Elias e a espiritualidade biblica

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O PROFETA ELIAS: HOMEM DE DEUS, HOMEM DO POVO Frei Carlos Mesters e Wolfgang Gruen CAPÍTULO 1 O TEXTO DA BÍBLIA QUE NOS FALA DO PROFETA ELIAS 1. Texto incompleto, imagem completa O texto da Bíblia que nos fala do profeta Elias é como um álbum de fotografias. Mas é um álbum incompleto. Faltam as primeiras e as últimas páginas. A história começa no meio e termina antes do fim: nada diz sobre o nascimento e a vocação do profeta, nem sobre a sua velhice e morte. Sobraram só seis fotografias: seis capítulos! O texto se parece com o tijolo que o pedreiro colocou no buraco de uma parede já pronta. O buraco era menor que o tijolo. Para poder caber, cortou um pouco dos dois lados e ajeitou o resto com cimento. Mesmo assim, apesar de incompleto, o texto oferece uma imagem perfeita e completa de quem era Elias, do que ele fazia como profeta, e do ideal que ele queria realizar. Pois, para sentir todo o gosto de um bolo, não é preciso comer o bolo todo. Basta comer só um pedaço. E a Bíblia nos oferece seis pedaços! 2. Manter viva a memória do povo Cada um dos seis capítulos traz uma história sobre o profeta Elias. Seis fotografias, vivas e coloridas! Seis histórias soltas, independentes uma da outra! Antes de serem escritas, elas foram contadas pelo povo, transmitidas durante séculos, nas rodas de conversa. Mantinham viva a lembrança do profeta. Lembrança incômoda para os homens do poder. Estes, se dependesse deles, fariam com que a lembrança de Elias fosse esquecida e enterrada para sempre (cf. lRs 18,17; 19,1- 2; 21,20; 2Rs 1,9.11; 2Cr 21,12-15). Mas o povo não permitiu que Elias fosse esquecido. Fez questão de conservar a lembrança da sua vida, das suas andanças, e a história das suas lutas contra a rainha Jezabel e contra o rei Acab e o rei Ocozias. A história de Elias ajudava o povo a não esquecer o passado, a não perder a sua identidade, a consciência da sua missão. Servia para manter viva a memória subversiva do povo de Deus. 3. Ler a história dos Reis com os olhos de um profeta A história do profeta Elias ocupa quatro capítulos no primeiro livro dos Reis e dois no segundo: I Reis, capítulos 17, 18, 19 e 21; 2 Reis, capítulos 1 e 2. Na Bíblia dos cristãos, os livros dos Reis são chamados Livros Históricos, pois contam a história dos reis. Mas o que faz um profeta no meio dos reis? Como é que Elias, o defensor dos pequenos, foi parar no meio da história dos grandes? Na Bíblia dos judeus, os livros dos reis têm outro nome, a saber: Livros Proféticos ou, mais precisamente, Profetas Anteriores. Para eles, a finalidade principal destes livros não é informar ao povo o que os reis fizeram, mas é formar e ensinar o povo a ler a história dos reis com os olhos de uni profeta. É por isso que Elias aparece no meio dos reis criticando e condenando o comportamento dos grandes que oprimem e confundem os pequenos. 4. "Pegar o espírito da coisa!" A linguagem destes seis capítulos sobre o profeta Elias é simples e profunda. É linguagem popular. Ora, nas histórias que o povo conta nem tudo pode ser tomado ao pé da letra. Até hoje, as histórias do povo têm um significado mais profundo. O seu sentido fica para além da letra. Um exemplo de hoje: um lavrador dos sem-terra que participou da longa romaria realizada no Sul do país em 1986 contou: "Certo dia, o caminhão que carregava um grupo de romeiros caiu num buraco, mas não despencou nem virou. Ninguém se machucou! Foi Deus que segurou o caminhão!" Alguém que não participou da romaria perguntou: "Senhor João, como é que Deus segurou o caminhão? Usou guindaste?" O lavrador sorriu, teve dó do homem que fez a pergunta e respondeu com muito jeito: "O senhor não entendeu a história. Não pegou o espírito da coisa!" Pois bem, a Bíblia conta as histórias do profeta Elias para ajudar a gente a "pegar o espírito da coisa", o Espírito de Deus, presente nos fatos da nossa história.

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O PROFETA ELIAS: HOMEM DE DEUS, HOMEM DO POVO Frei Carlos Mesters e Wolfgang Gruen

CAPÍTULO 1 O TEXTO DA BÍBLIA QUE NOS FALA DO PROFETA ELIAS 1. Texto incompleto, imagem completa O texto da Bíblia que nos fala do profeta Elias é como um álbum de fotografias. Mas é um

álbum incompleto. Faltam as primeiras e as últimas páginas. A história começa no meio e termina antes do fim: nada diz sobre o nascimento e a vocação do profeta, nem sobre a sua velhice e morte. Sobraram só seis fotografias: seis capítulos! O texto se parece com o tijolo que o pedreiro colocou no buraco de uma parede já pronta. O buraco era menor que o tijolo. Para poder caber, cortou um pouco dos dois lados e ajeitou o resto com cimento.

Mesmo assim, apesar de incompleto, o texto oferece uma imagem perfeita e completa de quem era Elias, do que ele fazia como profeta, e do ideal que ele queria realizar. Pois, para sentir todo o gosto de um bolo, não é preciso comer o bolo todo. Basta comer só um pedaço. E a Bíblia nos oferece seis pedaços!

2. Manter viva a memória do povo Cada um dos seis capítulos traz uma história sobre o profeta Elias. Seis fotografias, vivas e

coloridas! Seis histórias soltas, independentes uma da outra! Antes de serem escritas, elas foram contadas pelo povo, transmitidas durante séculos, nas rodas de conversa. Mantinham viva a lembrança do profeta. Lembrança incômoda para os homens do poder. Estes, se dependesse deles, fariam com que a lembrança de Elias fosse esquecida e enterrada para sempre (cf. lRs 18,17; 19,1-2; 21,20; 2Rs 1,9.11; 2Cr 21,12-15).

Mas o povo não permitiu que Elias fosse esquecido. Fez questão de conservar a lembrança da sua vida, das suas andanças, e a história das suas lutas contra a rainha Jezabel e contra o rei Acab e o rei Ocozias. A história de Elias ajudava o povo a não esquecer o passado, a não perder a sua identidade, a consciência da sua missão. Servia para manter viva a memória subversiva do povo de Deus.

3. Ler a história dos Reis com os olhos de um profe ta A história do profeta Elias ocupa quatro capítulos no primeiro livro dos Reis e dois no

segundo: I Reis, capítulos 17, 18, 19 e 21; 2 Reis, capítulos 1 e 2. Na Bíblia dos cristãos, os livros dos Reis são chamados Livros Históricos, pois contam a história dos reis. Mas o que faz um profeta no meio dos reis? Como é que Elias, o defensor dos pequenos, foi parar no meio da história dos grandes?

Na Bíblia dos judeus, os livros dos reis têm outro nome, a saber: Livros Proféticos ou, mais precisamente, Profetas Anteriores. Para eles, a finalidade principal destes livros não é informar ao povo o que os reis fizeram, mas é formar e ensinar o povo a ler a história dos reis com os olhos de uni profeta. É por isso que Elias aparece no meio dos reis criticando e condenando o comportamento dos grandes que oprimem e confundem os pequenos.

4. "Pegar o espírito da coisa!" A linguagem destes seis capítulos sobre o profeta Elias é simples e profunda. É linguagem

popular. Ora, nas histórias que o povo conta nem tudo pode ser tomado ao pé da letra. Até hoje, as histórias do povo têm um significado mais profundo. O seu sentido fica para além da letra.

Um exemplo de hoje: um lavrador dos sem-terra que participou da longa romaria realizada no Sul do país em 1986 contou: "Certo dia, o caminhão que carregava um grupo de romeiros caiu num buraco, mas não despencou nem virou. Ninguém se machucou! Foi Deus que segurou o caminhão!" Alguém que não participou da romaria perguntou: "Senhor João, como é que Deus segurou o caminhão? Usou guindaste?" O lavrador sorriu, teve dó do homem que fez a pergunta e respondeu com muito jeito: "O senhor não entendeu a história. Não pegou o espírito da coisa!"

Pois bem, a Bíblia conta as histórias do profeta Elias para ajudar a gente a "pegar o espírito da coisa", o Espírito de Deus, presente nos fatos da nossa história.

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5. Animar e orientar a luta do povo A origem destas histórias, sem dúvida nenhuma, está nos grupos dos profetas que viviam ao

redor de Elias e de Eliseu, seu sucessor (2Rs 2,35.7; 1Rs 18,4.13). Eles tinham o "espírito de Elias" (2Rs 2,9.15). Como Elias, lutavam para manter o povo na fidelidade a Javé (lRs 18,21) e na observância da lei de Deus (lRs 19,10).

Eles é que contavam e divulgavam as histórias de Elias para orientar o povo na defesa da aliança e para animá-lo a não desistir da luta contra o abuso da religião promovido pelos homens do poder (lRs 16,32-33; 21,8-10; 2Rs 1,2), contra a falsa imagem de Deus divulgada pelos profetas de Baal (lRs 18,27), contra a opressão e a exploração do povo comandadas pelo próprio rei (lRs 21,19; 1Rs 18,12.14), contra a rainha Jezabel que perseguia e matava os profetas (lRs 18,13; 19,1-2).

6. Revelar o rosto de Deus As histórias de Elias funcionavam como um espelho. O povo olhava lá dentro e descobria a

grande verdade: "Deus está conosco na luta pela defesa da aliança!" E não só! Descobria também as exigências de Deus. Descobria o rosto de Deus nos fatos da vida e da história. O rosto de Deus é o anúncio mais subversivo e mais incômodo, mais exigente e mais libertador que se possa imaginar! .

Hoje, o povo que luta por terra e por justiça, por fraternidade e por nova sociedade, olha no espelho das histórias de Elias e descobre nelas de que lado Deus está. Descobre o que Deus quer de nós, quais as suas exigências e apelos, como Ele está presente na luta.do povo. Descobre o rosto de Deus olhando para nós de dentro dos fatos da nossa vida e história.

7. Discernir entre verdadeiros e falsos profetas Um álbum de fotografias pode não ser completo. A Bíblia pode não informar tudo o que a

gente gostaria de saber sobre o profeta Elias. Mas o que não é incompleto nas histórias de Elias é a imagem, o retrato, que a Bíblia aí nos deixou de Elias. É o retrato de como deve ser o verdadeiro profeta. Através daquelas seis histórias, a Bíblia nos oferece o modelo perfeito do profeta ideal.

Em outras palavras, as histórias de Elias serviam e até hoje servem como critério para o povo poder discernir entre verdadeiros e falsos profetas. Este discernimento nem sempre era fácil (cf. lRs 22,5-28).

CAPÍTULO 2 COMO COMEÇOU A AÇÃO DOS PROFETAS ANTES DE ELIAS 1. No início, os profetas eram chamados videntes No começo da história do povo de Deus ainda não era bem claro o que vinha a ser um

profeta. Havia profeta para tudo! Havia profetas não só no povo de Deus, mas também nos outros povos. O profeta era uma figura comum da cultura daquele tempo.

Bem no começo, tanto no povo de Israel como nos outros povos, os profetas eram grupos religiosos de artistas e cantantes, videntes e poetas, carismáticos e beatos (lSm 10,5.10). Com a ajuda de instrumentos musicais (lSm 10,5; 2Rs 3,15), eles entravam em transe coletivo e dançavam. Ninguém resistia. Todos entravam na dança (lSm 19,20-24).

Eram grupos muito populares. O povo considerava os profetas como pessoas ligadas à divindade, "homens de Deus" (lSm 9,6). Por isso, procurava-os para resolver os seus problemas como, por exemplo, a perda de um jumento (l8m 9,3-6.20), problema de saúde (lRs 17,17-18), falta de água potável (2Rs 2,19-22). Os profetas eram os conselheiros do povo, chamados "videntes". Diz a Bíblia: ''Antigamente, em Israel, quando alguém ia consultar a Deus, dizia: 'Vamos ao vidente', porque, em vez de 'profeta', como hoje se diz, dizia-se 'vidente' " (l8m 9,9).

2. No início, rei e profeta andavam juntos Tanto em Israel como nos outros povos, os reis e os governantes procuravam o apoio destes

grupos proféticos ou carismáticos. O apoio de um profeta significava o apoio de Deus! Era uma espécie de confirmação divina do poder do rei. Com o apoio de um profeta era . mais fácil levar o povo a obedecer ao governo e a cumprir as ordens do rei.

E assim se faz até hoje. Os políticos e os homens do poder procuram o apoio da religião: vão à Aparecida do Norte, tiram fotografia com o Papa, visitam os terreiros, consultam videntes e

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cartomantes. A religião continua sendo usada e até manipulada pelos homens do poder. O mesmo acontece no início da história do povo de Israel. Os chefes das doze tribos

procuram o apoio do profeta 8amuel para mudar o sistema do Governo e introduzir o rei (18m 8,4-5). Os três primeiros reis, Saul, Davi e Salomão, surgem, cada qual por sua vez, com o apoio de um profeta (18m 10,1.24; 16,1-13; 28m 7,1-17; 2Rs 1,34). Até mesmo o rei Jeroboão, tão criticado posteriormente pelos próprios profetas, tem o apoio de um profeta para realizar a separação entre os reinos de Israel e Judá (lRs 11,29-31).

Em resumo, no início, os reis de Israel podiam contar com o apoio dos profetas. Pois a monarquia era, naquele momento, a expressão da vontade de Deus para o povo. Mas foi só por pouco tempo!

3. O engano trágico dos homens do poder Aos poucos, nas comunidades do povo de Israel, a figura do profeta começa a ter um rosto

próprio, diferente dos profetas dos outros povos. Na maioria dos outros povos, o rei era considerado filho de deus. Mas o deus deles não

passava de uma invenção humana, criada para legitimar o assim chamado "direito do rei" (18m 8,9). Os profetas destes deuses não tinham autonomia. Eram empregados do rei, controlados por ele. Dificilmente eles chegavam a ser uma força crítica frente ao poder do rei. Em vez de independentes, dependiam do rei e eram sustentados por ele. Comiam da mesa da rainha (1Rs 18,19). Os reis podiam contar sempre com o apoio dos seus profetas. Ou seja, Deus, a religião e os profetas faziam parte do sistema dos reis. Eram uma peça importante no motor da sociedade daquele tempo.

Ora, os reis de Israel, após um início de muita esperança, começam a imitar estes outros reis (18m 8,5.20; 1Rs 11,1-2), e "o seu coração já não é todo de Javé como tinha sido o coração de Davi" (1Rs 11,4). Apoiando-se no "direito do rei" (18m 8,11-18), introduzem os trabalhos forçados (1Rs 5,27[13]; 1Rs 12,4), desviam o povo dá aliança e prestam culto aos falsos deuses (1Rs 11,1-13). Trazem de volta a opressão do Egito, da qual Deus tinha dito: "Para o Egito vocês nunca mais vão poder voltar!" (Dt 17,16). E o pior é que eles fazem tudo isto como se estivesse de acordo com a vontade de Javé que os tirou do Egito (lRs 12,28). Imaginam Javé, o Deus do povo, como um daqueles falsos deuses dos outros povos, como um ídolo qualquer, sem autonomia, a serviço exclusivo dos interesses da monarquia. E é aqui que está o engano dos reis, o erro trágico dos homens do poder. Javé, o Deus de Israel, não é igual aos outros deuses!

4. Javé, o nosso Deus, é um Deus diferente! Javé não é um deus criado pelo povo, mas é, Ele mesmo, o Criador do povo! Não é uma

invenção humana para o rei conseguir o apoio do povo. Pelo contrário! É o rei que deve obedecer a Javé e ser o seu representante para governar o povo, não de acordo com o "direito do rei", mas de acordo com os Dez Mandamentos da Lei de Deus (Dt 17,18-19). Javé não é uma peça no plano do rei, mas o rei é que deve ser o executor do plano de Javé!

Javé, o Deus de Israel, é um Deus diferente! E é por isso que também os profetas de Javé são diferentes. Eles não podem ser iguais aos profetas dos outros povos. Sendo "homens de Deus", eles têm a sua experiência de Deus e reagem de acordo com as exigências de Deus.

A experiência de Javé, o Deus do povo, traz consigo a sua própria evidência. É, antes de tudo, uma experiência do Deus dos pais, do Deus da aliança, do mesmo Deus que tirou o povo do Egito. Por isso, ela traz consigo a lembrança de tudo o que Deus fez no passado. O profeta toma-se a memória crítica do povo. Lembra coisas incômodas que muitos gostariam de esquecer. A experiência da santidade de Deus é, ao mesmo tempo, a experiência do pecado e das falhas que existem no meio do povo e na vida dos seus governantes. É nesta experiência de Deus e do povo de Deus que está a fonte da liberdade e da autonomia do profeta frente ao poder do rei. Aqui está a semente do futuro conflito entre reis e profetas.

5. O conflito entre reis e profetas A semente deste conflito já existia no chão da vida do povo desde os tempos de Moisés,

chamado profeta (Dt 18,17), desde os tempos da profetisa Débora (Jz 4,4) e do profeta Samuel (ISm 3,20). A semente era e continua sendo a própria fé em Javé, o Deus do povo. O conflito cresce lentamente, aos poucos. À medida que os reis de Israel imitam a prática dos outros povos, nesta

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mesma medida os profetas reagem e os criticam. Inicia-se assim a lenta separação das águas. Começa a tensão entre carisma e poder.

A separação ficou clara e definitiva na ação de Elias. Com Elias, a profecia irrompe do fundo da consciência do povo de Deus e surge como força independente, livre frente ao poder do rei, expressão da liberdade do próprio Deus frente aos homens, suas criaturas. A partir de Elias, os profetas tomam o rumo da defesa da aliança e da vida do povo contra a prepotência do poder.

Diante da resistência e da crítica que o profeta lhe faz, o rei percebe que não é dono nem de. Deus e nem do povo. O seu poder não é ilimitado nem pode ser usado sem controle. O único dono de tudo e de todos é Javé, o Deus do povo, do qual tanto o rei como o profeta devem ser empregados para servir ao povo de Deus, cada um a seu modo, dentro das exigências da aliança.

6. Verdadeiros e falsos profetas Nem todos os profetas seguem o exemplo de Elias (IRs 22,6). Sempre teve e sempre terá

profetas e profetisas (Ez 13,17) ligados aos falsos deuses do poder opressor. Eles usam a religião em benefício próprio e reduzem Deus ao tamanho das suas próprias idéias e interesses.

Estes são os assim chamados "falsos profetas": confundem o povo (Jr 27,9-10), fazem a propaganda do sistema do rei e só falam aquilo que o rei gosta de ouvir (IRs 22,6.11-12). Esta luta entre verdadeiros e falsos profetas percorre toda a história dos reis, desde Elias (IRs 18,13; 19,10) até o cativeiro. Quase todos os profetas tiveram problemas, conflitos e brigas com os falsos profetas (Jr 28,1-17; 23,9-40; 14,13-16; Ez 13,1-23; Is 28,7-13).

Para o povo não era fácil discernir (IRs 22,8). Eles se perguntavam: "Como saber se tal e tal palavra do profeta é realmente de Javé?" (Dt 18,21). Problema sério que continua até hoje! O povo fica confuso diante das divergências inevitáveis, existentes dentro da Igreja: um bispo diz uma coisa, outro diz outra! O que fazer? Como discernir quando todos pretendem falar em nome de Deus? Como fez o povo daquele tempo para resolver este problema? Quais os critérios que usavam para discernir entre verdadeiros e falsos profetas?

7. Os critérios para discernir A Bíblia registra vários critérios para discernir entre verdadeiros e falsos profetas. Eis alguns

deles: 1. Deus disse a Moisés: "Vou suscitar para eles um profeta como tu!" (Dt 18,17). Um

critério básico é verificar se as palavras e a prática do profeta estão em continuidade com Moisés (Dt 18,15.18). Moisés é visto pelo povo como o maior de todos os profetas (Nm 12,6-8; Dt 34,10-12).

2. Como já vimos, Elias ficou na memória do povo como marco e modelo do profeta ideal. As histórias de Elias servem como norma para avaliar as pessoas que se apresentam como profeta de Javé ao povo.

3. Critério seguro é verificar se os sinais anunciados pelo profeta se realizam. Neste caso, eles confirmam a profecia como sendo de Javé. "Se o profeta fala em nome de Javé, mas a palavra não se cumpre nem se realiza, trata-se então de uma palavra que Javé não disse. Tal profeta falou com presunção. Não o temas" (Dt 18,22; cf. lSm 10,1-8; lRs 22,28; Is 7,14; Jr 28,15-16; 44,29-30).

4. Às vezes, não basta que o sinal anunciado se realize. Há falsos profetas que realizam sinais e, ao mesmo tempo, confundem o povo dizendo: "Vamos seguir outros deuses e servi-los!" (Dt 13,3). "Não ouças as palavras deste profeta! Porque é Javé vosso Deus que vos experimenta, para saber se de fato amais a Javé vosso Deus com todo o vosso coração e com todo o vosso ser!" (Dt 13,4). Com outras palavras, o critério mais seguro é quando a vida e a mensagem do profeta estão de acordo com a aliança e com os mandamentos da lei de Deus (Dt 13,2-6; Jr 23,16-18).

CAPÍTULO 3 A SITUAÇÃO DO POVO QUE PROVOCOU A AÇÃO DE ELIAS 1. Captar o grito calado do pobre Onde aparecem cacos de vidro no chão, você passa, olha e diz: "Alguém quebrou a janela!"

Onde aparecem pobres no meio do povo de Deus, o profeta passa, olha e diz: "Alguém quebrou a

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aliança!" Alguns se acostumam com os cacos e os ignoram. O profeta faz o contrário. Confronta o povo com os pobres e exige mudança em nome de Deus: "Entre vocês não podem ex;istir pobres" (Dt 15,4).

A aliança com Deus pede que todos sejam irmãos (Lv 19,15-18), que os bens sejam partilhados (Dt 15,7; Ex 16,4), que o poder seja serviço (Dt 17,14-20; Ex 18,13-23), que o pobre não seja explorado (Ex 22,20-26), que os Dez Mandamentos sejam observados (Ex 20,1-17), que o povo nunca mais volte para o Egito (Dt 17,16). Vivendo assim, o povo cumpre a aliança e imita a Deus que escuta o clamor dos pobres (Ex 22,22.26) e desce para libertá-los (Ex 3,8). Se o povo observar tudo isto, não haverá pobre no meio dele (Dt 15,4-5).

Se, no entanto, aparecer algum pobre no meio do povo, "mesmo que seja um só dos teus irmãos, numa das tuas cidades" (Dt 15,7), então é um sinal de que alguém quebrou a aliança. Alguém se apoderou do que não lhe pertence e, assim, empobreceu o irmão. Por isso, mesmo sem dizer nada, apenas existindo, o pobre, isto é, o empobrecido, é um grito que faz apelo à consciência do povo de Deus.

O profeta capta o grito calado do pobre e o devolve ao povo. Ele o interpreta como expressão do apelo de Deus. Por isso, o profeta incomoda e provoca a raiva muitas vezes irracional daqueles que se enriquecem à custa dos pobres.

2. Elias entra em cena Elias aparece em torno do ano 860 antes de Cristo. Época de uma seca que durou mais de

três anos (IRs 17,1 e lRs 18,1; Tg 5,17). Época de Omri e Acab, reis de Israel. Elias se apresenta a Acab e lhe diz que a seca é castigo de Deus: "Juro por Javé, Deus de Israel, a quem sirvo: nestes anos não haverá orvalho, nem chuva, a não ser quando eu mandar" (IRs 17,1).

Elias entra em cena provocando um conflito aberto com as autoridades. O conflito é tão grave que o rei considera Elias como um "inimigo" (lRs 21,20) que merece a morte (lRs 19,1-2). Elias é denunciado como sendo o responsável pelos males que se abatem sobre o país, como o "flagelo de Israel" (IRs 18,17). O rei manda emissários por todo canto para prendê-lo (lRs 18,10).

Quais os erros na vida do povo que levaram Elias a falar e a agir? Qual o apelo de Deus que ele escutou?

E o que ele fez para merecer uma reação tão violenta por parte do rei e da rainha? 3. A preocupação do rei: "salvar os cavalos e os bu rros" Omri, o pai de Acab, era chefe do exército do rei de Israel (IRs 16,16). Num momento de

muita confusão (IRs 16,8-16), ele tomou o poder (1Rs 16,17-22). Seu filho Acab consolidou o poder. Pai e filho, juntos, reina- . ram ao todo durante 34 anos (IRs 16,23-29). Trouxeram grande desenvolvimento econômico, atestado até hoje pela arqueologia e pela Bíblia.

Omri fez de Samaria a sua nova capital (1Rs 16, 23-24), e Acab construiu aí a sua "casa de marfim" (IRs 22,39), condenada mais tarde pelo profeta Amós (Am 3,15; 6,4). Além disso, Acab mandou reconstruir e fortificar as cidades (IRs 16,34; 22,39) e fez uma aliança com o rei de Tiro que foi selada através do casamento com Jezabel, a filha do rei de Tiro (IRs 16,31).

Mas o progresso econômico era feito à custa de mui- . tas injustiças. Na antiga capital Tersa, por exemplo, onde Omri reinou durante seis anos (1Rs 16,23), os arqueólogos encontraram vestígios de bairros ricos e pobres.

Apelando para o "direito do rei" (IRs 21,7), Acab e Jezabel pisavam nos pobres, roubavam suas terras e matavam para alcançar o que queriam, como se fossem donos da vida e da morte dos seus súditos! (lRs 21,1-16). E para tanto eles podiam contar com a ajuda e o apoio dos "nobres", dos "anciãos" (IRs 21,8) e dos "chefes militares" (2Rs 1,9.11).

Naquela época de seca e de fome (IRs 17,12; 18,2), o rei não se preocupava nem um pouco em salvar o povo, mas só em "manter vivos os cavalos e os burros" (lRs 18,5). Isto é, ele só estava preocupado em manter o seu poder ("cavalos") e em aumentar a sua riqueza ("burros"). Assim, comodamente sentados no luxo da sua capital Samaria (Am 6,1), os ricos faziam as suas festas àcusta dos pobres e dos indigentes (Am 4,1), "sem se preocupar com a ruína de José (do povo)" (Am 6,6).

4. Povo dividido, aliança quebrada, religião manipu lada!

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Desapareceu a igualdade e a fraternidade. O povo rachou no meio: de um lado, o rei, os anciãos, os nobres, os chefes militares; do outro lado, os lavradores, as viúvas, os profetas perseguidos, os pobres! A aliança estava quebrada! (lRs 19,10.14).

O culpado de tudo era o próprio rei (IRs 18,18), que já não se importava nem com a aliança nem com os pobres. "Fez o mal aos olhos de Javé" (IRs 16,30): abandonou Javé, o Deus do povo (IRs 18,18), e permitiu que Jezabel, sua esposa, trouxesse consigo o falso deus Baal e o instalasse no templo de Samaria (1Rs 16,31-32).

Os profetas deste falso deus gozavam de muitos privilégios na casa de Jezabel (IRs 18,19), enquanto os verdadeiros profetas, companheiros de Elias, eram perseguidos e mortos (IRs 18,13; 19,10.14). O número dos falsos profetas era imenso: havia 450 profetas de Baal que vieram com Jezabellá de Tiro (IRs 18,19). Havia outros 400 profetas ligados ao rei Acab (IRs 22,6). Todos eles faziam a propaganda do rei e da rainha, enquanto Elias estava sozinho para divulgar a mensagem de Javé, o Deus do povo (IRs 18,22; 19,10).

Quem não pensava conforme a cabeça do rei era considerado "flagelo do povo" (IRs 18,18) e "inimigo do rei" (IRs 21,20). O povo ficou com medo, sem coragem de contestar e de reagir (lRs 18,12.14). Ficou confuso, sem saber de que lado ficar (lRs 18,21).

5. Esconder do povo o rosto de Deus Na prática, Javé, o Deus do povo, o Deus vivo e verdadeiro, ficou enquadrado dentro do

sistema da monarquia, reduzido ao tamanho dos interesses de Acab. Era venerado como se fosse um ídolo qualquer, um baal, peça central do sistema do rei.

Deste modo, a estrutura injusta da sociedade não só roubava do povo o dinheiro e o poder, mas - o que era pior - escondia dele o rosto de Javé. E quando o rosto de Javé fica escondido, tudo se desintegra, e o povo perde o sentido de sua vida! Teve gente que chegou ao absurdo de sacrificar seu próprio filho aos falsos deuses! Como se os deuses precisassem do sangue humano para poder garantir a segurança aos seus protegidos! (IRs 16,34).

A falsa imagem de Deus, que estava sendo difundida no meio do povo através dos profetas de Baal, era a imagem de um deus distante, ocupado em altos negócios, um deus conversador, viajante, dorminhoco, que precisava ser acordado: "Gritem mais! Ele é deus! Talvez esteja conversando ou fazendo negócios! Quem sabe, ele está viajando! Talvez esteja dormindo e precisa ser acordado!" (IRs 18,27).

Um deus assim só favorece aos que têm força, prestígio e dinheiro. Jamais escutará o clamor dos pequenos e, dificilmente, será invocado por eles. Um deus assim só serve para legitimar a opressão e a dominação.

6. Fazer o mal aos olhos de Javé Ao relatar a vida de Omri e Acab, reis de Israel, a Bíblia afirma de cada um deles: "Fez o

mal aos olhos de Javé" (IRs 16,25.30). A mesma frase, ou frase semelhante, é usada para todos os reis de Israel, desde Acab até Oséias, o último (2Rs 17,2). Todos eles, sem exceção, "fizeram o mal aos olhos de Javé". E muitas vezes se acrescenta ainda que "imitou o comportamento de seus pais" (IRs 22,53; 2Rs 8,27; 13,2; 14,24 etc).

Com outras palavras, o vício e o pecado passavam de pai para filho. O sistema do rei era tão forte que não morria com a morte do rei. Tinha vida mais resistente do que os seus mantenedores! A sua organização se reproduzia e conseguia sobreviver e se fortalecer. De certo modo, todos eram prisioneiros do sistema que eles mesmos criaram e que, no fim, os levou para a ruína (2Rs 17,7-18).

Foi graças a este sistema que as portas se abriram para os falsos deuses com seus cultos sem compromisso e com seus numerosos profetas que se encarregavam da propaganda oficial no meio do povo.

Foi por causa deste sistema que, no tempo de Elias, quase todos abandonaram a aliança (IRs 19,10.14), muitos ficaram confusos, sem saber de que lado ficar (IRs 19,21), outros já nem questionavam o sistema e obedeciam cegamente às ordens do rei, seja para matar o irmão (IRs 21,11-14), seja para prender os profetas de Javé, contrários ao sistema (2Rs 1,9-12).

7. Sementes de resistência Debaixo desta situação de opressão, apesar de todas as aparências em contrário, o começo

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do futuro se anunciava. Havia os que resistiam à pressão do ambiente. Apesar de tudo, continuavam fiéis à aliança:

Abdias, o empregado do rei, contrariou as ordens da rainha e, com risco de vida, salvou a vida de cem profetas, sustentando-os no escondido (1Rs 18,13). A viúva de Sarepta, pobre e estrangeira, continuava fiel ao ideal da partilha e soube dividir com Elias o pouco de pão e de azeite que lhe restava (1Rs 17,13-15). Nabot, o lavrador, continuava fiel à lei que proibia a venda e troca de terras (1Rs 21,3). Havia os grupos dos profetas, companheiros de Elias, que viviam em Betel (2Rs 2,3) e em Jericó (2Rs 2,5). Finalmente, havia ainda sete mil pessoas que não tinhàm dobrado o joelho diante dos falsos deuses (lRs 19,18).

Numa palavra, os pobres, os pequenos, os anônimos, os desconhecidos, os profetas continuavam fiéis à aliança. Calados e escondidos resistiam à pressão do rei e da rainha. É do meio deles que surge o profeta Elias para denunciar o que estava errado e revelar novamente o rosto de Deus ao povo. Ele assumiu a defesa dos pequenos e se tornou a grande revelação do Deus vivo. Ele entrou na memória do povo, que nos conservou o seu retrato.

CAPÍTULO 4 O RETRATO QUE O POVO NOS DEIXOU DO PROFETA ELIAS 1. Homem de Deus O profeta Elias' é conhecido como "Homem de Deus" (lRs 17,18.24; 2Rs' 1,9.11.13). Não de

qualquer Deus, mas de Javé"o Deus do povo, Deus vivo e libertador, o Deus da aliança.' O lema de Elias, a sua marca registrada, era: "Juro por Javé, Deus de Israel, a quem sirvo". É com esta frase que ele entra na história do povo e se apresenta ao rei (lRs 17,1; 18,15).

Elias permitiu que Deus tomasse conta de sua vida: a palavra de Deus vinha até ele e o levava a agir (lRs 17,2.8.24; 18,1; 19,9.15; 21,17.28); o anjo de Deus o animava e o orientava (lRs 19,5.7; 2Rs 1,3.15); o Espírito de Deus podia dispor dele e arrebatá-lo a qualquer momento para os serviços mais imprevisíveis (lRs 18,12; 2Rs 2,16); a mão de Deus vinha sobre ele e o fazia correr mais depressa que o próprio rei (lRs 18,46).

Esta experiência tão profunda de Javé, o Deus do povo, capacita Elias a perceber e a desmascarar a falsa imagem de Deus divulgada pela religião do rei (1 Rs 18,27 e a ser para o povo a revelação do" Deus vivo e verdadeiro (IRs 18,39), a ponto de se falar no "Deus de Elias" (2Rs 2,14). Elias não age por interesse próprio. É o zelo pela causa de Deus que o empurra (IRs 19,10.14). Tudo o que faz, ele o faz em nome de Deus (IRs 18,36).

Para os pobres, Elias é o "homem de Deus que fala as palavras de Deus" (IRs 17,24). Para os companheiros, os profetas das comunidades de Betel e Jericó, ele é conhecido como o homem sempre disponível que pode ser arrebatado a qualquer momento pela ação imprevisível do Espírito de Deus (2Rs 2,3.5). Ele entrou na. história como o "homem de fogo, cuja palavra ardia como uma tocha" (Eclo 48,1) e como aquele que deve voltar no fim dos tempos para "restabelecer as tribos de Israel" (Eclo 48,10) e, assim, "preparar um povo bem organizado para o Senhor" (Lc 1,17).

2. Homem do povo Homem de Deus, Elias era também homem do povo. Dois lados da mesma medalha, duas

fotografias do mesmo rosto! Deus do povo, povo de Deus! Elias nasceu em Tesbi. Daí o seu apelido Tesbita (IRs 17,1; 2Rs 1,3.8). Tesbi era um

povoado que ficava na região de Galaad, na Transjordânia, do outro lado do Jordão, no nordeste da Palestina. Terra de fortes tradições religiosas com um povo aguerrido e conservador. Conservador no bom sentido da palavra: conservava os valores da fé no Deus vivo e verdadeiro e reagia fortemente contra os desmandos e abusos do rei.

Membro deste povo de lavradores, Elias não freqüentava o palácio do rei, nem comia da mesa da rainha Jezabel como faziam os profetas oficiais (IRs 18,19).

Mas vivia na solidão do deserto (IRs 17,3; 19,4) e das montanhas (2Rs 1,9), ou convivia com os pobres (IRs 17,19). Vestia roupas grosseiras (2Rs 1,8) e se alimentava daquilo que a natureza lhe oferecia (IRs 17,4-6) ou que os pobres com ele partilhavam (IRs 17,11-16).

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De um lado, a sua união com Deus não o afasta dos irmãos. Pelo contrário! Faz com que ele se aproxime cada vez mais do povo oprimido: da viúva de Sarepta, pobre e faminta (IRs 17,9); de Abdias, o empregado esforçado, ameaçado de morte (IRs 18,7-16); de Nabot, o agricultor assassinado por causa de problemas de terra (IRs 21,17-19), do povo enganado e confuso (IRs 18,20-24).

De outro lado, a sua convivência com os pobres não o afasta de Deus. Pelo contrário! Faz com que o busque cada vez mais: a sua convivência com a viúva o leva a rezar por ela e por seu filho (IRs 17,20-22); a sua luta em favor do povo abandonado o leva a procurar Deus no monte Horeb e a reencontrar nele a fonte da sua coragem (IRs 19,1-14).

Elias participa ativamente da vida nacional: tira a seca da neutralidade e interpreta, à luz dos acontecimentos, como castigo de Deus (IRs 17,1); convoca o povo ao monte Carmelo e o ajuda a decidir-se diante dos fatos e diante de Deus (IRs 18,21); intervém no processo político de Aram e de Israel (IRs 19,15-16).

3. Homem de oração Homem de Deus e do povo, Elias é homem de oração. É esta a lição que dele ficou na

memória do povo até no Novo Testamento. Diz São Tiago na sua carta: ''A oração fervorosa do justo tem grande poder. Assim, Elias, homem semelhante a nós, orou com insistência para que não chovesse, e não houve chuva na terra durante três anos e seis meses. Em seguida, tornou a orar e o céu deu a sua chuva e a terra voltou a produzir o seu fruto" (Tg 5,16-18).

Elias sabia rezar. A sua oração acionava o poder de Deus a favor do povo: devolveu a vida ao filho da viúva (1Rs 17,22); trouxe a chuva após uma seca prolongada (lRs 18,41-45; Tg 5,18); fez o fogo descer sobre o capitão que cumpria as ordens injustas do rei (2Rs 1,10.12); fez o fogo consumir o sacrifício e provou ao povo que Javé é o verdadeiro Deus (1Rs 18,36-38).

Elias reabastecia a sua vida de oração e de união com Deus nas fontes da fé que estavam na origem do povo: retirou-se para o deserto de Carit do outro lado do Jordão (1Rs 17,3), de onde, nos tempos dos Juízes, o povo tinha vindo para ocupar a terra (Js 3,1-17); bebeu da torrente e recebia pão e carne (lRs 17,5) como o povo no tempo do deserto (Ex 17,6; 16,1-36); andou no deserto ao sul de Bersabéia, quarenta dias e quarenta noites (1Rs 19,3-8), onde, no tempo do êxodo, o povo andou por quarenta anos (Dt 8,2); foi o monte Horeb, a montanha de Deus, onde, nos tempos do êxodo, nascera o povo e fora concluída a aliança com Deus (1Rs 19,8-13); vivia na solidão das montanhas (1Rs 18,19.42; 2Rs 1,9), pois o Deus de Israel era conhecido como um Deus das montanhas (1Rs 20,23.28); convive com a viúva que, apesar da seca e da pobreza, conservava o ideal.

Antigo da Aliança e praticava a partilha dos poucos bens que possuía (lRs 17,19). Numa palavra, Elias refaz a caminhada do Povo de Deus, volta às fontes da fé e, assim, reencontra Deus e se coloca a seu serviço.

Deste modo, através de uma oração encarnada na vida e na história do seu povo, a vida de Elias se torna transparente, sinal eloqüente da presença viva de Javé no meio do povo. O próprio nome do profeta é o resumo da sua fé e do seu testemunho: Elias quer dizer Meu Deus é Javé!

4. Toma posição nos conflitos Javé, o Deus de Elias, não é neutro. Por isso, Elias não é neutro. Ele toma posição clara nos

conflitos. Coloca-se do lado dos pequenos e oprimidos e assume a sua causa. Toma posição contra os grandes que oprimem e exploram o povo.

Toma posição contra o rei Acab que transgride a aliança (1Rs 18,18); contra a rainha Jezabel que rouba e mata (1Rs 21,23); contra o rei Ocozias que consulta os falsos deuses (2Rs 1,3-4); contra o rei Jorão de Judá que mata os irmãos e leva o povo a se prostituir com outros deuses (2Cr 21,12-15); contra os falsos profetas que sustentam o governo injusto de Acab e Jezabel (1Rs 18,40); contra o capitão que executa ordens injustas de prisão (2Rs 1,10).

Toma posição a favor da viúva e do' seu filho, ambos pobres, que fazem a partilha do pouco que lhes resta para viver (1Rs 17,11-16); a favor de Abdias, o empregado do rei, que com risco de vida desobedece à rainha e defende à vida de cem profetas de Javé (1Rs 18,7-15); a favor de Nabot, agricultor assassinado por causa da sua fidelidade à lei que proibia vender ou trocar as terras (1Rs

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21,7-19 e Lv 25,23); a favor do capitão que, por amor à vida, desobedece à ordem do rei (2Rs 1,12-15); em defesa do povo confuso que foi desviado pela propaganda dos falsos profetas (1Rs 18,20-21.39).

Numa palavra, através da sua ação tão decidida e da sua palavra tão clara, Elias se faz porta-voz e revelação de Javé, o Deus do povo. Faz saber que o Espírito de Javé intervém na história humana a favor e em defesa dos pequenos e dos oprimidos que conservam a Aliança e contra os opressores que praticam a injustiça.

Por causa dos conflitos que assim enfrenta, Elias é perseguido e ameaçado de morte (IRs 19,1-2), procurado pelo rei em todo canto (lRs 18,10), intimado a descer da montanha e a comparecer diante do rei (2Rs 1, 9.11). Deve fugir para o outro lado do Jordão, de volta para a sua terra de origem (lRs 17,3), ou para o deserto no sul do país (lRs 19,3). Ele assume as conseqüências!

5. Sinal de contradição Nem todos reconhecem Elias como profeta de Javé. Para Acab, o rei, ele é o "inimigo" (lRs

21,20), o "flagelo de Israel" (IRs 18,17). Para os funcionários do rei, ele é um desconhecido de aparência estranha, vestido de pêlos (2Rs 1,6-8). Para a rainha Jezabel, ele é uma pessoa perigosa que deve ser exterminada o mais rápido possível (IRs 19,2).

Só os pequenos souberam reconhecer a verdadeira identidade do profeta e aceitar a sua mensagem. Eles reconhecem os sinais que ele coloca e se abrem para Deus: a viúva de Sarepta (IRs 17,24); Abdias, o empregado do rei (IRs 18,7-8.12); o capitão medroso com amor à vida (2Rs 1,13-14); Eliseu, que abandonou tudo para seguir a Elias (IRs 19,19-21); os companheiros profetas das comunidades de Betel e Jericó (2Rs 2,14-15); o povo confuso e abandonado (lRs 18,39-40).

Os grandes não o reconhecem porque defendem interesses contrários. O rei transgride as exigências da aliança (IRs 18,18; 19,10.14; 21,20). Os seus interesses são: salvar os "cavalos" (exército) e os "burros" (comércio) (IRs 18,5), aumentar as suas terras (IRs 21,2), matar os seus adversários (IRs 19,1-2), ganhar as guerras (IRs 22,1-6). Os interesses dos funcionários do rei, isto é, dos "nobres e anciãos" (lRs 21,8) e dos dois "capitães" (2Rs 1,9.11), é obedecer ao rei. E executando as ordens do rei e da rainha, eles chegam a matar o agricultor Nabot (IRs 21,8.11-14) e a prender os profetas de Javé (2Rs 1,9.11).

Os pequenos reconhecem em Elias o "homem de Deus que fala as palavras de Deus", porque eles têm os mesmos interesses. A prática deles está de acordo com as exigências da aliança: a viúva, que faz a partilha dos bens (IRs 17,11-16); Abdias, que observa a lei de Deus desde, a sua juventude (IRs 18,12); Nabot, que observava a lei da terra (IRs 21,3).

Só a prática de acordo com as exigências da aliança e da lei de Deus é que abre os olhos para se poder enxergar o apelo de Deus presente nas pessoas e nos fatos da vida. Assim era no tempo de Elias, assim continua. sendo hoje!

6. Luta pessoal e luta do povo Apesar de sua admiração pelo profeta Elias, o povo não o transformou num super-herói.

Pelo contrário! Conservou dele o retrato de um homem humano, limitado. Elias teve os seus momentos de medo e de desânimo, vontade de sumir e de morrer. Ele que já tinha enfrentado o rei e os 450 profetas de Baal e que carregava dentro de si a convicção de ser o único defensor da causa de Deus: "Só eu sobrei! até a mim eles querem matar!" (IRs 19,10). Este mesmo Elias foge da rainha que jurou matá-lo; anda pelo deserto, sozinho, deita debaixo de uma árvore e invoca a morte: "Basta Senhor! Quero morrer! Não sou melhor que os outros!" (lRs 19,4). Como explicar esta contradição?

A palavra de Deus é como uma espada que penetra até o mais profundo da alma (Hb 4,12). Ela penetrou em Elias e apontou os defeitos. Na sua busca de Deus, Elias se orientava pelos critérios da tradição: "tempestade, raio, terremoto" (lRs 19,11), pois foi por estes sinais que- Deus se tinha revelado a Moisés no monte Sinai (Horeb) (Ex 19,16-18). Elias desejava que Deus se revelasse conforme o esquema da tradição. O rei queria que Deus se revelasse conforme os interesses da monarquia. Tanto um como outro, ambos, cada um do seu jeito, embora em vista de objetivos opostos, tiram de Deus a liberdade de ser Deus. Ou seja, queriam obrigá-lo a ser Deus

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conforme eles mesmos gostariam: conforme o esquema da tradição ou do sistema dos reis. Uma atitude assim é como uma semente de morte. Morte não de Deus, mas da fé em Deus e

da liberdade humana. Pois identifica Deus com o sistema da segurança humana. E neste caso, falhando a segurança humana, falha também a fé em Deus e aparecem o medo e o desânimo: "Basta! Quero morrer! Não sou melhor que os outros!"

O campo de batalha pela justiça e pela liberdade não é só a sociedade injusta criada pelo sistema do rei, mas era também o interior de cada um, onde está o reflexo e a causa das estruturas injustas da sociedade e do pensamento humano sobre Deus. Apesar de ser homem de muitas vitórias, Elias não teve medo de reconhecer seus limites e de se converter. Para a caminhada do povo, a luta interior do profeta foi tão importante quanto a sua luta pública no monte Carmelo.

7. A redescoberta de Deus Fiel ao seu modo de agir, Deus atendeu ao grito desanimado do profeta injustiçado. Mas

igualmente fiel ao seu modo de agir, Deus não se enquadrou dentro do esquema dos critérios da tradição e se revelou com liberdade. Em vez de revelar-se na "tempestade, no raio ou no terremoto", revelou-se na "brisa leve", apenas perceptível (IRs 19,12-13). Totalmente livre, Deus não se prendeu nem sequer aos critérios que os homens tinham elaborado para guiar o povo com segurança no caminho que conduz a Deus.

Esta liberdade de Deus fez cair o peso que estava nas costas de Elias. Elias pensava ser ele o único defensor de Deus: "Sobrei só eu!" Como se dissesse: "Se não fosse eu, a causa de Deus estaria perdida!" Pretensão muito grande: resultado lógico da identificação de Deus com o pensamento humano sobre Deus.

Ora, entrando na vida de Elias; Deus mostrou que ele continuava sendo o mesmo Deus de sempre, impossível de ser aprisionado em qualquer esquema de pensamento humano; que ele não dependia da tradição, mas que a tradição dependia dele; que a brisa leve não podia ser reduzida ao tamanho da tradição, mas que os critérios da tradição deviam ser relidos a partir da brisa leve, isto é, a partir do novo que Deus estava realizando naquele momento na história do povo; que não era Elias que defendia a Deus, mas que era Deus que defendia o pobre profeta Elias!

Esta liberdade de Deus foi o estalo revelador que libertou Elias daquela angústia de morte e lhe ensinou que o fundamento último da segurança humana não é aquilo que nós ou a tradição conseguimos pensar a respeito de Deus, mas sim aquilo que Deus é em si mesmo: Javé, Deus livre e libertador, Deus conosco! Foi a partir daqui que Elias, refeito e renovado, pôde voltar para retomar a sua missão (1Rs 19,15). Renasceu nele a verdadeira liberdade, fonte de nova coragem.

Agindo com liberdade frente aos esquemas humanos, Deus preservou a liberdade de seu povo e deu esperança aos pobres, pois confirmou mais uma vez que ele não se deixa enquadrar nos esquemas do pensamento e da segurança humana. Fiel a si mesmo Deus surpreende sempre para poder escutar de perto o clamor dos oprimidos. E tarefa do profeta manter-se aberto para a surpresa de Deus, livre e libertador. Pois a liberdade de Deus é a última garantia da liberdade humana. É o único facão que consegue quebrar a prisão das ideologias totalitárias e opressoras. Continuamente, Deus reaparece na margem da história, recriando a nova consciência.

A caminhada de Elias foi longa e penosa. Foi uma noite escura. Ele teve que aprender que, até dentro dele mesmo, Deus não estava do lado do Elias vitorioso e famoso, combativo e agressivo, que pensava ser o dono da luta contra os erros do rei, mas sim do lado do Elias reprimido e angustiado, perseguido e desanimado. Teve que descobrir, com a ajuda do próprio Deus, que havia mais de 7.000 homens que não tinham dobrado o joelho diante dos falsos deuses. Ele não estava sozinho; não era o único defensor. Elias estava tão fechado na sua visão da luta que já não era capaz de perceber os outros que lutavam a mesma luta ao seu lado. Deus lhe abriu os olhos através da experiência dolorosa dos seus limites. Elias teve que experimentar dolorosamente que Deus é livre, não só frente ao rei e aos opressores, que pensavam poder controlá-lo, mas é livre também frente ao próprio Elias. É neste momento que Elias ficou livre para poder libertar!

CAPÍTULO 5

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CONTINUAR A OBRA DE ELIAS E ESPERAR SEU RETORNO 1. Continuar a obra de Elias Ainda 800 anos mais tarde, no tempo de Jesus, Elias continuava a ser lembrado pelos

judeus: nas histórias que o povo contava, nas comparações que fazia, e até na celebração do culto. Na boca do povo, a figura de Elias foi crescendo, crescendo. Contavam-se coisas

maravilhosas sobre a sua origem e seu arrebatamento ao céu . Acreditava-se que, lá do céu, Elias protegia os judeus que estivessem em especiais apuros (Mt 27,47.49; Mc 15,5.36).

.Jesus e seus discípulos também gostavam muito da figura de Elias. Basta dizer que é um dos personagens do Antigo Testamento mais citados no Novo: 29 vezes - superado nisto apenas por Moisés (citado 80 vezes), Abraão (73 vezes), Davi (59). Mas, como era seu costume, Jesus e seus discípulos iam direto ao mais importante: é preciso ser Elias hoje, continuar a sua obra.

Esta mentalidade entrou no Novo Testamento. Elias é apresentado como o homem de Deus que, com sua oração, consegue tudo de Deus (Tg 5,17-18 à luz de lRs 17,1); com este poder de Deus, vence os poderosos (Ap 11,5 à luz de 2Rs 1,10; veja também neste sentido Lc 9,54), e ajuda os rejeitados pela sociedade, colocando-se a seu lado (Lc 4,25-26 à luz de lRs 17,1 e 18,1). Mesmo quando pensa que está lutando sozinho, acaba descobrindo que Deus está com ele (Rm 11,2-4 à luz de lRs 19,1-8). Numa palavra, Elias é "profeta"; tão significativo, que pode ser considerado o representante do profetismo (Mt 17,3; Mc 9,4; Lc 9,30; Ap 11,3-6).

Apresentar Elias deste jeito é mais que recordar: é convidar a comunidade a acompanhar Elias nesta caminhada profética.

2. Esperar pelo seu retorno Principalmente um pormenor excitava a fantasia popular. De acordo com a crença geral,

Elias nem tinha morrido: subiu vivo até ao céu naquele carro de fogo puxado por cavalos também de fogo (2Rs 2,11). Agora, lá estava Elias, pertinho de Deus, aguardando ordens. Um dia, voltaria à terra, organizaria o povo e anunciaria o fim próximo (Mc 6,15; 8,28). Nos detalhes, variavam as opiniões: para alguns, Elias seria o precursor do próprio Deus, antes do Juízo Final; para outros, seria o precursor do Messias. De qualquer forma, ele era um personagem misterioso, vivamente aguardado.

Boa prova disto é o lugar especial que os judeus reservavam, e ainda hoje reservam, a Elias na celebração da Páscoa. Nessa celebração, tomam-se quatro cálices de vinho, cada vez com um sentido simbólico diferente.

Mas há ainda um quinto cálice, chamado "cálice de Elias", que não se toma: só poderá ser bebido por Elias, no tempo do fim. Quando será isto? Ninguém sabe. Mas a comunidade está sempre de prontidão. Por isso, depois da ceia pascal, abre-se a porta para Elias entrar, e reza-se "Bendito o que vem em nome do Senhor" (SI 118,26).

Que querem dizer todo este bonito simbolismo e as histórias que o povo contava a respeito de Elias? Expressam uma grande verdade: a fé nos educa a não entregar os pontos. Deus tarda, mas não falha. Estamos sofrendo demais da conta; mas sabemos que virá o dia do acerto final, o Dia do Senhor. Esta hora da justiça de Deus será preparada por gente de fé, por quem vive "com o espírito e o poder de Elias" (Lc 1,17; Mt 11,14; 17,10 e seguintes).

3. João Batista: novo Elias Os discípulos de Jesus foram mais 'além. Com Jesus, o julgamento definitivo da história

humana já começou. Sim, ainda esperamos o Reino de Deus em plenitude (ICor 15,24-25; Mt 6,10); mas ele já começou, já está presente no meio de nós (Lc 11,20; 17,21).

Ora, houve um homem chamado por Deus a preparar a atuação de Jesus: João Batista (Mt 3,1-3; Jo 1,6-8). Nesse sentido, Elias já voltou. João Batista tem a mesma missão, a ser cumprida com a mesma força do Alto (Lc 1,14-17; 1,68-79). Até no modo austero de vestir e de viver, João lembra Elias (Mt 3,4). Claro, João Batista não é Elias em carne e osso (Jo 1,21); mas veio realizar o que se esperava de Elias. Ele é o novo Elias.

4. O próprio Jesus revive a figura de Elias Sim, Elias é o profeta precursor do Messias. Mas é ainda mais que isto: sua presença chega a

mostrar com oito séculos de antecedência como seria a vida do Messias. Ele é "prefiguração" de

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Jesus, como se costuma dizer. Foi o próprio Jesus que ensinou aos seus discípulos esta leitura mais profunda da figura de Elias. Vejamos.

Mais que Elias, João Batista ou qualquer profeta, é Jesus o homem que aderiu à causa dos pobres (Lc 4,18-22 comparado com 4,25-27); incomodou os poderosos e foi por eles perseguido (Mt 17,10-13; Mc 9,11-13); é ele o profeta que questiona a incoerência de seu próprio povo (Mt 23,37 comparado com Rm 11,3 e lRs 19,10); é o homem de oração (Mt 14,23 e ao longo do evangelho; Tg 5,17, alusão a lRs 17,1; 18,1.41-42), cheio de zelo pelo projeto de Deus (Jo 2,17; lRs 19,10).

A esta luz, toma novo sentido o final de Malaquias, aqueles últimos dois versículos do Antigo Testamento, na atual seqüência dos livros: "Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Javé, grande e terrível. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha ferir a terra com anátema" (Ml 3,23-24). Elias, profeta da reconciliação dos filhos com os pais, e que evita que a terra seja castigada é prefiguração de Jesus Cristo, que haveria de reconciliar os filhos com o Pai (Rm 5,10-11) e dar sua vida pela salvação de todos os homens (Mt 20,28).

Até mesmo o final da história de Elias aponta para Jesus - elevado ao céu (Lc 24,51), para de lá voltar (At 1,9-11); e, enquanto isto, seu espírito repousa sobre o(s) discípulo(s) (2Rs 2,1-5 comparado com At 1,8 e as muitas alusões ao Espírito depois da Páscoa).

Mais que qualquer outro, é Jesus o profeta dos tempos finais: passou fazendo o bem (At 10,38); foi esmagado mas não eliminado. Está junto de Deus, sempre pronto a nos ajudar (Rm 8,34; Hb 7,25). Virá de novo para o grande Dia do Julgamento (Mt 24,29-31; 25,31-46). Jesus é aquele que veio, está presente e virá.

Bonito, não é? Mas que não fique só em semelhanças interessantes para a mente. Para os seguidores de Jesus, o importante será 'sempre levar adiante a obra do seu mestre e, deste modo, esperar ativamente a sua volta.