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Caderno de

Temas

Equipas de Jovens de Nossa Senhora

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Apresentação

Começou mais um ano! O tempo passa

depressa e chegou a altura de começarmos mais uma

caminhada de um ano nas Equipas!

O ano passado foi muito grande, marcado

principalmente pela vinda do Papa Bento XVI a Portu-

gal e a imensa participação dos jovens – muitos das

Equipas – no Eu Acredito! Por isso pensamos que é

grande a motivação para conhecer cada vez mais

Jesus e a vontade de Deus para a nossa vida.

O Caderno de Temas desde ano vai seguir o

esquema do Caderno do ano passado, com os temas

e sugestões para se reflectir, pontos de esforço, leitu-

ras adicionais e orações. Já sabem: tudo o que está no

Caderno é uma sugestão do vosso Secretariado

Nacional, mas confiamos que cada Equipa vai tratar

da melhor maneira os temas propostos. Sintam-se

livres para pesquisar noutros sítios, trazer orações

para as reuniões, ter ideias para pontos de esforço mais adequados a cada Equipa! O importante

é que seja feito um esforço honesto para crescer na fé e aí cada um saberá melhor qual o seu

ritmo!

O vosso Secretariado pensa que só o caminho da exigência nos levará a crescer no conhe-

cimento de Jesus, que se traduz sempre no amor a Deus e ao próximo; por isso, propomos este

ano temas um bocadinho mais exigentes e talvez mais desconhecidos para a maioria. Contudo,

tentámos sempre ser claros nos temas e ajudar nas sugestões de preparação do tema. É sempre

boa ideia também convidar pessoas de fora para ir falar às vossas reuniões, ou trazer alguma

nova dinâmica para animar as reuniões! Tudo depende do que vocês quiserem dar às Equipas!

A imagem da capa deste caderno é uma representação da Ceia de Emaús (Lc 24, 13-35) .

Escolhemo-la porque desejamos que cada reunião seja isso mesmo, um encontro com o Senhor

Jesus, feito na companhia dos irmãos! Assim saberemos, no fim, que tivemos um ano bom!

Secretariado Nacional 2009/2011

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Apresentação………………………………………………..…………….3

Setembro – Vocaç~o……………………………………………………..5

Outubro – Concílio Vaticano II…………………………………….….10

Novembro – Comunh~o dos Santos………………………………..15

Dezembro – Advento…………………………………………………...20

Janeiro – Dez Mandamentos…………………………….……………25

Fevereiro – Palavra de Deus……………………………..……………30

Março – Jejum……………………………………………..……………...35

Abril – Perd~o………………………………………………..……..…….40

Maio – Liturgia das Horas………………………..…………………….46

Junho – O Espírito Santo na Santíssima Trindade……….........51

Julho – Balanço…………………………………………….……………..56

Índice

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Setembro Vocação

Um tema muito comum e que normalmente é abordado de uma forma um bocado parcial é a vocação. À primeira vista, aparece-nos logo a imagem de um padre ou uma freira. Quando ouvimos falar de vocação, ou de rezar pelas vocações, automaticamente pensamos na vocação sacerdotal. Mas a vocação não é (só) isso! A verdade é que todos temos uma vocação, que é o mesmo que dizer que todos somos chamados. Somos chamados por Deus, que primeiro que tudo nos cria.

Diz-nos a Constituição Pastoral Gaudium et Spes que «A razão mais sublime da dignida-de do homem consiste na sua vocação à união com Deus. É desde o começo da sua existência que o homem é convidado a dialogar com Deus: pois, se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele por amor constantemente conservado; nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e se entregar ao seu Criador» (GS 19). Deus cria-nos e chama-nos para Ele. E isso não retira nada à nossa liberdade. Deus sabe que o melhor para nós, só Ele nos pode dar; por isso, a nossa felicidade só se alcança se O procurarmos. Deus cria-nos dotados de livre arbítrio, ou seja, com a capacidade de escolher entre o bem e o mal. A verdadeira liberdade não consiste em fazer o que gosto ou aquilo que me apetece, mas fazer o bem. Livre é aquele que escolhe fazer o bem, porque o bem liberta, torna-nos livres daquilo que nos torna escravos, o pecado!

Portanto a vocação é este chamamento de Deus, que é universal, ou seja, dirigido a

todas as pessoas. Deus não Se esquece de ninguém, Ele conhece-nos e ama-nos pessoalmente, para Deus somos únicos! Daqui se percebe desde logo que todos temos uma vocação e que há várias vocações. Contudo, somos todos unidos por uma única vocação, a primeira vocação que é comum a todos os baptizados: a vocação à santidade! Sim, todos somos chamados a ser santos, independentemente da maneira concreta como cada um o será. Mas é muito importante ter claro na nossa mente e no nosso coração que Deus me chama, a mim pessoalmente, e tem um projecto de amor para mim. Não é um plano que Deus que quer impor contra a minha felicidade, mas, porque Deus é amor e respeita a minha liberdade, é um plano que me vai verdadeiramente realizar, ou seja, tornar feliz. A minha vocação é assim a forma que tenho para ser verdadeira e genuinamente eu próprio.

É também importante percebermos que somos chamados à bem-aventurança eterna,

ou seja, à felicidade completa, em Jesus Cristo. Dito de forma ainda mais simples, Deus criou-nos para vivermos em Deus, e isso só é possível através de Jesus Cristo, Aquele que é verdadeiramen-te Deus e verdadeiramente Homem e, por isso, une de forma perfeita Deus e o Homem. Ser cha-

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mado à felicidade não significa necessariamente termos uma vida muito alegre e confortável, sem contrariedades. Não nos esqueçamos da pregação de Jesus nas Bem-Aventuranças! Aí per-cebemos como os verdadeiramente bem-aventurados são aqueles que, à imagem de Jesus, estão dispostos a sacrificar a sua vida para alcançaram um bem muito mais precioso: a eternida-de junto de Deus, ou seja, participar na Glória de Deus.

Dito numa palavra, o Céu! Por isso é que dissemos que a nossa vocação é uma vocação à santidade, porque é à medida que nos vamos aproximando mais de Deus que nos vamos tor-nando mais santos.

A nossa vocação como cristãos é fundamentalmente uma vocação à santidade e tam-

bém à missão de evangelizar o mundo. Como dizia São Paulo «Ai de mim se não evangeli-zar!» (1Cor 9, 16), ou seja, em mim deve haver esta vontade de, depois de conhecer Jesus Cristo, dá-Lo a conhecer aos outros que ainda não O conhecem. De facto, como podemos nós guardar para nós este tesouro tão grande, impedindo tanta gente de o conhecer? Não nos podemos esquecer que Deus actua no mundo muitas vezes através de nós, e devemos por isso ser instru-mentos de Deus e não obstáculos!

O homem é um ser sociável, não foi criado para estar sozinho mas tem a capacidade de

se relacionar com os outros. Podemos assim dizer que a vocação humana tem um carácter comunitário. Vejamos mais uma vez o que nos diz o Catecismo (1878/1879):

«Todos os homens são chamados ao mesmo fim, o próprio Deus. Existe certa seme-lhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem estabelecer entre si, na verdade e no amor. O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus. A pessoa humana tem necessidade de vida social. Esta não constitui para ela algo acrescentado, mas é uma exigência da sua natureza. Mediante o intercâmbio com os outros, a reciprocidade dos ser-viços e o diálogo com os seus irmãos, o homem desenvolve as próprias virtualidades; responde, assim, à sua vocação».

Simplificando, o que estes números nos dizem é que é no contacto com os outros, nas relações humanas, que o homem se desenvolve e se realiza. E é aí mesmo que o homem realiza a sua vocação, no meio dos outros, tal como Jesus viveu. O amor a Deus não deve ser separado do

amor aos outros, porque Deus está presente em cada um dos nossos irmãos. Já dizia Jesus «Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). Depois desta primeira fase, aí conseguiremos perceber a nossa própria vocação, dentro da vocação universal à santidade. Ou seja, somos chamados a ser santos como? Num casamento, como missionários, como consagrados religiosos, como padres? Há muitas vocações, todas elas unidas por este desejo de santida-de. Nesse discernimento é muito importante, para além de irmos crescendo em maturidade e aprenden-do a ouvir a nossa consciência, ouvir o discernimento

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da Igreja. Não há nada como falar com algum padre ou um amigo mais velho que nos possa dar bons conselhos! Deus não criou o homem para a solidão, mas deu-lhe a Igreja para que o homem possa viver, em comunhão com os outros, a sua vida de santidade. Perceber a minha vocação é perceber que a minha vocação acontece dentro da Igreja e não fora dela.

Por fim, fica o alerta para a importância das famílias neste tema da vocação. O Catecis-

mo da Igreja Católica diz-nos: «Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concílio Vaticano II chama a família, usando uma antiga express~o, de “Ecclesia domestica”. É no seio da família que os pais s~o “para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada» (1656). A família é um lugar muito importante para conhecermos a nossa vocação. Por isso são tão graves os ataques à família a que temos assistido na actualidade. É difícil no nosso mundo termos um contexto propício a que cada um descubra a sua vocação. Se antigamente havia um ambiente mais ou menos católico, onde estes assuntos eram comuns, a verdade é que hoje em dia não se fala propriamente na escola ou mesmo em muitas casas sobre a nossa vocação. Por isso temos de estar vigilantes e com atenção redobrada, porque Deus não cessa nunca de nos chamar. Devemos contrariar e remar contra a maré e não ter medo de procurar a nossa vocação neste mundo. Devemos cultivar o silêncio e o ambiente de oração, porque esse é o lugar onde Deus nos fala, no íntimo do nosso coração, um coração que esteja disposto a escutar. Só assim percebe-mos qual a nossa verdadeira e concreta vocação.

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA Já pensei seriamente na minha vocação? É um assunto que me mete medo e prefiro evitar? Conheço pessoalmente algum padre ou freira? Quando conhecemos alguém é mais fácil perceber estas vocações, porque podemos fazer-lhes perguntas sobre o seu caminho e também percebemos que estamos a falar de decisões que foram tomadas com liberdade e trazem muita alegria à vida das pessoas. Procuro ir ter com uma pessoa consagrada e partilhar com ela as minhas dúvidas. Custa-me aceitar a existência de algumas vocações, como por exemplo a vocação das irmãs de clau-sura, que vivem em permanente oração e recolhimento? Percebo o seu lugar na Igreja?

Eu sou leigo, ou seja, não sou padre ou consagrado. Já pensei o que significa esta vocação? Percebo o meu papel no seio da Igreja, e do lugar essencial e missão específica que tenho para o crescimento do cristianismo?

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que a sua vocação era o Amor. O que significa para mim esta

expressão?

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PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões) Procuro ter mais presente na minha oração as vocações. Aproveito para rezar diariamente esta ou outra oração pelas vocações, em especial pelas vocações sacerdotais. Procuro conhecer a diversidade de vocações na Igreja, aprofundando a seriedade daquilo que é a vocação ao matrimónio e a importância da família. A vocação à Santidade é universal, somos todos chamados a ser Santos. Penso em várias coisas pequenas no dia-a-dia que me possam ajudar a dar passos no caminho de santidade. Procuro coisas que possa fazer durante o dia para me ajudar a santificá-lo, ou seja, para o viver com maior consciência da presença de Deus, quer seja por pequenas orações, sacrifícios, conversas com os outros, etc.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Vasco Pinto de Magalhães, S.J.,Vocação e vocações, Colecção AO de bolso, Braga, Editorial Apostolado de Oração, 20052. Passagens Bíblicas: 1Sam 3, 1-21 – Vocação de Samuel Is 6, 1-13 – Vocação de Isaías Jer 1, 4-10 – Vocação de Jeremias Mt 5, 3-12 – Bem-aventuranças Mc 1, 16-20 – Chamamento dos primeiros discípulos Mc 10, 17-22 – Jesus chama o jovem rico Lc 9, 57-62 – Quem é chamado deve seguir incondicionalmente Lc 10, 1-11 - Missão dos setenta e dois discípulos Act 9,1-30 – Vocação de Paulo

ORAÇÃO Oração pelas Vocações Senhor da messe e pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos o teu forte e suave convite: "Vem e segue-me"! Derrama sobre nós o teu Espírito, que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir a tua voz.

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Senhor, que a messe não se perca por falta de operários. Desperta as nossas comunidades para a missão. Ensina a nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino, na vida consagrada e religiosa. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade dos nossos bispos, padres e ministros. Dá perseverança aos nossos seminaristas. Desperta o coração dos nossos jovens para o ministério pastoral na tua Igreja. Senhor da messe e pastor do rebanho, chama-nos para o serviço do teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder "sim". Amen

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Outubro Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II foi um dos Concílios mais importantes dos últimos séculos. Verda-deiramente inspirado pelo Espírito Santo, veio dar um novo ânimo à Igreja na sua missão de ser no mundo o sacramento universal de salvação.

Convocado pelo Papa João XXIII em 1961, este vai ser o XXI Concílio Ecuménico. Na compreensão da Igreja Católica, o primeiro grande Concílio Ecuménico é o de Niceia, na Turquia de hoje, em 325 e o último é este, de 1962 a 1965, o segundo a acontecer no Vaticano. Historica-mente, estes Concílios são magnas reuniões dos representantes do povo cristão que reuniram em épocas difíceis, normalmente por causa de alguma ameaça mais urgente e grave à doutrina católica, para debater problemas graves surgidos no seio do cristianismo e para estabelecer orientações seguras e necessárias às comunidades cristãs.

Este Concílio tem as suas características muito próprias, numa vontade de reafirmar a fé cristã que a Igreja professa de uma maneira mais compreensível para a nossa época, com uma clara preocupação pastoral. Escrevia o Papa João Paulo II em 1995 da importância deste Concílio para a história da Igreja: “Na história dos Concílios, ele reveste uma fisionomia muito singular. Nos Concílios prece-dentes, com efeito, o tema e a ocasião da celebração tinham sido dados por particulares proble-mas doutrinais ou pastorais. O Concílio Ecuménico Vaticano II quis ser um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo. A essa reflexão impelia-a a necessidade de uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contempor}neo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas { luz da Palavra de Deus”. Esta express~o ficou bastante conhecida na Igreja. “Sinais dos tempos” eram ent~o aqueles sinais que a Igreja via acontecer no mundo e que eram sinal do tempo que mudava. A Igreja, como realidade concreta no mundo, deve estar verdadeiramente “actualizada”, n~o se confundindo isto com a atitude de “ir atr|s do que é moderno” que alguns advogam. A Igreja, sempre inspirada pelo Espírito Santo, deve acompanhar e guiar a sociedade em cada tempo, com as alegrias e tristezas próprias de cada época. Uma outra expressão que ficou muito conhecida acerca do Concílio foi o “aggiornamento”, este pôr em dia a acç~o da Igre-ja. O documento conciliar Sacrosanctum Concilium resume o espírito do “aggiornamento” da seguinte maneira: "fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições susceptíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo, e fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja” (SC, 1).

Graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio lançou as bases de uma nova primavera

da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o património de toda a tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época.

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Ouçamos agora o Papa João Paulo II em 2000, no encerra-mento de um congresso sobre este Concílio. É um testemunho de um Papa, mas acima de tudo de um cristão que viveu este Concílio e tudo o que ele representa para a Igreja e para o mundo. “O Concílio Vaticano II cons-tituiu uma dádiva do Espírito à sua Igreja. É por este motivo que per-manece como um evento funda-mental não só para compreender a história da Igreja no fim do século mas também, e sobretudo, para verificar a presença permanente do Ressuscitado ao lado da sua Esposa no meio das vicissitudes do mundo. Mediante a Assembleia conciliar, que viu chegar à Sé de Pedro Bispos de todas as partes do mundo, pôde-se constatar que o património de dois mil anos de fé se conservou na sua originalidade autêntica.

Aos Padres conciliares apresentou-se um verdadeiro desafio, que consistia no compro-

misso de compreender mais intimamente, num período de rápidas transformações, a natureza da Igreja e a sua relaç~o com o mundo para prover { oportuna “actualizaç~o”. Enfrent|mos este desafio também eu me encontrava entre os Padres conciliares e demos-lhe uma resposta, procu-rando uma compreensão mais coerente da fé. No Concílio, tornámos manifesto o facto de que também o homem contemporâneo, se quiser compreender profundamente a si mesmo, tem necessidade de Jesus Cristo e da sua Igreja, que permanece no mundo como sinal de unidade e de comunhão.

Devemos pôr em prática os sinais visíveis da salvação, para que o anúncio que transmi-

timos seja compreendido na sua integridade. Anunciar o Evangelho ao mundo é uma tarefa que os cristãos não podem delegar a outrem. Trata-se de uma missão que os identifica na responsa-bilidade própria da fé e do seguimento de Cristo! O Concílio quis restituir esta verdade funda-mental a todos os fiéis.

Interpretar o Concílio pensando que ele comporta uma ruptura com o passado, enquan-

to na realidade ele se põe na linha da fé de sempre, é decididamente desviar-se do caminho. Aqui-lo que foi acreditado por “todos, sempre e em cada lugar” é a autêntica novidade que permite a cada época sentir-se iluminada pela palavra da Revelação de Deus em Jesus Cristo.

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Vejamos agora, muito resumidamente, o que nos diz o Papa sobre alguns documentos essenciais e que todos devemos conhecer do Concílio Vaticano II.

“A Constituiç~o dogm|tica Dei Verbum colocou com renovada consciência a Palavra de

Deus no âmago da vida da Igreja. Esta centralidade deve-se à mais viva percepção da unidade da Sagrada Escritura e da Santa Tradição. A Palavra de Deus, que é mantida viva pela fé do santo povo dos fiéis sob a orientação do Magistério, exige também que cada um de nós assuma a pró-pria responsabilidade, conservando íntegro o processo de transmissão.

Aquilo em que a Igreja acredita é o que ela assume como objecto da sua oração. A

Constituição Sacrosanctum Concilium explicou quais são as premissas para uma vida litúrgica que preste a Deus o verdadeiro culto que Lhe é devido por parte do povo, chamado a exercer o sacerdócio na nova Aliança. A acção litúrgica deve permitir a cada fiel entrar no íntimo do mistério para captar a beleza do louvor ao Deus uno e trino. (…) É por isso que cada ministro, consciente da responsabilidade que tem por todo o povo que lhe é confiado, deverá ater-se fielmente ao respeito pela sacralidade do rito, crescendo na compreensão daquilo que ele mesmo celebra.

“Cremos ter chegado a hora em que a verdade acerca da Igreja de Cristo h|-de ser

aprofundada, ordenada e expressa”, afirmou o Papa Paulo VI, que identificou a principal tarefa do Concílio nesta expressão. A Constituição dogmática Lumen Gentium foi um genuíno cântico de exaltação da beleza da Esposa de Cristo. Naquelas páginas, completámos a doutrina expressa pelo Concílio Vaticano I e impri-mimos o selo para um renovado estudo do mistério da Igreja.

A Constituição pastoral Gaudium et Spes, que levantava os inter-

rogativos fundamentais aos quais cada pessoa é chamada a dar uma res-posta, dirige hoje também a nós palavras que nada perderam da própria actualidade: “O mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mis-tério do Verbo encarnado” (n. 22). Trata-se de palavras que me são mais caras do que nunca, e quis repropô-las nas passagens fundamentais do meu magistério. Aqui está a verdadeira síntese para a qual a Igreja deve sempre olhar, enquanto dialoga com o homem deste e de todos os tempos: ela está consciente de que possui uma mensagem que é síntese fecunda da expectativa de cada homem e da resposta que Deus lhe dirige.

A ninguém passará despercebido o facto de que, com grande impulso, o Concílio Vati-

cano II fez seu o sopro "ecuménico". O movimento de encontro e clarificação, que se actuou com todos os irmãos baptizados, é irreversível. É a força do Espírito que chama os fiéis à obediência, para que a unidade seja um eficaz manancial de evangelização. A comunhão que a Igreja vive com o Pai, o Filho e o Espírito Santo é uma indicação do modo como os irmãos são chamados a viver juntos.

O Concílio Ecuménico Vaticano II constitui uma verdadeira profecia para a vida da Igre-

ja; e continuará a sê-lo por muitos anos do terceiro milénio há pouco iniciado. A Igreja, enriqueci-da com as verdades eternas que lhe foram confiadas, ainda falará ao mundo, anunciando que Jesus Cristo é o único verdadeiro Salvador do mundo: ontem, hoje e sempre!”.

ejNS 13 PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA Muitas vezes ignoramos a história da Igreja, e muitos de nós se calhar nunca ouvimos falar deste Concílio. Para preparar a reunião tento ler mais informações sobre o Concílio, nomeadamente as grandes mudanças que trouxe para a vida da Igreja. O que penso da Igreja na actualidade? Responde aos desafios que o mundo coloca? Ou acho que não está actualizada? Por outro lado, saberei eu dar as respostas às perguntas que me fazem sobre Deus e a Igreja, ou também ando mal informado? O ecumenismo é muito falado hoje em dia. Em que consiste o diálogo entre cristãos? Qual deve ser a nossa atitude? O que diz o Concílio sobre isso? O Concílio Vaticano II veio realçar o papel dos leigos na Igreja: longe de terem um papel marginal,

são importantes membros da Igreja, constituem a grande maioria dos fiéis. Como vejo o papel dos

leigos e dos clérigos na Igreja? Acho que ainda há muito clericalismo ou sinto que os leigos já têm um

lugar de destaque? Como posso dar o meu contributo à Igreja que pede o meu serviço?

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Ler um documento do Concílio (estão todos no site do Vaticano – www.vatican.va). Procurar empenhar-me na Igreja, como leigo. É muito importante que nós os jovens façamos o nosso papel, ou seja, anunciar o Evangelho no meio do mundo onde estamos, na escola ou em casa. A liturgia sofreu algumas mudanças com o Concílio Vaticano II. Procuro saber como se celebrava

Missa antes do Concílio e como se celebra agora, tentando compreender o que significam algu-

mas mudanças, como a utilização de várias línguas e não só o latim na celebração, ou a posição

do Padre enquanto celebra. Tento ver a riqueza de cada uma das duas maneiras de celebrar.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Importância do Concílio Vaticano II, Papa João Paulo II – L’Osservatore Romano, 15/10/95 [http://www.ultimasmisericordias.com.br/Pagina/1516/OS-CONCILIOS-DA-IGREJA] Discurso do Papa João Paulo II no encerramento do Congresso Internacional sobre a actuação dos ensinamentos conciliares, 27 de Fevereiro de 2000 [http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/2000/jan-mar/documents/hf_jp-ii_spe_20000227_vatican-council-ii_po.html]

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Passagens Bíblicas: Act 15, 1-34 – Concílio de Jerusalém

ORAÇÃO Oração pela Igreja Suba até vós, Pai Omnipotente, a oração deste povo que filialmente Vos adora, celebra e ama. Confirmai, Senhor, a nossa fé.

Concedei-nos a força de a professarmos com sinceridade e a difundirmos com entusiasmo entre os homens, Vossos filhos e nossos irmãos. Dai-nos, Pai Clementíssimo, a esperança que não engana e que nos garante o ministério da Igreja Santa do Vosso Filho e Senhor Nosso Jesus Cristo. Confirmai-nos na caridade que supera todo o bem, difundida no nosso coração pela graça inefável do Espírito Santo. Iluminai, Senhor, os nossos pastores, para que, unidos à Sé de Pedro, dêem novo impulso à evangelização no mundo. Alente a nossa oração à intercessão materna de Maria Santíssima e dos Santos, nossos protectores. Amen

Pai Nosso, Avé-Maria, Glória.

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Novembro Comunhão dos Santos

Este pode parecer um tema um bocadinho compli-cado, mas pensamos que é importante irmos aumentando o nosso conhecimento acerca das afirmações basilares da nossa fé. Acreditar na comunhão dos santos é algo que afirmamos no Credo (Símbolo dos Apóstolos), embora mui-tos de nós não saibamos bem o que é que isso significa. Comecemos por ver o que nos diz o Compêndio do Catecis-mo da Igreja Católica: 194. O que significa a expressão comunhão dos santos? Indica, antes de mais, a participação de todos os membros da Igre-ja nas coisas santas (sancta): a fé, os sacramentos, em especial a Eucaristia, os carismas e os outros dons espirituais. Na raiz da comunhão está a caridade que «não procura o próprio interesse» (1 Cor 13, 5), mas move o fiel «a colocar tudo em comum» (Act 4, 32), mesmo os próprios bens materiais ao serviço dos pobres. 195. O que significa ainda a expressão comunhão dos santos? Designa ainda a comunhão entre as pessoas santas (sancti), isto é, entre os que, pela graça, estão unidos a Cristo morto e ressuscita-do. Alguns são peregrinos na terra; outros, que já partiram desta vida, estão a purificar-se, ajudados também pelas nossas orações; outros, enfim, gozam já da glória de Deus e intercedem por nós. Todos juntos formam, em Cristo, uma só família, a Igreja, para louvor e glória da Trindade.

Este é o ensinamento essencial que nos vai guiar nesta reflexão. De facto, quando falamos em Comunhão dos Santos, falamos, antes de mais, na Igreja.

A comunhão nas coisas santas realiza-se na Igreja, em várias vertentes. A vida na Igreja é vivida em comunhão, unidos pela mesma fé, que é a fé da Igreja, que professa-mos no Credo. De facto, n~o devo falar na “minha fé”, mas na fé que eu professo na Igreja. Por outro lado, comunhão nas sancta, nas coisas santas, é também a comunhão nos sacramentos: a vida dos sacramentos é sempre vida de comunhão. Quando eu recebo um sacramento, ele não é só para mim, mas para que eu possa melhor viver e servir a

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Igreja. Do mesmo modo, a comunhão das coisas santas exprime-se também na comunhão dos carismas, o que significa que os vários carismas que o Espírito Santo suscita, ou seja, as graças especiais que recebemos do Espírito, servem para a edificação da Igreja, para o serviço de todos os irmãos, e não apenas para sermos diferentes ou melhores que os outros para nossa realização pessoal. Por fim, comunhão nas coisas santas significa também a vivência da caridade. Não é apenas uma comunhão meramente espiritual, mas é comunhão que se concretiza na prática da caridade, no amor ao irmão, tal como Cristo fez na sua vida. Tal comunhão realiza-se na doação generosa dos bens materiais, ou seja, na vivência da pobreza evangélica, para poder fazer da vida de cada um uma expressão real e concreta daquilo que foi a vida de Jesus Cristo. Como nos explica o grande S~o Tom|s de Aquino, “Uma vez que todos os crentes for-mam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros (...). Assim, deve acreditar-se que existe uma comunhão dos bens na Igreja. Mas o membro mais importante é Cristo, por ser a Cabeça (...). Deste modo, o bem de Cristo é comunicado a todos os membros, e essa comunica-ção faz-se por meio dos sacramentos da Igreja” (CIC, 947).

Vimos também que Comunhão dos Santos se expressa na comunhão dos sancti, ou seja, das pessoas santas. Na vida da Igreja podemos distinguir três estados das pessoas: por um lado, nós, aqueles que ainda “peregrinam sobre a terra”. Por outro lado, aqueles que, tendo j| morrido, se encontram em purificação para poderem viver eternamente na presença de Deus. Por fim, aqueles que já se encontram na presença de Deus e O vêem face a face. Todos nós esta-mos unidos nesse vínculo, nesse laço que é a graça de Deus que nos congrega e nos permite, sob o mesmo Espírito, louvar e dar glória a Deus.

Neste sentido, é muito importante para nós, que peregrinamos sobre a terra, a inter-

cessão dos santos! Quando rezamos a Nossa Senhora ou a algum Santo ou Anjo da nossa devo-ção, estamos a pedir que estes intercedam junto de Deus por nós. Acreditamos que aqueles que estão mais próximos de Deus podem ajudar-nos a ser mais santos, seguindo o seu exemplo e, com eles, o exemplo maior e mais perfeito de santidade, Jesus Cristo. Esta comunhão exprime- -se não só pela intercessão dos santos mas também na vivência da caridade com os irmãos. A comunhão cristã com os irmãos é sinal e expressão do amor de Cristo, o que nos faz aproximar ainda mais d’Ele na nossa vida.

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A comunhão com os defuntos deve igualmente ser referida neste tema. Os cristãos rezam pelos que morrem não por uma sentimental questão de saudade e tristeza, mas por uma razão muito mais profunda. Acreditamos que nos podemos ajudar uns aos outros, na vida ou na morte. Os vivos rezam pelos mortos, os santos no céu intercedem pelos vivos, numa constante cadeia de orações uns pelos outros. Assim se compreende a tradição de a Igreja rezar pelas Almas do Purgatório, que vão para o Céu com a ajuda das orações dos que ainda vivem na terra. Por isso, quando rezamos pelos que já morreram, não estamos apenas a dizer a Deus que temos saudades deles mas, porque de facto são importantes para nós, queremos o melhor para eles, que é o Céu. Podíamos então concluir que Comunhão dos Santos significa esta vida de família que é a Igreja, na qual uns intercedem pelos outros e todos se ajudam mutuamente, procurando viver com cada vez mais afinco a caridade de Cristo, que é a nossa vocaç~o primordial: “Todos os que somos filhos de Deus e constituímos uma única família em Cristo, enquanto nos comunicamos uns com os outros em mútua caridade e num mesmo louvor à Santíssima Trindade, realizamos a vocaç~o própria da Igreja” (Lumen Gentium, 51).

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA Quando falamos em comunhão dos santos, dissemos que é comunhão também das pessoas que, como nós, ainda vivem na terra. Mas nós somos santos ou pecadores? Ou ambos? Qual o meu costume de pedir a intercessão dos santos? Faço--o apenas por hábito? A que Santos recorro mais e porquê? Acredito que rezar pelos outros realmente pode mudar o

mundo e converter os corações? Ou tenho uma versão um

pouco mais racionalista e penso que só com acção e serviço

social consigo mudar o mundo? Como equilibrar acção e

oração?

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Experimentar, ao fim de um terço, rezar uma Ladainha dos Santos. Mais do que uma mera repetição, é um auxílio a tomarmos consciência que a Igreja não é (nem sobretudo) aquilo que nós vemos, mas é composta igualmente por todos aqueles que no Céu intercedem por nós junto de Deus. Faço um momento diário de oração pelas Almas do Purgatório, que precisam da nossa oração para alcançarem o Céu.

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Na Missa, quando rezamos pelos nossos irmãos defuntos, lembrar-me dos meus familiares e amigos que já morreram. Rezo também por todos aqueles que viveram mais sozinhos e peço a Deus que os acolha no seu Reino.

Comunhão dos Santos expressa-se na comunhão com os irmãos que vivem connosco. Faço uma

acção de serviço social e oração pelos outros e com os outros.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO

E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Catecismo da Igreja Católica, artigos 946–962. Passagens Bíblicas: Act 2, 42-47 – Uma comunidade modelo Act 4, 32-37 – Partilha de bens 1Cor 12, 1-11 – Carismas diversos 1Cor 12, 26-27 – Imagem do corpo 1Cor 13, 1-13 – Hino à caridade

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ORAÇÃO

Oração para pedir a protecção de um santo

Propomos esta oração, na qual cada um dirá um Santo da sua devoção e, em silêncio, pedirá a sua intercessão em algum assunto que considere importante para a sua vida. Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro e vos agradeço por terdes dado ao mundo ... (cada um diz em voz alta o nome do santo),

que soube na sua vida imitar tão perfeitamente os exemplos de Cristo, a ponto de ser colocado como modelo para nós, que ainda peregrinamos neste mundo. A sua fé na mensagem de Cristo, a sua caridade ardente e a sua vida de esperança orientada unicamente para Vós são motivos de força e entusiasmo para nós. A sua bondade, Senhor, sensibilizou-me e, sentindo-me indigno de recorrer directamente a vós, faço-o por meio de (cada um diz em voz alta o nome do santo), o santo da minha confiança. Para ser digno de sua intercessão prometo imitar os seus exemplos. (guardam-se alguns momentos para cada um expressar o pedido em silêncio)

Senhor, dignai-vos atender o meu pedido, se essa for a vossa vontade. Amen

Reza-se um Pai Nosso, Avé Maria e Glória.

Abril

Correcção Fraterna

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Dezembro Advento

O Advento é um tempo litúrgico que muitas vezes n~o é “aproveitado” como devia. Se

para a preparação da Páscoa temos os dias da Quaresma a marcar fortemente a nossa vida, a verdade é que os dias de preparação para o Natal muitas vezes passam-nos ao lado. Ou então, são sinónimo de fazer compras para os presentes! Por isso este mês vamos tentar compreender melhor o que é este tempo de espera. É essencial que preparem este tema com a Bíblia ao vosso lado. Leiam as sugestões das passagens bíblicas! Mais importante que este simples texto é con-tactar directamente com a Sagrada Escritura, por isso não deixem de ler!

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Advento significa a espera, a expectativa de alguma coisa que virá. Nós esperamos o Natal, ou seja, o nascimento do Menino Jesus. Claro que historicamente isso já aconteceu, de uma vez por todas, há cerca de 2000 anos! Mas a Igreja celebra essa memória, torna-a actual todos os anos, no seu calendário litúrgico. Por isso neste tempo é-nos proposto viver com os olhos postos no horizonte da Encarnação, ou seja, naquele momento em que Deus Se faz homem, na pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e homem.

Vejamos como surgiu historicamente este tempo. Começa a estruturar-se como tempo definido a partir do século IV, sendo de criação ocidental e não oriental. A sua extensão varia ao longo dos tempos, tendo começado com cerca de três semanas na Gália e passando depois para 40 dias. Em Roma, no século VI, temos a notícia do Advento com duração de seis semanas.

São Gregório de Tours fala do Advento como a quaresma de São Martinho, porque iria desde o dia de São Martinho (11 de Novembro) até ao Natal. Neste tempo jejuava-se três vezes por semana. O advento, portanto, estruturava-se conforme as Igrejas locais, variando de forma consoante as Igrejas. Não era um tempo com uma prática litúrgica definida e imutável, pelo con-trário. Mas em cada Igreja, este tempo tinha em comum o mesmo tom penitencial e o convite à conversão, de certo modo semelhante à Quaresma.

É com São Gregório Magno (séc. VII) que se reduz para a Igreja de Roma o Advento de quatro semanas. Na liturgia romana este tempo de Advento vai ter, desde a sua génese, estas duas dimensões da espera, como que dois ritmos que dividem a vivência do advento. Por um lado, a primeira dimensão, vivida até dia 17 de Dezembro, é marcada pela espera da última vinda do Senhor. É o tempo da espera, é a imagem da Igreja, povo em constante expectativa da vinda do Senhor. De facto, somos seres que aguardamos a vinda do Senhor, povo que vive entre a pri-meira e a última vinda. É um tempo mais focado na esperança escatológica da Parusia final. O que é que isto significa? Nós acreditamos que Jesus veio uma vez, historicamente há cerca de 2000 anos, e que virá mais uma vez, no fim dos tempos. Esse dia é a Parusia, é a última vinda do Senhor, que ninguém sabe quando será. Esse será o momento em que se dará a ressurreição dos mortos, também conhecido como Armagedão. A primeira parte do Advento é então escatológi-ca, ou seja, é uma espera das coisas últimas e definitivas, uma espera não apenas de mais um dia de Natal a 25 de Dezembro, mas da última vinda de Jesus.

Por outro lado, a partir do dia 17, fala-se mais da vinda próxima do Senhor. Já não essencialmente a Parusia, mas a celebração do Natal do Senhor. Por isso nessa semana os Evan-gelhos que são lidos na Liturgia da Missa são os Evangelhos da Infância, aqueles em que se relata tudo o que precede o nascimento de Jesus.

Na Liturgia ,os textos e orações marcam muito por se referirem ao mistério da encarna-ç~o. De facto, o Natal é esse momento crucial na qual Deus prova o Seu imenso amor, “fazendo-Se igual a nós, excepto no pecado” (Heb 4, 15). As duas dimensões da espera est~o intimamente interligadas: por um lado, fazemos memória da vinda histórica de Cristo; por outro lado, fazemos antecipaç~o da sua última vinda. Por isso dizemos Maranath|, ou seja, “Vinde Senhor”!

Neste sentido, alguns personagens do Antigo e Novo Testamento são muito importan-tes. Entre elas destacamos apenas dois, o profeta Isaías e o Precursor do Senhor, João Baptista.

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O profeta Isaías diz claramente numa das suas profecias: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Ema-nuel". (Is 7,14). De facto, é de Jesus que Isaías fala, como mais tarde vemos confirmado no Evan-gelho de S~o Mateus, ao relatar o di|logo de S~o José com o Anjo: “Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu { luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus” (Mt 1, 20-25).

João Baptista, filho de Santa Isabel, a prima que recebe a visitação de Nossa Senhora, é conhecido como o Precursor, porque na sua vida vai ser sinal de anúncio da vinda do Messias. Vemos ao longo dos Evangelhos os constantes apelos de João, que pregava no deserto, para que o povo se convertesse: “Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.’ Jo~o Baptista apareceu no deserto, a pregar um baptismo de arrependimento para a remiss~o dos pecados” (Mc 1, 2-4).

Jo~o Baptista baptiza Jesus, e recebe d’Ele um dos maiores elogios: “Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais do que um profeta. É aquele de quem está escri-to:‘Vou mandar { tua frente o meu mensageiro, que preparar| o caminho diante de ti.’ Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele” (Lc 7, 26-28).

O aviso do Precursor para que nos convertamos é muito actual, é verdadeiramente para hoje e para nós. Devemos viver este tempo de Advento como preparação para o Senhor que vem e que Se quer encontrar connosco. É um caminho de conversão e penitência que nos é pro-posto, de modo a estarmos preparados e purificados para podermos acolher sem medos nem entraves o Senhor Jesus.

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PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA

Que semelhanças e diferenças encontro entre o Advento e a Quaresma? Como vivo a dimensão penitencial e de conversão que me é pedida neste tempo? Percebo o que significa a Parusia, a última vinda de Jesus, ou ignoro o que isso é? O que é isso de Armagedão, o fim dos tempos? Como viver esta atitude de espera do Senhor? Na prática, o que é que posso fazer que mostre esta esperança? Como posso dar testemunho aos outros que acredito que Jesus vem a nós, e vem para nos salvar? A figura de Nossa Senhora é igualmente central neste tempo do Advento. Como olho para a atitude

de entrega de Nossa Senhora, desde o momento da Anunciação? O que posso aprender dela?

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Ler o Livro de Isaías ou o Evangelho de Lucas, principalmente os primeiros capítulos, que relatam o chamado Evangelho da Infância de Jesus. Durante este tempo de Advento vou procurar viver mais do que é costume a dimensão de peni-tência. Faço jejum de alguma coisa, ou poupo dinheiro para oferecer como presente de Natal a alguma instituição católica que precise. Procuro viver melhor o Natal, porque o preparei melhor. Tento ir à Missa algumas vezes durante o Advento, ou fazer alguma actividade de serviço aos que mais precisam. O Natal é o nascimento do Menino Jesus. Neste tempo de preparação seria muito bom visitar

alguma instituição com crianças ou de apoio à Vida. Rezo especialmente por todas as mães e por

aqueles que são vítimas do aborto.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Passagens Bíblicas: Is 7, 10-14 – A virgem conceberá Mt 1, 18-24 – Jesus nascerá de Maria, esposa de José Lc 1, 5-25 – Anjo Gabriel anuncia o nascimento de João Baptista Lc 1, 26-35 – Anunciação a Nossa Senhora Lc 1, 39-45 – Visitação de Nossa Senhora Lc 1, 46-56 – Magnificat Lc 1, 57-66 – Nascimento de João Baptista

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ORAÇÃO Hino de Laudes do Tempo do Advento Uma voz que vem de longe Faz estremecer a noite, Prometendo a madrugada Que anuncia a luz de Cristo.

Despertai, adormecidos Na escravidão do pecado: Já desperta o novo Sol, Vencedor do inimigo.

Do alto desce o Cordeiro, Que nos traz a salvação. A voz clama no deserto: Preparai os seus caminhos.

E quando, no fim dos tempos, De novo Cristo vier, Mereçamos ser chamados Para a glória dos eleitos.

Glória e louvor sejam dados A Deus Pai e a seu Filho, Com o Espírito Paráclito, Agora e por todo o sempre.

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Janeiro Dez Mandamentos

Para quem anda de metro em Lisboa, é impossível não reparar neste outdoor que faz publicidade a um famoso programa de televisão juvenil que dá ao final da tarde e que envolve fruta e açúcar: “Eles amam as artes, odeiam as regras”. N~o deixa de ser bastante contraditório: a arte é bela e atrai-nos precisamente pela ordem que revela, pela harmonia que qualquer combi-naç~o “ordenada” e pensada inspira, despertando em nós o divino (veja-se o exemplo da beleza do universo). Ou seja, qualquer obra de arte precisa de regras: é o que torna a obra algo com sentido e esteticamente atractiva. Este lema do programa lembra ainda a famosa ideia, já em si contraditória, da Revoluç~o Estudantil de Maio de 68 “É proibido proibir!” (J| agora, vale a pena investigar o que aconteceu a cada um dos líderes deste movimento!)

Esta introdução serve para nos lançar no tema dos manda-mentos, tantas vezes vistos como um conjunto de regras e proibi-ções, fora de prazo e a precisar de revisão. Será mesmo assim? Cada vez mais, o homem reivindica todos os direitos, mas não crê ter deveres. E o que vemos é atrocidades a acontecerem, em nome desta busca de direitos, que acaba por não considerar a dignidade do homem, criado à imagem de Deus. Na busca por “ser autêntico”, “livre de regras”, como tantos apregoam, o que vemos é o homem anárquico a portar-se como um animal, seguin-do cegamente os instintos. Ora, precisamente o que nos distingue dos animais é a nossa capacidade de inteligência e vontade. Ser autêntico então consiste exactamente em não fazer tudo o que nos vem à cabeça, antes discernindo o que se deve ou não fazer. É neste contexto que os mandamentos ocupam um lugar funda-mental e é importante abordá-los. Comecemos por um trecho do Evangelho de S. Marcos: “Enquanto [Jesus] andava pelo caminho, um certo jovem saiu-Lhe ao encontro e, lançando-se de joelhos diante dele, pergun-tou-Lhe: ‘Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?’ Jesus respondeu-lhe: ‘Porque Me chamas Bom? Ninguém é Bom senão Deus. Tu conheces os mandamentos: não mates, não come-tas adultério, não roubes, não dês falso testemunho, não cometas fraudes, honra pai e mãe’” (Mc 10, 17-19).

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O Papa Bento interpreta na Mensagem para o Dia Mundial da Juventude de 2010 esta passagem: Jesus recorda ao jovem rico os dez mandamentos, como condições necessárias para ter em herança a vida eterna. Eles são pontos de referência essenciais para viver no amor, para distin-guir claramente o bem do mal e construir um projecto de vida sólido e duradouro. Também a cada um de nós, Jesus pergunta se conhecemos os mandamentos, se nos preocupamos em formar a nos-sa consciência, segundo a lei divina, e se os pomos em prática. É verdade que se trata de exigências contra a corrente actual, que propõe uma liberdade separada dos valores, das regras, das normas objectivas e que convida a rejeitar qualquer limite aos desejos do momento. Mas este tipo de proposta, em vez de conduzir à verdadeira liberdade, leva o homem a tornar-se escravo de si mesmo, dos seus desejos imediatos, dos ídolos como o poder, o dinheiro, o prazer desenfreado e as seduções do mundo, tornando-o incapaz de seguir a sua natural vocação ao amor. Deus dá-nos os mandamentos porque quer educar-nos para a verdadeira liberdade, porque quer construir connosco um Reino de amor, de justiça e de paz. Escutá-los e pô-los em prática não significa alienar-se, mas encontrar o caminho da liberdade e do amor autênticos, porque os manda-mentos não limitam a felicidade, mas indicam como encontrá-la. Jesus, ao iniciar o diálogo com o jovem rico, recorda que a lei dada por Deus é boa, porque Deus é Bom. Como surgiram, então, os Dez Mandamentos? A Sagrada Escritura apresenta dois relatos da revelação do Decálogo por parte de Deus ao Seu povo no Monte Sinai, através de Moisés, na sequência da libertação da escravidão do Egipto: no Livro do Êxodo (Ex 20, 1-17) e no Deuteronó-mio (Dt 5, 6-22). O dom dos mandamentos e da Lei faz parte da Antiga Aliança selada por Deus com o Seu Povo, na qual Deus Se dá a conhecer, sendo uma luz oferecida à consciência de todo o homem, para lhe manifestar o apelo e os caminhos de Deus e o proteger contra o mal. “Através do Decálogo, Deus preparava o homem para se tornar seu amigo e ter um só coração com o seu próximo” (S. Ireneu de Lyon). Era uma preparaç~o para a vinda de Jesus. A Nova Aliança, selada com a morte de Jesus na Cruz, vem cumprir e aperfeiçoar a Lei Antiga. É uma nova lei de amor, que vem reformar a raiz dos actos, o coração do homem, mantendo as indicações morais do Decálogo, mas libertando o homem das práticas rituais e excessivamente literais da Lei antiga. De facto, um vasto grupo de judeus no tempo de Jesus agia exteriormente seguindo a lei e talvez um pouco à semelhança do Acendedor de Candeeiros (no Principezinho), que cumpre ordens e acende e apaga o candeeiro mecanicamente, sem questionar a lógica da sua acção. Não era este o desejo de Deus: Deus quer que o homem, na sua liberdade, escolha o Bem e esta esco-lha manifesta-se nas acções, exteriores e interiores. E o Bem não é algo que mude com os tem-pos, daí o carácter eterno dos mandamentos, isto é, a conduta moral não muda com as modas!

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Vamos então aos Mandamentos: Os três primeiros dizem respeito ao amor de Deus e os restantes sete referem-se ao amor ao próximo. Podem resumir-se em dois Mandamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Abaixo estão listados, podendo (e devendo) ser analisados com mais atenção no Catecismo da Igreja Católica: 1º Adorar a Deus e amá-Lo sobre todas as coisas. Deus lembra que foi Ele quem libertou o povo do Egipto e que este O deve adorar, reconhecendo-O como único Deus. 2º Não invocar o santo nome de Deus em vão. Deus revela o Seu Nome aos que crêem n’Ele e o homem não deve blasfemar ou abusar do nome de Deus. 3º Santificar os Domingos e festas de guarda. Antes, o dia santo era o Sábado, em que se des-cansava, fazendo-se memória da criação (Ex 20, 11). Com a Ressurreição de Jesus, o Domingo torna-se o Dia do Senhor. 4º Honrar pai e mãe (e outros legítimos superiores). Deus quer que depois d’Ele, o homem honre os pais, a quem deve a vida e o conhecimento de Deus, bem como os deveres matrimoniais e outros compromissos que assume, na família e na sociedade. 5º Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo). A vida humana é sagrada, é dom e só Deus é Senhor da vida. 6º Guardar castidade nas palavras e nas obras. Deus criou o homem e a mulher para a comu-nhão, vocacionados para o amor. A Igreja entende o 6º mandamento como englobando o con-junto da sexualidade humana. 7º Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo). Prescreve a justiça e a caridade na gestão dos bens terrenos, em atenção aos mais necessitados e às gerações futuras. 8º Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo). O homem tem a vocação à verdade, manifesta por palavras e actos. 9º Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos. A pureza de coração permitirá ao homem ver a Deus e ver tudo segundo Deus. 10º Não cobiçar as coisas alheias. O desapego das riquezas é necessário para entrar no Reino dos Céus. Para terminar, Jesus recorda-nos: Se Me amais, obedecereis aos Meus mandamentos. (Jo 14, 15)

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PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA O que é para mim ser autêntico, livre? Conheço cada um dos mandamentos e as suas repercussões? Como os encaro? Como um conjunto de proibições desactualizadas, ou como algo que me guia para ser livre e fazer o bem? Porque é que Deus nos dá os mandamentos? Como relaciono isso com as relações de amizade entre as pessoas hoje? Que exigência ponho nas relações com os meus amigos? Direitos e deveres?

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Individualmente, ou em grupo, desenvolver mais detalhadamente cada mandamento, através do Catecismo da Igreja Católica, nomeadamente no que diz respeito às suas implicações práticas, para apresentar na próxima reunião. Os mandamentos são úteis para realizar um profundo exame de consciência e auto-conhecimento. Aproveitar para me conhecer a mim mesmo e reconhecer os defeitos e pecados em que mais frequentemente caio, confessando-me deles.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA

Catecismo da Igreja Católica Passagens Bíblicas: Ex 20, 1-17 – Revelação dos Dez Mandamentos Dt 5, 6-22 – Segunda versão da Revelação dos Dez Mandamentos Mc 10, 17-19 – Jesus recorda os Mandamentos ao jovem rico

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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ORAÇÃO Salmo 119, 9-16

Como poderá um jovem manter puro o seu caminho? Só guardando as tuas palavras. Eu procuro-te com todo o coração; não deixes que me afaste dos teus mandamentos. Guardo no meu coração as tuas promessas, para não pecar contra ti. Bendito sejas, Senhor! Ensina-me as tuas leis.

Anuncio com os meus lábios todos os decretos da tua boca.

Alegro-me mais em seguir as tuas ordens, do que em possuir qualquer riqueza. Meditarei nos teus preceitos e prestarei atenção aos teus caminhos. Hei-de alegrar-me com as tuas leis; não esquecerei as tuas palavras.

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Fevereiro Palavra de Deus

Na sequência do último Sínodo dos Bispos sobre A Palavra de Deus na vida e na missão

da Igreja, parece-nos importante reflectirmos sobre o lugar que a Palavra de Deus deve ter na vida do cristão. Vamo-nos seguir pela Mensagem ao Povo de Deus, a conclusão desta reunião de Bispos que aconteceu em 2008, e que nos relata de maneira muito clara o que é esta Palavra.

Palavra de Deus pode significar muita coisa, mas significa, ao mesmo tempo, sempre o mesmo: Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne, que revela Deus e exprime a Sua vontade acerca do mundo e do homem. Mas vejamos como esteve presente desde sempre a Palavra de Deus na história da humanidade.

I. A voz da Palavra: a Revelação Diz-nos a Mensagem do Sínodo que desde a Criação, Deus fala e, pela sua Palavra, cria

tudo. “Trata-se de um som que tinha entrado em cena nos próprios primórdios da criação, quan-do rompera o silêncio do nada: «No princípio... Deus disse: Que se faça a luz! E a luz fez-se... no princípio já existia o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por meio dele, e sem Ele nada foi criado daquilo que existe» (Gn 1, 1.3; Jo 1, 1.3)”. Da mesma maneira, também podemos ler nos Salmos que “Pelas palavras do Senhor foram criados os céus, pelo sopro da sua boca, todo o seu exército... porque Ele falou e tudo foi criado, ordenou, e tudo começou a existir” (Sl 33, 6.9).

Ao longo da História da Salvação, que é a história de Deus com o Povo de Israel ao lon-

go dos séculos, existe uma presença divina nas vicissitudes humanas que, através da acção do Senhor, são inseridas num desígnio mais elevado de salvação, para que «todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2, 4). A palavra divina eficaz, criadora e salvadora encontra-se no princípio do ser e da história, da criação e da redenção. O Senhor vem ao encontro da humanidade, proclamando: «Eu disse e fiz!» (Ez 37, 14).

Na sequência destes séculos de história, há uma etapa que a voz divina percorre: é a da

palavra escrita, as chamadas Sagradas Escrituras, como se diz no Novo Testamento. Podemos ver exemplo dessa palavra escrita em Moisés, quando desce do Sinai, “com as duas t|buas da aliança nas m~os, t|buas escritas nos dois lados, na frente e no verso” (Êx 32, 15-16).

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As Sagradas Escrituras são o «testemunho» de forma escrita da palavra divina, são o memorial que atesta o acontecimento da Revelação criadora e salvadora. Portanto, a Palavra de Deus precede e excede a Bíblia, que contudo é inspirada por Deus e contém a palavra divina efi-caz (cf. 2 Tm 3, 16). É por isso que a nossa fé não tem no centro um livro, mas uma história de salvação e, como veremos, uma pessoa, Jesus Cristo, Palavra de Deus que se fez carne. Precisa-mente porque o horizonte da palavra divina abrange e se estende para além da Sagrada Escritu-ra, é necessária a presença constante do Espírito Santo, que «orienta para toda a verdade» (Jo 16, 13) aquele que lê a Bíblia. Esta é a grande Tradição, presença eficaz do «Espírito de verdade» no seio da Igreja. Por isso é que é a Igreja a única intérprete revestida de autoridade para explicar a Bíblia.

II. O rosto da Palavra: Jesus Cristo A Palavra eterna e divina entra no espaço e no tempo, assumindo um rosto e uma iden-

tidade humana, a tal ponto que é possível aproximar-se da mesma directamente e pedir, como fez aquele grupo de gregos presentes em Jerusalém: «Queremos ver Jesus» (cf. Jo 12, 20-21).

Cristo é «o Verbo que está junto de Deus e que é Deus», é «a imagem do Deus invisível,

gerado antes de toda a criatura» (Cl 1, 15); mas é também Jesus de Nazaré, que caminha pelas estradas de uma província marginal do império romano, que fala uma língua local, que revela as características de um povo, o judeu, e da sua cultura. Por conseguinte, o Jesus Cristo real é carne frágil e mortal, é história e humanidade, mas é também glória, divindade e mistério: Aquele que nos revelou o Deus, que ninguém jamais viu (cf. Jo 1, 18). Jesus é verdadeiramente Deus e verda-deiramente homem.

III. A casa da Palavra: a Igreja Nos Actos dos Apóstolos (2, 42), Lucas traça a arquitectura da Igreja, fundamentada

sobre quatro colunas ideais: «Eram perseverantes no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fracção do pão e nas orações».

É sobretudo nisto que consiste a pregação da Palavra de Deus. Com efeito, o Apóstolo Paulo admoesta-nos que «a fé provém da escuta, e a escuta diz respeito à Palavra de Cris-to» (Rom 10, 17). É da Igreja que sai a voz do mensageiro, que a todos propõe o “querigma”, ou seja, o anúncio primário e fundamental que o próprio Jesus proclamara no início do seu ministé-rio público: «O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15).

IV. Os caminhos da Palavra: a Missão Também Cristo ressuscitado lança aos Apóstolos receosos o apelo a saírem dos confins

do seu horizonte protegido: «Ide e fazei discípulos de todas as nações... ensinando-as a observar tudo quando vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20). A Bíblia está inteiramente imbuída de apelos a «não calar», a «clamar com força», a «anunciar a palavra oportuna e inoportunamente», a ser sentinela que rompe o silêncio da indiferença. Os caminhos que se abrem diante de nós não são, pois, somente aqueles ao longo dos quais caminhavam São Paulo e os primeiros evangelizadores e, atrás deles, todos os missionários que se dirigiam aos povos de terras distantes, mas todos os

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caminhos onde hoje haja pessoas que ainda não conhecem Cristo, a Palavra de Deus. Cristo caminha ao longo das ruas das nossas cidades e detém-se diante dos umbrais

das nossas casas: «Eis que estou aqui e bato à porta; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo» (Ap 3, 20). A família, fechada entre as pare-des da própria casa, com as suas alegrias e os seus dramas, é um espaço fundamental onde fazer entrar a Palavra de Deus. A Bíblia está inteiramente constelada de pequenas e grandes histórias familiares, que podem ser aproveitadas para estimular o gosto pela leitura da Bíblia.

Em particular as novas gerações, as crianças e os jovens, deverão ser destinatários de

uma apropriada e específica pedagogia, que os leve a experimentar a fascinação da figura de Jesus Cristo, abrindo a porta da sua inteligência e do seu coração, também através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia da comunidade eclesial.

Concluímos este tema com o último parágrafo desta rica mensagem, que a todos reco-

mendamos que leiam! “Agora, façamos silêncio para ouvir eficazmente a Palavra do Senhor e conservemos o

silêncio depois da escuta, para que ela continue a permanecer, a viver, e a falar em nós. Façamos com que ela ressoe no início do nosso dia, para que Deus tenha a primeira palavra, e deixemo-la ecoar em nós { noite, a fim de que a última palavra seja de Deus”.

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA Vimos que Deus sempre falou com o seu povo, desde a Criação. Vejo a minha relação com Deus como este diálogo permanente e vivo, onde Deus revela a sua vontade para a minha vida, ou estou “surdo” e não dou espaço na minha vida para O ouvir? Palavra de Deus é então não apenas a Bíblia, mas também a Tradição, ou seja, a voz da Igreja, por onde Deus nos fala. Oiço verdadeiramente os ensinamentos da Igreja como Palavra de Deus? Como é o meu conhecimento da Bíblia? Tenho o costume de ler a Bíblia espontaneamente, ou ir a algumas reuniões ou catequeses bíblicas? Como é que a Palavra me provoca a ir mais longe? Deixo-me interpelar por aquilo que Deus me diz

na Bíblia, ou acho sempre que são palavras desactualizadas e para outros?

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PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Ler esta Mensagem ao Povo de Deus sobre a Palavra de Deus. Escolher um Livro do Antigo Testamento e lê-lo, tentando ler também alguma coisa que me ajude a compreendê-lo e a situá-lo no contexto em que foi escrito. Ler um documento da Igreja, como uma encíclica do Papa ou uma catequese do Bispo da minha

diocese, procurando ver com os olhos da fé que essa Palavra é para a minha vida um sinal da

vontade de Deus.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Mensagem do Povo de Deus, do Sínodo dos Bispos sobre A Palavra de Deus na vida e na missão e da Igre-ja, que pode ser lido em: http://ww.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/documentos/pdf/sinodo_dos_bispos.pdf

Passagens Bíblicas: Gen 1 – Criação do mundo pela Palavra de Deus Ez 3, 10 – Escutar a Palavra de Deus Ex 32, 15-16 – Moisés com as Tábuas da Lei Dt 30, 14 – A Palavra de Deus está próxima de ti Mt 13, 3-8 – Parábola do Semeador Lc 8, 21 – Felizes os que escutam a Palavra de Deus Lc 24, 13-35 – Jesus explica as Escrituras aos discípulos de Emaús Act 2, 42-47 – Colunas da Igreja Act 8, 26-40 – Conversão de Filipe pela Palavra de Deus

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ORAÇÃO Nada melhor do que ler um excerto da Palavra de Deus como oração final desta reunião. Escolhemos a famosa passagem dos Discípulos de Emaús porque aí vemos como Jesus, a Palavra de Deus, explica ao longo do caminho as Escrituras àqueles dois tristes discípulos. Preparados com essa explicação, reconhecem depois o Senhor ao partir do Pão. É isto o que acontece na Missa, primeiro temos a Liturgia da Palavra e depois a Liturgia da Eucaristia. Do Evangelho segundo São Lucas (Lc 24, 13-35) Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer. Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!» Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responde-ram-lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que se deram estas coisas. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia. Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.» Jesus disse-lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez men-ção de seguir para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abri-ram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença.Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus companheiros, que lhes disseram: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão.

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Março

Jejum Na sequência do tema sobre a Esmola, no caderno do ano passado, pensamos que é importante falar agora do Jejum. Esmola, Jejum e Oração são três formas mais comuns do espíri-to de penitência que somos chamados a viver na nossa vida. Muitas vezes podem ser mal com-preendidos, ou vividos de maneira pouco cristã, se a sua motivação não for certa. O espírito da penitência é o mais importante, espírito esse que se manifesta em várias obras exteriores. Diz- -nos o livro de Tobias: “É boa a oraç~o feita com verdade e a esmola, acompanhada pela justiça. Melhor é pouco com justiça, do que muito com iniquidade. Melhor é dar esmolas do que acumu-lar tesouros, pois a esmola livra da morte e limpa de todo o pecado. Os que praticam a misericór-dia e a justiça serão cumulados de vida. Aqueles que cometem o pecado e a injustiça são inimigos da sua própria vida” (Tob , 12-8-10). Veremos hoje em que consiste o jejum que a Igreja recomen-da. Antes de mais, devemos enquadrar a prática do jejum na experiência do povo judeu. Já se pratica o jejum muito antes da vinda de Jesus, enquanto penitência e oferta a Deus, ou, em vários povos, aos deuses. O jejum muitas vezes servia como prática de penitência para expiar os pecados ou para aplacar a ira de Deus, quando o povo era infiel, ou também para pedir a ajuda de Deus. S~o exemplo disso grandes jejuns mandados fazer por Josafat, (“Perturbado, Josafat deci-diu consultar o Senhor e promulgou um jejum para todo o território de Jud|” em 2Cro 20,3) ou por Esdras (“Ali, junto do rio Aav|, proclamei um jejum a fim de nos humilharmos diante do nos-so Deus e de lhe implorarmos uma feliz viagem para nós e para os nossos filhos, com todos os nossos haveres” em Esd 8, 21). Muitas s~o as passagens do Antigo Testamento em que é pratica-do o jejum neste sentido, jejum esse que não deixa de ser feito na nossa tradição cristã.

“Nem só de p~o vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” Mt, 4,4

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São várias também as passagens no Novo Testamento em que, antes de alguma ocasião importante, Jesus ou os discípulos fazem jejum. Quando Barnabé e Paulo são enviados em mis-s~o, lemos: “Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir” (Act 13, 2-3). Ou quando estes Apóstolos formam novas Igrejas: “Depois de lhes terem constituído anci~os em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado” (Act 14, 23).

Jesus, contudo, ensina-nos que esse jejum não deve ser algo que mostramos aos outros, mas uma penitência que deve ser acima de tudo discreta. De facto, o espírito de penitência não é um teatro para impressionarmos os outros, mas a expressão de um coração contrito que quer agradar a Deus e pede a graça da convers~o. Diz Jesus: “E, quando jejuardes, n~o mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te” (Mt 6, 16-18).

É interessante ver como um dos cinco preceitos da Igreja é “Guardar abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja”. Este espírito de penitência é muito importante porque nos prepara para as festas litúrgicas e contribui para nos fazer adquirir domínio sobre os nossos ins-tintos e a liberdade do coração. É como um sinal que mandamos ao nosso corpo a dizer que não é o nosso corpo que manda em nós, mas somos nós, como pessoas livres, que dominamos o corpo e tudo o que seja expressão de paixões carnais.

O objectivo do jejum não pode ser apenas o não comer, mas a motivação profunda que nos leva a privar-nos de certos alimentos que não são essenciais. É muito importante que o jejum não seja apenas uma dieta. De facto, na nossa cultura contemporânea, é muito fácil compreen-der o deixar de comer para emagrecer. Nesse sentido, o jejum até é bastante aceite pelo homem moderno. Contudo, para os cristãos, o jejum não é um truque para se ficar mais bonito, mas é um acto de penitência que é feito em verdadeiro espírito de alegria, porque nos damos conta que jejuando nos tornamos mais livres. Não somos escravos de nenhum vício alimentar e não caímos no pecado da gula, do comer por comer, quando verdadeiramente não precisamos. O jejum será para nós algo que nos faz pensar mais em Deus e menos em nós próprios. Devemos treinar-nos a pôr Deus no centro do nosso pensamento e da nossa vida!

Na vida da Igreja, é-nos recomendado que jejuemos pelo menos dois dias durante o ano: na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, sendo também estes dias de abstinência de carne. São dias importantes na preparação para a maior festa do cristão, a Páscoa. No início da Quaresma, o jejum dá-nos o tom daquilo que deve ser este tempo, um tempo forte de peni-tência e conversão. Em Sexta-feira Santa, dia da morte de Jesus, jejuamos unidos ao Senhor que morre por nós, para nos dar a vida eterna.

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PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA Qual o meu entendimento sobre o jejum? Pratico-o, ou acho que é algo desactualizado e sem sentido? Alguma vez fiz a experiência do jejum sem ser por obrigação? Antes de tomar uma decisão difícil ou num momento especial da minha vida, já experimen-tei jejuar para poder concentrar-me apenas em Deus? Vejo o jejum apenas na perspectiva simples, como

algo útil para emagrecer ou poupar dinheiro? Ou

tento vivê-lo como sinal do meu amor por Deus,

como sinal que eu sou mais forte do que os desejos

instintivos do meu corpo?

PONTO DE ESFORÇO (algumas suges-tões)

Jejuar, como a Igreja pede, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, seguindo o ensina-mento de Jesus de não o fazer para mostrar aos outros, mas no segredo. Num dia especial para mim, ou durante um período de tempo, como sinal da minha atitude de permanente conversão, faço jejum de algo que gosto e ofereço a Deus esse jejum. A Igreja pede-nos que guardemos o jejum eucarístico pelo menos uma hora antes de comungar-

mos. Faço um esforço por começar a respeitar este ensinamento, de modo a que eu possa viver

com maior dignidade e serenidade a celebração da Eucaristia.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Catecismo da Igreja Católica, artigos 1387, 1434-1438, 1969, 2043.

Passagens Bíblicas: 2Cro 20 – Reinado de Josafat Tob 12 – revelação do Anjo a Tobias (sobre oração e esmola) Mt 6, 16-18 – Como jejuar Lc 2, 37 – Jejum e orações Lc 5, 33-35 – Discussão sobre o jejum

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ORAÇÃO Salmo 50

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade, *

pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.

Lavai-me de toda a iniquidade * e purificai-me de todas as faltas.

Porque eu reconheço os meus pecados *

e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.

Pequei contra Vós, só contra Vós, *

e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Assim é justa a vossa sentença *

e recto o vosso julgamento.

Porque eu nasci na culpa *

e minha mãe concebeu-me em pecado.

Amais a sinceridade de coração *

e fazeis-me conhecer a sabedoria no íntimo da alma.

Aspergi-me com o hissope e ficarei puro, *

lavai-me e ficarei mais branco do que a neve.

Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria *

e estremeçam meus ossos que triturastes.

Desviai o vosso rosto das minhas faltas *

e purificai-me de todos os meus pecados.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro *

e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.

Não queirais repelir-me da vossa presença *

e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação *

e sustentai-me com espírito generoso.

Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos *

e os transviados hão-de voltar para Vós.

Ó Deus, meu Salvador, livrai-me do sangue derramado *

e a minha língua proclamará a vossa justiça.

Abri, Senhor, os meus lábios *

e a minha boca anunciará o vosso louvor.

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Não é do sacrifício que Vos agradais *

e, se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis.

Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido: *

não desprezareis, Senhor, um espírito humilhado e contrito.

Pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, *

reconstruí os muros de Jerusalém.

Então Vos agradareis dos sacrifícios devidos,

oblações e holocaustos, * então serão oferecidas vítimas sobre o vosso altar.

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Abril

Perdão O filme “Invictus”, realizado por Clint Eastwood, muito mais do que uma película sobre rugby ou sobre o fim do apartheid na África do Sul, diz respeito ao poder do perdão e à liberdade de um homem – Nelson Mandela – capaz de se desprender dos sentimentos de ódio e sede de vingança que seriam expectáveis em alguém injustamente preso durante 27 anos, para recons-truir e unificar um país dividido por um passado de violentas repressões e desigualdades sociais. Talvez o processo de unificação do país não tenha sido assim tão romântico como o filme apre-senta, mas o exemplo de Nelson Mandela deve ser seriamente encarado por nós, cristãos, cha-mados a perdoar aqueles que nos perseguem e a tomar a iniciativa de partir ao seu encontro. Sim, somos chamados a perdoar, como recordamos quando rezamos o Pai Nosso! Neste contexto, recordamos também o testemunho da visita e do perdão do Papa João Paulo II a Ali Agca, terrorista detido pela tentativa de assassinato ao Papa na Praça de S. Pedro a 13 de Maio de 1981. É precisamente este exigente desafio do perdão, que muito intriga tanto católicos como não católicos, que vamos abordar.

Na nossa vida, frequentemente ficamos divididos: como perdoar, ou não, aquele amigo que nos fez uma determinada coisa? E perdoar pela quinta vez aquela amiga, que fez aquilo? Às tantas, não será estupidez e ingenuidade? Como ser justo mas simultaneamente misericordioso? Vale a pena ver um famoso quadro de Rembrandt sobre a parábola do regresso do filho pródigo e que até deu origem a um livro do Pe. Henry Nouwen com o mesmo nome, que revela esta misericórdia infinita que Deus derrama sobre nós. Esta parábola, narrada em Lucas 15, 11-32, apresenta-nos as diferentes faces do perdão, manifestas em cada personagem. Todos sabe-mos a história: Um pai tinha dois filhos e o mais novo, a dado momento, pede ao pai a herança e vai embora de casa, gastando a fortuna na má vida. Ao haver grande fome na região, perante as dificuldades, o filho recorda como estaria melhor na casa do pai e regressa a casa, para dizer ao pai: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; j| n~o mereço ser chamado teu filho, trata-me como a um dos teus empregados”. Entretanto, o pai, que todos os dias aguardava o regresso do filho, encheu-se de compaixão ao vê-lo ao longe, correndo para ele e abraçando-o, ordenando a reali-zação duma festa, pois o filho estava vivo, estava perdido e fora reencontrado. O filho mais velho, que sempre fora fiel ao pai, ao saber da festa pelo regresso do irmão, ficou com raiva e não quis participar. O Pe. Nouwen aborda o tema do perdão da óptica de cada uma das personagens desta parábola. Começando pelo filho mais novo, este tem a humildade de aceitar ser perdoado pelo pai e confiar no seu infinito perdão, bem como reconciliar-se consigo mesmo. Efectivamente, este é um dos grandes desafios no mundo de hoje. Tanta gente se considera já demasiado afas-tada da Casa do Pai e por isso não regressa à Igreja, não se conseguindo também perdoar a si

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mesmo. Todos conhecemos aquelas frases: “ah, isto j| n~o tem volta a dar, j| fiz demasiadas asneiras” ou “aquilo que fiz foi imperdo|vel”. Neste contexto, vale a pena considerar Judas e S. Pedro. Ambos traíram gravemente Jesus e reconheceram o mal, mas a diferença reside em que Judas não confiou na misericórdia

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divina, foi orgulhoso, não acreditou que Deus o pudesse perdoar e perdeu a esperança, enforcan-do-se. Já S. Pedro, caindo em si, reconheceu-se pecador e confiou e acolheu a misericórdia de Deus, a ponto de Jesus edificar sobre ele a Igreja. É este exemplo de Pedro que somos chamados a seguir: reconhecermo-nos pecadores, necessitados da misericórdia de Deus, pois a nossa fra-queza leva-nos a frequentemente deixarmos a Casa do Pai. O filho mais velho, perante a alegria do pai por causa do regresso do seu irmão mais novo, manifesta-se como uma pessoa ressentida, orgulhosa, severa e egoís-ta. A fama de ser o filho “certinho”, a quem nada era necessário perdoar, pois tudo fazia bem, ocultava estes sentimentos. Neste contexto, o episódio da pecadora aos pés de Jesus descrito em Lc 7, 36-50 é sintomático: sobre aquela pecadora arrependida, que se ajoelha diante de Nosso Senhor, em comparação com o fariseu que se con-siderava muito bom e que por isso não tem esses cuida-dos, Jesus diz: “s~o-lhe perdoados os seus muitos peca-dos, porque ela muito amou; aquele a quem mais se per-doa, mais amar|”. E este amor manifesta-se pela acção da mulher arrependida, em contraste com a do fariseu. Todos nós temos esta tentação, de nos considerarmos “bons”, dispensados da necessidade de ser perdoados por Deus ou pelos outros. E isto torna-nos pessoas frias, dis-tantes, rigorosas e muito atentas ao aspecto exterior da acção, descurando o sentido interior. Por fim, o pai, modelo do Pai do Céu, é infinita-mente misericordioso e amoroso. O perdão de Deus é incondicional: brota de um coração que não reclama nada para si, vazio de egoísmo, que acolhe sem nada esperar em troca e já sabendo que futuramente poderá ser ofen-dido novamente. Mas esta é a realidade do amor huma-no: um amor feito de quedas e tropeções. É curioso notar que todas estas inquietações sobre o perdão que nos abalam já foram sentidas por tantos outros homens e mulheres ao longo de toda a história da humanidade. Inclusivamente, há 2000 anos, também Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, até quantas vezes poderá pecar o meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Jesus respondeu-lhe: Não até sete vezes, mas seten-ta vezes sete” (Mt 18, 21-22). Isto é, somos chamados a perdoar sempre. E porque somos chamados a perdoar? Porque, como filhos mais velhos ou mais novos, experi-

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mentamos a misericórdia e o perdão de Deus constantemente e Jesus exorta-nos: “Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tendes? (...) Vós, porém, amai os vossos inimigos. (...) Sede misericordiosos, como também o Vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados, não condeneis e não sereis condenados, perdoai e sereis perdoados. (...) Porque com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós” (Lc 6, 33-38). Conclui o Pe. Nouwen: “Se Deus perdoa aos pecadores, então aqueles que têm fé deveriam fazer o mesmo. Se Deus recebe os pecadores em casa, então aqueles que confiam em Deus também deveriam fazê-lo. Se Deus é misericordioso, então os que amam a Deus deveriam ser misericordio-sos. O Deus que Jesus anuncia e em nome de Quem actua, é o Deus da misericórdia, o Deus que se propõe como exemplo e modelo do comportamento humano”. Assim, somos chamados a ser como o Pai. Nos dias de hoje, o perdão testemunha também que o amor é mais forte que o pecado e que a misericórdia supera a justiça. A morte de Jesus na Cruz, de onde exclama “Perdoa-lhes, Pai, porque n~o sabem o que fazem”, é o perd~o levado ao extremo. Este perd~o deve inquietar-nos sempre, sendo um meio de evangelização privilegiado, junto de tanta gente não habituada a ser perdoada nem a perdoar. E o Sacramento da Reconciliação/Confissão, também chamado de Sacramento da Alegria, é sempre ocasião de experimentar esse Amor libertador e misericordioso de Deus!

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA O que é para mim perdoar e ser perdoado? É simplesmente esquecer, não falar mais nisso? Como perdoo? Como sou perdoado? Como me sinto depois de ser perdoado, por exemplo no Sacramento da Confissão? Na amizade, tal como no Matrimónio, o perdão é fundamental e muitas vezes é um trampolim para uma relação mais sólida e verdadeira. Vivi algum caso em que o perdão tenha sido ocasião de maior amizade? Identifico-me com as personagens da parábola do filho pródigo? Porque é que Deus nos perdoa tanto?

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Há algum amigo ou amiga com quem eu esteja zangado, de relações cortadas? Partir ao encon-tro desse amigo/a, perdoar e/ou aceitar ser perdoado. Ajudar a unir familiares ou amigos dividi-dos.

Ler o Regresso do Filho Pródigo, de Henri Nouwen.

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PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Catecismo da Igreja Católica – sobre o Pai Nosso O Regresso do Filho Pródigo, de Henri Nouwen Passagens Bíblicas: Lc 6, 33-38 – Sede misericordiosos Lc 7, 36-50 – A pecadora arrependida aos pés de Jesus Lc 11, 2-4 – Pai Nosso Lc 15, 11-32 – Parábola do regresso do filho pródigo Mt 18, 21-22 – Setenta vezes sete

ORAÇÃO

Hoje propomos que faças um exame de consciência, com algum tempo, Aproveita para pedir perdão a Deus e aos teus irmãos por tudo o que tenhas feito de mal. No fim reza-se em conjunto o Acto de Contrição.

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Acto de contrição

Meu Deus, porque sois infinitamente bom, eu Vos amo de todo o meu coração, pesa-me ter-Vos ofendido, e, com o auxílio da vossa divina graça, proponho firmemente emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender; peço e espero o perdão das minhas culpas pela vossa infinita misericórdia. Ámen.

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Maio

Liturgia das Horas

Neste tema vamos conhecer um tesouro precioso que a Igreja nos oferece, e infelizmente poucos são os que o conhecem. Estamos a falar da Liturgia das Horas, um livro com a oração da Igreja, a oração diária que a Igreja propõe a todos os fiéis, começando pelo Papa e passando por todos! Comecemos por perceber o lugar da oração na vida da Igreja. Uma primeira destrinça que deve

ser feita, para a compreensão da Liturgia das Horas, é entre a oração particular e a oração públi-ca e comunitária por parte dos cristãos. De facto, é bom e aconselhável que os cristãos se juntem em formas de devoção e piedade popular mas, contudo, a liturgia está num plano diferente des-ta. O Concílio Vaticano II afirma a liturgia como a fonte primeira e indispensável do espírito cris-tão, com o objectivo da santificação do homem e o louvor divino. De facto, esta oração litúrgica deve expressar um laço a Cristo, uma relação íntima e viva, uma vez que pelo baptismo os cris-tãos estão inseridos num só corpo que é a Igreja, do qual a cabeça é Cristo. A oração cristã torna os cristãos participantes, pelo Espírito Santo que reza em cada um, do amor que une Pai e Filho em comunhão. E isso faz-se em primeiro lugar inserido numa comunidade, que é a Igreja.

É assim que, de entre toda a oração cristã, surge em primeiro lugar a oração litúrgica,

aprofundada ao longo dos tempos pela Tradição, formada por textos patrísticos (Padres da Igreja são ao autores dos primeiros séculos da Igreja) e bíblicos de grande valor teológico e espiritual, para poder servir à Igreja que é sempre universal. É verdadeiramente alimento para a vida cristã. Em verdade, a Igreja está vinculada à oração, é inerente à sua missão.

É importante lembrar que a Liturgia das Horas é a oração de todo o povo de Deus. Esta

é a Oração da Igreja, logo, a oração de todos os baptizados que a compõem. Devemos tentar lutar contra a imagem de uma oração destinada apenas aos padres ou religiosos e associar os leigos nesta missão que também é a sua, a missão orante da Igreja para a salvação do mundo.

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A Igreja é comunidade orante por natureza: de facto, ela não pode viver sem uma pere-

ne oração, que a sustenta e lhe dá vida. É em Cristo e no Espírito Santo que a Igreja universal se expressa, mesmo nas comunidades eclesiais mais pequenas, ou na oração da Liturgia das Horas em família ou sozinho.

Cristo está presente de forma muito especial na oração litúrgica da Igreja, uma vez que

na súplica da Igreja está a súplica de Cristo. O que a Igreja oferece a Deus é Cristo que Se oferece ao Pai. Cristo é o Orante por natureza, o único sacerdote.

Do mesmo modo, a acção do Espírito Santo é indispensável para garantir a unidade da Igreja, como num corpo é necessário que todos os membros comuniquem entre si. De facto, é o Espírito que anima e vivifica a Igreja e não há verdadeira oração cristã sem a actuação do Espírito de Deus: Ele une a oração da Igreja com a oração de Cristo e isso vê-se, por exemplo, no facto de os textos principais da Liturgia das Horas fazerem parte da Bíblia, Palavra de Deus escrita por homens sob inspiração do Espírito Santo.

O nome da Liturgia das Horas relaciona-se, como indica, com a sua vertente de santifi-

cação durante as horas do dia. Ao longo dos tempos a oração distribuída pelas horas variou mui-to de igreja para igreja, não havendo registos completos de como seria composta. Sabemos con-tudo que desde o início era essencialmente composta por Salmos, com trechos bíblicos e alguns hinos. Em relação aos tempos de oração, a partir do século IV estes variavam dos dois até aos oito ou mesmo 12 em alguns casos, para cada dia. Contudo, a tradição mais difundida foi a Regra de São Bento que, em alusão ao Salmo 118, 164 «Sete vezes por dia eu te louvo», estruturou a oração pelas horas de Nocturnos/Laudes, Prima, Tércia, Sexta, Noa, Vésperas e Completas.

Quase que poderíamos dizer que Jesus e os discípulos rezavam a Liturgia das Horas.

Obviamente não o faziam, porque esta não existia, mas notamos desde logo a origem e funda-mento da oração cristã no próprio Senhor. Em verdade, vários são os testemunhos evangélicos de Jesus em oração e, desde logo, dos Apóstolos e as primeiras comunidades cristãs. Se havia algo que as caracterizava era a perseverança na oração, escuta da Palavra, celebração eucarística e comunhão fraterna. Do mesmo modo, pode-se constatar que a oração muitas vezes consistia na recitação dos Salmos, tradição judaica que Jesus segue.

Na sua estrutura, as diversas Horas da Liturgia são compostas maioritariamente por

Salmos e cânticos. Estes são a parte central da Liturgia das Horas, dando tom geral à oração. Pela sua diversidade e quantidade, são muito apropriados porque exprimem uma imensa varie-dade de sentimentos e situações humanas, como as que passaram o povo de Israel. Não é irrele-vante o facto de terem sido estas as orações que o próprio Jesus Cristo utilizou na sua vida e, seguindo esse costume, também toda a Igreja nascente. Parecendo à primeira vista orações historicamente situadas, e, por isso, já desactualizadas, a verdade é que, pela sua grande varie-dade, se adaptam, ontem como hoje, ao homem, quer nos momentos de alegria como de sofri-mento, de confiança ou angústia, de paz ou inquietação.

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Por fim, vejamos as três principais Horas do dia. Pela manhã, as Laudes; de tarde, as

Vésperas; ao deitar, as Completas.

Laudes Por tradição, as Laudes são a oração da manhã, que deve ser rezada na aurora, quando

acaba a noite e começa o dia. É, portanto, destinada à santificação do período da manhã e é rica na simbólica da luz, da manhã e do sol nascente. De facto, Cristo é o Sol nascente, Aquele que nos livra das trevas e ilumina o mundo, tendo ressuscitado ao amanhecer. Nas Laudes pede-se que Deus ilumine e guie o caminho do homem durante o dia e que confirme as suas acções de louvor para edificação do Reino.

Vésperas Em oposição às Laudes, as Vésperas são a oração da tarde, do anoitecer. Tomando a

imagem de Emaús, são o pedido dos fiéis ao Senhor para que permaneça com eles porque anoi-tece (Cf. Lc 24, 29). Na conclusão do dia, o povo de Deus agradece e pede perdão pelos pecados cometidos durante a jornada, manifestando também, ao mesmo tempo, um profundo sentido escatológico de oração ao exprimir a espera da bem-aventurança eterna e a última vinda do Senhor. É muito presente também a simbólica da última Ceia e a referência à morte do Senhor.

Completas É a oração do final do dia. O momento inicial, e que de certa forma marca este tempo

litúrgico, é um exame de consciência, um acto penitencial, um pedido de perdão a Deus por todas as faltas que ocorreram durante o dia. Neste sentido também os hinos mostram este pedi-do de perdão associado a um confiante pedido de protecção para a noite que se segue. É, por isso, manifestação da alegria e confiança que a Igreja deposita no seu Senhor, luz que ilumina o mundo. As Completas acabam sempre com uma oração a Nossa Senhora, tradição já desde pelo menos o século XII.

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA

Já tinha ouvido falar da Liturgia das Horas? Procuro pelo menos pesquisar uma Liturgia das Horas

para ver como é e que orações a compõem.

Esta oração pode parecer muito “avançada” para nós, cheia de imagens e palavras do Antigo Testa-

mento que não parecem fazer muito sentido para os dias de hoje. Mas isso não será sinal que não

conheço a Bíblia, principalmente o Antigo Testamento?

ejNS 49 Como vimos, muitas vezes pensa-se que a Liturgia das Horas é o livro de orações dos padres e das

freiras, e não de todos os católicos. Porque será esta ideia? Como é que eu vejo o lugar da oração na

vida dos leigos, dos jovens, dos casais, das famílias? Não será importante também os leigos rezarem

a oração da Igreja?

Uma das maiores dificuldades da Liturgia das Horas é que eu a rezo independentemente do meu

estado de espírito. Ou seja, muitas vezes posso estar triste e os Salmos desse dia exprimirem muita

alegria. É-me duro fazer essa oração? É uma experiência que torna a oração mais difícil, mas é muito

benéfica porque me ensina a sair de mim e não absolutizar o mundo apenas de acordo com o que eu

estou a sentir nesse dia.

PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Em várias paróquias, é comum haver a Oração de Laudes os Véspe-ras, principalmente antes ou depois da Missa. Procuro ir e experi-mentar esta oração que a Igreja me propõe. Com um amigo que tenha o hábito de rezar a Liturgia, ou com um padre ou alguém que eu conheça que reze, tento também rezar a Liturgia, para sentir o que é rezar pela Igreja, com a Igreja, ao ritmo da Igreja. Procuro alguns Salmos na minha Bíblia e rezo-os, tomando cons-

ciência que são Salmos rezados há milhares de anos e que também

Jesus os rezou.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA

Aqui tens toda a Liturgia das Horas disponível em suporte digital: http://www.liturgia.pt/lh/

Passagens Bíblicas: Sl 6 – Oração de súplica Sl 16 – Afirma a confiança em Deus Sl 50 – Salmo para pedir perdão Sl 74 – Salmo de lamento Sl 150 – Salmo de louvor Act 2, 42-47 – Os discípulos eram assíduos às orações. Col 4, 2-6 – Oração e testemunho cristão 1Tes 5, 12-22 – “Orai sem cessar”

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ORAÇÃO

Este é o último Salmo do Livro dos Salmos, e exprime o louvor de Deus, algo que devemos fazer constantemente na nossa vida. Tentamos rezar pondo-nos no contexto histórico em que foi escrito e imaginando como era grande a alegria dos que rezavam.

Salmo 150

Aleluia!Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no seu majestoso firmamento!

Louvai-o pelos seus feitos valorosos; louvai-o por todas as suas grandes proezas!

Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com a harpa e a cítara!

Louvai-o com tambores e danças; louvai-o com instrumentos de corda e flautas!

Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos vibrantes!

Tudo o que respira louve o Senhor! Aleluia!

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Junho

O Espírito Santo

na Santíssima Trindade

A Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – é em Quem nós professamos a nos-sa fé. Quando rezamos na Missa, Domingo após Domingo, “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso (…) Creio em Jesus Cristo (…) e Creio no Espírito Santo”, estamos a professar a nossa fé, ou seja, estamos a afirmar que acreditamos em Deus, este Deus único que é a Santíssima Trindade. Se calhar para muitos de nós o Espírito Santo é o mais “desconhecido”. Falamos muito em Deus Pai, quase sempre de Jesus Cristo, mas do Espírito Santo normalmente falamos pouco, até porque não sabemos bem o que dizer! Vamos tentar perceber um bocadinho quem é o Espíri-to Santo. Logo desde o princípio da Bíblia ouvimos falar do Espírito de Deus. Muitas vezes, no Anti-go Testamento, é representado pelo vento, pela brisa ou pelo sopro, sinal de vida e de Deus. Nas primeiras palavras do primeiro livro, o Génesis, é-nos contado: “No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das |guas” (Gen 1, 1-2). Vemos como Deus está presente, e é pelo Seu Espírito que dá vida a tudo. Mais à frente, é-nos apresentada a criaç~o do homem: “ent~o o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo” (Gen 2,7). Aqui vemos a import}ncia fundamental do Espí-rito Santo. É pela sua acção que Deus cria o Homem. Ele é o Espírito que dá a vida, que anima todas as coisas.

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Também ao começarmos o Novo Testamento, com Jesus, o Espírito Santo continua a revelar a sua acção de vida. Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica! “Quando o Pai envia o seu Verbo, envia sempre o seu Sopro: missão conjunta em que o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo que aparece, Ele, a Imagem visível do Deus invisível; mas é o Espírito Santo que O revela” (687).

De facto, vemos como, em muitos momentos da vida de Jesus, o Espírito Santo está sempre a actuar. Logo na Encarnação, quando em Jesus Cristo Deus Se faz homem, o Arcanjo diz a Nossa Senhora: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 35). Mais tarde, como início da sua actividade pública, Jesus é baptizado. Nesse momento, lemos: “Uma vez bapti-zado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele.

E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado»” (Mt 3, 16-17). Também na hora da sua morte, quando está na Cruz, conta-nos S~o Lucas no seu Evangelho: “Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Dito isto, expirou”. (23, 46). Por fim, depois de Jesus ter entregue na Cruz o Seu Espírito ao Pai, passados 50 dias, esse mesmo Espírito San-to desce sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, reunidos em oração – é a Igreja – no dia de Pentecostes: “Quando che-gou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então apare-cer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, confor-me o Espírito lhes inspirava que se exprimissem” (Act 2,1-4). Começamos a perceber então como o Espírito San-to acompanha a história da humanidade, desde antes da

criação do Homem, passando pela vida toda de Jesus e continua presente no tempo da Igreja. Essa sua missão é fulcral para a vida da Igreja. Pode-nos ajudar a perceber o Espírito Santo como o laço de amor que une o Pai e o Filho.É a comunicação que permanentemente existe na Santíssima Trindade, que é a comunhão das Três Pessoas divinas. É animada por esse mesmo Espírito que a Igreja vive. A Igreja é feita como imagem de Deus, por isso é constituída também por pessoas em comunhão, ligadas pelo mesmo Espírito de Deus. É por este Espírito que a Igreja se guia, é Ele que conduz a Igreja e nos

ejNS 53 dá a certeza de estarmos no caminho certo. A missão do Espírito é a mesma de Jesus Cristo e esta realiza-se na Igreja: “Esta miss~o conjunta associa a partir de agora os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito San-to” (CIC 737). Por fim, não nos podemos esquecer que o Espírito Santo é Quem nos permite conhecer a Deus. É pelo Espírito Santo que recebemos a fé. A fé é um dom de Deus; não resulta da simples von-tade do homem, mas é fruto do amor de Deus. Assim, é pela acção do Espírito que conseguimos responder ao Deus que fala connosco. Deus fala- -nos e age em nós, pelo Seu Espírito, para que Lhe possamos responder! “Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’ a n~o ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). “Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abb|, Pai!”(Gl 4,6). Este conhecimen-to de fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contacto com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É ele que nos precede e suscita em nós a fé. Pelo nosso Baptis-mo, primeiro sacramento da fé, a Vida, que tem a sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho, é-nos comunicada intimamente e pessoalmente pelo Espírito Santo na Igreja” (CIC 683).

PARA A DISCUSSÃO SOBRE O TEMA

Como está presente o Espírito Santo na minha

vida? Tento identificar situações em que sinto a

actuação do Espírito Santo.

Hoje em dia é muito comum falar-se de “espiritualidades” que se afastam daquilo que a Igreja revela como verdadeiro. Tento distinguir aquilo que é a espiritualidade católica e as muitas novidades “new age” que todos os dias aparecem nas notícias. Muitos são os símbolos que representam o Espírito Santo. A pomba, a água, o fogo, o vento, etc.

Procuro ilustrações que sejam representativas disso e procuro pesquisar no Catecismo a explicação

de cada símbolo (Artigos 694-701 – Sobre os símbolos do Espírito Santo).

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PONTO DE ESFORÇO (algumas sugestões)

Aprender a rezar a invocação ao Espírito Santo e utilizá-la nos momentos importantes da minha vida, nomeadamente quando me é pedido que fale de algum assunto, quando vou ter uma con-versa importante ou quando alguém me pede conselhos. Na minha oração, invocar a Santíssima Trindade, não pensar num Deus abstracto, mas em Deus que Se revela em Jesus Cristo, pela acção do Espírito. Aprender quais são os sete dons do Espírito Santo e procurar viver segundo o mesmo Espírito. Investigar as muitas tradições em Portugal das Festas em honra do Espírito Santo, como nos Açores ou Alenquer. Rezar a passagem bíblica do Pentecostes.

PARA AJUDAR À PREPARAÇÃO DA REUNIÃO E PARA LER NO SENTIDO DE APROFUNDAR O TEMA Catecismo da Igreja Católica, principalmente o Artigo 8º «Creio no Espírito Santo» do Capítulo 3º da Segunda Secção da Primeira Parte [Ver no Índice]. Passagens Bíblicas: Gen 1-2 – A criação do mundo e do homem Mt 3, 13-17 – Baptismo de Jesus Lc 1, 26-38 – Anunciação do Anjo a Maria Act 2, 1-13 – Pentecostes

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

ejNS 55 ORAÇÃO Nesta Oração propomos que cada um partilhe uma intenção, depois de todos terem rezado a Invocação ao Espírito Santo, a pedir a inspiração de Deus. Invocação ao Espírito Santo

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos recta-mente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. Amen

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Julho

Balanço

À semelhança do que foi proposto no caderno de temas do ano passado, achamos impor-tante guardar a última reunião do ano para um balanço. É sempre positivo parar e ver o ano que passou, para assim podermos fazer com que o ano que vem seja ainda melhor e mais produtivo. Tal como em todas as reuniões, é preciso preparar bem esta reunião, escrevendo uma avaliação por vários pontos. E no fim, não nos podemos esquecer que o objectivo de cada reu-nião é sempre o objectivo maior das Equipas e, em última análise, da Igreja: conhecer e amar Jesus Cristo, que se torna presente na minha vida e nos outros à minha volta. Avalio se as reuniões foram úteis vendo os frutos que dão na minha vida: se aumentaram o meu amor a Jesus e à Igreja; se eu participo mais no Movimento e dou algo em troca do que recebo. Se estimulam o meu interesse pelos grandes temas da actualidade e me ajudam a dar uma resposta de fé às questões que me são postas na vida do dia-a-dia. Vejamos então, como no ano passado, os quatro pontos essenciais das reuniões. Tema Este ano o Caderno oferecia temas mais profundos, o que exigiu mais estudo e tempo. Achei-os muito difíceis e de assuntos que não têm nada a ver com a actualidade? Ou, por outro lado, aprendi e aprofundei alguns temas que me chamavam mais à atenção ou sobre os quais eu nunca tinha pensado? Oração Rezámos sempre nas reuniões? Rezei pela Equipa durante o ano? Tentámos trazer alguma dinâmica às orações, de modo a que fosse mais fácil e proveito-so rezar? Aproveitei a Bíblia para fazer orações? Pedimos a intercessão de Nossa Senhora nas orações? Partilha Como encaro a partilha? Como um parte importante para toda a Equipa ou apenas como a parte de saber as curiosidades de cada um? Levei a minha partilha a sério, ou ainda me custa partilhar com os outros, porque não me sinto à vontade? Todos partilharam ou deixámos sempre a partilha para o fim e eram mais os que estavam a dormir do que os acordados?

ejNS 57 Ponto de Esforço Esforcei-me por definir pontos de esforço exigentes mas possíveis? Empenhei-me para os cumprir, ou esqueci-me? Partilhei sempre se cumpri ou não? O ponto de esforço serviu-me para aplicar os conhecimentos que ganhei ao debater algum dos temas, fazendo-me crescer como cristão, no amor a Deus e aos outros?

PONTO DE ESFORÇO PRÓXIMA REUNIÃO

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Notas

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Este Caderno foi realizado pelo Secretariado Nacional 2009/2011 e contou com a colaboração do seminarista Tiago Fonseca, a quem muito agradecemos.

Qualquer dúvida podem escrever para: [email protected]

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Este Caderno faz parte integrante do jornal “Partilha” de Outubro de 2010, nº 258.

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2010 2011