Elton Ogoshi de Melo - Projeto Dirigido

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC Elton Ogoshi de Melo APLICAÇÃO DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X E DO MÉTODO DE RIETVELD NA CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E NA IDENTIFICAÇÃO DE POLIMORFISMO NO MEBENDAZOL Santo André 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Elton Ogoshi de Melo

APLICAÇÃO DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X E DO MÉTODO DE RIETVELD NA

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E NA IDENTIFICAÇÃO DE POLIMORFISMO

NO MEBENDAZOL

Santo André

2012

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Elton Ogoshi de Melo

APLICAÇÃO DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X E DO MÉTODO DE RIETVELD NA

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E NA IDENTIFICAÇÃO DE POLIMORFISMO

NO MEBENDAZOL

Projeto de Pesquisa apresentado para a disciplina

de Projeto Dirigido da Universidade Federal do ABC

Orientador: Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira

Santo André

2012

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Elton Ogoshi de Melo

APLICAÇÃO DA DIFRAÇÃO DE RAIOS X E DO MÉTODO DE RIETVELD NA

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E NA IDENTIFICAÇÃO DE POLIMORFISMO

NO MEBENDAZOL

Projeto de Pesquisa apresentado para a disciplina

de Projeto Dirigido da Universidade Federal do ABC

Orientador: Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira

Santo André

2012

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RESUMO

Fármacos podem apresentar mais de uma estrutura cristalina em suas composições

(polimorfismo), podendo influenciar diretamente em suas propriedades físico-

químicas e, consequentemente, na ação e na eficácia desejada no nosso

organismo. Ainda que as composições químicas sejam as mesmas, as diferentes

conformações espaciais das moléculas do princípio ativo são determinantes nas

atividades biológicas do fármaco. O polimorfismo é resultante das condições de

síntese do fármaco, assim como a temperatura e o solvente utilizado nela. O

mebendazol é um fármaco que pode apresentar três diferentes fases cristalinas, as

formas A, B e C. Estas apresentam diferenças significativas de solubilidade in vivo,

sendo a forma C a mais solúvel e a mais recomendável para o uso oral. O

polimorfismo, em alguns casos, pode até levar a formulações de efeito tóxico. É

então de vital importância um estudo minucioso da estrutura das matérias-primas de

medicamentos em geral. Neste projeto foi utilizada a difração de raios X por

policristais para a caracterização estrutural, que, juntamente com o método de

Rietveld, permite a quantificação e o refinamento dos polimorfos na estrutura de

fármacos com bastante precisão e confiabilidade. Dentro desta metodologia, foram

analisadas amostras da forma A, da forma C e de uma amostra contendo a mistura

de 50% de cada fase, o que permitiu uma análise quantitativa do processo estudado.

Palavras-chave: Polimorfismo em fármacos, mebendazol, difração de raios X,

Método de Rietveld.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6

1.1 POLIMORFISMO ............................................................................................... 6

1.1.1 POLIMORFISMO EM FÁRMACOS ............................................................. 8

1.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ................................................................................... 8

1.3 MÉTODO DE RIETVELD ................................................................................. 11

1.4 MEBENDAZOL ................................................................................................ 11

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 13

3. METODOLOGIA .................................................................................................... 14

4. RESULTADOS ...................................................................................................... 15

5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 18

6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ......................................................................... 18

7. ORÇAMENTO DA PESQUISA .............................................................................. 19

8. AGRADECIMENTOS ............................................................................................ 19

9. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 19

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1. INTRODUÇÃO

1.1 POLIMORFISMO

Polimorfismo (do grego, poli = muitos, morfo = forma) é a propriedade das

moléculas de uma substância de se arranjarem em mais de uma forma espacial no

seu estado sólido [1], diferenciando-se tridimensionalmente de forma para forma.

Essas formas possuem a mesma composição química, porém suas podem

estruturas cristalinas podem ser diferentes em muitos aspectos. Pode-se definir um

cristal como uma repetição periódica tridimensional dos átomos ou das moléculas de

um composto.

Existem padrões de conformação espacial de moléculas, denominados

sistemas cristalinos. Diz-se, então, que um composto é polimórfico quando este se

cristaliza em dois ou mais sistemas cristalinos. Em seu estado sólido, os átomos de

um determinado material podem se arranjar em sete diferentes sistemas cristalinos

fundamentais: cúbico, hexagonal, tetragonal, romboédrico, ortorrômbico,

monoclínico e triclínico. Estes diferem entre si pelas geometrias de suas respectivas

celas unitárias, que são entidades que se repetem de forma tridimensional ao longo

da extensão do cristal.

Os sistemas cristalinos são definidos pelos parâmetros de rede a, b e c

(comprimentos das arestas da célula unitária) e pelos ângulos α, β e γ (angulação

entre as arestas). A relação entre os sistemas cristalinos, os parâmetros de rede e a

geometria da cela unitária está apresentada na Tabela 1.

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Tabela 1 - Relações entre os parâmetros da rede e figuras mostrando as geometrias das celas unitárias para os sete sistemas cristalinos.

Sistema Cristalino

Relações Axiais

Ângulos entre os eixos

Geometria da Cela Unitária

Cúbico a = b = c α = β = γ = 90⁰

Hexagonal a = b ≠ c α = β = 90⁰, γ = 120⁰

Tetragonal a = b ≠ c α = β = γ = 90⁰

Romboédrico a = b = c α = β = γ ≠ 90⁰

Ortorrômbico a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90⁰

Monoclínico a ≠ b ≠ c α = γ = 90⁰≠ β

Triclínico a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ ≠ 90⁰

Os polimorfos podem ser classificados como monotrópicos ou

enantiotrópicos. No primeiro caso, a transição de uma estrutura cristalina em outra é

irreversível, ou seja, apenas um polimorfo é a forma estável. Consequentemente,

qualquer outro polimorfo que não seja o mais estável energeticamente, com o tempo

irá se transformar na sua forma de menor energia. No segundo caso, a substância

pode sofrer transição reversível de suas fases cristalinas, sob diferentes condições

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de temperatura e pressão. Os casos mais comuns são de polimorfos monotrópicos

[2].

1.1.1 POLIMORFISMO EM FÁRMACOS

Pode-se definir fármaco como uma substância química que é o princípio ativo

de um medicamento [3]. Muitos compostos orgânicos, como os fármacos em geral,

apresentam polimorfismo de forma identificável.

A presença de diferentes fases cristalográficas em um fármaco está

diretamente relacionada com as técnicas de síntese e purificação deste, assim como

a temperatura e o solvente em que se encontra.

Polimorfos de uma mesma substância podem apresentar diferenças em suas

propriedades físico-químicos quanto compostos completamente diferentes

apresentam entre si [4]. Essas diferenças de propriedades acarretam,

consequentemente, em diferenças de efeito terapêutico e farmacológico, como a

biodisponibilidade.

Biodisponibilidade pode ser definida como o parâmetro relacionado à

velocidade e à extensão no qual o princípio ativo é absorvido no meio biológico. Se

um fármaco é administrado por via intravenosa, por exemplo, 100% do fármaco

alcançam a corrente sanguínea e assim, diz-se que a biodisponibilidade do fármaco

foi de 100%. Porém, se é administrado de outra forma, como via oral, não é

garantido que todo o princípio ativo chegue à corrente sanguínea. Denomina-se

fração biodisponível a parte desse fármaco que alcança a corrente sanguínea. A

biodisponibilidade é um fator que influencia diretamente na eficácia e efeito de um

medicamento.

Grande parte dos fármacos é formada por polimorfos monotrópicos. Explica-

se assim o fato de vários medicamentos perderem a eficiência em longos períodos

de estocagem [5].

1.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS X

O fenômeno da difração [1] é a combinação de dois outros fenômenos da

interação da radiação eletromagnética com a matéria, o espalhamento coerente e a

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interferência construtiva. O primeiro trata-se de não haver mudança no comprimento

de onda e na amplitude da radiação incidente em relação à radiação espalhada,

após a interação com os elétrons dos átomos no sólido. A interferência construtiva

trata-se da intensificação (aumento da amplitude) de duas ou mais ondas

eletromagnéticas que saem em fase após o um evento de dispersão, no caso da

difração, o espalhamento coerente. A Figura 1 ilustra este fenômeno.

Figura 1 – Demonstração de como duas ondas (identificadas como 1 e 2) que possuem o mesmo comprimento de onda λ e que permanecem em fase após um evento de dispersão (ondas 1’ e 2’) interferem mutuamente de forma construtiva. As amplitudes das ondas dispersas se somam na onda resultante.

São possíveis ainda outras relações de fases entre ondas espalhadas que

não irão levar a essa interação mútua, levando a interações parciais ou até mesmo à

interferência destrutiva, onde as ondas se anulam.

Os raios X são usados na caracterização estrutural por estes possuírem

comprimentos de onda curtos (da ordem dos espaçamentos atômicos nos sólidos).

Quando estes incidem sobre um determinado material, os raios X difratados

produzem um padrão único, em relação ao ângulo de incidência, de acordo com a

estrutura cristalina daquele material. A condição para que haja a difração é dada

pela lei de Bragg:

nλ = 2dhklsenθ

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onde n é a ordem da reflexão, que pode ser qualquer número inteiro, λ é o

comprimento de onda da radiação incidente, θ o ângulo de incidência entre o feixe

incidente e o plano paralelo à superfície e dhkl o espaçamento interplanar para

determinados planos com índices de Miller h, k e l.

Com a variação da estrutura cristalina do sólido, os espaçamentos

interplanares dhkl também irão variar. Assim, os ângulos onde ocorrem a difração são

específicos para cada sólido cristalino.

O difratômetro de raios X é o aparelho utilizado na determinação destes

ângulos e está ilustrado na Figura 2.

Figura 2 – Diagrama esquemático de um difratômetro de raios X.

No difratômetro, o detector é montado sobre uma plataforma móvel que

rotaciona em torno do eixo central, e sua posição angular 2θ é marcada em uma

escala graduada. A rotação da amostra de um ângulo θ é acompanhada pela

rotação 2θ do detector. Conforme θ é variado de forma constante, a intensidade do

feixe difratado em função do ângulo 2θ é registrada automaticamente, gerando um

difratograma de raios X. Neste difratograma haverá picos de intensidade nos

ângulos 2θ onde há a difração dos raios X. Esses picos são denominados picos de

Bragg.

A difração de raios X por policristais é uma poderosa e eficiente técnica

utilizada na caracterização estrutural de materiais diversos. Pode-se inferir isso pela

sua alta precisão nos resultados de estrutura cristalina, além de permitir a análise de

estruturas com polimorfismo [6].

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1.3 MÉTODO DE RIETVELD

O método de Rietveld [7] é um método baseado em uma regressão pelo

método dos mínimos quadrados onde é ajustado o padrão de difração de maneira a

minimizar as diferenças entre o modelo estrutural calculado e o difratograma de

raios X da amostra analisada. Nesta técnica são refinados de forma simultânea os

parâmetros instrumentais, os estruturais e os relacionados com as características

físicas da amostra.

O método de Rietveld de refinamento de estruturas cristalinas tem se

mostrado como uma grande ferramenta na identificação e quantificação de fases

cristalinas em compostos orgânicos. A única limitação deste método é que este só

pode ser aplicado em casos onde os as estruturas cristalinas de todos os polimorfos

presentes são conhecidas.

1.4 MEBENDAZOL

O mebendazol (IUPAC (5-benzoil-1H-benzimidazol-2-il)carbamato de metila)

é um fármaco antiparasitário, classificado no grupo dos anti-helmínticos e usado no

tratamento contra nematódeos e cestoideos gastrointestinais [8]. No Brasil,

medicamentos com esse princípio ativo podem ser encontrados no comércio na

forma de comprimidos de diversas marcas, como por exemplo, o Pantelmin®

(laboratório Janssen-Cilag) e o Licor de Cacau® (laboratório DM Indfarma). A Figura

3 ilustra a estrutura química da molécula de mebendazol.

Figura 3 - (a) Molécula de mebendazol e (b) fórmula estrutural plana C16H13N3O3.

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Esse antiparasitário apresenta a propriedade de se cristalizar em três

diferentes estruturas cristalinas: a forma A, a forma B e a forma C. Ou seja, o

mebendazol apresenta polimorfismo.

Neste projeto, foram usadas as formas A e C, cujos parâmetros de rede estão

na Tabela 2 [9-10].

Tabela 2 – Polimorfos A e C do mebendazol e seus parâmetros de rede.

Polimorfo a (Å) b (Å) c (Å) α (°) β (°) γ (°)

A 5,532(3) 11,322(2) 12,567(3) 66,60(1) 82,89(2) 78,35(3)

C 5,220(1) 7,978(2) 18,314(5) 81,79(1) 81,79(3) 70,68(2)

Como a ≠ b ≠ c e α ≠ β ≠ γ ≠ 90⁰ nos dois casos, tanto o polimorfo A quanto o

C são triclínicos. Ambas as formas se cristalizaram em um grupo espacial P

Na Figura 4 é feita uma comparação entre as moléculas de mebendazol nas

formas A e C, onde podem ser observadas diferenças de conformação e de ligações

de hidrogênio intermoleculares.

Figura 4 – Comparação estrutural entre as moléculas de mebendazol na forma C (parte superior) e a forma A (parte inferior). Em ciano claro estão representadas as ligações de hidrogênio, além de algumas ligações adicionais na forma A.

Suas três formas polimórficas apresentam diferentes solubilidades e

atividades biológicas. Em termos de solubilidade in vivo temos que: forma B > forma

A

Ligações de H adicionais

C

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C > forma A. A solubilidade é uma propriedade termodinâmica que é afetada

diretamente pelo arranjo atômico das moléculas de um determinado composto, e

que influencia na biodisponibilidade do fármaco.

O polimorfo C é o mais recomendável devido a sua maior solubilidade e

biodisponibilidade [11]. Estudos indicam que não há efeito anti-helmíntico quando há

mais de 30% da forma A no fármaco [12]. Além disso, sabe-se que a forma B

apresenta uma maior toxidade no meio biológico por este apresentar uma maior

solubilidade em meio ácido [8].

Sabendo-se que os polimorfos A, B e C do mebendazol apresentam

diferentes propriedades físico-químicas e diferentes efeitos terapêuticos, a

identificação e a quantificação desses polimorfos são de grande importância para

que se possa inferir sobre a eficácia terapêutica anti-helmíntica de determinada

amostra deste fármaco.

Frente à necessidade da análise estrutural de forma quantitativa do

mebendazol, a difração de raios X pelo método do pó é um excelente método para a

caracterização estrutural e na identificação de polimorfismo. Aliada ao método de

Rietveld, é possível ainda a quantificação de seus polimorfos. Utilizando-se desses

dois métodos, é possível assim uma análise estrutural e quantitativa segura de

qualquer amostra de mebendazol.

2. OBJETIVOS

Os objetivos deste projeto são:

i. Analisar, identificar e quantificar a presença de polimorfismo cristalino

no fármaco anti-helmíntico mebendazol através da difração de raios X

pelo método do pó aliada ao refinamento de Rietveld;

ii. Testar e analisar a metodologia básica para a quantificação de

polimorfos cristalinos em fármacos sólidos.

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3. METODOLOGIA

Foi analisado um grupo constituído por três amostras: A1, A2 e A3. Na

amostra A1 havia a forma A do mebendazol, na amostra A2 a forma C e na amostra

A3 uma mistura com aproximadamente 50% em massa de cada polimorfo.

No preparo da amostra A3, utilizou-se de uma balança analítica para se

quantificar com precisão as massas dos polimorfos que seriam misturados. Foram

adicionados 0,15994(1) g do polimorfo A e 0,15959(1) g do C, o que resultou em

uma porcentagem de peso de 50,05%p e 49,95%p, respectivamente. Na Tabela 3

estão indicadas as frações em massa de cada polimorfo.

Tabela 3 – Amostras e suas porcentagens de peso (%p) em relação aos polimorfos A e C.

Amostras Polimorfo A Polimorfo C

A1 100 %p 0 %p

A2 100 %p 0 %p

A3 50,05 %p 49,95 %p

A caracterização estrutural das amostras foi realizada pelo método de

Rietveld, a partir de dados de difração de raios X por policristais. Para a aplicação do

refinamento estrutural e da análise quantitativa de fases, foi usado o programa

Topas Academic v.4.1 [13].

As medidas das amostras de mebendazol foram realizadas em um

difratômetro de raios X por policristais D8-Focus, da Bruker, localizado na Central

Experimental Multiusuário da UFABC (CEM-UFABC), utilizando radiação CuKα

(λ=1.5418Å), tensão de 40 kV e corrente de 40 mA, fenda de divergência de 0,2 mm,

fendas Soller (primária e secundária) de 2,5º, fenda de antiespalhamento de 3,0 mm

e um detector linear sensível à posição (LynxEye®). As amostras de mebendazol

foram medidas em geometria de Bragg-Brentano e acondicionadas em porta-

amostras planos. O perfil de difração de cada amostra foi adquirido na faixa angular

de 3 a 35 (2θ), com passo de aproximadamente 0,01 e 1 segundo de aquisição

por ponto.

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4. RESULTADOS

Com a análise da amostra A1, mostrada na Figura 5a, onde, segundo

informações do fornecedor, deveria haver apenas o polimorfo A do mebendazol,

constatou-se que também existia uma pequena fração em massa (~2%) do polimorfo

C. Tal constatação pode ser vista na Figura 5b, onde foi feita uma ampliação na

região de 3º a 11º (2θ) para mostrar que se a estrutura cristalina da forma C do

mebendazol não é levada em consideração, o pico de Bragg localizado na região de

~5º (2θ) não é ajustado.

Figura 5 – (a) Refinamento de Rietveld final da amostra identificada como A1, mostrando os resultados da análise quantitativa dos polimorfos A e C do mebendazol; (b) ampliação na região de 3º a 11º (2θ) indicando que o pico de Bragg na região de 5º (2θ) não é ajustado quando se leva em consideração somente a estrutura cristalina do polimorfo A do mebendazol.

2Theta (°)3530252015105

Inte

nsid

ad

e (

co

nta

ge

ns)

35,000

30,000

25,000

20,000

15,000

10,000

5,000

0

-5,000

Meb_A 98.07 %

Meb_C 1.93 %

2Theta (°)11109876543

Inte

nsid

ad

e (

co

nta

ge

ns)

5,000

4,000

3,000

2,000

1,000

0

-1,000

-2,000

-3,000

Meb_A 100.00 %

Page 16: Elton Ogoshi de Melo - Projeto Dirigido

16

O mesmo aconteceu com a amostra A2; o lote medido, referente à forma C

somente, de acordo com o fornecedor, apresentou uma pequena quantidade (5%)

da forma A, conforme pode ser visto na Figura 6a. Tal evidência pode ser

constatada na Figura 6b, onde foi feita uma ampliação na região de 3º a 11º (2θ)

para mostrar que se a estrutura cristalina da forma A do mebendazol não é levada

em consideração, o pico de Bragg localizado na região de ~7,6º (2θ) não é ajustado.

Figura 6 - Refinamento de Rietveld final da amostra identificada como A2, mostrando os resultados da análise quantitativa dos polimorfos C e A do mebendazol; (b) ampliação na região de 3º a 11º (2θ) indicando que o pico de Bragg na região de 7,6º (2θ) não é ajustado quando se leva em consideração somente a estrutura cristalina do polimorfo A do mebendazol.

2Theta (°)3530252015105

Inte

nsid

ad

e (

co

nta

ge

ns)

45,000

40,000

35,000

30,000

25,000

20,000

15,000

10,000

5,000

0

-5,000

Meb_A 5.10 %

Meb_C 94.90 %

2Theta (°)11109876543

Inte

nsid

ad

e (

co

nta

ge

ns)

24,000

22,000

20,000

18,000

16,000

14,000

12,000

10,000

8,000

6,000

4,000

2,000

0

-2,000

-4,000

-6,000

Meb_C 100.00 %

Page 17: Elton Ogoshi de Melo - Projeto Dirigido

17

Na análise da amostra A3, na qual havia aproximadamente 50% em massa

de cada forma polimórfica, obteve-se um resultado com grande aproximação em

relação às porcentagens de cada polimorfo usado na preparação da amostra. Na

Figura 7 está apresentado o refinamento de Rietveld da amostra identificada como

A3, onde foi feita a mistura de ~50% em massa das amostras A1 e A2. Como pode

ser observado, a análise quantitativa realizada com o método de Rietveld forneceu

uma fração em massa de ~49,7% para a forma A e de ~50,3% para a forma C. Tais

resultados representam um desvio menor que 0,7% em comparação com o que foi

efetivamente medido em balança analítica. Embora muito pequenas, tais diferenças

podem ser explicadas por efeitos de orientação preferencial dos cristalitos devido ao

método de preparação das amostras em porta-amostras planos, além do fato de que

as matérias-primas iniciais já continham frações polimórficas das outras formas. Se

as mesmas tivessem sido acondicionadas em capilares de vidro ou até mesmo entre

películas delgadas de acetato, este efeito seria bastante minimizado. Vale ressaltar

que os programas de Rietveld oferecem a possibilidade de correção matemática de

efeitos de orientação preferencial.

Figura 7 – Refinamento de Rietveld da amostra identificada como A3, contendo frações em massa de ~50% dos polimorfos A e C do mebendazol. A análise quantitativa realizada indica uma ótima relação entre as frações de massa medidas e o resultado obtido com o refinamento.

2Theta (°)3028262422201816141210864

Inte

nsid

ad

e (

co

nta

ge

ns)

18,000

16,000

14,000

12,000

10,000

8,000

6,000

4,000

2,000

0

-2,000

Meb_A 49.65 %

Meb_C 50.35 %

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18

5. CONCLUSÕES

Analisando-se os resultados e comparando-os com as porcentagens de peso

da amostragem, pode-se concluir que o que foi obtido correspondeu de forma

satisfatória e com grande aproximação ao esperado em relação à metodologia

empregada.

Deste modo, pôde-se concluir que o uso da difração de raios X aliado ao

método de refinamento de Rietveld é capaz de fornecer de forma inequívoca a

identificação e quantificação das formas A e C em uma amostra de mebendazol,

sendo de grande valia e excelência no caso de amostras de outros fármacos cujas

estruturas cristalinas de seus polimorfos sejam conhecidas.

6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

O cronograma de execução do projeto teve como base um período de

aproximadamente dois meses. A duração de todas as fases da pesquisa

experimental esta representados na Tabela 4.

Tabela 4 – Cronograma de execução do Projeto Dirigido.

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7. ORÇAMENTO DA PESQUISA

A universidade dispõe de dois difratômetros de raios X na Central

Experimental Multiusuário, além de um outro, localizado no Laboratório de

Cristalografia e Caracterização Estrutural de Materiais (LCCEM), sob coordenação

do Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira. O software de refinamento de Rietveld Topas

Academic v.4.1 foi adquirido com recursos de projeto de pesquisa Jovens

Pesquisadores em Centro Emergentes da FAPESP (proc. no. 2008/10537-3), sob

coordenação do Prof. Ferreira, permitindo a análise das amostras sem custo algum.

As amostras foram oferecidas pelo Prof. Dr. Fabio Furlan Ferreira, orientador do

projeto, dispensando-se assim a compra destas.

O projeto teve custo zero para o aluno.

8. AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer o apoio financeiro da FAPESP (proc. no.

2008/10537-3), do CNPq (proc. no. 309811/2009-0 e 477296/2011-4) e da CEM-

UFABC pela utilização do equipamento de raios X D8-Focus, da Bruker.

9. REFERÊNCIAS

[1] CALLISTER, W. D. Jr. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 7.

ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2008.

[2] BERNSTEIN, Joel. Polymophism in Molecular Crystals. 1. ed. USA: Oxford

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[3] ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Resolução RDC n°233 de 17

de agosto de 2005. Disponível em < http://e-legis.anvisa.gov.br/>. Acesso em

01/04/2012.

Page 20: Elton Ogoshi de Melo - Projeto Dirigido

20

[4] Aboul-Enein HY, Bunaciu AA, Fleschin S. Analysis of mebendazole

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methods. Biopolymers (Biospectroscopy) 2002;67:56-60.

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[6] DINNEBIER, Robert E. ; BILLINGE, Simon J. L. Powder Diffraction: Theory and

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[8] Costa J, Fresno M, Guzma´n L, Igual A, Oliva J, Vidal P, Pe´rez A, Pujol M. 1991.

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[9] Ferreira FF, Gutierrez Antonio S, Rosa PCP, Paiva-Santos CO. 2009. Crystal

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[10] Martins FT, Neves PP, Ellena J, Camı´ GE, Brusau EV, Narda GE. 2009.

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[11] Swanepoel E, Liebenberg W, Devarakonda B, Villiers MM. Developing a

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