia do autor
anterior, Garganta (1997) afirma que a forma de entender e de actuar do praticante de JDC
(Futebol), depende de um metanível – o “modelo de jogo”. As relações que ele estabelece entre
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 16
o modelo e as situações que ocorrem no jogo, orientam as respectivas decisões, condicionando
a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora.
A condução intencional do processo de jogo que encontra o seu sentido na concepção
que o treinador tem sobre o jogo e as ideias específicas que pretende projectar no último, em
sintonia com o modelo que pretende operacionalizar dentro do seu contexto específico (a sua
equipa), conduz o olhar, a visão de toda a estrutura organizativa e organizante para um futuro
lógico, sustentado, coeso e condutor, tudo isto porque se traça um futebol específico, um
fenómeno construído. Segundo Tamarit (2007), “un Equipo (...) es el resultado de un Fenómeno
Construido (de ahí que exista una geografía y una historia futebolística, así como diferentes tipos
de «fútbol»), siendo diferente de cualquier otro «juego» o «fútbol»”.
Para além do futebol ser um fenómeno construído, o autor anterior afirma que também “
(...) es Determinístico en la medida en que, en el momento de la construcción, sabemos lo que
queremos construir, lo que queremos alcanzar en el futuro.” (idem, 2007). Deste modo, podemos
dizer que cada treinador tem a sua ideia de jogo, de futebol, alicerçada às suas vivências
anteriores e às presentes, operacionalizando-as num contexto singular, com uma matriz cultural
enraizada, sendo somente a sua concepção de jogo (ideias sobre o mesmo), o meio mais
favorável para seduzir os jogadores sobre o processo que se pretende conduzir “a bom porto”.
Concorrendo para este sentido, Guilherme Oliveira (2006) refere-nos que é importante
que “o treinador saiba muito bem aquilo que pretende da equipa e do jogo, que tenha ideias
muito concretas relativamente às invariantes/padrões que pretende que a sua equipa e os
respectivos jogadores manifestem”. Evidenciando a importância do Modelo de jogo, Vítor Frade
(1985:5) refere que o modelo é como uma “pedagogia do projecto” que deve estar
constantemente a ser visualizado assumindo-se no elemento causal do futuro, no jogar
específico que se pretende atingir. Deste modo, esclarece que o processo configura o jogo
fazendo emergir determinadas regularidades no comportamento da equipa e jogadores.
Como conclusão deste ponto, o qual ao mesmo tempo permite realizar a interacção com
subcapítulo que se segue, através da descrição do processo de visualização referido pelos
autores Elmer e Alyce Green (1977, cit. Por Beswick, 2001) constatámos o quão imperial é
possuir um guia lógico, identificativo e referencial aquando das nossas acções dentro de uma
organização, ainda para mais quando desempenhamos as funções de treinador, ou seja, “como
começamos a percepcionar que não somos totalmente vítimas da genética, do condicionamento,
e dos acidentes, as modificações começam a acontecer nas nossas vidas, a natureza começa a
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 17
responder-nos de um novo modo, e as coisas que visualizamos, embora improváveis, começam
a acontecer com uma frequência crescente - os nossos corpos tendem a fazer o que lhes dizem
para fazer, se soubermos como dizer-lhes”. Assim sendo, o corpo do treinador dá vida às ideias
que possui... através dos jogadores.
2.2.1. Das ideias à profundidade das imagens em si contidas,
vivenciadas na realidade que é o jogo!
“Os Treinadores pintam imagens - as mais simples, as melhores.”
Ron Greenwood (cit. por Beswick, 2001)
O Modelo não se restringe ao plano conceptual ou ideológico do jogo, ou seja,
compreende igualmente o lado prático uma vez que o jogo é um fenómeno que se encontra em
permanente construção. Em concordância com este ponto, Castelo (1996) e Guilherme Oliveira
(2008) referem que, para além do modelo de jogo compreender uma evolução dinâmica e
criativa ao longo do seu processo de desenvolvimento, também consideram que é tão crucial o
lado das ideias do treinador para o jogar como o é o lado prático do processo, da forma como os
jogadores compreendem o projecto colectivo da equipa e o desenvolvem.
Face a isto, utilizando um dos princípios fundamentais defendidos por Descartes, através
do qual a ciência se desenvolveu, demonstrando a importância do treinador no que concerne à
explanação e operacionalização das suas ideias, o mesmo afirma que “orientar ordenadamente
os pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de compreender para
mostrar como pouco a pouco, por graus sucessivos, se chega ao conhecimento dos mais
complexos” (1937, cit. por Gomes, 2008a:15). Associado a este princípio, o treinador deve
retratar imagens, quadros, pinturas, o mais simples, o melhor possível como forma dos
jogadores compreenderem, reconhecerem e caminharem segundo referências que preconizam o
futuro que se pretende alcançar.
Para que a compreensão e formulação dessas mesmas imagens se processe, é
necessário consciencializar toda a organização colectiva que “ (...) a capacidade de pensar
coincide com uma capacidade de simbolizar e de significar” (Soares, 2005:38). Deste modo, os
jogadores podem dar forma às ideias do treinador imaginando-se em acção, e como Lynch
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 18
(1986, cit. Beswick, 2001) explica “as imagens ficam tão vivas que o seu sistema nervoso central
não consegue distinguir entre um evento verdadeiro ou imaginário; o seu corpo responde a
ambos do mesmo modo. Assim, um atleta que pinta cada movimento de um evento
correctamente com antecedência, terá uma maior possibilidade de repetir aqueles movimentos,
tendo-os "praticado", de certo modo, antes do evento real. Pense a visualização como um
experimentar de um vestido. Ele é uma forma de prática que o torna familiar com a tarefa”.
Pensar a visualização (do Modelo de Jogo) como um experimentar de um vestido, o qual
é uma forma de prática que se torna familiar com a tarefa, faz-nos reportar ao modelo de jogo
como se de um vestido se tratasse, ou seja, independentemente das medidas, da matriz, da
identidade que o mesmo possui pelas suas formas, não deixa de estar sujeito a reajustes
constantes tendo em vista uma evolução gradativa e interminável, não sendo um “fato pronto-a-
vestir”. Segundo Frank Rijkaard (in Barend & Van Dorp, 1999:72) “Quando Johan se iniciou
como Treinador do Ajax, ele tinha a visão na qual ele continuou acreditar, mesmo quando as
coisas não corriam bem”, ou seja, constatamos que apesar de toda a complexidade que constitui
a construção de um «jogar» específico, o qual está subordinado à concepção/modelo de jogo do
treinador, a essência do mesmo nunca deve ser alterada, uma vez que as medidas do vestido
estão lá (visão/filosofia sobre o «jogar»), alterando-se a sua caracterização por intermédio de
quem o interpreta, dirige, constrói e determina o seu caminho (o treinador e os jogadores).
A visão na qual um treinador consubstancia os seus referenciais sobre o jogo, assenta
num conhecimento específico, sendo que este se representa através da informação que é
representada mentalmente sobre um formato específico (Eysenck & Keane, 1994). Dentro de
uma mesma perspectiva, Damásio (1994 e 2000) refere que as representações constituem o
depósito de todo o conhecimento, tanto o inato como do adquirido através da experiência. Para o
mesmo autor (idem, 2000), a representação “Significa simplesmente «padrão consistentemente
relacionado com alguma coisa», seja com uma imagem mental, seja com um conjunto coerente
de actividades neurais no interior duma região cerebral específica”, ou seja, as ideias do
treinador serão as representações mentais por intermédio das imagens na cabeça dos
jogadores, conferindo-lhes um padrão de potenciais disposições para a prática, padrões esses
relacionados com os referenciais que essas mesmas ideias possuem ao serem
operacionalizadas, construindo-se uma ponte entre o que o treinador preconiza e o modo como
os jogadores o interpretam. Corroborando com a citação de Damásio e seguindo uma ordem
lógica de compreensão das ideias do mesmo, Steve McClaren afirma que “Um grande treinador
é aquele que consegue entrar na cabeça dos jogadores e permanecer lá”, sendo fundamental
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 19
que o treinador para além de crer numa filosofia de jogo, com ela seduza os seus jogadores
(Valdano, 1998:10).
Embora existam divergências acentuadas relativamente à origem das imagens mentais,
há unanimidade no reconhecimento da relação destas com as experiências, com as memórias,
com o conhecimento e com as mudanças que estes provocam (Damásio, 1994, 2000;
Greenfield, 2000; Williams et al., 2000; Damásio, 2003, cit. por Guilherme Oliveira, 2004). Como
tal, Damásio (1994:112) refere que o “conhecimento factual necessário para o raciocínio e para a
tomada de decisões chega à mente sob a forma de imagens”, imagens essas que estão contidas
nas ideias que o treinador pretende para o seu jogar, as quais são e estão hierarquizadas de
forma lógica, tendo em vista um futuro evolutivo da equipa em direcção aos objectivos que estão
definidos, sendo que as mesmas só serão compreendidas pelos jogadores, se existir uma forte
transmissão da informação teórica interligada com a prática, ou seja, com a operacionalização
dos exercícios relativos a essas mesmas ideias.
Assim sendo, o conceito imagem mental significa algo que é construído pelo cérebro
através das modalidades sensoriais e é representado na mente (Damásio, 1994; Behrmann,
2000; Damásio, 2000; Greenfield; Kossolyn, 2000; Llinas, 2000, cit. por Guilherme Oliveira,
2004). Então, falar-se de imagens mentais é falar-se das imagens que são criadas através do
“sentir” de todas as modalidades sensoriais levadas a cabo pelas experiências vivenciadas.
Desta forma, as imagens mentais evidenciam de forma criativa propriedades, processos,
relações e acções do organismo com o mundo (Damásio, 1994; Behrmann, 2000; Damásio,
2000; Greenfield; Kossolyn, 2000; Llinas, 2000; Williams et al., 2000; Damásio, 2003; cit. por
Guilherme Oliveira, 2004).
Todas essas propriedades, processos, relações e acções do organismo com o mundo,
inserem-se numa realidade de jogo que o treinador pretende, não sendo um jogo qualquer mas
sim, o nosso «jogar». Se a ligação das ideias do treinador às imagens formadas pelos jogadores,
advêm não só da transmissão da informação teórica associada à operacionalização dessas
mesmas ideias no treino, então, podemos concluir que tudo passa pelo modelo que
pretendemos. Segundo Faria (s/d, cit. por Lourenço & Ilharco, 2007, pp. 94), “ Modelo, no fundo,
é o entendimento da complexidade que é o jogo e a identidade do treinador em função desse
jogo. É olhar para o jogo, modelá-lo entre indivíduos pensantes, o que se pretende é que exista
uma linguagem comum. Isto só se consegue se todo o processo de treino e de jogo for
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 20
concebido numa perspectiva de organizar comportamentos que criem essa linguagem comum.
Tem de se pensar o jogo a cada minuto e a cada segundo.”
Dois bons exemplos da complexidade que o jogo em si encerra, tendo em conta a
elevada quantidade de imagens que os jogadores processam, gerem, seleccionam e escolhem,
as quais estão subordinadas a um referencial comum entre todos eles, ou seja, o modelo de
jogo, é possível constatar através da afirmação de Bosman (in Barend, F. & Van Dorp, H.,
1999:74) e Pelé (cit. por Lobo, 2008), respectivamente: “Cruyff sempre foi muito perspicaz na
distância entre o avançado centro – neste caso o Marco Van Basten – e eu próprio, não podendo
estar mais de cinco a dez metros, sendo que quando o ataque era travado, eu não devia permitir
que o adversário tivesse espaço para o contra-ataque. Quando nós atacávamos, eu também
tinha de estar perto do Marco devido ao facto dele poder jogar apoiado comigo (passes curtos).
Onde eu sinto dificuldade é no facto de ter de observar onde está a bola, saber o que decorre
atrás de mim e, também, percepcionar o que quer que o Marco faça. Eu tenho de antecipar os
movimentos do Marco, os quais requerem muita concentração (...) Mas eu não sou o jogador
para o qual eles tem de passar a bola. Eu não tenho de pedir a bola, tenho sim de criar espaço.”;
Num curto diálogo, entre Nílton Santos e Pelé, no qual o segundo questiona Nílton sobre o que é
que se passa na cabeça dos jogadores na hora de uma jogada, Nílton respondeu “Tem nego aí
que não passa nada.”, ao que Pelé confessou “Pois na minha passa um filme de longa-
metragem!”
Tendo em conta os dois exemplos anteriores, e verificando-se a complexidade dos
referenciais que o jogo possui pela enormidade de estímulos que imana, estando esses
estímulos não só associados ao Modelo de Jogo da equipa que representam mas também, a
todas as vivências que caracterizam o processo de formação do jogador ao longo da sua
carreira, António Damásio (2009) refere que “o cérebro cognitivo funciona numa escala de
milisegundos, por isso é extremamente fácil para nós aprendermos muito rapidamente uma
quantidade de factos, recolhermos uma quantidade de imagens e recordarmo-nos delas,
manipularmos de uma forma inteligente e ao mesmo tempo, as emoções que deviam ter sido
disparadas em relação a certos factos, em relação a certos acontecimentos, não conseguem ser
disparadas por não há tempo.”
Assim sendo, o Modelo de Jogo potencia o conhecimento do jogo, o vivenciar das
circunstâncias do mesmo, o reconhecer dos referenciais colectivos e individuais, dentro dos
planos de acção comuns (princípios de jogo) e individuais, dentro dos princípios colectivos da
equipa, alicerçados aos quatro momentos do jogo, permitindo que a equipa tenha e adopte um
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 21
comportamento prospectivo e não reactivo, ou seja, haja sobre o meio, sobre o jogo, criando no
mesmo as circunstâncias favoráveis para que os padrões da própria equipa se manifestem,
fazendo com que os jogadores ajam sobre o jogo e não reajam perante o que o jogo dita. Assim
sendo, é crucial que o sentido que o Modelo de Jogo dá à equipa, faça com que a mesma
conduza o jogo para onde pretende.
2.3. O papel do Modelo de Jogo …
“ Nascemos para o sentido, não para o prazer, a não ser que esse prazer esteja embebido de sentido.”
Jacob Needleman (2008)
Um profundo conhecimento do Modelo de Jogo, “permitir conhecer muito bem o «jogar»
que se quer implementar pois só um intenso domínio disto é que permite que se “jogue” com
todos os factores em causa com a devida fluidez e sempre com metas específicas bem
delineadas” (Campos, 2007). É através do modelo de jogo que o treinador e os jogadores
desenvolvem uma dada forma de jogar, com determinados princípios de acção. Como tal, “para
se conseguir um determinado jogar é preciso conhecê-lo e conhecer é ter um Modelo de Jogo
que vai direccionar a Intencionalidade daquilo que nós pretendemos” (Gomes, 2007), pelo facto
de cada treinador conceber e criar o seu próprio modelo de jogo.
2.3.1. … na tomada de decisão do Treinador…
O facto do modelo de jogo ser concebido e criado por um determinado treinador,
existindo uma ligação intrínseca entre o que se pretende e o que se vai operacionalizar, permite-
nos dizer que conhecer bem o modelo de jogo é ter uma ideia mais geral, a qual está alicerçada
a comportamentos mais específicos, permitindo que os redireccionamentos e reajustamentos
sejam realizados de forma constante, de acordo com as necessidades contextuais, tendo em
vista a Especificidade do mesmo, ou seja, não é um Modelo de Jogo qualquer, é o nosso
modelo, é o “jogar” do treinador que o concebeu, criou e conhece.
Deste modo, Guilherme Oliveira (2006) afirma que “o modelo de jogo é uma coisa muito
complexa e muitas vezes as pessoas são muito redutoras no entendimento deste conceito de
modelo porque pensam que o modelo de jogo é apenas um conjunto de comportamentos e
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 22
ideias que o treinador tem que transmitir a determinados jogadores”. E por isso acrescenta que
“o modelo de jogo tem a ver com as ideias que o treinador tem para transmitir aos jogadores, isto
é, com a sua concepção de jogo, mas também tem de estar relacionado com os jogadores que
tem pela frente, com o que entendem de jogo. Deve estar relacionado com o clube onde está,
com a cultura desse clube porque existem clubes com culturas completamente diferentes.”
Desta forma, reconhece-se um papel fundamental ao contexto e aos aspectos que
influenciam o desenvolvimento e a concretização do modelo, tendo nos conhecimentos que o
jogador dispõe, os quais lhe são transmitidos na relação que trava com o treinador no
desenvolvimento do processo, uma orientação prioritária para certas sequências de acção, em
detrimento de outras (Tavares, 1993). Visto isto, para Morin (1990, cit. por Tavares, 2003) “todo
o conhecimento adquirido sobre o conhecimento torna-se num meio de conhecimento,
iluminando o conhecimento que permitiu adquiri-lo”. Concorrendo com a afirmação anterior, a
transmissão do modelo de jogo do treinador aos seus jogadores, permite que haja um cruzar de
ideias, as quais estão directamente relacionadas com as vivências de cada um dos
intervenientes. Essas mesmas vivências conduziram e conduzirão o treinador e o jogador no
criar dos seus próprios modelos, modelos esses que formam o conhecimento de cada um deles,
condicionando e dirigindo a focalização da sua atenção na informação para a qual ambos estão
mais sensíveis, permitindo-lhes desenvolver esse conhecimento, ou seja, o seu conhecimento
específico, o de cada um deles.
Apesar destes dois intervenientes serem duas das pedras fundamentais para o
desenvolvimento do mesmo, há que salientar que ambos se encontram inseridos numa estrutura
mais complexa, a qual funciona como ponto de partida para tudo, ou seja, “é evidente que
quando um clube contrata um treinador, contrata ideias de jogo porque sabe que vai jogar dentro
de determinadas ideias. Mas também o treinador quando chega a um clube tem de compreender
que vai para um clube com um determinado tipo de história, com determinado tipo de cultura,
com um determinado historial num país com determinadas características. E o treinador tem de
compreender tudo isso e o modelo de jogo tem de envolver tudo isso. E se não se envolve com
tudo isso, o que vai acontecer é que, por mais qualidade que possa ter, pode não ter o mesmo
sucesso do que se tudo isso estiver relacionado” (Guilherme Oliveira, 2007).
Segundo a ideia enunciada pelo autor anterior, o treinador quando é contratado para
uma organização superior, o Clube, não vai nem pode alterar as estruturas identificadoras da
mesma, pelo facto de estar a sacrificar, anos e anos de história. Então, o treinador é inserido
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 23
nessa estrutura com o intuito de acrescentar a sua cultura (de jogo) ao mesmo, possibilitando
que haja uma evolução da entidade superior, por intermédio de novas linhas de orientação do
processo. Assim, o desenvolvimento de um jogo envolve um conjunto de aspectos que o
treinador, enquanto líder do processo, tem de gerir para o conduzir para onde pretende.
Neste sentido, para Vítor Frade (2003:VII) o treinador assume-se no “comando exterior
ao sistema regulado”, sendo que o papel do mesmo “é para interferir” com o sentido de
“catalisar” a concretização do processo. Tendo em conta esta vertente pragmática, o autor
considera determinante que o treinador “tem de ser na realidade o indivíduo que aproxima tudo
que é favorável ao crescimento qualitativo do processo, no sentido do futuro a que se aspira”. Ou
seja, observando a “Inteireza Inquebrantável do jogo”, assumimos o modelo como a concepção
de uma expressão de jogo tendo como princípio base, o estar constantemente a ser visualizado,
mantendo-se o futuro como o elemento causal do comportamento (Frade, 1985, 2006 e 2007).
2.3.2. … e na intervenção do mesmo no decorrer da construção do
processo.
Mais do que planear e estruturar o processo, no entendimento de Guilherme Oliveira
(2004), o treinador tem um papel determinante na concretização do mesmo, através da sua
intervenção. O seu modo de interagir e intervir no desenvolvimento do processo de treino e da
competição é muito importante, na medida em que regula os acontecimentos no sentido do que
pretende (Garganta, 2004). Guilherme Oliveira (2004) reconhece que a forma como o treinador
intervém “no aqui e agora” é muito importante para configurar a qualidade do processo, ou seja,
“os jogadores agem livremente, sem serem livres de agir” (Oliveira et al., 2006), em função do
que se pretende.
Assim sendo e em função da construção de um jogar de qualidade que o treinador
pretende para a sua equipa, uma das características marcantes para que tal se verifique é o
jogar como equipa, e como tal, Mourinho (in Oliveira et al., 2006) afirma que para se jogar desse
modo é necessário “ter organização, ter determinadas regularidades que fazem com que, nos
quatro momentos do jogo, todos os jogadores pensem em função da mesma coisa ao mesmo
tempo”. Para que tal possa ser construído, o treinador deverá ter como bússola orientadora
desse processo, a organização do jogo preconizada no Modelo de Jogo do primeiro.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 24
Respeitar essa bússola é cumprir o supraprincípio da especificidade, atingido através do
pragmatizar a fraccionação, isto é, através do contemplar da vivenciação aquisitiva dos diversos
princípios, subprincípios, subprincípios dos subprincípios do seu jogar (Oliveira et al., 2006).
Portanto, seguindo a ideia dos autores anteriores, não podemos ignorar que a “dinâmica do
competir é parte integrante da dinâmica do treinar”, como também, “Só se poderá chamar
especificidade à Especificidade, se houver uma permanente e constante relação entre as
componentes psico-cognitivas, táctico-técnicas, “físicas” e coordenativas, em correlação permanente
com o modelo de jogo adoptado e respectivos princípios que lhe dão corpo.” (Guilherme Oliveira,
1991).
Corroborando com a afirmação anterior, Gomes (2007) menciona que “o sentido da
progressão do menos complexo para o mais complexo tem uma ordem e essa ordem só tem
Sentido quando conhecemos bem o jogar e percebemos o que é mais difícil”. Ou seja, o
conhecimento profundo do processo que pretendemos desenvolver, é que nos faz criar as linhas de
condução ou referenciais de orientação do processo, fazendo com que o mesmo esteja sob o
comando de uma hierarquização lógica de condução, permitindo que o desenvolvimento e evolução
do Modelo de Jogo estejam alicerçados a uma lógica coerente, que de etapa para etapa, assuma
uma complexidade crescente.
A construção do Modelo de Jogo assume o desenvolvimento de uma complexidade
crescente, rumo à evolução do nosso «jogar», o qual tem necessidades contextuais, tendo em vista
a Especificidade. Uma vez que a Especificidade depende “ (…) dos contextos, do próprio modelo e
do próprio jogar.” (idem, 2007), a hierarquização dos princípios adquire uma particular importância.
Assim sendo, a interacção dos princípios da alternância horizontal, da progressão complexa e das
propensões em Especificidade, “não podem deixar de estar interligados pelo jogar, por isso é que o
Modelo é extremamente importante, porque é uma coisa que se vai desenvolvendo e é o que vai
dar Sentido à articulação destes princípios todos.” (ibidem, 2007).
Deste modo e tendo em consideração que os três princípios metodológicos estão
interligados, não sendo possível dar primazia a nenhum deles, há que saber como é que cada um
deles contribui para a construção do Modelo, sendo que os mesmos fazem a ponte entre o Modelo
de Jogo e o Modelo de Treino.
Por intermédio do Princípio das Propensões, o qual se refere à criação de contextos
propícios a determinadas aquisições, Gomes (2007) refere que “tem de haver um Sentido
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 25
associado, pois só é aquisitivo quando ao fazermos, soubermos minimamente aquilo que estamos a
fazer.” (...), conduzindo-nos simultaneamente com os jogadores, numa primeira instância para uma
dimensão maior, “que é a dimensão do Sentido porque temos que desenvolver o jogar por níveis de
organização e temos que articular os sentidos e hierarquizar.” Numa segunda instância para uma
dimensão menor, “que é saber nesse mesmo Sentido que contexto é que vamos proporcionar.”
Para que os contextos propícios a determinadas aquisições sejam vivenciados na sua
plenitude, há que ter em conta o Princípio da Alternância Horizontal, o qual, segundo Gomes (2007)
permite “ (…) variar o registo das solicitações específicas em cada dia (…) ” e, através dessa
variação, reconhecer o desgaste que os jogadores têm, fraccionando o jogar para que em cada dia,
estejam a desenvolver esse mesmo jogar dentro de desempenhos máximos, tanto em condições
mentais como físicas. Completando o ciclo metodológico, há que variar o grau de complexidade e,
por consequência, o tipo de exigências, permitindo que o objectivo do treinador não se centre
somente na evolução do jogar mas também, na necessidade que esse mesmo jogar exige em
termos de recuperação.
Seguindo o raciocínio anterior, surge uma crescente preocupação com a questão da
familiarização com aquilo que é a cultura de jogo da própria equipa, sendo que o treinador tem
um papel crucial no modo como intervém, ou seja, existe uma necessidade constante de avaliar
o que é a nossa equipa, os nossos jogadores e qual o conhecimento dos mesmos sobre o jogo
da equipa (Faria, 2007). Assim, quanto maior for a cultura de jogo da equipa, mais facilitada será
a antecipação do nosso jogo.
Portanto, o Modelo de Jogo surge do desenvolvimento de uma procura empírica, a partir
dos princípios do modelo de jogo para apreender uma lógica prática do desenvolvimento desse
modelo, conduzindo-o para critérios de análise contextualizados pelo modelo que o treinador
pretende desenvolver com os jogadores. Reforçando este lado pragmático do processo, Vítor
Frade (2003:III) afirma que “mais importante que a própria noção de modelo, são os princípios do
próprio modelo”, uma vez que nem todos assumem a mesma importância nem são
operacionalizados da mesma forma.
Seguindo a ideia do autor supracitado, Gomes (2007) afirma que “a manutenção do
princípio é uma coisa dinâmica em evolução constante”, permitindo-nos perceber que o treinador
potencia uma ideia de evolução permanente, ou seja, apesar de uma equipa ter solidificado uma
determinada forma de jogar, a mesma não deve ser estanque, tendo o treinador um papel
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 26
imperial no criar de uma complexidade crescente desse mesmo jogar. Caso contrário, não há
evolução nem da equipa nem dos jogadores (Guilherme Oliveira, 2007).
Concluindo este ponto, a qualidade da intervenção do treinador está dependente de um
perfeito conhecimento do Modelo de Jogo. Como tal, Faria (2007) aponta estas preocupações
como nucleares quando diz o seguinte: “Durante a execução do exercício, a intervenção em
função da relação jogador-exercício-treinador, leva a que por vezes sintamos a necessidade de
criar ainda mais qualquer acrescento para que o que pretendemos se manifeste de forma ainda
mais vincada e este tipo de intervenção é apenas possível se soubermos muito bem onde
estamos e para onde queremos ir, isto é, exige-se um conhecimento muito bem estruturado do
Modelo de Jogo que nos permita reajustar a intervenção sempre no sentido de um
direccionamento específico.”
2.4. O papel do Modelo de Jogo na tomada de decisão dos
Jogadores
“ Exercitamos o nosso Modelo de Jogo, exercitamos os nossos princípios e sub-princípios de jogo,
adaptamos os jogadores a ideias comuns a todos, de forma a estabelecer a mesma linguagem
comportamental. Trabalhamos exclusivamente as situações de jogo que me interessam, fazemos a sua
distribuição semanal de acordo com a nossa lógica de recuperação, treino e competição, progressividade
e alternância. Criamos hábitos com vista à manutenção da forma desportiva da equipa, que se traduz por
um frequente «jogar bem» ”
Mourinho (2005)
“A maneira como o indivíduo apreende e interpreta a informação depende da sua
experiência, dos seus valores, das suas aptidões, das suas necessidades e das suas
expectativas. Temos tendência para reter os dados que são compatíveis com as nossas
convicções e as nossas ideologias, e que nos convêm” (Abravanel, 1986).
De acordo com Faria (1999), o jogo é uma construção activa que se desenvolve e
decorre da afirmação e actualização das escolhas e decisões dos jogadores, realizadas num
ambiente de constrangimentos e possibilidades.
Concorrendo para esta questão, Frade (1985:21) reconhece que “toda a acção do jogo
contém incerteza” e por isso, é necessário “realizar estratégias de comportamento, como arte de
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 27
agir em condições aleatórias e adversas”. Através desta ideia, este autor evidencia a importância
de um modelo de comportamentos e princípios de acção para construir uma dada forma de
jogar.
Reforçando este aspecto, Le Moigne (1994), refere que o projecto do modelizador – o
modelo de jogo – permite compreendê-lo projectivamente ou seja, torna a representação
significativa. Assim, pode dizer-se que as decisões dos jogadores têm um determinado valor e
sentido, na concretização e desenvolvimento do modelo de jogo. Por isso, os factos de jogo são
interpretados à luz de um mesmo código simbólico ou seja, de um universo conceptual. Universo
conceptual esse que permite que o jogo esteja, constantemente, a ser visualizado pelos
jogadores, constituindo-se um «filme de longa metragem» como salienta Pelé (cit. por Lobo,
2008).
Por intermédio das afirmações anteriores, depreendemos que os acontecimentos mais
complexos, os quais conduzem os seres humanos de excelência nas mais diversas áreas, à
execução da tarefas “aparentemente” simples, são dotados de uma extrema sensibilidade para
algo que só quem foi ou é estimulado para e na acção, possui a capacidade de reconhecer tais
informações. Mas, tudo isto acontece porque jogador é considerado como um manipulador de
símbolos tal como um computador: ambos usam símbolos e realizam operações baseadas
nesses mesmos símbolos (1988, Gibson, cit. por Wallian, N. & Chang, C.-W., 2007). Segundo
Frade (1985), “A aprendizagem consiste, num sentido, em fazer significar acontecimentos, em
transformar o acontecimento-ruído em acontecimento-sinal, ou mesmo em acontecimento-signo:
o ruído é transformado pela aprendizagem em sinal.”, sendo que toda a informação que se
transmite e se pretende que seja assimilada e acomodada por parte dos jogadores, está
subordinada a uma sólida raiz de ideias, ao Modelo de Jogo que pretendemos operacionalizar
conjuntamente com os jogadores. O Modelo de Jogo é uma Cultura do jogo e do treino que
pretendemos para a nossa organização, para a nossa equipa, e na procura de compreender as
ideias do mesmo, Morin (1987) refere que a “Cultura não é um mero suplemento de que
usufruem as sociedades humanas em contraste com as sociedades animais. É ela que institui as
regras – normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos dos indivíduos;
constitui o capital colectivo dos conhecimentos adquiridos, dos saberes práticos apreendidos,
das experiências vividas, da memória histórico-mítica, da própria identidade de uma sociedade.”
Consubstanciada com a afirmação de Edgar Morin, Lourenço & Ilharco (2007) afirmam
que “ (...) a forma como os outros se vêem através de quem os rodeia é um aspecto central do
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2.Revisão de Literatura 28
processo de formação e desenvolvimento da identidade de cada um.”, sendo que a ênfase dada
ao indivíduo deve sempre ter um referencial colectivo e segundo Frade (2004, cit. por Campos,
2007:35/36): “Não há treino mais individualizado ou repercussões do treino mais individualizadas
do que aquelas que permite a Periodização Táctica. Porque a primeira preocupação que tem é
eleger os princípios e os princípios são levados a efeito pelos jogadores, os jogadores em
determinadas posições e determinadas funções. Portanto se são posições e funções diversas,
embora complementares, o que se repercute em cada uma dessas posições ou funções é
diverso das demais portanto é individualizado.”
Deste modo e corroborando com a afirmação anterior, Damásio (2000) afirma que “Um
organismo dotado de consciência ampliada dá mostras de que atenta para uma grande esfera de
informações que estão presentes não só no meio externo mas também no interno, o meio de sua
mente.” Como exemplo e tendo em conta que o jogador é um elemento possuidor de consciência
ampliada, podemos dizer que durante as suas acções no jogo, provavelmente, presta atenção a
vários conteúdos mentais ao mesmo tempo: o seu posicionamento, o local onde está a bola, o
momento de jogo em que a equipa se encontra, quais as suas funções perante esse momento,
que questões suscita o jogo e como deve responder às mesmas, qual o resultado, como está a
responder a equipa às circunstâncias do jogo, sendo que tudo isto se processa no próprio
jogador, no ser conhecedor do contexto onde está inserido. Como tal, o autor salienta (idem,
2000) que “Nem todos esses conteúdos se destacam igualmente, estão definidos com o mesmo
grau de nitidez, mas todos se encontram no palco e, em um momento ou outro, por muitos
segundos ou até minutos, um ou alguns deles vêm para a ribalta.”
2.4.1. A Cultura da equipa que se verifica no entendimento e
interpretação comum do jogo
O modelo de jogo define-se na referência colectiva a partir da qual os jogadores
analisam e interpretam os factos do jogo conferindo-lhe uma significação pessoal, a qual deve
convergir para uma lógica interna de funcionamento (Garganta & Cunha e Silva, 2000; Gomes,
2006). Deste modo, é importante que este entendimento individual seja congruente com o
entendimento da equipa para se criar uma lógica comum, não podendo deixar salientar que o
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 29
mesmo modela a base de interpretação dos jogadores, os quais têm ideias, experiências,
valores e conhecimentos diferentes. Através dele os factos do jogo são interpretados segundo
uma mesma lógica (Gomes, 2006).
Segundo Saussure (cit. por Gomes, 2006:8), uma equipa “ (...) é uma totalidade
organizada por elementos solitários, que podem definir-se apenas uns em relação aos outros,
em função do seu lugar nesta totalidade.” mas para que tal aconteça, Valdano (1998) e Cruyff (in
Barend, F. & Van Dorp, H., 1999) defendem que para existir um jogo de qualidade, é crucial ter
cinco ou seis jogadores a pensar na mesma coisa ao mesmo tempo como também, se um ou
dois jogadores não estiverem cem por cento concentrados e falharem no desempenho das suas
funções, a equipa não funcionará bem.
O modelo de jogo e os seus princípios procuram uma percepção comum dos factos do
jogo concorrendo para uma organização comportamental, ou seja, que as decisões dos
jogadores se inscrevam num contexto Específico Colectivo. Convergindo nesta lógica, esta ideia
enaltece a importância de perante um mesmo acontecimento haver um entendimento comum
dos jogadores. Segundo Vítor Frade (1985:3), existe “a necessidade de ter já em si uma
representação daquilo que apreende”.
A relevância deste conceito é fundamental pois como nos refere Cunha e Silva
(1999:57), “a percepção é já, de certa forma, acção, porque o corpo se encontra comprometido
com o mundo quando percepciona: como que o antecipa”. Assim, Garganta (2005:180) defende
que o jogo existe na confluência de uma dimensão mais previsível (as leis e princípios de jogo),
com outra menos previsível, materializada a partir da autonomia dos jogadores, os quais
introduzem a diversidade e singularidade dos acontecimentos.
Justifica-se então dizer que o “ (…) jogo e o treino devem ser perspectivados como
sistemas acontecimentais dinâmicos, a partir do reconhecimento da importância das interacções
dos jogadores/equipas para agirem eficazmente em situações de elevada instabilidade e
variabilidade.” (Júlio e Araújo, 2005), sendo que esse diálogo de ordem-desordem-auto-
organização, desenvolve-se continuamente dentro de um sistema aberto relativo que pode estar
auto-determinado e auto-regenerando-se (Wallian, N. & Chang, C.-W., 2007). Assim um sistema
autónomo, como é o caso da equipa, troca não só com o meio ambiente mas também dentro do
seu próprio sistema.
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2.Revisão de Literatura 30
Deste modo, a tomada de decisão não é algo aleatório ou seja, apesar das
particularidades do contexto, o jogador é sobre condicionado a decidir em função do projecto de
jogo da equipa e portanto, dos seus princípios. Assim, o modelo de jogo permite condicionar as
escolhas dos jogadores para um padrão de possibilidades ou seja, orienta as decisões dos
jogadores.
Damásio (2003) refere-nos que a tomada de decisão resulta dos valores e das
representações que temos acerca dos fenómenos em que nos envolvemos. Assim, o modelo de
jogo permite desenvolver um conjunto de convicções e representações mentais dos
comportamentos a desenvolver nos vários momentos de jogo.
A partir desta lógica, os princípios contextualizam as decisões dos jogadores nos vários
momentos e portanto, definem-se na ordem organizativa do jogo. Neste sentido, os princípios
criam uma cultura. Através deste conceito procuramos esclarecer a existência de um conjunto de
valores e princípios que caracterizam a dinâmica da equipa como uma entidade colectiva. Desta
forma, edifica-se uma representação e uma base de funcionamento que faz com que os
comportamentos individuais se inscrevam espontaneamente nessa mesma cultura. Tal como
acontece nas sociedades, a existência individual desenvolve-se de acordo com um conjunto de
princípios e valores que asseguram uma coexistência, segundo uma cultura (Gomes, 2006).
Baseando-nos no conceito de conhecimento personificado (Lave & Wenger, 1991;
Kishner e Whitson, 1997; in Wallian, N. & Chang, C.-W., 2007), não podemos separar mais “a
acção” dos “actos do discurso” pelo facto do modelo de jogo ser o promotor da manifestação das
ideias, dos valores, das regras, das acções, as quais culminam em acções que possuem uma
relação íntima entre “o que se faz” e o “que se diz”. Para que seja possível a manifestação de
uma cultura, é importante que os princípios de jogo permitam que os jogadores e equipa tenham
sucesso na resolução dos seus problemas, uma vez que “o jogador só consegue fazer
determinado comportamento bem se primeiro o compreender e depois, se achar que realmente
esse comportamento é benéfico, tanto para a equipa como para ele” (Guillherme Oliveira, 2006:).
Corroborando com a afirmação anterior, Frade (2003) destaca que o jogo “ tem de
nascer primeiro na cabeça dos jogadores”, sendo crucial que o treinador saiba utilizar estratégias
para que os jogadores reconheçam a importância de determinado comportamento porque só
dessa forma a qualidade se manifesta (Guillherme Oliveira, 2006), ou seja, os jogadores
funcionam como condutores do processo, são as suas convicções que desenvolvem o modelo
de jogo.
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2.Revisão de Literatura 31
Pela existência de uma lógica de condução do processo, a configuração a dar à prática
de modo a tornar possível a antecipação, é algo de imperial na construção de uma lógica de
resolução de problemas, os quais se devem ao facto de existir “uma prática Específica, isto é,
desde o início do processo, temos que criar um contexto macro que nos vai direccionar sempre
no mesmo sentido e, seja num exercício mais particular, seja num exercício mais complexo, isso
tem que estar sempre presente.” (Gomes, 2008). Dentro da mesma lógica, Guilherme Oliveira
(2007) afirma que um “comportamento mais geral no momento de organização ofensiva e o
comportamento mais individual tem a ver com esse comportamento mais geral”.
Esta sujeição a um contexto macro revela-se assim como a chave para cada jogador
perceber antecipadamente o que vai ser decidido pelo colega, sendo esta a premissa base para
se poder antecipar tornando o jogo mais rápido.
Partilhando da mesma opinião, Mourinho (s/d, Oliveira et al., 2006:121) afirma que “Não
se confunda «velocidade de jogo» com «velocidade do jogo». A primeira está intimamente ligada
à «velocidade mental», à capacidade de antecipar o que vai acontecer e decidir pela resposta
mais adequada, levando-nos para o treino qualitativo, contextualizado.” O mesmo autor (idem,
2006:122-123) defende que todos os jogadores têm de saber que em “ (…) determinada posição
há um jogador, que sob o ponto de vista geométrico há algo construído no terreno de jogo que
lhes permite antecipar a acção”, conduzindo a construção de um jogar de qualidade na cabeça
dos jogadores, ou seja, “um mapa do seu futebol” (Resende, 2002:18).
Deste modo, a preocupação dos jogadores deve centrar-se nos adversários e nunca os
colegas. Como tal, para que isto aconteça, implica que exista uma “ «Obsessão» pelo Jogo
Posicional”, tendo por base um ajustado Sistema de Jogo, através do qual “cada Jogador possui
um mapa do jogar da equipa, que lhe permite a qualquer momento ter a noção de onde se
encontram os colegas.” Assim, esta deixa de ser uma preocupação, passando a ter apenas de
gerir o posicionamento dos adversários, este sim, imprevisível à partida. (Maciel, 2008).
Por intermédio da ideia, a qual nos conduz para a percepção de uma geometria da
equipa, dos referenciais que a mesma oferece aos jogadores em treino e em jogo, conduz-nos
para a noção de fenomenológica, “no sentido em que coloca ênfase nas condições necessárias
(não as propriedades) para uma dada entidade, ser o que é” (Ilharco & Lourenço, 2007). A par
disto, Introca e Ilharco (cit. por Ilharco & Lourenço, 2007:82) salientam que, “para a
fenomenologia, o significado não está «em» algo mas antes ele se encontra «na» ligação, nas
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2.Revisão de Literatura 32
relações ou referências para o algo, para ser como já é tomado quando adquirido pela nossa
actividade contínua na nossa vida quotidiana.”
2.4.2. Da Cultura da Percepção à Cultura Comportamental
O jogo é uma actividade que resulta das ligações, das relações ou referências para o
algo e, como tal, concretiza-se na acção. Expressando esta ideia, Frade (2003:XVI) refere que o
jogo acontece no domínio de “um saber fazer”. Contudo, este saber fazer é tanto melhor quanto
mais apoiado num saber sobre um saber fazer, ou seja, sobre um entendimento consciente das
interacções a desenvolver no jogo.
Neste sentido, o entendimento comum do jogo serve para potenciar o desenvolvimento
de uma cultura comportamental (Gomes, 2008). Como exemplo, Frade (2006) afirma que “ o
Eusébio era um exímio executante mas se lhe pedissem para explicar, ele não sabia. Por outro
lado, o Paulo Sousa executava excelentemente as suas acções e para além disso, verbalizava-
as tão bem quanto executava. Os jogadores são profissionais de futebol, profissionais de um
saber fazer mas se para além disso, souberem explicar como o fazem (saber sobre o saber
fazer), ainda melhor!” São essas experiências e as explicações de como elas são executadas,
que permitem vivenciar exteriormente o que os jogadores executam e o que sentem após a
execução. Contudo, os jogadores não tem obrigação de saber explicar o modo como executam
porque isso não lhes é exigido mas caso o consigam fazer e, neste caso do melhor modo, todos
os apaixonados pelo Futebol agradecerão o seu contributo.
De acordo com o supracitado, há que diferenciar o conhecimento implícito e conhecimento
explícito manifestados. Ao dizermos que os jogadores sabem fazer muitas coisas, estamos a falar
de um conhecimento implícito, ou seja, um conhecimento que eles não têm – de forma explícita –
como tal, mas do qual já podem dispor quando o utilizam. Deste modo, dizemos que saber que uma
coisa é mais ou menos assim (explícito) e falamos de um saber sobre como alguma coisa que
funciona (implícito). Se todos os jogadores utilizassem o seu discurso com base no saber, não seria
necessário considerar as duas formas de saber: saber implícito e saber explícito. Expressamos
assim, em qualquer contexto, simplicidade e clareza utilizando os dois termos do saber e saber fazer
(Spitzer, 2007).
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2.Revisão de Literatura 33
Assim, importa salientar que existe uma preocupação com a construção de um vínculo
entre o saber fazer e um saber sobre um saber fazer, isto é, “o corpo e a mente podem ser
juntos. É possível desenvolver hábitos em que o corpo e a mente se encontrem perfeitamente
coordenados” (Varela et al., 2001:55). O resultado desta íntima ligação, em jogo, manifesta não
só o conhecimento do próprio meditador individual mas também, é extensível a todos os outros
elementos, conferindo a “um determinado jogar uma dimensão consciente, uma Consciência
Táctica, e não apenas algo circunscrito à esfera do automatismo” (Maciel, 2008).
Deste modo, a Consciência Táctica, um saber sobre um saber fazer, tem como principal
valia numa modalidade colectiva como o Futebol, permitir a sincronia de pensamentos entre os
elementos de uma equipa. O saber sobre um saber fazer, é o domínio do saber que permite que
os jogadores pensem em função da mesma coisa ao mesmo tempo (Carvalhal, 2002). É esse
pensamento grupal, o qual está centrado na referência colectiva que permite aos jogadores
analisar e interpretar o jogo, conferindo-lhe significado individual e categorizando deste modo os
dados significativos do contexto (Gomes, 2008). Por isso, a Cultura comportamental comum, a
qual tem subjacente a consciencialização de um determinado Modelo de Jogo (Maciel, 2008),
que se encontra subordinado à concepção e condução de um jogo através de uma
SupraDimensão do mesmo, a SupraDimensão Táctica (Lopes, 2007).
No Futebol, sendo a Inteligência um auxílio determinante, torna-se fundamental pensar
sobre o que se faz, com o intuito de se poder perceber como se faz e como se pensa, ou qual a
distância a que nos encontramos de tais intentos, e quais as razões para tal. Deste modo, “o
verdadeiro treino”, vai além da criação de um saber fazer, devendo permitir desenvolver
igualmente um conhecimento sobre o saber fazer (Garganta, 2004), mas sobretudo, em nosso
entendimento, o desenvolvimento de um saber sobre o saber fazer. A par da ideia anterior,
Guilherme Oliveira (2006) destaca que se “pretende criar uma certa filosofia de entendimento e
de manifestação do comportamento.”
O fundamento do treino é preparação inteligente dos jogadores. Trata-se de um
raciocínio global, complexo, que envolve o treino e o jogo da mesma forma e no mesmo
processo. O treino faz parte do todo que é o jogo (Ilharco & Lourenço, 2007). Quando o treino faz
o jogo, também há a desmontagem do processo e, consequentemente, do jogo. Dessa forma, há
uma permanente articulação de sentido, que permite, em todos os momentos do treino, haver
coerência no que se faz e nos conhecimentos adquiridos pela equipa e pelos jogadores
(Guilherme Oliveira, 2004).
“A qualidade do jogo depende do conhecimento que os jogadores têm do que querem,
do que sabem, daquilo que não sabem, do que podem e não podem fazer.” (Garganta & Oliveira,
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1996:8). De acordo com Frade (2007) estes saberes podem ser concretizados considerando-se,
um saber fazer e um saber sobre um saber fazer. Assim, evidencia-se o sentido e a
intencionalidade da educação do jogador para uma inteligência superior, para linhas
orientadoras, as quais se formam por intermédio do Modelo de Jogo. Essas linhas de orientação
ou princípios de jogo, os quais são objectos de e do treino, não são nem mais nem menos do
que comportamentos colectivos e individuais, articulados entre si.
Por intermédio de um outro olhar, Guilherme Oliveira (2006 e 2008) perspectiva o
princípio de jogo como um início, inicio esse que tem a si alicerçados os conceitos de
organizações estrutural e funcional. A primeira centra-se nas disposições iniciais dos jogadores
em campo, ou seja, um mapa geométrico inicial, estático. Implicitamente relacionada com a
primeira, surge-nos a funcional como uma forma de manifestação do Modelo de Jogo, isto é, “ é
o produto da criação que a interacção entre a concepção de jogo do treinador, os princípios e os
sub-princípios que o constituem, a intervenção activa dos jogadores no Modelo e as diferentes
estruturas que esse Modelo pode assumir” (idem, 2006 e 2008).
Deste modo, a equipa e o jogo que a mesma produz está em permanente construção
dependendo das interacções entre os diferentes aspectos que os constitui, parecendo-nos
crucial mencionar que os acontecimentos que não são abrangidos pelos princípios, ao eclodirem
no calor do jogo, possam criar novos entendimentos e conhecimentos do jogo como também,
novas possibilidades de acção. Ou seja, a “natureza é imprevisível porque, no ponto de
bifurcação, apresentam-se em geral diversas possibilidades. É então um problema de
probabilidade determinar qual das possibilidades se vai realizar. É o «fim das certezas» e o
aparecimento da pluralidade dos futuros” (Morin, 1999).
Tudo que foi anteriormente destacado processa-se sobre um conjunto de invariâncias
(comportamentos que se manifestam com regularidade) pretendidas pelo Modelo de Jogo, tendo
como pano de fundo o próprio jogo. Uma vez que é o jogo que dita as próprias leis, funcionando
o Modelo de Jogo como forma de as contrariar num campo de força e ideias em confronto,
destacámos que as equipas em confronto potenciam as suas características através dos
momentos do jogo. Deste modo, Teodorescu (1984) divide o jogo em duas fases: a fase
defensiva e a fase ofensiva. A primeira é caracterizada pela equipa não ter a posse da bola e
através de acções colectivas e individuais, que não infrinjam as leis do jogo, tentam ganhá-la de
forma a evitar o golo na sua baliza. A segunda caracteriza-se por a equipa ter a posse da bola e
através de acções colectivas e individuais, sem infringirem as leis do jogo tentar marcar golo
(idem, 1984).
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2.Revisão de Literatura 35
Tendo em conta o termo fases, o qual surge em função da característica sequencial
dessas mesmas etapas, ou seja, existe sempre uma lógica sequencial implícita (Guilherme
Oliveira, 2004).
Uma outra perspectiva relativamente à organização e dinâmica do jogo de Futebol surge
pela utilização do termo momento em detrimento do termo fase. Pretende-se assim mapear o
jogo de Futebol a partir de momentos (Barreira, 2006).
Desta forma, a perspectiva que preconiza a organização do jogo de Futebol em
momentos, refere que os jogadores, tanto individual como colectivamente, procuram atingir o
objectivo do jogo, não por duas fases, mas através de quatro momentos (Louis Van Gaal, in
Kormelink e Seeverens, 1997; Mourinho, 1999; Guilherme Oliveira, 2004):
(1) o momento de organização ofensiva, considerado o conjunto de comportamentos que
a equipa assume quando adquire a posse de bola, com o objectivo de preparar e criar situações
ofensivas, de forma a marcar golo;
(2) o momento de Transição ataque/defesa, como os comportamentos que se devem
assumir nos segundos após perda de posse de bola, estando ambas as equipas
desorganizadas;
(3) o momento de organização defensiva, que visa contrariar o primeiro momento, isto é,
quando não existe a posse de bola, organizar-se de forma a impedir que a equipa adversária se
prepare, crie situações de golo e marque golo;
(4) o momento de Transição defesa/ataque, que se caracteriza pelos comportamentos
que se devem ter nos segundos imediatos ao recuperar-se a posse de bola.
Concluindo, podemos constatar que os diferentes momentos do jogo apresentam
comportamentos que podem assumir várias escalas, ou seja, uma escala colectiva, sectorial ou
grupal, inter-sectorial e individual. Assim, Castelo (1996) salienta dois aspectos que os Modelos
de Jogo devem evidenciar, isto é, refere-se à definição e reprodução do sistema de relações e
inter-relações estabelecidas entre os diferentes elementos da equipa, como também, evidencia o
carácter aberto e criativo do Modelo.
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2.Revisão de Literatura 36
2.5. A Inteligência de Jogo que se vê na interpretação Táctica
“ O corpo é absolutamente imprescindível para a produção dos conhecimentos, das emoções e da consciência, isto
é, das imagens mentais. Neste sentido, o cérebro deixou de ser considerado o único sistema produtor de vida
mental, logo, saber não é a consequência do que se sabe, mas do fazer aquilo que se sabe. Isto é, nenhuma teoria
esgota o objecto ou pode ser tão perfeita que ocupe o lugar do objecto.”
Guilherme Oliveira (2004)
“ São as palavras que são a causa do real e não o inverso. Não é da realidade que
tiramos as palavras com que a referimos, mas é das palavras que tiramos o real que elas
inventam. (…) As palavras provocam e produzem factos, ou seja, participam na produção do
mundo” (Bento, 1994). Assim, podemos depreender que a acção é o meio através do qual as
palavras inventam e produzem a realidade constituindo-se “ um modo de transformar
voluntariamente circunstâncias em efeitos esperados. Cada acção é de facto «uma acção-em-
projecto», um processo onde o sujeito está implicado para modificar o mundo de uma maneira
esperada, no termo da tomada de decisão processada e de uma especulação mental. A acção
implica um diálogo com o ambiente, onde as crenças e os desejos, o conhecimento e as
expectativas orientam as intenções de sujeito” (Searle, 1983, cit. por Wallian, N. & Chang, C.-W.,
2007).
Deste modo, Bill Walsh (cit. por Beswick, 1999) descreve o Ser Treinador como “a
redução de incerteza”, ou seja, os bons treinadores reduzem a complexidade para jogadores.
Para que tudo isso se processe, destaca-se a utilização de um modelo como produtor, construtor
e precursor de um processo, o qual pode ser considerado como uma representação simplificada
da realidade (Melo, Godinho et al., 2002), estando relacionado com processos construtivos que
estão ligados a concepções de conhecimento (Garganta, 1997) de determinado fenómeno ou
realidade.
Fazer do jogo objecto de estudo é um imperativo fundamental, na medida em que o
conhecimento da sua lógica e dos seus princípios1 tem implicações importantes nos planos de
ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas, factores que concorrem para
a sua qualidade (Garganta, 1997), optimizando os comportamentos dos jogadores e das equipas
na competição. Assim, vários autores (Queiroz, 1986; Gréhaigne, 1992; Garganta & Pinto, 1994;
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2.Revisão de Literatura 37
Frade, 2007) consideram que o Futebol é um jogo táctico e que se manifesta pela interacção das
diferentes dimensões.
Deste modo, a caracterização da estrutura da actividade e a análise do conteúdo do jogo
têm vindo revelar uma importância e influência crescentes na estrutura e na organização do
treino de Futebol (Garganta, 2000), quer no que respeita aos factores técnicos e tácticos
(Castelo, 1996), quer no que concerne às exigências físicas (Bangsbo et al., 1991).
Para tal, foi fulcral a promoção do futebol de qualidade através do jogo, das equipas e
dos jogadores, cujas ideias colectivas e individuais se promoviam através da dimensão táctica, à
qual foi reconhecida por unanimidade a sua importância na evolução do jogo, sendo
impulsionadora das qualidades de desempenho e gestora do direccionamento do processo
(Guilherme Oliveira, 2004).
1
A táctica decorre de objectivos: imediatos da acção de jogo quando tomados
isoladamente; de médio e longo prazo quando referentes à vitória na competição. Exprime-se
por comportamentos observáveis, desenvolvidos por um processo decisional que pressupõe
informação e conhecimento dos “sujeitos da acção que se enfrentam, das condições em que se
desenvolve o confronto, da relação intrínseca com os objectivos e do carácter sistemático
reflectido nos planos e alternativas para a resolução dos problemas colocados” (Zech, 1971;
Teodorescu, 1977; Letzelter, 1978; Hagedorn, 1982; Konzag, 1983; Wrzos, 1984; Duricek, 1985;
Gréhaigne, 1992; cit. por Garganta e Oliveira, 1996: 14 e 15).
A par do anteriormente mencionado, a táctica possui uma “dimensão espaço – temporal
de realização, traduzida quer pela sua subordinação à estratégia, quer pela delimitação ou
constrangimentos espaço – temporais da acção de jogo” (Letzelter, 1978; Zerhouni, 1980;
LaRose, 1992; Duricek, 1985; Moreno, 1993; Mercier e Cross, s.d.; cit. por Garganta e Oliveira,
1996: 15), sendo também observáveis os níveis de relação intra-equipa, onde coexistem a
táctica individual, de grupo e colectiva (Zech, 1977; Zerhouni, 1980; cit. por Garganta e Oliveira,
1996).
Corroborando com as ideias anteriores, Greco (2006) salienta que nos desportos colectivos, em
todos os momentos, têm-se como referência a tríade tempo-espaço-situação, as quais possuem
1 Os princípios de jogo podem ser considerados como as características que uma equipa evidencia nos diferentes momentos de
jogo, isto é, são padrões de comportamento táctico-técnico que podem assumir várias escalas, mas são sempre representativos
do modelo de jogo adoptado, independentemente da escala de manifestação (Queiroz, 1983; Teodorescu, 1984; Oliveira, 2004,
cit. por Sousa, 2005).
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como algumas das componentes os companheiros de equipa, adversário, bola, objectivos e
metas a alcançar, sendo um problema que terá de ser resolvido pelos jogadores, tendo em conta
que as anteriores são importantes condicionantes da decisão táctica
Destes, os factores tácticos são indicados, por alguns treinadores, como sendo os mais
relevantes para o rendimento no Futebol (Garganta, 1997). No entanto, salvaguarda-se a
importância dos demais factores, pelo papel relevante que assumem no suporte dos
comportamentos tácticos que o jogo exige. Assim, torna-se evidente que um comportamento
táctico se apresente numa estreita relação de dependência recíproca com os processos
cognitivos. Intrinsecamente relacionado com a ideia anterior, Abernethy (1991) destaca que “os
grandes jogadores parecem executar os seus movimentos como se tivessem todo o tempo do
mundo para executar os mesmos.” Ou seja, “ esses comportamentos e padrões de jogo
requisitam dos jogadores conhecimentos específicos/imagens mentais para o seu
reconhecimento e para a respectiva intervenção” (Guilherme Oliveira, 2004).
Abarcando todos os factores acima mencionados, dando destaque à relação entre a
dimensão táctica e os processos cognitivos, Rui Faria (cit. por Ilharco & Lourenço, 2007:78)
menciona que “ O jogo joga-se fundamentalmente com a cabeça. A mente tem de estar sempre
presente e o jogo tem de começar por ser um fenómeno pensado. O cérebro não está isolado
dos pés; as coisas não acontecem dessa forma. Os pés funcionam num processo que passa
pela mente.”
Numa perspectiva do jogo propriamente dito, este caracteriza-se por complexas relações
de oposição e de cooperação que decorrem dos objectivos de jogadores e equipas, assim como
do conhecimento que estes possuem do jogo, de si próprios e dos adversários (Garganta e
Oliveira, 1996). Assim, a forma de actuação de um jogador está fortemente condicionada pelos
seus modelos de explicação, mais concretamente, pelo modo como ele concebe e percebe o
jogo. São esses modelos que induzem as respectivas decisões, condicionando a organização da
percepção, a compreensão das informações e a resposta motora (Garganta, 1997).
Contudo, deve-se entender táctica não apenas como uma das dimensões tradicionais do
jogo, mas sim como a dimensão unificadora que dá sentido e lógica a todas as outras. Assim, a
dimensão táctica funciona como a interacção das diferentes dimensões, dos diferentes
jogadores, dos diferentes intervenientes no jogo (jogadores e treinadores) e dos respectivos
conhecimentos que estes evidenciam (Guilherme Oliveira, 2004), devendo constituir-se como o
princípio director da organização do jogo (Teodorescu 1984; Garganta, 1997).
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2.Revisão de Literatura 39
Ora segundo Bayer (1994), a cooperação representa um dos traços específicos dos
desportos colectivos, quer dizer que todo o jogador dentro da equipa e em função do objectivo
comum previamente determinado deverá ajudar os seus companheiros e comunicar com eles.
Para comunicar é necessário falar a mesma linguagem, quer dizer, ter um sistema de referência
comum. Ora jogar com princípios idênticos, utilizando factores idênticos representa ter uma
linguagem que vai permitir a compreensão mútua. Respeitando estes princípios operacionais
susceptíveis de evolução, o jogador deve perceber constantemente, compreender e antecipar as
situações que se desenrolam, para agir de maneira vantajosa durante aquelas nas quais se
encontra implicado. Essa atitude só será possível se todos actuarem numa base de acção
idêntica e significativa para todos.
No jogo, a táctica é um meio através do qual uma equipa tenta valorizar as
particularidades dos seus próprios jogadores, bem como outras qualidades acumuladas durante
a preparação. O mesmo refere que o papel da táctica na obtenção da vitória cresce
paralelamente ao valor das equipas em disputa, em especial quando são sensivelmente
próximas física, técnica e psicologicamente.
Segundo Teodorescu (1984) e Riera (1995), importa ter presente que, a táctica individual
constitui a base da táctica colectiva, no sentido de encontrar soluções para superar a equipa
adversária, tanto no ataque como na defesa. Os jogadores devem saber o que fazer em conjunto
(táctica colectiva), para poderem resolver o problema subsequente, o como fazer (táctica
individual), ou seja seleccionar e utilizar a resposta motora mais adequada (Dugrand, 1989;
Garganta e Pinto, 1996).
Neste âmbito, por táctica individual, Teodorescu (1984) entende ser o conjunto de
acções individuais utilizadas conscientemente por um jogador na luta com um ou mais
adversários e em colaboração com os companheiros, com o objectivo da realização das missões
do jogo, tanto no ataque como na defesa.
Por intermédio de uma observação microscópica, táctica não significa somente uma
organização em função do espaço de jogo e das missões específicas dos jogadores, esta
pressupõe, em última análise, a existência de uma concepção unitária para o desenrolar do jogo,
ou por outras palavras, o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permite
estabelecer uma linguagem comum (Castelo, 1996). Trata-se de formar “jogadores inteligentes”
(Greco, 1999), com capacidade de decisão, dotados de recursos, experiências e conhecimentos
para solucionar diferentes situações do jogo, sendo que “o importante é formar jogadores, não
repetidores” (Greco, 1988:30).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 40
Pretendendo-se que o praticante analise, perceba e aja, em função da leitura do jogo, é
fundamental a forma como o professor/treinador emite informação. Quando prescreve soluções
(ex. diz ao jogador para executar “passe de 1ª instância”) não induz o praticante a ler o jogo, não
percebendo este, na maioria das situações, a razão da solução prescrita (Mesquita, 2007).
Contrariamente, se o professor/treinador questiona o praticante, no sentido de ele
identificar o cenário de jogo (para o mesmo exemplo, diz ao jogador: “quais são e como estão
posicionados os teus colegas de equipa para que seja possível o passe de 1ª instância?”), este
pode decidir em função de análise que realizou, compreendendo o motivo da solução adoptada
(idem, 2007)
Verificando os exemplos mencionados e segundo a mesma autora, não basta que as
tarefas de aprendizagem apelem para o sentido táctico, se o professor/treinador na emissão de
informação não promover a autonomia na tomada de decisão táctica. Dito de outra forma, mais
importante que prescrever é fundamental questionar os praticantes, na medida em que
incrementa o desenvolvimento do raciocínio táctico e a autonomia decisional, pressupostos
edificadores da prática do jogo qualificado.
Paris & Winograd (1998, cit. por Mesquita, 2007) enfatizam a importância da implicação
dos processos cognitivos na tomada de decisão quando referem que ser estratega é mais
importante do que ter uma estratégia. O facto de se ter uma estratégia não significa que se saiba
aplicá-la oportunamente, porquanto ela existe independentemente da configuração ecológica do
envolvimento situacional. Pelo contrário, ser estratega significa que, antes de decidir, o
praticante realiza uma análise cuidada da situação-problema, equaciona as alternativas de
solução e adopta a solução ajustada às particularidades contextuais. Neste sentido, torna-se
crucial para os jogadores que o desenvolvimento dos processos de análise e de interpretação
das situações sobre as quais vão agir, abrindo o caminho a sua compreensão e,
concomitantemente, para a adopção de processos decisionais, cada vez mais complexos.
Para o efeito, o treinador deve orientar a percepção dos jogadores para uma capacidade
de leitura do jogo e de execução das habilidades técnicas de nível superior, fazendo com que o
entendimento do jogo se expanda, não se tratando “ (…) de um problema sensorial ou
meramente técnico, mas de uma questão que é, antes de tudo, conceptual” (Garganta, 2004).
Através de um apelo preferencial à observação, pela contextualização da instrução nos
cenários concretos de prática, e utilizando preferencialmente o questionamento como técnica
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 41
instrucional, os treinadores promovem o desenvolvimento da capacidade perceptiva no ambiente
ecológico da tarefa e consequentemente, a valorização da inteligência táctica. Relevância
cognitiva que é mediada pelo treino e pelo jogo, permitindo que as acções dos jogadores se
organizem em hábitos que são sistemas de produção de conhecimentos (Marina, 1995).
É essencial para o desenvolvimento da antecipação que os jogadores de futebol com
elevada capacidade na leitura do jogo, seleccionem as sugestões visuais e reconheçam os
modelos do jogo como a acção. Além desta capacidade de processar informação relativa a
contexto, os jogadores com maior capacidade têm expectativas à priori mais exactas dos
eventos, comparativamente com jogadores menos capacitados. Este conhecimento superior "da
probabilidade situacional" ajuda os jogadores na condução da informação percepcionada,
verificando as expectativas iniciais (Stratton et al, 2004).
Essa probabilidade situacional pode ser genérica, aplicável numa variedade de cenários
relacionados que implicam jogadores diferentes e equipes, ou específico (relacionar com uma
determinada equipe ou jogador) na natureza. A relação cíclica entre as expectativas iniciais do
jogador relativamente ao que provavelmente acontecerá e a interpretação mais eficaz da
informação relativa ao contexto, é a fundação principal da habilidade de antecipação no futebol
(Williams, 2000). Então, as relações que o jogador estabelece entre este modelo e as situações
que ocorrem no jogo, orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da
percepção, a compreensão das informações e a resposta motora (Garganta, 1997).
Parece igualmente plausível, conceber a Inteligência como uma faculdade específica e
não generalista. O conhecimento é algo específico e contextual, não preexistindo em nenhum
lugar ou forma, mas actuando em situações particulares (Varela et al., 2001), sendo que “os
limites da minha linguagem, são os limites do meu mundo” (Wittgenstein, cit. por Bento, 1994).
O facto de a Inteligência ser específica, torna necessário que os jovens sejam
confrontados com situações de aprendizagem o mais próximo possível da realidade (Jensen,
2002). A par do anterior, Gaiteiro (2006:122) sugere que esta, não se trata de uma Inteligência
qualquer, mas sim específica e que se encontra “subjacente ao jogar futebol, um saber que se
concretiza na acção.”
A Inteligência de jogo reporta-se às ligações que os Jogadores estabelecem entre si e
ao modo como preenchem o Jogo, sendo uma faculdade que não se vê nem se avalia mas que
se expressa por indicadores relacionados sobretudo, com o modo como os Jogadores criam
contextos e se ajustam a estes, e ainda com o modo intencional com que se relacionam (Gomes,
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
2.Revisão de Literatura 42
2008). O que implica que o fomento da Inteligência de Jogo, através da vivenciação de um
determinado jogar que tenha subjacente um padrão de conexões.
Um dos aspectos mais relevantes da Inteligência de Jogo, em nosso entendimento, e
enquanto Inteligência em acção resulta do seu carácter operativo e funcional (Cunha e Silva,
2008), uma necessidade inerente a esta actividade. São também estas características que
permitem destrinçar este conceito de Entendimento de Jogo. “Por entendimento, consideramos o
corpus teórico relativo a uma determinada matéria. Motivo pelo qual sugerimos, que o
Entendimento de Jogo se encontra mais relacionado com a dimensão teórica do Jogo, e não
com a praxis” (Maciel, 2008). Ou seja, contrariamente à Inteligência de Jogo, é um saber
inoperacional, que não se expressando em campo, tem também lugar no Fenómeno
multidimensional que é o Futebol. Enquanto a Inteligência de Jogo, abarcando o Entendimento
de Jogo, vai mais além, reportando-se à esfera do fazer e observa-se, de modo mais evidente
nos Jogadores pela expressão dos seus desempenhos, mas também pelos treinadores, os
quais, embora de modo diferenciado também têm de evidenciar um saber operacional, que lhes
permita a partir do Entendimento de Jogo, agir e adoptar estratégias que permitam solucionar os
problemas que o Jogo, a Competição e o treino colocam (idem, 2008). Marisa Gomes (2008)
concorda com a necessidade de diferenciar os conceitos de Entendimento de Jogo e Inteligência
de Jogo, esclarecendo que apenas os Jogadores e treinadores podem revelar Inteligência de
Jogo, por serem parte integrante de um contexto, de um “nicho ecológico”, os quais podem
intervir no lado emergente.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 43 43
3. Metodologia
Para a concretização dos objectivos definidos para o estudo, foram realizadas pesquisas
qualitativa e quantitativa, com recurso à realização de uma entrevista em ambiente natural, com
posterior interpretação e análise das informações recolhidas, como também, conjugação das
mesmas com os jogos observados segundo as traves mestras que se seguirão.
3.1. Metodologia de Pesquisa
No que diz respeito à parte teórica, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e
documental, tendo sido seleccionada a informação que melhor pareceu enquadrar-se com o
tema em questão.
A partir desta base e de acordo com os objectivos especificados, foram elaboradas uma
série de questões guia que serviram de suporte para a entrevista realizada.
Relativamente à parte prática, a metodologia utilizada na recolha dos dados, ocorreu sob
a forma de inquérito oral, por meio de entrevista de estrutura aberta, com base em questões
guia, previamente elaboradas e registadas num gravador Olympus (VN240PC). Desta forma, o
entrevistado pude expor os seus pontos de vista de uma forma clara e mais aprofundada.
A entrevista foi gravada com o conhecimento e autorização do entrevistado.
Alicerçada à entrevista, foi também realizada a observação, análise e consequente
interpretação dos dados referentes aos oito jogos da equipa do Sporting Clube de Portugal.
3.2. Caracterização da Amostra
Quando se opta pela realização de entrevista com posterior observação audiovisual dos
jogos referentes à Equipa do Treinador em questão, pretende-se saber aquilo que o entrevistado
pensa acerca de um determinado assunto, com o intuito de esclarecer vários dos aspectos
abordados na revisão bibliográfica, para que os mesmos possam ser corroborados por
intermédio da análise e observação audiovisual. Nesse sentido, a escolha dessa pessoa foi
bastante criteriosa, para que a qualidade fosse indiscutível e para que aquilo que ele pudesse
referir, fosse substancial e de referência.
De acordo com o que foi dito, o treinador de futebol seleccionado foi:
• Paulo Bento (Treinador de Principal da Equipa Sénior do Sporting Clube de Portugal).
Este treinador foi o escolhido porque para além de estar num dos melhores clubes
nacionais de futebol, já desenvolve um trabalho no mesmo há três anos e meio, existindo tempo
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 44 44
suficiente para que o método utilizado pelo mesmo, demonstre os seus frutos, sendo-lhe
reconhecida grande qualidade e competência. Para além disso, antes de desenvolver a função
de treinador, o nosso entrevistado fez a sua formação como jogador no Sport Lisboa e Benfica e
Estrela da Amadora, prolongando a sua formação como jogador profissional no Sporting Clube
de Portugal, Real Ovideo Club de Fútbol, representando igualmente, a Selecção Nacional
Portuguesa nas mais variadas competições internacionais.
Segundo o mencionado, o nosso entrevistado manifesta todas as características para a
execução deste trabalho.
3.3. Procedimentos Metodológicos
3.3.1. Recolha dos Dados
A entrevista foi realizada no dia 2 de Abril de 2009, no local previamente estabelecido
pelo entrevistado. Antes do início da mesma, o entrevistado foi informado dos objectivos do
estudo e da forma como a entrevista estava estruturada.
Para explorar devida e correctamente o seu conteúdo, foi utilizado um gravador com o
conhecimento e autorização dos entrevistados.
Posteriormente a entrevista foi transcrita para o programa Microsoft Word 2003 do
Microsoft Windows XP Home Edition.
No que concerne a visualização e análise dos jogos da Equipa em questão, utilizamos o
software Windows Media Player 11 e uma folha de registo com os respectivos critérios e
variáveis definidas para observação (ver em Anexos).
3.3.2. Instrumento
Como análise, a priori, verificamos o conteúdo que a entrevista possui segundo as
orientações por nós perspectivadas para a execução do trabalho, uma vez que para a execução
da mesma, dividimos a entrevista em três macroestruturas:
1º Motivação para o exercício da profissão – na qual, procuramos entender como é
que as experiências do nosso entrevistado, ao longo da sua carreira, o conduziram e
influenciaram para o exercício da profissão de treinador de futebol;
2º Modelo de Jogo a partir da concepção do treinador – quais os princípios, valores,
ideias, referências que norteiam a concepção de jogo por parte do treinador, como estão
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 45 45
organizadas e de que forma as estrutura, de modo a que possamos caracterizar o seu
Modelo de Jogo, verificando não só como o mesmo pode emergir mas, por outro lado,
verificar o fio condutor entre a concepção e a operacionalização, utilizando a observação
dos jogos para constatar tais factos;
3º Organização posta em prática – tendo em conta o Modelo de Jogo preconizado pelo
treinador, observar e compreender o modo como se processa toda a construção,
desenvolvimento e organização do processo, de forma a que o mesmo, através de um
treino altamente qualitativo, se expresse num jogar organizado e consubstanciado numa
vertente teórica sustentada e coerente.
Depois de encontradas as linhas de condução para o desenho observacional, torna-se
possível, a posteriori, definir a condução destas na investigação, manifestando-se fundamental a
delimitação das possíveis situações de observação a partir das quais serão recolhidos os dados
deste estudo. Neste sentido, o passo seguinte consiste na definição e explicitação de um
conjunto de critérios conducentes à selecção da possível amostra, uma vez que em virtude do
carácter da investigação, a metodologia utilizada para a observação dos quatro momentos do
jogo, assentou no método preconizado por Barreira (2006).
De acordo com a observação dos jogos, este foram filmados pelo clube da amostra,
sendo no caso do Sporting Clube de Portugal, cedidos em formato DVD pelo Gabinete de
Scouting.
A visualização dos jogos e respectivas tarefas de observação foram efectuadas por
DVD, através de um computador portátil HP Pavilion Entertainment PC, com processador AMD
Turion X2 Ultra 64 GHz, através da utilização do software Windows Media Player 11, o qual
possui uma função – reprodução – que confere uma vantagem significativa relativamente à
visualização por vídeo. Ou seja, para além das vantagens comuns com a utilização vídeo,
nomeadamente a capacidade de realização de observação e de reobservação da mesma
conduta quantas vezes se achar necessário para uma correcta interpretação ou reformulação do
registo, assim como da visualização em “slow motion”, permite analisar com maior detalhe e
atenção todos os pormenores a registar.
Desta forma, cada sequência de cada momento de jogo foi observado pelo menos uma
vez em velocidade normal, tantas quantas necessárias em “slow motion”. Torna-se assim
possível que o observador se sinta mais seguro na codificação de categorias e indicadores,
diminuindo deste modo o erro.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 46 46
Na construção do instrumento, tivemos em particular atenção a definição de cada critério
vertebrador, existindo o cuidado de criar algo que o identificasse e diferenciasse relativamente
aos demais critérios conforme é possível constatar na folha de registo dos dados do jogo (ver em
Anexos). Desta forma, foi criado para cada critério/categoria uma raiz identificativa, que colocada
no início de cada código, permite identificar a conduta codificada como pertencente a um critério,
ou seja, variável.
3.4. Descrição do Instrumento
3.4.1. Conceptualização e Explicitação das variáveis em observação
De acordo com o anteriormente manifestado e após ter sido realizada a análise da
entrevista, foram definidas a linhas orientadoras ou princípios comportamentais padrão do
«jogar» relativo à Equipa do Sporting Clube de Portugal, treinado por Paulo Bento.
De todos os princípios destacados ao longo da entrevista, os quais se encontram abaixo
citados, permitem-nos construir os critérios e respectivas variáveis de análise e observação,
segundo os quatro momentos de jogo caracterizados pelo treinador.
O objectivo da análise e observação dos jogos já mencionados, centra-se na
constatação de um conjunto de invariâncias (comportamentos que se manifestam com
regularidade) pretendidas pelo Modelo de Jogo, tendo como pano de fundo o próprio jogo
preconizado e pretendido pelo treinador.
Uma vez que é o jogo que dita as próprias leis, funcionando o Modelo de Jogo como
forma de as contrariar num campo de forças e ideias em confronto, destacámos que as equipas
em confronto potenciam as suas características através dos momentos do jogo. Deste modo,
Teodorescu (1984) divide o jogo em duas fases: a fase defensiva e a fase ofensiva. A primeira é
caracterizada pela equipa não ter a posse da bola e através de acções colectivas e individuais,
que não infrinjam as leis do jogo, tentam ganhá-la de forma a evitar o golo na sua baliza. A
segunda caracteriza-se por a equipa ter a posse da bola e através de acções colectivas e
individuais, sem infringirem as leis do jogo tentar marcar golo (idem, 1984).
Tendo em conta o termo fases, o qual surge em função da característica sequencial
dessas mesmas etapas, ou seja, existe sempre uma lógica sequencial implícita (Guilherme
Oliveira, 2004).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 47 47
Uma outra perspectiva relativamente à organização e dinâmica do jogo de Futebol surge
pela utilização do termo momento em detrimento do termo fase. Pretende-se assim mapear o
jogo de Futebol a partir de momentos (Barreira, 2006).
Desta forma, a perspectiva que preconiza a organização do jogo de Futebol em
momentos, refere que os jogadores, tanto individual como colectivamente, procuram atingir o
objectivo do jogo, não por duas fases, mas através de quatro momentos (Louis Van Gaal, in
Kormelink e Seeverens, 1997; Mourinho, 1999; Guilherme Oliveira, 2004):
(1) O Momento de Organização Ofensiva, considerado o conjunto de comportamentos
que a equipa assume quando adquire a posse de bola, com o objectivo de preparar e criar
situações ofensivas, de forma a marcar golo;
(2) O Momento de Transição Ataque/Defesa, como os comportamentos que se devem
assumir nos segundos após perda de posse de bola, estando ambas as equipas
desorganizadas;
(3) O Momento de Organização Defensiva, que visa contrariar o primeiro momento, isto
é, quando não existe a posse de bola, organizar-se de forma a impedir que a equipa adversária
se prepare, crie situações de golo e marque golo;
(4) O Momento de Transição Defesa/Ataque, que se caracteriza pelos comportamentos
que se devem ter nos segundos imediatos ao recuperar-se a posse de bola.
Como continuum dos momentos supracitados de modo a que possamos aprofundar os
mesmos, podemos constatar que os diferentes momentos do jogo apresentam comportamentos
que podem assumir várias escalas, ou seja, uma escala colectiva, sectorial ou grupal, inter-
sectorial e individual. Assim, Castelo (1996) salienta dois aspectos que os Modelos de Jogo
devem evidenciar, isto é, refere-se à definição e reprodução do sistema de relações e inter-
relações estabelecidas entre os diferentes elementos da equipa, como também, evidencia o
carácter aberto e criativo do Modelo.
De acordo com esta lógica, para podermos proceder à análise e discussão, a posteriori,
entre o pretendido e o ocorrido através da análise de vídeo, foi necessário caracterizar, a priori, o
Modelo de Jogo do Sporting Clube de Portugal através da análise da entrevista realizada ao
Treinador da mesma, Paulo Bento.
Na entrevista realizada, verificámos que para se criar uma dada forma de jogar,
estabelece-se a organização dos princípios de jogo da equipa de modo a desenvolver o Modelo.
Para jogar como pretende, em primeiro lugar, Paulo Bento (Anexo 1, pág. IX) quer que a sua
equipa, no Momento de Organização Ofensiva, dê Profundidade ao jogo, ou seja, “sempre que
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 48 48
se possa jogar para a frente, não tem de jogar para o lado. Depois quando não se puder jogar
para a frente, primeiro para o lado do que para trás”, isto é, Segurança.
Desta forma, para que estes dois princípios se manifestem, existem premissas inerentes
aos mesmos, significando que na primeira e segunda fases de construção, o entrevistado
pretende que haja “zero por cento de risco”, enquanto na criação e finalização, “cem por cento
de risco” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX). Como exemplo para a concretização da primeira e
segunda fases, Paulo Bento preconiza que os seus jogadores realizem “o menos toques
possíveis especialmente pela linha defensiva, que a bola não circule pelos quatro defesas mais
do que uma vez, que a bola não passe de lateral a lateral e volte, outra vez, de lateral a lateral.
Não jogar com os dois laterais à mesma altura quando estamos a iniciar a nossa fase de
construção” (Anexo 1, pág. IX).
Alicerçado ao mesmo, não pretende que os seus jogadores sejam criativos na primeira
fase de construção, uma vez que quer “que um jogador seja seguro, simples e eficaz mas que
tenha boa técnica, ou seja, deslocando a bola a 30 e a 40 metros e que a coloque nas zonas em
que nós queremos sair a jogar. Por exemplo, que saiba conduzir a bola à procura de libertar
espaços em zonas mais adiantadas para ligarmos o nosso jogo” (Paulo Bento, Anexo 1, pág.
XV).
No que concerne às fases de criação e finalização, há o objectivo manifesto de “dar
largura, normalmente, com os nossos médios interiores, termos os pontas-de-lança como
suporte para a nossa profundidade, seja no espaço interior, seja quando temos de sair pelos
corredores” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX).
Por intermédio da descrição supracitada pelo treinador e como forma de analisarmos de
forma coerente e sistematizada os vários momentos do jogo, definimos como início do processo
de Organização Ofensiva todas as intervenções motoras que um jogador e companheiros da
mesma equipa (colectivo) realizam desde o final da Transição-Estado defesa/ataque, estando
em disposição de dar continuidade à posse de bola, na tentativa de cumprir os princípios gerais
da acção do jogo ofensivo: (1) conservar a bola; (2) progredir com a bola para a baliza
adversária; (3) desequilibrar a defesa adversária e tentar marcar golo (Bayer, 1994), até
acontecer uma conduta inerente critério 3 – ITEAD – Início Da Transição-Estado Ataque-Defesa /
Perda Da Posse De Bola (Início da Transição Ataque-Defesa).
Para tal, seleccionámos como variáveis mais pertinentes para análise do respectivo
momento – Organização Ofensiva –, às seguintes:
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 49 49
Critério 1 – OOf – DESENVOLVIMENTO DA POSSE DE BOLA (Inicio e
Desenvolvimento da Organização Ofensiva)
(1) OOfpc – Organização Ofensiva por passe curto: sempre que o portador da bola realiza
um passe curto (passe dentro da mesma zona ou entre duas zonas contíguas) para um dos
companheiros com o intuito de dar continuidade à OOf;
(2) OOfpl – Organização Ofensiva por passe longo: sempre que o portador da bola realiza
um passe longo (passe entre duas zonas não contíguas) para um dos companheiros com o
intuito de dar continuidade à OOf;
(3) OOfcd – Organização Ofensiva por condução: o portador da bola realiza um número de
contactos consecutivo, igual ou superior a três, fazendo-a progredir pelo terreno de jogo;
(4) OOfrc – Organização Ofensiva por recepção/controle: acção em que um jogador da
equipa em OOf recebe e controla a bola enviada por um colega, mantendo a continuidade da
OOf;
(5) OOfd – Organização Ofensiva por drible: o portador da bola procura ultrapassar o(s)
seu(s) adversário(s) directo(s), e manter a posse de bola ou ganhar posição ou espaço sobre
este(s), mantendo a continuidade da OOf;
(6) OOfdu – Organização Ofensiva por duelo: acção em que um jogador da equipa em posse
bola disputa a mesma com um adversário (p. ex. uma bola em trajectória aérea não controlada
por nenhum dos jogadores), tentando manter a continuidade da OOf;
(7) OOfgr – Organização Ofensiva pelo guarda-redes: intervenção ocasional do guarda-redes
da equipa em OOf.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 50 50
De acordo com as variáveis anteriormente seleccionadas, revela-se crucial que as
mesmas sejam identificadoras e configurem um determinado Método de Jogo Ofensivo. No
que concerne ao último, Garganta (1997) considera que o observador deverá entender a forma
como os jogadores duma equipa desenvolvem o processo ofensivo da sua equipa, desde o
momento da aquisição ou recuperação da posse da bola, até ao momento de finalização ou
perda da posse da bola.
Para a caracterização desta variável, o autor (1997) considera as seguintes referências:
a. Relação de forças da equipa que defende, equilíbrio ou desequilíbrio espacial, face
ao ataque, no momento da conquista ou aquisição da posse de bola;
b. Tipo de passes utilizados (direcção/sentido, alcance);
c. Número de passes utilizados;
d. Tempo de realização do ataque;
e. Ritmo de jogo.
Segundo vários autores (Teodorescu, 1977; Wrzos, 1984; Mombaerts, 1991; Castelo,
1994; in Garganta, 1997), consideram três métodos de jogo ofensivos fundamentais: contra-
ataque, ataque rápido e ataque posicional. Tendo em conta o primeiro dos três métodos, Contra-
Ataque, este é uma acção táctica que consiste em, logo após ter conquistado a bola no meio
campo defensivo próprio, procurar chegar o mais rapidamente possível à baliza adversária, sem
que o oponente tenha tempo para se organizar defensivamente (Ramos, 1982, cit. por Garganta,
1997).
Por outro lado, Castelo (1992, cit. por Garganta, 1997) menciona que o que distingue o
método anterior do Ataque Rápido, reside no facto de que enquanto no primeiro se assegura as
condições mais favoráveis para preparar a fase de finalização antes da defesa contrária se
organizar, no ataque rápido a fase de finalização é preparada já com a defesa adversária
organizada.
Diametralmente oposta aos dois métodos anteriormente mencionados, encontra-se o
Ataque Posicional, o qual possui uma fase de construção mais demorada e elaborada e na qual
a transição defesa-ataque se processa com predominância dos passes curtos, desmarcações de
apoio e coberturas ofensivas (Garganta, 1997).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 51 51
Tendo em conta as três definições apresentadas, de seguida enunciaremos as
características que pretendemos observar através da investigação que estamos a realizar, ou
seja:
Método de Jogo Ofensivo (MJO):
(8) OOfca – Método de Jogo Ofensivo por Contra-Ataque:
8.1. A bola é conquistada no meio campo defensivo e a equipa adversária apresenta-se
avançada no terreno de jogo e desequilibrada defensivamente;
8.2. Utilizam-se sobretudo passes longos e para a frente. A circulação da bola é
realizada mais em profundidade do que em largura, com desmarcações de ruptura;
8.3. Passes em número reduzido (igual ou inferior a 5);
8.4. Rápida transição da zona de conquista da bola para a zona de finalização; baixo
tempo de realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12’’;
8.5. Ritmo de jogo elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos jogadores).
(9) OOfar – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Rápido:
9.1. A bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária
apresenta-se equilibrada defensivamente;
9.2. A circulação da bola é realizada em profundidade e em largura, com passes rápidos,
curtos e longos alternados, e desmarcações de ruptura;
9.3. 7 é o número máximo de passes realizados;
9.4. Tempo de realização do ataque não ultrapassa, em regra, os 18’’;
9.5. Ritmo de jogo elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos jogadores).
(10) OOfap – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Posicional:
10.1. A bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária
apresenta-se equilibrada defensivamente;
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 52 52
10.2. A circulação de bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com
passes curtos e desmarcações de apoio;
10.3. Realiza acima de 7 passes;
10.4. Tempo de realização do ataque elevado (superior a 18’’);
10.5. Ritmo de jogo lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor velocidade
de circulação da bola e dos jogadores).
Como todo os momentos do jogo possuem uma relação de profunda inter-
independência, co-influenciando com o decorrer do mesmo, considerámos que a equipa finaliza
o início e desenvolvimento da Organização Ofensiva / Desenvolvimento da Posse de Bola (OOf)
quando se concretiza uma das situações do presente catálogo, apresentando-se um final com
eficácia ou sem eficácia ofensiva.
Deste modo, as variáveis seleccionadas para o critério 2 são as que se seguem:
Critério 2 – FOOf – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA (Finalização com ou sem
eficácia)
Critério 2.1 – FOOfef – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA COM EFICÁCIA
(11) FOOfefrf – Final da Organização Ofensiva por remate fora: o FOOfef finaliza com um
remate efectuado por um jogador atacante que sai pela linha de fundo e / ou para fora do terreno
de jogo sem atingir o alvo;
(12) FOOfefrd – Final da Organização Ofensiva por remate dentro: o FOOfef finaliza com
remate efectuado por um atacante que atinge o alvo (baliza adversária, incluindo os postes e a
barra), sem que resulte golo;
(13) FOOfefrad – Final da Organização Ofensiva por remate contra o adversário: o FOOfef
finaliza com remate de um atacante que atinge um adversário;
(14) FOOfefgl – Final da Organização Ofensiva por golo: o FOOfef finaliza com a obtenção
de um golo a favor devidamente validado pelo árbitro do jogo;
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 53 53
(15) FOOfefof – Atingir o terço ofensivo de forma controlada: o FOOfef finaliza quando a bola
atinge (por passe ou condução) o Sector Ofensivo (Sector Defensivo da equipa adversária),
tendo o condutor/receptor da bola no Sector Ofensivo a obrigatoriedade de manter o seu
domínio/controle, dando continuidade à fase ofensiva nesse sector de jogo (Sector Ofensivo);
Critério 2.2 – FOOfsef – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA SEM EFICÁCIA
(16) FOOfsefbad – Recuperação da Posse de Bola pelo Adversário: o FOOfsef finaliza pela
RPB pela equipa adversária através de um desarme, intercepção, duelo, etc;
(17) FOOfsefgrad – Recuperação da Posse de Bola pelo Guarda-Redes Adversário: o
FOOfsef finaliza pela RPB pelo gr adversário (excluindo a acção de defesa de um remate dirigido
à baliza por esta se tratar de uma conduta FOOfefrd);
(18) FOOfseff – Recuperação da Posse de Bola com lançamento para fora: o FOOfsef
finaliza devido a um lançamento para fora do terreno de jogo por um dos atacantes, dando
origem ao perda da posse de bola (excluindo a acção de remate que sai pela linha de fundo e/ou
para fora do terreno de jogo sem atingir a baliza adversária: conduta FOOfefrf), ou por um
jogador adversário, permitindo a continuidade da posse de bola da Equipa Observada;
(19) FOOfsefi – Recuperação da Posse de Bola por Infracção: o FOOfsef finaliza devido a
uma infracção às leis do jogo cometida pela equipa atacante (perde a posse de bola), ou
cometida pelo adversário (equipa em fase ofensiva mantém a posse de bola).
Antes de enveredarmos propriamente pelo momento que se segue, – Transição Ataque-
Defesa – revela-se imperial, numa primeira instância, introduzir e elucidar a diferença entre dois
conceitos chave para análise desta secção, ou seja, Transição-Estado e Transição-Interface,
conforme a recuperação ou a perda da posse de bola aconteça, ou não, de modo directo. Assim,
a “Transição” é considerada como um Estado quando a recuperação ou a perda da posse de
bola acontece de modo directo. Ou seja, a bola tem de ser recuperada, permanecendo dentro do
espaço de jogo regulamentar e não sendo cometidas infracções às leis do jogo (contra ou a
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
favor). Não podem, deste modo, ocorrer condutas indutoras da fase estática de jogo. Já quando
ocorre de forma indirecta, será designada por Transição–Interfase.
Esta circunstância, além de se apresentar como fulcral ao nível do padrão de
desenvolvimento da fase ofensiva ou da fase defensiva, também manifesta a lei da co-
responsabilidade ou processo recorrente, o qual indica que todos os momentos de jogo se auto-
influenciam e auto-determinam, fazendo com que os acontecimentos de um se repercutam nos
restantes, desencadeando ciclos constantes e diferentes pelas suas propriedades, verificando-se
que “todo o processo cujos estados ou efeitos finais produzem os estados iniciais ou as causas
iniciais” (Morin, 1977:175).
Por intermédio dos dois conceitos de Transição supracitados, os quais se apresentam na
investigação realizada por Barreira (2006:67-68) através do mapeamento da dinâmica do jogo de
Futebol pelo próprio autor (Figura 2), verificámos que o conceito operacional de Transição é
entendido segundo as duas formas distintas já referidas: como Estado e como Interfase,
conforme a recuperação ou a perda da posse de bola aconteça, ou não, de modo directo
pressupondo a manutenção da fase dinâmica do jogo.
Figura 1. Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de Futebol (Retirado de
Barreira, 2006)
Assim, podemos dizer que a Transição-Interfase e a Transição-Estado são duas formas
de caracterizar a mudança de fase de jogo, uma vez que a primeira caracteriza-se por um
instante que indica a mudança da posse de bola entre as equipas e assim de fases de jogo.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 55 55
Enquanto a segunda se caracteriza por um lapso de tempo durante o qual decorrem
comportamentos táctico-técnicos, em função dos constrangimentos espaço-temporais do jogo.
Pelo exposto, o entendimento sobre a dinâmica dos possíveis fluxos do jogo de Futebol
e do conceito operacional Transição, a nossa atenção será direccionada para a Transição
enquanto Estado.
A Transição-Estado, objecto do estudo, inicia-se com a recuperação ou com a perda da
posse de bola de forma directa, terminando quando se observarem no fluxo de jogo, um conjunto
determinado de condições que advêm da interacção das Macro-estruturas espaço, tempo e
tarefa, sempre em relação com a equipa adversária.
Relativamente ao Momento de Transição Ataque-Defesa, Paulo Bento concebe que a
equipa seja muito agressiva no primeiro instante, objectivando somente roubar a posse de bola
ao adversário. Por outro lado, no segundo instante, o objectivo centra-se na temporização da
saída do adversário para o ataque, reagrupando com o maior número de jogadores possível, “e
dentro do nosso sistema também, que esse maior número de jogadores possível sejam oito
jogadores, isto é, se tivermos de partir a equipa, partimos com quatro defesas, quatro médios, e
os dois jogadores da frente” (Anexo 1, pág. X).
Ao articularmos os dois momentos de jogo supracitados, verificámos a existência de
uma íntima relação comunicacional e sequencial entre ambos, uma vez que no Momento de
Organização Ofensiva, os pontas-de-lança servem como suporte na construção do processo
ofensivo, tanto no corredor central como nos laterais, associando-se ao facto do treinador
pretender que a equipa se agrupe na estrutura de 1-4-4 (+2) aquando da sua Transição Ataque-
Defesa, de modo a que a equipa, mesmo sem a posse de bola, já esteja preparada para
corresponder a uma “hipotética” Transição Defesa-Ataque, manifestando que a sua
intencionalidade de defender com 9 jogadores (GR+8) se aprofunda numa racionalização de
como atacar de seguida. Isto é, as duas fases do jogo, defender e atacar, não se dissociam em
nenhum momento.
Para que tal seja possível, no presente trabalho, pretendem-se investigar ambos os
Momentos Transição, neste caso, o Momento de Transição-Estado Ataque-Defesa, pelo que é
essencial definir quando este Estado se inicia e quando termina, como mostra a figura 1.1.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 1.1. A Transição-Estado Ataque/Defesa no modelo de organização da dinâmica do jogo
de Futebol da presente investigação (Retirado de Barreira, 2006)
Para que tal se processe, o início da Transição – Estado ataque/defesa acontece
quando se verifica uma perda da posse de bola de modo directo. Enquanto o final da mesma se
desencadeia quando se observa um dos critérios definidores desta situação. Assim, as situações
que conduzem ao final do Estado de Transição ataque/defesa são as referidas de seguida, ou
seja:
a. PrPB directa no SECTOR OFENSIVO ou SECTOR MÉDIO – OFENSIVO:
Após PrPB directa, a mesma atinge o Sector Médio – Ofensivo, no qual deverá existir
um contexto de interacção no Centro do Jogo «Sem Pressão (SP)» sobre o adversário. A
Transição–Estado ataque/defesa não termina enquanto não for criada uma situação SP no SMO.
b. RPB directa no SECTOR MÉDIO – DEFENSIVO:
i. No Centro do Jogo2 verifica-se uma situação de «Pressão3», terminando a Transição–
Estado ataque/defesa quando é realizada a passagem para uma situação de SP nesse mesmo
sector.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 57 57
2
ii. No Centro do Jogo verifica-se uma situação de «Sem Pressão (SP)». A fase
defensiva poderá começar e terminar em Estado de Transição. Esta situação não acontece
(existe um final de Transição–Estado ataque/defesa), ou seja, a Transição–Estado
ataque/defesa termina quando, mantendo o contexto de interacção, sejam efectuados três
passes positivos entre jogadores da equipa adversária.
Se o contexto de interacção no Centro do Jogo se alterar, adoptam-se os critérios
anteriores.
Para a observação do Momento de Transição-Estado Ataque-Defesa, procedemos à
execução da mesma acção através das seguintes variáveis:
Critério 3 – ITEAD – INÍCIO DA TRANSIÇÃO-ESTADO ATAQUE-DEFESA / PERDA DA
POSSE DE BOLA (Início da Transição Ataque-Defesa)
Com vista ao registo espacial das condutas comportamentais do(s) jogador(es) em cada
critério definido, foi seguida a divisão de Garganta (1997) e Silva (2004) em doze zonas de igual
dimensão, a que se atribui a designação de Campograma. A cada zona corresponde uma
categoria diferente, ou seja, um campo de jogo é constituído por doze unidades categoriais que
formam um sistema de categorias exaustivo e mutuamente excluente.
Deste modo, as variáveis números 20 e 26 – ZITEAD – Zona de Perda da Posse de Bola
/ Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa e ZITEDA – Zona de Recuperação da Posse de Bola
/ Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque, respectivamente – possuem a mesma referência de
observação e execução, uma vez que os dados das mesmas serão cruzados de forma a que se
possam verificar as congruências entre o pretendido e ocorrido para ambos os momentos a que
a respectivas zonas pertencem.
2 Define-se Centro do Jogo como a zona onde a bola se movimenta num determinado instante (Castelo, 1996), isto é, através do contexto de cooperação e de oposição dos jogadores influentes no jogo na zona do campograma onde se encontra o portador da bola. 3 O conceito de Pressão encontra-se directamente relacionado com factores táctico – estratégicos inerentes ao contexto de cooperação e oposição dos subsistemas ou níveis de organização «equipa»; «confronto parcial» e «confronto individual», que transformam a cada momento o fluxo acontecimental do jogo (Gréhaigne, 2001), sendo fundamental compreender qual a influência do contexto de interacção no Centro do Jogo no fluxo conductural do jogo.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Sentido do Ataque
Figura 1.2. Campograma da Espacialização do terreno de jogo em doze zonas/categorias –
Formado a partir de uma divisão longitudinal em três corredores (lateral direito, lateral esquerdo
e central) e quatro sectores (defensivo; médio – defensivo; médio – ofensivo; ofensivo)
(Adaptado de Garganta, 1997 e Silva, 2004)
(20) ZITEAD – Zona de Perda da Posse de Bola / Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa;
(21) ITEADime – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa por pressão imediata: a ITEAD
inicia-se após a perda imediata da posse de bola, centrando-se a zona de pressão na própria
zona onde se processou a perda da mesma, como também, pelo número de jogadores que se
encontram dentro da mesma;
(22) ITEADprpb – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de
jogadores que se encontram na zona perda da posse de bola: contabilizar o número de
jogadores directamente relacionados e inseridos na zona de perda da posse de bola;
(23) ITEADpress – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de
jogadores na zona de pressão: contabilizar o número de jogadores que exercem pressão
efectiva sobre o portador da bola e potenciais adversários em posição de dar continuidade à
mesma, dentro da zona de perda da mesma;
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 59 59
(24) ITEADtemp – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa executando a temporização:
não sendo neutralizada a perda da posse de bola através da sua recuperação imediata na zona
onde a perda ocorreu, os jogadores da Equipa Observada retardam a progressão por parte dos
adversários no terreno de jogo.
No caso de não conseguir recuperar a posse de bola, neste momento de transição, a
equipa entra em Organização Defensiva. Neste momento, a equipa privilegia pressionar o mais
alto possível, defender em somente dois corredores, encurtando o espaço em função da pressão
que é executada na frente (em Profundidade), mantendo a concentração defensiva e
agressividade sobre o adversário, objectivando-se que o executem como uma equipa solidária
(Paulo Bento, Anexo 1, págs. X e XI). Esclarecendo a ideia, dá como exemplo: “os nossos
pontas-de-lança a sairem nos laterais contrários quando o adversário joga com um linha de
quatro, que é o que se usa mais em Portugal. Mas normalmente, é o ponta-de-lança que sai no
lateral contrário, concentrando a equipa normalmente em dois corredores, ignorando o corredor
contrário onde está a bola e depois, por questões estratégias, podemos obrigar o adversário a
jogar mais por dentro ou por fora” (idem, Anexo 1, pág. X).
Para que a Organização Defensiva possa ser observada, esta inicia-se e caracteriza-se
pela perda da posse da bola pela Equipa Observada não tendo êxito na execução da pressão
imediata e respectiva recuperação de bola após perda da mesma, acabando por executar a
acção de temporizar como forma de entrar em Organização Defensiva. Assim, a variável
seleccionada para a observação da equipa em estudo centrou-se:
Critério 4 – OD – DESENVOLVIMENTO DA ORG. DEFENSIVA (Posicionamento da
Equipa)
(25) ODnj – Número de Jogadores em Organização Defensiva: a OD centra-se na
contabilização os jogadores que participam activamente neste Momento do Jogo, não tendo em
conta, os jogadores que se encontram deliberadamente disponíveis para o Momento de
Transição, ou seja, à frente da linha da bola.
Desta forma e após a equipa recuperar a posse de bola, a Transição Defesa-Ataque
processa-se de dois modos: “saindo logo pelo corredor onde recuperamos a bola, ou seja,
suportando-nos aí com os jogadores da frente ou com um suporte à retaguarda, preferindo que
seja mais com o médio defensivo do que com os centrais, para podermos variar o centro do jogo
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
e sairmos pelo corredor contrário”, isto é, tirando a bola o mais rápido possível da zona de
pressão, seja em Profundidade, seja em Amplitude, criando a possibilidade de sair pelo corredor
contrário (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX).
Pelo objectivo que o trabalho em si encerra e a par do mencionado anteriormente no
Momento de Transição-Estado Ataque/Defesa, salientámos que o mesmo se repercute para o
Momento de Transição-Estado Defesa/Ataque, sendo essencial definir quando este Estado se
inicia e quando termina, como mostra a figura 1.3.
Figura 1.3. A Transição-Estado Defesa/Ataque no modelo de organização da dinâmica do jogo
de Futebol da presente investigação (Retirado de Barreira, 2006)
O início da Transição – Estado defesa/ataque acontece quando se verifica uma
recuperação da posse de bola de modo directo. Relativamente ao final da mesma, esta ocorre
quando se observa um dos critérios definidores desta situação. Assim, as situações que
conduzem ao final do Estado de Transição defesa/ataque são as referidas de seguida, ou seja:
a. RPB directa no SECTOR DEFENSIVO ou SECTOR MÉDIO – DEFENSIVO:
Após RPB directa, a mesma atinge o Sector Médio – Ofensivo, no qual deverá existir um
contexto de interacção no Centro do Jogo «Sem Pressão (SP)». A Transição–Estado
defesa/ataque não termina enquanto não for criada uma situação SP no SMO.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 61 61
b. RPB directa no SECTOR MÉDIO – OFENSIVO:
i. No Centro do Jogo verifica-se uma situação de «Pressão», terminando a Transição–
Estado defesa/ataque quando é realizada a passagem para uma situação de SP nesse mesmo
sector.
ii. No Centro do Jogo verifica-se uma situação de «Sem Pressão (SP)». A fase ofensiva
poderá começar e terminar em Estado de Transição. Esta situação não acontece (existe um final
de Transição–Estado defesa/ataque), ou seja, a Transição–Estado defesa/ataque termina
quando, mantendo o contexto de interacção, sejam efectuados três passes positivos entre
jogadores da mesma equipa.
Se o contexto de interacção no Centro do Jogo se alterar, adoptam-se os critérios
anteriores.
Neste momento do jogo – Transição Defesa-Ataque –, as variáveis seleccionadas para a
execução da observação dos vídeos relativos à equipa do Sporting Clube de Portugal foram:
Critério 5 – ITEDA – INÍCIO DA TRANSIÇÃO-ESTADO DEFESA-ATAQUE /
RECUPERAÇÃO DA POSSE DE BOLA (Início da Transição Defesa-Ataque)
(26) ZITEDA – Zona de Recuperação da Posse de Bola / Inicio da Transição-Estado Defesa-
Ataque;
Tipos de Recuperação da Posse de Bola:
(27) ITEDAi – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por intercepção: a ITEDA inicia-se
através da intercepção de um passe ou remate do adversário, sem que exista interrupção do
jogo. É também intercepção quando o adversário efectua um passe errado para o espaço vazio.
(28) ITEDAd – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por desarme: a ITEDA inicia-se
através de desarme, intervindo sobre a bola a uma situação de luta directa com um atacante
adversário, que a procura conservar, sem que exista interrupção do jogo.
(29) ITEDAgr – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por acção do guarda-redes: a
ITEDA inicia-se através da conquista da posse de bola por acção do gr (como por exemplo
agarrar a bola após cruzamento ou remate, etc.). Esta conduta contará ou não como início de
TEDA consoante o critério do observador, que tem por base o nível de organização defensiva
do adversário quando a bola é reposta pelo Guarda-Redes da Equipa Observada.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 62 62
Recuperação da Posse de Bola seguida de passe:
(30) ITEDAp – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque seguida de passe: a ITEDA inicia-
se através de uma acção defensiva de um jogador da Equipa Observada, que é de imediato
seguida por passe, sem que exista interrupção do jogo. Considera-se passe o envio da bola, de
forma deliberada ou não, até um outro jogador da Equipa Observada, sem que exista Posse de
Bola, dando continuidade à ITEDA. A acção defensiva pode ser uma intercepção, uma disputa
de bola (p. ex. uma bola em trajectória aérea não controlada por nenhum dos jogadores), ou um
desarme.
Critério 6 – DTEDA – DESENVOLVIMENTO DA TRANSIÇÃO-ESTADO DEFESA-
ATAQUE (Desenvolvimento da Transição)
(31) DTEDApc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe curto:
sempre que o portador da bola realiza um passe curto (passe dentro da mesma zona ou entre
duas zonas contíguas) para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade à DTEDA;
(32) DTEDApl – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe longo:
sempre que o portador da bola realiza um passe longo (passe entre duas zonas não contíguas)
para um dos companheiros com o intuito de dar continuidade à DTEDA;
(33) DTEDAcd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por condução: o
portador da bola realiza um número de contactos consecutivo, igual ou superior a três, fazendo-
a progredir pelo terreno de jogo;
(34) DTEDArc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por
recepção/controle: acção em que um jogador da equipa em DTEDA recebe e controla a bola
enviada por um colega, mantendo a continuidade da DTEDA;
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 63 63
(35) DTEDAd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por drible: o portador
da bola procura ultrapassar o(s) seu(s) adversário(s) directo(s), e manter a posse de bola ou
ganhar posição ou espaço sobre este(s), mantendo a continuidade da DTEDA;
(36) DTEDAdu – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por duelo: acção em
que um jogador da equipa em posse bola disputa a mesma com um adversário (p. ex. uma bola
em trajectória aérea não controlada por nenhum dos jogadores), tentando manter a continuidade
da DTEDA;
(37) DTEDAgr – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque pelo guarda-redes:
intervenção ocasional do guarda-redes da equipa em DTEDA.
Segundo as ideias expressas pelo treinador relativamente aos quatros momentos de
jogo que o seu Modelo contempla, o nosso objectivo prende-se com a relação, existente ou não,
entre o pretendido pelo mesmo e o realizado pelos jogadores, caracterizando a equipa do
Sporting Clube de Portugal segundo o preconizado pelo seu treinador e executado pelos seus
jogadores. Para que tal possa ser compreendido, posteriormente, passaremos à análise dos oito
vídeos da respectiva equipa.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 64 64
Critério 1 Critério 2 Critério 3 Critério 4 Critério 5 Critério 6
OOf –DESENVOLVIMENTO DA POSSE DE BOLA
(Inicio e Desenvolvimento da Organização Ofensiva)
FOOf – FINAL DA ORG. OFENSIVA (Finalização com ou
sem eficácia)
ITEAD – INICIO DA TEAD/PrPB
(Inicio da Transição Ataque-Defesa)
OD –DESENVOLVIMENTO DA ORG. DEFENSIVA (Posicionamento da
Equipa)
ITEDA – INICIO DA TEDA / RPB
(Inicio da Transição Defesa-
Ataque)
DTEDA – DESENVOLVIMENTO
DA TEDA (Desenvolvimento da
Transição)
(1) Desenvolvimento da
OF por passe curto (OOfpc)
(2) Desenvolvimento da
OF por passe longo (OOfpl)
(3) Desenvolvimento da
OF por condução (OOfcd)
(4) Desenvolvimento da
OF por recepção/controle (OOfrc)
(5) Desenvolvimento da
OF por drible (OOfd)
Finalização com Eficácia (FOOfef):
(11) Remate Fora (FOOfefrf)
(12) Remate
Dentro (FOOfefrd)
(13) Remate
contra o adversário (FOOfefrad)
(14) Obtenção de
Golo (FOOfefgl)
(15) Atingir o terço
(20) ZPrP Bola
(ZITEAD)
(21) Pressão Imediata (ITEADime)
(22) Número de
Jogadores na Zona de Perda da Posse de Bola (ITEADprpb)
(23) Número de
Jogadores na Zona de Pressão (ITEADpres)
(24) Temporização
(ITEADtemp)
(25) Número de
Jogadores em Organização Defensiva (ODnj)
(26) ZRP Bola
(ZITEDA) Tipos de Recuperação da PB: - (27) por intercepção (ITEDAi) - (28) por desarme (ITEDAd) - (29) por acção do guarda-redes (ITEDAgr) (30) Recuperação da PB seguida de passe (ITEDAp)
(31) Desenvolvimento da TEDA por passe curto (DTEDApc) (32) Desenvolvimento da TEDA por passe longo (DTEDApl) (33) Desenvolvimento da TEDA por condução (DTEDAcd) (34) Desenvolvimento da TEDA por recepção/controle (DTEDArc) (35) Desenvolvimento da TEDA por drible 1x1 (DTEDAd) (36) Desenvolvimento da TEDA por duelo (DTdu) (37) Desenvolvimento
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
3.Metodologia 65 65
(6) Desenvolvimento da OF por duelo (OOfdu)
(7) Desenvolvimento da
OF por acção do gr da equipa em fase ofensiva (OFgr)
Método de Jogo Ofensivo:
(8) Contra-Ataque (OOfca)
(9) Ataque Rápido
(OOfar)
(10) Ataque Posicional (OOfap)
ofensivo de forma controlada (FOOfefof)
Finalização sem Eficácia (FOOfsef):
(16) RPB adversário (FOOfsefbad)
(17) RPB pelo
guarda-redes adversário (FOOfsefgrad)
(18) RPB
lançamento para fora (FOOfseff)
(19) RPB infracção
(FOOfsefi)
da TEDA por acção do gr da equipa em fase ofensiva (DTgr)
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 66 66
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 67 67
4. Análise e Discussão do Conteúdo da Entrevista
4.1. Análise da Entrevista ao treinador Paulo Bento
Como forma de analisarmos e discutirmos os dados relativos ao nosso tema em estudo
– “Em busca da conformidade entre o Modelo de Jogo do treinador e a performance da equipa
em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal” –, determinamos como guia lógico
para a execução deste trabalho que o mesmo fosse dividido em três macroestruturas. Assim
sendo, a divisão dessas três macroestruturas prende-se com a análise da entrevista realizada a
Paulo Bento, sendo que a segunda macroestrutura – Modelo de Jogo a partir da concepção do
Treinador –, será complementada pela análise de vídeo de oito jogos do Sporting Clube de
Portugal.
Assim sendo e antes de passarmos à análise e discussão propriamente ditas,
salientámos que dentro destas macroestruturas se desenvolverão microestruturas.
4.1.1. Motivação para o exercício da profissão
Ao estar inserido num grupo, para nele se poder viver, conviver e evoluir é necessário
que o indivíduo apreenda e interprete a informação que o mesmo defende, preconiza e utiliza.
Para tal, a equipa e os seus jogadores constroem a sua experiência, os seus valores, as suas
aptidões, as suas necessidades e as suas expectativas. Assim, há a tendência para retermos e
defendermos os dados que são compatíveis com as nossas convicções e as nossas ideologias,
e que nos convêm.
Por intermédio da experiência, valores, regras, necessidades, expectativas, constrói-se o
conhecimento que temos da realidade, conhecimento o qual vamos alicerçar as nossas
convicções, as nossas referências, culminando em condutas de acção. Para tal, é importante
conhecer quais foram os aspectos que o treinador em questão determinou como cruciais para
melhor conhecer o jogo de Futebol.
Deste modo, Paulo Bento (Anexo 1, pág. I) refere que “os aspectos determinantes para
se conhecer melhor o futebol são o estar-se ou tentar-se aperceber dentro da tua experiência
enquanto jogador primeiro e depois como treinador, ou seja, a organização, focalizar-se na
organização das equipas, tentando entender o mais possível e o melhor possível aquilo que
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 68 68
estavas a fazer, especialmente na tua experiência enquanto jogador, ou seja, ao nível do treino.”
O entrevistado acrescenta ainda que é essencial “entenderes o que estás a fazer e o porquê de
o estares a fazer.” Então, podemos depreender que a conjugação de saberes adquiridos
enquanto jogador, numa primeira fase, e actualmente, como treinador, permitem que a
percepção, entendimento e conhecimento sobre o jogo sejam profundos. Tudo isto subordinado
à compreensão dos exercícios executados no treino, fazendo do jogador um Ser Inteligente, pelo
facto de não se limitar a executar mas também, a compreender o que executa e por que razão o
faz.
O facto de a Inteligência ser específica, torna necessário que os jogadores sejam
confrontados com situações de aprendizagem o mais próximo possível da realidade (Jensen,
2002), como também, não se trata de uma Inteligência qualquer, mas sim específica e que se
encontra “subjacente ao jogar futebol, um saber que se concretiza na acção” (Gaiteiro,
2006:122). Por isso, Pires (2005) revela ser crucial entender que só existe desenvolvimento
pessoal, organizacional e social quando a taxa de aprendizagem é superior à taxa de mudança,
ou seja, compreender o que se executa e por que razão o jogador o faz, permite manifestar que
o último tem “a necessidade de ter já em si uma representação daquilo que apreende” (Frade,
1985:3).
Dentro do mesmo raciocínio, Paulo Bento (Anexo 1, pág. I) salienta que a compreensão
“acaba por se tornar mais fácil quando passas para a tua outra experiência como treinador,
poderes explicar aos outros por que razão o vão fazer, para que é que o vão fazer porque tens
uma vivência anterior.” Conjugar a experiência de jogador com a de treinador revela-se um ponto
de coligação em destaque, para que o conhecimento sobre o jogo seja exacerbado. Tudo isto
porque para além da compreensão em vivenciação, a qual é uma peça fundamental para que o
jogador crie um profundo conhecimento sobre o jogo, também se revela imperial que o treinador
saiba transformar o conhecimento que advém do saber fazer como jogador, num saber sobre um
saber fazer como treinador. Tudo isto consubstanciado na vivência anterior.
Tendo em conta a sua formação enquanto jogador, Paulo Bento (Anexo 1, pág. I) afirma
que “a organização de uma equipa, a organização do jogo é aquilo que para mim foi o mais
importante ao longo da minha carreira de jogador.” Como ponto de coligação entre ambas as
formações, a de jogador e a de treinador, as quais são um complemento uma da outra, em
direcção a um conhecimento cada vez mais profundo sobre o futebol, Paulo Bento (Anexo 1,
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 69 69
pág. I) revela que na sua função de treinador o mais importante “é tu entenderes o jogo de uma
forma quase total.”
A problematização do jogo exige que existam pessoas com formação teórica e prática
sustentada, coerente e de elevado nível, possibilitando que exista uma estreita ligação entre
ambas, ou seja, é através da formação, a qual é “objectivada em competências sociais, culturais,
pedagógicas (perceptivas, construtivas, didácticas, expressivas, comunicativa, organizativas) e
metodológicas, que o treinador se apresenta em face dos outros sujeitos intervenientes no seu
campo profissional” (Bento, 1995 e 1999). Por outro lado, o treinador é um elemento que “deve
tomar partido, elegendo a sua visão, o seu método, o seu caminho, tomando consciência de que
os métodos são bons quando os seus utilizadores reconhecem o respectivo alcance e limites”
(Garganta, 2004).
Para que tal seja possível e tendo como base fundamental do seu trabalho a condução
da unidade de acção – a equipa –, o treinador precisa de saber como escolher a sua equipa,
como desenhar o trabalho para aplicar as suas competências, como liderar e impulsionar a
equipa, como motivá-la, como avaliar o seu desempenho para melhorá-lo cada vez mais e como
recompensá-la para reforçar e reconhecer o seu valor. Mas, ao longo de todo este processo, os
jogadores vivenciam vários modelos de jogo, os quais são orientados por treinadores diferentes,
conduzindo os primeiros para referências distintas.
Deste modo, Paulo Bento (Anexo 1, pág. II) afirma que “não é fácil identificarmo-nos só
com um modelo de jogo dos treinadores (…) porque é muito difícil haver só um modelo de jogo
ao longo da tua carreira, diria impossível.” Por este facto, o mesmo (Anexo 1, pág. II) salienta
que o “mais difícil é escolher um com quem tu te identifiques”, fazendo-nos compreender que as
referências do treinador e as do jogador, muitas das vezes não confluem numa mesma
perspectiva relativamente ao modo como percepcionam o contexto onde estão inseridos, sem
como isto comprometer a equipa, os seus objectivos, as suas ideias, os seus valores e as suas
expectativas. Pura e simplesmente, como vivenciaram contextos distintos subordinados as
outras ideias e visões, é natural que construam outro conhecimento que tem tudo para poder
enriquecer o modelo (de jogo) do aqui e agora.
Corroborando com o anteriormente desenvolvido, Paulo Bento (Anexo 1, pág. II) refere
que “o tirar ou como diz o Capelo «o roubar» um pouco de cada um, aquilo com que tu mais te
identificavas, as melhores qualidades e aqui estamos a falar só em termos tácticos, ou seja, tudo
aquilo que faz referência ao modelo de jogo para depois tu, em função das equipas que fores
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 70 70
treinando, poderes aproveitar aquilo que aprendeste”, isto é, vivenciar e experienciar vários
modelos que permitem ao jogador extrair conhecimentos úteis do contexto organizacional onde
esteve e está inserido, fazendo com que a concepção de jogo do mesmo se alargue e
aprofunde, em direcção a um «jogar» próprio, o qual se constrói no caminho que percorre até
exercer a função de treinador.
Assim, caminhámos para um dos aspectos fundamentais do processo de treino, ou seja,
treinar em especificidade. Este aspecto torna-se importante para a construção do nosso Modelo
de Jogo pelo facto de retirarmos ideias, visões e vivências de outros modelos, os quais eram
específicos de cada treinador, mediante a equipa e contexto onde estavam inseridos. Como tal,
Guilherme Oliveira (2003) salienta que “a especificidade é a relação que existe entre o Modelo
de Jogo que se adoptou e a operacionalização do treino. Tudo aquilo que se faz no treino é em
função do Modelo de Jogo adoptado e essa relação é fruto da especificidade.”
A transmissão do modelo de jogo do treinador aos seus jogadores, permite que haja um
cruzar de ideias, as quais estão directamente relacionadas com as vivências de cada um dos
intervenientes. Essas mesmas vivências conduziram e conduzirão o treinador e o jogador no
criar dos seus próprios modelos, modelos esses que formam o conhecimento de cada um deles,
condicionando e dirigindo a focalização da sua atenção na informação para a qual ambos estão
mais sensíveis, permitindo-lhes desenvolver esse conhecimento, ou seja, o seu conhecimento
específico, o de cada um deles.
O conhecimento específico que cada um dos treinadores transmite por intermédio do
seu modelo de jogo, acarreta uma complexidade tal que faz com que emerjam algumas
características em detrimento de outras. Assim, Paulo Bento (Anexo 1, págs. II e III) menciona
que João Alves, Lillo e Fernando Vásquez foram os treinadores que mais o influenciaram ao
longo do seu percurso como profissional de futebol, segundo características distintas. Para o
mesmo entrevistado (Anexo 1, pág. II e III), “João Alves marcou-me muito por vários aspectos
tendo em conta os pessoais (…) foi o primeiro treinador que eu tive em termos profissionais e
naquela altura, notava-se que ao nível do treino que há situações que hoje em dia se fazem que
ele já o fazia naquela altura… falamos em termos de exercícios, da concepção de algumas
unidades de treino… Por isso, foi um treinador que me marcou pela sua organização, pela sua
capacidade de liderança no treino.”
Por outro lado, Paulo Bento (Anexo 1, pág. III) afirma que Lillo foi “um treinador muito
exigente sobre o ponto de vista táctico”, enquanto que Fernando Vásquez se destacava pela
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 71 71
“capacidade de organizar a equipa através de um processo muito simples, ou seja, era um
treinador que usava muito a simplicidade nas unidades de treino, na preparação do microciclo,
até mesmo no seu próprio discurso era um treinador simples e fácil, (…) de entender.”
Podemos, assim, verificar que as características que mais se destacam nos treinadores
supracitados, prendem-se com a organização e capacidade de liderança no treino, pelo
exacerbar da dimensão táctica, estando alicerçada à mesma uma grande exigência, deslocando-
nos para uma simplicidade de processos na organização da equipa, articulada com um discurso
que acompanhava o registo mencionado. Tudo isto, conduziu a focalização do entrevistado para
determinadas referências, as quais salienta que não devem ser alvo de imitação, devendo
atribuir-se o cunho pessoal. Essas mesmas referências conduziram-no para o desenvolvimento
da capacidade de ler e ver o jogo.
Alicerçada à última ideia, Paulo Bento (Anexo 1, pág. III) refere que “estes três
treinadores foram os que me levaram a ver o futebol de uma maneira diferente daquela que
vemos no início da mesma (…)” como também, “ (…) ensinaram-me a ver o jogo e aprendi com
eles muitas coisas, as quais não se devem imitar porque acho que isso não se deve fazer mas
tentando praticar.” Assim, constatámos que os vários modelos de jogo vivenciados pelo
entrevistado enquanto jogador, lhe proporcionaram a construção de um significado pessoal,
sendo este fruto de uma compreensão em projecção (Moigne, 1994), convergindo numa lógica
interna de funcionamento (Garganta & Cunha e Silva, 2000).
Como ponte entre a primeira macroestrutura de análise e discussão – Motivação para o
exercício da profissão –, e a segunda – Modelo de Jogo a partir da concepção do treinador –
dirigimos o nosso olhar para a caracterização do modelo de jogo do Sporting Clube de Portugal,
verificando, não só a complexidade que a sua lógica de construção acarreta como também, os
princípios de jogo específicos dos quatro momentos de jogo privilegiados pelo treinador, ou seja,
Organização Ofensiva, Transição Ataque-Defesa, Organização Defensiva e Transição Defesa-
Ataque.
4.1.2. Modelo de Jogo a partir da concepção do treinador
Como ponto de partida para compreender a complexidade que o treinador atribuí à
ligação intrínseca entre a concepção e operacionalização do modelo de jogo, há que executar
uma pergunta chave antes de se construir um «jogar» de qualidade ambicionado por todos, ou
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 72 72
seja, “O Meu Modelo de Jogo ou o Modelo de Jogo que eu vou trabalhar em determinada
situação?” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. II). Assim, podemos analisar a questão de partida que
Paulo Bento propõem de duas formas: o modelo de jogo ideal do treinador (?) ou o modelo de
jogo do treinador adaptado ao contexto onde está inserido?
Analisando o primeiro ponto da questão – “ O Meu Modelo de Jogo (…) ” –, podemos
dizer que cada treinador trás “ (…) dentro da sua cabeça um modelo mental do mundo, uma
representa subjectiva da realidade externa (…) ” (Tofler, 1970) na qual criou todas as suas
referências, alicerçadas a valores, regras, princípios que transporta consigo para as situações de
treino e competição, sendo o seu modelo ideal de jogo “ (…) uma versão individual da formação
requerida para o desempenho das respectivas funções” (Bento, 1995).
Passando de uma concepção individual do modelo de jogo, para a projecção desse
mesmo modelo numa construção dinâmica e interactiva com o Clube, equipa técnica, jogadores,
entre outros, verificámos que é na operacionalização do mesmo que se encontra o potencial do
próprio modelo, ou seja, quando as ideias que o treinador possui sobre determinada realidade,
sobre determinado jogo, se interconectam com as referências dos seus jogadores, convergindo
ou divergindo em determinados pontos. Como tal, Paulo Bento (Anexo 1, pág. II) salienta que “
não há só um modelo de jogo ou o nosso modelo de jogo. Há o nosso modelo de jogo para este
trabalho que queremos desenvolver, para esta equipa que nós treinamos, para este clube onde
nós estamos.”
Assim, a base fundamental do trabalho de cada gestor, como é o caso do treinador, está
na equipa. Ela constitui a sua unidade de acção, a sua ferramenta de trabalho, cumprindo-lhe ter
uma acção decisiva sobre a mesma. Acção essa crucial em tudo o que diga respeito ao
rendimento e à qualidade de intervenção dos componentes que integram a equipa, decorrendo
num ambiente em constante mutação e a que tem de se adaptar permanentemente, antecipando
o futuro na medida do possível, no aqui e agora, no espaço e no tempo (Araújo, 1997;
Chiavenato, 2004).
Mais do que percepcionar a dimensão que as ideias do treinador possuem na estreita
ligação com os jogadores, revela-se de substancial importância compreender o conhecimento
multidisciplinar que o treinador possui (Frade, 2007), pelo facto do mesmo exercer uma acção
decisiva na construção do seu «jogar», revelando que o conhece na íntegra, possuindo assim a
capacidade para direccioná-lo no sentido que ele pretende (Gomes, 2007).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 73 73
Deste modo, como forma de compreendermos a relação que existe entre a Cultura de
um Clube e o Modelo de Jogo do treinador, Paulo Bento (Anexo 1, pág. IV) afirma que “ uma das
coisas que deve estar dentro do modelo de jogo é a cultura do clube e as ideias do treinador, ou
seja, o treinador deve saber moldar as suas ideias em função da cultura do clube.” A par disto,
Guilherme Oliveira (2007) menciona que “o treinador quando chega a um clube tem de
compreender que vai para um clube com um determinado tipo de história, com determinado tipo
de cultura, com um determinado historial num país com determinadas características. E o
treinador tem de compreender tudo isso e o modelo de jogo tem de envolver tudo isso.”
Pela complexidade estrutural, funcional e organizacional que o modelo de jogo possui,
compreendê-lo na sua globalidade é um dos factores que faz com que o mesmo seja de elevada
importância na execução, aplicação e evolução de um «jogar» de qualidade. Como tal,
Guilherme Oliveira (2008) salienta “o modelo de jogo é uma coisa muito complexa e muitas
vezes as pessoas são muito redutoras no entendimento deste conceito de modelo porque
pensam que o modelo de jogo é apenas um conjunto de comportamentos e ideias que o
treinador tem que transmitir a determinados jogadores”.
Utilizando a apreciação global de Paulo Bento (Anexo 1, pág. IV) sobre o conceito de
Modelo de Jogo, o autor define-o como “ (…) uma forma de jogar, dentro dessa forma de jogar
encontram-se as ideias do treinador, e logicamente também, a cultura do clube porque tu vais
pôr um pouco a equipa a jogar não só em função da cultura do clube mas também, em função
das tuas ideias tendo em conta a cultura do clube.”
Evidenciando esta relação de reciprocidade entre a Cultura do Clube e o Modelo de
Jogo do treinador, as quais se influenciam mutuamente num processo de construção sustentada,
dinâmica, coesa e de elevada complexidade, devemos salientar como primeiro ponto crucial
desta relação, a Cultura do Clube. Assim sendo, Paulo Cunha e Silva (1999) destaca que “o
sujeito do conhecimento constrói-se a si próprio no acto de conhecer. Serve-se do outro para se
edificar”, ou seja, o treinador operacionaliza as suas ideias, valores, regras, princípios em
consonância com as ideias de uma hierarquia à qual está subordinado, o Clube. Como prova
disso, Guilherme Oliveira (2007) evidencia que “quando um clube contrata um treinador, contrata
ideias de jogo porque sabe que vai jogar dentro de determinadas ideias (…) e o treinador tem de
compreender tudo isso e o modelo de jogo tem de envolver tudo isso. E se não se envolve com
tudo isso, o que vai acontecer é que, por mais qualidade que possa ter, pode não ter o mesmo
sucesso do que se tudo isso estiver relacionado.”
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 74 74
Assim, há um conjugar de ideias, teorias e conhecimentos que concorrem para um
mesmo objectivo, sendo que junção destas duas culturas, a do Clube e a do Treinador, se
fundem numa só, sendo que a primeira permitirá, em larga escala, a projecção da segunda,
objectivando-se um crescimento universal de ambas na construção de um futebol de qualidade,
o qual se percepciona na imagem final que a equipa transmite no terreno de jogo.
Deste modo, “a Cultura do Sporting até pela obrigatoriedade que têm em ganhar, pela
sua história, obriga que no nosso modelo de jogo uma das situações que tenha de haver seja a
iniciativa” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IV). Verificámos, então, que uma das características base
do Modelo de Jogo do Sporting é a Cultura do “Ganhar”, sendo que a mesma condiciona o
Modelo de Jogo do treinador, ou seja, atribuí-lhe características fundamentais à priori,
hierarquizando uma filosofia de jogo, numa filosofia da vitória.
A construção do «jogar» de qualidade que conduz ao sucesso colectivo, neste caso
concreto, assenta na concepção e operacionalização de um futebol com iniciativa. Essa iniciativa
traduz-se na “maior capacidade para dominar o adversário do que propriamente jogar a
especular com a situação, a especular com o jogo. Culturalmente não é um Clube que tenha
adoptado essa forma de jogar e nós, também, não o pretendemos fazer nem o temos feito”
(Paulo Bento, Anexo 1, págs. IV e V). A par da afirmação anterior, constatámos a estreita e
íntima relação que deve existir entre a Cultura do Clube e o Modelo do Treinador, permitindo-nos
dizer que o plano mediador pelo qual comunicam, constrói um modo de perceber e pensar que a
sua linguagem comum põe em marcha através da identificação, reconhecimento, memória e
imaginação (processos cognitivos básicos) (Soares, 2005).
Uma vez que a iniciativa é um dos princípios fundamentais da Cultura do Sporting, este
mesmo princípio desenvolve-se através de dois princípios de jogo, ou seja, o maior tempo
possível em organização ofensiva em interacção com uma elevada capacidade para ter a bola,
funcionando como dois dos “aspectos mais importantes do modelo de jogo” (Paulo Bento, Anexo
1, pág. V). Consubstanciado com o supracitado, Paulo Bento (Anexo 1, pág. V) afirma que o que
dá “primazia ou uma particular atenção são as situações de posse de bola que levem os
jogadores a saber jogar dessa forma, ou seja, a saber estar mais tempo a jogar dessa forma,
não descurando os outros aspectos do jogo.”
A par do entrevistado, Mourinho (cit. por Oliveira et al., 2006:192) afirma que “algo que
para mim também é muito claro é que, para se assumir o jogo, é necessário ter a bola. Assumir o
jogo é ter a bola e usufruir dela. A minha táctica principal passa por termos noção bem clara da
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 75 75
coisa mais importante no futebol moderno para além de marcar golos: ter a bola.” Assim,
depreendemos que uma das características que marca a relação íntrinseca entre a Cultura do
Clube e o Modelo de Jogo de Equipas de Top, centra-se no facto dessa interligação ser
sustentada pela capacidade de iniciativa, pelo marcar dos ritmos e velocidade de jogo, pelo
domínio exercido sobre o adversário, ditando o desenrolar do jogo. Ou seja, exerce-se uma
influência consciente sobre o meio por intermédio de acções grupais, de modo a que os
princípios inerentes à Cultura da Equipa se superiorizem em confronto com o adversário.
Apesar da iniciativa de jogo ser um supraprincípio táctico que constitui o Modelo de Jogo
do Sporting, há que ter em conta a capacidade de adaptabilidade e versatilidade que o jogo
obriga mediante a imprevisibilidade e inconstância que o adversário no confronto de valores,
ideias, princípios e referências, introduz no jogo. De tal modo, revela-se imperial compreender se
a cultura e filosofia inerentes ao Modelo de Jogo se mantêm independentemente da equipa que
defrontam. Segundo o modo como Paulo Bento (Anexo 1, pág. V) concebe o jogo, o mesmo
salienta que “mantém-se o que é o nosso objectivo, mantém-se o que é a nossa mentalidade,
mantém-se o que é a nossa forma de jogar porque para mim não faz sentido, mesmo que
reconheçámos que o adversário possua um maior potencial e aqui, (…) não faz sentido mudar
aquilo que se treina de uma forma rotineira, de uma forma programada, de um forma
sistemática.”
Reforçando o lado pragmático do processo, Vítor Frade (2003:III) destaca que “mais
importante que a própria noção de modelo, são os princípios do próprio modelo”, uma vez que
nem todos assumem a mesma importância nem são operacionalizados da mesma forma.
Implícito ao mencionado, o mesmo autor (1985:21) reconhece que devido ao facto de todas as
acções do jogo conterem incerteza, é necessário “realizar estratégias de comportamento, como
arte de agir em condições aleatórias e adversas”, evidenciando a importância de um modelo de
comportamentos e princípios de acção para construir uma dada forma de jogar.
Para que tal se possa processar, ressalta a necessidade imperial de estabilidade na
estruturação, condução e construção do processo. Por intermédio dessa estabilidade relativa, a
qual é necessária em todos os níveis de processamento, do mais simples ao mais complexo,
constatando-se a sua existência quando alguém se relaciona com vários objectos no espaço ou
quando reage emocionalmente, de certa maneira e a certas situações, sempre de um modo
consistente (Damásio, 2000). Ou seja, através da “Inteireza Inquebrantável do jogo”, assumimos
o modelo como a concepção de uma expressão de jogo tendo como princípio base, o estar
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 76 76
constantemente a ser visualizado, mantendo-se o futuro como o elemento causal do
comportamento (Frade, 1985, 2006 e 2007).
Devido à inerente complexidade que o jogo em si encerra, verifica-se através da mesma,
a existência da estabilidade na esfera das ideias, sustentando a continuidade da(s) referência(s),
sendo, pois, um requisito da equipa. Na busca de um substrato biológico para a equipa, devem-
se identificar estruturas capazes de fornecer essa estabilidade (Damásio, 2000), culminando na
acreditação de “ (…) um modelo de jogo perfeitamente definido e não fugir dele, acreditar nele, é
um aspecto marcante das minhas equipas. E é fundamental que isso aconteça!” (Mourinho, s/d,
in Oliveira et al, 2006:191).
Assim, por percebermos o um, pensámos que percebemos o dois, porque um e um são
dois. Contudo, precisámos também de perceber o “e”, isto é, mais do que compreender o ponto
de partida e definirmos a(s) meta(s) que pretendemos atingir, revela-se de elevadíssima
importância utilizar os meios mais ricos, mais eficazes, mais eficientes e que, acima de tudo,
façam com que os jogadores sejam os condutores do processo, pela sua capacidade de
compreensão em execução, fazendo evoluir o projecto para o qual todos contribuem. Então,
mais do que compreender o “um e um”, é imperial compreender o “e”, isto é, o “caminho”,
salientando-se que a verdadeira importância das coisas não está nas coisas em si mesmas mas
sim, nas relações estabelecidas entre elas.
Desta forma, a comunicação entre o modelo e as situações que ocorrem no jogo,
orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão
das informações e a resposta motora dos jogadores (Garganta, 1997), fazendo-nos percepcionar
o jogo como “uma dinâmica do conjunto mas que tem sub-dinâmicas que estão relacionadas
com essa mesma dinâmica de conjunto” (Guilherme Oliveira, 2006). Então, podemos
compreender o jogo como uma unidade colectiva resultante das relações que os jogadores
estabelecem entre si.
Pelo facto do Futebol ser uma modalidade situacional, fazendo emergir a especificidade
relativa a cada modelo de jogo, à cultura organizacional que o próprio «jogar» encerra, podemos
definir o modelo de jogo com um fenómeno que se manifesta por influência da interacção
exercida com ambiente e com o contexto, sobre a expressão do «jogar» que o treinador
ambiciona e constrói com os seus jogadores, perpetuando a construção do «jogar» sobre
“saberes situacionais.”
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4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 77 77
Analogamente e reportando-nos a um exemplo das Neurociências, através de Gerald
Edelman (2008:11), verificámos que nos processos cerebrais, o fio condutor entre os grupos
neuronais vai sendo alterado em função das interacções com o ambiente, nomeadamente a nível
sensorial, manifestando-se assim, um fenómeno epigenético, sobre a expressão do genoma.
Não fazendo sentido mudar o que se treina de uma forma rotineira, de uma forma
programada, de um forma sistemática, Paulo Bento salienta que “o que pode ter e deve ter
sentido é dentro do modelo de jogo da equipa, adoptar algumas situações em termos
estratégicos para, não só, provocar danos no adversário como ao mesmo tempo, adoptar
estratégias para que o adversário não nos provoque danos” (Anexo 1, pág. V). Para que tal seja
possível, mais do que conhecer o adversário por intermédio do seu plano de princípios,
identificando-se uma matriz de jogo, um jogo «cientificável» pelo facto de o podermos identificar,
caracterizar e definir (Oliveira et al., 2006:187), esses dados só serão úteis, caso uma equipa
evidencie uma clara identidade de jogo, uma panóplia de invariâncias, suportando “as «nuances
estratégicas de circunstância» sem se descaracterizar” (idem, 2006:189).
Atribuindo maior profundidade à ideia anterior, Paulo Bento (Anexo 1, pág. VI) destaca
que o seu “modelo de jogo, neste caso concreto o do Sporting, está identificado”, demonstrando
que tais conceitos estão intimamente relacionados com a origem da qualidade de um «jogar»,
fazendo com que o mesmo possa ser decifrado, culminando no reconhecimento do último como
cultura, uma vez que os jogadores ao analisarem e interpretarem os factos do jogo, conferem-lhe
uma significação pessoal (Gomes, 2000a). Isto é, a significação pessoal deve convergir para
uma lógica interna de funcionamento, de forma a que o sistema se auto-regule, resultando do
funcionamento colectivo do mesmo, a organização da equipa por intermédio da “coexistência” de
interacções individuais regidas pelo Modelo de Jogo (Garganta & Cunha e Silva, 2000;
Guilherme Oliveira, 2006; Gomes 2008a).
O Modelo não se restringe somente ao plano conceptual ou ideológico do jogo, ou seja,
compreende igualmente o lado prático uma vez que o jogo é um fenómeno que se encontra em
permanente construção. Assim, para além do modelo de jogo compreender uma evolução
dinâmica e criativa ao longo do seu processo de desenvolvimento, também se revela crucial o
lado das ideias do treinador para o jogar como o é o lado prático do processo, para que os
jogadores compreendam o projecto colectivo da equipa e o desenvolvam (Castelo, 1996;
Guilherme Oliveira, 2008).
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4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 78 78
Para que esse crescimento ou evolução do Modelo de Jogo se processem, em direcção
a um futuro presente com um fim inalcançável, há que saber quais as nuances que devemos
operar ao longo do processo, de modo a que o Modelo se desenvolva paralelamente com o
«jogar» de qualidade.
Deste modo, Paulo Bento (Anexo 1, pág. VII) destaca que “as nuances foram mais em
termos de sistema, dentro do modelo de jogo, do que propriamente em termos de modelo de
jogo. (…) E aquilo que temos tentado fazer, mesmo com algumas alterações em termos de
sistema e mais o segundo sistema do que propriamente o primeiro, uma vez que o mesmo se
tem mantido inalterável, praticamente desde Dezembro de 2005-Janeiro de 2006. Depois aquilo
que alteramos um pouco, foi o nosso segundo sistema”. É-nos permitido constactar, numa
primeira instância, que a evolução do Modelo de Jogo se processa ao nível da alteração do
sistema de jogo, neste caso, do sistema alternativo ou segundo sistema.
Contudo e tendo em conta a identidade demonstrada através da Cultura Táctica e
Organizativa implícita à Equipa do Sporting, há que manifestar a importância de se possuir o
sistema de jogo base ou principal coeso, estável e favorável ao desempenho colectivo da própria
equipa, favorecendo a projecção do segundo sistema por intermédio dos alicerçes iniciais que o
primeiro lhe confere. De forma a verificarmos a mudança estrutural em consonância com a
evolução do Modelo, verificámos que a partir do 1-4-4-2 losângulo como sistema de jogo base ou
principal, na época 2006-2007, o Sporting utilizou como sistema alternativo ao primeiro, o 1-3-5-2
enquanto, na presente época, 2008-2009, utilizou o 1-4-4-2 clássico, fazendo-nos percepcionar
as mudanças operadas ao longo dos 3 anos e meio que o Treinador entrevistado se encontra no
Clube (Paulo Bento, Anexo 1, pág. VII).
Numa segunda instância, verificando-se outra variável que permite a evolução do
Modelo, o entrevistado afirma que “o modelo de jogo é o mesmo mas algumas questões de
interpretação do modelo de jogo são diferentes porque os jogadores também são diferentes. E
mesmo trabalhando da mesma forma, em termos de treino, com a evolução natural das
situações, nem sempre consegues jogar da mesma maneira, tendo num fundo a mesma ideia de
jogo. Isso tem mais haver com as características dos jogadores e também, com os momentos da
época” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. VIII).
A par de Paulo Bento, Mourinho (cit. por Oliveira et al., 2006:177) salienta que a sua
principal preocupação na operacionalização do Modelo de Jogo após a primeira época no
Futebol Clube do Porto, se centrou na manutenção do grupo «sob controlo» de forma a ampliar o
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 79 79
seu modelo de jogo, em direcção a um modelo mais rigoroso. Tendo subordinado à ideia do
último o sistema de jogo, neste caso 1-4-3-3 ou 1-4-4-2, afirma que a transição de um sistema
para o outro lhe concedeu “maior rigor em termos de disciplina táctica, em termos de posições e
de funções (…) Muito mais «táctica»!” (idem, 2006:177).
De encontro com Paulo Bento e José Mourinho, no que concerne ao destaque que o
treinador possui na concepção, desenvolvimento e operacionalização do «jogar» da equipa,
Rijkaard (in Barend & Van Dorp, 1999:72) menciona que “ o Johan Cruyff é o Ajax. Ele decide a
táctica desde o primeiro minuto até ao último”, reafirmando a importância que o treinador possui
na construção e condução do Modelo de Jogo através da visão na qual consubstancia os seus
referenciais sobre o jogo, subordinada a um conhecimento específico, sendo que este se
representa através da informação que é representada mentalmente sobre um formato específico
(Eysenck & Keane, 1994).
Respeitar a bússola que é o conhecimento específico implícito ao Modelo de Jogo do
Treinador, significa cumprir o supraprincípio da especificidade, atingido através do pragmatizar a
fraccionação, isto é, através do contemplar da vivenciação aquisitiva dos diversos princípios,
subprincípios, subprincípios dos subprincípios do seu «jogar» (Oliveira et al., 2006). Portanto, não
podemos ignorar que a “dinâmica do competir é parte integrante da dinâmica do treinar”, como
também, “só se poderá chamar especificidade à Especificidade, se houver uma permanente e
constante relação entre as componentes psico-cognitivas, táctico-técnicas, “físicas” e coordenativas,
em correlação permanente com o modelo de jogo adoptado e respectivos princípios que lhe dão
corpo.” (Guilherme Oliveira, 1991).
Assim, na construção da geometria intencional e interactiva que caracteriza a equipa no seu
plano estático, o qual adquire vida com a aplicação dos princípios de acção ou de jogo, plano
dinâmico, podemos constatar que a relação dialéctica entre o Modelo de Jogo do Treinador e os
Jogadores, se produz num plano profundo do Modelo, ou seja, no momento em que os jogadores
dão vida ao plano estático (Sistema de Jogo), por intermédio dos princípios de jogo, os quais são um
início da transição entre o plano estático e o plano dinâmico do Sistema de Jogo.
De acordo com esta questão e não diferenciando o sistema estático do sistema funcional,
Paulo Bento (Anexo 1, pág. XXIII) afirma que não separa a “dinâmica e o sistema. Um precisa do
outro. Eu para poder dinamizar um sistema tenho de saber qual é, de onde é que parto. Logo, eu
tenho um sistema para saber quais são os meus movimentos de partida. Depois, onde é que quero
chegar, já vai ser definido por outras coisas. Mas como é que eu parto, eu tenho de saber!”
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 80 80
Neste sentido, é possível antecipar o aparecimento de determinados padrões de interacções
dos jogadores pelo facto do jogador ter a capacidade e espaço para criar e inventar na
concretização dos princípios de jogo, os quais são padrões de comportamento táctico-técnicos que
permitem caracterizar uma equipa nos diferentes momentos de jogo.
Por intermédio de um outro olhar, Guilherme Oliveira (2006) perspectiva o princípio de
jogo como um início, inicio esse que tem a si alicerçados os conceitos de organizações estrutural
e funcional. A primeira centra-se nas disposições iniciais dos jogadores em campo, ou seja, um
mapa geométrico inicial, estático. Implicitamente relacionada com a primeira, surge-nos a
funcional como uma forma de manifestação do Modelo de Jogo, isto é, “ é o produto da criação
que a interacção entre a concepção de jogo do treinador, os princípios e os sub-princípios que o
constituem, a intervenção activa dos jogadores no Modelo e as diferentes estruturas que esse
Modelo pode assumir” (idem, 2006).
Assim, a evolução do conceito de organização construiu-se associada à ideia de
estrutura, distorcendo e reduzindo a sua importância. Desta forma, a estrutura representa o lado
rígido e estático do sistema, sendo através do «jogar» - “uma fenomenologia dinâmica de
interacções” (Gomes, 2006) –, que as dinâmicas do jogo se tornam numa funcionalidade
organizada a partir de uma estrutura.
Deste modo, caso o «jogar» não seja percepcionado e compreendido dentro de uma
percepção global associada à complexidade que a estrutura estática possui, aquando do adquirir
do dinamismo que a mesma revela através dos princípios de jogo pela qual a organização se
rege, dará lugar ao “ (…) enfraquecimento do sentimento de responsabilidade, cada um tende a
ser responsável apenas pela sua tarefa e isso leva ao enfraquecimento da solidariedade, o
jogador já não entende mais os seus laços orgânicos” (Morin, 2003) com o grupo em que cada
um deles se encontra inserido, perdendo-se o determinismo que a organização compreende, não
permitindo que a mesma funcione como um programa que regula e orienta a evolução do
sistema.
Enfatizando esta questão, Mourinho (s/d, in Oliveira et al., 2006:192) destaca que “ (…)
todos os jogadores têm de saber que em determinada posição há um jogador, que sob o ponto
de vista geométrico há algo construído no terreno de jogo que lhes permite antecipar a acção”,
conduzindo à construção de um jogar de qualidade na cabeça dos jogadores, ou seja, “um mapa
do seu futebol” (Resende, 2002:18).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 81 81
Deste modo, a preocupação dos jogadores deve centrar-se nos adversários e nunca nos
colegas. Como tal, para que isto aconteça, implica que exista uma “ «Obsessão» pelo Jogo
Posicional”, tendo por base um Sistema de Jogo, o qual permite que cada jogador possua “um
mapa do jogar da equipa, que lhe permite a qualquer momento ter a noção de onde se
encontram os colegas.” Assim, esta deixa de ser uma preocupação, passando a ter apenas de
gerir o posicionamento dos adversários, este sim, imprevisível à partida (Maciel, 2008).
Por intermédio da ideia, a qual nos conduz para a percepção de uma geometria da
equipa, dos referenciais que a mesma oferece aos jogadores em treino e em jogo, conduz-nos
para a noção de fenomenologia, “no sentido em que coloca ênfase nas condições necessárias
(não as propriedades) para uma dada entidade, ser o que é” (Ilharco & Lourenço, 2007). A par
disto, Introca e Ilharco (2004, cit. por Ilharco & Lourenço, 2007:82) salientam que, “para a
fenomenologia, o significado não está «em» algo mas antes ele se encontra «na» ligação, nas
relações ou referências para o algo, para ser como já é tomado quando adquirido pela nossa
actividade contínua na nossa vida quotidiana.”
Neste sentido, a organização compreende uma ordem que faz emergir determinadas
regularidades no comportamento dos jogadores e por isso, não é algo estanque, encontrando-se
na raiz da estrutura (Bohm, D. & Peat, F. D., 1989:188). Deste modo, “o sistema de jogo é o
ponto de partida para configurar a dinâmica do jogar mas a funcionalidade compreende as
características dos jogadores, os princípios de acção em determinados momentos, as
estratégias de resolução em determinados contextos”, evidenciando-se nos vários momentos de
jogo, uma organização das relações dos jogadores díspar apesar de partirem de uma mesma
estrutura (Gomes, 2006).
Executando um paralelismo entre a estrutura que caracteriza o sistema de jogo como um
corpo, o qual parte de uma simples ordem linear para um «arranjo» de tais ordens, implicando a
junção de várias ordens semelhantes (Bohm, D. & Peat, F. D., 1989:189), tratando-se da
construção de um corpo, de uma “forma de formas” (morfogénese), de uma equipa, sendo que o
corpo (equipa) e a imagem se fundem até ao corpo (equipa) ser só imagem, e por isso uma
matéria plástica modelizável através da utilização das potencialidades videográficas (1993,
Fargier, cit. Cunha e Silva, 1999), culminando na divisam dos limites de validade desta
abstracção (estrutura), constituindo-se no desenvolvimento de novas noções pelo alargamento
do contexto (Bohm, D. & Peat, F. D., 1989:188).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 82 82
Por intermédio do exemplo de Ayrton Senna (1998), podemos verificar a ideia
supracitada, uma vez que “o carro (estrutura) é uma extensão da gente (de quem o interpreta o
jogo – jogadores). Uma extensão do corpo pois você está lá, apertado. Você faz parte dele.
Quanto mais parte dele você puder ser e sentir, mais sensível você será às ações e reações
dele. Sendo assim, fica melhor para tirar vantagem. É um trabalho do corpo para perceber a
realidade, o bom funcionamento da dinâmica.”
Aprofundando este bom funcionamento da dinâmica, a qual tende, por exemplo, para
sequências de ordem-desordem-interacção-organização ou desordem-interacção-ordem-
organização (Morin, 1977), originando uma forma de mobilidade em que algumas forças que
tendem a quebrar a estrutura, “são compensadas por processos que têm lugar dentro da própria
estrutura” (Bohm, D. & Peat, F. D., 1989:192), ou seja, “ é a força do chassi que o salva de um
acidente, é a potência do motor que o empurra para a frente, é a capacidade dos freios para
pará-lo, é o movimento da suspensão que absorve os trancos e a vibração do motor, a pista, os
pneus. Os pneus que o levam para a frente com suavidade, que lhe dão garra para parar rápido,
se necessário ou seguir em frente, se precisar arrancar ou virar rápido. Poderia descrever tantas
coisas, tantos detalhes. Você faz parte disto. E quanto mais fizer parte disto formando uma
unidade melhor será, certamente” (Senna, 1998).
O vínculo à acção compreende a interacção de reciprocidade entre o jogo e o jogador,
condicionando-se e exaltando-se mutuamente. Contudo, essa interacção deve ser construída e
direccionada pelo processo de “fabricação” de um «jogar» em função de um conjunto de ideias,
colectivas e individuais, de jogo, isto é, pela singularidade do Modelo de Jogo da equipa
alicerçada há sustentabilidade dada pela Cultura do Clube e do Treinador.
O Modelo de Jogo da equipa deve privilegiar invariantes colectivas e possibilitar, dentro
dessas invariantes, variantes individuais. Isto implica que o processo de construção deva
fomentar a criação de possibilidades de acção e não de certezas de acção, repercutindo-se na
dinâmica de criação, solidificação e recriação de conhecimentos dos jogadores e na dinâmica do
próprio jogo. Assim, a partir dos princípios de jogo, o Modelo de Jogo é exaltado numa
articulação entre comportamentos colectivos e individuais que constroem, no e pelo treino,
dando sentido e intencionalidade à condução do processo, ou seja, do jogo, educando os
jogadores para a percepção de linhas orientadoras comuns, fomentando o desencadear de uma
Inteligência Superior.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 83 83
Esse processo de aprendizagem a que o Modelo nos conduz, permite que “ (…) todos os
aspectos de tal experiência, sejam físicos ou mentais, emocionais ou intelectuais, podem ser
profundamente afectados pela inteligência criativa, sempre e onde ela esteja apta a actuar, já
que através da sua acção tudo é susceptível de assumir um novo significado” (Bohm, D. & Peat,
F. D., 1989:285), avançando novas ordens e estruturas sensoriais que formam novas
percepções, novas referências, expressando-se o Modelo “em todo o instante”, uma vez que ele
“guia todo o processo de operacionalização” (Guilherme Oliveira, 2006).
Desta forma, torna-se relevante caracterizar, numa primeira instância, os grandes
princípios de jogo subordinados à equipa em análise através do “olho clínico” do seu treinador.
Posteriormente, numa segunda instância, caracterizar-se-á o Modelo de Jogador, segundo as
suas características globais, sectoriais e posicionais, tendo em particular atenção, às quatro
dimensões que sustentam o mesmo, ou seja, dimensões táctica, técnica, psicológica e física
(Bangsbo et al., 1991; Castelo, 1996).
De acordo com esta lógica, para criar uma dada forma de jogar estabelece-se a
organização dos princípios de jogo da equipa de modo a desenvolver o modelo. Para jogar como
pretende, em primeiro lugar, Paulo Bento (Anexo 1, pág. IX) quer que a sua equipa, no Momento
de Organização Ofensiva, dê Profundidade ao jogo, ou seja, “ sempre que se possa jogar para a
frente, não tem de jogar para o lado. Depois quando não se puder jogar para a frente, primeiro
para o lado do que para trás”, isto é, Segurança.
Desta forma, para que estes dois princípios se manifestem, existem premissas inerentes
aos mesmos, significando que na primeira e segunda fases de construção, o entrevistado
pretende que haja “zero por cento de risco”, enquanto na criação e finalização, “cem por cento
de risco” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX). Como exemplo para a concretização da primeira e
segunda fases, Paulo Bento preconiza que os seus jogadores realizem “o menos toques
possíveis especialmente pela linha defensiva, que a bola não circule pelos quatro defesas mais
do que uma vez, que a bola não passe de lateral a lateral e volte, outra vez, de lateral a lateral.
Não jogar com os dois laterais à mesma altura quando estamos a iniciar a nossa fase de
construção” (Anexo 1, pág. IX).
Alicerçado ao mesmo, não pretende que os seus jogadores sejam criativos na primeira
fase de construção, uma vez que quer “que um jogador seja seguro, simples e eficaz mas que
tenha boa técnica, ou seja, deslocando a bola a 30 e a 40 metros e que a coloque nas zonas em
que nós queremos sair a jogar. Por exemplo, que saiba conduzir a bola à procura de libertar
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 84 84
espaços em zonas mais adiantadas para ligarmos o nosso jogo” (Paulo Bento, Anexo 1, pág.
XV).
No que concerne às fases de criação e finalização, há o objectivo manifesto de “dar
largura, normalmente, com os nossos médios interiores, termos os pontas-de-lança como
suporte para a nossa profundidade, seja no espaço interior, seja quando temos de sair pelos
corredores” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX).
Relativamente ao Momento de Transição Ataque-Defesa, Paulo Bento concebe que a
equipa seja muito agressiva no primeiro instante, objectivando somente roubar a posse de bola
ao adversário. Por outro lado, no segundo instante, o objectivo centra-se na temporização da
saída do adversário para o ataque, reagrupando com o maior número de jogadores possível, “e
dentro do nosso sistema também, que esse maior número de jogadores possível sejam oito
jogadores, isto é, se tivermos de partir a equipa, partimos com quatro defesas, quatro médios, e
os dois jogadores da frente” (Anexo 1, pág. X).
Ao articularmos os dois momentos de jogo supracitados, verificámos a existência de
uma íntima relação comunicacional e sequencial entre ambos os momentos, uma vez que no
Momento de Organização Ofensiva, os pontas-de-lança servem como suporte na construção do
processo ofensivo, tanto no corredor central como nos laterais, associando-se ao facto do
treinador pretender que a equipa se agrupe na estrutura de 1-4-4 (+2) aquando da sua Transição
Ataque-Defesa, de modo a que a equipa, mesmo sem a posse de bola, já esteja preparada para
corresponder a uma “hipotética” Transição Defesa-Ataque, manifestando que a sua
intencionalidade de defender com 9 (GR+8) jogadores se aprofunda numa racionalização de
como atacar de seguida. Isto é, as duas fases do jogo, defender e atacar, não se dissociam em
nenhum momento.
Assim, manifesta-se a lei da co-responsabilidade ou processo recorrente, a qual indica
que todos os momentos de jogo se auto-influenciam e auto-determinam, fazendo com que os
acontecimentos de um se repercutam nos restantes, desencadeando ciclos constantes e
diferentes pelas suas propriedades, verificando-se que “todo o processo cujos estados ou efeitos
finais produzem os estados iniciais ou as causas iniciais” (Morin, 1977:175).
No caso de não conseguir recuperar a posse de bola, neste momento de transição, a
equipa entra em Organização Defensiva. Neste momento, a equipa privilegia pressionar o mais
alto possível, defender em somente dois corredores, encurtando o espaço em função da pressão
que é executada na frente (em Profundidade), mantendo a concentração defensiva e
agressividade sobre o adversário, objectivando-se que o executem como uma equipa solidária
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 85 85
(Paulo Bento, Anexo 1, págs. X e XI). Esclarecendo a ideia, dá como exemplo: “os nossos
pontas-de-lança a sairem nos laterais contrários quando o adversário joga com um linha de
quatro, que é o que se usa mais em Portugal. Mas normalmente, é o ponta-de-lança que sai no
lateral contrário, concentrando a equipa normalmente em dois corredores, ignorando o corredor
contrário onde está a bola e depois, por questões estratégias, podemos obrigar o adversário a
jogar mais por dentro ou por fora” (idem, Anexo 1, pág. X).
Desta forma e após a equipa recuperar a posse de bola, a Transição Defesa-Ataque
processa-se de dois modos: “saindo logo pelo corredor onde recuperamos a bola, ou seja,
suportando-nos aí com os jogadores da frente ou com um suporte à retaguarda, preferindo que
seja mais com o médio defensivo do que com os centrais, para podermos variar o centro do jogo
e sairmos pelo corredor contrário”, isto é, tirando a bola o mais rápido possível da zona de
pressão, seja em Profundidade, seja em Amplitude, criando a possibilidade de sair pelo corredor
contrário (Paulo Bento, Anexo 1, pág. IX).
Segundo as ideias expressas pelo treinador relativamente aos quatros momentos de
jogo que o seu Modelo contempla, podemos caracterizar a equipa do Sporting Clube de Portugal
como sendo uma equipa que privilegia a posse de bola, estando grande parte do tempo de jogo
no Momento de Organização Ofensiva, exponenciando um dos seus grandes princípios, ou seja,
a iniciativa. Para que tal possa acontecer, deve ser uma equipa que tem de possuir uma elevada
concentração defensiva e que “saiba onde quer pressionar, quando quer pressionar e como quer
pressionar”, tendo no primeiro momento de transição, um dos pontos mais fortes da sua
organização, de forma a manter a iniciativa de jogo. Ou seja, perder a posse de bola e recuperá-
la de imediato, manifestando-se na construção do processo ofensivo, a criatividade, a segurança
e o equilíbrio (Paulo Bento, Anexo 1, págs. IX, X, XI e XV).
Para que todos estes princípios de jogo se possam exaltar, torna-se fundamental que a
filosofia e a equipa assumam a mesma importância, sendo que a ideia de equipa é mais
importante que um jogador (individualidade), estando subordinado aos mesmos a obrigação de
cumprir e defender a ideia do Clube. Para que tal, o Modelo de Jogo prolongasse e projectasse
num Modelo de Treino, num Modelo de Exercícios em Especificidade, sendo que o Modelo de
Jogador que o treinador concebe, desenvolve e operacionaliza, se constrói no continuum entre o
treino específico e o exercício em especificidade.
Deste modo, revela-se de uma importância capital, descrever as principais
características que os jogadores reúnem para cumprir eficazmente as exigências do(s)
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 86 86
sistema(s) de jogo preconizado(s), segundo a concepção de jogo do treinador. Analisando as
mesmas segundo as características globais preconizadas pelo Treinador Paulo Bento, podemos
definir que “há uma coisa que tem de estar o mais possível em todos os jogadores, a técnica”,
uma vez que se se objectiva ter iniciativa, ter o domínio do jogo, é necessário ter a posse de
bola. Como tal, ter boa relação com bola, sabendo e querendo tê-la, manifesta a existência e a
necessidade de algo mais do que a dimensão técnica, exaltando-se uma característica mental,
ou seja, personalidade. “Técnica para saber o que faz e personalidade para a ter, para a querer
ter” (Anexo 1, pág. XII).
Do ponto de vista da dimensão física, o Treinador atribuí grande revelância à velocidade,
não uma velocidade qualquer, ou seja, não se resume somente à velocidade de deslocamento
mas, principalmente, à velocidade de execução, salientando que “para isso, é preciso ter
técnica.”
Depois, a inteligência táctica em termos ofensivos e defensivos. Ofensivamente, possuir
jogadores que pensem o jogo, que saibam o que tem para fazer em cada momento com bola,
enquanto que defensivamente, sejam jogadores que saibam o que tem de fazer quando não tem
a bola, descriminando quando, como e onde se há-de pressionar. Para a interpretação e
desenvolvimento desta dimensão táctica, é necessário conjugar a dimensão psicológica, sendo
que o treinador defende que tem de existir agressividade no modo como os jogadores
manifestam “disponibilidade para ir à procura da bola” (Anexo 1, pág. XII).
Para além da agressividade, Paulo Bento salienta que o perfil psicológico de todos os
seus jogadores, independentemente da sua função, deve assentar em factores como a
mentalidade vencedora, coragem e solidariedade. Esta última característica, não se encontra
somente subordinada a cada uma das individualidades que constitui o grupo mas sim, a uma
solidaridade grupal, colectiva. Isto é, “a solidariedade, fundamentalmente entre os jogadores…
Essa para mim é que é fundamental! Ou seja, entre eles, são aqueles que vão executar mais as
tarefas, tem que haver essa solidariedade” (Anexo 1, págs. XXIII e XXIV).
Em jeito de síntese, no que concerne às características globais, o treinador define o
jogador inteligente como sendo um jogador que melhor define os quatro momentos do jogo,
manifestando que “quanto mais jogadores inteligentes houver nos quatro momentos do jogo,
mais forte é a equipa porque todos vão fazer as coisas com uma maior capacidade e uma maior
qualidade.” Ou seja, serem jogadores que estão constantemente a ver como é que o jogo está a
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 87 87
decorrer, liderando as acções do jogo, de forma a que decidam bem em determinados
momentos (Paulo Bento, Anexo 1, págs. XIX e XX).
Ao aprofundarmos essas características globais, conduzimos o nosso olhar para uma
vertente cada vez mais específica no que toca aos sectores e posições dos jogadores dentro do
sistema de jogo da equipa. Uma vez que todo o sistema, para além de ser unos/múltiplos,
também é unos/diversos, exalta a relação íntima entre unidade e diversidade do mesmo (Morin,
1977).
Segundo a ideia manifestada pelo autor supracitado, a sua diversidade é necessária à
sua unidade e a sua unidade é necessária à sua diversidade, sendo esta última exigida, mantida,
criada e desenvolvida na e pela unidade sistémica – Equipa –, que por sua vez cria e
desenvolve.
Existe decerto um problema de relação complexa, ou seja complementar, concorrente e
antagónico, entre diversidade e unidade, isto é, entre a ordem repetitiva e o desenrolar da
variedade, que resolve, fazendo com que esta relação complexa convirja num processo em que
a diversidade organiza unidade que organiza a diversidade.
Para que tais conceitos possam ser assimilados e desenvolvidos, os treinadores devem
reduzir a complexidade para os jogadores, clarificando a interpretação do último sobre a sua
função, permitindo que o jogador aceite o seu papel, construindo-se assim, a confiança e a
motivação do mesmo no desempenho da sua função dentro da unidade da equipa. Por
intermédio deste processo, o jogador sentir-se-á pronto para jogar, compreendendo o seu
trabalho no terreno de jogo e aceitando esse papel. Para tal, Bill Walsh (1998, cit. por Beswick,
2001) descreve o Ser Treinador como “a redução de incerteza”, verificando-se a importância da
utilização por parte do treinador de um modelo como produtor, construtor e precursor de um
processo, o qual pode ser considerado como uma representação simplificada da realidade (Melo,
Godinho et al., 2002a), estando relacionado com processos construtivos que estão ligados a
concepções de conhecimento (Garganta, 1997) de determinado fenómeno ou realidade.
Embora todas as posições compartilhem de determinadas exigências fundamentais, os
treinadores devem ensinar habilidades e responsabilidades específicas para as várias posições,
preparando as descrições das funções/papéis e das responsabilidades de cada jogador dentro
do Modelo de Jogo Específico de cada Equipa. Como exemplo dessa descrição, Mourinho
(s/data) salienta como características dos jogadores no seu sistema de jogo, as qualidades
Tácticas, a Personalidade, as qualidades Técnicas e qualidades Físicas.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 2. Sistema de Jogo Base do Sporting Clube de Portugal (Época 2008
Centrando-nos precisamente na equipa do Sporting Clube de Portugal em termos
sectoriais e posicionais (Figura 1), Paulo Bento
jogadores do seguinte modo:
• Número 1 (Guarda
processos defensivos, na Organização Ofensiva, este deve assumir um
posicionamento mais avançado, jogand
jogo de pés para participar na primeira fase de construção do jogo, tornando
mais um elemento na organização colectiva da equipa.
Defensiva, revela
baliza e na área
em contextos de remate e de cruzamento,
que dominem as bolas no espaço.
psicológicas a capacidade de c
jogo com uma estru
humildade (Peres, 2009, in Pereira, 2009)
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Sistema de Jogo Base do Sporting Clube de Portugal (Época 2008-2009)
nos precisamente na equipa do Sporting Clube de Portugal em termos
sectoriais e posicionais (Figura 1), Paulo Bento (Anexo 1, págs. XIII e XIV) caracteriza os seus
Número 1 (Guarda-Redes) – Apesar da sua principal função estar inerente aos
processos defensivos, na Organização Ofensiva, este deve assumir um
posicionamento mais avançado, jogando fora da baliza, utilizando o seu bom
jogo de pés para participar na primeira fase de construção do jogo, tornando
mais um elemento na organização colectiva da equipa. Na Organização
revela-se determinante que estes dominem o posicionamento
baliza e na área e os respectivos deslocamentos, que saibam defender a linha
extos de remate e de cruzamento, que resolvam as situações de 1x1,
que dominem as bolas no espaço. Tudo isto possuindo como qualidades
apacidade de concentração, de superar o erro e a pressão do
jogo com uma estrutura mental forte e equilibrada, tendo coragem,
(Peres, 2009, in Pereira, 2009).
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
2009)
nos precisamente na equipa do Sporting Clube de Portugal em termos
(Anexo 1, págs. XIII e XIV) caracteriza os seus
Apesar da sua principal função estar inerente aos
processos defensivos, na Organização Ofensiva, este deve assumir um
o fora da baliza, utilizando o seu bom
jogo de pés para participar na primeira fase de construção do jogo, tornando-se
Na Organização
dominem o posicionamento na
que saibam defender a linha
ue resolvam as situações de 1x1, e
Tudo isto possuindo como qualidades
centração, de superar o erro e a pressão do
confiança e
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 89 89
• Números 3 e 4 (Defesas Centrais) – São jogadores muito importantes na
primeira fase de construção do processo ofensivo, manifestando-se a sua
qualidade técnica para numa execução de elevada qualidade. Relativamente ao
processo defensivo, são jogadores rápidos, uma vez que a equipa deixa 30 a 40
metros de terreno de jogo nas suas costas, não executando fora-de-jogo, e
revelam um jogo aéreo forte.
• Números 2 e 5 (Laterais) – Manifestam-se jogadores rápidos e resistentes, pelo
facto de terem de ter a “capacidade de ir e vir”, apoiando e suportando o
processo ofensivo da equipa consoante o corredor de jogo pelo qual o mesmo
se desencadeia, reequilibrando sempre a sua posição após a participação
ofensiva. Segundo o treinador Paulo Bento (Anexo 1, pág. XVI), pontualmente,
os laterais também são jogadores que podem manifestar a sua vertente criativa
em determinadas zonas, sendo que no momento ofensivo “não devem estar,
devem aparecer!” Ou seja, “caso vão 50 vezes não vão surpreender ninguém.
Se forem 5 vezes, vão surpreender o adversário.”
• Número 6 (Médio Defensivo) – Jogador com elevada velocidade de execução,
utilizando os dois pés, para que execute a mudança do centro do jogo com
grande qualidade. Apesar de jogo aéreo não ser condição imprescindível para a
sua posição, é necessário que a possua a par da agressividade.
• Números 7 e 8 (Médios Interiores) – Apesar do acepção da própria palavra
“interiores”, conduzir a nossa compreensão para médios que jogam
preferencialmente no corredor central, Paulo Bento pretende esses jogadores
tenham capacidade de dar largura ao jogo sob o ponto de vista táctico, ou seja,
variando a sua distribuição e ocupação racional do espaço entre os corredores
laterais e o central. Pelo seu posicionamento, sejam jogadores com boa
capacidade para desequilibrar em situações de um contra um, sendo velozes e
resistentes nas suas incursões, atingindo as zonas de finalização. Ou seja, para
além de serem jogadores intervenientes na fase de criação, também devem
integrar a última fase, a fase de finalização. Defensivamente, devem demonstrar
boa comunicação e interacção com os dois pontas-de-lança, sabendo quando
devem realizar coberturas aos mesmos ou terem iniciativa para ser eles a
pressionar. Devem inverter a sua movimentação, comparativamente com o
processo ofensivo, ou seja, ofensivamente, jogavam de dentro para fora,
enquanto defensivamente devem jogar no espaço interior, manifestando uma
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 90 90
grande capacidade mental pelo facto de realizar funções e movimentações
segundo directrizes diferentes, mediante cada momento do jogo. Os médios
interiores, pela zona do campo que ocupam dentro do sistema de jogo, possuem
a liberdade para serem mais criativos.
• Número 10 (Médio Ofensivo) – No cômputo geral, Paulo Bento pretende um
número dez bom tecnicamente, manifestando elevada qualidade na execução
do último passe, movimentação de forma racional de modo a ganhar ou criar
espaços no corredor central, sendo que a sua zona de acção possui uma
elevada densidade de jogadores. A par dos laterais e dos médios interiores, este
jogador possui liberdade para ser mais criativo pela zona do campo que ocupam
dentro do sistema de jogo. Do ponto de vista defensivo, sejam jogadores com
boa capacidade de execução do primeiro momento de transição e de
recuperação defensiva, sendo bem dotados em termos de resistência.
• Número 9 e 11 (Pontas-de-lança) – Por intermédio da concepção do treinador,
os pontas-de-lança devem ser jogadores “que saibam segurar bem a bola, que
saibam procurar bem o espaço, que saibam jogar em função um do outro.”
Importante que a diversidade se manifeste nesta posição, uma vez que a
utilização de jogadores mais velozes, jogadores mais posicionais, entre outros,
permitem que as interacções se desencadeiem de forma diferente. Pela zona do
campo que este jogadores ocupam dentro do sistema de jogo, tem liberdade
para serem mais criativos, podendo driblar mais e arriscar na ultima fase da
Organização Ofensiva. Pela sua manifesta inteligência, são “jogadores com
capacidade para orientar o jogo do adversário”, pressionando e obrigando a que
o seu jogo seja direccionado para determinadas zonas do terreno, sendo
agressivos e reactivos após a perda da bola, jogando em função um do outro.
Como a equipa defensivamente se estrutura num 1-4-4 (+2), sendo esses dois,
os pontas-de-lança, estes devem saber posicionar-se consoante a organização
defensiva da sua equipa como forma de darem início à Transição Defesa-
Ataque, através do primeiro princípio da mesma, ou seja, em Profundidade.
Fazer do jogo objecto de estudo é um imperativo fundamental, na medida em que o
conhecimento da sua lógica e dos seus princípios tem implicações importantes nos planos de
ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas, factores que concorrem para
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 91 91
a sua qualidade (Garganta, 1997), optimizando os comportamentos dos jogadores e das equipas
na competição.
Assim, vários autores (Queiroz, 1986; Gréhaigne, 1992; Garganta & Pinto, 1994; Frade,
2007) consideram que o Futebol é um jogo táctico e que se manifesta pela interacção das
diferentes dimensões (técnica, física e psicológica), devendo-se entender que a dimensão táctica
não apenas como uma das dimensões tradicionais do jogo, mas sim como a dimensão
unificadora que dá sentido e lógica a todas as outras.
Deste modo, a dimensão táctica funciona como a interacção das diferentes dimensões,
dos diferentes jogadores, dos diferentes intervenientes no jogo (jogadores e treinadores) e dos
respectivos conhecimentos que estes evidenciam (Guilherme Oliveira, 2004), devendo constituir-
se como o princípio director da organização do jogo (Teodorescu 1984; Garganta, 1997).
Tendo em conta a exacerbação atribuída à dimensão táctica, a qual se revela uma
supradimensão, um imperativo categórico, o referencial que aparece da existência do processo,
uma emergência intencional. “Mas não um táctico qualquer. É táctico modelo, táctico cultura, é
táctico como entendimento colectivo de uma forma de jogar e de uma filosofia de jogo, definida
claramente pelo treinador e que tem que ser a relação entre cada um dos elementos da equipa e
sob a qual todos se devem orientar. Portanto, táctico sim, mas como modelo, como linha de
orientação em termos de organização” (Faria, 2003:LXXVII).
A par do mencionado anteriormente, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XXII) define o conceito
de Táctica como o entendimento do jogo dentro dos quatro momentos do mesmo, salientando a
importância capital dos jogadores saberem o que fazem em cada um deles. “A táctica, mais do
que o sistema, (…) é a forma como as equipas se organizam, como os jogadores utilizam os
princípios de jogo dentro do modelo de jogo, ou seja, cada um dentro do nosso sistema de jogo,
como é que os jogadores utilizam os princípios de jogo para o modelo de jogo”, não pressupondo
somente uma organização em função do espaço de jogo e das missões específicas dos
jogadores, mas também, a existência de uma concepção unitária para o desenrolar do jogo, ou
por outras palavras, o tema geral sobre o qual os jogadores concordam e que lhes permite
estabelecer uma linguagem comum (Castelo, 1996).
Portanto, “quem percebe de táctica, percebe de jogo, entende o jogo! Pois, quando
entende o jogo, aplica em função dos seus princípios e do seu modelo de jogo, que é o que
treina” (Anexo 1, pág. XXII), manifestando-se que o jogador só reconhece determinado
comportamento, se primeiro o compreender e depois, determinar que o mesmo é benéfico, tanto
para a equipa como para ele (Guilherme Oliveira, 2006).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 92 92
Numa relação intrínseca com o conceito de táctica, caminhando de braço dado com a
mesma, surge o conceito de inteligência, mais precisamente, o de inteligência táctica ou de jogo.
A Inteligência de jogo reporta-se às ligações que os Jogadores estabelecem entre si e ao modo
como preenchem o Jogo, sendo uma faculdade que não se vê nem se avalia mas que se
expressa por indicadores relacionados sobretudo, com o modo como os Jogadores criam
contextos e se ajustam a estes, e ainda com o modo intencional com que se relacionam (Gomes,
2008a). O que implica que o fomento da Inteligência de Jogo, através da vivenciação de um
determinado jogar que tenha subjacente um padrão de conexões.
Um dos aspectos mais relevantes da Inteligência de Jogo, no nosso entendimento, e
enquanto Inteligência em acção, resulta do seu carácter operativo e funcional (Cunha e Silva,
2008), uma necessidade inerente a esta actividade, tratando-se de formar “jogadores
inteligentes” (Greco, 1999), com capacidade de decisão, dotados de recursos, experiências e
conhecimentos para solucionar diferentes situações do jogo, sendo que “o importante é formar
jogadores, não repetidores” (Greco, 1988: 30).
Parece igualmente plausível, conceber a Inteligência como uma faculdade específica e
não generalista. O conhecimento é algo específico e contextual, não preexistindo em nenhum
lugar ou forma, mas actuando em situações particulares (Varela et al., 2001), sendo que “os
limites da minha linguagem, são os limites do meu mundo” (Wittgenstein, cit. por Bento, 1994),
não se tratando “ (…) de um problema sensorial ou meramente técnico, mas de uma questão
que é, antes de tudo, conceptual” (Garganta, 2004).
Para que essa inteligência de jogo se manifeste, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XXI)
salienta que se em determinado momento do jogo, não estão a conseguir por em prática a
estratégia delineada por questões técnicas, por questões tácticas ou por questões mentais, “tem
que se tentar que aconteçam algumas situações em determinados jogadores, para que se possa
fazer com que a equipa consiga colocar em prática aquilo que estava pré-definido ou reajustar-
se, em função daquilo que o adversário nos está a colocar, sem mudar a nossa forma de jogar,
sem mudar as nossas características mas adaptando-nos um bocadinho ou usando outras
armas em função daquilo que o jogo nos está a pedir. Daí a inteligência ser uma inteligência
táctica, ou seja, o entendimento do jogo.”
Compreendendo como é que a inteligência táctica e o entendimento do jogo se
processam, verificámos que a Concepção de Jogo por parte do Treinador possui uma relação
íntima com a Operacionalização do Modelo de Jogo, sendo que para além de ambas serem uma
face da mesma moeda, a primeira centra-se no plano das ideias e a segunda, na
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 93 93
operacionalização, desenvolvimento dessas mesmas ideias. Assim, é no plano da operação, no
plano da “fabricação do jogar” que são exponenciadas e exaltadas as ideias concebidas pelo
Treinador, estando as últimas directamente relacionadas com a Cultura do Clube, constituindo-
se uma Cultura Global, emergindo estas duas subculturas.
Para que essa emergência intencional se processe, nesta cadeia hierárquica
descendente, a qual nos conduz do plano macro para o micro, revela-se imperial que o sistema
possua uma estrutura inicial ou de base por intermédio da qual se possam manifestar dinâmicas
relativas aos padrões de comportamentos colectivos e individuais, atribuindo movimento e
desestruturações estruturantes, para que a dinâmica atribua novas configurações e significados
à estrutura inicial.
Com a interpretação e compreensão das desestruturações estruturantes que se
desencadeiam ao longo do processo, o treinador mas principalmente, os jogadores, constroem
um mapa geométrico do seu futebol dentro da globalidade que é a Equipa, constituindo-se uma
linguagem global e comum, a qual se manifesta como o “bilhete de identidade” dessa
globalidade e das suas individualidades, não só pela interpretação individual de cada uma delas,
mas, acima de tudo, pelo harmonia que se desenvolve.
Esse conexionismo específico, referente às características específicas que cada equipa
manifesta, “adquire dinâmica ao arrancar num dado estado aleatório (sistema de jogo) e
permitindo que cada célula (jogador) atinja um determinado estado a cada momento (discreto)
de um modo síncrono (ou seja, todas as células (jogadores) atingem os seus respectivos
estados em conjunto) ”, sendo desencadeado através de regras de acção (princípios de jogo ou
de acção) que fornecem à rede neuronal (equipa) “não apenas configurações emergentes” mas
também, “capacidade de sintetizar novas configurações de acordo com a experiência” (Varela et
al., 2001:129-130).
Para tal, existe um Modelo de Treino, um Modelo de Exercício e um Modelo de Jogador
segundo a concepção do Treinador. Assim, para que a equipa seja um sistema altamente
cooperativo, as densas interligações entre os jogadores implicam que quase tudo o que decorrer
será uma função de tudo aquilo que os jogadores se encontram a fazer, cumprindo a nível local
(posicionamento específico de cada um dentro do sistema de jogo) as funções específicas do
mesmo, cooperando desse modo com o nível global (interligação das redes complexas dos
jogadores, às quais se relacionam umas com as outras em formato de rede) (idem, 2001:132).
Como resultado, todo o sistema possui um interdependência, uma vez que todo o
sistema adquire uma coerência interna com padrões intrincados, mesmo que não seja possível
dizer como é que eles se manifestam (Varela et al., 2001:132; Frade, 2007), ou seja, “o modelo é
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 94 94
tanto mais rico, quanto mais criar possibilidades aos indivíduos para poder acrescentar qualquer
coisa às suas funções, mas nunca à revelia das suas funções” (Frade, 2003).
Esse acrescento de qualquer coisa às suas funções, permite aos jogadores desenvolver
movimentos numa outra direcção, desenvolvendo uma acção criativa da inteligência, originando-
se nas profundezas da ordem à qual estão subordinados, não sendo “apropriado pensar que a
experiência é qualquer coisa que exista por si, modificada só de tempos a tempos pelas
percepções, pensamentos e acções que brotam da inteligência criativa” (Bohm, D. & Peat, F. D.,
1989:285). Neste seguimento, podemos considerá-la como a capacidade de perceber novas
categorias e novas ordens, encontrando-se numa zona intermédia entre um novo domínio para a
criatividade, ou seja, algo que permite a transição de um estado inicial para um estado posterior,
aumentando a complexidade do sistema.
Considerando a criatividade e imprevisibilidade que cada jogador pode exprimir na sua
posição/função, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XIV) afirma que não dá primazia à criatividade e à
imprevisibilidade, permite sim que o jogador seja criativo para o adversário, “para os
companheiros não!” Como tal, é imperial que os padrões de conexões da equipa, padrões
ressonantes, apesar do tempo que levam a emergir, sejam o fio condutor da compreensão e
entendimento do jogo por parte dos jogadores, pelo conhecimento intra e inter posição e função
dos mesmos, envolvendo muitos ciclos de actividade em ambos os sentidos entre todos os
níveis locais participantes (jogadores) (Varela et al., 2001:136)
Inerente à ideia anterior, a manifestação de uma nova ordem de criatividade, dar-se-á
“dentro desse modelo de jogo, dentro dessa forma de jogar da equipa, entra a criatividade e a
imprevisibilidade, não entra antes” querendo que elas se manifestem nas zonas onde os
jogadores a devem ter (Paulo Bento, Anexo 1, pág. XV).
Contudo, o entrevistado destaca que em determinados momentos do jogo, em várias
zonas do campo, os jogadores vão ter de ser criativos, tendo de improvisar alguma situação,
manifestando uma característica mental para tal, ou seja, a coragem. “Coragem para encara os
adversários, para fazer situações de um contra um…” Apesar disso, Paulo Bento não dá
primazia à criatividade, atribuindo-a sim à Organização Colectiva, ou seja, ao que pretende da
sua equipa em termos ofensivos e defensivos (idem, Anexo 1, pág. XIV e XV).
Para que haja a emergência da nova ordem, criatividade, dentro do Modelo de Jogo, há
que conjugar a Organização Colectiva da Equipa com a Criatividade Individual, a qual se deve
manifestar em “zonas! Zonas onde eles podem e devem fazer.” Posteriormente, “há que ler as
situações para se saber onde é que posso e onde é que devo fazer”, uma vez que “há zonas em
que só tem de ter uma decisão, é a decisão que faz parte de um modelo de jogo, da nossa forma
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 95 95
de jogar. Noutras zonas, há mais decisões para o nosso modelo de jogo e então aí, é a escolha.
Nós podemos dizer o caminho mas depois lá, é que o jogador tem de o escolher” (ibidem, Anexo
1, pág. XV e XVI).
Segundo a ideia de Bohm e Peat (1989:350) e projectando-se os alicerces supracitados
sobre a criatividade, verificámos que qualquer que seja o conteúdo desse movimento criativo, ele
possuí uma intensidade apaixonada e tensão vibrante suficientes para transpor ou dissolver os
bloqueamentos da criatividade.
Deste modo, o Modelo de Jogo ao oferecer uma qualidade organizativa e organizante,
permite exponenciar uma nova variável evolutiva, ou seja, a inteligência criativa, existindo a
tendência para induzir movimento semelhante nos restantes elementos constituintes da estrutura
chamada equipa. O reconhecimento da importância desta nova ordem por parte da equipa
aquando do expressar da mesma por um dos seus elementos, conduz à integração da mesma
como factor crucial para o desenvolvimento do sistema, atribuindo à forma global de jogar da
equipa, um acrescento evolutivo, reconhecendo no jogador que a executou, a qualidade e a
capacidade de o ter demonstrado no momento, na zona e na circunstância ideal de jogo para a
equipa.
Deste modo e como forma de analisarmos as relações e congruências entre o
pretendido e o sucedido, ou seja, do modelo de jogo do treinador ao jogo praticado pela equipa,
de seguida passaremos à análise das respectivas relações e congruências, verificando se a
equipa é um prolongamento dos princípios defendidos e treinados pelo treinador.
4.1.2.1. Relações e congruências entre o pretendido e o decorrido
Posteriormente à análise dos oitos jogos do Sporting Clube de Portugal e como forma de
constatarmos as devidas relações e congruências entre as ideias do treinador e o executado
pelos jogadores, iniciaremos à respectiva análise do seguimento modo:
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 3. Percurso da Equipa em termos Quantitativos
No que concerne ao percurso da equipa em termos quantitativos, ou seja, relativamente
aos resultados alcançados pela mesma, podemos constatar, numa primeira instância, que dos
oitos jogos analisados, o Sporting conquistou sete vitórias e um empate, manifes
percurso praticamente exemplar e de enorme regularidade. Salientando este facto, verificámos
que 87,5% (7) dos resultados obtidos se traduzem em vitória, 12,5% (1) em empate e 0% em
derrotas (0).
Directamente relacionado com este facto e funcion
interacção a posteriori, a relação entre o sistema de jogo e as alterações efectuadas na
constituição da equipa associadas aos resultados obtidos, fornecem
relativamente à assimilação do Modelo de Jo
com o A, B, C ou D e no outro jogo, o A já não joga mas joga o Y, então... o teu objectivo é o
mesmo, ganhar! Ganhar com os outros jogadores mas com jogadores que são teus, com os
jogadores do plantel, jogadores que tu treinas todos para uma forma de jogar.
a equipa mas jogarmos da mesma forma, estamos mais perto de ganhar, ou seja, dentro do
mesmo sistema de jogo porque os jogadores estão preparados para isso e mesmo dentro do
mesmo modelo de jogo porque os jogadores também tão preparados para isso. Todos se
prepararam para isso!” (Anexo 1, Paulo Bento, págs. XVII/XVIII)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
23 24
Re
sult
ad
os
Percurso da Equipa em Termos
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Percurso da Equipa em termos Quantitativos
No que concerne ao percurso da equipa em termos quantitativos, ou seja, relativamente
aos resultados alcançados pela mesma, podemos constatar, numa primeira instância, que dos
oitos jogos analisados, o Sporting conquistou sete vitórias e um empate, manifes
percurso praticamente exemplar e de enorme regularidade. Salientando este facto, verificámos
que 87,5% (7) dos resultados obtidos se traduzem em vitória, 12,5% (1) em empate e 0% em
Directamente relacionado com este facto e funcionando o mesmo como um ponto de
, a relação entre o sistema de jogo e as alterações efectuadas na
constituição da equipa associadas aos resultados obtidos, fornecem-nos um bom micro
relativamente à assimilação do Modelo de Jogo por parte da equipa uma vez que,
com o A, B, C ou D e no outro jogo, o A já não joga mas joga o Y, então... o teu objectivo é o
mesmo, ganhar! Ganhar com os outros jogadores mas com jogadores que são teus, com os
jogadores que tu treinas todos para uma forma de jogar. (…) se mudarmos
a equipa mas jogarmos da mesma forma, estamos mais perto de ganhar, ou seja, dentro do
mesmo sistema de jogo porque os jogadores estão preparados para isso e mesmo dentro do
lo de jogo porque os jogadores também tão preparados para isso. Todos se
(Anexo 1, Paulo Bento, págs. XVII/XVIII).
24 25 26 27 28 29 30
Jornadas
Percurso da Equipa em Termos
Quantitativos
Vitória (3)
Empate (1)
Derrota (0)
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
No que concerne ao percurso da equipa em termos quantitativos, ou seja, relativamente
aos resultados alcançados pela mesma, podemos constatar, numa primeira instância, que dos
oitos jogos analisados, o Sporting conquistou sete vitórias e um empate, manifestando um
percurso praticamente exemplar e de enorme regularidade. Salientando este facto, verificámos
que 87,5% (7) dos resultados obtidos se traduzem em vitória, 12,5% (1) em empate e 0% em
ando o mesmo como um ponto de
, a relação entre o sistema de jogo e as alterações efectuadas na
nos um bom micro-indicador
go por parte da equipa uma vez que, “ (…) se é
com o A, B, C ou D e no outro jogo, o A já não joga mas joga o Y, então... o teu objectivo é o
mesmo, ganhar! Ganhar com os outros jogadores mas com jogadores que são teus, com os
se mudarmos
a equipa mas jogarmos da mesma forma, estamos mais perto de ganhar, ou seja, dentro do
mesmo sistema de jogo porque os jogadores estão preparados para isso e mesmo dentro do
lo de jogo porque os jogadores também tão preparados para isso. Todos se
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 4. Alteração na constituição da Equipa
Figura 5. Sistemas Utilizados nas várias jornadas
Tendo em conta o anteriormente dito, é-nos permitido verificar que ao longo dos oitos
jogos analisados, houve somente uma alteração dentro do sistema jogo preconizado pela
equipa, ou seja, da 23ª à 28ª jornadas, o Sporting utilizou o seu sistema de jogo principal, 1-4-4-
2 Losango, alterando somente o mesmo na 29ª jornada para uma variável do primeiro, 1-4-2-3-1,
voltando a adoptar o seu sistema de jogo principal na 30ª jornada.
De acordo com o que o treinador preconiza para a sua equipa no que toca às variações
dentro dos seus sistemas de jogo, verificámos que a única vez que o primeiro o alterou, não
optou pelo 1-4-4-2 Clássico, demonstrando assim que para além de ter um sistema alternativo,
possui uma terceira variante do 1-4-4-2 Losango.
Por outro lado, às alterações efectuadas na constituição da equipa possuem indicadores
muito importantes relativamente às variações dentro da mesma ao longo das várias jornadas. Da
23ª para a 24ª jornada, realizou-se uma alteração, enquanto da 24ª para 25ª e da 25ª para a 26ª
0
1
2
3
4
23 24 25 26 27 28 29 30
Sis
tem
as
de
Jo
go
Jornadas
Sistemas Utilizados
1-4-4-2 Losângo (3)
1-4-4-2 Clássico (2)
1-4-2-3-1 (1)
0
2
4
6
23/24 24/25 25/26 26/27 27/28 28/29 29/30
Nº
de
alt
era
çõe
s
Jornadas
Alterações na constituição da Equipa
1 Alteração
2 Alterações
3 Alterações
4 Alterações
5 Alterações
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 98 98
jornadas, se realizaram duas em ambas. Posteriormente, da 26ª para 27ª, da 27ª para 28ª, da
última para a 29ª e desta para a 30ª, verificaram-se quatro, duas, quatro e cinco alterações
respectivamente.
Alicerçado a todas estas alterações e como forma de complexificar as mesmas, em
alguns jogos, houve modificações estruturais no losango de meio-campo do Sporting, as quais
se podem repercutir em jogo com novas modificações funcionais pela interpretação dos
jogadores.
Após termos analisado o percurso da equipa em termos quantitativos, as variações dos
seus sistemas de jogo como também, as alterações na constituição da equipa ao longo das
várias jornadas, verificámos que apesar de todas as alterações, tanto no sistema de jogo como
na constituição da equipa, não foram nem são motivos para se dizer que a equipa perdeu
identidade e que os seus jogadores não souberam interpretar e responder de forma eficaz aos
desafios propostos pelo jogo. Muito pelo contrário! Todas as modificações operadas revelaram
sustentabilidade, coerência, treino, reflexão, versatilidade, culminando numa compreensão dos
jogadores de nível superior, não centrando a sua preocupação somente na compreensão das
acções individuais mas principalmente, na compreensão das acções colectivas.
Assim e associado a todos os resultados obtidos pela equipa, podemos afirmar, numa
primeira análise quantitativa, que existe relação e congruência entre as ideias que o treinador
preconiza e treina comparativamente com o conhecimento dos jogadores.
Enveredando pela análise qualitativa, tendo em conta os critérios impostos para a
execução da mesma, iniciaremos a sua execução pelo Momento da Organização Ofensiva tendo
em conta o que os dados nos relatam.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 6. Critério 1 – OOf – Desenvolvimento da Posse de Bola
Relativamente ao início e desenvolvimento da Organização Ofensiva e segundo os
dados expressos pela Figura 6, constatámos que 58,34% (1686 passes curtos) deste momento
do jogo se processa através do gesto técnico passe curto, 17,13% (495 passes longos) por
passes longos e 9,10% (263 conduções/transporte de bola) por condução de bola.
Por outro lado e como valor intermédio, verificámos que 8,03% (232 duelos) das acções
ofensivas se processam através de duelos.
Como acções menos executadas neste momento do jogo, encontram-se de forma
decrescente a recepção e controlo da bola com 3,94% (114 recepções e controlos de bola), 3,22
% (93 dribles) de dribles executados e 0,24% (7 acções do guarda-redes) acções operadas pelo
guarda-redes na Organização Ofensiva.
Tendo em conta os dados supracitados e segundo as posições específicas do sistema
de jogo preconizado pelo treinador, podemos salientar que os defesas centrais variavam as suas
acções técnicas entre o passe curto, o passe longo e a condução de bola. O passe curto foi
preferencialmente utilizado em amplitude, sendo direccionado na maior parte dos casos para os
defesas laterais e médio defensivo, enquanto os passes curtos em profundidade eram
executados para os pontas-de-lança e passes longos em profundidade para os médios
1686
495
263114 93 232
758,34 17,13 9,10 3,94 3,22 8,03 0,24
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
(1) OOfpc (2) OOfpl (3) OOfcd (4) OOfrc (5) OOfd (6) OOfdu (7) OOfgr
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 1 - OOf - Desenvovimento da
Posse de Bola
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 100 100
interiores. Muitas das acções de condução por parte dos defesas centrais eram precedidas de
passe curto em profundidade para os pontas-de-lança e, por outro lado, em profundidade para
os médios interiores.
No que concerne ao médio defensivo e médios interiores, as acções técnicas por estes
desenvolvidas assentaram no passe curto e drible. Relativamente ao passe curto, o médio
defensivo alternava em o passe em segurança para os defesas laterais e o passe em
profundidade para os pontas-de-lança. No que toca ao drible, este era realizado
preferencialmente pelos médios interiores no meio-campo ofensivo, mais precisamente nos
corredores laterais.
Centrando a nossa atenção nas posições específicas mais avançadas do Sporting, ou
seja, pontas-de-lança, podemos verificar que as acções mais efectuadas pelos mesmos foram os
passes curtos e os dribles. Os passes curtos em amplitude e profundidade eram
preferencialmente executados de avançado para avançado enquanto os passes curtos em
segurança e amplitude eram direccionados para o médio defensivo e médios interiores.
Numa primeira instância, ao reportarmo-nos aos princípios de jogo manifestados por
Paulo Bento, podemos indicar que os 0% de risco nas primeira e segunda fases de construção
como também, os 100% de risco nas fases de criação e finalização se verificam através da
análise dos valores obtidos na Figura 7, ou seja, zonas de perda da posse de bola. Analisando a
Figura, verifica-se que no meio-campo defensivo (sector defensivo + sector médio-defensivo) a
percentagem de perdas da posse de bola se centra nos 18,54% enquanto no meio-campo
ofensivo (sector médio-ofensivo + sector ofensivo), a percentagem de perdas encontra-se nos
81,46%.
Por intermédio destes dados podemos concluir que o Sporting é uma equipa que arrisca
pouco no seu meio-campo defensivo, privilegiando a segurança na execução dos passes, não
arriscando nos confrontos do um contra um e erra poucos passes. A partir do momento em que
entra no meio-campo ofensivo, existe a autorização para que a equipa possa arrisca, ser mais
criativa, desenvolvendo o seu jogo com maior tranquilidade, isto é, o importante é chegar com
segurança ao meio-campo ofensivo.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 7.
Numa segunda instância, o treinador privilegia que os seus defesas centrais manifestem
dois tipos de comportamentos no início da sua Organização Ofensiva, ou seja, que coloquem a
bola a 30/40 metros nas zonas onde pretende sair a
pelo corredor central como forma de atraírem os adversários para executarem passes em
profundidade, libertando a bola para jogadores em posições mais avançadas e favoráveis.
Tendo em conta os princípios supracitados,
centrais do Sporting privilegiavam os passes longos em profundidade/amplitude para o médio
interior direito – Pereirinha ou Yannick Djaló
mesma para os pontas-de-lança
joga na posição 10 (médio ofensivo)
passes curtos em amplitude.
Como terceira e última instância, ao incidirmos o nosso foco de atenção
defensivo, podemos salientar que o treinador não pretende que haja
da bola pelos quatro defesas aquando da primeira e segunda fases da Organização Ofensiva.
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Figura 7. Zonas de Perda da Posse de Bola
Numa segunda instância, o treinador privilegia que os seus defesas centrais manifestem
dois tipos de comportamentos no início da sua Organização Ofensiva, ou seja, que coloquem a
bola a 30/40 metros nas zonas onde pretende sair a jogar como também, saiam em condução
pelo corredor central como forma de atraírem os adversários para executarem passes em
profundidade, libertando a bola para jogadores em posições mais avançadas e favoráveis.
Tendo em conta os princípios supracitados, foi possível constatar que os defesas
centrais do Sporting privilegiavam os passes longos em profundidade/amplitude para o médio
Pereirinha ou Yannick Djaló – como também, a condução de bola para liberta
lança e estes comunicarem com os médios interiores e jogador que
joga na posição 10 (médio ofensivo) ou conduzirem para libertarem nos médios interiores com
Como terceira e última instância, ao incidirmos o nosso foco de atenção
defensivo, podemos salientar que o treinador não pretende que haja mais do que uma
da bola pelos quatro defesas aquando da primeira e segunda fases da Organização Ofensiva.
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Numa segunda instância, o treinador privilegia que os seus defesas centrais manifestem
dois tipos de comportamentos no início da sua Organização Ofensiva, ou seja, que coloquem a
jogar como também, saiam em condução
pelo corredor central como forma de atraírem os adversários para executarem passes em
profundidade, libertando a bola para jogadores em posições mais avançadas e favoráveis.
foi possível constatar que os defesas
centrais do Sporting privilegiavam os passes longos em profundidade/amplitude para o médio
como também, a condução de bola para libertar a
e estes comunicarem com os médios interiores e jogador que
ou conduzirem para libertarem nos médios interiores com
Como terceira e última instância, ao incidirmos o nosso foco de atenção no quarteto
mais do que uma rotação
da bola pelos quatro defesas aquando da primeira e segunda fases da Organização Ofensiva.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Relativamente a este facto, verificámos que nos oito jogos analisados não houve qualquer tipo
de ocorrência relativa a este princípio, sendo que ao existir a respectiva circulação de bola, tanto
os laterais como os centrais dão continuidade ao jogo por intermédio das acções supracitadas.
Dando continuidade à análise da Organização Ofensiva e antes de caracterizar o final da
mesma, há que identificar que tipo(s) de Método(s) de Jogo Ofensivo é que a equipa do Sporting
utiliza e com qual dos métodos atinge maior sucesso. A partir dos dados presentes na
Figura 8. Métodos de Jogo Ofensivo
Figura 8, pode constatar-se que 54,06% (193 ataques posicionais) dos ataques realizados pela
equipa são ataques posicionais, 38,10% (136 ataques rápidos) são ataques rápidos e 7,84% (28
contra-ataques) são contra-ataques. Segundo estes dados verificámos que mais de metade dos
ataques realizados pelo Sporting, possuem como método de jogo ofensivo o ataque posicional,
sendo um indicador da superioridade exercida e assumida pela equipa aquando da sua
abordagem ao jogo, contribuindo para uma das características manifestadas pelo treinador, ou
seja, uma equipa com iniciativa.
Por outro lado e associado ao método de jogo ofensivo, revela-se de tamanha
importância verificar através de que método é que o Sporting obtêm maior percentagem de êxito
no desenvolvimento do seu jogo ofensivo.
Através da Figura 9, pode afirmar-se que dos 15 golos marcados pela equipa, após os
oito jogos realizados, concluímos que 53,33% (8 golos) foram obtidos por ataque rápido, 20% (3
28
136
193
7,84
38,1054,06
0
50
100
150
200
250
(8) OOfca (9) OOfar (10) OOfap
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Método de Jogo Ofensivo - MJO
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
golos) por ataque posicional e com a mesma percentagem por execução de bolas paradas,
culminando 6,67% (1 golo) através de contra-ataque.
Figura 9. Golos Obtidos e respectivos Métodos de Jogo Ofensivo
Ao cruzarmos os dados, afirmámos que a equipa do Sporting dá primazia ao método de
jogo ofensivo ataque posicional mas obtém mais êxito na execução da sua Organização
Ofensiva por intermédio do método de jogo ofensivo ataque rápido.
Debruçando-nos agora sobre o modo com a Organização Ofensiva é concluída – com
eficácia ou sem eficácia –, passaremos à execução da mesma verificando, em primeiro lugar, o
Final da Organização Ofensiva com Eficácia.
1
8
3 36,67
53,33
20,00 20,00
0
10
20
30
40
50
60
Em Contra-
Ataque
Em Ataque
Rápido
Em Ataque
Posicional
De Bola Parada
Nº
de
Go
los
Método de Jogo Ofensivo
Golos Obtidos
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 10. Final da Organização Ofensiva com Eficácia
Antes de nos centrarmos propriamente sobre o modo mais eficaz de concluir a
Organização Ofensiva, convém salientar que o Sporting manifestou ser uma equipa que atinge o
terço ofensivo com aparente facilidade tendo a bola controlada. É-nos possível percepcionar tal
comportamento através do total de ocorrências realizadas, ou seja, 426 vezes que a equipa em
questão atingiu o terço ofensivo em oito jogos. Corroborando com este dado, encontra-se a
média de ocorrências executadas por jogo, isto é, 53,25 significa o número de ocorrências por
jogo em que o Sporting atingiu o terço ofensivo com a bola controlada como também, as zonas
em que se processou a perda da posse de bola (Figura 7). Ou seja, 81,46% das perdas da
posse de bola foram operadas no meio-campo ofensivo.
No que respeita à conclusão com êxito da Organização Ofensiva, salientámos que ao
cruzarmos os dados relativos aos remates fora mais os remates contra-adversário com os dados
dos remates dentro mais obtenção de golo, obtemos as respectivas percentagens na ordem dos
52,38% para os primeiros e 47,62% para os segundos. Assim, mais de 50% dos remates não
atingem o espaço da baliza propriamente dito, enquanto 48% dos mesmos atingem, revelando
que em cada 10 remates realizados, 7 dos mesmos atingiram o espaço demarcado pela baliza
e/ou foram golo (Figura 11).
54 4512 15
426
42,86 35,71 9,52 11,900
100
200
300
400
500
(11) FOOfefrf (12) FOOfefrd (13)
FOOfefrad
(14) FOOfefgl (15) FOOfefof Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 2.1 - FOOfef - Final da
Organização Ofensiva com Eficácia
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 11. Relação entre os Remates Fora mais os Remates Contra-adversário versus os
Remates Dentro mais os Remates com obtenção de Golo
Como último ponto de análise desta Figura, podemos salientar que nos oito jogos
realizados, em três jornadas houve mais remates fora/contra-adversário, noutras três inverteram-
se os papéis, existindo três em que houve mais remates dentro/golo, enquanto em duas das oito
jornadas, se verificaram o mesmo número de remates fora/contra-adversário e número de
remates dentro/golo.
Por outro lado e no que concerne ao final da Organização Ofensiva sem eficácia, foi-nos
dado a perceber que em 352 ocorrências, 143 (40,63%) foram efectuadas por intermédio de
recuperação do adversário, corte após cruzamento, passe curto ou passe longo, 55 (15,63%)
delas processaram-se por recuperação de bola por parte do guarda-redes após cruzamento,
passes curto ou longo interceptados, 124 (35,23%) por lançamento fora após cruzamento longo
para fora do terreno de jogo, mau passe por parte da equipa em observação e intercepção do
adversário colocando a bola fora e, por último, 30 dos quais (8,52%) foram efectuadas por
infracção/falta da equipa do Sporting sobre o adversário aquando da Organização Ofensiva da
primeira (Figura 12).
6
109
10
7
13
3
8
2
8
12
10
7
11
4
6
0
2
4
6
8
10
12
14
23 24 25 26 27 28 29 30
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Jornadas
Relação entre Remates Fora+Contra-
Adversário/Remates Dentro+Golo
(11) FOOfefrf + (12)
FOOfefrd
(13) FOOfefrad + (14)
FOOfefgl
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 12. Final da Organização Ofensiva sem Eficácia
Relativamente à Figura 11, há ainda a destacar o facto de o Sporting ser uma equipa
pouco faltosa aquando do seu momento de criação e finalização do processo ofensivo, uma vez
que em 352 acções, só efectuaram 30 faltas sendo a média por jogo de 3,75 faltas.
Direccionando o nosso olhar para outro momento de jogo, isto é, o Momento de
Transição Estado Ataque-Defesa, vamos incidir, em primeiro lugar, a nossa atenção sobre as
zonas onde ocorrem com maior frequência as perdas da posse de bola comparando com as
zonas onde se dá o maior número de recuperações. Em segundo lugar, analisaremos qual dos
dois princípios de jogo definidos pelo treinador para este momento, é o mais utilizado, segundo a
ordem hierárquica estipulada para os mesmos. E por último, a relação entre a densidade de
jogadores na zona de perda e na zona de pressão.
143
55
124
3040,63
15,63
35,23
8,52
0
20
40
60
80
100
120
140
160
(16)
FOOfsefbad
(17)
FOOfsefgrad
(18) FOOfseff (19) FOOfsefi
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 2.2 - FOOfsef - Final da
Organização Ofensiva sem Eficácia
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 13.
Figura 14.
No que respeita ao prim
constatar que 81,46% das perdas da posse de bola registadas pela equipa observada se
processam nos sectores médio-
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Figura 13. Zonas de Perda da Posse de Bola
Zonas de Recuperação da Posse de Bola
No que respeita ao primeiro ponto de análise e observando o Figura 13
constatar que 81,46% das perdas da posse de bola registadas pela equipa observada se
-ofensivo e ofensivo (meio-campo ofensivo). Da percentagem
Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do
Figura 13, podemos
constatar que 81,46% das perdas da posse de bola registadas pela equipa observada se
campo ofensivo). Da percentagem
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 108 108
acima mencionada, retiram-se outros dados importantes relativos às zonas onde ocorrem essas
perdas com maior frequência. Tendo em conta este ponto, verificámos que o Sporting é uma
equipa que perde maior parte das suas posses de bola no sector médio-ofensivo, uma vez que
as zonas 7, 8 e 9, registam 16,7%, 18,56% e 14,77% da perdas respectivamente.
Contudo, a zona 11, parte integrante do sector ofensivo, regista uma grande
percentagem de perdas com 12,5% da totalidade, manifestando-se como uma zona de grande
acesso por parte da equipa observada.
Não deixando de ter em conta os dados anteriores, revela-se crucial cruzar os dados das
zonas de perda de posse de bola com as zonas de recuperação da mesma, pelo facto dessa
relação nos poder elucidar sobre qual dos princípios de jogo do Momento de Transição Ataque-
Defesa recai a primazia. Assim e analisando o Figura 14, verificámos que 78,43% das
recuperações da posse de bola se processam nos sectores defensivo e meio-campo defensivo
(meio-campo defensivo).
Ao aprofundarmos mais esta questão, é-nos dado a perceber que as zonas 4, 5 e 6 são
as zonas com maior frequência de recuperação da posse de bola, uma vez que 14,86%, 18,37%
e 11,66% correspondem, respectivamente, às zonas mencionadas.
No entanto, a zona 2, parte integrante do sector defensivo, regista uma grande
percentagem de recuperações com 16,32% da totalidade, sendo que essas mesmas
recuperações se processaram através de “alívios” defensivos por parte da equipa adversária, por
passes longos e cruzamentos interceptados pelo guarda-redes da equipa em observação.
Cruzando os dados relativos às zonas de perda e zonas de recuperação, é-nos dado a
perceber que ambas são contíguas, uma vez que a maior frequência de perdas se dá no sector
médio-ofensivo (zonas 7, 8 e 9) e o maior frequência de recuperações no sector médio-defensivo
(zonas 4, 5 e 6), ou seja, estes dados manifestam que a equipa do Sporting mal perde a posse
da bola, procura a recuperação imediata da mesma, acabando por ser eficaz na sua execução
pelo facto das zonas de recuperação serem contíguas às de perda e apresentarem valores
percentuais muito semelhantes.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Corroborando com este facto, encontra-se a relação entre a pressão imediata (1º
momento de transição ataque-defesa) e a temporização (2º momento de transição ataque-
defesa). Centrando a nossa atenção no Figura 15, compreendemos que é dada primazia ao
primeiro momento de Transição Ataque-Defesa – 189 ocorrências (80,08%) – em detrimento do
Figura 15. Relação entre a Pressão Imediata e a Temporização
segundo momento – 47 ocorrências (19,92%).
Deste modo e conjugando os dados relativos à análise das zonas de perda e de
recuperação da posse de bola com a primazia dada ao primeiro momento de Transição Ataque-
Defesa, podemos concluir que o Sporting revela ser uma equipa que mal perde a posse da bola,
procura recuperá-la rapidamente, exercendo pressão imediata sobre os adversários e caso não
consiga recuperar a bola de imediato, procura temporizar as acções dos últimos como forma de
se auto-reorganizar.
Ainda relacionado com este momento do jogo, também nos assolou ser importante
relacionar o número de jogadores na zona de perda com o número de jogadores na zona de
pressão.
189
47
80,08
19,92
0
50
100
150
200
(21) ITEADime (24) ITEADtemp
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 3 - Pressão Imediata vs
Temporização
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 16. Número de Jogadores na Zona de Perda da Posse de Bola
Figura 17. Número de Jogadores na Zona de Pressão sobre a bola
De acordo com esta questão e segundo o Figura 16, verificámos que o número de
jogadores que se encontram na zona de perda de posse de bola se centra no valor numérico 3
(108 presenças – 41,54%), enquanto os valores que se seguem se centram nos 2 jogadores (81
presenças – 35,15%) e 4 jogadores (37 presenças – 14,23%).
46
86
103
10 0
18,78
35,10 42,04
4,08 0,000
20
40
60
80
100
120
0 1 2 3 4
Nº
de
Pa
rtic
ipa
çõe
s
Nº de Jogadores
Critério 3 - ITEAD nº de jogadores em
Pressão
Total
%
23
81
108
37
118,85
31,1541,54
14,234,23
0
20
40
60
80
100
120
1 2 3 4 5
N º
de
Pa
rtu
cpa
çõe
s
Nº de Jogadores
Critério 3 - ITEAD nº de jogadores na
Perda da Posse de Bola
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 111 111
Já no que respeita ao Figura 17 e analisando o mesmo por ordem decrescente,
constatámos que o número de jogadores na zona de pressão se centra 2 jogadores (103
participações – 42,04%), 1 jogador (86 participações – 35,10%) e 0 jogadores (46 participações
– 18,78%), tendo em conta que este último dado se manifestou em situações que os jogadores
da equipa adversária recuperavam a bola após errado, estando esses jogadores no seu sector
defensivo (meio-campo defensivo), ou seja, no último quarto de campo do Sporting.
Ao cruzarmos os dados, por cada 3 jogadores (108 presenças – 41,54%) que se
encontram na zona de perda de posse de bola, 2 desses 3 jogadores (103 participações –
42,04%) executam pressão imediata na respectiva zona de perda. Enquanto por cada dois
jogadores (81 presenças – 35,15%), 1 desses 2 jogadores (86 participações – 35,10%) executa
pressão imediata.
Como ponto conclusivo no que concerne ao Momento de Transição Ataque-Defesa e
tendo em conta os princípios preconizados pelo treinador para o mesmo, podemos dizer que o
Sporting é uma equipa que procura recuperar a bola rapidamente, exercendo pressão imediata
sobre os adversários, tendo praticamente 3 ou 2 jogadores na zona de perda da posse de bola,
repercutindo-se a acção de pressão imediata na zona de perda por 2 ou 1 jogadores,
respectivamente.
Pela sequência lógica apresentada relativamente aos Momentos de Jogo, enveredámos
agora pela Organização Defensiva, analisando se a Equipa do Sporting defende
deliberadamente com 9 jogadores, deixando, em grande parte do tempo em que estão inseridos
neste momento, 2 jogadores posicionados intencionalmente para o início do Momento de
Transição Defesa-Ataque, revelando a interdependência do acto de defender e o de atacar,
sendo esses dois jogadores os pontas-de-lança.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 18. Número de Jogadores deliberadamente em Organização Defensiva
Por intermédio do Figura 18, podemos constatar que o princípio defendido e treinado
pelo treinador do Sporting se manifesta perfeitamente, uma vez que dos 174 Momentos de
Organização Defensiva registados, 129 dos mesmos (74,14%) ocorreram com os 2 pontas-de-
lança em posição manifesta de poderem dar continuidade à recuperação da posse de bola,
podendo operar-se à Transição Defesa-Ataque, ou seja, a Equipa do Sporting defende no 1-4-4-
(+2).
Incidindo a nossa atenção sobre o Momento de Transição Defesa-Ataque e atendendo
ao que o Figura 19 nos demonstra, é-nos dado a perceber que 68,82% (234 ocorrências) das
recuperações de bola foram efectuadas através de intercepções, 20,88% (71 ocorrências) por
desarme e 10,29% (35 ocorrências) por intercepção de bola através do guarda-redes. Tendo em
conta estes dados e as zonas de maior frequência de recuperação da posse de bola – zonas 4, 5
e 6 (Sector médio-defensivo) –, podemos concluir que o meio mais utilizado para recuperação da
bola se processa por intermédio das intercepções.
1
29
129
15
0,5716,67
74,14
8,62
0
20
40
60
80
100
120
140
7 8 9 10
Nº
de
Pa
rtic
ipa
çõe
s
Nº de Jogadores
Critério 4 – OD – Desenvolvimento da
Organização Defensiva
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 19. Meios utilizados para o Início da Transição Defesa-Ataque / Recuperação da
Posse de Bola
Por outro lado e segundo as 340 recuperações da posse de bola (somatório das
variáveis 27 ITEDAi, 28 ITEDAd e 29 ITEDAgr), podemos verificar que 240 das quais foram
precedidas de passe, enquanto 100 não foram. Assim, concluímos que 70,59% das
recuperações da posse de bola efectuadas, foram precedidas de passe, advindas de um grande
número intercepções, alguns desarmes e poucas intercepções por parte do guarda-redes.
De acordo com os dados anteriores e relacionando-os com o desenvolvimento da
Transição Defesa-Ataque (Figura 20), verificámos que 63,99% foram executados em passe
(passes curtos – 165 / 49,11%; passes longos – 50 / 14,88%), existindo um desfasamento de
6,6% entre a transição efectuada por passe e o número de passes (curtos e longos) no
desenvolvimento da Transição Defesa-Ataque (30 ITEDAp relativamente a 31 DTEDApc e 32
DTEDApl), sendo que esse valor se deve ao número ocorrências tanto no critério 5 como no
critério 6, serem ligeiramente diferentes.
Contudo, este desfasamento não faz com os valores devam ser preservados, uma vez
que estão relacionados.
234
7135
240
68,82
20,88 10,290
50
100
150
200
250
300
(27) ITEDAi (28) ITEDAd (29) ITEDAgr (30) ITEDAp
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 5 - ITEDA - Início da Transição-
Estado Defesa-Ataque / Recuperação da
Posse de Bola
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 20. Meios utilizados para o Desenvolvimento da Transição Defesa-Ataque
No entanto, das 100 ocorrências que não foram precedidas de passe, 21,43% tiveram
como principal acção a condução de bola (72 ocorrências), tendo como acções secundárias, o
duelo (15 ocorrências – 4,46%), drible (14 ocorrências – 4,17%), recepção/controlo de bola (10
ocorrências – 2,98%) e acção do guarda-redes (10 ocorrências – 2,98%).
Por intermédio destes dados e conjugando-os com as zonas de recuperação da posse
de bola, com a primazia atribuída e operada pela equipa no que corresponde ao primeiro
momento de Transição Ataque-Defesa, ou seja, pressão imediata para recuperação rápida da
posse de bola, com o número de jogadores na zona de perda e em pressão imediata, podemos
dizer que a equipa do Sporting privilegia o desenvolvimento do momento supracitado por passe
curto (Figura 20), ou seja, jogo apoiado utilizando tanto o princípio de acção de sair pelo mesmo
corredor onde recuperou a bola como também, tirando a bola da zona de pressão pelo médio
defensivo. Por outro lado, em caso de inexistência de pressão ou espaço livre para progressão
ou transporte de bola, o Sporting utiliza com segundo meio mais frequente de desenvolvimento
da Transição Defesa-Ataque, a condução de bola (Figura 20), maioritariamente efectuada pelos
seus médios interiores.
Como ponto conclusivo deste momento de jogo, verificámos que a Equipa Observada
utiliza como terceiro meio mais frequente o passe longo (Figura 20), constatando-se que o
165
5072
10 14 15 10
49,11
14,88 21,432,98 4,17 4,46 2,98
0
50
100
150
200
(31)
DTEDApc
(32)
DTEDApl
(33)
DTEDAcd
(34)
DTEDArc
(35)
DTEDAd
(36)
DTEDAdu
(37)
DTEDAgr
Nº
de
Oco
rrê
nci
as
Variáveis
Critério 6 – DTEDA – Desenvolvimento da
Transição-Estado Defesa-Ataque
Total
%
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 115 115
princípio de acção na procura dos pontas-de-lança através do passe longo em profundidade, não
foi o meio mais utilizado ao longo dos oito jogos observados.
Após a análise e discussão dos quatro momentos de jogo da equipa observada,
utilizando as ideias expressas pelo treinador na entrevista realizada relativamente ao que
contempla o seu Modelo nos quatros momentos de jogo, tendo em conta os comportamentos
manifestados pela sua equipa e devidamente analisados por nós, podemos concluir que existe
uma enorme relação e congruência entre o pretendido pelo treinador e o ocorrido aquando da
competição. Como forma de podermos elucidar esta afirmação, podemos dizer que a equipa do
Sporting Clube de Portugal, Época 2008/2009, se caracteriza por ser uma equipa que privilegia a
posse de bola, estando grande parte do tempo de jogo no Momento de Organização Ofensiva,
exponenciando um dos seus grandes princípios, ou seja, a iniciativa (ataque posicional). Para
que tal possa acontecer, deve ser uma equipa que tem de possuir uma elevada concentração
defensiva e que “saiba onde quer pressionar, quando quer pressionar e como quer pressionar”,
tendo no primeiro momento de transição, um dos pontos mais fortes da sua organização, de
forma a manter a iniciativa de jogo. Ou seja, perder a posse de bola e recuperá-la de imediato,
manifestando-se na construção do processo ofensivo, a criatividade, a segurança e o equilíbrio
(Paulo Bento, Anexo 1, págs. IX, X, XI e XV).
4.1.3. Organização posta em prática
Transformar a visão em acção, faz com que os treinadores aproveitem todas as
oportunidades para mostrar em que consiste a visão, quais os sentimentos que esta provoca e
como é que os jogadores podem vivê-la tanto hoje como no futuro. Utilizam-se a si próprios
como instrumentos de descoberta e de mudança, mantêm-se relações de proximidade com o
processo e não afrouxam os esforços antes de atingirem os objectivos. Idealmente, em todas as
interacções e em todas as decisões, os treinadores actuam de forma coerente com os seus
próprios princípios, valores, referências e com os valores da organização que pretendem criar.
Para tal, apelam aos jogadores para que vivam de acordo com os seus próprios valores
e com a missão da organização, transformando as estruturas organizacionais e as funções da
equipa, mudando as normas de relacionamento, remodelando os sistemas e as expectativas de
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 116 116
desempenho de acordo com a visão e fazem com que as tarefas que os jogadores executam se
ajustem melhor à missão da organização (Goleman et al., 2002).
Assim, as organizações pretendem que a mesma seja constituída por elementos
impulsionadores da organização e capazes de dotá-la da inteligência, do talento e da
aprendizagem indispensáveis à sua constante renovação e competitividade num mundo pleno de
mudanças e desafios (Chiavenato, 2000:21). Ou seja, pretendem-se que a organização possua
pessoas com capacidade de impulso próprio, que invistam na organização por intermédio do seu
esforço, dedicação, responsabilidade, comprometimento, entre outras, havendo retorno através
do sucesso colectivo das organizações.
Para que tudo isto possa ser viável, é imperial que a organização possua um líder – o
treinador – que albergue dentro da sua cabeça um modelo mental do mundo, fazendo com que o
mesmo possa afigurar-se mais pertinente através da “sua adequação à personalidade do
treinador e dos jogadores, bem como à cultura específica do clube onde o trabalho se
desenvolve” (Garganta, 2004).
Depois da abordagem ao Modelo de Jogo, passando pelo sistema de jogo e constituição
de novas ordens, culminando na importância que os jogadores possuem no reconhecimento e
identificação com o Modelo e a sua evolução dentro do mesmo, revela-se crucial verificar como é
que tudo isto se processa. Para tal, nada melhor do que caracterizarmos os promotores de
tamanha complexidade, ou seja, a Equipa Técnica, verificando o modo como desenvolvem toda
a construção da equipa.
Por intermédio da entrevista realizada a Paulo Bento (Anexo 1, pág. XXIII e XXIV)
verificámos que o treinador destaca a organização e a solidariedade como características
fundamentais para a execução do trabalho da sua equipa técnica. No que concerne à
organização, o treinador salienta a sua importância “para que cada um saiba o que tem de fazer,
o que cada um leva para o treino”, de modo a que possa existir dinâmica no desenvovlimento da
operacionalização no treino. “A dinâmica da equipa técnica está dentro da organização da
equipa técnica, ou seja, daí dizer o que é que vais fazer para o campo, o que é que vais fazer na
primeira fase do treino, na segunda fase do treino, quem o faz, como é que faz…”, existindo
sincronismo e conexionismo entre todos os elementos da mesma, sendo algo simultaneamente
tão concreto pois é orientador e permite determinar a direcção e o sentido em que se pretende ir.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 117 117
Como o futuro é sempre o elemento estruturante do processo, esta união de esforços
entre todos os elementos da equipa técnica, permite que todos o projectem “mais à frente”, tendo
no momento da operacionalização, de saber aquilo que se pretende para verificar se tudo está a
decorrer exactamente conforme planeado e nesse sentido, o feedback deve ser o mais
congruente possível. Tudo isto tendo o Modelo de Jogo como “pano de fundo”.
Quanto à solidariedade, o treinador exacerba que esta não se cinge somente aos
resultados. Por outro lado, esta possui maior relevância no que toca à “forma como partilhas as
coisas, como fazes as coisas em equipa. Se no campo queres que cada um saiba o que tem de
fazer e se aquele que vai executar uma tarefa, os outros sabem e estão preparados para o fazer,
tens de, em primeiro lugar, na preparação, dar oportunidade que todos possam contribuir para
isso, falar, colocar, até que chegamos a um consenso final. Depois a decisão é mais solitária, é
individual mas a partilha, tens de saber fazê-la” (Anexo 1, pág. XXIV).
A par disto, é inegável a influência que toda a Equipa Técnica exerce sobre as atitudes e
comportamentos, sobre os princípios, valores, orientações e o sentido que vai ser atribuído a
tudo o que os jogadores vão executar em compreensão. Nenhum treinador é igual, como tal o
modelo que transporta para os contextos de treino e competição, possuem a sua impressão
digital (Campos, 2007), a qual é construída em profunda comunicação, interacção, compreensão
e solidariedade como todos os elementos dessa equipa. Assim, treinar é modelar através de um
projecto (Marina, 1995), ou seja, “para o treino ser treino, e não apenas exercitação, impõe-se
uma carta de intenções, um caderno de compromissos que funcione como representação dos
aspectos” (Garganta, 2000), sendo que a interligação dos mesmos, conferem sentido ao
processo, rumando intencionalmente na direcção objectivada não só pelo treinador mas,
principalmente, pelo trabalho desenvolvido por toda a equipa.
Deste modo, Paulo Bento (Anexo 1, págs. II e VI) destaca a existência do “modelo de
jogo para este trabalho que queremos desenvolver, para esta equipa que nós treinamos, para
este clube onde nós estamos”, sendo que no caso concreto do Sporting, “está identificado.” Uma
vez que o Modelo de Jogo está identificado, o mesmo impõe que se criem padrões de conexões
alicerçados às ideias, visão, filosofia e comportamentos que o mesmo sustenta e estabiliza.
Segundo Andrew Coward (1990, in Jensen, 2002), afirma que o cérebro forma
rapidamente hierarquias para extrair ou criar padrões. Os padrões dão à informação um
contexto. De outra forma, esta seria rejeitada por ser considerada desprovida de sentido. Isto é
muito relevante e deve ser utilizado como uma informação teórica para a construção do Modelo
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 118 118
de Jogo. Ou seja, para que a construção e aplicação do Modelo se processem, existe a
necessidade de se realizar uma nova identificação ou reidentificação com o Modelo, utilizando
um suporte teórico como auxiliar.
Assim, Paulo Bento (Anexo 1, pág. VIII) menciona que os jogadores que transitam da
época anterior para a nova época, não necessitam “de ouvir essa mesma informação teórica
porque não há alterações, pelo menos numa fase inicial”, daí lhe ter atribuido a designação de
reidentificação. Enquanto que para os novos jogadores que chegam ao Clube, o procedimento
que é utilizado centra-se na apresentação dessa mesma informação teórica, executando-se uma
nova identificação por parte dos novos elementos para com o Modelo.
Porém, quando há a necessidade de haver a “introdução de um novo sistema de jogo,
dentro do nosso modelo, ou o sistema alternativo para o nosso modelo de jogo, fazê-lo como
fazemos no início da temporada, ou seja, com todos e sob o ponto de vista teórico também.”
Podemos depreender que o plano relacionado com uma identificação mais teórica sobre aquilo
que se pretende no plano da interacção prática reveste-se de alguma importância, e como tal,
Guilherme Oliveira (2007) salienta que “aquilo que eu faço é apresentar os comportamentos de
uma forma verbal e de uma forma visual para eles terem uma noção muito exacta daquilo que eu
quero que eles depois façam, pois embora eu pretenda que os comportamentos se transformem
em hábitos, também pretendo que, antes de se transformarem em hábito, eles percebem aquilo
que estão a fazer, para actuarem no Jogo em função das necessidades que o próprio Jogo pede
mas sempre dentro de padrões comportamentais que nós acharmos que são os ideais para a
nossa equipa. Por isso é extremamente importante nós explicarmos bem aquilo que queremos
para eles perceberem e a visualização de vídeos com esse tipo de comportamentos é
fundamental para essa mesma compreensão.”
Dando continuidade à ideia supracitada pelo autor Andrew Coward, o nosso cérebro na
realidade funciona por padrões e é o modo dele trabalhar de forma mais adaptativa (por isso são
abertos), eficaz e eficiente. Se assim é, o treino de uma determinada forma de jogar tem de os
fazer emergir. É uma questão biológica. Eles fazem parte da maneira como o cérebro consegue
evoluir e incorporar o meio ambiente que o rodeia. Por isso mesmo, temos de os criar através de
um processo de treino que não retire a importância a nenhuma dimensão, mas que as
superlative todas sobre o signo da Especificidade. Temos de construir de forma muito coerente e
concreta a forma como pretendemos que a equipa jogue e depois todo o treino deve ser nesse
sentido.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 119 119
Para além disso, a construção de padrões começa a um nível microscópico, nos
neurónios. Eles não conseguem aprender de forma individual, apenas em grupo e são estas
redes de neurónios que conseguem reconhecer e responder à aprendizagem significativa, de
forma inter-independente. Da mesma forma que isto ocorre com cada um, numa óptica mais
abrangente, considerando o que a equipa realiza, as relações decorrem de interacções, ou seja,
cada um age de forma individual mas quando o faz importa que actue segundo princípios
colectivos que fazem com que tenha de interagir de acordo com um projecto comum.
Por tudo isto, podemos dizer que o estabelecimento de conexões (pertinência -
familiarização com o Modelo de Jogo) e a localização de redes neuronais adaptativas
(construção de padrões - no treino sob o registo da emoção) são factores críticos na formação
de significados intrínsecos. A par desta ideia, Paulo Bento (Anexo 1, pág. VI) operacionaliza o
seu Modelo de Jogo através da execução de exercícios segundo o que foi apresentado e
defendido sob o ponto de vista teórico, permitindo que os jogadores reconheçam equivalência e
sustentabilidade na prática. “Quando lhes apresentamos aquilo que em cada momento do jogo, é
o nosso objectivo para o nosso modelo de jogo, levamo-lo depois para o campo, para que os
jogadores pratiquem aquilo que nós também teorizamos com eles. Isto é, fazer os exercícios na
zona onde queremos que eles ocorram, fazê-lo da maneira que queremos que em termos
mentais ocorram no jogo. Por isso, no fundo é passar da informação que lhes damos em relação
aquilo que queremos em cada momento (do jogo), passá-lo para a prática.”
A partir das ideias mencionadas anteriormente, evidenciam-se dois conceitos muito
importantes na construção e aplicação do Modelo de Jogo ao longo do seu desenvolvimento
processual, isto é, identificação e reentrada da informação teórica relacionada com a execução
prática e a repetição sistemática. No que concerne à relação teórico-prática que o Modelo de
Jogo encerra, Gerald Edelman (2008:11) destaca o conceito de reentrada como chave da
coerência do processo através do exemplo manifestado entre duas cartas em resposta a
estímulos diferentes, mas correlacionadas e conectadas por fibras reentrantes. Se, ao longo do
tempo, os grupos neuronais representados por esferas, no mapa 1, forem frequentemente
activadas de forma simultânea com aqueles representados por cubos, no mapa 2, as suas
ligações serão reforçadas. Como tal, as respostas dos dois cartões serão ligadas entre si,
reforçando-se as ligações entre os dois estímulos percebidos no mundo exterior (Figura 21).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
Figura 21. A reentrada da informação como chave da coerência (Edelman, 2008, LES
DOSSIERS DE La Recherche)
Pelo indicador supracitado, podemos percepcionar o facto da “paisagem mental” ter de
nascer primeiro na cabeça dos jogadores (Frade, 2003), para que os mesmos possam acreditar
numa lógica de funcionamento dos comportamentos individuais e colectivos, isto é, “o jogador só
consegue fazer determinado comportamento bem se primeiro o compreender e depois, se achar
que realmente esse comportamento é benéfico, tanto para a equipa como para ele” (Guilherme
Oliveira, 2006). Em similitude com os autores anteriores, Paulo Bento (Anexo 1, pág. VI e VII)
exacerba que “a sua construção e a sua aplicação tenham sempre uma relação muito grande
entre aquilo que se transmite e aquilo que se faz porque se transmitirmos uma coisa e formos
fazer outra, o jogador aí não tem capacidade nem vê credibilidade naquilo que se faz.”
Relativamente ao segundo conceito, repetição sistemática, esta emana da tremenda
importância do treinar em especificidade, tendo na repetição sistemática o suporte à viabilidade
da aquisição dos seus princípios de jogo, permitindo-lhe promover o aparecimento, no cerne do
meio colectivo que é a Equipa, das “intenções em acto em conformidade com as intenções
prévias”, no sentido de diminuir a discrepância entre ambas (Oliveira et al., 2006:201).
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 121 121
De acordo com o pensamento lógico, coerente e estruturado manifestado pelo
entrevistado, podemos destacar que da identificação total do Modelo de Jogo por parte do
treinador e da equipa, à transmissão teórica dos fundamentos de jogo na vertente teórica, tendo
reconhecimento dos mesmos na execução em compreensão por intermédio da reentrada da
informação teórica pela acção contextual executada em treino, auxiliada pela repetição
sistemática em especificidade, deslocamo-nos para o potenciar do Modelo de Jogo no seu
habitat natural, no terreno de jogo.
Para que o desenvolvimento de um «jogar» específico se dê em direcção a um futuro
presente com um fim inalcançável, Paulo Bento potencia, desenvolve e faz com que o seu
processo de jogo evolua através de novos exercícios e do confronto entre os seus sistemas de
jogo, de modo a que a Equipa seja sujeita a índices de dificuldade superiores.
De forma a que tal se manifeste, Paulo Bento destaca que utiliza “novos exercícios para
os mesmos objectivos mas não mais do que isso, pelo facto de achar que a única maneira que
há para melhorar um modelo de jogo é treinando mais, evoluindo ao nível do treino para que o
modelo ao nível do jogo possa evoluir também. Isso passa, acima de tudo por tentar de alguma
forma, criar novos desafios aos jogadores em termos de exercícios para que eles possam ir
descobrindo coisas diferentes.”
Por outro lado, a colocação em confronto dos dois sistemas de jogo preconizados para a
equipa no treino, permite trabalhar os dois sistemas da mesma maneira e em algumas situações
também, podendo colocá-los em confronto. Tudo isto com o intuito de induzir nos jogadores uma
familiaridade com as ideias de cada sistema e dos respectivos princípios de jogo. Para Paulo
Bento, esta aplicação permitiu que “não só se adquirisse as ideias em termos daquilo que nós
queríamos para nós e, ao mesmo tempo, um confronto desses dois sistemas” (Anexo 1, pág. IV).
Alicerçado à ideia anterior e de acordo com Paulo Cunha e Silva (1999:86), “o
movimento de um estado ao mesmo estado (a repetição) admite a transformação (a variação),
como se, durante o percurso previamente estabelecido, surgissem novas possibilidades que
apontassem para outros trajectos e outros destinos”, os quais permitem que o próprio gesto
humano signifique “para lá da simples existência e presença de facto, inaugurando um sentido.
O comportamento simbólico é privilégio do corpo próprio e da sua estrutura afectiva” (Dantas,
2001:177), favorecendo a construção de novos trajectos, novos significados que ao serem
compreendidos se transformam em conhecimento, permitindo a evolução de todo o sistema
organizacional, ou seja, a Equipa.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 122 122
Os novos desafios impostos aos jogadores nos treinos através dos exercícios, permitem
descobrir novos caminhos para o desenvolvimento do processo de jogo, devendo assim
salientar-se que o treino é um momento de aprendizagem onde os jogadores podem aprimorar e
resolver os erros que os condicionam, tanto a nível individual como colectivo. Como o treino se
centra na aquisição em exercitação e compreensão de princípios comportamentais e suas
respectivas interacções, de modo a que os jogadores saibam resolver os problemas que se lhes
colocam, podemos dizer que o treino promove conhecimentos específicos, colectivos e
individuais.
Deste modo, “quando o treino faz o jogo, também há a desmontagem do processo e,
consequentemente, do jogo”, sendo que daqui emerge uma “permanente articulação de sentido,
que permite, em todos os momentos do treino, haver coerência no que se faz e nos
conhecimentos adquiridos pela equipa e jogadores” (Guilherme Oliveira, 2004). Como tal, os
jogadores são cumpridores dos princípios, agindo e colaborando na construção de uma
linguagem comum, tendo liberdade para atribuir uma outra característica à linguagem comum na
interpretação desses mesmos princípios, ou seja, uma linguagem criadora.
Para que essa construção criadora possa ser possível, “o treinador deve pintar os
quadros, os melhores, os mais simples” (Beswick, 2001), uma vez que a dinâmica do processo é
uma “fenomenotécnica” de natureza não linear (Frade, 2007). Segundo Guilherme Oliveira
(2004), “a não linearidade advém da natureza do próprio processo e da necessidade do treinador
ter que geri-lo, criá-lo e direccioná-lo sistematicamente no sentido da Especificidade e do Modelo
de Jogo.”
Implicitamente relacionado com esta questão, Paulo Bento (Anexo 1, pág. III) afirma que
“no futebol a maior dificuldade é usar a simplicidade, ou seja, quanto mais simples for o jogo,
quanto mais simples for a transmissão das ideias, pelo menos teoricamente, maior capacidade
deverá haver de recepção, para compreender essa mesma mensagem.” Contudo, o mesmo
autor exacerba que o jogador tem maior e melhor disponibilidade e capacidade para ouvir e
executar as situações mais simples, não deixando de existir a complexidade no exercício e na
intervenção do treinador. Isto é, “a complexidade já lá está no exercício, pelo menos simplificá-la
na comunicação, naquilo que pretendemos dos jogadores no exercício” (Anexo 1, pág. IV).
Ao falarmos de situações mais simples, não pretendemos diminuir a capacidade
intelectual do jogador mas sim, demonstrar a importância capital que o treinador possui ao
fornecer aos jogadores o seu foco de atenção no exercício, aquando da explicação do mesmo e
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 123 123
do seu respectivo objectivo, ou seja, executarem-no em função de determinado comportamento
(Guilherme Oliveira, 2007).
O Modelo de Jogo por si só, é um meio riquíssimo para que a construção do «jogar»
específico de cada equipa se processe e desenvolva, alicerçado às culturas emergentes, a do
Clube e a do Treinador, uma vez que caminham de “braço dado” com a Especificidade. Assim,
todas as acções executadas dentro das linhas orientadoras desta ligação, possuem objectivos
claros, coerentes, interligados e estruturadores de uma prática que sustenta a ideia de evolução
permanente do processo.
Deste modo, os treinadores devem utilizar determinadas estratégias para que os
jogadores se identifiquem o melhor possível com o seu Modelo de Jogo. Para que tal se
manifeste, Jorge Jesus (2009:5) destaca como primeiro pilar desta relação treinador-jogador, a
comunicação, dizendo que “se a mensagem do treinador passar facilmente, os jogadores vão
assimilá-la rapidamente”, uma vez que “com os jogadores a linguagem é a do futebol!” (idem,
2009:7). Em sintonia com a opinião de Jorge Jesus, Paulo Bento (Anexo 1, pág. IV e XI)
menciona que “quanto mais simples for a transmissão, mais fácil é para os jogadores interpretá-
la”, nunca perdendo de vista a relação estratégica entre a comunicação e a prática, sendo que
“elas tem de convergir relativamente aquilo que se diz e aquilo que se faz.”
No exacerbar da relação existente entre a comunicação e a prática, emerge a “estratégia
com algo que está adstrito ao que se passa colateralmente ao jogo propriamente dito, e aos
aspectos que dependem, sobretudo da intervenção do treinador” (Garganta. 2000:51) mas neste
caso, o conceito de estratégia está directamente relacionado com o plano de acção manifestado
pelo treinador no treino, de forma a que os jogadores concretizem os objectivos do mesmo.
Como estamos a tratar de uma questão operacional, do aqui e agora da acção, a interacção
entre a comunicação e a prática assentam em duas dimensões da equipa, isto é, numa visão
colectiva e individual.
Para Paulo Bento (Anexo 1, pág. XII) a utilização de estratégias individuais na
intervenção sobre os jogadores em termos tácticos, muitas das vezes, não se releva o meio mais
indicado de intervir, pelo facto de se ter de ir à procura de “um trabalho individualizado, deixando
de ser um trabalho dentro da organização da equipa.” No que concerne à aplicação e informação
manifestada, o treinador privilegia que a primeira se centre nas questões mais colectivas,
intervindo segundo os aspectos tácticos mais relevantes. Enquanto na segunda, procura realizar
“a junção das duas, isto é, a parte individual para o jogador poder entender certas e
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 124 124
determinadas coisas e colectivamente, para se falar sobre a forma de jogar da equipa e aquilo
que pretendemos” (Anexo 1, pág. XI).
De forma a que tal se possa manifestar, Garganta (2000:57) defende que a detecção
dos erros e correcção da execução são dois pontos que merecem atenção especial, de tal modo
que “o treinador deve estar capacitado para identificar os erros, bem como mecanismos
(perceptivos, decisionais, cognitivos, motores) que estão na base da sua ocorrência durante a
prática, fazendo deste um potente aliado para perseguir os objectivos pretendidos.” Para o
mesmo autor (2000:57), de forma a que os erros possam ser considerados como tal, isto é,
contextualizados e específicos de um dado padrão comportamento, “devem ser observados à luz
de um conjunto de princípios e ideias que, no seu conjunto, poderão constituir uma espécie de
teoria da acção (operacionalização do Modelo de Jogo), se nos centrarmos especialmente sobre
a forma como são detectados e corrigidos” no Futebol, cumprindo-se o Princípio da
Especificidade na operacionalização de um dado Modelo de Jogo, o qual subentende a
Articulação Hierarquizada dos princípios de jogo, fazendo emergir um dado «jogar» (Frade,
2003).
Contudo, é nas situações de maior contragimento, imprevissiblidade, exigência e
variabilidade que brotam as maiores dificuldades para a execução dos padrões comportamentais
treinados, como também, se dá a emergência dos princípios preconizados pelo Modelo de Jogo
operacionalizado. Assim, é frequente que os erros se dêem em situações de complexidade
superior, sendo aí, no aqui e agora da acção, que os jogadores tem “de ter a capacidade para
dar essa resposta e a equipa ao mesmo tempo, em função daquilo que o jogo está a dar, saber
inverter o rumo dos acontecimentos” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. XIX), manifestando o
reconhecimento, a compreensão e a interpretação adequadas da informação proveniente do
jogo.
Como exemplo prático da situação supracitada, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XX) destaca
que “o problema disso muitas vezes tem haver com as características dos jogadores. Há
jogadores que muitas vezes a sua principal característica é de decisão, não é de temporização...
Logo, no momento em que a equipa não precisa de decidir mas precisar de temporizar, ou seja,
o jogador acaba por naquele momento não estar a ler bem o jogo para aquilo que a equipa
precisa. A equipa precisa de temporizar uma acção e aquilo que faz é acelerar essa acção, ou
seja, eu estou a decidir mais do que a temporizar, estou a ir sempre para a frente, estou a
procurar sempre uma situação de risco...”
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 125 125
Daqui emerge uma questão essencial no decorrer do jogo, ou seja, a ligação entre a má
decisão de um jogador e a intervenção do treinador perante a respectiva decisão. Neste ponto,
Paulo Bento (Anexo 1, pág. XX) é peremptório ao afirma que “o treinador, na minha opinião, tem
muito tempo onde pode intervir, que é durante a semana, no treino. Depois tem muito pouco
tempo onde pode intervir, que são 10 minutos no intervalo. Aí tem de se tentar gerir muitas das
coisas que acontecem em 90 minutos, tentar gerir o mais importante, aquilo que é mais
determinante.”
A envolvência caótica que tanto o treino como no jogo criam, promove o despoletar de
uma constante aleatoriedade e imprevisibilidade, existindo a necessidade de intervenção
sistemática e no momento propriamente dito, revelando-se fundamental para gerir e criar o jogo
pretendido. Para Guilherme Oliveira (2004:156-157), “independentemente do princípio ou do
sub-princípio, do exercício mais complexo ou menos complexo, da intervenção do treinador mais
global ou mais pormenorizada, isto é, das diferentes escalas de intervenção, a Especificidade
deve estar sempre presente e deve ser representativa do Modelo de Jogo criado. A
Especificidade, em todas as escalas possíveis, terá de ser sempre uma invariante/constante do
processo.”
Ou seja, para além do treinador estar ligado à singularidade da equipa, tendo que estar
presente em todo o processo de intervenção (na criação, na organização, na gestão e na
operacionalização do processo de treino), é essencial que seja transmitida uma mensagem por
um elemento fundamental na estruturação da equipa que não somente o treinador. Para a
divulgação de tal mensagem, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XX) procura utilizar uma pausa no jogo
para chamar alguém, tentando enviar um feedback por algum jogador, de forma a que a equipa
inverta a situação que estão a vivenciar.
No momento em que interage com o jogador através do qual pretende que a mensagem
seja transmitida, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XXI) salienta que a opção recaí sobre um elemento
que tenha o “poder transmitir uma coisa em que os outros o ouçam.” Apesar do conteúdo da
informação transmitida ser táctico, sobrevaloriza-se a dimensão psicológica e qualidade de
tratamento da informação, ou seja, o poder de influencia positiva que determinados elementos
tem no seio do grupo como também, a capacidade que tem para a transmitir e, ao mesmo
tempo, controlá-la. “Eu passei por essa experiência enquanto jogador, normalmente vinha por
mim essa informação, e isso tem haver, muitas vezes, com a posição que o jogador ocupa.”
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 126 126
Dentro desta sequência lógica de pensamento, podemos constatar que o jogador possui
uma grande necessidade de compreensão em acção de todas as acções que executa em treino
e em jogo, de forma a possuir uma conhecimento profundo sobre o Modelo de Jogo.
Alicerçada a esta ideia, verificámos a exaltação de um dado «jogar» segundo os
referenciais que o mesmo oferece aos jogadores em treino e em jogo, conduzindo-nos para a
noção de fenomenológica, “no sentido em que coloca ênfase nas condições necessárias (não as
propriedades) para uma dada entidade, ser o que é” (Ilharco & Lourenço, 2007). A par disto,
Introca e Ilharco (cit. por Ilharco & Lourenço, 2007:82) salientam que, “para a fenomenologia, o
significado não está «em» algo mas antes ele se encontra «na» ligação, nas relações ou
referências para o algo, para ser como já é tomado quando adquirido pela nossa actividade
contínua na nossa vida quotidiana.” Dentro deste processo, podemos destacar que o
conhecimento do jogo ou aquilo que deve ser o facto mais importante do futebol, deve centrar-se
no entendimento do jogo, uma vez que “quanto melhor entenderes o jogo, mais fácil será para ti
a abordagem ao jogo, a abordagem ao treino” (Paulo Bento, Anexo 1, pág. I).
Essa abordagem qualitativa do jogo e do treino, faz com que a programação semanal
por parte da Equipa Técnica seja executada em função do que se desenrolou no jogo anterior e
do que se vai desenrolar no próximo, de tal modo que Paulo Bento (Anexo 1, pág. I) salienta que
“quanto mais analisares essa situação, quanto mais entenderes essa situação, ou seja, aquilo
que o jogo te pede, aquilo que o último jogo te deu e o próximo te pede, quanto melhor tu
entenderes isso, mais fácil será” a planificação dos objectivos semanais.
Conforme a planificação perspectivada pelo treinador, manifesta-se que os jogadores
sejam os impulsionadores de todo o processo, sendo que na ideia de Cruyff (1999) o importante
não é a equipa que ganha, mas sim ter um sistema que ganhe. De acordo com a opinião de
Paulo Bento (Anexo 1, pág. XVII-XVIII), são os jogadores que ganham porque interpretam o que
treinam, uma vez que se um treinador compõe um plantel, com uma dada forma de jogar
segundo as ideias do mesmo e a Cultura do Clube, “então, aquilo que tu vais treinar é uma forma
de jogar para ganhar e depois, tu ganhas com a forma de jogar mas com os jogadores que
interpretam a tua forma de jogar.” Independentemente dos jogadores que a colocam em prática,
“o teu objectivo é o mesmo, ganhar! Ganhar com os outros jogadores mas com jogadores que
são teus, com os jogadores do plantel, jogadores que tu treinas todos para uma forma de jogar.
Por isso, tu ganhas ou tentas ganhar com os teus jogadores e a forma como tu os preparas no
teu modelo de jogo, na tua forma de jogar. Como tal, o que ganha é o todo. Ganha o teu treino, o
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4.Análise e Discussão dos Conteúdos da Entrevista 127 127
teu jogo, os teus jogadores e a tua ideia. Agora, eles ganham porque fazem passar a tua ideia ou
tu ganhas porque eles conseguiram fazer passar a tua ideia, ou seja, a tua forma de jogar! Aquilo
que eles interpretam!“
O próprio Frank Rijkaard salientava que mesmo quando não ganhavam, Cruyff não
abdicava da sua visão, das suas ideias, de nada do que mostrava aos jogadores, desde o início
do processo, fazendo-nos pensar que uma das características fundamentais para quem treina,
centra-se no facto de não abdicar da sua visão independentemente dos resultados!
Em jeito de conclusão, Paulo Bento (Anexo 1, pág. XVIII) remata dizendo que “se tens
uma ideia, constróis uma ideia de jogo, levas os teus atletas a definir essa ideia de jogo e
correndo um jogo, dois mal, tu vais dizer aos teus atletas que afinal isto está tudo mal, vamos
partir para outra! Depois perdes mais dois jogos e vamos voltar à mesma... Não existe! Ou
vamos ter mais uma terceira... Não existe! Isso não existe porque senão, não conseguimos
trabalhar... Se nós dizemos todos, Académicos ou os que não foram Académicos, dizemos
todos, isto vive de rotinas. Se vive de rotinas, se nós as mudarmos ao fim de algum tempo, não
as temos. Vamos ter de arranjar outras, e para arranjar outras demora tempo. Por isso, não faz
sentido nenhum mudar uma situação porque acontece um ou outro percalço pelo caminho. Ou tu
acreditas naquilo que constróís desde o início” ou o processo não atinge o sucesso, uma vez que
tudo isto tem de estar intrinsicamente relacionado, “dentro do modelo de jogo!
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 128
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 129
5. Conclusões
“O modelo é tanto mais rico, quanto mais criar possibilidades aos indivíduos para poder acrescentar qualquer
coisa às suas funções, mas nunca à revelia das suas funções.”
Frade (2003)
Ao longo do presente estudo, foi notória a intencionalidade do enfoque do nosso olhar,
ao debruçarmo-nos na compreensão de um percurso infindável sobre o fenómeno Futebol, o
qual e no caso concreto do treinador Paulo Bento, se iniciou a partir de uma carreira de jogador
profissional, permitindo-lhe edificar-se de forma sustentada, coerente, inteligente e organizada,
numa carreira de treinador profissional.
A transição entre o papel de jogador e a função de treinador, advém de uma vivência
anterior enquanto jogador profissional, proporcionando-lhe uma compreensão em execução ao
longo de muitos anos, criando um elo de ligação muito forte e profundo ao transformar o saber
fazer como jogador (conhecimento implícito), num saber sobre um saber fazer como treinador
(conhecimento explícito). Esse continuum entre ambos os saberes, fez com que o treinador
construísse uma versão individual da formação requerida para o desempenho das suas
respectivas funções jogando, projectando-se todo esse conhecimento multidisciplinar, num
modelo do mundo (modelo de jogo) criado pelas experiências, valores, regras, princípios vividos
por intermédio de outros modelos de mundo, criando as suas próprias referências, as quais
convergem numa lógica interna de funcionamento.
Passando de uma concepção individual do modelo de jogo, para a projecção desse
mesmo modelo numa construção dinâmica e interactiva com o Clube, o treinador e a sua
respectiva equipa técnica, tem de compreender que o Clube possui uma história, uma cultura e
características próprias do país a que pertence, sendo que para além disso, o seu modelo de
jogo tem de envolver tudo isso.
Assim, há um conjugar de ideias, teorias e conhecimentos que concorrem para um
mesmo objectivo, sendo que a junção destas duas culturas, Cultura do Clube e do Treinador, se
fundem numa só – Cultura Universal –, permitindo que a primeira, em larga escala, se projecte
na e através da segunda, objectivando-se um crescimento universal de ambas na construção de
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 130
um futebol de qualidade, o qual se percepciona na imagem final que a equipa transmite no
terreno de jogo.
A emergência da Cultura Universal, fez com que num mesmo plano hierárquico, se
processasse a evolução do Modelo de Jogo, o qual possui como um dos seus grandes
supraprincípios, a Especificidade. A última repercute-se numa relação profunda entre o Modelo
de Jogo concebido por cada treinador e a operacionalização do mesmo no treino, uma vez que
tudo aquilo que se faz no treino, é em função do Modelo de Jogo criado, sendo essa relação
fruto da especificidade, a qual em todas as escalas possíveis, terá de ser sempre uma
invariante/constante do processo.
A relação íntima e profunda entre a Cultura Universal e o Modelo de Jogo Específico da
Equipa Observada, permitiu-nos caracterizar o Sporting como um clube que tem como cultura
predominante, a Cultura do “Ganhar”. Por seu intermédio, foi-nos dado a perceber que uma das
características que marca a relação intrínseca entre a Cultura do Clube e o Modelo de Jogo do
Sporting, centra-se no facto dessa interligação ser sustentada pela capacidade de iniciativa, pelo
marcar de ritmos e velocidade de jogo, pelo domínio exercido sobre o adversário, ditando o
desenrolar do jogo. Isto é, exerce-se uma influência consciente sobre o meio por intermédio de
acções grupais, de modo a que os princípios inerentes à Cultura da Equipa se superiorizem em
confronto com o adversário.
Contudo, para que os princípios de jogo inerentes à Cultura Organizacional da Equipa se
expressem, é necessário definir uma hierarquia de comportamentos, uma vez que nem todos
são operacionalizados da mesma forma porque não assumem a mesma importância. A par disto,
destacámos, que os Momentos de Transição Ataque-Defesa e de Organização Ofensiva se
revelaram os mais importantes na equipa do Sporting.
Relativamente ao primeiro, este manifestou-se crucial pelo facto do Sporting ser uma
equipa que procurava jogar de forma regular em Organização Ofensiva, tendo maior domínio
sobre o jogo, utilizando a sua posse de bola para poder atacar de forma rápida ou posicional,
mantendo a iniciativa de jogo. Ao procurar manter a iniciativa dentro do mesmo, há que num
primeiro momento de perda da posse de bola, recuperá-la rapidamente para que possam iniciar
de imediato o Momento de Organização Ofensiva. Caso não seja possível recuperar de imediato,
temporizando a acção do adversário, para que a equipa se organize defensivamente.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 131
Na Organização Ofensiva, privilegiam zero por cento de risco na primeira e na segunda
fases de construção, não circulando a bola de lateral a lateral, executando de preferência a
condução/transporte de bola por parte dos defesas centrais, atraindo a equipa adversária para
libertar espaço para o início da fase de criação por intermédio dos médios ou por passe longo
em profundidade para o médio interior que proporcionar mais profundidade à equipa. Nesse
momento de jogo e consoante o corredor de jogo onde a bola se encontra, um dos médios
interiores assume a posição de um médio-ala, proporcionando que a equipa possua maior
amplitude, mas, acima de tudo, mais profundidade no seu jogo. Com esta movimentação, os
pontas-de-lança funcionam como linhas de passe mais profundas para o médio interior contrário,
para o médio defensivo e para o jogador que ocupa a posição 10 ou de médio ofensivo.
Na fase final da Organização Ofensiva, ou seja, na fase de finalização, é uma equipa
que possui cem por cento de liberdade para poder dar azo à sua capacidade e inteligência
criativas, demonstrando através de sete vitórias e um empate, ao longo dos oito jogos
observados, que sabe usufruir das oportunidades de golo que constrói, marcando 15 golos, em
que 8 (53,33%) foram obtidos por ataque rápido, 3 (20%) por ataque posicional, 3 (20%) através
das bolas paradas e 1 (6,67%) por contra-ataque.
Devido à inerente complexidade que a construção de um «jogar» de qualidade encerra,
e de forma a que as ideias e a filosofia do treinador encontrem eco no lado pragmático, na
operacionalizado do Modelo, deve exacerbar-se na construção desse «jogar», a estabilidade na
esfera das ideias, sustentando a continuidade das referências, ou seja, uma panóplia de
invariâncias que para além de credibilizarem o Modelo de Jogo, fazem com que a equipa saiba
suportar as nuances estratégicas de circunstância que o jogo impõe pelo confronto com o
adversário, sem que esta se descaracterize.
A não descaracterização da equipa associada ao reconhecimento dos princípios de jogo
que a mesma expõem, defende, preconizada e aplica em jogo, faz com que esta seja
identificada e caracterizada como uma equipa com identidade. A estabilidade dos processos,
conduz à construção de uma identidade que ao expressar-se em jogo de forma regular e
sustentada, conduz o treinador para a percepção do Modelo de Jogo, do Modelo de Treino, do
Modelo de Jogador e do Modelo de Exercício como um prolongamento do primeiro, sendo que
esta cadeia decrescente em termos de complexidade, ou seja, do plano macro para o micro,
conduz o treinador para a observação da sua equipa como se tratasse de um processo
nanotecnológico.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 132
Este processo permite que o treinador consiga ir ao cerne da questão, incidir a sua
atenção nos problemas que a sua equipa possa demonstrar, tendo a destreza para o poder
corrigir de forma imediata, sabendo onde se encontra o “foco infeccioso”.
Sendo o Futebol uma modalidade situacional que emerge da especificidade de cada
modelo de jogo e cultura organizacional que o próprio «jogar» possui, expressando-se pela
estabilidade dos seus comportamentos, a qual lhe atribui traços identificativos, também nos
conduz para a percepção do mesmo como um fenómeno epigenético. Ou seja, este depende da
influência do ambiente, do contexto, dos “saberes situacionais”, sobre a expressão do «jogar»
que o treinador ambiciona e constrói com os seus jogadores.
Para além de um dos elementos estruturantes do processo, no momento da
operacionalização, se centrar no saber do que se pretende executar para verificar se tudo
decorre exactamente conforme o planeado, os feedbacks devem ser o mais congruentes
possível com os objectivos que o treinador pretende para a sua equipa. Como tal, a dinâmica do
competir manifesta-se parte integrante da dinâmica do treinar, existindo uma constante relação
entre as componentes psico-cognitivas, táctico-técnicas, “físicas” e coordenativas, estando todas
elas permanentemente correlacionadas com o Modelo de Jogo concebido e respectivos
princípios que lhe dão corpo.
Esta dinâmica surge no momento em que os jogadores dão vida ao plano estático
(Sistema de Jogo), por intermédio dos respectivos princípios, os quais são o inicio da transição
entre o plano estático e o plano dinâmico do Sistema de Jogo. O poder dinamizar um sistema
surge através do onde e do como parte a equipa, estando tudo alicerçado aos conceitos de
organização estrutural e funcional.
Por intermédio desta organização estrutural, do mapa geométrico inicial (estático),
emerge uma fenomenologia dinâmica de interacções, que brota da concepção de jogo do
treinador, dos princípios e sub-princípios que o constituem e sobre os quais os jogadores
intervêm de forma activa, tornando-se numa funcionalidade organizada a partir de uma estrutura
inicial, que faz com que o Modelo adquira diferentes estruturas consoante as dinâmicas impostas
pelos princípios. Assim se constituí um mapa do «jogar» de cada equipa, o qual assentam num
conhecimento profundo dos jogadores dentro da própria equipa pelo jogo posicional e
respectivas relações com os outros jogadores, existindo só a preocupação com os adversários.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 133
A singularidade na “fabricação” de um «jogar» é fruto da interacção que deve ser
construída e direccionada em função de um conjunto de ideias, colectivas e individuais, de jogo,
criando-se possibilidades de acção e não de certezas de acção, repercutindo-se na dinâmica de
criação, solidificação e recriação de conhecimentos dos jogadores e na dinâmica do próprio jogo.
Assim, o Modelo de Jogo funciona como um processo de aprendizagem, proporcionando
que todas as acções sejam susceptíveis de se tornarem num novo significado, uma vez que os
jogadores são cumpridores dos princípios, agindo e colaborando na construção de uma
linguagem comum, tendo liberdade para atribuir uma outra característica à linguagem comum na
interpretação desses mesmos princípios, ou seja, uma linguagem criadora.
A construção dessa linguagem criadora emerge de padrões hierarquizados em termos
cerebrais, padrões esses que são a informação dos contextos criados e vivenciados pelos
jogadores, fazendo com que a percepção e compreensão do meio evoluam através do incorporar
dessas mesmas acções, as quais ao interrelacionarem-se de forma interdependente,
proporcionam que cada jogador aja de forma individual mas ao fazê-lo, actuam segundo
princípios colectivos que fazem com que tenham de se interagir sistematicamente.
A identificação total do Modelo de Jogo por parte do treinador e da equipa, à
transmissão teórica dos fundamentos de jogo na vertente teórica, tendo reconhecimento dos
mesmos na execução em compreensão por intermédio da reentrada da informação teórica pela
acção contextual executada em treino, auxiliada pela repetição sistemática em especificidade,
faz com que o Modelo de Jogo se potencie no seu habitat natural, no terreno de jogo.
Tudo isto, se deve ao “caminho” que o Modelo de Jogo permite executar, salientando-se
que mais do que compreendermos o jogo como uma unidade colectiva resultante das relações
que os jogadores estabelecem entre si, salientámos que a verdadeira importância das coisas
não está nas coisas em si mesmas mas sim, nas relações estabelecidas entre elas, uma vez que
o Modelo de Jogo não se esgota nas relações entre os jogadores, é muito mais complexo do que
isso e não pode ser menosprezado.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 134
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
5.Conclusão 135
6. Sugestões para o futuro
Tendo em conta o estudo realizado, podemos constatar que o mesmo possui carácter
evolutivo e de elevada complexidade se prolongarmos o seu estudo.
Desta forma, sugiro como trabalho futuro, o estudo de três Modelos de Jogo distintos,
englobando três equipas de três países diferentes mas que em termos internacionais, compitam
na Liga dos Campeões. A execução do estudo prendesse com a análise e observação dos três
Modelos de Jogo das respectivas equipas, caracterizando os mesmos no que concerne ao modo
como competem no seu Campeonato Nacional e na Liga dos Campeões, de modo a que
possamos analisar as diferenças entre os últimos dentro das competições nacionais como
também, nas competições internacionais.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
7.Bibliografia 136
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Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
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Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos I
8. Anexos
Anexo 1: Entrevista a Paulo Bento
Treinador Principal da Equipa Sénior do Sporting Clube de Portugal
Nuno de Almeida – Ao longo da sua experiência enquanto jogador, quais foram os
aspectos que considera determinantes para o levarem a conhecer melhor o jogo de
Futebol “por dentro”?
Paulo Bento: Os aspectos que são determinantes para se conhecer melhor o futebol
são o estar-se ou tentar-se aperceber dentro da tua experiência enquanto jogador primeiro e
depois como treinador, ou seja, a organização, focalizar-se na organização das equipas,
tentando entender o mais possível e o melhor possível aquilo que estavas a fazer, especialmente
na tua experiência enquanto jogador, ou seja, ao nível do treino. Entenderes o que estás a fazer
e o porquê de o estares a fazer. Isso acaba por se tornar mais fácil quando passas para a tua
outra experiência como treinador, poderes explicar aos outros por que razão o vão fazer, para
que é que o vão fazer porque tens uma vivência anterior. Agora, aquilo que é o conhecimento
do jogo ou que deve ser o facto mais importante do futebol, deve ser o entendimento do jogo
porque quanto melhor entenderes o jogo, mais fácil será para ti a abordagem ao jogo, a
abordagem ao treino. A preparação do teu plano semanal tem muito a ver com isso... com o que
se desenrolou no jogo e com aquilo que tu queres que se vá desenrolar no próximo. Por isso,
quanto mais analisares essa situação, quanto mais entenderes essa situação, ou seja, aquilo
que o jogo te pede, aquilo que o último jogo te deu e o próximo te pede, quanto melhor tu
entenderes isso, mais fácil será. Então, a organização de uma equipa, a organização do jogo é
aquilo que para mim foi o mais importante ao longo da minha carreira de jogador, principalmente
a partir de uma determinada altura porque no início da carreira de jogador não se pensa nisso
naturalmente, e agora como treinador é para mim o mais importante, ou seja, é tu entenderes o
jogo de uma forma quase total.
Nuno de Almeida – Considerando os Modelos de Jogo utilizados pelos diferentes
treinadores que o orientaram ao longo da sua carreira de jogador, qual aquele com que
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos II
mais se identifica? Porquê?
Paulo Bento: Não é fácil identificarmo-nos só com um modelo de jogo dos treinadores.
Ou seja, ao longo da carreira de jogador com 15 anos é muito difícil ficares com um modelo de
jogo, até porque é muito difícil haver só um modelo de jogo ao longo da tua carreira, diria
impossível. Enquanto treinador, torna-se difícil, ao longo de uma carreira de treinador também
treinares ou identificares-te só um modelo de jogo. Eu dou como exemplo nalgumas situações
que o treinador não tem aquilo que é o meu modelo de jogo. Numa conversa meio informal que
tive contigo sobre um colóquio que houve e onde eu fiz uma comunicação, eu comecei com uma
pergunta: “O Meu Modelo de Jogo ou o Modelo de Jogo que eu vou trabalhar em determinada
situação?”, isto é, o modelo de jogo para onde eu estou, para os jogadores que tenho. Não há só
um modelo de jogo ou o nosso modelo de jogo. Há o nosso modelo de jogo para este trabalho
que queremos desenvolver, para esta equipa que nós treinamos, para este clube onde nós
estamos. Por isso ao longo da carreira e por diversos treinadores, ainda mais difícil é escolher
um com quem tu te identifiques. O que houve foi o tirar ou com diz o Capelo “o roubar” um pouco
de cada um, aquilo com que tu mais te identificavas, as melhores qualidades e aqui estamos a
falar só em termos tácticos, ou seja, tudo aquilo que faz referência ao modelo de jogo para
depois tu, em função das equipas que fores treinando, poderes aproveitar aquilo que aprendeste,
aquilo que “bebeste”... mas nunca uma só situação ou várias situações de um só treinador ou
modelo de jogo que eles apresentaram.
Nuno de Almeida – Eu sei que todas elas fizeram as suas referências, conduziram
a sua maneira de perspectivar o jogo para um determinado sentido mas, ao longo da sua
carreira, qual foi aquela pessoa ou que treinador que teve um cunho marcante em si,
quase como que o conduziu para ver o jogo numa perspectiva que não a tinha
anteriormente?
Paulo Bento: Como eu já disse anteriormente, João Alves marcou-me muito por vários
aspectos tendo em conta os pessoais também. Em termos de futebol e estamos a falar quase à
vinte anos, foi o primeiro treinador que eu tive em termos profissionais e naquela altura, notava-
se que ao nível do treino que há situações que hoje em dia se fazem que ele já o fazia naquela
altura... falamos em termos de exercícios, da concepção de algumas unidades de treino... Por
isso, foi um treinador que me marcou pela sua organização, pela sua capacidade de liderança no
treino também. Depois Lillo em Espanha (no Oviedo), pela parte táctica, ou seja, era um
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos III
treinador que ia à exaustão, exacerbava o mais possível a táctica no treino.... raramente havia
aquelas situações de jogo que costumamos dizer que vamos fazer GR + 10 vs 10 + GR, quase
que não havia durante o microciclo. Um treinador muito exigente sobre o ponto de vista táctico. E
depois, Fernando Vásquez pelo facto de ter uma capacidade de organizar a equipa através de
um processo muito simples, ou seja, era um treinador que usava muito a simplicidade nas
unidades de treino, na preparação do microciclo, até mesmo no seu próprio discurso era um
treinador simples e fácil, num bom sentido, de entender. A ordem aqui não é importante mas
estes três treinadores foram os que me levaram a ver o futebol de uma maneira diferente
daquela que vemos no início da mesma, apesar do João Alves o ter sido no início da carreira,
Lillo e Fernando Vásquez já com alguma experiência no futebol espanhol... cada um há sua
maneira pelos aspectos que referi, ensinaram-me a ver o jogo e aprendi com eles muitas coisas,
as quais não se devem imitar porque acho que isso não se deve fazer mas tentando praticar.
Nuno de Almeida – Então, por intermédio do seu discurso, posso dizer que o
Paulo concorda com a frase que o treinador deve pintar os quadros, os melhores, os mais
simples?
Paulo Bento: Sim... eu penso que no futebol a maior dificuldade é usar a simplicidade,
ou seja, quanto mais simples for o jogo, quanto mais simples for a transmissão das ideias, pelo
menos teoricamente, maior capacidade deverá haver de recepção, para compreender essa
mesma mensagem. Por isso, acho que o jogador possui uma disponibilidade maior e melhor
para ouvir e para fazer situações mais simples. Contudo, isso não implica que na mesma
orientação do treinador não haja lugar à complexidade no exercício. Na transmissão da ideia,
quanto mais simples for a transmissão da ideia, melhor, mesmo que o exercício tenha uma
complexidade maior que outros exercícios, nesse mesmo exercício deve-se simplificar o mais
possível a transmissão daquilo que pretendemos do jogador para esse exercício...
Nuno de Almeida – Até porque os jogadores trazem consigo uma bagagem
riquíssima de estímulos, uma série de linhas de condução anteriores do jogo, e muitas
vezes o Paulo perspectiva as coisas tendo um enfoque circunstancial, ou seja, é isto que
eu quero neste momento, não esquecendo a bagagem anterior que os jogadores trazem
do modelo de jogo porque isso os jogadores tem de saber...
Paulo Bento: O facto de criarmos mais complexidade num exercício, não significa que a
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos IV
complexidade tenha de vir também da transmissão da ideia, ou seja, a complexidade já lá está
no exercício, pelo menos simplificá-la na comunicação, naquilo que pretendemos dos jogadores
no exercício. Mas regra geral, quanto mais simples for a transmissão, mais fácil é para os
jogadores interpretá-la...
Nuno de Almeida – Qual a relação que entende dever existir entre a Cultura de um
Clube e o Modelo de Jogo do treinador desse clube?
Paulo Bento: Uma das coisas que deve estar dentro do modelo de jogo é a cultura do
clube e as ideias do treinador, ou seja, o treinador deve saber moldar as suas ideias em função
da cultura do clube e não fazer ou querer mudar uma cultura que tem tantos e tantos anos, pelas
ideias do treinador. Isto é, o clube pode adoptar algumas situações que estejam relacionadas
com a ideia do treinador mas a cultura do clube deve estar inserida dentro do modelo de jogo.
No fundo, o modelo de jogo significa uma forma de jogar, dentro dessa forma de jogar
encontram-se as ideias do treinador, e logicamente também, a cultura do clube porque tu vais
pôr um pouco a equipa a jogar não só em função da cultura do clube mas também, em função
das tuas ideias tendo em conta a cultura do clube.
Nuno de Almeida – E o que é que a Cultura do Sporting dá ao modelo de jogo do
Paulo em conjunto com a sua Equipa Técnica? Características que o Clube tenha que lhe
permitam exponenciar umas coisas, potenciar outras...
Paulo Bento: A Cultura do Sporting até pela obrigatoriedade que têm em ganhar, pela
sua história, obriga que no nosso modelo de jogo uma das situações que tenha de haver seja a
iniciativa. Isto é, maior capacidade para dominar o adversário do que propriamente jogar a
especular com a situação, a especular com o jogo. Culturalmente não é um Clube que tenha
adoptado essa forma de jogar e nós, também, não o pretendemos fazer nem o temos feito. Daí
que o nosso modelo de jogo passe por sermos uma equipa com iniciativa, uma equipa que
esteja mais tempo em organização ofensiva, uma equipa que faça da sua capacidade para ter a
bola, um dos aspectos mais importantes do modelo de jogo. Agora só isso não chega! Ou seja,
não há nenhuma equipa que consiga ter um modelo de jogo só com um momento dos quatro
que existem, só pela organização ofensiva. O que damos primazia ou uma particular atenção
são as situações de posse de bola que levem os jogadores a saber jogar dessa forma, ou seja, a
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos V
saber estar mais tempo a jogar dessa forma, não descurando os outros aspectos do jogo. O
facto de eu ter uma equipa que tenha de ter iniciativa, que tenha de ter capacidade para dominar
o adversário, não significa que em vários momentos do jogo não tenha somente de controlar o
adversário, não tenha de se sujeitar ao poderio do adversário e que saiba conviver com essas
situações. Por isso, todos eles tem de trabalhar! Agora, fazêmo-lo de maneira que a equipa
possa jogar de acordo com as ideias do treinador mas também, enquadrado naquilo que é a
história e a cultura do clube.
Nuno de Almeida – A sua cultura, a sua filosofia de jogo, as quais estão inerentes
ao seu modelo de jogo, mantêm-se independentemente de quem seja a equipa contra
quem joga?
Paulo Bento: Mantém-se o que é o nosso objectivo, mantém-se o que é a nossa
mentalidade, mantém-se o que é a nossa forma de jogar porque para mim não faz sentido,
mesmo que reconheçámos que o adversário possua um maior potencial e aqui, falamos um
pouco na questão das competições europeias, não faz sentido mudar aquilo que se treina de
uma forma rotineira, de uma forma programada, de um forma sistemática. Aquilo que faz sentido
é dentro da competição onde estamos, do tipo de competição em que estamos, daquilo que a
competição nos pede em determinado momento porque mesmo a própria Liga dos Campeões
acarreta algumas circunstâncias diferentes comparativamente com um jogo a eliminar. Não faz
sentido mudar a forma de jogar, a mentalidade com que encarramos a competição, a
mentalidade com que encarramos o jogo... O que pode ter e deve ter sentido é dentro do modelo
de jogo da equipa, adoptar algumas situações em termos estratégicos para, não só, provocar
danos no adversário como ao mesmo tempo, adoptar estratégias para que o adversário não nos
provoque danos. E aí, especialmente aquilo que fazemos nas competições a nível nacional, em
que temos que ter mais iniciativa, em que temos que usar uma mentalidade de maior dominio,
nesta situção, por exemplo se for na Liga dos Campeões, existe uma menor preocupação em
exercer esse mesmo dominio pelo potencial do adversário do que nas competições internas. Isto
não significa que não trabalhemos da mesma maneira com as nuances que eu falei
anteriormente, até porque o adversário também obriga a jogar de outra forma, e consegue-o
através do seu potencial, não conseguindo exercer o mesmo domínio, a mesma iniciativa que
constumamos ter nas competições a nível interno.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos VI
Nuno de Almeida – Como definiria o Modelo de Jogo com o qual se identifica?
Quais as principais preocupações na respectiva construção e aplicação?
Paulo Bento: O modelo de jogo, neste caso concreto o do Sporting, está identificado. E
reportando-nos à primeira questão, não o meu modelo de jogo mas sim o modelo que nós temos
agora, ou seja, o modelo de jogo que o Sporting tem neste momento e neste caso, que nós
aplicamos enquanto Equipa Técnica. Por isso, definir o seu modelo de jogo não o meu mas sim
aquele que tenho agora, o que eu tenho neste momento. Como disse, mais iniciativa, mais
dominio, tendo a preparação visando esses dois factores. Depois a construção e aplicação dele
tem haver com aquilo que transmitimos aos jogadores, ou seja, o conhecimento que lhes damos
daquilo que queremos. Depois, utilizando a aplicação, levá-los com exercícios a que aquilo que
lhes dissemos do ponto de vista teórico, eles vejam equivalência daquilo que vamos fazer na
prática. Quando lhes apresentamos aquilo que em cada momento do jogo, é o nosso objectivo
para o nosso modelo de jogo, levamo-lo depois para o campo, para que os jogadores pratiquem
aquilo que nós também teorizamos com eles. Isto é, fazer os exercícios na zona onde queremos
que eles ocorram, fazê-lo da maneira que queremos que em termos mentais ocorram no jogo.
Por isso, no fundo é passar da informação que lhes damos em relação aquilo que queremos em
cada momento (do jogo), passá-lo para a prática. Isto é, para o nível do treino que é o mais
importante porque só chegamos bem ao jogo, praticando durante muito tempo no treino. No
fundo, essas são as principais preocupações na construção e na aplicação. Construir, primeiro,
sobre o ponto de vista teórico e numa fase inicial da temporada, sendo aí o momento em que se
constrói a maior informação e depois, estamos sempre em actividade permanente. Em segundo,
com aplicação, uma vez que essa é sempre permanente. Acima de tudo, que a sua construção e
a sua aplicação tenham sempre uma relação muito grande entre aquilo que se transmite e aquilo
que se faz porque se transmitirmos uma coisa e formos fazer outra, o jogador aí não tem
capacidade nem vê credibilidade naquilo que se faz. Ou seja, dizer para fazer uma coisa e
depois, quando formos executá-la, não fazermos aquilo que dissemos, não faz sentido, ou seja,
o jogador deixa de acreditar naquilo que está a fazer.
Nuno de Almeida – E, ao longo destes quatro anos, quais foram as nuances dentro
do seu modelo inicial e do que agora se encontra, quais delas foram sendo “limadas”
tendo em vista o potenciar, o melhoramento do modelo de jogo, reportando-se ao antes e
ao agora?
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos VII
Paulo Bento: As nuances foram mais em termos de sistema, dentro do modelo de jogo,
do que propriamente em termos de modelo de jogo. Em primeiro lugar, eu quando cheguei aqui,
aquilo que fiz foi adaptar-me aquilo que havia, aos jogadores que tinha naquele momento, daí
não passarmos logo de uma fase imediata a jogarmos de forma como estamos a jogar, mais até
em termos de sistema de jogo. Depois, dentro daquilo que eu pretendia, passados aqueles
primeiros oito meses, procurar jogadores que se adaptassem aos que já cá estavam e aquilo que
era a nossa ideia, para depois potenciar. E aquilo que temos tentado fazer, mesmo com algumas
alterações em termos de sistema e mais o segundo sistema do que propriamente o primeiro,
uma vez que o mesmo se tem mantido inalterável, praticamente desde Dezembro de 2005-
Janeiro de 2006. Depois aquilo que alteramos um pouco, foi o nosso segundo sistema. Neste
momento, temos mais um 1-4-4-2 clássico... Em 2006-2007, chegamos a jogar num sistema de
1-3-5-2... Mas, em relação ao modelo de jogo, não existem alterações na nossa forma de jogar.
Aquilo que tentamos é potenciar esse modelo de jogo no treino. Novos exercícios para os
mesmos objectivos mas não mais do que isso, pelo facto de achar que a única maneira que há
para melhorar um modelo de jogo é treinando mais, evoluindo ao nível do treino para que o
modelo ao nível do jogo possa evoluir também. Isso passa, acima de tudo por tentar de alguma
forma, criar novos desafios aos jogadores em termos de exercícios para que eles possam ir
descobrindo coisas diferentes. Tudo isto sempre com um mesmo objectivo. Ao longo dos três
anos, aquilo que houve, mesmo tendo um modelo de jogo completamente definido em cada ano,
sem grandes alterações em termos de modelo, evidenciando mais em termos de sistema, aquilo
que pode ser ou pelos que tenho a ideia que em função das características dos jogadores e das
vicissitudes que existem ao longo de uma temporada, o Sporting jogou de maneira diferente
naquele trajecto 2005-2006. Em 2006-2007, também jogava diferente da época anterior. E em
2008-2009, jogava diferente de 2007-2008, tendo tudo haver com as características dos
jogadores. O modelo de jogo é o mesmo mas algumas questões de interpretação do modelo de
jogo são diferentes porque os jogadores também são diferentes. E mesmo trabalhando da
mesma forma, em termos de treino, com a evolução natural das situações, nem sempre
consegues jogar da mesma maneira, tendo num fundo a mesma ideia de jogo. Isso tem mais
haver com as características dos jogadores e também, com os momentos da época.
Nuno de Almeida – Com os jogadores que se mantêm dentro do seu modelo e que
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos VIII
tem seguido um trajecto consigo dentro do Clube, qual é o trabalho que faz com eles para
que haja uma nova identificação ou reidentificação com o modelo? E relativamente aos
jogadores novos, que tipo de trabalho faz para que eles reconheçam aquilo que se
pretende?
Paulo Bento: Em primeiro lugar, com informação teórica. No fundo como se começa
qualquer ciclo, ou seja, qualquer início de trabalho. Os que já cá estavam, em função daquilo que
vamos fazer, já não necessitam de ouvir essa mesma informação teórica porque não há
alterações, pelo menos numa fase inicial, sendo que os jogadores em termos teóricos não
precisam disso. O que fazemos é apresentar essa mesma informação teórica aos jogadores que
chegam, aos que se vão integrar no grupo. Depois quando tem haver com a introdução de um
novo sistema de jogo, dentro do nosso modelo, ou o sistema alternativo para o nosso modelo de
jogo, fazê-lo como fazemos no início da temporada, ou seja, com todos e sob o ponto de vista
teórico também. Passando depois à aplicação, quer de um quer de outro, dando mais ênfase
aquele que é mais usado numa fase inicial, sendo aquele que vai ser mais usado e usando o
outro, menos tempo, pelo facto de estarmos a perspectivar numa fase inicial, usá-lo menos
vezes. Aquilo que é possível fazer e que nós fizemos no início deste ano, em função de alguma
maturidade, de um conhecimento dos jogadores já muito elevado, não só da forma de jogar do
nosso modelo de jogo mas também, do sistema. Através da maturidade dos jogadores, numa
fase inicial da temporada, fazer algumas situações nas unidades de treino, no treino, de trabalhar
os dois sistemas da mesmas maneira, em algumas situações até em confronto. Isto no início da
temporada, sendo que os jogadores deste modo, conseguem não só trabalhar aquelas que são
as nossas ideias para cada sistema, os princípios para cada sistema e ao mesmo tempo,
estarem em confronto. Ou seja, dentro dos nossos dois sistemas estarem em confronto porque
até pode acontecer na situação de jogo (competição), nós jogarmos em 1-4-4-2 losângulo e a
equipa adversária em 1-4-4-2 clássico ou nós jogarmos em clássico e a equipa contrária em
losângulo. Isso acabou por fazer com que no início da temporada, não só se adquirisse as ideias
em termos daquilo que nós queríamos para nós e, ao mesmo tempo, um confronto desses dois
sistemas.
Nuno de Almeida – Por favor, pode resumir quais são as principais regras de
acção/princípios tácticos a que dá primazia dentro dos quatro momentos do jogo:
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos IX
Organização Ofensiva, Transição Ataque-Defesa, Organização Defensiva e Transição
Defesa-Ataque?
Paulo Bento: Na Organização Ofensiva, e se quissermos também, na Transição
Defesa-Ataque, em primeiro lugar, Profundidade. Sempre que se possa jogar para a frente, não
tem de jogar para o lado. Depois quando não se puder jogar para a frente, primeiro para o lado
do que para trás. Segurança, ou seja, em termos de Organização Ofensiva e Transição Defesa-
Ataque mesmo tendo como primeiro princípio Profundidade, Segurança, isto é, dentro da
Organização Ofensiva, primeira fase e segunda fase, zero por cento de risco, criação e
finalização, cem por cento de risco. Depois há princípios para essa primeira e segunda fase, que
tem já tem haver com o modelo de jogo, isto é, o menos toques possíveis especialmente pela
linha defensiva, que a bola não circule pelos quatro defesas mais do que uma vez, que a bola
não passe de lateral a lateral e volte, outra vez, de lateral a lateral. Não jogar com os dois
laterais à mesma altura quando estamos a iniciar a nossa fase de construção e depois, tem
haver com o nosso sistema de jogo, ou seja, dar largura, normalmente, com os nossos médios
interiores, termos os pontas-de-lança como suporte para a nossa profundidade, seja no espaço
interior, seja quando temos de sair pelos corredores. Na Transição Defesa-Ataque, um pouco a
questão da Profundidade de duas formas: saindo logo pelo corredor onde recuperamos a bola,
ou seja, suportando-nos aí com os jogadores da frente ou com um suporte à retaguarda,
preferindo que seja mais com o médio defensivo do que com os centrais, para podermos variar o
centro do jogo e sairmos pelo corredor contrário, isto é, tirar a bola da zona de pressão o mais
rápido possível, seja em Profundidade, seja de forma mais lateralizada, possibilitando-nos a
saída pelo corredor contrário. Em termos de Organização Defensiva, aquilo que privilegiamos é
tentar pressionar o mais alto possível, com princípios que normalmente utilizamos, por exemplo,
com os nossos pontas-de-lança a sairem nos laterais contrários quando o adversário joga com
um linha de quatro, que é o que se usa mais em Portugal. Mas normalmente, é o ponta-de-lança
que sai no lateral contrário, concentrando a equipa normalmente em dois corredores, ignorando
o corredor contrário onde está a bola e depois, por questões estratégias, podemos obrigar o
adversário a jogar mais por dentro ou por fora. Na Organização Defensiva ter sempre um
controlo da Profundidade, ou seja, que a linha de quatro tenha sempre um bom controlo da
Profundidade. Isto é, que saiba quando é que tem de encurtar o espaço em função da pressão
que há na frente ou tirar espaço ao adversário porque não fazemos fora-de-jogo, a ideia de
colocar os adversários em situação de fora de jogo. Depois, na nossa Transição Ataque-Defesa,
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos X
aquilo que pretendemos é sermos muito agressivos, no primeiro momento de transição, tendo o
objectivo de roubar e só, como segunda prioridade, com o objectivo de temporizar a saída do
adversário para o ataque. Como segundo momento, ou seja, como fazem maior parte das
equipas, reagrupar com o maior número de jogadores possíveis, juntando aí a questão da
profundidade da linha de quatro, ou seja, retirar logo espaço ao adversário para dar tempo a que
se regrupe com o maior número de jogadores possível, e dentro do nosso sistema também, que
esse maior número de jogadores possível sejam oito jogadores, isto é, se tivermos de partir a
equipa, partimos com quatro defesas, quatro médios, e os dois jogadores da frente. Assim
sendo, a nossa figura em termos de losângulo ou com duas linhas de quatro se for o outro
sistema, e jogar com os dois homens na frente para depois podermos sair com eles para o
ataque.
Nuno de Almeida – Se o Paulo conseguisse resumir os princípios dos quatro
momentos de jogo num grande princípio que norteasse todos os outros, na sua opinião,
como é que o definiria? Ou seja, a minha equipa é...
Paulo Bento – Só numa palavra não é fácil...
Nuno de Almeida – Numa ou duas frases!
Paulo Bento – Que seja uma equipa em termos ofensivos queira ser criativa, sendo
segura e não perdendo o equilíbrio, ou seja, sendo sempre equilibrada. Uma equipa
defensivamente que tenha uma boa concentração defensiva, que seja uma equipa que saiba
onde quer pressionar, quando quer pressionar e como quer pressionar. E, seja uma equipa
extremamente agressiva no momento da perda da bola, para fazer face aquilo que nós achamos
que para uma equipa como a nossa é o mais importante, o primeiro momento de transição para
que continuemos a ter iniciativa. Logo, termos o primeiro momento de transição o mais forte
possível para recuperar a bola. Ou seja, no fundo uma equipa criativa, segura e equilibrada sob
o ponto de vista ofensivo, que nunca perca o equilíbrio quando tem a bola no seu momento
ofensivo e sob o ponto de vista defensivo, com uma boa concentração defensiva e agressiva.
Isso é no fundo aquilo que em termos defensivos que se possa dizer, uma vez que poderia dizer
mais coisas mas para resumir, que saiba defender em dois corredores, daí a concentração
defensiva, e agressiva, ou seja, quando tem de recuperar a bola que seja uma equipa solidária.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos XI
Nuno de Almeida – Que estratégias utiliza para que os atletas se identifiquem o
melhor possível com o seu modelo de jogo?
Paulo Bento: Aquelas que no fundo já falamos sobre elas. A comunicação e a prática...
no fundo são as duas que se devem aplicar e temos obrigatoriamente de fazer com que as duas
possam convergir, ou seja, elas tem de convergir relativamente aquilo que se diz e aquilo que se
faz. As estratégias que se podem utilizar são colectivas ou individuais, isto é, colectivas mais até
na questão da informação e mesmo em casos pontuais, podem ser realizadas individualmente e
depois, normalmente na aplicação, mais colectivas, mais relacionadas com o exercício. É mais
difícil usar estratégias individuais para a aplicação, tendo mais haver com aspectos técnicos e
também, tendo haver com aspectos tácticos mas para se executar, para se aplicar, são
normalmente e do meu ponto de vista, mais colectivas. Para informar, pode ser a junção das
duas, isto é, a parte individual para o jogador poder entender certas e determinadas coisas e
colectivamente, para se falar sobre a forma de jogar da equipa e aquilo que pretendemos.
Individualmente está mais relacionado com aquilo que o jogador está a fazer em termos de treino
como também, em termos de jogo. Ou seja, dentro daquilo que nós pretendemos, fazê-lo
individualmente na aplicação em termos tácticos, o que não é fácil! Só o será se dentro do
colectivo formos corrigindo o jogador em questão individualmente, individualmente na
verdadeira acepção da palavra, isto é, ir à procura de aplicar alguma coisa individualmente em
termos tácticos, tem de ser um trabalho individualizado, deixando de ser um trabalho dentro da
organização da equipa.
Nuno de Almeida – Pode sintetizar algumas características que reconheça como
importantes nos jogadores, para que reúnam condições para lidar eficazmente com as
exigências do(s) sistema(s) de jogo preconizado(s)?
Paulo Bento: Para quem quer ter um modelo de jogo como nós temos, há uma coisa
que tem de estar o mais possível em todos os jogadores, a técnica. Se queremos ter uma equipa
com iniciativa, uma equipa que domine, tem de ter boa relação com a bola, tem de saber ter a
bola, tem de querer ter a bola, logo personalidade. Técnica para saber o que faz e personalidade
para a ter, para a querer ter. Isto em termos ofensivos se o quisermos assim.... Técnica e a
personalidade! Aqui está um pouco aquilo que é a qualidade técnica e a parte mental... Depois,
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos XII
as questões físicas, mais numas posições do que noutras, damos preferência há velocidade.
Hoje em dia, fundamental... Mas agora aqui, não só a velocidade no deslocamento mas
velocidade na execução e, para isso, é preciso ter técnica. Depois, inteligência em termos
ofensivos, jogadores inteligentes, que pensem o jogo, que saibam o que tem para fazer a cada
momento... Se vou fazer acções individuais, se vou fazer acções colectivas, se vou sair para o
ataque, se vou temporizar o ataque, ou seja, jogadores que em determinadas posições, esta
questão da temporização é mais marcante porque há posições que são mais marcantes do que
outras. Sob o ponto de vista defensivo, inteligência, ou seja, que todos os jogadores saibam o
que tem de fazer quando não tem a bola, quando é que há-de pressionar, como é que há-de
pressionar e onde é que há-de pressionar,... Agressividade! Se o anterior tinha haver com a
parte táctica, este aqui já tem um pouco haver com a parte mental, com a agressividade, com a
disponibilidade para ir à procura da bola e, depois também em função das posições em que
jogam, possuem requisitos que são importantes...
Nuno de Almeida – E se nós enveredarmos por aí, por sectores, por posições...
Paulo Bento – Por sectores e a parte ofensiva, eu acho que é mais fácil... A técnica em
todas as posições, independentemente do sistema parece-me importante, especialmente para
quem quer ter iniciativa, ou seja, qualidade técnica. Depois, a questão dos laterais em termos
ofensivos que sejam rápidos, que sejam ao mesmo tempo resistentes, que tenham capacidade
de ir e vir... Na questão dos centrais, no meu ponto de vista ofensivo, a questão técnica por
causa da construção. Hoje em dia, na minha opinião, quanto melhor forem os centrais de uma
equipa, mais facilidade tem a construção do jogo dessa equipa e, ao mesmo tempo, do ponto de
vista defensivo, que sejam rápidos, especialmente numa equipa que tenha de jogar com 30 a 40
metros nas costas, jogadores que sejam rápidos e definitivamente, que sejam jogadores fortes
no jogo áereo. Médio Defensivo, rápido a executar mais do que no deslocamento, que tenha
velocidade a executar. Se jogar com os dois pés, tanto melhor, sendo um jogador com boa
capacidade para virar o centro do jogo, mais fácil se torna se for um jogador eficaz a jogar com
os dois pés. Defensivamente, que seja forte no jogo áereo mas não digo que seja uma condição
imprescindível, parecendo-me que é uma boa condição para poder jogar como médio defensivo,
sendo também agressivo. Depois dois médios interiores, que tendo a palavra e no nosso sistema
um pouco, médio interiores, que tenham capacidade para dar largura no jogo, sob o ponto de
vista táctico que tenham capacidade para dar largura no jogo, que sejam jogadores que tenham
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8.Anexos XIII
capacidade de desequilibrar em situações de um contra um, que tenham velocidade. Quando
digo velocidade, não falo da velocidade de um extremo mas que sejam jogadores velozes e
resistentes, tendo ao mesmo tempo, do ponto de vista táctico, capacidade para chegar a zonas
de finalização. Sob o ponto de vista defensivo, uma boa relação com os dois jogadores da frente,
ou seja, os médios interiores tenham uma boa relação com os pontas-de-lança para saberem
quando é que tem de fazer coberturas ao ponta-de-lança, quando tem de ser um deles o
primeiro a pressionar e, que sejam jogadores que joguem bem no espaço interior, ou seja, que
sejam jogadores que ao contrário do processo ofensivo, em que partem de dentro para fora, no
processo defensivo sejam precisamente o contrário, que tenham capacidade para jogar no
espaço interior e para isso, é preciso que sejam jogadores mentalmente fortes, para estarem nas
duas funções. Um número dez bom tecnicamente, ou seja, um jogador bom no último passe, que
sejam um jogador capaz de descobrir espaços, mesmo estando uma maior densidade na sua
zona de acção. Mobilidade... que seja um jogador com capacidade de ir para os espaços e
apesar de nós termos jogadores na posição 10 com características diferentes, o caso do
Moutinho e do Romagnoli, que sejam jogadores sob o ponto de vista defensivo, tenham uma boa
capacidade para o primeiro momento de transição e, ao mesmo tempo, que sejam jogadores
com uma boa capacidade de recuperação defensiva, isto é, jogadores fisicamente bem dotados
em termos de resistência. Temos uma diferença como é óbvio, basta ver um jogo do Sporting
quando joga o Moutinho ou o Romagnoli, não só nos mecanismos ofensivos mas aí menos
diferença porque cada um faz as coisas em função das suas características mas, em termos
defensivos, há naturalmente maiores diferenças até pela capacidade física. Depois, os pontas-
de-lança que saibam segurar bem a bola, que saibam procurar bem o espaço, que saibam jogar
em função um do outro, que sejam... não me parecendo essencial porque isso depende muito do
modelo de jogo da equipa mas se forem fortes no jogo áereo, tanto melhor. Muitas vezes não se
é um jogador forte no jogo áereo mas é-se um jogador forte nas zonas de finalização. Dentro do
plantel, há alguns jogadores no sector ofensivo que devem ter como característica principal a
velocidade, ou seja, para se poder jogar de maneira diferente. No fundo, aqui está um pouco de
tudo, a técnica, a táctica e a velocidade... depois, defensivamente que sejam inteligentes porque
são normalmente os jogadores com capacidade para orientar o jogo do adversário, a pressão
sobre uma equipa, que sejam jogadores que saibam jogar em termos defensivos, um em função
do outro, jogadores agressivos e reactivos após a perda da bola e, no fundo, jogadores que se
saibam posicionar e ver como a equipa se está a organizar defensivamente, para estarem
disponíveis para depois podermos fazer a transição para o ataque.
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8.Anexos XIV
Nuno de Almeida – Considerando a especificidade da posição/função para cada
jogador no âmbito do seu Sistema de Jogo, dá primazia à criatividade e à
imprevisibilidade que cada jogador pode exprimir?
Paulo Bento: Não dou primazia à criatividade e à imprevisibilidade, deixo o jogador ser
criativo e imprevisível para o adversário, para os companheiros não! Ou seja, o que para mim é
fundamental é que o jogador... até porque se queremos e dentro daquilo que estamos a falar, se
queremos uma equipa que assuma a iniciativa, se queremos uma equipa que queira dominar,
sabemos que em algum momento do jogo ou em vários momentos do jogo, em várias zonas do
campo ou nalgumas zonas do campo, ele vai ter de ser criativo, ele vai ter de improvisar alguma
situação, ele vai ter de ser corajoso, sendo também outra das coisas que acho que um jogador
que esteja numa equipa grande deva ter. Coragem para encara os adversários, para fazer
situações de um contra um... Agora, eu não lhe dou primazia! Eu dou primazia aquilo que falei
anteriormente na organização da equipa, ou seja, como é que quero uma equipa em termos
ofensivos e em termos defensivos. Dentro desse modelo de jogo, dentro dessa forma de jogar da
equipa, entra a criatividade e a imprevisibilidade, não entra antes. Não quero que um jogador
seja criativo na primeira fase de construção, eu quero que um jogador seja seguro, simples e
eficaz mas que tenha boa técnica, ou seja, deslocando a bola a 30 e a 40 metros e que a
coloque nas zonas em que nós queremos sair a jogar. Por exemplo, que saiba conduzir a bola à
procura de libertar espaços em zonas mais adiantadas para ligarmos o nosso jogo. Agora, o que
quero é que o jogador tenha essa criatividade e imprevisibilidade nas zonas onde a deve ter. Se
um jogador, por exemplo, numa zona tem possibilidade de fazer dois contra um e quiser fazer
um contra um, isso para mim não é ser criativo, isso para mim é complicar, é ser complicativo.
Ou seja, se eu tenho uma situação onde posso fazer dois contra um com sucesso, não devo ir
para uma situação onde vou fazer um contra um e tenho 50% de sucesso. Eu devo fazer um
contra um, nas zonas pré-definidas para o fazer e nas condições em que tenho mesmo de o
fazer! Nalgumas situações se não tenho outra oportunidade senão fazer um contra dois, então
vou tentar fazer um contra dois, senão tenho outra possibilidade, o.k., posso tentar fazê-lo, uma
vez! Quando tenho a possibilidade de o fazer e na qual sou menos criativo, mas sou mais prático
e mais eficaz. Como? Tendo a possibilidade de o fazer em dois contra um em vez de fazer, um
contra um. Por isso é que eu lhe digo que não lhe dou primazia porque primazia dou ao resto, à
formal global de jogar da equipa. Dou-lhe (à criatividade) é espaço para que o jogador se torne
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8.Anexos XV
criativo, e se um jogador é criativo que o demonstre quando tem de o fazer, nas zonas onde tem
de o fazer e quando tem de o fazer.
Nuno de Almeida – Como procura conciliar criatividade individual e organização
colectiva, tendo em conta o Modelo de Jogo desejado para a equipa?
Paulo Bento: Zonas! Zonas onde eles podem e devem fazer. E depois há que ler as
situações para se saber onde é que posso e onde é que devo fazer porque não é proibido um
central fintar, não é proibido um lateral fintar, é um risco um central fintar. Normalmente pelas
zonas do campo onde joga, pelas zonas onde está inserido, por aquilo que não tem atrás dele, é
complicado um central fintar. Não está impedido de o fazer mas deve saber quando é que o deve
fazer, pode ocorrer uma situação em que vá a uma bola parada, ou a uma segunda bola e
depois, pode fintar. Agora, quando está na organização de jogo da equipa, um central deve
conduzir e passar mais do que practicamente fintar, ou seja, não tem que o fazer! Não significa
que após um desarme, não possa fazer um drible mas tem de saber onde é que o deve fazer.
Normalmente, dentro do nosso sistema de jogo, os jogadores que normalmente vão driblar mais,
que normalmente vão estar em zonas onde podem driblar mais, onde se podem tornar mais
criativos são os pontas-de-lança, o jogador da posição 10 e os médios interiores e os laterais
pontualmente, ou seja, quando aparecem porque também, não devem estar, devem aparecer!
Caso vão 50 vezes não vão surpreender ninguém. Se forem 5 vezes, vão surpreender o
adversário. Aí também o pode fazer o central, o lateral um pouco como o central, em
determinadas zonas onde ele está muito tempo, não deve correr riscos, mesmo estando numa
posição que pode estar mais resguardado, mais protegido porque está num corredor e se a
equipa for bem organizada, pode colmatar melhor uma situação de risco, do que no corredor
central com um central ou mesmo às vezes com um médio defensivo, mas também, nessas
zonas não o deve fazer. Quando está em zonas mais adiantadas, quando já está practicamente
na terceira fase ou na finalização, aí também tem o seu à-vontade para o poder fazer e tem, não
autorização, mas está na zona onde o pode fazer, onde tem de decidir se vai cruzar, se vai
passar, se vai fazer uma combinação directa mas já está numa zona onde pode ser ele a ter
mais uma decisão. Há zonas em que só tem de ter uma decisão, é a decisão que faz parte de
um modelo de jogo, da nossa forma de jogar. Noutras zonas, há mais decisões para o nosso
modelo de jogo e então aí, é a escolha. Nós podemos dizer o caminho mas depois lá, é que o
jogador tem de o escolher.
Em busca da conformidade entre o Modelo de jogo do treinador e a performance da equipa em Futebol. Estudo de caso do Sporting Clube de Portugal
8.Anexos XVI
Nuno de Almeida – Então o que o Paulo pretende dentro do seu modelo de jogo
relativamente à criatividade, é que os seus jogadores saibam utilizar as zonas para
potenciar a criatividade de cada um.
Paulo Bento – Claro! Claro! Não só a criatividade... O que é importante é o que é que se
tem de fazer em cada zona! Daí, em termos ofensivos, tenho zero por cento de risco até ao
meio-campo... depende da zona que queiramos definir... por exemplo, pode ser 10 metros ou 15
metros mais à frente. Tenho cem por cento de risco ao pé da área do adversário. Aí posso ter
cem por cento de risco porque teoricamente, se lá chego com capacidade para ter risco é porque
chego normalmente bem. Então aí, devo ter. Ofensivamente e defensivamente a mesma coisa.
Eu defensivamente também tenho de saber o que faço em cada zona, ou seja, como é que
pressiono quando estou ao pé da área do adversário, como é que pressiono quando estou no
meio-campo e como é que pressiono quando estou perto da minha área. Os meus princípios
podem ser os mesmos mas a forma de os executar pode não ser a mesma, ou seja, eu posso
fazer contenção e cobertura ao pé da área do adversário ou contenção e cobertura ao pé da
minha área e não o faço da mesma forma. Devo manter-me agressivo nas duas zonas mas a
capacidade que eu tenho de ter para roubar a bola perto da área do adversário e o risco que eu
posso correr para roubar a bola ao pé da área do adversário, tem de ser maior do que aquele
que eu faço ao pé da minha área. Aí, aquilo que me interessa é defender a baliza, ou seja,
defender mesmo a baliza, enquanto do outro lado, eu posso querer e devo querer roubar a bola,
na nossa forma de jogar devemos querer roubar a bola. Ao pé da minha baliza, tenho de ter mais
cuidado por questões de bola parada, por várias situações. Quer ofensivamente, quer
defensivamente, eu tenho de saber sempre o que é que devo fazer em cada zona porque... às
vezes, na minha perspectiva é um erro, a questão da criatividade e da imprevisibilidade! Nós
dizemos sempre o que é que eu devo fazer com bola em cada zona, e sem bola tem porque nós
não jogamos só com bola, também jogamos sem ela...
Nuno de Almeida – Através de uma frase do Cruyff quando ele era treinador do
Ajax, afirmava que "Não é importante a equipa que ganha, mas sim ter um sistema que
ganhe!"... Qual é a sua opinião? Essa forma de pensar, a visão/filosofia, os princípios de
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8.Anexos XVII
jogo, são eles que ganham e não são os jogadores que ganham?!
Paulo Bento – São os jogadores porque interpretam o que se treina. O que eu digo é os
jogadores podem mudar, a equipa pode ficar... Quando compões um plantel, compões para jogar
de uma determinada forma e segundo as tuas ideias, segundo a cultura de um clube. Então,
aquilo que tu vais treinar é uma forma de jogar para ganhar e depois, tu ganhas com a forma de
jogar mas com os jogadores que interpretam a tua forma de jogar. Depois, se é com o A, B, C ou
D e no outro jogo, o A já não joga mas joga o Y, então... o teu objectivo é o mesmo, ganhar!
Ganhar com os outros jogadores mas com jogadores que são teus, com os jogadores do plantel,
jogadores que tu treinas todos para uma forma de jogar. Por isso, tu ganhas ou tentas ganhar
com os teus jogadores e a forma como tu os preparas no teu modelo de jogo, na tua forma de
jogar. Como tal, o que ganha é o todo. Ganha o teu treino, o teu jogo, os teus jogadores e a tua
ideia. Agora, eles ganham porque fazem passar a tua ideia ou tu ganhas porque eles
conseguiram fazer passar a tua ideia, ou seja, a tua forma de jogar! Aquilo que eles interpretam!
Eu acho que ele diz isso nesse sentido, se mudarmos a equipa mas jogarmos da mesma forma,
estamos mais perto de ganhar, ou seja, dentro do mesmo sistema de jogo porque os jogadores
estão preparados para isso e mesmo dentro do mesmo modelo de jogo porque os jogadores
também tão preparados para isso. Todos se prepararam para isso! Porque senão, cada vez que
houvesse uma alteração de jogadores, tivessemos de mudar o sistema de jogo era
extremamente complicado, aliás, eu diria praticamente impossível porque não há tempo para
trabalhar. Eu não partilho da opinião de que durante uma época, especialmente no caso do qual
estamos a falar, ou seja, de um Clube Grande, que há muito tempo para trabalhar vários
sistemas. Não partilho dessa opinião!
Nuno de Almeida – Para conjugar com a frase referida na pergunta anterior, que o
próprio Frank Rijkaard que era jogador do Cruyff dizia que: "Quando não ganhamos, o
Cruyff não abdica da sua visão, não abdica das suas ideias, não abdica de nada do que
nos mostrou, desde o início do processo", o que me faz pensar que é uma das
características fundamentais para quem treina, não abdicar da sua visão
independentemente dos resultados!
Paulo Bento – Se tens uma ideia, constróis uma ideia de jogo, levas os teus atleas a
defenir essa ideia de jogo e correndo um jogo, dois mal, tu vais dizer aos teus atletas que afinal
isto está tudo mal, vamos partir para outra! Depois perdes mais dois jogos e vamos voltar à
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8.Anexos XVIII
mesma... Não existe! Ou vamos ter mais uma terceira... Não existe! Isso não existe porque
senão, não conseguimos trabalhar... Se nós dizemos todos, Académicos ou os que não foram
Académicos, dizemos todos, isto vive de rotinas. Se vive de rotinas, se nós as mudarmos ao fim
de algum tempo, não as temos. Vamos ter de arranjar outras, e para arranjar outras demora
tempo. Por isso, não faz sentido nenhum mudar uma situação porque acontece um ou outro
percalço pelo caminho. Ou tu acreditas naquilo que constróís desde o início ou então, se
andarmos sempre a mudar, podemos ter nuances, podemos mudar jogadores, como temos dois
sistemas, podemos passar a jogar mais num do que noutro… Agora tudo isto dentro do modelo
de jogo! Pode até mudar o sistema de jogo mas não podes mudar o modelo porque não o
consegues fazer, os jogadores não vão conseguir interpretar num semana ou em duas semanas,
algo que trabalharam dois meses antes... Mas como nesses dois mês aconteceu um percalço ou
outro, eu em 15 dias vou querer mudar e vou querer que eles interpretem... É impossível! Pode
sair num jogo mas com continuidade, não sai.
Nuno de Almeida – Na sua opinião, o que é que pensa que é um equipa inteligente
e o que é que é a inteligência de um jogador dentro dessa equipa?
Paulo Bento – Uma equipa inteligente é uma equipa que sabe a todo o momento aquilo
que deve fazer, ou seja, que consegue controlar todos os momentos do jogo,... atenção que
pode ser uma equipa inteligente e que em determinados jogos, não o consiga fazer! Não há
nenhuma que o consiga fazer em todos os jogos da temporada... Uma equipa que seja
inteligente ou que seja uma boa equipa, é aquela que consegue controlar todos os momentos do
jogo ou dominar todos os momentos do jogo, e saber entender aquilo que o jogo está a pedir (As
perguntas que o jogo lhe faz!). Ou seja, se o jogo me está a pedir mais disto, eu tenho de ter a
capacidade para dar essa resposta e a equipa ao mesmo tempo, em função daquilo que o jogo
está a dar, saber inverter o rumo dos acontecimentos. Falavámos na Terça-Feira... Eu estou
cinco, seis minutos e a bola não consegue passar do meio-campo e a minha equipa, dentro da
minha forma de jogar, com a minha linha de quatro (defesas) está mais alta, não consegue
jogar... Mas estou ali cinco, seis minutos que só sai a bola e as vezes nem a bola sai... e a minha
equipa não consegue jogar sequer jogar 15, nem 20 metros. Então, tem que haver nesse
momento em que o jogo está a pedir outra coisa, que queiramos sair a jogar, por exemplo.
Temos de tomar outra acção, outra atitude no jogo para nos podermos colocar noutra zona onde
gostamos de estar mais, onde nos sentimos mais cómodos. Mas isso é entender o jogo, ou seja,
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8.Anexos XIX
é estar numa situação de Organização Defensiva durante muito tempo e sem sair em Transição
Ofensiva, e com um simples meter a bola fora e ganhar terreno, posso passar outra vez a jogar
em Organização Ofensiva e Transição Defensiva, que é aquilo que mais estou habituado e que
os jogadores mais estão habituados. Por isso, é saber controlar os quatro momentos do jogo. No
fundo é isto... E saber conviver com cada um deles, ser forte em cada um deles, ou seja, é ser-
se uma equipa inteligente, uma equipa boa, acima de tudo, uma equipa com capacidade mais do
que inteligente, é uma equipa com capacidade! Um jogador inteligente, é um jogador que define
melhor os quatro momentos do jogo. Quanto mais jogadores inteligentes houver nos quatro
momentos do jogo, mais forte é a equipa porque todos vão fazer as coisas com uma maior
capacidade e uma maior qualidade. O jogador que saiba, em determinado momento, fazer acção
que referi anteriormente, ou seja, estar a ver como é que o jogo está a decorrer e ser ele a
mandar nessa acção, ser um jogador que decida bem em determinados momentos. Por
exemplo, se estamos a perder muito a bola na Transição Ofensiva, guardá-la um bocadinho,
saber temporizar o jogo, saber em algum momento ganhar uma bola parada para que se possa
respirar... No fundo é, também, como a equipa tem de saber controlar e dominar os quatro
momentos do jogo, os jogadores também tem de o saber fazer. Quanto mais jogadores houver a
controlar e a dominar os quatro momentos do jogo, melhor a equipa o faz. Depois, o problema
disso muitas vezes tem haver com as características dos jogadores. Há jogadores que muitas
vezes a sua principal característica é de decisão, não é de temporização... Logo, no momento
em que a equipa não precisa de decidir mas precisar de temporizar, ou seja, o jogador acaba por
naquele momento não estar a ler bem o jogo para aquilo que a equipa precisa. A equipa precisa
de temporizar uma acção e aquilo que faz é acelerar essa acção, ou seja, eu estou a decidir
mais do que a temporizar, estou a ir sempre para a frente, estou a procurar sempre uma situação
de risco...
Nuno de Almeida – E aí, como é que o treinador intervém?
Paulo Bento – Não é fácil intervir! O treinador na minha opinião, tem muito tempo onde
pode intervir, que é durante a semana, no treino. Depois tem muito pouco tempo onde pode
intervir, que são 10 minutos no intervalo. Aí tem de se tentar gerir muitas das coisas que
acontecem em 90 minutos, tentar gerir o mais importante, aquilo que é mais determinante.
Durante a primeira parte ou a segunda parte, quando essas acções que estavamos a falar
anteriormente ocorrem com maior frequência, a única forma é tentar em alguma pausa, chamar
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8.Anexos XX
alguém ou num momento que haja, tentar enviar um feedback por algum jogador para fazermos
uma situação contrária àquilo que estamos a passar. Mas não é fácil com o jogo a decorrer,
chegar aos jogadores e, acima de tudo, se é uma acção muito colectiva, chegar aos jogadores
todos é impossível. E depois, por uma ideia que é passada a um jogador para passar ao outro,
não chega da mesma maneira e isso, muitas vezes, torna-se mais complicado chegar aos
jogadores durante o mesmo.
Nuno de Almeida – Quando surgem esses momentos que tem necessidade de
intervir, procura chamar alguns que lêem melhor, que interpretem melhor para que
consiga perceber melhor a mensagem?
Paulo Bento – Tentasse chamar um jogador e, acima de tudo, onde possa chegar. Tem
a ver com as características do jogador, não só em termos tácticos mas também, em termos de
personalidade, ou seja, de poder transmitir uma coisa em que os outros o ouçam. Depois, para
quem é a mensagem! Se é uma mensagem mais global ou mais individual. A mensagem
individual é mais fácil de fazer, apesar de poder não chegar da mesma maneira mas o passar
para um elemento, para uma situação ou outra em que o chamar atenção, corrigr ou elogiar o
que seja nesse momento. Depois a acção colectiva, tem haver também com a característica do
jogador, com a personalidade do jogador e com a posição do jogador. Eu passei por essa
experiência enquanto jogador, normalmente vinha por mim essa informação, e isso tem haver,
muitas vezes, com a posição que o jogador ocupa. Pela capacidade que a partir daí tem de dar a
informação mas, ao mesmo tempo, controlá-la.
Nuno de Almeida – Pela maneira como o Paulo fala de inteligência, a sua
inteligência é táctica, advém muito do que é que a equipa pretende para os quatro
momentos do jogo e como cada um interpreta esses quatro momentos, incorporando uma
lógica comum a todos. Quando eu lhe fiz a questão, o Paulo definiu-a como uma
inteligência táctica...
Paulo Bento – Claro! Uma inteligência para o jogo, ou seja, aquilo que o jogador tem de
saber para o jogo. O jogador leva as directrizes no início, daquilo que a gente julga ou pensa que
se vai passar. Então, formulámos uma estratégia que é comunicada e praticada mas... depois, o
jogo pode determinar outras coisas porque o adversário pode apresentar uma estratégia
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8.Anexos XXI
diferente, pode apresentar um sistema diferente porque nós não estamos a conseguir, mesmo
que tudo saia como o previsto, não estamos a conseguir pô-la em prática, por mérito do
adversário ou demérito nosso. E aí, senão estamos a conseguir pô-la em prática, por questões
técnicas, por questões tácticas ou por questões mentais, tem que se tentar que aconteçam
algumas situações em determinados jogadores, para que se possa fazer com que a equipa
consiga colocar em prática aquilo que estava pré-definido ou reajustar-se, em função daquilo que
o adversário nos está a colocar, sem mudar a nossa forma de jogar, sem mudar as nossas
características mas adaptando-nos um bocadinho ou usando outras armas em função daquilo
que o jogo nos está a pedir. Daí a inteligência ser uma inteligência táctica, ou seja, o
entendimento do jogo.
Nuno de Almeida – Específica para a nossa equipa…
Paulo Bento – Específica para a nossa equipa e em função daquilo que o adversário
está a fazer em determinado momento. O exemplo que eu dei há pouco… Se nos estão a
pressionar mais, ou seja, se nos está a tapar mais os corredores laterais, nós temos de sair mais
por dentro. Nós temos de ter uma estratégia em que nós digamos que vamos sair sempre por
fora, ou seja, a nossa 1ª fase de construção vai ser por fora porque entendemos que o
adversário nos vai tapar por dentro. E o adversário chega ao jogo e, nos primeiros 10 minutos,
não conseguimos sair por fora porque o adversário coloca lá dois. Tentar chegar ao jogador se
ele não está a conseguir fazê-lo, tentar chegar para lhe dizer para sair por dentro, para sairmos
de uma forma mais directa quando chegamos ao corredor. Tentar levar o jogador, dentro daquilo
que são os mecanismos do nosso modelo de jogo, tentar combater aquela situação, apelando a
alguns jogadores que comuniquem ou esperando, em alguns casos, como é evidente, que eles
consigam fruto dessa inteligência do jogo, readaptar-se ou adaptar-se aquilo que o jogo está a
dar naquele momento.
Nuno de Almeida – Para si o que é a Táctica? Como é que a define?
Paulo Bento – A táctica é, acima de tudo, o entendimento do jogo dentro dos quatro
momentos do mesmo. Eu saber o que é que faço em cada um. A táctica, mais do que o sistema,
apesar do sistema ser também importante, é a forma como as equipas se organizam, como os
jogadores utilizam os princípios de jogo dentro do modelo de jogo, ou seja, cada um dentro do
nosso sistema de jogo, como é que os jogadores utilizam os princípios de jogo para o modelo de
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8.Anexos XXII
jogo. A táctica, acima de tudo, é o entendimento do jogo. A táctica é como é que cada jogador
participa em cada momento do jogo, para que a equipa compreenda e execute todos os
momentos do jogo da melhor forma. No fundo é entender o jogo! Quem percebe de táctica,
percebe de jogo, entende o jogo! Pois, quando entende o jogo, aplica em função dos seus
princípios e do seu modelo de jogo, que é o que treina. Mas, para se falar de táctica, fala-se de
entendimento do jogo.
Nuno de Almeida – Para si, qual é a diferença entre o sistema funcional e o
sistema dinâmico?
Paulo Bento – Eu não separo a dinâmica e o sistema. Um precisa do outro. Eu para
poder dinamizar um sistema tenho de saber qual é, de onde é que parto. Logo, eu tenho um
sistema para saber quais são os meus movimentos de partida. Depois, onde é que quero chegar,
já vai ser definido por outras coisas. Mas como é que eu parto, eu tenho de saber! De onde é
que parto, quando é que parto e depois, aonde vou chegar, já depende… depende do adversário
também. Mas a dinâmica do sistema é evidente que é importante porque não vamos jogar com
11 jogadores parados. Agora, também é verdade que não se pode dar dinâmica a uma coisa que
não se sabe o que é! Por isso é que eu digo que as duas coisas estão ligadas, ou seja, para mim
é importante o sistema, definir os princípios de jogo desse sistema, o que no fundo já estamos a
definir o modelo de jogo mas depois, a dinâmica é o que se lhe dá. Para mim as duas coisas são
importantes, ou seja, o sistema de jogo e a dinâmica porque ambas estão no modelo de jogo.
Nuno de Almeida – Anteriormente, definiu-me os seus jogadores em termos das
suas qualidades técnicas, tácticas e físicas… Agora, perguntava-lhe qual é o perfil de
jogador que pretende para o seu modelo de jogo em termos psicológicos, tendo em conta
todas as outras?
Paulo Bento – Eu penso que isso para qualquer modelo de jogo, há muitos traços não
de um jogador mas de todos os jogadores e aqui não importa a função. Há características que
são mais importantes para a função, ou seja, para a posição que ele joga, para a função que vai
desempenhar. E aqui só falando da parte mental, hoje em dia, a agressividade, a mentalidade, a
coragem e depois, uma coisa que eu acho que é boa mas que está a haver um pouco menos, a
solidariedade… A questão da solidariedade, não só no aspecto mental, ou seja, no aspecto do
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8.Anexos XXIII
grupo, por exemplo, a coragem também tem a ver com o aspecto mental, têm de existir para
executar algo na tarefa, para executar algo em termos táctico-técnicos. A mentalidade é a
mesma coisa… Eu se for mentalmente forte, vou executar a minha tarefa seguramente melhor.
Eu se for mentalmente forte, consigo suportar certas e determinadas situações que ocorrem ao
longo de uma temporada, como por exemplo, não jogar, perder um jogo ou perder dois jogos
seguidos. E a solidariedade, fundamentalmente entre os jogadores… Essa para mim é que é
fundamental! Ou seja, entre eles, são aqueles que vão executar mais as tarefas, tem que haver
essa solidariedade. Isso para mim é que são os factores mais importantes em termos mentais de
um jogador, ou seja, a agressividade, a mentalidade, a coragem e a solidariedade. Depois
poderão haver outros que também sejam importante, tais como, confiança, personalidade,…
mas aí já estamos a falar mais em termos de qualidade. Normalmente, falamos muito de
confiança, de personalidade falamos muito para um jogador que gosta de ter a bola, que arrisca,
o que nem sempre é só nessas situações. Personalidade vem muito noutras situações
também… Vem muito em situações que não tem a bola, em situações fora do jogo!
Nuno de Almeida – Falamos do modelo, falamos do sistema, falamos a
importância que os jogadores possuem no reconhecimento e na identificação com o
modelo mas esquecemo-nos de falar de um ponto importante, ou seja, como é que o
Paulo se caracteriza como treinador? Tudo isto se deve a alguém como tal, como é que
caracteriza a sua estrutura, a sua equipa de trabalho?
Paulo Bento – Se quiseres ter um traço e aqui falo mais de equipa técnica, da parte do
treino. Depois há uma parte que ajuda nessa organização e que tem mais haver com questões
logisticas. Reportando-me só à questão da equipa técnica, que são aqueles que trabalhamos
todos diariamente porque há treinos a fazer, à situações a fazer todos os dias… Eu, numa
palavra, organizados. Numa palavra, organizados. Se fossemos falar de equipa técnica, mais do
que a questão individual de quais é que são as características do treinador, como equipa,
organizados. Acho que é o primeiro ponto que uma equipa técnica deve ter. Organização para
que cada um saiba o que tem de fazer, o que cada um leva para o treino também e depois, a
dinâmica. A dinâmica da equipa técnica está dentro da organização da equipa técnica, ou seja,
daí dizer o que é que vais fazer para o campo, o que é que vais fazer na primeira fase do treino,
na segunda fase do treino, quem o faz, como é que faz… Mas tem haver com o facto de estares
focado na primeira fase do treino, estar focalizado na sua tarefa. Os outros que não vão fazer,
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8.Anexos XXIV
devem saber o que está a ser feito e devem estar focalizados no que se está a fazer. Quando
passamos para a segunda fase, inverte-se o papel, entra em acção outro colaborador, por
exemplo, mas o que deu a primeira fase também sabe o que é que vai ser feito e se também
tiver de fazer, faz… E depois, na última fase, em que entra, por exemplo, o treinador principal, os
outros sabem o que é que o treinador principal pensa e o que vai fazer. Por isso, eu digo
organizados! A dinâmica de uma equipa técnica está dentro da sua organização também.
Depois, solidários. Solidários e não falo só na questão dos resultados. Falo também na forma
como partilhas as coisas, como fazes as coisas em equipa. Se no campo queres que cada um
saiba o que tem de fazer e se aquele que vai executar uma tarefa, os outros sabem e estão
preparados para o fazer, tens de, em primeiro lugar, na preparação, dar oportunidade que todos
possam contribuir para isso, falar, colocar, até que chegamos a um consenso final. Depois a
decisão é mais solitária, é individual mas a partilha, tens de saber fazê-la.
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8.Anexos XXV
Anexo 2: Folha de Registo dos Jogos Observados
Critério 1 – OOf – DESENVOLVIMENTO DA POSSE DE BOLA (Inicio e Desenvolvimento da
Organização Ofensiva)
Variáveis em Estudo na presente investigação
Nº de vezes que ocorrem
(1) OOfpc – Organização Ofensiva por passe curto
(2) OOfpl – Organização Ofensiva por passe longo
(3) OOfcd – Organização Ofensiva por condução
(4) OOfrc – Organização Ofensiva por recepção/controle
(5) OOfd – Organização Ofensiva por drible
(6) OOfdu – Organização Ofensiva por duelo
(7) OOfgr – Organização Ofensiva pelo guarda-redes
Método de Jogo Ofensivo (MJO)
(8) OOfca – Método de Jogo Ofensivo por Contra-Ataque
(9) OOfar – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Rápido
(10) OOfap – Método de Jogo Ofensivo por Ataque Posicional
Critério 2 – FOOf – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA (Finalização com ou sem eficácia)
Critério 2.1 – FOOfef – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA COM EFICÁCIA
Variáveis em Estudo na presente investigação
Nº de vezes que ocorrem
(11) FOOfefrf – Final da Organização Ofensiva por remate fora
(12) FOOfefrd – Final da Organização Ofensiva por remate dentro
(13) FOOfefrad – Final da Organização Ofensiva por remate contra o adversário
(14) FOOfefgl – Final da Organização Ofensiva por golo (15) FOOfefof – Atingir o terço ofensivo de forma controlada
Critério 2.2 – FOOfsef – FINAL DA ORGANIZAÇÃO OFENSIVA SEM EFICÁCIA
Variáveis em Estudo na presente investigação
Nº de vezes que ocorrem
(16) FOOfsefbad – Recuperação da Posse de Bola pelo Adversário
(17) FOOfsefgrad – Recuperação da Posse de Bola pelo Guarda-Redes Adversário
(18) FOOfseff – Recuperação da Posse de Bola com lançamento para fora
(19) FOOfsefi – Recuperação da Posse de Bola por Infracção
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8.Anexos XXVI
Critério 3 – ITEAD – INÍCIO DA TRANSIÇÃO-ESTADO ATAQUE-DEFESA / PERDA DA
POSSE DE BOLA (Início da Transição Ataque-Defesa)
Variáveis em Estudo na presente investigação
(20) ZONAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Nº de vezes em que ocorrem
(21) ITEADime – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa por pressão imediata
(22) ITEADprpb – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de jogadores que se encontram na zona perda da posse de bola
(23) ITEADpress – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa sabendo o número de jogadores na zona de pressão
(24) ITEADtemp – Inicio da Transição-Estado Ataque-Defesa executando a temporização
Critério 4 – OD – DESENVOLVIMENTO DA ORG. DEFENSIVA (Posicionamento da Equipa)
Variáveis em Estudo na presente investigação
Nº de vezes que ocorrem
(25) ODnj – Número de Jogadores em Organização Defensiva
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8.Anexos XXVII
Critério 5 – ITEDA – INÍCIO DA TRANSIÇÃO-ESTADO DEFESA-ATAQUE / RECUPERAÇÃO
DA POSSE DE BOLA (Início da Transição Defesa-Ataque)
Variáveis em Estudo na presente investigação
(26) ZONAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Nº de vezes que ocorrem
(27) ITEDAi – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por intercepção
(28) ITEDAd – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por desarme
(29) ITEDAgr – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque por acção do guarda-redes
(30) ITEDAp – Inicio da Transição-Estado Defesa-Ataque seguida de passe
Critério 6 – DTEDA – DESENVOLVIMENTO DA TRANSIÇÃO-ESTADO DEFESA-ATAQUE
(Desenvolvimento da Transição)
Variáveis em Estudo na presente investigação
Nº de vezes que ocorrem
(31) DTEDApc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe curto
(32) DTEDApl – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por passe longo
(33) DTEDAcd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por condução
(34) DTEDArc – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por recepção/controle
(35) DTEDAd – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por drible
(36) DTEDAdu – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque por duelo
(37) DTEDAgr – Desenvolvimento da Transição-Estado Defesa-Ataque pelo guarda-redes
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7.Anexos XXVIII
Anexo 3: Jogos Observados e respectivos resultados
Sporting Clube de Portugal – Época 2008/2009
23ª
Jornada
24ª
Jornada
25ª
Jornada
26ª
Jornada
27ª
Jornada
28ª
Jornada
29ª
Jornada
30ª
Jornada
0 - 1
3 - 1
1 - 2
2 - 1
0 - 0
2 - 1
1 - 2
3 - 1