Eliseu - Exegese - Defesa Da Fé- Completo

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OS CRENTES COLOCADOS À PROVA NO TESTEMUNHO E NO PROCEDIMENTO INSTRUÇÕES EM 1 PEDRO 3.13-17 Lição 1 REVISITANDO A COMUNIDADE DE PEDRO 1. INTRODUÇÃO a. Objetivo : instruções para a conduta correta dos cristãos quando submetidos à prova da perseguição, hostilidade, rejeição social e questionamentos quanto à validade da fé cristã. b. Problemática : Os cristãos são chamados a viver de um modo que coloca em questão muitos valores da sociedade em redor, constituindo, em sua essência uma cultura própria. A conduta cristã pode provocar reações que vão da admiração à hostilidade, mas não a indiferença. c. Método : revisitar a comunidade cristã constituída principalmente de gentios, em uma região fora da influência judaica, nos limites do império romano a fim de verificar os problemas que enfrentavam na nova fé que haviam abraçado e como as recomendações do apóstolo os ajudariam a enfrentá-las, especialmente em relação ao questionamento e a perseverança na prática do bem. 2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS a. Autor : ―Pedro, apóstolo de Jesus Cristo‖ (1.1) b. Destinatários : ―aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia‖ (1.1); i. Localização geográfica : províncias romanas que envolvem a quase toda a Ásia Menor, deixando de citar apenas as regiões de Lícia, Panfília e Cilícia, no extremo sul (HOLMER, 2008, p. 131). ii. Condição social : maioria dos crentes eram gentios convertidos (p.ex., 1.14, 18; 2.10; 4.3ss), embora houvesse judeus também. (1) ―forasteiros da dispersão‖ (1.1) (2) ―peregrinos e forasteiros‖ (2.11). (3) ―tempo da vossa peregrinação‖ (1.17) sugere um sentido espiritual, parece que os cristãos eram, em sua maioria, pessoas simples. (4) Servos (2.18), mas não senhores: Elliott (citado por MUELLER, 1988, p. 29,30) acha que forasteiros e peregrinos devem ser entendidos como classes sociais, podendo ser traduzidas como ―estrangeiros residentes‖ e ―estrangeiros visitantes‖, respectivamente. (5) dispersão ou diáspora (1.1), MUELLER (1988, p. 31) opina que deve ser entendida em relação a Babilônia (5.13), sendo ambos uma referência figurada ao cativeiro babilônico dos judeus. iii. Pedro X Paulo : Pedro se dirigiu a igrejas fundadas por Paulo? (1) Paulo circulou ao sul da Ásia, na região mais ligada à Síria. (2) Não há nenhuma evidência interna que forneça razão para crer que Pedro tinha em vista as igrejas fundadas por Paulo.

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OS CRENTES COLOCADOS À PROVA NO TESTEMUNHO E NO PROCEDIMENTO — INSTRUÇÕES EM 1 PEDRO 3.13-17

Lição 1 – REVISITANDO A COMUNIDADE DE PEDRO

1. INTRODUÇÃO

a. Objetivo: instruções para a conduta correta dos cristãos quando submetidos à prova da perseguição, hostilidade, rejeição social e questionamentos quanto à validade da fé cristã.

b. Problemática: Os cristãos são chamados a viver de um modo que coloca em questão muitos valores da sociedade em redor, constituindo, em sua essência uma cultura própria. A conduta cristã pode provocar reações que vão da admiração à hostilidade, mas não a indiferença.

c. Método: revisitar a comunidade cristã constituída principalmente de gentios, em uma região fora da influência judaica, nos limites do império romano a fim de verificar os problemas que enfrentavam na nova fé que haviam abraçado e como as recomendações do apóstolo os ajudariam a enfrentá-las, especialmente em relação ao questionamento e a perseverança na prática do bem.

2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

a. Autor: ―Pedro, apóstolo de Jesus Cristo‖ (1.1)

b. Destinatários: ―aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia‖ (1.1);

i. Localização geográfica: províncias romanas que envolvem a quase toda a Ásia Menor, deixando de citar apenas as regiões de Lícia, Panfília e Cilícia, no extremo sul (HOLMER, 2008, p. 131).

ii. Condição social: maioria dos crentes eram gentios convertidos (p.ex., 1.14, 18; 2.10; 4.3ss), embora houvesse judeus também.

(1) ―forasteiros da dispersão‖ (1.1)

(2) ―peregrinos e forasteiros‖ (2.11).

(3) ―tempo da vossa peregrinação‖ (1.17) sugere um sentido espiritual, parece que os cristãos eram, em sua maioria, pessoas simples.

(4) Servos (2.18), mas não senhores: Elliott (citado por MUELLER, 1988, p. 29,30) acha que forasteiros e peregrinos devem ser entendidos como classes sociais, podendo ser traduzidas como ―estrangeiros residentes‖ e ―estrangeiros visitantes‖, respectivamente.

(5) dispersão ou diáspora (1.1), MUELLER (1988, p. 31) opina que deve ser entendida em relação a Babilônia (5.13), sendo ambos uma referência figurada ao cativeiro babilônico dos judeus.

iii. Pedro X Paulo: Pedro se dirigiu a igrejas fundadas por Paulo?

(1) Paulo circulou ao sul da Ásia, na região mais ligada à Síria.

(2) Não há nenhuma evidência interna que forneça razão para crer que Pedro tinha em vista as igrejas fundadas por Paulo.

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(3) A lista de Atos 2.10 inclui regiões da Ásia Menor e muitos peregrinos que ouviram o sermão de Pedro no Pentecoste eram dessa região e devem ter pregado o evangelho nas cidades.

c. Proveniência

i. Babilônia (5.13) sugere que Pedro e seus colaboradores Silvano e Marcos estavam juntos naquele lugar. MUELLER (1988, p. 34,35) diz que há três hipóteses para entender o que significa Babilônia:

(1) citação literal referindo-se à cidade de Babilônia, mas não há nenhuma evidência de missão cristã naquela cidade, nem que o apóstolo Pedro tenha passado por lá;

(2) uma cidade no nordeste do Egito, com esse mesmo nome, mas nesse caso, teria que haver alguma explicação adicional;

(3) uso figurado para Roma, recurso comum no final do século 1 entre os cristãos (como João faz em Ap 14.8; 16.19; 17.5; 18.2). Nesse caso, a epístola foi escrita de Roma, onde segundo fortes indícios da tradição, Pedro e Marcos estiveram.

d. Data: depende diretamente da autoria da epístola.

i. Se Pedro é o autor, então a redação da epístola pode ser datada nos anos 60 da era cristã, quando Pedro ainda estava vivo e, provavelmente, atuando em Roma, onde segundo a tradição, ele foi morto, em 67 A.D., durante a perseguição desencadeada por Nero (MUELLER, 1988, p. 34). HOLMER (2008, p. 132) diz que as referências dos pais apostólicos são importantes para a datação da epístola, estimando, então, que foi escrita entre 60 e 65 A.D.. Ele defende que a referência a bispos em 5.1 é coerente com o uso primitivo deste cargo, pois ainda não era tão influente como se tornou depois.

ii. Quem não aceita a autoria petrina, defende que a epístola foi redigida entre 65 e 80 A.D., como o fazem Golpett e Elliott (MUELLER, 1988, p. 34).

e. Propósito: ―exortar as igrejas da Ásia Menor e testemunhar ‗que essa é a verdadeira graça de Deus, na qual vos deveis inserir‘‖ (HOLMER, 2008, p. 135).

i. 1º bloco — de 1.1 a 2.10 — mostrar a grandeza da redenção atual e futura e confirmar a fé dos crentes, a fim de que eles permaneçam fiéis ao Senhor, mesmo sob ameaças.

ii. 2º bloco — de 2.11 a 4.6 — orientar os cristãos a viverem a vida cotidiana segundo os princípios da fé cristã para que sejam aprovados como seguidores de Cristo em todas as situações.

iii. 3º bloco — de 4.7 a 5.14 — o objetivo é orientar os crentes em relação à igreja, mediante o exercício dos dons espirituais e relacionamento uns com os outros.

3. PARA REFLETIR

a. felicidade x fidelidade: o que traz verdadeira felicidade? O que satisfaz de verdade? Para responder, é necessário saber qual a necessidade real.

b. infância x maturidade: ―no mundo tereis aflições, mas tenham bom ânimo. Eu venci o mundo‖ (Jo 16.33).

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OS CRENTES COLOCADOS À PROVA NO TESTEMUNHO E NO PROCEDIMENTO — INSTRUÇÕES EM 1 PEDRO 3.13-17

Lição 2 – PALAVRAS E FRASES IMPORTANTES

4. v. 13 — ―Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?‖

a. zhlwtai. (zelotai) — traduzido como zeloso ou zelote, nome de uma facção de

guerrilheiros que lutavam contra a dominação romana. O uso da palavra aqui é no sentido de ter zelo; que mostra interesse por algo ou alguém; cuidadoso; que é aplicado, pontual, cuidadoso, atento;

i. Tito 2.14: ―[Jesus] se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras‖.

b. ge,nhsqe (génesthe) do v. gi,nomai (gínomai) significa mais do que está nas

versões analisadas — ―se forem zelosos do bem‖; ele implica uma idéia de conversão ou de ―vir a ser‖, ―tornar-se‖;

i. 2 Pedro 1.4: ―para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina‖. A idéia é que o ser humano não é naturalmente praticante do bem e, como diz HOLMER (2008, p. 207), nem mesmo após a conversão. Os cristãos devem crescer na prática do bem.

c. maltratar X zelosos do bem: segundo MUELLER (1988, p. 193), o autor apresenta a lógica ideal, isto é, a prática do bem deve ser retribuída com o bem, porém como diz HOLMER (2008, p. 206, 207), o ambiente dos cristãos era hostil. Dificilmente, alguém retribui o bem com o mal, mas se isto acontecer, o cristão deve manter-se praticando bem. A exortação é que os cristãos persigam o bem com todo zelo, independente se isto será fácil ou difícil.

5. v. 14a — ―Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois.‖

a. A construção ―ainda que venhais a sofrer‖ indica que nem todos os cristãos estão sob perseguição, mas convivem com essa possibilidade constantemente (HOLMER, 2008, p. 207). O mesmo argumento ocorre em 2.19, 20 e 4.15-19.

b. Justiça; segundo MUELLER (1988, p. 194), aqui se refere à religião dos cristãos, o que se fundamenta em comparação com 4.14, onde diz ―pelo nome de Cristo, sois injuriados‖ e em 4.16 padecem ―como cristãos‖. Em 2.24, diz que fomos libertos do pecado para que ―vivamos para a justiça‖. HOLMER (2008, p. 207) diz que o termo aqui significa o ―bom e justo governo de Deus‖, em ‖contraste radical com tudo o que é mau‖.

c. Referência direta a Mt 5.10: ―Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o reino de Deus‖ (NVI). MUELLER (idem) diz que a expressão significa ―sofrer por procurar fazer a vontade Deus‖.

d. bem-aventuranças: Pedro usa o mesmo termo usado nas bem-aventuranças do Sermão do Monte (Mt 5.3-11). Na epístola, aparece em 4.14: ―Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados (maka,rioi) sois, porque sobre vós

repousa o Espírito da glória e de Deus‖.

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6. v. 14b — ―Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados;‖

a. Citação de Isaías 8.12, conforme a tradução da Septuaginta: ―não temais o temor deles‖ (trad literal de MUELLER, 1988, p. 195) ou ―não temais o que ele teme, nem tomeis isto por temível‖ (ARA). O temor é a antítese da esperança, mencionada no v. 15. Os cristãos não devem temer o que os infiéis temem, porque isso seria sinal de incredulidade.

b. HOLMER (2008, p. 207): ―Como, porém é possível superar o temor diante dos humanos?‖ E responde: ―Pelo Temor a Deus‖, conforme o v. 16.

7. 15a — ―antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração‖

a. Continuação do versículo anterior, citando Isaías 8.13: ―Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto‖

b. Santificar: Segundo MUELLER (1988, p. 195), não é um uso muito comum do verbo santificar. Normalmente, Deus santifica e o homem é santificado. Esta linguagem é influência do hebraico (Nm 20.12 ―me santificardes‖; 27.14 ―me santificar‖; Is 29.23 ―santificarão o meu nome‖; ver também Lv 10.13; 22.32; Ez 28.22,25), onde se aplica a Deus o verbo qadash no causativo (hifil). A frase aparece na oração do Pai Nosso: ―Santificado seja o teu nome‖ (Mt 6.9).

c. Santificar a Cristo? Se Cristo é santo, como o homem pode santificá-lo?

i. HILL (MUELLER, 1988, p. 195): significa ―não somente reverenciar e honrar a Deus, como também glorificá-lo mediante a obediência aos seus mandamentos‖.

ii. BARTH (idem): significa levar ―uma vida santa, digna da santidade de Cristo‖.

iii. HOLMER (2008, p. 208): santo significa separado, portanto, ―santificar o Senhor‖ significa atribuir a ele ―uma posição absolutamente superior a tudo que é humano‖.

iv. Santidade objetiva: Cristo é santo objetivamente falando, independente da igreja, do mundo e de qualquer outra coisa; refere-se ao que Ele é nele mesmo.

v. Santidade subjetiva: Santificar a Cristo diz respeito a sua santidade demonstrada na vida dos santos e na comunhão da igreja. Conclui-se que santificar a Cristo é honrar seu nome pelo modo de viver.

d. A ordem ―santificai a Cristo‖ tem duas qualificações:

i. ―como Senhor‖: ―santificai a Cristo como Senhor‖ (ARA, ARC e NVI); ―santificai ao SENHOR Deus‖ (ACF ); ―santificai em vossos corações a Cristo, o Senhor‖ (VC).

ii. ―em corações vossos‖: coração como sede da vida interior, das afeições, dos sentimentos e pensamentos. Portanto, é no coração que Cristo deve ser santificado como Senhor.

8. PARA REFLETIR

a. Zelo: desejo de preservar um bem; temor de perder um bem; defesa do bem contra aqueles que supostamente desejam toma-lo.

b. Perseguição: por que a igreja é perseguida em alguns países? Por causa da hostilidade contra a fé cristã? Ou porque a fé cristã confronta a conduta alheia?

c. Santidade: uma santidade que se expressa no temor a Deus, cuidado com os irmãos, amor pelo próximo e confrontação do mal onde e como ele se manifestar.

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OS CRENTES COLOCADOS À PROVA NO TESTEMUNHO E NO PROCEDIMENTO — INSTRUÇÕES EM 1 PEDRO 3.13-17

Lição 3 – PALAVRAS E FRASES IMPORTANTES

9. v. 15b — ―estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,‖

a. Sempre preparados: pronto, preparado; em prontidão; ―apercebidos‖ (Mt 24.44; 25.10); ―estejam prontos para toda boa obra‖ (Tt 3.1); ―calçai os pés com a preparação do evangelho da paz‖ (Ef 6.15).

b. Responder: literalmente ―para defesa‖ (At 22.1; 25.16; Fp 1.7, 16; 2Tm 4.16) ou resposta (1Co 9.3; 2Co 7.11); a palavra avpologi,na (apologian) não tem o sentido

técnico atual de apologética; traduzido ―para responder‖ (ACF, ARA, ARC, NVI e NTLH) e ―Estai sempre prontos a responder para vossa defesa‖ (VC).

c. Razão — discurso – logos: a esperança cristã tem um discurso próprio. A fé cristã não é um ‗pulo no escuro‖. Toda pessoa tem o direito de ouvir uma explicação das razões da fé antes de ser convidada a decidir seguir a Cristo.

d. Livro de Atos: verbos que se referem à argumentação racional para descrever o modo de evangelização de Paulo: dialegomai (arrazoar, 17.2; dissertar, 17.17; 19.8; 24.25; discorrer, 18.4; 19.9; exortar, 20.7; discursar, 20.9; discutir, 24.12); katangelo (anunciar, 13.5;17.3,13,23); euangelizo (anunciar o evangelho, 13.32; 14.7; ensinar e pregar, 15.35; pregar, 17.18; anunciar o evangelho 14.21, 25); peitho (persuadir, 13.43; 18.4; 19.8); dianoigo (expor, 17.3); paratithemi (demonstrar, 17.3); diamartyromai (testemunhar, 18.5; testificar, 20.21); parresiazomai (pregar ousadamente, 9.27,28; 14.3; 19.8; com franqueza, 26.26).

i. A fé cristã é comunicável: é fundamental falar de modo que as pessoas entendam.

ii. A fé cristã é universal: pode ser apresentada de modo fundamentado a qualquer pessoa de qualquer lugar e de qualquer classe; se cremos que Deus é o Criador de todas as coisas e que o homem foi criado à imagem de Deus, então concluímos que o evangelho deve fazer sentido para todos os homens.

e. Esperança como sinônimo de fé ou evangelho, mas também pode se referir a um sentido mais amplo de esperança que os cristãos possuem e que chama a atenção dos não-crentes (MUELLER, 1988, p. 196). A esperança era um fator central na pregação dos cristãos primitivos (cf. 1.3) e que essa esperança tinha tanto impacto na vida dos crentes que atraía a atenção da sociedade pagã.

i. ―[Deus] nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos‖; ―nossa fé e esperança estão em Deus‖ (1.3,21).

ii. Doutrina: responder não sobre doutrinas, mas quanto a sua esperança; de um lado, os descrentes não têm esperança nenhuma (1Ts 4.13), e os cristãos anteriormente também não tinham esperança (Ef 2.12), mas agora têm uma esperança viva (1Pe 1.3) e se gloriam nesta esperança (Rm 5.2).

f. preparar para responder x santificar a Cristo: as duas partes do versículo estão em posição de reciprocidade dando a entender que: os que estão preparados para a defesa são aqueles que santificam o Senhor no coração e aqueles que se mantêm prontos para responder ao mundo realmente santificam a Cristo A

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prontidão para responder não depende apenas de capacidade, mas de santificar a Cristo no coração (HOLMER, 2008, p. 208).

g. Jesus: a boca fala do que está cheio o coração (Mt 12.34), se Cristo é santificado como Senhor do coração, os lábios estão sempre prontos para comunicar a razão da esperança cristã, o próprio Cristo (Cl 1.29).

10. PARA REFLETIR

a. Estudar a Palavra de Deus: o estudo da Bíblia requer diligência; escavar para encontrar um tesouro; nem sempre o ensino se revela à primeira leitura.

i. Conversar: compartilhar com outros sobre a Palavra de Deus (Dt 6.6; 11.18).

ii. Meditar: discernimento, compreensão da Palavra de Deus (Salmo 1.1).

iii. Orar: para ter sabedoria e conhecimento (Ef 1.17-18; Fp 1.9-10; Cl 1.9-10).

iv. Outros textos: 1 Tm 4.13; 2 Tm 2.15 (obreiro aprovado); Sl 119.

b. Preparados para a defesa da fé: envolve estudar a palavra de Deus com regularidade, procurar os conselhos e recomendações da Palavra de Deus, o conselhos dos irmãos de fé e líderes espirituais, oração e relacionamento com Deus e com os irmãos. Envolve também conhecer o mundo, as pessoas, seus problemas, medos, preocupações.

c. Conhecer as pessoas: quem é todo aquele?

i. Quanto à religião: religiosos praticantes (católicos, espíritas, budistas, muçulmanos, etc.); religiosos nominais (professam uma religião, mas não praticam), sincretistas (religião informal, isto é, misto de crenças; religião pessoal), esotéricos (misticismo interior; p.ex., nova era, astrologia, seitas orientais, etc.); ateus (negação da existência de Deus); agnósticos (ateísmo leve, ‗é impossível saber se Deus existe‘); seculares (ou sem religião, desigrejados ou sem-Bíblia).

ii. Quanto ao caráter: não são necessariamente imorais ou pervertidos; há pessoas de boa índole moral e cumpridora dos deveres; o ser humano, mesmo decaído é moral e carrega a imagem de Deus.

iii. Quanto ao foco de interesse: interessadas no agora e não na vida além; estão mais angustiadas com a dúvida do que com pecado e culpa; vivem sem absolutos, tudo é relativo; não há certezas; mecanismos de defesa contra o medo da morte.

iv. Quanto ao dilema: todo homem sem Deus vive em tensão entre o seu estilo de vida e a realidade; sofre angústia, solidão, baixa auto-estima, insegurança.

v. Quanto à orientação: busca do prazer; ‗complexo de vítima‘, relativismo;

vi. Quanto ao conhecimento de Deus: às vezes não têm convicção intelectual do que crêem ou não crêem; alguns consideram a fé um escapismo.

vii. Quanto ao conhecimento do cristianismo: sabem muito pouco sobre a fé cristã, sobre a Bíblia ou Deus; têm opinião negativa da igreja e dos crentes.

viii. Quanto aos obstáculos para crer: a fé não é de todos; o deus deste século tem cegado o entendimento de muitos para que não creiam (2 Co 4.4).

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OS CRENTES COLOCADOS À PROVA NO TESTEMUNHO E NO PROCEDIMENTO — INSTRUÇÕES EM 1 PEDRO 3.13-17

Lição 4

11. v. 16a — fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência,

a. Literalmente: ―mas com mansidão e temor tendo consciência boa‖.

b. Postura adequada para o testemunho: fala da forma como a resposta ou defesa deve ser oferecida aos que a buscam (MUELLER, 1988, p. 198). A presença da conjunção adversativa indica que o zelo na prática do bem poderia levar a atitudes de orgulho e confronto. A mansidão corrige o relacionamento com o próximo evitando desvios que prejudiquem o testemunho.

i. boa consciência: porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus (2.19).

ii. consciência significa literalmente ―saber com‖ e, segundo HOLMER (2008, p. 209), é a instância no ser humano que atesta se ele seguiu ou não aquilo que reconhece como bem. A expressão boa consciência aparece em 1 Pe 3.21: ―uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus‖.

iii. Atos 23.1: Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje; Hb 13.18.

iv. consciência pura: At 24.16; 1Tm 3.9; 2Tm 1.3.

v. 1 Timóteo 1.5: o amor procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia; negligenciar a fé e a boa consciência leva à ruína espiritual (1.19).

vi. Consciência: cauterizada (1Tm 4.2), corrompida (Tt 1.15), má (Hb 10.22).

vii. Boa consciência forma uma unidade: aquela que Deus não deixa inquieta por causa de pecado e vergonha secretos, ocultos (HOLMER, 2008, p. 209)..

viii. Conclusão: Pode-se concluir, então, que a boa consciência é um testemunho de aprovação interior, ausência de culpa e censura nos atos.

12. v. 16b — de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,

a. vv 2.12 e 4.14: os cristãos podem ser difamados mesmo quando praticam o bem; mas, o resultado que se espera da mansidão, temor e boa consciência é que os acusadores e difamadores sejam afinal envergonhados.

b. o testemunho correto de Jesus sempre inclui o juízo de Deus sobre os pecados das pessoas; os não-crentes podem reagir tentando identificar pecados nos cristãos; nesse caso, só há uma resposta adequada: uma boa conduta em Cristo (HOLMER, 2008, p. 209).

c. Boa conduta refere-se não apenas a atos específicos, mas a um padrão regular de conduta; produz efeitos em duas direções: para a própria pessoa, como boa consciência (2.19; 3.21) e para as pessoas em redor, especialmente aqueles que falam mal dos cristãos (MUELLER, 1988, p. 198,199).

d. Literalmente: boa conduta em Cristo; o falar de Cristo deve ser acompanhado de um bom procedimento; avnastrofh, (anastrofé) quer dizer modo de vida, conduta,

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comportamento.

i. 1 Pe 1.15: tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento.

ii. 1.18 — resgatados do vosso fútil procedimento.

iii. 2.12 — mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios —

iv. 3.1,2: os maridos não-crentes seriam convencidos, sem necessidade de palavra, ao observarem o honesto comportamento de suas mulheres cristãs.

v. 2 Pe 3.11: devemos ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade (ver também Gl 1.3, minha conduta; Ef 4.22, trato passado; 1Tm 4.12; Hb 13.7, maneira de viver, ACF; Tg 3.13, proceder).

e. A expressão ―em Cristo‖, segundo HOLMER (2008, p. 209) lembra que é Cristo que produz a boa conduta.

13. v. 17 porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.

a. Jesus: se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso Lc 6.33.

i. 1 Pe 2.15: Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem (avgaqopoiou/ntaj), façais emudecer a ignorância dos insensatos (também em

2.20).

ii. João diz que aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus (3Jo 1.11).

b. o fato de os não-crentes serem envergonhados não significa que parem de perseguir ou difamar; pode ser até mesmo que sofram perseguição ainda mais severa, porque atingiram os ímpios na sua consciência; (HOLMER, 2008, p. 210).

14. PARA REFLETIR

a. Os crentes devem continuar praticando o bem, independente de a sociedade ao redor reconhecer isto ou não.

i. A boa conduta cristã não impede que o mundo retribua com o mal, mas diante de Deus a boa conduta é preciosa e serve de julgamento contra os infiéis.

ii. Ao praticar o bem, os cristãos podem ter a certeza de estarem agradando a Deus.

iii. 1 Pe 2.20: Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.

iv. Não é resignação passiva do cristão, mas reconhecimento de que Deus está no controle da história e das circunstâncias (MUELLER, 1988, p. 200).

b. Medo e temor: em uma sociedade com graves problemas de violência, a quem você teme? Procure identificar as causas do medo ou do que o impede de praticar o bem. Procure aperfeiçoar o temor a Deus e santificar a Cristo como Senhor de fato de seu coração e conduta.

c. Cultivar relacionamento: a fé cristã é relacional em relação a Cristo (não há conhecimento de Cristo sem Cristo), aos irmãos (edificação) e a qualquer pessoa. Não há evangelização sem relacionamento com o próximo; se não conhecermos a mente das pessoas ao nosso redor como vamos comunicar o evangelho?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Comentários MUELLER, Ênio R. I Pedro, introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e

Mundo Cristão, 1988. GRÜNZWEIG, Fritz; HOLMER, Uwe & BOOR, Werner de. Cartas de Tiago, Pedro,

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